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A APLICAÇÃO DO DIREITO PENAL DO INIMIGO AOS CRIMES DE CORRUPÇÃO: UMA ANÁLISE DA OPERAÇÃO LAVA JATO The application of the Enemy's Criminal Law to crimes of corruption: an analysis of Car Wash Operation Revista dos Tribunais | vol. 1002/2019 | p. 193 - 222 | Abr / 2019 DTR\2019\27438 Cláudia Mara de Almeida Rabelo Viegas Coordenadora do Curso de Direito da Universidade Brasil – Faculdade de Belo Horizonte. Professora de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Faculdade de Belo Horizonte, Conselho Nacional de Justiça e Polícia Militar. Doutora e Mestre em Direito Privado pela PUC Minas. Servidora Pública Federal do TRT MG – Assistente do Desembargador Corregedor. Especialista em Direito Processual Civil pela Universidade Gama Filho. Especialista em Educação a distância pela PUC Minas. Especialista em Direito Público – Ciências Criminais pelo Complexo Educacional Damásio de Jesus. Bacharel em Administração de Empresas e Direito pela Universidade FUMEC. claudiamaraviegas@yahoo.com.br Marco Antônio Conceição da Silva Advogado. Bacharel em Direito pela PUC Minas. marco.nobre@hotmail.com Área do Direito: Penal; Processual Resumo: A partir das inovações tecnológicas e do novo sistema econômico da pós-contemporaneidade, surgiu a necessidade de proteção dos bens patrimoniais diante dos riscos e novos tipos de criminalidade: microeconômico e macroeconômico. Diante desse contexto, o Direito Penal Clássico se tornou insuficiente para combater os fatos criminosos na sociedade de risco, passando-se, então, a utilizar um Direito Penal que atua de forma preventiva. Pretende-se, por meio de revisão bibliográfica, aferir a aplicabilidade da teoria do Direito Penal do Inimigo no ordenamento jurídico brasileiro, tendo em conta os crimes de corrupção no Brasil. Discute-se, portanto, a possibilidade de aplicação do Direito Penal de forma mais rígida, especialmente relacionados aos crimes de corrupção praticados por políticos, caracterizando-se no crime de colarinho branco. O estudo se justifica, em face da dificuldade de investigação dos crimes de corrupção, sobretudo considerando os privilégios obtidos pelos agentes coautores. Analisam-se, portanto, as críticas em desfavor da operação, sob o argumento de existência de restrição aos direitos e garantias fundamentais dos investigados, caracterizando-se em verdadeiro Direito Penal do Inimigo. De outro lado, a tese de que as garantias constitucionais não são absolutas, não podendo estas se tornar meios que impossibilitam a aplicação da responsabilidade civil e penal. Assim, de forma cuidadosa e responsável, sugere-se a aplicação da teoria do Direito Penal do Inimigo, de forma mitigada, por meio da criação de procedimentos legais específicos relacionados aos crimes de corrupção, que tanto assolam a sociedade brasileira. Palavras-chave: Sociedade de risco – Direito Penal do Inimigo – Corrupção – Colarinho branco – Operação Lava Jato – Garantias constitucionais Abstract: From the technological innovations and the new economic system of the post-contemporaneity, the protection of heritage assets in the face of risks and new types of crime: microeconomic and macroeconomic. Faced with that context, the Classical Penal Law has become insufficient to combat the facts in a society of risk, passing, then, to use Criminal Law that acts of preventive way. It is intended, through a bibliographical review, to assess an application of the law of criminal law in Brazil. It discusses, therefore, a possibility of application of Criminal Law, more specifically, related to the crimes of corruption practiced by politicians, characterizing itself without crime of white collar. The study is justified, given the difficulty of investigating corruption crimes, especially considering the privileges of the co-authors. They analyze, therefore, as critics in disfavoring the operation, under the Contest of existence of revenge for A aplicação do Direito Penal do Inimigo aos crimes de corrupção: uma análise da Operação Lava Jato Página 1 rights and fundamental guarantees of the investigated, being characterized in a true Criminal Right of the Enemy. On the other hand, the guarantees are constitutive are not absolute, and they can not become means that make it impossible to apply civil and criminal liability. Thus, in a careful and responsible manner, an application of the theory of criminal law of the law is suggested, in a mitigated way, by means of the creation of electoral processes for the crimes of corruption, which afflict Brazilian society. Keywords: Society of risk – Criminal Law of the Enemy – Corruption – White collar – Car Wash Operation – Constitutional Guarantees Sumário: 1 Introdução - 2 O direito penal do inimigo de Gunther Jakobs - 3 O Direito Penal do Inimigo e os crimes de corrupção, no âmbito da Operação Lava Jato - 4 Conclusão - Referências 1 Introdução Com a evolução da sociedade por meio da globalização, pós-industrialização e o pós-segunda Guerra Mundial, surgiram os primeiros fatores do enfretamento da criminalidade na sociedade globalizada de risco. Da emigração dos cidadãos rurais para a cidade em busca de trabalho e riquezas, sobrevieram os primeiros tipos de criminalidade, como crimes contra o patrimônio. Neste contexto da sociedade de risco, surgem a microcriminalidade e a macrocriminalidade, nas quais se busca a utilização de um Direito Penal mais repressivo, destacando-se o Direito Penal do Inimigo de Günther Jakobs. Jakobs realiza uma distinção entre o Direito Penal do Cidadão e Direito Penal do Inimigo, considerando cidadão o indivíduo que apresenta garantias cognitivas suficientes para respeitar as normas vigentes no Estado, ao passo que inimigo seria aquele que contraria as normas jurídicas do Estado de forma permanente, perdendo a personalidade de cidadão (pessoa) e passando a ser tratado como inimigo (não pessoa), como no estado de natureza. Para consubstanciar sua teoria, o autor Jakobs se fundamenta nos teóricos filósofos do contrato social, como: Rousseau, Fichter, Hobbes e Kant, que defendem que os delinquentes contrários ao contrato social não poderão ser considerados cidadãos, sendo tratados como inimigos do Estado. O Direito Penal do Inimigo tem como característica normativa o tratamento diferenciado ao cidadão e ao inimigo. Por meio de uma dupla imputação, é garantido ao cidadão o direito de ser sancionado pelo Direito Penal e Direito Processual Penal, porém, o inimigo tem ausência de direito, sendo processado por um sistema inquisitório. Assim, para o combate ao inimigo o Direito Penal do Inimigo usa-se da antecipação da tutela penal, aplicando um Direito Penal preventivo aos inimigos, por sua periculosidade (Direito Penal do Autor). No Estado brasileiro o Direito Penal do Inimigo tem ganhado espaço mediante os pedidos da sociedade para um sistema penal mais rígido, os pedidos são influenciados pelos meios de comunicação e mídias sociais, nos quais, com base no elevado índice de criminalidade e corrupção, entendem que há a necessidade da diminuição dos direitos e garantias dos infratores. O legislador, de certa forma, vem ouvindo a sociedade, editando normas que restringem direitos dos delinquentes, por exemplo, a Lei 8.072/90 (LGL\1990\38) que tipifica os crimes hediondos. Dentro dessa ótica, analisa-se a possibilidade de aplicação do Direito Penal do Inimigo aos crimes de corrupção praticados por parlamentares e políticos no Brasil, o chamado crime de colarinho branco. Quando praticado por pessoas que exercem cargos de grande A aplicação do Direito Penal do Inimigo aos crimes de corrupção: uma análise da Operação Lava Jato Página 2 importância no sistema público, o crime tem grande repercussão por suas consequências negativas ao povo brasileiro. Nesse contexto, surgiram investigações sobre a corrupção no Estado brasileiro, especialmente, a “Operação Lava Jato”, na qual vem descortinando as fraudes envolvendo políticos e empresários de multinacionais. Nos crimes de corrupção, os investigados, de certa forma,seriam caracterizados como inimigos. As críticas sobre o Direito Penal do Inimigo, no âmbito da Operação Lava Jato, refere-se à restrição dos direitos dos investigados, por meio das prisões preventivas e as delações premiadas. Por outro lado, defende-se alteração da lei para torná-la mais rígida a ponto de legitimar a prisão após confirmação da condenação em segunda instância. Dessa forma, pretende-se, por meio de pesquisa bibliográfica, analisar a aplicação do Direito Penal do Inimigo aos crimes de colarinho branco, apresentando a corrente que defende a ilegitimidade da teoria, com base nas garantias individuais absolutas relacionadas ao princípio da dignidade da pessoa humana, bem como seu contraponto, no sentido de que os direitos e garantias constitucionais teriam certa flexibilidade na adequada aplicação do Direito, não podendo ser um meio de impedir a aplicação da responsabilidade civil e penal. 2 O direito penal do inimigo de Gunther Jakobs Para melhor entender o tema, necessário se faz apresentar o contexto do nascimento da Teoria do Direito Penal do Inimigo. 