Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Letícia Marques– P8 ACESSO VENOSO CENTRAL INTRODUÇÃO E INDICAÇÕES O acesso venoso central consiste na inserção de um cateter cuja extremidade atinge a veia cava superior (VCS), o átrio direito ou a veia cava inferior (VCI). É obtido por meio de uma punção percutânea que pode ser realizada em diferentes sítios anatômicos através de veias centrais (jugular interna, subclávia ou femoral) ou periféricas. Os cateteres venosos centrais podem ser classificados de acordo com suas características em relação ao tempo de permanência (curta, média ou longa permanência), tipo de inserção (central ou periférica) e número de lúmens (simples, duplo ou triplo). O acesso venoso central está indicado quando não é possível obter acesso periférico, quando há necessidade de administração de medicações vasoconstritoras, hiperosmolares ou com maior risco de causar flebite, administração de nutrição parenteral, realização de hemodiálise ou aféreses, monitorização hemodinâmica invasiva ou passagem de marca-passo transvenoso. CONTRAINDICAÇÕES As contraindicações ao acesso venoso central são relativas e dependem da condição clínica do paciente e das alternativas disponíveis, dentre elas a principal é a coagulopatia. Nesses casos, o risco de sangramento pode ser minimizado com uso de punção guiada por USG e punção em sítios compressíveis e de fácil monitorização, como veias jugulares internas e veias femorais. SÍTIOS DE PUNÇÃO Posicionamento e Escolha do sítio de punção A escolha do sítio vai depender de 3 fatores: • Experiencia do médico • Anatomia do paciente • Riscos associados a punção Restrições: 1- Não se deve realizar punção em áreas contaminadas ou potencialmente contaminadas (como áreas de infecção cutânea, queimaduras, locais próximos a traqueostomia ou ferida operatória) quando outro sítio estiver disponível 2- Evitar punções em áreas de anatomia alterada (como alterações congênitas, fraturas, traumas, tumores, manipulação cirúrgica prévia ou cicatrizes) devido a maior risco de falha de acesso e complicações 3- Evitar punções em locais onde estejam locados outros dispositivos (como cateteres de diálise, marca-passo ou desfibrilador interno) devido a maior risco de falha de acesso, mau posicionamento e complicações dos outros dispositivos 4- Em caso de pacientes com doença pulmonar unilateral significativa (como pneumonias extensas, derrame pleural ou presença de dreno de tórax) preferem-se punções ipsilaterais ao tórax acometido para acessos jugulares e subclávios, evitando descompensação respiratória em casos de pneumotórax relacionado ao procedimento, ou necessidade de drenagem bilateral. Sítio de Punção Jugular Posicionamento Paciente em decúbito dorsal, em Trendelenburg com a cabeça rotacionada para o lado contralateral ao lado da punção. O médico se posiciona atrás da cabeça do paciente, ipsilateral ao lado da punção. Anatomia Triângulo de Sedillot formado em sua base pela clavícula e lateralmente pela porção esternal e clavicular do músculo esternocleidomastóideo (ECM). A punção anterior (mais utilizada) é realizada no ápice do triângulo, na junção das cabeças do músculo ECM, com angulação de 30° e direcionada para o mamilo ipsilateral. 2 Letícia Marques– P8 Vantagens • Baixa taxa de mal posicionamento • Sítio compressivo com melhor controle de sangramento Desvantagens • Risco de punção inadvertida de carótida e pneumotórax. Sítio de punção subclávio Posicionamento Paciente em decúbito dorsal, em Trendelenburg. O médico se posiciona lateralmente ao paciente, ipsilateral ao lado da punção Anatomia Ponto de junção do terço médio e distal da clavícula. A punção é realizada no terço médio da clavícula, com agulha horizontal, paralela à clavícula, com pequena angulação em relação à pele, direcionada para o manúbrio Vantagens Mantém melhor estrutura do vaso em caso de choque. Associado a menor risco de infecção Desvantagens Sítio não compressivo com maior risco de sangramento em caso de punção inadvertida de artéria subclávia e maior risco de pneumotórax. Sítio de Punção Femoral Posicionamento Paciente em decúbito dorsal, com o membro inferior ipsilateral com leve rotação externa. O médico se posiciona lateralmente ao paciente, ipsilateral ao lado da punção Anatomia Artéria femoral abaixo do ligamento inguinal. A punção é realizada medialmente à artéria, com angulação de 45° em relação à pele, na direção da veia cava, sentido crania Vantagens Sítio compressivo preferido em casos de coagulopatia. Maior facilidade de posicionamento do paciente, possibilidade de punção em acessos de emergência e em pacientes não colaborativos Desvantagens maior incidência de trombose venosa profunda relacionada ao cateter e maior risco de infecção *Existem também mais 2 sítios de punção, menos comumente utilizados, o antecubital, que é mais utilizado para punções periféricas e a jugular externa devido a sua variação anatômica e elevada mobilidade. TÉCNICA 1- Posicionar o paciente de acordo com o sítio de punção escolhido. 