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O RAP COMO AGENTE COMUNICADOR E DE EDUCAÇÃO DENTRO DAS PERIFERIAS RAP AS A COMMUNICATOR AND EDUCATION AGENT WITHIN THE PERIPHERIES Luís Victor da Silva Oliveira Graduando do Curso de Licenciatura Plena em História da Universidade Estadual do Piauí – UESPI, 3° Período E-mail: luisvoliveira@aluno.uespi.br Mateus Farias dos Santos Graduando do Curso de Licenciatura Plena em História da Universidade Estadual do Piauí – UESPI, 3° Período E-mail: mateusfsantos@aluno.uespi.br Não sei se a escola aliena mais do que informa Te revolta ou te conforma com as merdas que o mundo tá Nem todo livro, irmão, foi feito pra livrar Depende da história contada e também de quem vai contar Pra mim contaram que o preto não tem vez E o que que o Hip-Hop fez? Veio e me disse o contrário[...] “Pedagoginga” (THIAGO ELNIÑO; 2017). Resumo O objetivo desse artigo é analisar o universo musical e cultural do rap desde o surgimento, sua chegada no Brasil e a forma como ele se desdobra agindo como ferramenta educativa nas periferias. Como metodologia utilizada recorremos à técnica de pesquisa de análise bibliográfica de autores pertinentes a discussão fundamentada em reflexões teórico-metodológicas no campo da Educação, Sociologia Cultural, Música e Comunicação. Palavras-chave: Cultura Hip-Hop. Rap. Educação. Comunicação. Música. Summary The aim of this article is to analyze the musical and cultural universe of rap since its emergence, its arrival in Brazil and the way it unfolds acting as an educational tool in the peripheries. As a methodology used we use the research technique of bibliographic analysis of relevant authors the discussion based on theoretical-methodological reflections in the field of Education, Cultural Sociology, Music and Communication. Keywords: Hip-Hop culture. Rap. Education. Communication. Song. 1. Introdução O Hip-Hop é uma cultura de rua e através dela as comunidades periféricas se afirmam enquanto atores sociais, adotando-a como um estilo de vida, demarcando território, valorizando sua identidade cultural e ocupando espaços públicos. Assim, o movimento hip-hop utiliza a arte como ferramenta de luta e resistência contra as formas de subalternização das culturas e dos corpos periféricos. A cultura hip-hop se divide em quatro elementos: Graffiti – que representa as artes plásticas expressas por desenhos coloridos feitos pelos grafiteiros nas ruas das cidades espalhadas pelo mundo; Break dance – que representa a dança e a expressão através do corpo. Os MCs - Mestres de cerimônias, ou seja, letrista e DJs - na área da discotecagem e mixagem. Desse modo, na junção dos dois elementos MC e DJ se constitui o rap – rhythm and poetry, ou seja ritmo e poesia, que é a sua expressão verbal e musical dessa cultura. O hip-hop que tem seu surgimento nos Estados Unidos, desembocou no Brasil nas periferias. O movimento encontrou nas periferias brasileiras a aglutinação do samba brasileiro1, o samba tem grande influência sobre hip-hop norte-americano e ambas correntes artísticas incidem no surgimento do rap nacional. Em seu documentário “AmarElo: É tudo pra ontem”, Emicida (2020) traz reflexões sobre o rap como movimento orgânico de educação, organização popular e ferramenta de luta contra a discriminação racial e as desigualdades sociais na periferia do Brasil. Diante disso, utilizamos como método de análise a corrente teórica da historiografia para investigar as relações existentes entre o rap e os processos educativos dentro das periferias do Brasil, assim, fazemos a seguinte indagação: como o rap pode ser um agente educador ante a ineficiência do estado? Para atingir tal tarefa, recorremos à técnica de pesquisa de revisão bibliográfica de artigos científicos e de veículos digitais, com autores pertinentes ao tema objetivando construir um debate teórico- metodológico e interdisciplinar. 