2.1 Origem, conceito e significado A teoria Direito Penal do Inimigo foi criada por Günther Jakobs, que nasceu em 27 de julho de 1937, na Alemanha, em Mönchengladbch. É considerado um dos mais respeitados e polêmicos juristas da modernidade, tendo se tornando discípulo de Welzel (SILVA, 2011). A teoria do Direito Penal do Inimigo teve sua primeira publicação em 1985, no seminário de Direito Penal em Frankfurt, causando uma impressão positiva aos doutrinadores alemães. Jakobs, objetivando proporcionar à sociedade o exemplo sobre o tratamento dado àqueles que optarem por sair de seu estado de cidadão para passar à condição de inimigo, diferenciou o Direito Penal do Cidadão do Direito Penal do Inimigo. No primeiro, o indivíduo possui a característica de cidadão, possuindo todos os direitos previstos no ordenamento jurídico vigente, reconhecido, então, como pessoa. No segundo, porém, o inimigo é um indivíduo que, mediante seu comportamento abandonou o direito de modo supostamente duradouro e não somente de maneira incidental. Nesse caso, a pessoa perde a característica de cidadão e passa a ser inimigo do Estado, perdendo todos os direitos fundamentais e o reconhecimento de pessoa. Consoante Rogério Greco: Jakobs, por meio dessa denominação, procura traçar uma distinção entre um Direito Penal do Cidadão e um Direito Penal do Inimigo. O primeiro, em uma visão tradicional, garantista, com observância de todos os princípios fundamentais que lhe são pertinentes; o segundo, intitulado Direito Penal do Inimigo, seria um Direito Penal despreocupado com seus princípios fundamentais, pois que não estaríamos diante de cidadãos, mas sim de inimigos do Estado (GRECO, 2016, p. 23). Jakobs defende que só seria pessoa aquele que internalizasse, de forma cognitiva, a norma vigente na sociedade, seguindo a perspectiva do contrato social. Desse modo, a pessoa surgiria a partir da constituição do sistema social, aceitando a viver em sociedade de modo a respeitar as regras impostas pelo Estado com vistas à pacificação social. E complementa: A aplicação do Direito Penal do Inimigo aos crimes de corrupção: uma análise da Operação Lava Jato Página 3 "Quem não presta uma segurança cognitiva suficiente de um comportamento pessoal, não só não pode esperar ser tratado ainda como pessoa, mas o Estado não deve tratá-lo, como pessoa, já que do contrário vulneraria o direito à segurança das demais pessoas (JAKOBS; MELÍA, 2007, p. 42)." Nesse passo, aquele que não apresenta uma segurança cognitiva suficiente não poderá ser considerado pessoa, perde tal característica e os direitos e garantias, sendo considerado um inimigo para o Estado. Com fulcro nos filósofos contratualistas, a perda dos direitos fundamentais ocorreria em razão do contexto em que o cidadão decidisse se afastar das normas jurídicas impostas para a organização do convívio social, de modo duradouro, por exemplo: terroristas, homicidas e traficantes. Por outro lado, o Estado poderia reconhecer um cidadão como mero delinquente, sem considerá-lo inimigo, em caso de eventual desvio de conduta, sendo possível, inclusive, ressocializar-se para retornar ao meio social, senão vejamos: "O Estado pode proceder de dois modos com os delinquentes: pode vê-lo como pessoas que delinquem, pessoas que tenham cometido um erro ou indivíduo que devem ser impedidos de destruir o ordenamento jurídico, mediante coação. Ambas perspectivas têm, em determinados âmbitos, seu lugar legítimo, o que significa, ao mesmo tempo, que também possam ser usadas em um lugar equivocado (JAKOBS; MELÍA, 2007, p. 42)." Portanto, a teoria do Direito Penal do Inimigo busca realizar uma delimitação relacionada a quais situações o Estado poderia considerar uma pessoa como cidadão ou um inimigo, utilizando-se de duas vertentes: o Direito Penal do Inimigo e Direito Penal do Cidadão. Segundo Jakobs, a pena é um meio de coação, que tem como significado a resposta contra o fato criminoso praticado pelo autor que desobedeceu a norma vigente, uma forma de reafirmar a vigência da norma, mostrando para o criminoso que, apesar de tal violação, a sociedade segue em sua estabilidade, sem modificações e continua desempenhando a manutenção da ordem; uma prevenção geral. Além disso, a pena produziria efeitos físicos perante o criminoso, caracterizando-se como prevenção especial, haja vista que o autor da infração será privado de sua liberdade, ficando impossibilitando de cometer novos fatos delituosos (HABIB, 2016). Diante isso, o Estado poderia agir de duas formas em relação ao delinquente: considerá-lo pessoa que delinquiu por praticar um mero erro, ou considerá-lo indivíduo inimigo, capaz de destruir o ordenamento jurídico (JAKOB, 2007). O Direito Penal do Cidadão, então, é dirigido ao delinquente que por conduta imprópria cometeu uma