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1 RESUMO DE HABILIDADES MÉDICAS 12 – CONDUTA NOS FERIMENTOS DE PELE, TECIDO SUBCUTÂNEO, MORDEDURAS DE ANIMAIS E HUMANA • Essa será uma aula dita como “gostosa”. A maioria dos conceitos aqui já foram estudados, então faremos uma “mistura” desses conceitos com os protocolos. Será deveras deleitante! CLASSIFICAÇÃO DOS FERIMENTOS • Do ponto de vista orgânico entende-se por ferimentos de pele ou traumatismos de pele, as lesões sofridas por qualquer tecido dentro da sua integridade anatômica. • Esses, podem ser classificados de diversas formas: CLASSIFICAÇÃO DAS FERIDAS QUANTO À PROFUNDIDADE • Pode ser superficial ou profundo. SUPERFICIAL • quando o agente causador atinge a pele, tecido celular subcutâneo ou mesmo as aponeuroses e músculos. PROFUNDO • Quando há comprometimento de estruturas nobres ou profundas (nervos, tendões, vasos, ossos ou vísceras). CLASSIFICAÇÃO DAS FERIDAS QUANTO AO AGENTE CAUSAL • Por mais inútil que achem que isso possa ser, lembrem que essa classificação será importante no atendimento inicial do paciente vítima de trauma na urgência /emergência. INCISIVAS OU CORTANTES • São feridas produzidas por qualquer agente cortante desde que a solução de continuidade tenha um comprimento predominante sobre a profundidade, bordas nítidas, retilíneas e regulares. • Produzidas por bisturi, facas, tesouras, navalhas. • A forma da ferida depende do modo de como o instrumento cortante é introduzido na pele, podendo causar, inclusive, feridas perfurantes. CORTO-CONTUSAS • O que caracteriza é a força do peso do instrumento, sendo ele capaz de produzir um corte pouco mais profundo: a profundidade predomina sobre o comprimento e apresenta bordas irregulares. • Instrumentos como machados e enxadas podem produzir esse tipo de ferida. • A contusão causada por este instrumento predomina sobre os aspectos da ferida. PERFURANTES • Podem ser: o Superficiais ▪ Profundidade limitado ao plano pré-aponeurótico o Profundas ▪ Atravessam a aponeurose • Enquadram-se nesse tipo de classificação: o Cavitárias ▪ Feridas que penetram as cavidades naturais do corpo o Transfixantes ▪ Aquelas que transfixam estruturas de um lado e outro • Agentes longos e pontiagudos (como prego, alfinete, agulha, faca, navalhas, tesouras). PÉRFURO-CONTUSAS • Ferida causada por instrumentos capazes de perfurar e causar lesões contusas na superfície de seu local de entrada. • São causadas por balas de fogo normalmente. 2 • Caracteriza-se por ser circular e produzir 02 orifícios: o Orifício de Entrada: ▪ Com orla de contusão (zona mais interna, produzida pelo impacto do projétil sobre a superfície cutânea), orla de enxugo (queimadura em torno da lesão) e zona de tatuagem (zona mais externa, caracterizada pela pulverização da pólvora no momento do impacto). o Orifício de Saída: ▪ Geralmente maiores que o de entrada ▪ Sem orla de contusão ou enxugo • Quando há 2 orifícios, sugere-se que, cirurgicamente, seja fechado o orifício de saída e que o orifício de entrada seja usado para drenagem. LACERO-CONTUSAS • São caracterizadas por 2 mecanismos básicos: o COMPRESSÃO: ▪ São feridas que, quando presentes, a pele adota um aspecto esmagado de encontro ao plano subjacente (como causado por chute) o TRAÇÃO: ▪ Tecidos rasgados ou arrancados (mordedura de cão), com perda relativamente considerável de tecido. • Possuem bordas bastante irregulares e vários ângulos. • Aconselha-se que não se faça sutura em mordedura canina, realizada lavagem e antibioticoterapia profilática e deixe cicatrizar por segunda intensão. PÉRFURA-INCISAS • Lesões causadas por pérfuro-cortantes (com gume ou ponta), como uma espada e punhal, capazes de causar transfixação de planos anatômicos. ESCORIAÇÕES • Ação lesiva tangencial à superfície cutânea. • Ocorre arrancamento da pele e exposição do cório. EQUIMOSES E HEMATOMAS • Equimoses são machas hemorrágicas em forma de placas causadas por rompimento de pequenos vasos na região acometida. • Hematomas são bolsas de coleção sanguínea estagnada, caracterizadas por equimoses bastante salientes. o Sinal de Battle o Sinal do Guaxinim o 3 CLASSIFICAÇÃO DAS FERIDAS QUANTO A CICATRIZAÇÃO AGUDA • Geralmente tem um mecanismo de lesão facilmente identificável. • A ruptura aguda da pele traumática. • A ferida cirúrgica é uma forma controlada de ferida aguda. • O processo cicatricial tende a ser ordenado e em tempo hábil, com resultado anatômico e funcional satisfatório. CRÔNICA • Podem ser secundárias a lesões agudas ou por ruptura da pele previamente íntegra. • Pacientes com sensibilidade prejudicada estão em alto risco de terem lesões repetidas agudas e crônicas. • Processo cicatricial estaciona na fase inflamatória. • Estão geralmente relacionadas a deficiências fisiológicas que retardam ou impedem a cicatrização das feridas. o Imunodeficiências e suprimento vascular inadequado. • Infecção é o principal fator predisponente a uma ferida crônica. CLASSIFICAÇÃO DAS FERIDAS QUANTO A COMPLEXIDADE SIMPLES: • Sem perda tecidual, contaminação grosseira ou presença de corpo estranho. COMPLEXO: • Perda de tecido, esmagamento, queimadura, avulsão, deslocamento de tecidos ou implantação de corpos estranhos. CLASSIFICAÇÃO DAS FERIDAS QUANTO À CONTAMINAÇÃO FERIDA LIMPA • Decorrente de cirurgia eletiva não traumática. • Não há infração às regras de