1 O samba é um movimento artístico-cultural de resistência da população negra nas periferias brasileiras (OLIVEIRA, 2017). Esse suporte teórico contribui para apontar o hip-hop e, mais especificamente, o rap como ferramenta educativa “não-formal” na atualidade disseminada através da vivência dos indivíduos e, para além dela, através dos meios de comunicação em massa “Segundo o MEC, a educação formal é aquela que ocorre nos sistemas de ensino tradicionais; a não formal corresponde às iniciativas organizadas de aprendizagem que acontecem fora dos sistemas de ensino; enquanto a informal e a incidental são aquelas que ocorrem ao longo da vida”2. Ao focar na importância do rap como educador informal, visamos contribuir no debate em torno dos processos educativos referentes à indústria cultural e aos meios de comunicação e suas influências junto ao público. Sendo assim, partimos do surgimento do hip-hop como movimento de articulação entre sujeitos marginalizados. 2. Cultura Hip-Hop, o surgimento e disseminação do Rap e sua chegada no Brasil. Sendo uma cultura jovem, de acordo com Adriana Borges (2003)3 o hip-hop surge por volta da década de 1970 nos bairros e conjuntos residenciais de origem africana, caribenha e latina, localizados na da cidade de Nova Iorque (NY), em um contexto de excessiva violência e criminalidade. Os jovens dessas comunidades buscavam na música, dança e pintura uma forma de expressão popular e lazer, manifestando-se contra a opressão da hierarquização racial estadunidense. Pois é através da cultura hip-hop - mas não só dela - que ainda hoje esses jovens encontram uma válvula de escape, contrariando o sistema capitalista e buscando uma alternativa para realidade que marginaliza, criminaliza e vincula-os à violência e ao consumo de drogas. De acordo com Luana Dornelas (2021)4, o hip-hop chegou no Brasil no início da década de 80 na cidade de São Paulo quando os jovens começaram a receber informações do movimento que estava acontecendo em Nova Iorque, consequentemente os grupos de periferia passaram a se reunir na estação de metrô São Bento para escutar as músicas vindas do Bronx. Os dançarinos de breaking foram os primeiros 2 Disponível em: <https://medium.com/nossa-coletividad/educa%C3%A7%C3%A3o-formal- n%C3%A3o-formal-informal-e-incidental-69d1426776c0> Acesso em: 20 de abr. de 2021. 3 Disponível em: "hip hop é cultura, arte e atitude" <http://obviousmag.org/my_cup_of_tea/2015/04/hip- hop-e-cultura-arte-e- atitude.html#:~:text=Hip%20Hop%20%C3%A9%20uma%20cultura,atitude%20que%20conquistou%20o %20mundo.&text=O%20movimento%20que%20faz%20arte,Rap%20(Rithm%20and%20Poetry).> Acesso em: 20 de abr. de 2021. 4 Disponível em: <https://www.google.com/amp/s/amp.redbull.com/br-pt/O-surgimento-da-cultura-hip- hop-no-Brasil> Acesso em: 20 de abr. de 2021. https://medium.com/nossa-coletividad/educa%C3%A7%C3%A3o-formal-n%C3%A3o-formal-informal-e-incidental-69d1426776c0 https://medium.com/nossa-coletividad/educa%C3%A7%C3%A3o-formal-n%C3%A3o-formal-informal-e-incidental-69d1426776c0 http://obviousmag.org/my_cup_of_tea/2015/04/hip-hop-e-cultura-arte-e-atitude.html#:~:text=Hip%20Hop%20%C3%A9%20uma%20cultura,atitude%20que%20conquistou%20o%20mundo.