Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 ANATOMIA III Hanna Briza AULA 4 – ESQUELETO APENDICULAR INFERIOR Esqueleto do membro inferior ou esqueleto apendicular inferior é dividido em dois componentes: Cíngulo do membro inferior (pelve óssea): É um anel formado pelo sacro e pelos ossos do quadril direito e esquerdo unidos anteriormente pela sínfise púbica. Ele fixa o membro inferior livre ao esqueleto axial, sendo o sacro comum aos dois. Ele forma o esqueleto da parte inferior do tronco, sendo responsável pela proteção e suporte para o abdome, pelve, períneo e membros inferiores. Ossos do membro inferior livre: estão contidos naquela parte do membro e servem especificamente a ela. Disposição dos ossos do membro inferior O peso corporal é transferido da coluna vertebral para o cíngulo do membro inferior, através das articulações sacroilíacas, e do cíngulo do membro inferior para as fêmuras através das articulações do quadril. Para sustentar melhor a postura bípede ereta, os fêmures são oblíquos nas coxas, de modo que, de pé, os joelhos ficam posicionados adjacentes e diretamente inferiores ao tronco, reposicionando o centro de gravidade nas linhas verticais das pernas e pé. Compare a posição oblíqua dos fêmures com a posição dos quadrúpedes, nos quais os fêmures são verticais e os joelhos estão afastados, estando a massa do tronco suspensa entre os membros. Os fêmures das mulheres são um pouco mais oblíquos que os dos homens, em consequência da maior largura de suas pelves. Nos joelhos, a extremidade distal de cada fêmur articula-se com a patela e a tíbia da perna correspondente. O peso é transferido da articulação do joelho para a articulação talocrural pela tíbia. A fíbula não se articula com o fêmur e não sustenta nem transfere o peso, mas permite fixação muscular e contribui para a formação da articulação talocrural. No tornozelo, o peso sustentado pela tíbia é transferido para o tálus. Tálus: é o elemento fundamental de um arco longitudinal, formado pelos ossos tarsais e metatarsais de cada pé, que distribui o peso uniformemente entre o calcanhar e a parte anterior do pé na posição de pé, criando uma plataforma óssea flexível, porém estável, para sustentar o corpo. 2 ANATOMIA III Hanna Briza OSSOS DO QUADRIL Osso do quadril maduro: grande osso pélvico plano formado pela fusão de três ossos primários no fim da adolescência. Ílio Ísquio Púbis Cada um dos três ossos é formado a partir de seu próprio centro primário de ossificação, depois surgem cinco centros secundários de ossificação. Ao nascimento, os três ossos primários são unidos por cartilagem hialina; em crianças, eles estão incompletamente ossificados. Na puberdade, os três ossos ainda estão separados por uma cartilagem trirradiada em forma de Y centralizada no acetábulo, embora as duas partes dos ramos isquiopúbicos se fundam por volta do 9º ano. Os ossos começam a se fundir entre 15 e 17 anos; a fusão está completa entre 20 e 25 anos. Nos adultos idosos as linhas de fusão dos ossos primários são pouco visíveis ou invisíveis. Embora haja rígida fusão dos componentes ósseos, seus nomes ainda são usados em adultos para descrever as três partes do osso do quadril. Grande parte da face medial dos ossos do quadril/pelve óssea está relacionada principalmente com as estruturas e funções pélvicas e do períneo ou com a união com a coluna vertebral. ÍLIO Forma a maior parte do osso do quadril e contribui para formar a parte superior do acetábulo. Tem partes mediais espessas (colunas) para sustentação de peso e partes posterolaterais finas, as asas, que proporcionam superfícies largas para a fixação carnosa dos músculos. Corpo do ílio: se une ao púbis e ao ísquio para formar o acetábulo. Anteriormente, o ílio tem espinhas ilíacas anterossuperiores e anteroinferiores firmes, que propiciam fixação para ligamentos e tendões dos músculos do membro inferior. Começando na espinha ilíaca anterossuperior (EIAS), a margem superior curva longa e espessa da asa do ílio, a crista ilíaca, estende-se posteriormente, terminando na espinha ilíaca posterossuperior (EIPS). Crista: serve como “parachoque” e é um local importante para fixação aponeurótica de músculos finos, laminares, e da fáscia muscular. Uma