infração, desviando-se das diretrizes da norma jurídica que determina conduta contrária, contudo, por mais grave que seja a conduta, não colocou o Estado em perigo. É o que defende Prado: "O Direito Penal do cidadão define e sanciona delitos cometidos acidentalmente por cidadãos, pessoas que normalmente estão vinculados às normas e submetidos ao Direito e, somente de forma incidental, manifestam abusos de conduta nas relações sociais em que participam (PRADO, 2018.)" Por outro lado, o Direito Penal do Inimigo seria dirigido aos delinquentes que praticam atos criminosos de forma permanente, buscando retirar a vigência da norma proibitiva. São indivíduos considerados fonte de perigo para o Estado, sendo estes despersonalizados como pessoas pela norma. Nesse sentido, Prado define o delinquente: "Esses indivíduos não são mais que entes perigosos, a serem privados de direitos e garantias individuais próprios dos cidadãos, as pessoas. O inimigo é aquele cujas atitudes revelam um distanciamento em relação às regras de Direito, o que não se dá acidentalmente, mas de forma duradoura; comportamento pessoal, profissão e vida econômica; nada é concretizável no âmbito de relações sociais legitimadas pelo Direito; A aplicação do Direito Penal do Inimigo aos crimes de corrupção: uma análise da Operação Lava Jato Página 4 ao contrário, desenvolve-se à margem deste último e da própria sociedade. É dizer: são indivíduos que “não prestam a garantia cognitiva mínima que é necessária para o tratamento como pessoa” (PRADO, 2018)." Não obstante a condição de delinquente, Zaffaroni alega que a perda da característica de pessoa não é compatível com o princípio do Estado de Direito e destaca que: "A essência do tratamento diferenciado que se atribui ao inimigo consiste em que o direito lhe nega sua condição de pessoa. Ele só é considerado sob o aspecto de ente perigoso ou daninho. Por mais que a ideia seja matizada, quando se propõe estabelecer a distinção entre cidadão (pessoa) e inimigos (não-pessoas), faz-se referência a seres humanos que não são de certos direitos individuais, motivo pelo qual deixam de ser consideradospessoas, e esta é a primeira incompatibilidade que a aceitação do hostis, no direito, apresenta com relação ao princípio do Estado de direito (ZAFFARONI, 2007, p. 18)." Ser pessoa para Jakobs é ter direitos e deveres, participar de uma sociedade, no qual o indivíduo tem um papel definido a ser realizado (HABIB, 2016). A característica de pessoa para Jakobs, portanto, não é algo estabelecido pela natureza, mas sim pelo meio social estabelecido, no qual os indivíduos considerados pessoas têm direitos e deveres. O ser humano, por sua vez, é caracterizado pela natureza e com a descaracterização de pessoa volta para o seu estado natural, sendo tratado como inimigo. Conforme Silva (2011, p. 63), “como o conceito de pessoa não é algo determinado pela natureza, mas sim é uma construção social, nem todos os serem humanos podem ser englobados nesse conceito, ficando fora desta denominação jurídico–penal os inimigos”. O princípio da dignidade da pessoa humana, no entanto, é um dos limitadores no Estado Democrático de Direito da utilização do Direito Penal do Inimigo (não pessoa), sobretudo, considerando a dignidade humana intrínseca ao homem, sendo uma forma de proteger a própria espécie humana (PRADO, 2013). Tendo em vista tais considerações, surgem várias críticas à teoria do Direito Penal do Inimigo, no sentido da divisão proposta por seu autor Günther Jakobs, o Direito do cidadão (pessoa) e Direito do inimigo (não pessoa), se constituiria num verdadeiro Direito Penal do autor e aquele o Direito Penal do fato, sendo o Direito Penal do autor inegavelmente incompatível com as normas penais vigentes (HABIB, 2016). Vale ressaltar que as características normativas apresentadas pelo Direito Penal do Inimigo são: (a) antecipação da punibilidade com a tipificação de atos preparatórios, criação de tipos de mera conduta e perigo abstrato; (b) penas desproporcionais; (c) normas de luta ou de combate, relação com uma guerra; (d) delimitação das garantias penais e processuais; (e) regulamentação na execução penal: penitenciárias ou de execução penal, com visão ao regime disciplinar diferenciado adotado pelo Brasil (MORAES, 2006). Vê-se, pois, que, a partir da aplicação irrestrita do Direito Penal do Inimigo, com toda a sua rigidez, anula-se a condição de sujeito de Direito do indivíduo considerado inimigo (não pessoa), ampliando-se os meios estatais de poder e controle no processo penal, e, no Direito Penal material, a chamada criminalidade organizada, terrorismo etc. (PRADO, 2013, p. 134). A aplicação do Direito Penal do Inimigo é controversa, no entanto, necessária a reflexão da sociedade, sobretudo, em face de fatos criminosos, pelos quais o cidadão age como verdadeiro inimigo, desrespeitando as normas fundamentais dos demais cidadãos, provocando a insegurança social, rompendo o contrato social, logo, retrocedendo ao estado de natureza. A aplicação do Direito Penal do Inimigo aos crimes de corrupção: uma análise da Operação Lava Jato Página 5 Na realidade, o Direito Penal do inimigo mitigado pode ser balizador para fundamentar características normativas próprias aos crimes mais graves, como os de corrupção, tema que será tratado a seguir. 