antissepsia. • Não atravessa tecidos infectados. • Não há penetração dos tratos digestivos, respiratório superior ou gênito- urinário. • Taxa de infecção: 2-5% • Uso de antibióticos não é necessário, salvo em situações especiais. FERIDA POTENCIALMENTE CONTAMINADA / LIMPO-CONTAMINADA • Ferimento decorrente de cirurgias em tecidos colonizados com flora pouco numerosa. • Tecidos de difícil descontaminação. • Ausência de processo infeccioso local • Pequena infração às regras de assepsia • Penetração de tratos digestivos, respiratório ou gênito-urinário. o Mas sem extravasamento de conteúdo. • Taxa de infecção: 9-10% • Antibióticoproxilaxia com cefalosporinas: Ceftriaxona ou Cefalotina IV FERIDAS CONTAMINADAS • Tecidos com grande flora bacteriana. o Acima de 100.000/ml • Tecidos de impossível descontaminação. • Extravasamento de conteúdo gastrointestinal • Abertura de tratos geniturinário e biliar na presença de infecções. • Grande infração às regas de assepsia. • Ferida traumática com menos de 6h de evolução. • Taxa de infecção: 16-22% • Antibióticoprofilaxia com esquema tríplice: o Cefalosporinas: Cefalotina 1g EV 6/6h → cobrir gram-posit. o Aminoglicosídeos: Gentamicina 80mg EV → cobrir gram-neg. o Metronidazil: Flagyl 500mg EV 8/8h → cobrir anaeróbios FERIDAS INFECTADAS • Presença de infecção Local. 4 • Operação sobre área com infecção bacteriana sem pus. • Ao se atravessar tecidos com objetivo de chegar à coleção purulenta. • Extravasamento de fezes durante o procedimento. • Ferida traumática aberta com tecido desvitalizado ou corpo estranho. • Ferida traumática por agente sujo • Ferida traumática com + de 6h • Taxa de infeção: 29-38% • Preconiza-se antibiótico intra e pós operatório com esquema tríplice. PRINCÍPIOS GERAIS DO TRATAMENTO • TRAUMA → PROTOCOLO ATLS OU PHTLS • TRAUMA → PROTOCOLO ATLS OU PHTLS • TRAUMA → PROTOCOLO ATLS OU PHTLS o Avaliação inicial o Preparação o Triagem o Avaliação primária, reanimação e medidas auxiliares à avaliação primária e à reavaliação ▪ ABCDE o Considerar a necessidade de transferência do doente o Avaliação secundária e medidas auxiliares a avaliação secundária o Reavaliação o Tratamento definitivo → agora sim podemos prosseguir com o tema da aula de hoje. • Objetivo: excluir outras causas de injúriase consequências que tragam risco à vida do paciente. o Sendo comprovada normalidade de outros sistemas, havendo apenas o ferimento, o mesmo poderá e deverá ser prontamente tratado. • Observação: Ao se pegar um prontuário de um paciente vítima de trauma, poderá observar que muitos médicos gostam de descrever os ferimentos cutâneos e subcutâneos no E: Exposição o Lembre-se que o E não se limita apenas à prevenção da hipotermia. Nele também há análise da extensão das lesões. TRATAMENTO DE FERIDAS • O principal objetivo do tratamento dos ferimentos abertos é o seu fechamento o mais breve possível. • Antes de iniciar o tratamento deve-se inspecionar a ferida com cuidados de assepsia para evitar o aumento da contaminação. • Deve-se colher informações sobre: o Natureza do agente causador o Como ocorreu o ferimento o Tempo decorrido até a procura do tratamento o O estado de imunidade contra tétano o Alergia a medicamentos o Existência de doença crônica debilitante • Ressonância magnética está contraindicada em pacientes com trauma orbitário, até que a possibilidade de corpo estranho tenha sido descartada. o Radiografia ou tomo primeiro FERIMENTOS SUPERFICIAIS FECHADOS • Excluir a coexistência de lesões profundas. • Iniciar o resfriamento do local com gelo, a imobilização do membro afetado, bem como a sua elevação, visando diminuição do edema. • A analgesia também está indicada e, em alguns casos, pode se utilizar gel à base de heparina sódica com o objetivo de acelerar a absorção de eventuais coágulos. FERIMENTOS SUPERFICIAIS ABERTOS • tem como principal objetivo seu fechamento, que pode ser feito imediatamente à admissão do paciente no setor de suturas, entre o terceiro e o quinto dias de evolução, mais tardiamente, ou não ser realizado, deixando que o ferimento cicatrize por segunda intenção. Se você é um amante do trauma, sabe que tudo isso e um pouco mais já foi questionado anteriormente na avaliação secundária, onde utilizamos o mnemônico: AMPLA (Alergias, Medicações, Passado, Líquidos e Ambiente) 5 • Essa decisão dependerá de algumas características do ferimento, como o seu agente causador, o grau de contaminação, o tempo de evolução e a sua localização. FERIMENTOS LIMPO-CONTAMINADOS • Com suprimento sanguíneo adequado, em indivíduos sadios, está indicado o fechamento primário, isto é, a síntese no momento da admissão na unidade de pronto-socorro. • Esse método de fechamento da ferida também é conhecido como fechamento por primeira intenção e apresenta bom resultado estético. FERIMENTOS CONTAMINADOS E INFECTADOS • Não devem ser suturados, devendo-se aguardar a sua cicatrização por segunda intenção. • Trata-se de método de fechamento que pode resultar em cicatrizes inestéticas e em condição patológica denominada retração cicatricial, que diminui a amplitude de movimentos quando ocorre em região de articulação. • Uma vez que o ferimento contaminado não tenha evoluído com infecção, ou uma vez debelado o processo infeccioso e iniciada a formação de tecido de granulação, pode-se proceder ao fechamento por terceira