proeminência no lábio externo da crista, o tubérculo ilíaco, está situada 5 a 6 cm posterior à EIAS. A espinha ilíaca posteroinferior marca a extremidade superior da incisura isquiática maior. A face lateral da asa do ílio tem três linhas curvas e ásperas: as linhas glúteas posterior, anterior e inferior (demarcam as fixações proximais dos três grandes músculos glúteos). Medialmente, cada asa tem uma depressão grande e lisa, a fossa ilíaca (local de fixação proximal do músculo ilíaco). O osso que forma a parte superior dessa fossa pode tornar-se fino e translúcido, sobretudo em mulheres idosas com osteoporose. Posteriormente, a face medial do ílio tem uma área articular áspera, auriculiforme (face auricular) e uma tuberosidade ilíaca ainda mais áspera, superior a ela, para articulação sinovial e sindesmótica com as faces recíprocas do sacro na articulação sacroilíaca. ÍSQUIO Forma a parte posteroinferior do osso do quadril. Parte superior do corpo do ísquio: funde-se ao púbis e ao ílio, formando a face posteroinferior do acetábulo. 3 ANATOMIA III Hanna Briza Ramo do ísquio: une-se ao ramo inferior do púbis para formar uma barra de osso (ramo isquiopúbico) que constitui o limite inferomedial do forame obturado. Margem posterior do ísquio: forma a margem inferior de um entalhe profundo denominado incisura isquiática maior. A grande espinha isquiática triangular na margem inferior desse entalhe é local de fixação de ligamentos. Essa demarcação separa a incisura isquiática maior da incisura isquiática menor (entalhe inferior, menor, arredondado e com superfície lisa). Incisura isquiática menor: atua como tróclea ou polia para um músculo que emerge da pelve óssea. Túber isquiático: projeção óssea áspera na junção da extremidade inferior do corpo do ísquio e seu ramo. Na posição sentada, o peso do corpo fica apoiado sobre essa tuberosidade (local de fixação tendínea proximal dos músculos posteriores da coxa). PÚBIS Forma a parte anteromedial do osso do quadril, contribuindo para a parte anterior do acetábulo É o local de fixação proximal dos músculos mediais da coxa. Dividido em um corpo achatado e medial e dois ramos, superior e inferior, que se projetam lateralmente a partir do corpo. Parte medial: a face sinfisial do corpo do púbis articula- se com a face correspondente do corpo do púbis contralateral por meio da sínfise púbica. A margem anterossuperior dos corpos unidos e da sínfise forma a crista púbica (local de fixação dos músculos abdominais). Tubérculos púbicos: pequenas projeções nas extremidades laterais da crista. São pontos de referência importantes das regiões inguinais. São o local de fixação da principal parte do ligamento inguinal e, portanto, de fixação muscular indireta. A margem posterior do ramo superior do púbis tem uma elevação nítida (linha pectínea do púbis), que forma parte da abertura superior da pelve. FORAME OBTURADO Grande abertura oval ou triangular irregular no osso do quadril. Limitado pelo púbis e ísquio e seus ramos. Exceto por uma pequena passagem para o nervo e vasos obturatórios (o canal obturatório), o forame obturado é fechado pela membranaobturadora, que é fina e forte. O forame minimiza a massa óssea (peso) enquanto seu fechamento pela membrana obturadora propicia extensa superfície de ambos os lados para fixação muscular. ACETÁBULO Grande cavidade caliciforme na face lateral do osso do quadril que se articula com a cabeça do fêmur para formar a articulação do quadril. Os três ossos primários que constituem o osso do quadril contribuem para a formação do acetábulo. O limbo do acetábulo é incompleto inferiormente na incisura do acetábulo, o que torna a fossa semelhante a um cálice em que falta um pedaço da borda. A depressão áspera no assoalho do acetábulo que se estende superiormente a partir da incisura do acetábulo é a fossa do acetábulo. A incisura e a fossa do acetábulo também criam um defeito na lisa face semilunar do acetábulo, a face articular que recebe a cabeça do fêmur. 