&text=O%20movimento%20que%20faz%20arte,Rap%20(Rithm%20and%20Poetry) http://obviousmag.org/my_cup_of_tea/2015/04/hip-hop-e-cultura-arte-e-atitude.html#:~:text=Hip%20Hop%20%C3%A9%20uma%20cultura,atitude%20que%20conquistou%20o%20mundo.&text=O%20movimento%20que%20faz%20arte,Rap%20(Rithm%20and%20Poetry) http://obviousmag.org/my_cup_of_tea/2015/04/hip-hop-e-cultura-arte-e-atitude.html#:~:text=Hip%20Hop%20%C3%A9%20uma%20cultura,atitude%20que%20conquistou%20o%20mundo.&text=O%20movimento%20que%20faz%20arte,Rap%20(Rithm%20and%20Poetry) http://obviousmag.org/my_cup_of_tea/2015/04/hip-hop-e-cultura-arte-e-atitude.html#:~:text=Hip%20Hop%20%C3%A9%20uma%20cultura,atitude%20que%20conquistou%20o%20mundo.&text=O%20movimento%20que%20faz%20arte,Rap%20(Rithm%20and%20Poetry) https://www.google.com/amp/s/amp.redbull.com/br-pt/O-surgimento-da-cultura-hip-hop-no-Brasilhttps://www.google.com/amp/s/amp.redbull.com/br-pt/O-surgimento-da-cultura-hip-hop-no-Brasil frequentadores do local, tendo como umas das maiores referências até hoje Nelson Triúnfo e Thaíde. O rapper Rappin’ Hood, que também estava vivendo esse momento de disseminação da cultura, lembra que, como o rap ainda era visto como um estilo violento e tipicamente periférico, a violência policial estava presente na tentativa de frear o crescimento desse movimento artístico-cultural. “A gente corria da polícia só porque fazia rap. Eles chegavam na estação e quebravam nossos discos” (DORNELAS; 2021, não paginado) lembra o rapper. Em 1984, após o primeiro show do grupo norte americano Public Enemy que impactou um grande número de pessoas na cidade de São Paulo, o rap começou a se difundir rapidamente nas periferias da cidade e os jovens foram levados a buscar um meio de se integrar na juventude de sua época, dentro de uma sociedade hierarquizada de forma racista, elitista e excludente (DORNELAS; 2021). Ainda segundo a autora, em 1988, foi lançado o primeiro álbum brasileiro de rap. A coletânea “Hip-Hop Cultura de Rua” apresentou o trabalho de rappers como Thaíde e DJ Hum, Mc Jack e Código 13 que se tornaram lendas no cenário do Rap nacional. No ano seguinte, com o lançamento de “Consciência Black Vol. I” o grupo Racionais MC 's formado por Mano Brown, KL Jay, Ice Blue e Edi Rock, explicitava as desigualdades sociais e injustiças sofridas pela periferia. A partir daí o boom do rap no Brasil foi crescente. Na década de 1990, já se podia ouvir rap nas rádios do país e a indústria musical começou a dar atenção ao estilo. Natanael Valêncio foi o primeiro DJ a levar ao ar um programa dedicado ao rap: o Movimento de Rua, na Rádio Imprensa. Com letras carregadas de informação, denúncias e retratos da realidade social periférica, o rap foi ganhando espaço no cenário cultural e se tornou a voz da periferia. Você está entrando no mundo da informação, autoconhecimento, denúncia e diversão. Esse é o raio-x do Brasil, seja bem-vindo! [...] To cansado dessa porra de toda essa bobagem, alcoolismo, vingança, treta, malandragem, mãe angustiada, filho problemático, familias destruidas, fins de semanas trágicos, o sistema quer isso, ã molecada tem que aprender, fim de semana no parque ipê”. “fim de semana no parque”. Racionais MC 's. LP Raio-x do Brasil. São Paulo: Zimbabwe, 1993.) De lá pra cá o rap se constitui um dos maiores segmentos do cenário musical brasileiro, se reinventando, incorporando novos elementos sonoros e subgêneros, mas sem perder sua essência de denúncia. O gênero seguiu mostrando a realidade da periferia, restabelecendo a autoestima do povo preto e trabalhando como agente educador e formador de caráter dentro das comunidades. A exemplo dos álbuns “Bluesman” (BACO EXU DO