intenção, que consiste na excisão das bordas do ferimento associada à sutura, na confecção de retalhos ou no tratamento por meio de enxertos cutâneos. CASOS ESPECIAS • Os ferimentos causados por pregos não devem ser suturados em função do elevado risco de tétano. o Aguardar o fechamento por segunda intenção • Os ferimentos causados por arma de fogo e por mordedura, não é realizado, rotineiramente, o fechamento primário. o Podendo-se proceder ao fechamento por terceira intenção. • Ferimentos causados por mordedura canina na face podem ser suturados o Essa região apresenta rico suprimento vascular, o que diminui o risco de infecção. o Deve-se optar por pontos simples espaçados, para que eventuais coleções sejam drenadas. DEMAIS RECOMENDAÇÕES: LIMPEZA DAS BORDAS • O ferimento deve ser cuidadosamente limpo e irrigado com solução salina. • Para a antissepsia, pode ser usado a PVP-I degermante ou a clorexidina. • O uso de água oxigenada, apesar de muito difundido na prática clínica, desvitaliza tecidos íntegros por meio de necrose celular, devendo ser evitado diretamente sobre o ferimento. ANESTESIA • Na maioria das vezes, o exame detalhado da lesão só é possível após a anestesia, principalmente no caso de crianças ou de pacientes ansiosos. o Esse procedimento é realizado com o uso de anestésico local • Com exceção da cocaína, os anestésicos locais causam algum grau de vasodilatação. o Assim, é possível utilizá-los associados ao vasoconstritor epinefrina, promovendo aumento da duração do seu efeito, diminuição da sua toxicidade e do sangramento, além de reduzir a dose necessária. • Em função do risco de efeitos sistêmicos, devem ser tomados os cuidados para que esses fármacos não sejam administrados no interior de vasos, atingindo a circulação sistêmica. o Prudente que, uma vez realizada a punção, o médico tracione o êmbolo da seringa, verificando se não há aspiração de sangue e injetando o anestésico durante o recuo da agulha, em movimento retrógrado. • Essa associação deve ser evitada em pacientes hipertensos e em locais com circulação terminal/dedos, pênis etc. 6 LIMPEZA DO FERIMENTO • Caso não se tenha conseguido efetuar preparo adequado do ferimento com irrigação de solução salina em função da dor, é possível, após a anestesia, completar a limpeza cuidadosa da região. • Também é nesse momento que se procede à hemostasia, ao desbridamento e à retirada de corpos estranhos. • Cuidado especial deve ser tomado com os ferimentos que tiveram contato com vidros, terras, pedras e asfalto. o Todos os resíduos sejam retirados o Até mesmo minúsculos fragmentos de asfalto podem tatuar definitivamente a pele SÍNTESE • Quando indicada, deverá ser feita por planos. • Nos ferimentos superficiais: o Os músculos devem ser suturados com fios finos e absorvíveis, preferencialmente com fios de poliglactina 4-0 ou 5-0. ▪ Os cotos são aparados rente aos nós, que deverão ser invertidos, isto é, voltados para as camadas mais profundas, para evitar a sua extrusão através da linha de sutura da pele • Um nó simples invertido ou em X invertido o O tecido celular subcutâneo deve ser suturado da mesma maneira, assim como a subderme, o que garantirá cicatrizes estéticas. • A síntese da pele pode ser feita com pontos simples ou contínuos, por meio de sutura intradérmica, dependendo do local, do grau de contaminação, da tensão e da existência de bordas regulares. • Ferimentos limpo-contaminados na face podem ser fechados com suturas intradérmicas, enquanto ferimentos de polpas digitais são normalmente suturados com pontos simples. • Para a pele, prefere-se o fio de náilon variando de 3-0 a 6-0. o Aquela historinha antiga... ▪ Fio 6-0: pálpebra, de supercílio, áreas de importância estética ▪ Fio 5-0: pálpebra, de supercílio, áreas de importância estética, mãos e dedos ▪ Fio 4-0: mãos e dedos, extremidades próximas ao tronco ▪ Fio 3-0: Lesões digitais e extremidades ▪ Fio 2-0: Couro cabeludo, planta do pé e escalpo o Só avisando que dependendo do cirurgião, podemos ter uma incerteza próxima de +/- 1. • Ideal: Fio de náilon → menor reação tecidual o Fios de poliglecaprona, como o Monocryl®, também podem ser usados ▪ Vantagem: Absorvível, embora cause mais reação RETIRADA DE PONTOS • Os pontos são retirados entre o sétimo e o 21º dia após a confecção da sutura, dependendo da região. o Face → retirada precoce ▪ Rico aporte vascular otimiza a cicatrização o Outras regiões → permanecer até o 14º • Se foi realizada uma sutura intradérmica, pode-se aguardar até 21d. o Esse tipo de síntese habitualmente não deixa marcas em “espinha de peixe” o Após esse período, a retirada dos pontos é menosdolorosa e o fio é mais facilmente tracionado MEDICAÇÕES • A antibioticoprofilaxia e a antibioticoterapia sistêmica não substituem a limpeza cuidadosa, nem o respeito aos princípios cirúrgicos. • O uso de antibióticos está indicado em: o Ferimentos decorrentes de mordeduras 7 o Lesões produzidas por arma de fogo o Ferimentos contaminados ou com vascularização comprometida o Ferimentos complexos o Naqueles sujeitos a infecções por clostrídios o Nas fraturas expostas o Pacientes imunocomprometidos • A via utilizada depende da gravidade da lesão, sendo a via parenteral utilizada nos casos mais graves. FERIMENTOS EM REGIÕES ESPECÍFICAS COURO CABELUDO • As lesões de couro cabeludo têm etiologia variada o Desde pequenos