4 ANATOMIA III Hanna Briza FÊMUR Osso mais longo e mais pesado do corpo. Transmite o peso do corpo do osso do quadril para a tíbia quando a pessoa está de pé. Seu comprimento corresponde a aproximadamente 25% da altura da pessoa. Tem um corpo e duas extremidades, superior ou proximal e inferior ou distal. Extremidade superior (proximal): dividida em cabeça, colo e dois trocanteres (maior e menor). Cabeça do fêmur: redonda e representa dois terços de uma esfera coberta por cartilagem articular, exceto por uma depressão medial, a fóvea da cabeça do fêmur. No início da vida, o ligamento dá passagem a uma artéria que irriga a epífise da cabeça. Colo do fêmur: é trapezoide, a extremidade estreita sustenta a cabeça e a base mais larga é contínua com o corpo. O diâmetro médio corresponde a três quartos do diâmetro da cabeça do fêmur. Região proximal do fêmur é “curva” (em forma de L) de modo que o eixo longitudinal da cabeça e do colo projeta-se em sentido superomedial e forma um ângulo com o corpo oblíquo. Esse ângulo de inclinação obtuso é maior (quase formando uma linha reta) ao nascimento e diminui gradualmente (torna-se mais agudo) até ser alcançado o ângulo do adulto (115 a 140°, média de 126°). O ângulo de inclinação é menor nas mulheres em razão da maior largura entre os acetábulos (consequência da pelve menor mais larga) e da maior obliquidade do corpo do fêmur. O ângulo de inclinação permite maior mobilidade do fêmur na articulação do quadril porque coloca a cabeça e o colo mais perpendiculares ao acetábulo na posição neutra. Os músculos abdutores e rotadores da coxa fixam-se principalmente ao ápice do ângulo (o trocanter maior), de maneira que puxam uma alavanca (o ramo curto do L) orientada mais lateral do que verticalmente. Isso proporciona aumento da alavanca para os músculos abdutores e rotadores da coxa e permite que a considerável massa dos abdutores da coxa seja posicionada superiormente ao fêmur (na região glútea), e não lateralmente a ele, liberando a face lateral do corpo do fêmur para aumentar a área de fixação dos extensores do joelho. O ângulo de inclinação também assegura a obliquidade do fêmur na coxa, o que permite que os joelhos situem- se adjacentes e inferiores ao tronco. Tudo isso é vantajoso para a marcha bípede; no entanto, impõe tensão considerável ao colo do fêmur. Consequentemente, um pequeno tropeção pode causar fratura do colo do fêmur em pessoas idosas se o colo estiver enfraquecido por osteoporose (redução patológica da massa óssea). A torção da região proximal do membro inferior (fêmur) ocorrida durante o desenvolvimento não termina com o eixo longitudinal da extremidade superior do fêmur (cabeça e colo) paralelo ao eixo transversal da extremidade inferior (côndilos do fêmur). Quando o fêmur é visto superiormente (quando se olha ao longo do eixo longitudinal do corpo), nota-se que os dois eixos formam um ângulo (o ângulo de torção, ou ângulo de declinação), cuja média é 7° em homens e 12° em mulheres. O ângulo de torção, associado ao ângulo de inclinação, permite que os movimentos giratórios da cabeça do fêmur dentro do acetábulo obliquamente posicionado sejam convertidos em flexão e extensão, abdução e adução, e movimentos giratórios da coxa. No local onde o colo se une ao corpo do fêmur há duas grandes elevações arredondadas chamadas trocanteres. O trocanter menor abrupto, cônico e arredondado estende-se medialmente da parte posteromedial da junção do colo com o corpo e serve de local de fixação tendínea para o flexor primário da coxa (músculo iliopsoas). O trocanter maior é uma grande massa óssea, posicionada lateralmente, que se projeta superior e posteriormente onde o colo se une ao corpo do fêmur, oferecendo fixação e alavanca para abdutores e rotadores da coxa. O local de união do colo e do corpo é indicado pela linha intertrocantérica, uma estria áspera formada pela fixação de um ligamento forte (ligamento iliofemoral). A linha intertrocantérica se inicia no trocanter maior, espirala-se ao redor do trocanter menor e continua em sentido posterior e inferior como uma estria menos distinta, a linha intertrocantérica. Uma crista semelhante, porém mais lisa e mais proeminente, a crista intertrocantérica, une-se aos trocanteres posteriormente. A elevação arredondada na crista é o tubérculo quadrado. Nas vistas anterior e posterior, o trocanter maior está alinhado com o corpo do fêmur. Nas vistas posterior e superior, projeta-se sobre uma depressão profunda medialmente, a fossa trocantérica. 