Buscar

ESTUDOS MIGRATÓRIOS - AULA 4

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

ESTUDOS MIGRATÓRIOS 
AULA 4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Ludmila Andrzejewski Culpi 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Nessa aula você irá conhecer os aspectos históricos, políticos e jurídicos 
da questão migratória no Brasil. Num primeiro momento, você conhecerá a 
evolução do fenômeno migratório no Brasil a partir das diferentes ondas 
migratórias pelas quais o país passou. Depois, você aprofundará seu 
conhecimento a respeito da evolução da normativa sobre migrações no Brasil, 
começando pelas primeiras legislações sobre o tema no país. Na terceira parte, 
estudaremos os elementos da antiga lei de migrações brasileira, o “Estatuto do 
Estrangeiro”, que vigorou até 2017. Na quarta parte, verificaremos os aspectos 
relacionados à aprovação e ao conteúdo da Nova Lei de Migrações brasileira, 
aprovada em 2017. Na última parte, será investigado o envolvimento da 
sociedade civil com a questão migratória no Brasil. 
TEMA 1 – HISTÓRIA DAS MIGRAÇÕES NO BRASIL 
Na etapa colonial, ou seja, entre 1500 e 1822, quando foi decretada a 
independência política brasileira, foram recebidos no país muitos imigrantes 
europeus, sobretudo portugueses, espanhóis, holandeses e ingleses, assim 
como escravos africanos, que eram os responsáveis pela produção de açúcar, 
principal atividade econômica do país à época. 
Sobre os diferentes fluxos imigratórios no Brasil, Culpi (2017, p. 157) 
afirma: “A partir da metade do século XX outros fluxos europeus começaram a 
chegar, sendo os principais de espanhóis, italianos e alemães, assim como de 
japoneses. Os maiores números de entrada de imigrantes ocorreram no ano de 
1990”. 
O percentual de imigrantes no país em proporção aos nacionais, isto é, 
nascidos no Brasil era de apenas 3,9% no século XIX e aumentou no começo 
do século XX, passando a 6,2 % em 1900. 
Sobre a imigração do início do século XIX: “o Estado brasileiro passou a 
incentivar a vinda de colonos europeus para trabalhar em áreas ainda não 
povoadas, em função das pressões inglesas pela abolição da escravatura” 
(Culpi, 2017, p. 189). 
Até esse período não havia debates sobre a formulação de uma política 
migratória. Podemos, portanto, afirmar que “a história das políticas e leis de 
 
 
3 
imigração no Brasil é intrinsecamente ligada à história da cidadania brasileira” 
(Baraldi, 2014, citado por Culpi, 2017, p. 189). 
Havia alguns critérios que os imigrantes deveriam atender para serem 
recebidos pelo Brasil, o que criou a figura do “imigrante ideal no período colonial, 
que estão relacionados às habilidades na agricultura, assim como o potencial de 
assimilação à religião católica e à origem latina” (Culpi, 2017, p. 189). Isso 
também estava inserido em uma política declarada de “branqueamento da 
população”, que colocou a raça africana em uma categoria secundária. Dentro 
desses critérios se encaixavam os imigrantes europeus, com destaque para os 
italianos, que de acordo com Souza (2000, citado por Culpi, 2017, p. 189) “foram 
utilizados como um instrumento da Igreja Católica para catequizar o país”. 
Na Primeira República, o momento que o Brasil mais recebeu imigrantes 
foi entre 1998 e 1930, quando ingressaram no Brasil aproximadamente 3,5 
milhões de imigrantes, representando 65% de todos os estrangeiros que 
entraram no Brasil entre os anos de 1822 e 1960. Durante toda a República o 
Brasil, segundo Biondi (2016, p. 1), foi “o terceiro receptor de imigrantes nas 
Américas, ainda que com um volume de entradas bem inferior” ao dos Estados 
Unidos e da Argentina. 
Uma modalidade migratória muito utilizada pelos imigrantes ingressantes 
no Brasil foi a subvencionada, ou seja, financiada pelo próprio governo, 
especialmente os espanhóis e italianos, para povoar o campo. Já no caso dos 
portugueses e sírio-libaneses em geral, a migração não era subsidiada, mas 
voluntária (Biondi, 2016). A partir da década de 1970 passou a aumentar a vinda 
de migrantes transfronteiriços, isto é, de países vizinhos. 
TEMA 2 – AS PRIMEIRAS LEIS MIGRATÓRIAS BRASILEIRAS 
É importante que você saiba que até os anos de 1930 não havia uma 
norma que tratasse especificamente sobre os migrantes no Brasil, o que os 
deixava sem nenhuma proteção. Somente nos anos 1930, no governo de Getúlio 
Vargas, é que os “estrangeiros” passaram a receber alguma atenção, mesmo 
que por meio de políticas bastante discriminatórias (Geraldo, 2008). 
As Constituições de 1934 e 1937 – promulgadas durante o Estado Novo 
– “lidavam com o temor em relação aos imigrantes” (Culpi, 2017, p. 190). Deste 
modo, “entre 1930 e 1945, foram estabelecidas restrições ao ingresso de 
 