traumas diretos até os chamados escalpelamentos, causados pela tração de cabelos aprisionados por engrenagens e eixos em rotação • Ocorre avulsãodos tecidos que recobrem a calota craniana, deixando-a muitas vezes exposta. • A anestesia é aplicada num ângulo de 90º o Deve-se introduzir uma agulha mais calibrosa que a usual até sentir o bisel “raspar” na calota o Aspirar levemente para confirmar que não foi mirado nenhum vaso sanguíneo e então introduzir o anestésico local na região • Os ferimentos superficiais do couro cabeludo sem perda de substância são de fácil tratamento e normalmente são fechados com pontos simples, utilizando fios de náilon 3-0. o Então...existem literaturas que pela tensão na região recomendam uma sutura contínua ancorada com fio 2-0 ▪ Parece brincadeira, mas se você vacilar, é capaz de entortar até a agulha se for utilizar um fio menos calibroso • Em ferimentos superficiais com pequena perda tecidual, suturas realizadas sob tensão podem acarretar alopecia, decorrentes da má vascularização das suas bordas. • Ferimentos com moderada perda tecidual devem ser tratados com a confecção de retalhos, mediante ampla dissecção do escalpo do seu plano profundo e confecção de incisões paralelas na gálea. • Em casos de grandes avulsões do couro cabeludo, estando o periósteo íntegro e a vascularização preservada, podem ser confeccionadas lâminas de enxertos cutâneos a partir da pele do próprio paciente. FACE • Possíveis lesões do nervo facial podem estar associadas a ferimentos mais profundos e devem ser pesquisadas. o Os ramos desse nervo emergem do interior da glândula parótida, para depois disporem-se sob os músculos da mímica facial. • Dependendo do mecanismo do trauma, deve-se investigar a presença de ferimentos na língua, bem como a avulsão de dentes. • Os dentes que porventura tenham sofrido avulsão alveolar devem ser reposicionados no alvéolo dental. o Caso não seja possível, podem ser conservados em leite, que preserva as fibras dos ligamentos periodontais por até 12 h, ou em solução salina o Também podem ser acondicionados em saliva, no espaço entre os últimos molares e a mucosa jugal do paciente • Lesões do ducto parotídico também podem estar presentes e devem ser prontamente abordadas. • Recomenda-se para mucosa uso de Vicryl 5.0, e das outras camadas com Vicryl 4.0 e, como falado, pode ser feita substituição por Nylon. 8 PÁLPEBRAS • Os ferimentos palpebrais, principalmente aqueles que prejudicam a cobertura ocular, devem ser suturados o mais precocemente possível. o Podem desenvolver edema rapidamente, dificultando a sua reconstrução. • Caso ocorra lesão associada no globo ocular, um especialista deverá ser consultado. • Os ferimentos superficiais, que acometem somente a pele, devem ser irrigados com solução salina, cautelosamente desbridados e suturados com fios de náilon 5-0 ou 6-0. • Por se tratar de região nobre, na qual pequena perda tecidual é significativa, deve-se preferir, durante o desbridamento, manter tecidos com risco de evoluir para necrose total a ressecar aqueles que possam recuperar a viabilidade e serem essenciais para a reconstrução final. • As pálpebras são providas de exuberante vascularização e raramente apresentam infecção dos tecidos desvitalizados. • Ferimentos que acometam as camadas muscular e tarsal são considerados profundos. o Podem estar associados a lesão dos ductos lacrimais e do músculo elevador da pálpebra NARIZ • Os pequenos ferimentos superficiais da pele devem ser tratados com regularização das bordas e sutura com náilon 4-0 ou 5-0. • No nariz, o reposicionamento dos tecidos deve ser feito com cuidado para evitar futuras retrações e distorções. • Os hematomas devem ser drenados, uma vez que a sua absorção estará, na maioria dos casos, acompanhada de retração cicatricial e deformidade. • Os ferimentos da mucosa devem ser suturados com fio absorvível (poliglactina) 4-0 e tamponados durante 24 h a 48 h. • O atendimento dos ferimentos nasais deve enfatizar, principalmente, a função respiratória. ORELHAS • Deve-se estar bastante atento à presença de hematomas o Podem evoluir com retração cicatricial e absorção da cartilagem subjacente o Hematomas auriculares devem ser sempre drenados. • Curativos compressivos devem ser confeccionados, moldando-se os sulcos auriculares. o Caso contrário, haverá a formação de fibroses o Irão deformar a orelha afetada, resultando no aspecto “em couve-flor” → característica dos lutadores de MMA • Coleções infecciosas decorrentes do uso de piercings são muito frequentes e devem ser prontamente drenadas e tratadas com antibiótico de amplo espectro. LÁBIOS • Os ferimentos que atingem toda a espessura labial devem ser suturados por planos o Nas camadas mucosa e muscular são utilizados fios absorvíveis (poliglactina) 4-0 com nós invertidos o Na pele, pontos simples de náilon 4- 0 ou 5-0 • Especial atenção deve ser dada à linha de transição mucocutânea, uma vez que mínimos desalinhamentos de até 1 mm são perceptíveis nessa região. 