5 ANATOMIA III Hanna Briza O corpo do fêmur é um pouco curvo (convexo) anteriormente. Essa convexidade pode aumentar muito, prosseguindo lateral e anteriormente, se o corpo estiver enfraquecido por perda de cálcio, como ocorre no raquitismo (uma doença causada por deficiência de vitamina D). A maior parte do corpo é arredondada e lisa, e é o local de origem dos músculos extensores do joelho, exceto posteriormente, onde uma linha larga e rugosa, a linha áspera (proporciona fixação aponeurótica para os adutores da coxa). Essa estria vertical é mais proeminente no terço médio do corpo do fêmur, onde tem lábios (margens) medial e lateral. Superiormente, o lábio lateral funde-se à tuberosidade glútea larga e áspera, e o lábio medial continua como uma linha intertrocantérica áspera e estreita. A linha intertrocantérica estende-se em direção ao trocanter menor, mas depois segue até a face anterior do fêmur, onde é contínua com a linha intertrocantérica. Uma crista intermediária proeminente, a linha pectínea, estende-se da parte central da linha áspera até a base do trocanter menor. Inferiormente, a linha áspera divide-se em linhas supracondilares medial e lateral, que levam aos côndilos medial e lateral. Os côndilos medial e lateral formam quase toda a extremidade inferior (distal) do fêmur. Os dois côndilos estão no mesmo nível horizontal quando o osso está em sua posição anatômica, de forma que se um fêmur isolado for colocado em posição vertical com os dois côndilos tocando o solo ou o tampo da mesa, o corpo do fêmur assume a mesma posição oblíqua que ocupa no corpo vivo (cerca de 9° em relação ao eixo vertical em homens e um pouco mais em mulheres). Os côndilos do fêmur articulam-se com os meniscos (lâminas de cartilagem em forma de meia-lua) e os côndilos da tíbia para formar a articulação do joelho. Os meniscos e os côndilos da tíbia deslizam como uma unidade através das faces inferior e posterior dos côndilos do fêmur durante a flexão e a extensão. A convexidade da face articular dos côndilos aumenta à medida que desce na face anterior, cobrindo a extremidade inferior, edepois ascende posteriormente. Os côndilos são separados posterior e inferiormente por uma fossa intercondilar, mas se fundem anteriormente, formando uma depressão longitudinal rasa, a face patelar, que se articula com a patela. A face lateral do côndilo lateral tem uma projeção central denominada epicôndilo lateral. A face medial do côndilo medial tem um epicôndilo medial maior e mais proeminente, superiormente ao qual se forma outra elevação, o tubérculo do adutor, em relação a uma fixação tendínea. Os epicôndilos são os locais de fixação proximal dos ligamentos colaterais medial e lateral da articulação do joelho. 6 ANATOMIA III Hanna Briza ANATOMIA DE SUPERFÍCIE DO CÍNGULO DO MEMBRO INFERIOR E DO FÊMUR Os pontos de referência ósseos são úteis durante o exame físico e a cirurgia porque podem ser usados para avaliar o desenvolvimento normal, detectar e avaliar fraturas e luxações e localizar estruturas como nervos e vasos sanguíneos. Ao colocar as mãos nos quadris, elas se apoiam nas cristas ilíacas. O terço anterior das cristas é facilmente palpado porque as cristas são subcutâneas. É mais difícil palpar os dois terços posteriores das cristas porque geralmente são cobertos por gordura. A crista ilíaca termina anteriormente na EIAS (espinha ilíaca anterossuperior) arredondada, facilmente palpada quando se acompanha a crista ilíaca anteroinferiormente. A EIAS costuma ser visível em indivíduos magros. Em pessoas obesas essas espinhas são cobertas por gordura e sua localização pode ser difícil, mas é mais fácil palpá- las quando a pessoa está sentada e os músculos fixados a ela estão relaxados. O tubérculo ilíaco, 5 a 6 cm posterior à EIAS, marca o ponto mais largo da crista ilíaca. Para palpar o tubérculo ilíaco, coloque o polegar sobre a EIAS e desloque os dedos posteriormente ao longo do lábio externo da crista ilíaca. O tubérculo ilíaco situa-se no nível do processo espinhoso da vértebra L V. Aproximadamente quatro dedos abaixo do umbigo, podem ser palpados os corpos e ramos superiores dos ossos púbicos. O tubérculo púbico pode ser palpado