BLUES; 2018) que faz referência ao resgate do reconhecimento das culturas do povo preto, “Rouff” (TASHA E TRACIE; 2019) trazendo a afirmação de identidade e poder da mulher preta e periférica, “Correnteza” (THIAGO ELNIÑO; 2021) mostrando a importância da ancestralidade africana para espiritualidade , “Ladrão” (DJONGA; 2019) trata sobre o resgate do protagonismo preto na história, “Abaixo de Zero: Hello Hell” (BLACK ALIEN; 2019) narrando os desdobramentos da vida artística, “AmarElo” (EMICIDA; 2020) na construção da potência do rap enquanto elemento de luta, “Faces” (BIXARTE; 2019) do corpo de bixa preta periférica e seus atravessamentos, “Oscilações Mentais de um Preto” (NARCOLIRICISTA; 2019) que conta a historia e atravessamentos de um jovem negro morador do subúrbio da cidade de Teresina-PI. São álbuns que fazem interlocuções com outros ritmos e sons demonstrando que o rap não é engessado e que vêm se atualizando, ou seja, a arte periférica não é estática. 3. O Rap como agente educador e de comunicação nas periferias A arte periférica ressignifica toda a obra de arte da cultura “culta” ao seu redor, transformando tudo em arte-vida e em ferramenta de educação através da comunicação poética e rítmica do rap. O Hip-Hop é uma cultura extremamente plural, diversa e um grande agente educador pois é de fácil disseminação dentro das periferias, já que sua comunicação com o público se dá de forma que os indivíduos conseguem enxergar sua realidade dentro das obras e, assim, sejam diretamente influenciados por elas, como aponta Stanley Aronowitz: “O conhecimento escolar não constitui a única fonte de educação para os alunos, porventura nem mesmo a mais importante. Os jovens aprendem, para o bem e para o mal, por meio da cultura popular, especialmente da música, por intermédio dos pais e estruturas familiares e, talvez, mais importante, através de seus pares”. (ARONOWITZ, 2005, p. 9) Cada narrativa criada a partir da vivência cotidiana e dos atravessamentos de quem a produz, não acontece para alcançar apenas um reconhecimento pessoal de sua criação, é sobre dar cor e vida à realidade, é sobre dar voz a quem por muito tempo foi calado. É para que se tenha também um retorno tanto para quem cria quanto para quem ela é direcionada, a arte, nesse sentido, engendra as correlações dos sujeitos nas periferias. Entendendo que o processo educativo não se limita ao ambiente escolar, já que este oferece determinados métodos de aprendizado, mas que igualmente existem outras formas de educar coexistentes à escola (BURGUETE; PAREDES-CHI, 2006, p. 41-42). Percebemos o rap e o movimento hip-hop como um agente educador que parte da vivência e da forma de comunicação acessível aos indivíduos pertencentes a mesma. O rap pode ser considerado como elemento da educação popular, ou “não- formal”, pois de acordo com Miguel Fernando Pacheco Muñoz (2008, p. 2), a educação “não-formal” “é toda atividade educativa organizada e sistemática realizada fora da estrutura do sistema formal que possibilite algum tipo de aprendizado a certos subgrupos da população, adultos ou crianças”. As mensagens transmitidas nas letras acompanhadas de beats melódicos desse gênero carregam um caráter educativo para além dos muros da escola, faixa etária e sexualidade, gênero, e raça, considerando-se que, a partir de um retrato social, esses fatores constroem narrativas que o espectador pode absorver, analisar e refletir sobre os diversos pontos trabalhados nas músicas. De tal forma, Maria da Glória Gohn enfatiza a importância da educação pelo abordagem “não-formal”, resultado das