 
4 
estrangeiros, definindo-os como ‘indesejáveis’, exceto os denominados ‘brancos 
europeus’” (Culpi, 2017, p. 190). 
A imigração considerada indesejada naquele momento era especialmente 
a de africanos e a de japoneses. Havia um controle de migração de forma 
seletiva, isto é, que recaía apenas sobre alguns grupos. 
Para formar uma política imigratória brasileira “Foi criada, em 1933, uma 
Assembleia Nacional Constituinte, na qual as bancadas apresentaram propostas 
de lei, demonstrando seu posicionamento diante da questão imigratória” (Culpi, 
2017, p. 190). A subcomissão do Itamaraty fez uma proposta de texto mais 
aberta aos migrantes, que sofreu várias críticas dos deputados. Os 
congressistas contrários ao tema da imigração conseguiram aprovar “uma 
emenda à Constituição de 1934, conhecida como “lei de cotas” (art. 121). 
Essa emenda restringia a migração a uma quantidade limitada, baseada 
em cotas, impedindo o ingresso de alguns imigrantes que excedessem a cota de 
seus países ou que fosse de origem “indesejada”, o que foi muito condenado até 
por Getúlio Vargas, pois o imigrante era considerado importante para o 
desenvolvimento econômico da nação – sobretudo quanto à agricultura. 
A norma que previa o sistema de costas foi mantida na Constituição de 
1937. Depois dessa normativa discriminatória, foi decretada a Lei n. 406, “que é 
considerada a primeira lei brasileira sobre estrangeiros” (Culpi, 2017, p. 191). 
Apesar de ser um marco por ser pioneira no tratamento ao imigrante, mantinha 
as características eugenistas das constituições, afirmando que: “Nenhum núcleo 
colonial [...] será constituído por estrangeiros de uma só nacionalidade” (Culpi, 
2017, p. 191). 
Apenas em 1945 um decreto-lei – o Decreto n. 7.967 – que previa regras 
sobre a imigração e a colonização, tratou novamente sobre o tema, substituindo 
o decreto-lei anterior. Porém, a percepção sobre a migração não se alterou e 
permaneceu o aspecto seletivo nessa lei. O decreto “destacava o propósito de 
branqueamento encontrado nas constituições anteriores e incluía ainda a lógica 
de proteção do trabalhador nacional contra a competição externa” (Culpi, 2017, 
p. 191). 
 O elemento da seleção dos migrantes foi preservado nas constituições de 
1946 e 1947, e também na Constituição de 1988. Na Constituição aprovada em 
1967 não se fazia mais referência ao “imigrante ideal”, o que era uma vitória. 
 