a cerca de 2 cm da sínfise púbica na extremidade anterior da crista púbica. A crista ilíaca termina posteriormente na EIPS (espinha ilíaca posterossuperior) aguda, que pode ser difícil palpar, mas é fácil localizar sua posição porque está situada no fundo de uma depressão cutânea, cerca de 4 cm lateralmente à linha mediana. A depressão existe porque a pele e a fáscia subjacente fixam-se à EIPS. As depressões cutâneas são pontos de referência úteis ao palpar a área das articulações sacroilíacas em busca de edema ou dor à palpação local. Essas depressões também indicam a extremidade das cristas ilíacas das quais podem ser obtidos medula óssea e pedaços de osso para enxertos (p. ex., para reparar uma fratura da tíbia). O túber isquiático é palpado com facilidade na parte inferior das nádegas quando a coxa é fletida. As nádegas revestem e encobrem o túber quando a coxa é estendida. O sulco infraglúteo coincide com a margem inferior do músculo glúteo máximo e indica a separação entre as nádegas e a coxa. O centro da cabeça do fêmur pode ser palpado profundamente a um ponto cerca de um dedo inferior ao ponto médio do ligamento inguinal. O corpo do fêmur é coberto por músculos e geralmente não é palpável. Apenas as extremidades superior e inferior do fêmur são palpáveis. O trocanter maior, posicionado lateralmente, projeta-se superiormente à junção do corpo com o colo do fêmur e pode ser palpado na face lateral da coxa, cerca de 10 cm abaixo da crista ilíaca. O trocanter maior forma uma proeminência anterior à cavidade na face lateral das nádegas. As proeminências dos trocanteres maiores normalmente são responsáveis pela largura da pelve do adulto. A margem posterior do trocanter maior é relativamente descoberta e palpada com mais facilidade quando o membro não está sustentando peso. Não é fácil palpar as partes anterior e lateral do trocanter porque são cobertas por fáscia e músculo. Como se situa perto da pele, o trocanter maior causa desconforto na posição de decúbito lateral sobre uma superfície rígida. Na posição anatômica, uma linha que une as extremidades dos trocanteres maiores normalmente atravessa os tubérculos púbicos e o centro das cabeças dos fêmures. O trocanter menor é indistintamente palpável superiormente à extremidade lateral da prega glútea. Os côndilos do fêmur são subcutâneos e facilmente palpados quando o joelho é fletido ou estendido. No centro da face lateral de cada côndilo há um epicôndilo proeminente facilmente palpável. A face patelar do fêmur é o local onde a patela desliza durante a flexão e a extensão da perna na articulação do joelho. As margens lateral e medial da face patelar podem ser palpadas quando a perna é fletida. O tubérculo do adutor, uma pequena proeminência óssea, pode ser palpado na parte superior do côndilo medial do fêmur empurrando-se o polegar inferiormente ao longo da face medial da coxa até encontrar o tubérculo. TÍBIA E FÍBULA São os ossos da perna. 7 ANATOMIA III Hanna Briza Tíbia: articula-se com os côndilos do fêmur superiormente e o tálus inferiormente e, assim, transmite o peso do corpo. Fíbula: atua principalmente como fixação para músculos, mas também é importante para a estabilidade da articulação do tornozelo. Os corpos da tíbia e fíbula são unidos por uma membrana interóssea densa formada por fibras oblíquas fortes que descem da tíbia para a fíbula. TÍBIA Localizada na face anteromedial da perna, quase paralela à fíbula, a tíbia é o segundo maior osso do corpo. Alarga-se externamente nas duas extremidades e propicia maior área para articulação e transferência de peso. Extremidade superior (proximal): alarga-se para formar côndilos medial e lateral que pendem sobre o corpo medial, lateral e posteriormente, formando uma face articular superior relativamente plana, ou platô tibial. Esse platô é formado por duas faces articulares lisas (a medial, ligeiramente côncava, e a lateral, ligeiramente convexa) que se articulam com os grandes côndilos do fêmur. As faces articulares são separadas por uma eminência intercondilar formada por dois tubérculos intercondilares (medial e lateral) ladeados por áreas intercondilares anterior e posterior relativamente irregulares. Os tubérculos encaixam-se na fossa