9 • Com a finalidade de evitar essa deformidade, a sutura do lábio deve ser iniciada na linha de transição mucocutânea, evitando posicionar o ponto exatamente sobre essa linha, o que pode evoluir com hiperemia local permanente, alterando o contorno labial. EXTREMIDADES DIGITAIS • São muito frequentes • São traumas complexos, pode haver comprometimento da estabilidade da pinça funcional e da preensão de objetos. • Ferimentos profundos, que comprometam a viabilidade muscular, tendínea, vascular e óssea, devem ser tratados por especialistas. • Ferimentos superficiais podem ser tratados somente com sutura em pontos simples (náilon 3-0) ou podem requerer a confecção de retalhos ou de enxertos cutâneos, quando há perda de substância. • O tratamento dos hematomas subungueais pequenos é feito com gelo local e analgesia. • Hematomas com mais de 3 mm de diâmetro, acompanhados de dor pulsátil, devem ser drenados a partir da confecção de uma janela na unha. • Para o tratamento de hematomas maiores, a unha deve ser excisada, mesmo porque esses casos são geralmente acompanhados de laceração do leito ungueal. • Devem ser solicitadas radiografias das pontas digitais o Incidências posteroanterior e perfil, para avaliar a presença de fraturas associadas. • As lacerações do leito ungueal são habitualmente suturadas com pontos simples de fio absorvível 6-0. • A unha deve ser reposicionada e fixada proximal e lateralmente com náilon (4- 0 ou 3-0), para prevenir deformidade ungueal. COMPLICAÇÕES • As complicações podem ser decorrentes de vários fatores: o Grau de contaminação dos ferimentos o Desvascularização da pele remanescente o Perda de substância o Formação de hematoma o Condições intrínsecas ao paciente • A infecção é uma das complicações mais temidas e, quando diagnosticada, deve ser tratada com: o Retirada dos pontos da pele o Drenagem da secreção o Desbridamento dos tecidosdesvitalizados o Antibioticoterapia • Vários recursos terapêuticos auxiliares já foram propostos, com a finalidade de promover a cicatrização em ferimentos que evoluem com complicações. o Oxigenoterapia hiperbárica, de curativos a vácuo e até mesmo a utilização de insumos naturais, como o açúcar, o mel e o óleo de babaçu. o Apesar de terem demonstrado sucesso em condições específicas, o uso dos insumos naturais ainda não deve ser rotineiramente aplicado à prática clínica, uma vez que seus efeitos ainda não foram amplamente comprovados. PROFILAXIA DO TÉTANO • Causado pela ação de endotoxinas do Clostridium tetani 10 • Se manifesta clinicamente com febre baixa (ou ausente), hipertonia muscular e espasmos paroxísticos. • A transmissão ocorre pela introdução dos esporos em uma solução de continuidade da pele ou de mucosas. • O período de incubação é variável, de 1 dia a alguns meses. • A presença de tecidos dilacerados, de fraturas expostas ou de corpos estranhos forma um ambiente adequado para a multiplicação dos clostrídios. • As queimaduras e as mordeduras por animais, os ferimentos perfurantes, aqueles produzidos por armas brancas ou por projéteis de arma de fogo também constituem risco para o desenvolvimento do tétano. • Consideram-se ferimentos com risco mínimo para o tétano aqueles superficiais, sem a presença de corpos estranhos ou de tecidos desvitalizados. • A limpeza rigorosa deve ser realizada, os tecidos desvitalizados e os corpos estranhos devem ser cuidadosamente removidos. • Indica-se o uso da imunoglobulina humana antitetânica ou, na sua indisponibilidade, do soro antitetânico, em pacientes que apresentem ferimento com alto risco para o tétano associado a história vacinal incerta, ou que tenham recebido menos de 3 doses. • A necessidade de aplicar a vacina antitetânica também varia de acordo com as características das lesões, estando indicada em todos os casos de ferimentos de alto risco para o tétano, exceto nos pacientes que tenham recebido o esquema completo de vacinas há menos de 5 anos. • Já nos casos de ferimentos com risco mínimo para o tétano, a vacina está indicada para os pacientes com quadro vacinal incompleto ou incerto e naqueles que receberam a última dose há mais de 10 anos. MORDEDURA DE ANIMAIS E HUMANA • Mordidas causam danos à pele e às estruturas subjacentes, incluindo músculos, vasos sanguíneos, nervos, tendões, espaços articulares e estruturas ósseas. • Uma consideração secundária associada a todas as feridas por mordida é a contaminação com a flora oral do animal mordedor, resultando em infecção. • O potencial para exposição ao tétano e à raiva também deve ser considerado. MORDEDURA DE MAMÍFEROS • Animais como cão, gato, rato e, até mesmo seu coleguinha de sala, podem atacar seres humanos. • Embora as feridas decorrentes de mordeduras de mamíferos possam parecer inicialmente inócuas, elas podem apresentar efeitos devastadores. HOMEM • A infecção deve sempre ser considerada presente após mordida de humanos. o A flora microbiana da cavidade oral pode conter até 100 bilhões de bactérias/g de tecido. o Esse número é 100 mil vezes maior do que o necessário para produzir infecção. • Os locais mais comuns de mordeduras humanas são o dorso da mão, o couro cabeludo e genitálias. • As lesões do dorso da mão são muitas vezes decorrentes de brigas em que o paciente esmurra o adversário. o Os dentes ganham acesso fácil aos espaços articulares, que são 10 vezes mais suscetíveis à infecção do que os tecidos moles em geral. 