 
5 
Contudo, a nossa última Constituição, aprovada em 1988, não superou as 
limitações das anteriores em relação aos migrantes, pois não “houve uma 
discussão sobre a questão migratória, tendo em vista o baixo fluxo de 
estrangeiros no país naquele momento” (Culpi, 2017, p. 191). 
TEMA 3 – O ESTATUTO DO ESTRANGEIRO DE 1980: A ANTIGA LEI DE 
MIGRAÇÕES BRASILEIRA 
A Lei n. 6.185/1980 foi a lei mais duradora de migrações no Brasil, a qual 
regeu a política migratória brasileira entre 1980 e 2017. A lei, denominada 
Estatuto do Estrangeiro, é vista como resultante da ditadura, mantendo o legado 
da ideia do migrante como uma “ameaça à segurança nacional”. Esse aspecto 
do Estatuto do Estrangeiro de 1980 foi sempre muito criticado, pois não analisava 
a questão dos migrantes pela perspectiva dos direitos humanos, mas da 
segurança nacional. 
Mesmo após a aprovação daConstituição de 1988, já em um contexto 
democrático, a lei não foi substituída ou revisada, o que a tornava inclusive mais 
atrasada que a própria Constituição em vários aspectos, como na não concessão 
de garantia de acesso à educação aos migrantes e seus filhos, direito que é 
previsto para todos na Constituição (Culpi, 2017). Desse modo, o Estatuto de 
Estrangeiro representava um empecilho à proteção dos migrantes e à concessão 
de maiores direitos aos estrangeiros” (Culpi, 2017, p. 192). 
O Estatuto do Estrangeiro era falho e ambíguo e não lidava com a questão 
dos emigrantes, isto é, dos brasileiros que vivem fora do país. Em seu art. 2º a 
Lei deixa claro o seu propósito que é “preservar à segurança nacional, à 
organização institucional, aos interesses políticos, socioeconômicos e culturais 
do Brasil, bem assim à defesa do trabalhador nacional” (Brasil, 1980). Embora a 
lei tenha excluído os itens relacionados à eugenização ou colonização do país, 
não focava nos direitos dos migrantes, mas os criminaliza, prevendo a expulsão 
e a reclusão (Culpi, 2017). 
Uma política importante é a busca pela regularização para que os 
migrantes saiam da invisibilidade, tornando-se documentados. Contudo, no 
Estatuto do Estrangeiro, segundo Culpi (2017, p. 192), “Para os imigrantes com 
menor qualificação, há poucos canais para a regularização. Ademais, a lei não 
determinava elementos facilitadores para a atração de imigrantes, pois 
 
 
6 
estipulava uma burocracia complexa para a concessão de vistos aos 
trabalhadores qualificados”. 
 O caráter discriminatório da lei reduziu a entrada de imigrantes no Brasil, 
o qual “se tornou um país de emigração, isto é, com uma maior saída de 
brasileiros que entrada de estrangeiros no território brasileiro” (Culpi, 2017, p. 
192). O Estatuto, além de não assegurar direitos aos estrangeiros, ainda os 
impediu de atuar na política, como candidatos ou com direito a votar. 
 A respeito das causas da aprovação de uma lei tão limitadora, pode-se 
indicar que ela “é produto de uma insatisfação dos militares em relação à atuação 
de estrangeiros religiosos na política brasileira, o que induziu esses governantes 
a buscar ferramentas para anistiar esses cidadãos” (Culpi, 2017, p. 193). 
 A partir de 2002, com a assinatura dos Acordos de Residência, o Brasil 
alterou alguns elementos de sua política migratória para adequar-se às diretrizes 
daquele documento. Uma das principais decisões foi a aprovação da Lei de 
Anistia de Estrangeiros, em 2009, “que permitiu a regularização de documentos 
para 41.816 estrangeiros residentes ilegalmente no país” (Culpi, 2017, p. 194), 
baseado no exemplo do programa de regularização argentino “Pátria Grande”. 
 As anistias são importantes por permitirem a redução do número de 
indocumentados, mas, de acordo com Reis (2011), mascaram o problema mais 
profundo da ineficácia da política migratória. 
 A partir dos anos 2000 começaram pressões por parte da sociedade civil 
e da opinião pública por reformas no Estatuto do Estrangeiro, que era 
considerado defasado e incapaz de dar conta do fenômeno atual das migrações 
no Brasil. Em 2009, foi formulado pelo Congresso Nacional um Projeto de Lei, o 
PL Lei n. 5.655/2009, que tinha como objetivo substituir a antiga lei de migração 
de 1980. Esse Projeto de Lei, conforme Culpi (2017, p. 196), “que foi substituído 
pelo projeto de lei apresentado em 2015, previa a garantia dos direitos humanos 
dos migrantes e assegurava um conjunto de direitos e garantias fundamentais 
consagrados na Constituição de 1988, contudo, na prática, ele apenas atualizava 
o Estatuto vigente”. 
TEMA 4 – A NOVA LEI DE MIGRAÇÕES BRASILEIRA DE 2017 
Um dos pontos positivos do Projeto de Lei de 2009 era que este propunha 
uma visão mais voltada aos direitos humanos. Porém, possuía muitos problemas 
como, “a complexidade dos processos administrativos de regularização da 
 