2.2 A influência do Direito Penal do Inimigo na Legislação Penal brasileira No Brasil, a busca pela aplicação da teoria Direito Penal do Inimigo por parte da grande massa dos cidadãos se liga à expectativa do ser humano em resolver o problema da criminalidade da sociedade de risco, que busca por um Direito Penal mais duro contra a criminalidade, que tem seu suporte de protesto por meio das mídias jornalísticas e em outros veículos de comunicação. Os meios de comunicação que alcança o grande público em suas programações divulgam notícias ligadas, de certa forma, à criminalidade no convívio social. Os responsáveis por levarem as notícias aos cidadãos de alguma forma se acham habilitados a as divulgarem comentando sobre as normas penais; o que deveria ser mudado, como deveria ser empregado, apresentando soluções de como acabar com as práticas criminosas: sugerindo propostas de aumento das normais penais e o endurecimento das sanções penais e encerramento de garantias fundamentais (GRECO, 2016). Tendo em vista que o ordenamento jurídico é o suporte de uma sociedade, que regulamenta os comportamentos das pessoas em relação às outras, a sociedade passa a ser estável, com suas normas constantemente vigentes, mesmo que um indivíduo no caso concreto venha a desrespeitá-la. Assim, mesmo com essa violação, a sociedade continua plena e o cidadão passa saber que todos no meio social têm a expectativa de que cada indivíduo respeitará a vida dos demais. Todavia, ao praticar o crime de homicidio, por exemplo, rompe-se com a expectativa de que ninguém atentará contra a vida de um dos membros em sociedade. Ao violar o direito a vida, o agente infrator quebra a fidelidade com o ordenamento jurídico e, assim, para o autor Jakobs, o desrespeito à norma é a violação do contrato social, pois retira a vigência do ordenamento, e por causa dessa situação a norma deve ser sempre firme e mantida no seu exato cumprimento para assegurar sua vigência (HABIB, 2016). Conforme Jakobs (2007) em uma sociedade o respeito à norma deve ser plenamente esperado: "Pretendendo-se que uma norma determine a configuração de uma sociedade, a conduta em conformidade com a norma, realmente, dever ser esperada em seus aspectos fundamentais. Isso significa que os cálculos das pessoas deveriam partir de que os demais se comportarão de acordo com a norma, isto é, precisamente, sem infringi-la (JAKOBS; MELÍA, 2007, p. 33)." Com as notícias da criminalidade no ambiente social através das mídias de comunicação, com o uso da livre expressão garantia constitucional, transmite-se aos cidadãos as notícias de fatos criminosos e que a cada dia se tornam habituais e mais violentos; a sociedade perde a expectativa de que as normas penais vigentes são suficientes para garantir a segurança à sociedade. E com a ineficácia do Estado de lidar com as demandas criminais e carcerárias, os índices dos fatos criminosos vão aumentando ao passar dos dias, fazendo com que as normas jurídicas percam sua expectativa de garantia da paz social perante a sociedade, demonstrando ineficácia para aqueles que não são da área jurídica, os leigos. Com essa visão, os grupos sociais gritam por normas que visam a combater os criminosos, o endurecimento das penas, a diminuição de garantias constitucionais, chegando ao ponto da intolerância, por não mais aguentarem tanta criminalidade, que passa a visualizar os agentes criminosos, mais odiados os corruptos, como inimigos da sociedade. Pressionado, o legislador vem editando normas mais severas visando a atender aos anseios sociais que, implicitamente, têm características do Direito Penal do Inimigo. A aplicação do Direito Penal do Inimigo aos crimes de corrupção: uma análise da Operação Lava Jato Página 6 Um dos exemplos dessa busca de um Direito Penal mais rígido é a Lei 8.072/90 (LGL\1990\38), que disciplina os crimes hediondos e comparados a eles. Tal diploma estabeleceu uma série de vedações que não existiam no ordenamento jurídico brasileiro, impondo um tratamento