11 • As vítimas de mordeduras humanas demoram a procurar assistência médica devido às circunstâncias em que estas ocorrem, o que agrava o prognóstico. • Tratamento: o Nas mordidas do punho → radiografia para detectar fratura, corpo estranho ou mesmo osteomielite nos casos atendidos tardiamente. ▪ Essas lesões devem ser exploradas após anestesia regional. ▪ Feita a limpeza, mão e antebraço são imobilizados e mantidos em tipoia. o Se parte do dedo, nariz ou orelha foi arrancada pela mordida, deve-se tentar o reimplante. o Nas lesões da orelha com exposição de cartilagem, esta pode ser implantada no subcutâneo da região abdominal até que a ferida ofereça condições satisfatórias para o reimplante. o Profilaxia para tétano conforme quadro verde acima. ANIMAIS: • As lesões são mais lineares e superficiais. • CACHORRO: o A mordedura mais comum o Dependendo do tamanho, podem ocorrer lesões graves da face, cabeça e membros, principalmente em crianças. • GATOS: o Podem morder, mas em regra causam unhadas. ▪ Quando mordem, podem provocar contaminação semelhante à mordedura de outros carnívoros. o A lesão produzida pela unha do gato pode provocar a “febre da arranhadura do gato”, doença ainda pouco conhecida, mas possivelmente devida à Bartonella henselae. o É caracterizada por febre e por linfadenite regional crônica. o Biópsia linfonodal pode ser indicada para diagnóstico diferencial com linfoma. • RATOS: • Condição rara • Pode causar febre pela transmissão de duas enfermidades: o O sodoku, produzido pelo Spirillum minus o Febre de Haverhill (eritema articular epidêmico), causada pelo Streptobacillus moniliformis • Em regra, os sintomas iniciam-se quando pouca ou nenhuma reação ocorre na ferida, a qual já se apresenta cicatrizada. • ANIMAIS DE GRANDE PORTE: o Leões, onças, tigres, ursos, podem, raramente, ser responsáveis por mordedura em humanos, principalmente em zoológicos ORIENTAÇÕES GERAIS PARA ATENDIMENTO DE VÍTIMAS DE MORDEDURAS DE HUMANOS • A ferida deve ser limpa e irrigada com quantidade generosa de solução salina a 0,9%. • Quando necessário, deve ser feito o desbridamento para evitar agravar o ferimento e atrasar a cicatrização. Material desbridado deve ser enviado para cultura. • A ferida deve ser deixada aberta, com aproximação das bordas para facilitar o fechamento por segunda intenção. o A sutura é indicada em lesões maiores nas mãos, pescoço, face e orelha, principalmente em pacientes mulheres. ▪ ↑vascularização = ↓infecção • Recomenda-se curativo oclusivo. Após 1 semana, pode-se avivar as bordas da ferida e suturar. • Antibioticoprofilaxia: Em todos os pacientes. Indicado: amoxicilina- clavulanato 875/125 mg 2 vezes ao dia, por 3 a 5 dias • Antibioticoterapia: ampicilina-sulbactam 3 g de 6/6 h + ceftriaxone 1 g de 24/24 h + metronidazol 500 mg de 8/8 h. 12 • Destaque a transmissão da raiva. o Antropozoonose transmitida ao homem pela inoculação do vírus presente na saliva e secreções do animal infectado, principalmente pela mordedura. o Letalidade de aproximadamente 100% e, apesar de ser conhecida desde a Antiguidade, continua sendo problema de saúde pública. o O vírus da raiva é neurotrópico, e sua ação no sistema nervoso central (SNC) causa quadro clínico característico de encefalomielite aguda, decorrente da sua replicação viral nos neurônios. o Apenas os mamíferos transmitem o vírus da raiva e adoecem por esse vírus. o A transmissão ocorre quando o vírus contido na saliva e secreções do animal infectado penetra no tecido ▪ Mordedura e, mais raramente, pela arranhadura e lambedura de mucosas e/ou pele lesionada. o Multiplica-se no ponto de inoculação, atinge o sistema nervoso periférico e migra para o SNC. o A partir do SNC, dissemina-se para vários órgãos e glândulas salivares, onde também se replica e é eliminado na saliva das pessoas ou animais infectados. • Tratamento: • MORDIDA DO CÃO: pode contaminar levar a sepse fatal, causada por bacilo gram-negativo denominado Capnocytophaga canimorsus o Esse organismo é sensível à penicilina e à tetraciclina, mas resistente aos aminoglicosídeos. • MORDIDA DE GATOS: podem provocar contaminaçãosemelhante àquela provocada pela mordedura de outros carnívoros. A lesão provocada pela unha, na “febre da arranhadura do gato”, ocasionalmente pode evoluir para abscesso e requerer drenagem cirúrgica. Atualmente, recomenda-se o uso de antibióticos mesmo para pacientes imunocompetentes. o O antibiótico de escolha é a azitromicina no curso de 5 dias (500 mg no primeiro dia, seguido por 250 mg por 4 dias em pacientes com peso acima de 45,5 kg; ou 10 mg/kg no primeiro dia, seguido por 5 mg/kg por quatro dias para pacientes com peso inferior a 45,5 kg). • MORDEDURA DE RATOS: pode ocorrer transmissão do sodoku ou da febre de Haverhill, o tratamento de escolha é feito com penicilina intravenosa. • Seguem-se, nas mordeduras de animais, os mesmos princípios observados para mordedura de humanos. Também em todos os casos, deve-se fazer profilaxia do tétano. • Com relação à raiva, não há tratamento comprovadamente eficaz. Poucos pacientes sobrevivem à doença, a maioria com sequelas graves. • As exposições (mordeduras, arranhaduras, lambeduras e contatos indiretos) devem ser avaliadas de acordo com as características do ferimento e do animal envolvido para fins de conduta de esquema profilático. • Cão e gato, as características da doença são bem conhecidas e semelhantes. o Analisar estado de saúde do animal no momento da agressão, observar animal após, evento, verificar procedência do animal e seus hábitos de vida. • Animais silvestres como morcego, macacos e raposas, devem ser classificados como