 
7 
situação dos estrangeiros e a primazia da defesa do interesse nacional” (Culpi, 
2017, p. 196). Assim, o PL parecia inovador, mas trazia apenas pequenas 
mudanças no Estatuto do Estrangeiro, mantendo a concepção da imigração 
como uma simples fonte para atrair trabalhadores muito especializados. Ainda 
conforme Culpi (2017, p. 197): “O receio da inclusão do imigrante como um 
potencial competidor pelos postos de trabalho nacionais e uma eventual ameaça 
nacional persistiu nas entrelinhas do Projeto de Lei n. 5.655/2009, apesar das 
reivindicações da sociedade civil para um tratamento mais digno aos 
estrangeiros”. 
Uma das vitórias do PL de 2009 é que ele propunha um tratamento 
diferenciado aos nacionais do Mercosul em termos de regularização, atendendo 
assim às exigências dos Acordos de Residência do Mercosul vistos na aula 
anterior. 
Sobre o processo de negociações do PL, este “foi aprovado na Comissão 
de Turismo e Desporto em novembro de 2012 e devia ser avaliado por duas 
comissões antes de ser encaminhado à votação no Plenário” (Culpi, 2017, p. 
197). Podemos destacar que “o excesso de etapas para percorrer levou à 
paralisação do projeto no Congresso nacional” (Culpi, 2017, p. 197). 
Portanto, não houve uma votação em Plenário do PL 2009, que foi 
engavetado, embora continuasse em tramitação. Para dar continuidade à ideia 
de reforma da Lei migratória, em 2012, foi realizada uma audiência pública, que 
trouxe novamente a discussão à tona. 
Em 2013, foi convocada pelo Ministério da Justiça “uma Comissão de 
Especialistas formada por juristas, professores de Relações Internacionais e 
Ciência Política e especialistas na área migratória, para formular uma proposta 
de Anteprojeto de Lei de Migrações” (Culpi, 2017, p. 197). 
Essa comissão de especialistas se reuniu muitas vezes entre 2013 e 2014 
com o objetivo de formular um projeto que respondesse às demandas dos 
migrantes. Foram consultadas leis de outros Estados e avaliados acordos 
internacionais sobre o tema. 
 O PL n. 2516/2015 “foi aprovado em julho de 2015 no Senado Federal e 
seguiu para a Câmara dos Deputados” (Culpi, 2017, p. 198), que “aprovou o 
projeto em 2016, tendo seguido para a aprovação final do Senado, para na 
sequência ser encaminhado para assinatura do Presidente da República” (Culpi, 
 
 
8 
2017, p. 198). A nova Lei de Migrações, a Lei n. 13.445/2017, foi sancionada em 
maio de 2017 e sua regulamentação foi aprovada em outubro do mesmo ano. 
A lei migratória “em seu artigo 1 define migrante, imigrante, emigrante, 
visitante, apátrida e residente fronteiriço” (Culpi, 2017, p. 198). Um dos 
elementos mais celebrados da nova lei é que finalmente indica os direitos dos 
imigrantes no país, em seu art. 4º: “Ao imigrante é garantida, em condição de 
igualdade com os nacionais, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à 
igualdade, à segurança e à propriedade [...]” (Brasil, 2017). A lei também aponta 
os direitos dos emigrados brasileiros e prevê o tratamento diferencial para a 
regularização de nacionais do Mercosul. 
Quando a Lei n. 13.445/2017 foi aprovada, em maio de 2017, esta sofreu 
muitos vetos por parte de Michel Temer, que vetou 18 partes do texto, inclusive 
o trecho que tratava da anistia aos imigrantes que ingressaram no país até 6 de 
julho de 2016, argumentando que esse dispositivo garantia anistia indiscriminada 
ao imigrante. Outro ponto que representava um grande avanço, mas que fora 
vetado por Temer, foi o direito ao imigrante também exercer cargo, emprego e 
função pública, o que seria uma grande vitória da Nova Lei. De acordo com o 
mandatário, o exercício de cargo público a um imigrante seria uma “afronta à 
Constituição e ao interesse nacional” (Brasil, 2017). 
Esses vetos não revelam apenas uma resistência do presidente à 
abordagem mais humanista da migração, mas de parcelas da sociedade e da 
opinião pública. Isso pode ser comprovado com o exemplo dos críticos à Nova 
Lei migratória que estavam presentes nas audiênciaspúblicas sobre o tema e 
faziam protestos anti-imigração nessas ocasiões (Granja, 2017). Verificou-se um 
movimento mundial, também na Europa e nos Estados Unidos, em defesa de 
políticas migratórias mais restritivas, resultado da argumentação da extrema-
direita contra os migrantes e refugiados, o que repercutiu no processo de 
aprovação da Nova Lei de Migrações brasileira. 
Sobre as críticas à Nova Lei migratória, podemos destacar que “Embora 
a Lei seja avançada ao conferir maiores direitos aos imigrantes e não os 
criminalizando, estabelece uma extensa burocracia para a regularização, bem 
como multas e penalidades àqueles que violarem a lei” (Culpi, 2017, p. 200). 
Nesse sentido, “uma das maiores críticas que sofreu a Nova Lei nos 
debates públicos, foi a de que contém muitos artigos sobre repressão, expulsão, 
 