diferenciado e mais severo no Direito Penal e Processual Penal aos crimes hediondos e comparados (HABIB, 2016). De par com isso, há outras normas jurídicas que acolhem, de forma mitigada, a teoria do Direito Penal do Inimigo, tais como: a Lei 11.343/2006 (LGL\2006\2316) – dispõe sobre o crime de tráfico de drogas e o consumo; a Lei 7.716/89 (LGL\1989\11) – dispõe sobre os crimes de preconceitos de raça ou de cor; Lei 9.455/97 (LGL\1997\65) – dispõe sobre os crimes de tortura e dá outras providenciais; Lei 12.850/2013 (LGL\2013\7484) – dispõe sobre as organizações criminosas e investigações criminais; Lei 10.826/2003 (LGL\2003\663) – dispõe do manuseio das armas de fogo e munição (SILVA, 2011). Portanto, o Direito Penal do inimigo tem presença nas normas criminais que visam restringir os direitos de seus infratores no ordenamentojurídico brasileiro, bem como internacionalmente, buscando o combate contra a criminalidade. 3 O Direito Penal do Inimigo e os crimes de corrupção, no âmbito da Operação Lava Jato O significado da palavra corrupção vem do latim corrupts, significa quebrado, apodrecido ou podre, aquilo que se quebra ou apodrece. Dantas define a corrupção como o uso dos valores e bens públicos para proveito próprio ou de terceiros, realizado por meio do poder exercido (DANTAS, 2018). Por se tratar de uma prática nefasta para a sociedade, passa-se a tratar da corrupção no Brasil. 3.1 A corrupção no Brasil A corrupção no Brasil tem sua origem no século XVI, ocasião do descobrimento do Brasil por Portugal, época em que os portugueses compravam a confiança dos índios por meio de doação de presentes, espelhos e outros objetos. Noticia-se, também, que os funcionários públicos portugueses também incorriam em corrupção, pois tinham a responsabilidade de fiscalizar os portos para evitar o contrabando das matérias primas extraídas do território brasileiro, entretanto, desviavam objetos em proveito próprio ou de terceiros ( FILHO; ALENCAR, 2013). Torres e Bertoncini esclarecem que a corrupção faz parte da condição humana: "Trata-se de uma forma de tentar prevalecer indevidamente sobre o outro, quer financeiramente, quer socialmente, enfim, sempre em busca de poder e/ou dinheiro. O sentimento de prevalência sobre o semelhante, de maneira desmedida e totalmente às margens de conceitos éticos e morais, de modo permanente na história humana, informa que a corrupção faz parte da própria condição humana (TORRE; BERTONCINI, 2015, p. 7)." A corrupção no Brasil, então, vem a partir do seu descobrimento, época em que se destacava a prevalência dos interesses individuais dos cidadãos de classe alta, mediante favores, regalias e luxúrias. No exercício de um cargo público, a corrupção se materializa por meio da aferição de benefícios particulares, desvirtuando a finalidade da função pública favorável à sociedade. Silva aborda a prática predatória: “o gosto pela luxúria, o desejo intenso pelo desfrute dos bens, a degradação dos costumes e a impunidade dos crimes”, de maneira que a corrupção nacional tornou-se uma “decorrência da moral predatória caracteristicamente dominante no Estado patrimonial, que, conscientemente ou não, formatou um conjunto de padrões sociopolíticos de comportamento ético adverso às formas racionais mais modernas de trato da res pública” (SILVA, 2015b, p. 1461). O sistema de corrupção política segue, portanto, a mesma sistemática desde os A aplicação do Direito Penal do Inimigo aos crimes de corrupção: uma análise da Operação Lava Jato Página 7 primeiros anos do descobrimento do país por Portugal. No lugar de exercer a função confiada pelo povo, de forma legítima, no interesse da sociedade, o representante do povo toma decisões em proveito de assuntos particulares. Essa é a forma de agir dos corruptos. Segundo Silva (2015b, p. 1463), “no Brasil, a situação é ainda mais complicada, pois, em diversos casos, a corrupção é confundida com o jeitinho brasileiro”. Com o jeitinho brasileiro busca-se, nos meios sociais nas suas diversas classes, uma forma de conseguir as coisas mais fácies, driblando a burocracia estatal que dificulta o acesso aos serviços públicos. Dessa forma, aqueles que têm acesso aos servidores conseguem burlar o sistema, pagando vantagens indevidas em busca de um objetivo almejado. O autor detalha que apenas nos últimos anos surgiu o debate sobre a legalidade dos atos praticados pelo Estado: "Nos últimos anos, os casos que envolvem alguma forma de perversão da legalidade dos atos do Estado, englobados, em regras, pelo senso comum midiático, no termo “corrupção”, ganham destaque, seja na mídia, seja na sociedade. Exemplo dessa situação é o caso