intercondilar entre os côndilos do fêmur. Os tubérculos e áreas intercondilares são locais de fixação dos meniscos e ligamentos principais do joelho, que mantêm o fêmur e a tíbia juntos, mantendo contato entre suas faces articulares. A face anterolateral do côndilo lateral da tíbia tem uma projeção anterolateral (tubérculo de Gerdy) inferior à face articular, que é o local de fixação distal de um espessamento denso da fáscia que cobre a região lateral da coxa, aumentando a estabilidade da articulação do joelho. O côndilo lateral também tem uma face articular fibular posterolateral em sua face inferior para a cabeça da fíbula. Corpo da tíbia: em posição vertical na perna, tem formato aproximadamente triangular ao corte transversal e tem três faces e três margens: medial, lateral/interóssea e posterior. A margem anterior da tíbia é a mais proeminente. Essa margem e a face medial adjacente são subcutâneas em toda a extensão e conhecidas como “canela”. Seu revestimento periosteal e a pele sobrejacente são vulneráveis à equimose. Na extremidade superior da margem anterior, uma tuberosidade da tíbia alongada elarga é o local de fixação distal do ligamento da patela, que se estende entre a margem inferior da patela e a tuberosidade da tíbia. Corpo da tíbia: mais fino na junção de seus terços médio e distal. Extremidade distal: é menor do que a proximal, alargando-se apenas na parte medial, a expansão medial estende-se inferiormente ao restante do corpo como o maléolo medial. A face inferior do corpo e a face lateral do maléolo medial se articulam com o tálus e são cobertas por cartilagem articular. A margem interóssea da tíbia é aguda no local de fixação da membrana interóssea que une os dois ossos da perna. Inferiormente, a margem aguda é substituída por um sulco, a incisura fibular (acomoda e garante a fixação fibrosa na extremidade distal da fíbula). Na face posterior da parte proximal do corpo da tíbia há uma crista diagonal áspera, chamada linha do músculo sóleo, que segue em sentido inferomedial até a margem medial. Essa linha é formada em relação à origem aponeurótica do músculo sóleo aproximadamente um terço abaixo no trajeto descendente do corpo. Imediatamente distal à linha do músculo sóleo há um sulco vascular oblíquo, que leva a um grande forame nutrício para passagem da artéria principal que irriga a extremidade proximal do osso e sua medula óssea. A partir dele, o canal nutrício segue inferiormente na tíbia antes de se abrir na cavidade medular. FÍBULA A fíbula delgada situa-se posterolateralmente à tíbia e está firmemente fixada a ela pela sindesmose tibiofibular, que inclui a membrana interóssea. A fíbula não tem função de sustentação de peso. Sua função principal é a fixação muscular, sendo o local de fixação distal (inserção) de um músculo e fixação proximal (origem) de oito músculos. As fibras da sindesmose tibiofibular são organizadas para resistir à tração descendente final da fíbula. Extremidade distal: se alarga e é prolongada lateral e inferiormente como o maléolo lateral. Os maléolos formam as paredes externas de um encaixe retangular, que é o componente superior da articulação 8 ANATOMIA III Hanna Briza talocrural, e são o local de fixação dos ligamentos que estabilizam a articulação. O maléolo lateral é mais proeminente e posterior do que o maléolo medial e estende-se cerca de 1 cm mais distalmente. Extremidade proximal: consiste em uma cabeça aumentada superior a um pequeno colo. A cabeça tem um ápice pontiagudo. Cabeça da fíbula: articula-se com a face fibular na face inferior posterolateral do côndilo lateral da tíbia. Corpo da fíbula: é torcido e marcado pelos locais de fixação muscular. Assim como o corpo da tíbia, é triangular ao corte transversal, tem três margens (anterior, interóssea e posterior) e três faces (medial, posterior e lateral). ANATOMIA DE SUPERFÍCIE DA TÍBIA E DA FÍBULA A tuberosidade da tíbia, uma elevação oval na face anterior da tíbia, é facilmente palpada cerca de 5 cm distalmente ao ápice da patela. Também é fácil palpar a face anteromedial da tíbia plana e subcutânea. A pele que cobre essa face é livremente móvel. Os côndilos da tíbia podem ser palpados anteriormente nas laterais do ligamento da patela, sobretudo