animais de risco, mesmo que domiciliados e/ou domesticados. • Os animais domésticos de produção ou interesse econômico (bovinos/equídeos) também são de risco. ORIENTAÇÕES GERAIS PARA ATENDIMENTO DE VÍTIMAS DE MORDEDURAS DE ANIMAIS • Recomenda-se a limpeza com água corrente abundante. o Deve ser realizada de maneira cuidadosa, visando eliminar as sujidades, sem agravar o ferimento. • Em seguida, é indicado o uso de antisséptico, como polivinilpirrolidona- iodo, digluconato de clorexidina ou álcool iodado. • A sutura deve ser evitada, já que pode aprofundar o vírus o Mas nos casos em que houver possibilidade de comprometimento funcional ou estético, infiltrar o soro antirrábico, quando indicado, 1 h antes de executar os pontos de aproximação. o Recomenda-se a aproximação das bordas com pontos isolados. • Recomenda-se avaliar a extensão, localização da lesão e características do paciente para verificar a necessidade de antimicrobianos. 13 14 • Sem tratamento profilático, a raiva ocorre em 32% a 61% das pessoas expostas. • A profilaxia com vacina e/ou soro antirrábico deve ser sempre considerada, atuando-se de acordo com as recomendações do Ministério da Saúde. o Deve-se infiltrar nas lesões a maior quantidade possível de soro antirrábico. o Nas lesões muito extensas ou múltiplas, a dose pode ser diluída em solução salina a 0,9%, para que todas as lesões sejam infiltradas. • Caso a região anatômica não permita a infiltração de toda a dose, a quantidade restante, a menor possível, deve ser aplicada por via intramuscular, em local diferente da vacina. o Deve ser usado até o sétimo dia do início da profilaxia pós-exposição. • Após esse tempo, o uso do soro é desnecessário, tendo em vista que o nível de anticorpos produzidos em resposta à vacinação está elevado. • Reações adversas podem ocorrer. o A reação mais grave é o choque anafilático 15 16 PICADAS E MORDEDURAS DE ANIMAIS PEÇONHENTOS • As peçonhas são produtos de atividades de glândulas cujos canais excretores abrem-se para o exterior ou para a cavidade bucal. • Os venenos, por sua vez, podem ser de origem animal, vegetal ou mineral e não são excretados por glândulas especiais, ao contrário dos peçonhentos. SERPENTES • São encontradas, com poucas exceções, em toda a superfície do globo terrestre, vivendo algumas em áreas oceânicas ou de água doce. • As serpentes podem também ser classificadas com base na capacidade inoculadora da peçonha: o Áglifas: serpentes com dentes maciços, sem presas na maxila e sem canal central e sem sulco externo. o Opistóglifas: apresentam um par ou mais de presas no maxilar de localização posterior. A peçonha escorre através da canaleta externa do dente. o Proteróglifa: serpentes com um par ou mais de presas no maxilar de localização anterior. A peçonha também escorre pela canaleta do dente. o Solenóglifa: apresentam um ou mais pares de presas maxilares grandes e canaliculares, com um canal central por onde é inoculada a peçonha. • No Brasil as serpentes peçonhentas de interesse clínico estão representadas pelos gêneros BOTHROPS, CROTALUS, LACHESIS E MICRURUS. sS 17 • O reconhecimento da serpente é importante para determinação da conduta a ser tomada após o acidente. • Após certificação de se tratar de serpente peçonhenta, deve ser seguido o fluxograma recomendado pelo Ministério da Saúde. o Acidente botrópico → 87,4% o Crotálico → 8,8% ▪ Minas Gerais o Micrurus (corais) → 0,6% o Lachesis (surucucus) → 3,2% ▪ Apenas na Região Amazônica e em áreas com remanescentes da Mata Atlântica QUADRO CLÍNICO • Os efeitos das peçonhas sobre o homem mostram que existe uma multiplicidade de ação, podendo-se observar sinais neurotóxicos, hemorrágicos, citotóxicos e anticoagulantes. • A manifestação clínica predominante vai depender da espécie de serpente e do indivíduo. • A sequência de eventos é: dor no local da picada, edema progressivo, manchas avermelhadas, manchas arroxeadas, bolhas com sangue em seu interior, febre e infecção secundária. • Abscessos ocorrem em 10% a 20% dos acidentes • Síndrome compartimental é identificada em menos de 1% e está associada ao uso de torniquete. EXAMES COMPLEMENTARES • Após acidentes ofídicos, podem ocorrer complicações como insuficiência renal aguda, distúrbios de coagulação, choque circulatório e insuficiência respiratória aguda. • No primeiro atendimento, deve ser colhido: o Sangue para estudo da coagulação sanguínea (tempo de coagulação, plaquetas, fibrinogênio, atividade de protrombina com RNI e TTP), hemograma, eletrólitos e determinação do grupo sanguíneo. 18 Posteriormente, caso necessário, serão feitos exames especiais, como ECG, radiografias, ecocardiograma etc. TRATAMENTO • O paciente picado por serpente peçonhenta deve ser levado o mais rápido possível para um local que disponha de facilidades para administrar o antiveneno específico. PRINCÍPIOS GERAIS DO MANEJO • Tranquilizar o paciente. • Manter o paciente em repouso para reduzir a absorção da peçonha. • Manter o membro afetado elevado e estendido para reduzir a intensidade do edema, sobretudo nos acidentes botrópicos. • Lavar cuidadosamente o local da picada com água e sabão. • Não administrar sedativos, anti-histamínicos nem medicamentos depressores do SNC, pois esses medicamentos prejudicam a avaliação clínica do estado mental. • Não garrotear o membro acometido, não fazer incisões no local da picada e não fazer sucção da área afetada, pois esses procedimentos podem agravar as lesões locais e predispor a infecções.