Lava Jato que vem sendo investigado nos últimos meses. Esse caso consiste na investigação de um esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas que, segundo a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, movimentou cerca de R$ 10 bilhões, sendo considerada a maior investigação de corrupção da história do País (SILVA, 2015b, p. 1464-1465)." A corrupção se encontra arraigada no Estado brasileiro durante anos, por certo, os cidadãos percebiam que havia algo estranho, porém, os escândalos eram rapidamente abafados visando que caíssem no esquecimento do povo. Entretanto,ocorreram mudanças na política brasileira depois da “Lava Jato”, a operação descortinou um pacto oligárquico entre políticos, empresas multinacionais e construtoras, evidenciando a corrupção em todos os sistemas públicos das Administrações diretas e indiretas. Os cidadãos brasileiros apóiam a operação investigativa e buscam a punição exemplar pelas práticas de corrupção que tanto custam caro ao Brasil, provocando fome, deficiência na saúde básica e mortes por crimes violentos. 3.1.1 Os crimes de colarinho branco O crime de colarinho branco surgiu no ano de 1939, apresentado pelo criminológico Edwin Sutherland. O fundamento do autor se embasou na teoria da associação diferencial, pela qual o crime do colarinho branco decorreria da convivência, de forma direta ou indireta, com outros que agem por meio de práticas ilegais (COSTA; MACHADO; ZACKSESKI, 2016). Edwin Sutherland direcionou a teoria do crime de colarinho branco para as práticas profissionais de alta respeitabilidade social, ganhando força o conceito de white-collar crime (COSTA; MACHADO; ZACKSESKI, 2016). O crime de colarinho branco é uma das ilegalidades praticadas por pessoas que possuem e exercem cargos de grande importância, por exemplo, os políticos, que se aproveitam de suas prerrogativas, poder de mando e coerção para cometer crimes visando a obtenção de vantagem de cunho particular. O uso do termo “colarinho branco” é referente aos trajes dos criminosos, engravatados com ternos elegantes, diferenciando-se, na sua maioria, dos demais agentes de outras profissões. Segundo Silva, há uma diferenciação do termo colarinho branco e de blusa azul: A aplicação do Direito Penal do Inimigo aos crimes de corrupção: uma análise da Operação Lava Jato Página 8 "Tal denominação se deu apenas para demonstrar um grupo específico delituoso, como é o caso dos então chamados “crimes de blusa azul”, que são aqueles delitos praticados pelos trabalhadores no exercício de suas funções, sendo designados como tais por usarem traje de cor azul, próprio de trabalhadores (SILVA, 2016, p. 10)." Nos dias atuais, o crime de colarinho branco obtém destaque nos meios de comunicação, ganhando atenção do cidadão que a cada dia aumenta dentro de si o sentimento de revolta e indignação com o conhecimento dos atos praticados por esses agentes, representantes do povo, bem como pela forma que lidam e tentam, por meio de falácias, enganar o povo negando seus atos criminosos e planejando como abafar as investigações. Os crimes praticados por agentes do colarinho branco são os crimes de peculato, informações de dados falsos para vantagens indevidas, concussão, corrupção passiva, corrupção ativa, corrupção em transação comercial internacional, tráfico de influência internacional, sonegação de tributos e previdenciário, apropriação indébita da previdência e sonegação fiscal, bem como crimes licitatórios e contra sistema financeiro etc. (COSTA; MACHADO; ZACKSESKI, 2016). O crime de colarinho branco é de extrema gravidade, suas práticas causam lesões bem mais danosas do que os crimes comuns que, em sua maioria, não passam do agente e da vitima. Os crimes de colarinho branco, no entanto, causam danos a toda a sociedade, como diminuição das verbas para educação, aumento da criminalidade e desigualdade social, precariedade no sistema de saúde pública, disparidade de classe, aumento da fome, desemprego e falta de políticas publicas. Segundo Shecaira: "O crime de colarinho-branco é um crime. E o é porque suas consequências são tão gravosas como quaisquer condutas criminais. Algumas vezes até mais gravosas. Ademais, é cometido por pessoas respeitadas.Com elevado estatuto social. Ele é praticado no exercício da sua profissão, o que evidentemente exclui todos os demais crimes que, embora realizados por aqueles agentes acima nomeados, relacionam-se com a sua vida privada (SHECAIRA, 2012, p. 176)." Para Costa, Machado e Zackseski: "A pedra de toque, todavia, constituiu na pesquisa empírica realizada por Sutherland a fim de verificar a incidência de processos e condenações por