quando o joelho é fletido. A cabeça da fíbula é proeminente no nível da parte superior da tuberosidade da tíbia porque a cabeça semelhante a um botão é subcutânea na face posterolateral do joelho. O colo da fíbula pode ser palpado imediatamente distal à face lateral da cabeça da fíbula. Isso pode provocar sensação discretamente desagradável devido ao nervo que passa nesse local. O maléolo medial, a proeminência na face medial do tornozelo, também é subcutâneo e proeminente. Observe que sua extremidade inferior é arredondada e não se estende distalmente até o maléolo lateral. O maléolo medial situa-se aproximadamente 1,25 cm proximal no nível da extremidade do maléolo lateral. Apenas o quarto distal do corpo da fíbula é palpável. Palpe o maléolo lateral, observando que é subcutâneo e que sua extremidade inferior é pontiaguda. Observe que a extremidade do maléolo lateral estende-se ainda mais distal e posteriormente do que a extremidade do maléolo medial. OSSOS DO PÉ Ossos do pé são: tarsais, os metatarsais e as falanges. Existem 7 ossos tarsais, 5 ossos metatarsais e 14 falanges. TARSO O tarso (parte posterior ou proximal do pé; retropé + medio-pé) tem sete ossos: tálus, calcâneo, cuboide, navicular e três cuneiformes. Só o tálus, articula-se com os ossos da perna. Tálus: tem corpo, colo e cabeça. A face superior, ou tróclea do tálus, é segura pelos dois maléolos e recebe o peso do corpo através da tíbia. Por sua vez, transmite esse peso, dividindo-o entre o calcâneo, sobre o qual está apoiado o corpo do tálus, e a parte anterior do pé, por intermédio de uma “rede” 9 ANATOMIA III Hanna Briza osteoligamentar que recebe a cabeça do tálus arredondada e direcionada anteromedialmente. A rede (ligamento calcaneonavicular plantar) fica suspensa através de uma abertura entre o sustentáculo do tálus (uma projeção medial do calcâneo semelhante a uma prateleira) e o navicular, situado anteriormente. O tálus é o único osso tarsal que não tem fixações musculares ou tendíneas. A maior parte de sua superfície é coberta por cartilagem articular. Corpo do tálus: sustenta a tróclea superiormente e se estreita em um processo posterior que tem um sulco para o tendão do músculo flexor longo do hálux, ladeado por um tubérculo lateral proeminente e um tubérculo medial menos proeminente. Calcâneo: maior e mais forte osso do pé. Na posição de pé, o calcâneo transmite a maior parte do peso do corpo do tálus para o solo. Os dois terços anteriores da face superior do calcâneo articulam-se com o tálus e a face anterior articula-se com o cuboide. A face lateral do calcâneo tem uma crista oblíqua, a tróclea fibular, situada entre os tendões dos músculos fibulares longo e curto. A tróclea é o local de fixação de uma polia tendínea para os eversores do pé (músculos que afastam a planta do plano mediano). O sustentáculo do tálus, o apoio da cabeça do tálus, semelhante a uma prateleira, projeta-se da margem superior da face medial do calcâneo. A parte posterior do calcâneo tem uma proeminência grande, de sustentação de peso, a tuberosidade do calcâneo, que tem tubérculos medial, lateral e anterior. Só o tubérculo medial toca o solo na posição de pé. Navicular: osso achatado, em forma de barco, situado entre a cabeça do tálus posteriormente e os três cuneiformes anteriormente. A face medial do navicular projeta-se inferiormente para formar a tuberosidade do navicular, um local importante para fixação tendínea porque a margem medial do pé não se apoia no solo, como faz a margem lateral. Em vez disso, forma o arco longitudinal do pé, que deve ser sustentado centralmente. Se essa tuberosidade for proeminente demais, pode ser pressionada contra a parte medial do sapato, o que causa dor no pé. Cuboide: formato é aproximadamente cúbico, é o osso mais lateral na fileira distal do tarso. Anteriormente à tuberosidade do cuboide, nas faces lateral e inferior do osso, está o sulco do tendão do músculo fibular longo. Três cuneiformes: são o medial, o intermédio e o lateral. O maior deles é o cuneiforme medial e o menor, o cuneiforme intermédio. Cada cuneiforme articula-se com o navicular posteriormente e com a base de seu metatarsal apropriado anteriormente. O cuneiforme lateral também se articula