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A ÉTICA KANTIANA E A NOÇÃO DE DEVER UMA BREVE CONSIDERAÇÃO Immanuel Kant nasceu em 1724 na cidade de Künigsberg, antigo império da Prússia e morreu em 1804. É considerado um dos mais influentes filósofos da modernidade, suas idéias inspiraram outros filósofos, como Hegel e Max, seus ensinamentos influenciaram o direito, a pedagogia e a sociologia sem nunca ter saído da sua cidade natal. Foi um dos últimos europeus a dominar toda a ciência do seu tempo, incluindo a física, a geografia, a filosofia e a matemática. Lecionou na universidade de Konigsberg e é autor de uma das mais influentes teorias éticas expressas em sua obra Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Tratando-se da transição da razão vulgar para o conhecimento científico, o autor começa por analisar as virtudes ontologicamente, quanto ao seu valor e propósito, questionando a sua própria razão de ser enquanto produto da vontade e dos interesses do homem. A boa vontade, entre várias outras virtudes e dons, é vista como moderadora de conduta, direcionada para o alcance de uma utilidade, ou frustrada por uma inutilidade. Para Kant ética é um sistema de regras absolutas que devem a todo custo ser obedecidas e que estão fundamentadas na noção de dever. Ele também afirma que uma lei deve ser aplicada a todos em igualdade, pois é dado a um individuo a liberdade de praticar determinados atos, estes atos deverão ser igualados a todos os indivíduos. A filosofia moral de Kant afirma que a base para toda razão moral é a capacidade do homem de agir racionalmente. O fundamento para esta lei de Kant é a crença de que uma pessoa deve comportar-se de forma igual a que ela esperaria que outra pessoa se comportasse na mesma situação, tornando assim seu próprio comportamento uma lei universal. Kant em seu sistema ético fundamentou que a razão é a autoridade final para a moralidade, ele acreditava que as ações de qualquer tipo precisam partir de um sentido de dever ditado pela razão, e nenhuma ação realizada por interesse ou por obediência a lei ou costumes pode ser considerada moral. Para Kant somente as ações realizadas “por dever” são suscetíveis de valoração moral. Também afirmou que nenhuma ação baseada apenas na obediência da lei deve ser considerada como moral. A história comprovou esse conceito. Por exemplo: durante a Segunda Guerra Mundial, as pessoas que obedeciam à lei nazista e seguiram as leis nazi-fascistas não agiram de forma humana e eticamente correta. Matar e torturar seres humanos inocentes por que determinado sistema diz que é o correto a se fazer nunca são atos morais, mesmo que a lei de um país permita ou até encoraje isso. Uma ação praticada por dever tem valor, mas fica deficiente, pois não encontra princípio no domínio da vontade. Assim, o dever é a necessidade de uma ação por respeito à lei, motivada pelo respeito ao princípio legal. O valor moral da ação já reside na própria pessoa. As ações do homem são conforme o dever, e não necessariamente por um senso elevado de bondade, pois esta só existiria na forma de interesses, em maior ou menor grau. Kant descreveu que todo ato, no momento em que se inicia vem acompanhado de uma consciência moral que aparece sob a forma de duas classes do que podemos chamar “mandamentos” que ele chama de imperativos hipotéticos e imperativos categóricos distinguindo-os como sendo o Imperativo Hipotético é sempre subordinado a uma condição, ou seja, enuncia um “mandamento” subordinado a determinadas condições que deve ser seguido para obter um resultado, como exemplo; querer se curar de uma doença tomando um remédio, já o Imperativo Categórico é desvinculado de qualquer condição de buscar algum resultado, mas sim na idéia de que o motivo que te levou a agir possa se convertido em lei universal em que sua ação seja entendida como algo que era necessário a se fazer sem se pensar no resultado que a ação poderá resultar. Na formulação do Imperativo Categórico, Kant fundamentou a ética e moral humana, que implica no dever de atuar somente quando nossa razão máxima resulta em uma lei universal. Ele diz imperativo porque constitui um dever de atuação, e categórico porque é incondicional, não subordinado a nenhum fim. Tentemos exemplificar isso: ao fazer - mos algo, sem pensar nas conseqüências que por ventura possam ocorrer estamos empregando o que Kant chama de Imperativo Categórico. E esses imperativos categóricos próprios da moral, se contrapõem os imperativos hipotéticos condicionados aos imperativos de ordem para lograr um interesse ou resultado. Nessa sucessão é que Kant qualificou os juízos morais como ações que não correspondem nem ao bem nem ao mal, ou ao que o homem faz efetivamente, mas sim a aquilo que ele quer fazer. Sobre esses ditos juízos morais, podemos concluir que certamente a única que poderia ser boa ou má é a vontade humana. Podemos demonstrar isso com a seguinte hipótese: motoristas podem estacionar seus veículos em locais indevidos apenas em casos de suma emergência (por exemplo, com o propósito de prestar ajuda uma pessoa que se mostra necessitada naquele exato local e momento). Segundo a moral de Kant, essa lei deve ser aplicada a toda e qualquer pessoa que se encontre nessa mesma situação. Isto significa que ninguém pode estacionar em locais indevidos por motivo, seja por preguiça ou porque não encontrou outro local para estacionar. Pois como dito isso se aplica a qualquer pessoa, pois se todas as pessoas estacionassem em locais indevidos, e isso se tornasse uma lei universal, isso acarretaria em um grande problema para aqueles que realmente deveriam para naquele local o que atrapalharia em seu amplo o transito da cidade que se tornaria caótico. Portanto, só é permitido estacionar em locais indevidos em casos de emergência. As exceções a essa regra (os casos de emergência) ocorreriam em situações nas quais todas as pessoas estacionariam nesses locais indevidos e considerariam justificável o fato de outros terem feito isso. A hipótese descrita acima exemplifica a lei moral onde Kant afirma que uma pessoa deve agir numa situação da mesma forma que espera que todas as outras pessoas ajam. Por fim cabe dizer que a ética kantiana e também sua lei moral, cujas bases para a razão moral têm como fundamento a capacidade racional do ser humano, baseada nas idéias da vontade e do dever, ou seja, pela liberdade do homem, cujo conceito não pode ser definido cientificamente, mas que tem de ser postulado sempre, sob pena de o homem se rebaixar a um simples ser da natureza, portanto os seres humanos são racionais e independentes e a razão humana é a base da moralidade. Segundo Kant, toda ação deve ser tomada com um senso de responsabilidade ditado pela razão. Kant também reflete, é claro, sobre a felicidade e sobre a virtude, mas sempre em função do conceito de dever baseados nos Imperativos: Categórico e Hipotético de que tanto “falamos”. 2 - REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHÂTELET, F. História da Filosofia, São Paulo, Zahar Ed., vol. V, 1974. KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. Trad. Valério Rohden e Udo Baldur Moosburger. São Paulo: Ed. Abril Cultural, 1980. KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Fradique Morujão, Lisboa: Calouste Gulbenkian, 4ª edição, 1997. KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes, São Paulo, Ed. Abril, Col. Os Pensadores, 1973. KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Trad. de Tânia Maria Bernkopf, Paulo Quintela, Rubens Rodrigues Torres Filho, São Paulo: Ed. Abril, Col. Os Pensadores, 1980. KANT, Immanuel. Textos Seletos, Petrópolis, Ed. Vozes, 1985. VILATOUX, J. La Morale de Kant, Paris, PUF, 1960.