2- Realizar inicialmente anestesia 3- Realizar punção até refluxo de sangue. 4- Desconectar seringa da agulha e introduzir fio- guia através do lúmen da agulha 5- Após introduzir o fio-guia, retirar a agulha 6- Introduzir o dilatador pelo fio-guia e introduzir todo o dilatador através da pele 7- Retirar o dilatador. 8- Colocar o cateter através do fio-guia até que saia por uma das vias do acesso 9- Com o fio-guia em mãos, proceder introdução do cateter simultaneamente à retirada do fio-guia. 10- Com uma seringa com solução salina, checar refluxo de sangue em todas as vias do acesso. 3 Letícia Marques– P8 11- Proceder com a fixação do cateter à pele utilizando as peças de fixação (borboletas) e pontos simples com fio de náilon. Dar ponto na pele passando por dentro do óstio das peças de fixação. 12- Realizar limpeza local e curativo GUIADA POR USG Transdutor linear do USG (envolvido por plástico estéril) para identificação e localização do vaso Avaliar a extensão, calibre e complacência do vaso. As veias são totalmente compressíveis, apresentam paredes finas e formato oval A ponta da agulha deve ser visualizada em todo o procedimento. Após sua inserção, deve-se aspirar com seringa para confirmar o refluxo sanguíneo Técnicas: 1- Estática: identificar o posicionamento da veia, confirmar sua patência e marcar o local para punção antes do procedimento. 2- Transversal: posicionar o transdutor de forma perpendicular ao vaso, introduzir a agulha com angulação de 45° a uma distância do transdutor igual à profundidade da veia; deve-se angular o transdutor em direção à agulha acompanhando seu trajeto até a inserção no vaso. Há adequada visualização das estruturas circunvizinhas, inclusive da artéria, 3- Longitudinal: posiciona-se o transdutor de forma paralela ao vaso, visualizando seu trajeto. Introduz a agulha com angulação de 45° rente ao transdutor em direção ao vaso e, caso necessário, deslocar a agulha no sentido horizontal para melhor posicionamento em relação ao vaso. maior dificuldade de execução, uma vez que não possibilita a visualização simultânea da artéria e dificulta a orientação da trajetória laterolateral da agulha. QUANDO ESCOLHER DISSEÇÃO Reservado para vítimas de trauma e choque hemorrágico profundo, com as veias colabadas, ou quando não for possível a punção Grandes chances de infecção e tromboflebites, devem ser retirados assim que uma veia for puncionada Técnica: 1- Posicione o paciente em decúbito dorsal horizontal e imobilize o membro adequadamente 2- Faça antissepsia, anestesie o local e faça uma incisão transversa na pele sobre a veia escolhida 3- Divulsione o subcutâneo com uma pinça hemostática4- Individualize a veia, faça a ligadura com um fio distal e realize a inserção do cateter por venotomia transversa e parcial 5- Suture a pele e realize a oclusão com curativo convencional Veia basílica no MMSS: incisão 2 cm acima e 2 cm medial ao epicôndilo do cotovelo com MMSS abduzido em 90 graus 4 Letícia Marques– P8 Veia safena magna no tornozelo: incisão 1 cm anterior e 1 cm ao maléolo interno da tíbia COMPLICAÇÕES As complicações relacionadas ao acesso venoso central variam de acordo com o sítio de punção, realização de punção guiada por USG e experiência do médico. Elas podem ser precoces ou tardias. COMPLICAÇÕES AGUDAS: Sangramento, hematoma, punção arterial, pneumotórax, hemotórax, arritmias, introdução completa do fio guia no vaso. ➔ Existem técnicas para reverter esses eventos, como, por exemplo, no caso do hematoma em que se realiza uma compressa fria e troca- se o sítio de punção. Se hematoma estiver em expansão, avalia-se a necessidade de abordagem cirúrgica (pois hematomas cervicais em expansão podem comprimir vias aéreas). COMPLICAÇÕES TARDIAS A frequente delas é a infecção de corrente sanguínea associada ao cateter, muito relacionada a pacientes com doenças crônicas, imunossuprimidos, extremos de idade (por exemplo). Outras complicações tardias associadas ao cateter incluem: trombose venosa, embolia pulmonar e perfuração miocárdica. CUIDADOS Após passagem de cateter central por punção em veia jugular ou subclávia, é importante realizar um exame de imagem para checar a localização do cateter e excluir complicações. A radiografia de tórax permite visualização do posicionamento do cateter, bem como avaliação de complicações relacionadas à punção, como pneumotórax e hemotórax. A manipulação do CVC deve sempre ser precedida pela lavagem das mãos e limpeza das vias com solução alcoólica. O curativo deve ser trocado diariamente e deve-se atentar para sinais de infecção local.
Compartilhar