com o cuboide. METATARSO O metatarso (parte anterior ou distal do pé, antepé)consiste em cinco ossos metatarsais, numerados a partir da face medial do pé. No esqueleto articulado do pé, as articulações tarsometatarsais formam uma linha tarsometatarsal oblíqua que une os pontos médios das margens medial e lateral mais curta do pé; assim, os metatarsais e as falanges estão localizados na metade anterior (antepé) e os tarsais estão na metade posterior (retropé). Metatarsal I: mais curto e mais forte do que os outros. Metatarsal II: mais longo. Cada metatarsal tem uma base proximal, um corpo e uma cabeça distal. A base de cada metatarsal é a extremidade proximal, maior. As bases dos metatarsais articulam-se com o cuneiforme e o cuboide, e as cabeças articulam-se com as falanges proximais. As bases dos metatarsais I e V têm grandes tuberosidades que permitem fixação de tendão; a tuberosidade do quinto metatarsal projeta-se lateralmente sobre o cuboide. Na face plantar da cabeça do metatarsal I há ossos sesamoides medial e lateral proeminentes; estão inseridos nos tendões que passam ao longo da planta (ver a seção subsequente sobre anatomia de superfície). FALANGES As 14 falanges dos membros inferiores são: o hálux (1º dedo) tem duas falanges (proximal e distal); os outros quatro dedos têm três falanges cada: proximal, média e distal. Cada falange tem uma base (proximal), um corpo e uma cabeça (distal). As falanges do hálux são curtas, largas e fortes. Em pessoas idosas, pode haver fusão das falanges média e distal do dedo mínimo. 10 ANATOMIA III Hanna Briza ANATOMIA DE SUPERFÍCIE DOS OSSOS DO PÉ A cabeça do tálus é palpável anteromedialmente à parte proximal do maléolo lateral, quando o pé é invertido, e anteriormente ao maléolo medial, quando o pé é evertido. A eversão do pé torna a cabeça do tálus mais proeminente enquanto se afasta do navicular. A cabeça do tálus ocupa o espaço entre o sustentáculo do tálus e a tuberosidade do navicular. Se for difícil palpar a cabeça do tálus, trace uma linha da extremidade do maléolo medial até a tuberosidade do navicular; a cabeça do tálus situa-se profundamente ao centro dessa linha. Quando se faz a flexão plantar, a face superior do corpo do tálus pode ser palpada na face anteriormente do tornozelo, anteriormente à extremidade inferior da tíbia. O tubérculo medial do calcâneo, que sustenta peso, na planta do pé, é largo e grande, mas frequentemente não é palpável por causa da pele e do tecido subcutâneo sobrejacentes. O sustentáculo do tálus é a única parte da face medial do calcâneo que pode ser palpada como uma pequena proeminência, cerca de um dedo distal à extremidade do maléolo medial. Toda a face lateral do calcâneo é subcutânea. A tróclea fibular, uma pequena extensão lateral do calcâneo, pode ser detectável como um pequeno tubérculo na face lateral do calcâneo, anteroinferiormente à extremidade do maléolo lateral. Em geral, a palpação de proeminências ósseas na planta do pé é difícil em razão da espessura da pele, fáscia e coxins de gordura. Pode-se perceber o deslizamento dos ossos sesamoides medial e lateral, inferiores à cabeça do metatarsal I, durante a movimentação passiva do hálux. As cabeças dos metatarsais podem ser palpadas colocando-se o polegar sobre suas faces plantares e o dedo indicador sobre suas faces dorsais. A presença de calosidades, espessamentos da camada de queratina da epiderme, dificulta a palpação das cabeças dos metatarsais. A tuberosidade do quinto metatarsal é um ponto de referência proeminente na face lateral do pé, que pode ser facilmente palpada no ponto médio da margem lateral do pé. Os corpos dos metatarsais e falanges podem ser palpados no dorso do pé entre os tendões dos músculos extensores. O cuboide pode ser palpado na face lateral do pé, posteriormente à base do quinto metatarsal. O cuneiforme medial pode ser palpado entre a tuberosidade do navicular e a base do metatarsal I. A cabeça do 1º metatarsal forma uma proeminência na face medial do pé. A tuberosidade do navicular é facilmente observada e palpada na face medial do pé, inferoanteriormente à extremidade do maléolo medial. É difícil identificar individualmente o cuboide e os cuneiformes à palpação.
Compartilhar