 
9 
deportação e extradição, que estão associados à saída compulsória do 
imigrante” (Culpi, 2017, p. 2000). 
TEMA 5 – OS ATORES DA POLÍTICA MIGRATÓRIA BRASILEIRA E O 
ENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE CIVIL 
A respeito da aplicação da política migratória brasileira, no que tange à 
recepção de imigrantes, deve-se destacar que “o controle da migração é uma 
atribuição de três ministérios: da Justiça, das Relações Exteriores e do Trabalho 
e Emprego” (Patarra, 2005, p. 30). 
O Ministério das Relações Exteriores atua levantando informações sobre 
os estrangeiros no país e os emigrantes, isto é, brasileiros que residem fora do 
país. Ademais, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) traça as orientações 
em relação à migração humanitária, como a recepção de refugiados, deslocados 
e exilados. O MRE oferece apoio consular aos brasileiros que residem em outro 
país (emigrantes), auxiliando na questão documental. 
Outro agente da política de migração é o “Comitê Nacional para os 
Refugiados (Conare), vinculado ao Ministério da Justiça, que tem por finalidade 
a condução da política nacional sobre refugiados” (Patarra, 2015, p. 31). 
Nesse sentido, o Ministério da Justiça tem a função de regular o ingresso 
de imigrantes e também adotar a política migratória, que está atrelada à atividade 
de emitir vistos, permanências, residências, expulsões, entre outros. Por fim, o 
Ministério do Trabalho e Emprego desenvolve orientações com respeito às 
questões laborais dos imigrantes. 
Vinculado ao Ministério do Trabalho está outro órgão central na questão 
migratória, que é o Conselho Nacional de Imigração (CNIg), encarregado de 
aplicar a política migratória brasileira. O trabalho do CNIg é importante porque 
este emite resoluções que servem de diretrizes para uma política de atendimento 
aos imigrantes. 
A sociedade civil também é um agente que deve ser levado em conta na 
questão migratória, porque atua pressionando o governo para assegurar 
políticas públicas mais efetivas. Na Argentina, um dos elementos mais 
importantes para explicar a reforma da lei migratória em 2002, foram as 
audiências e encontros organizados por ONGs e associações de migrantes que 
passaram a exigir do governo mudanças na lei e a cobrar ações do governo em 
casos de xenofobia. 
 
 
10 
No caso brasileiro, houve também participação da sociedade civil, mesmo 
que indireta, na formulação da uma nova lei de migrações que fosse mais 
adequada aos acordos internacionais e também às necessidades dos migrantes. 
Como você já viu na tema anterior, estudiosos e acadêmicos participaram da 
redação do projeto de lei, mas outros atores não governamentais também 
estiveram envolvidos. No comitê de especialistas, houve participação também 
de outros órgãos da sociedade civil, que enviaram sugestões para a lei, como a 
Presença da América Latina (PAL) e a Rede Sul Americana para as Migrações 
Ambientais (RESAMA). A Igreja Católica também exerceu função relevante, 
criticando o Estatuto do Estrangeiro. 
A sociedade civil brasileira, assim como a argentina, desempenhou um 
papel importante na mudança da lei migratória brasileira. O projeto de lei sofreu 
várias alterações, que estiveram vinculadas de algum modo à atuação da 
sociedade civil. As alterações no texto da lei “foram implementadas após dez 
audiências públicas realizadas com os mais diversos atores sociais, políticos, 
nacionais e internacionais” (Culpi, 2017, p. 253). Alguns artigos foram retirados 
do Projeto de lei por solicitação da sociedade civil, como o da prisão de pessoas 
por questões relacionadas à irregularidade migratória. 
Dois atores foram importantes na exigência por alterações na lei: 
o Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante (CDHIC), cujo 
objetivo é assessorar os governos e os migrantes na questão da 
regularização migratória e atingir uma política migratória que respeite 
os direitos humanos dos imigrantes; e o Instituto Migrações e Direitos 
Humanos (IMDH), criado em 1990, que visa garantir mais direitos aos 
migrantes e refugiados. (Culpi, 2017, p. 202) 
Há atores da sociedade civil, a exemplo das pastorais religiosas, que 
“priorizam a atuação no âmbito municipal, não participando ativamente das 
discussões no âmbito federal” (Culpi, 2017, p. 202). 
NA PRÁTICA 
Assista a este debate: 
O INTERNACIONAL em Debate #4: As migrações internacionais e os seus 
desafios. O Barão, 20 jan. 2017. Disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=JTIG71o1Grg>. Acesso em: 5 out. 2018. 
O vídeo trata da Nova Lei de Migrações brasileira. Nesse debate, com 
pesquisadores importantes da área, você irá entender melhor a dinâmica 
 