• Remover o paciente para local onde soroterapia específica possa ser feita PRINCÍPIOS GERAIS DO TRATAMENTO ESPECÍFICO • A dose do soro deve ser suficiente para neutralizar a quantidade de veneno inoculada. • O soro administrado deve ser específico. • O soro deve ser aplicado o mais rapidamente possível. • O Ministério da Saúde não recomenda a realização de teste de sensibilidade. • Terapêutica complementar o Anti-histamínicos (prometazina + hidrocortisona) + Antibióticos (botrópicos) + Profilaxia do tétano 19 ESCORPIÕES • No Brasil, apresentam interesse clínico os escorpiões do gênero Tityus, principalmente o T. serrulatus, o T. bahiensis e o T. stigmurus. • O acidente escorpiônico é o de maior número de notificações no país. • Os sintomas de envenenamento são decorrentes de neurotoxicidade, e as reações à picada são semelhantes em praticamente todas as espécies. QUADRO CLÍNICO • Os acidentes por Tityus serrulatus são mais graves do que os produzidos pelo Tityus bahiensis. • Crianças e idosos são mais suscetíveis à toxina. • A dor local é sintoma predominante no acidente escorpiônico, podendo ser acompanhada de parestesias. • Nos acidentes moderados e graves, após intervalo de minutos até algumas horas, podem surgir manifestações clínicas. • A gravidade depende de fatores como: o Espécie o Tamanho do escorpião o Quantidade de veneno inoculado o Massa corporal do acidentado o Sensibilidade do paciente ao veneno • Os óbitos estão relacionados com complicações como ritmos bradicárdicos, convulsões, coma, edema pulmonar e choque. EXAMES COMPLEMENTARES • Os exames laboratoriais complementares têm importância no acompanhamento dos pacientes. • O emprego de técnicas de imunodiagnóstico (ELISA) para detecção plasmática de veneno do escorpião Tityus serrulatus tem demonstrado a presença de veneno circulante nas formas graves de escorpionismo. 20 21 ARANHAS • Os venenos das aranhas apresentam mecanismos de ação diversos, dependendo da espécie considerada. • Os gêneros de aranhas no Brasil que apresentam interesse clínico são: Loxosceles (aranha marrom) e Latrodectus (viúva-negra / pouco frequentes) • Os pelos desprendidos do corpo dessas aranhas, quando são manipuladas ou se sentem ameaçadas, podem ocasionar dermatite pruriginosa. o Loxoscelismo → 38% o Foneutrismo → 14,1% o Latrodectismo → 0,5% QUADRO CLÍNICO • Os casos leves ou benignos que resultam da maioria dos acidentes evoluem apenas com manifestações locais. • A dor na região da picada é de intensidade variada, podendo ser excruciante, com irradiação para a raiz do membro acometido nos acidentes por Phoneutria e Latrodectus. • Nas picadas por Loxosceles, a dor é mais tardia e é descrita como sensação de queimação. • Há edema indurado e eritema. • Após 48 h, aparecem áreas hemorrágicas mescladas com áreas esbranquiçadas de isquemia, que podem evoluir para necrose e ulceração. • Podem aparecer fenômenos gerais, como febre e exantema escarlatiniforme, que não guardam relação com a gravidade. • Na forma grave de loxoscelismo, cutâneo-visceral, além do comprometimento cutâneo, o paciente apresenta alterações do estado mental, icterícia e hemo- globinúria, podendo sobrevir insuficiência renal aguda. • As formas graves de acidentes por Phoneutria além da dor, estão presentes manifestações como vômitos, diarreia, priapismo, arritmias cardíacas, edema pulmonar agudo e choque. • Os acidentes graves por Latrodectus evoluem com dor insuportável, irradiando-se para a raiz do membro picado, fasciculações e contraturas de grupos musculares próximos ao local da picada e, posteriormente, das musculaturas paravertebral e abdominal, podendo ocorrer opistótono, rigidez abdominal (podendo trazer suspeita de abdome agudo) e insuficiência respiratória aguda. o O paciente pode apresentar priapismo, lacrimejamento, sialorreia, sudorese e secreção traqueobrônquica abundante. o Manifestações cardíacas + alterações neurológicas caracterizam-se por cefaleia, convulsão e coma. o Quadro regride após 48 h EXAMES COMPLEMENTARES • Loxoscelismo cutâneo--visceral apresentam anemia hemolítica grave, com elevação dos níveis séricos de bilirrubina direta e indireta, explicada não só pela hemólise, mas também pela possível ação hepatotóxica do veneno. • Hipofibrinogenemia, plaquetopenia e elevação dos produtos de degradação da fibrina. • A ureia e a creatinina plasmáticas aumentadas denotam a presença de insuficiência renal aguda. • O exame de rotina da urina revela hemoglobinúria. • Nos casos graves de foneutrismo e latrodectismo, podem ocorrer leucocitose e hiperglicemia. TRATAMENTO • A dor nos acidentes por Phoneutria e Latrodectus é tratada por infiltração local de lidocaína a 1% ou 2% sem vasoconstritor, e os vômitos, com procinético (bromoprida). • Corticosteroides (metilprednisona 1 mg/kg/dia) estão indicados nos pacientes com loxoscelismo cutâneo-visceral. • Os espasmos musculares e as convulsões decorrentes do envenenamento latrodéctico são tratados com benzodiazepínicos (diazepam 0,5 mg a 1 mg/kg de peso por dose nas crianças). • A soroterapia no araneísmo deve ser recomendada de acordo com o tipo de aranha e com as manifestações clínicas 22
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