vivências, pois “[...] os indivíduos, escolhem, apontam, posicionam-se, recusam-se, resistem ou alavancam e impulsionam as ações sociais em que estão envolvidas segundo as ações sociais que herdaram no passado e na qual estão envolvidos, no presente.” (GOHN, 2001, p. 54). Sabendo que a maioria dos adeptos da cultura hip-hop pertencem a classe-que- vive-do-trabalho5, é de nosso conhecimento também o baixo índice de escolaridade e de grande evasão escolar desse público. Quando interseccionam os marcadores de gênero, raça e classe, os números ficam alarmantes. Segundo dados do IBGE com relação a 2018, evidenciados em uma matéria no site Rede Brasil Atual6, quase metade dos jovens negros de 19 a 24 anos não conseguiram concluir o ensino médio e o índice de evasão escolar chega a ser de 44,2% entre os homens e de 33% entre as mulheres negras. 5 Ver mais em Ricardo Antunes (1999). 6 Disponível em: "Evasão escolar é maior entre jovens negros. 'É a violência do racismo'" <https://www.redebrasilatual.com.br/educacao/2019/09/evasao-escolar-e-maior-entre-jovens-negros-e-a- violencia-do-racismo/> Acesso em: 20 de abr. de 2021. https://www.redebrasilatual.com.br/educacao/2019/09/evasao-escolar-e-maior-entre-jovens-negros-e-a-violencia-do-racismo/ https://www.redebrasilatual.com.br/educacao/2019/09/evasao-escolar-e-maior-entre-jovens-negros-e-a-violencia-do-racismo/ Segundo Juarez Dayrell (2005) o trabalhoprecoce se torna para esses jovens uma “[...] obrigação necessária para uma sobrevivência mínima, perdendo elementos de formação que derivam de uma cultura que se organizam em torno dele.” (p. 23) pois a escola muitas vezes não dialoga com a comunidade e não trabalha para suprir as necessidades da mesma. Enquanto o método avaliativo do sistema educacional reprova esses indivíduos, a rua acaba por recrutá-los e assim, todo o ensinamento que eles recebem é repassado através das experiências de vida. Quem segura um fuzil quando o menor sonhava em ser jogador, mas, sem dinheiro, não decola. Sem dinheiro são poucas escolhas. O favelado na favela vive dentro de uma bolha. O favelado na favela vive e sobrevive nela. Eu sou o favelado que vive pela favela, porra! A escola me reprovou de série, mas a rua me aprovou pra ser representante dela (eu sei que a rua me aprovou!) | Favela Vive 3 – ADL, Choice, Djonga, Menor do Chapa & Negra Li (Prod. Índio & Mortão), 2018. Dessa forma, tendo em vista que os meios de comunicação dominantes se apresentam como espaços embranquecidos e pouco abertos às artes periféricas, o movimento hip-hop e o rap se assentam sob as contribuições socializadoras dos meios de comunicação alternativos (redes sociais, youtube, plataformas de streaming), para ampliar a rede e difundir as produções artísticas desses sujeitos. Assim como, o círculo social é atravessado por vivências expressas nas produções artísticas constituindo como educação informal, a qual, segundo Ruiz (1992), pode acontecer por meio da música rap, enquanto um discurso deliberado. Nesse sentido, a “educação informal” pode ser considerada um processo de socialização em que não apenas a canção se caracteriza como único meio, como também a própria experiência individual, a relação com as instituições e com as pessoas, além da vivência coletiva no estilo, interagindo nesses múltiplos fatores. Os artistas têm consciência de que cada verso, movimento, e traço, contém sangue, suor e história para que sigam construindo e colocando para fora todo sentimento em forma de arte. Assim, utilizam o rap como mensagem que visa conscientizar o público ao qual é