 
11 
migratória brasileira atual, seus desafios e oportunidades e o contexto de 
implementação da Nova Lei de Migrações brasileira, retomando alguns 
conhecimentos aprendidos nesta aula. 
FINALIZANDO 
Nessa aula você conheceu os elementos centrais da política migratória 
brasileira. Na primeira parte da aula, você entendeu sobre os principais fluxos 
migratórios no início da nossa formação econômica e social, e as políticas de 
atração de migrantes europeus com vistas a um “branqueamento da população”. 
Na segunda parte, você conheceu as primeiras leis migratórias 
retrógradas das décadas de 1930, 1950 e 1960, que tratavam o imigrante como 
uma ameaça à ordem e à segurança, e entendiam que a migração deveria ser 
seletiva. 
No terceiro tema estudamos o Estatuto do Estrangeiro, de 1980, aprovado 
durante a ditadura militar, que ainda tratava o migrante como uma ameaça e não 
concedia direitos a este, com o país indo contra essa ideia até à Constituição de 
1988, em alguns aspectos. O Estatuto só foi substituído em 2017, após cerca de 
10 anos de negociação para a formulação de uma lei mais adequada à atual 
realidade dos migrantes. Essa Nova Lei de Migrações brasileira, que foi 
estudada no Tema quatro, embora tenha sofrido vetos por parte de Michel 
Temer, que eliminaram boa parte de suas conquistas, é considerada avançada, 
pois entende a migração pelo ponto de vista do direito dos migrantes. 
Na última parte, você entendeu melhor quais são os agentes relacionados 
à política migratória brasileira, com ênfase na atuação de três ministérios: o do 
Trabalho (ao qual está vinculado o Conselho Nacional de Imigração), o da 
Justiça e o de Relações Exteriores. Você estudou também nesse tópico o papel 
exercido pelas principais ONGs de atendimento aos migrantes, assim como a 
atuação da Igreja Católica na pressão sobre o governo para mudanças na lei e 
uma maior proteção dos direitos dos imigrantes no país. 
 
 
 
12 
REFERÊNCIAS 
BARALDI, C. Migrações internacionais, direitos humanos e cidadania sul-
americana: o prisma do Brasil e da integração sul-americana. Tese (Doutorado 
em Relações Internacionais), USP, São Paulo, 2014. 
BIONDI, L. Imigração. Verbetes Primeira República. Verbete CPOC/ FG, nov. 
2016. Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-
republica/IMIGRA%C3%87%C3%83O.pdf>. Acesso em: 5 out. 2018. 
CULPI, L. A. Mercosul e políticas migratórias: processode transferência de 
políticas públicas migratórias pelas instituições do Mercosul ao Brasil, Argentina, 
Paraguai e Uruguai (1991-2016). Tese (Doutorado em Políticas Públicas), 
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2017. 
GERALDO, E. A “lei de cotas” de 1934: controle de estrangeiros no Brasil. 
Cadernos AEL, Campinas, v. 15, n. 27, 2009. 
PATARRA, N. Migrações Internacionais de e para o Brasil contemporâneo: 
volumes, fluxos, significados e políticas. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, 
v.19, n 3, p. 23-33, 2005. 
REIS, R. R. A política do Brasil para as migrações internacionais. Contexto 
internacional, Rio de Janeiro, v. 33, n. 1, p. 47-69, jun. 2011.

Continue navegando