direcionado, alertando os jovens sobre os perigos de ingressar na criminalidade, mostrando os caminhos existentes para fugir desta realidade e criando um código de “ética da rua” dentro das comunidades que é seguido pelos semelhantes. O hip-hop e o rap embora abarquem um caráter unificador e educador, principalmente no público de jovens da periferia, ainda segue sendo marginalizado por parcelas da sociedade brasileira, a classe dominante. A mediação entre a vivência e arte fazem do rap e da cultura hip-hop, semeadores de idéias contra hegemônicas7 objetivando a quebra do ciclo de opressões inseridas no modo de produção capitalista. Considerações finais Diante do exposto, cabe ressaltar que esse trabalho não teve por objetivo trazer todas as determinações que se apresentam sobre o objeto de discussão poposto, nos debruçamos a pensar o rap e a cultura hip-hop, antes de tudo, para reconhecer tais movimentos a partir da esfera orgânica da periferia e o seu caráter contra hegemônico de fazer enfrentamento as determinações do sistema capitalista e as opressões aos corpos negros e periféricos. Entretanto, para além da perspectiva de denúncia, a cultura hip-hop e o rap também proporcionam lazer, qualidade de vida e a suspensão do cotidiano do estado de guerra exprimido pelo Estado brasileiro racista e classista. O rap, em sua totalidade, evidencia que a aprendizagem está para além de quadrados feitos de concreto, piso e cimento e que a autonomia dos sujeitos fazem parte da construção coletiva nos territórios. As notas, os versos, os beats são gritos de esperança e resistência para aqueles que acreditam no mundo mais equânime e livre das amarras do passado de sujeição da população negra e da classe trabalhadora. Os que têm a sensibilidade e a frieza na hora de olhar o Mundo Serão os responsáveis pelos outros olhares Os que nada temem, serão responsáveis por corajosos e covardes Ser a força, o amor, o poder, a sabedoria E a luta pela liberdade só acabe quando ela for encontrada Para que a nossa poesia não seja mais escrita com sangue “Movimento” (POLLY MARINHO e BK; 2020). Referências ANTUNES, Ricardo. Os Sentidos do Trabalho: Ensaio Sobre a Afirmação e a Negação do Trabalho. São Paulo: Boitempo, 1999. ARONOWITZ, S. Contra a escolarização: educação e classe social. Currículo sem Fronteiras, v. 5, n. 2, p. 5-39, jul./dez. 2005. 7 Ver mais em Carlos Nelson Coutinho (1989). BURGUETE, M. T. C.; PAREDES-CHI, A. A. Entre la educación no formal. Transitando por ámbitos comunitarios participativos del área rural. Revista Interamericana de Educación de Adultos, ano 28, n. 1, jan./ jun. 2006. COUTINHO, Carlos Nelson. Gramsci. Um estudo sobre seu pensamento político. Rio de Janeiro: Campus, 1989. FIUZA, A. F.; MACEDO, I. A educação informal e o rap como agente educativo. EccoS, São Paulo, n. 31, p. 17-32. maio/ago. 2013. GOHN, M. da G. Educação não-formal e cultura política. São Paulo: Cortez, 2001. MUÑOZ, M. F. Educación no formal. Disponível em: http://dineba.minedu.gob.pe/ xtras/educacion_no_formal_ambiente.pdf. Acesso em: 12 nov. 2008, p. 1-13. OLIVEIRA, Renan Dias. O samba como resistência cultural e luta política nos “anos de chumbo” In: XXIX Simpósio Nacional de História. 2017. Disponível em: <https://www.snh2017.anpuh.org/resources/anais/54/1488761777_ARQUIVO_TextoC ompletoXXIXSimposioHistoria2017.pdf> Acesso em: 18 de abr. de 2021. RUIZ, E. E. S. Cultura política y medios de difusión educación informal y socialización. Comunicación y Sociedad. Guadalajara, n. 21, p. 97-137, maio/ago. 1992.
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