crimes de colarinho branco. No referido estudo, Sutherland pesquisou cerca de setenta corporações e concluiu que as infrações à ordem econômica a elas atribuídas permaneciam quase integralmente impunes. Em suma, constatou que, dessas infrações, um percentual ínfimo chegava, efetivamente, a acusações criminais e concluiu que a criminalidade de colarinho branco não se sujeita à mesma punição e à mesma estigmatização que os crimes comuns, em que pese o fato de os crimes de colarinho branco se caracterizarem por sua alta danosidade (COSTA; MACHADO; ZACKSESKI, 2016, p. 8)." Observa-se, portanto, que os crimes de colarinho branco, além de provocar danos irreparáveis à sociedade, apresentam-se de difícil investigação. Segundo Shecaira: "Um segundo aspecto a destacar é a grande dificuldade na elaboração de estatísticas, pois a cifra negra é alta e conta com certa proteção das autoridades governamentais na ocultação de certos fatos. Como consequência disso são enormes as dificuldades em descobrir tais crimes, bem como em sancioná-los (SHECAIRA, 2012, p. 176)." É bem mais fácil investigar e condenar os criminosos de crimes comuns, que os criminosos que praticam crimes bem mais sérios, como a corrupção. O próprio legislador tem enorme respeito aos homens que geram negócios, não sendo admitido, nem mesmo, denominá-los como delinquentes. Porém, nos últimos anos, os corruptos não se encontram mais impenetráveis, a Lava Jato, por meio das delações premiadas e prisões preventivas, com a atuação mais dura A aplicação do Direito Penal do Inimigo aos crimes de corrupção: uma análise da Operação Lava Jato Página 9 dos poderes competentes, tem investigado e processado os agentes públicos, retirando do cidadão o sentimento de impunidade que imperava na sociedade. 3.1.2 Operação Lava Jato A Lava Jato surgiu de uma investigação da Polícia Federal, em face de um posto de gasolina suspeito do esquema de lavagem e desvio de dinheiro, no entanto, descortinou-se o esquema muito maior e mais grave relacionado com a Petrobras, empresa estatal pública brasileira. Desse modo, no ano de 2014, a operação foi deflagrada, restando evidente o esquema em que estava envolvido o presidente da Petrobras, recebendo propinas de executivos das grandes empreiteiras do Brasil as obras eram superfaturadas e muitos políticos se beneficiavam da lavanderia de dinheiro público (NUNES, 2017). O esquema passava por um grupo que utilizava a Petrobras para obter vantagens ilícitas, por meio de licitações de obras viciadas e fraudadas, formando um cartel de empreiteiras beneficiadas. Os diretores da Petrobras superfaturavam os valores das obras com a empreiteira ganhadora, e com os valores remanescentes repassavam-se para os agentes do esquema (NUNES, 2017). O outro grupo utilizava os postos de combustíveis como uma rede de lavanderia que movimentava o dinheiro ilegal. Nas primeiras fases da operação Lava Jato, foram investigados doleiros, responsáveis pela operacionalidade do esquema. Expedidos mandados de busca e apreensão, prisão e de condução coercitiva, foram presos o presidente da Petrobras e doleiros que movimentavam o esquema ilegal. Em seguida, os envolvidos aceitaram colaborar com as investigações mediante acordo de delação premiada para redução da pena e, assim, foi descoberto o grande esquema em que foram desviados bilhões de reais, com a participação de políticos e empreiteiras brasileiras (NUNES, 2017). Em palestra administrada pela OAB do Mato grosso (2016, p. 1), o professor Badoró argumenta que: “um dos importantes efeitos destas operações é mostrar que ninguém está acima da lei. Antigamente não se imaginava que isso pudesse ocorrer em relação a pessoas poderosas, políticos e empresários muito ricos. Esse é um aspecto positivo”. A Operação “Lava Jato” pode ser considerada a reedição do inimigo de Jakobs, em uma visão contemporânea. Assim, com o objetivo de combater a corrupção, sugere-se a criação de procedimento próprio que torne legítima as buscas e apreensões, as conduções coercitivas e consolide, de vez, a importância das delações premiadas. A cada dia, a sociedade clama por punição, dando mais atenção aos fatos ocorridos na Operação Lava Jato. Desse modo, com o uso da delação premiada e prisões preventivas, fica demonstrado que a Operação Lava Jato vem atuando com base em alguns aspectos do Direito Penal do Inimigo (MOREIRA, 2015). Contra essa forma de agir da Operação Lava Jato, têm-se os seguintes argumentos: "A ninguém interessa a impunidade. No entanto, o combate à impunidade não pode significar violação à Constituição. O combate à impunidade significa investigação criteriosa, com autonomia operacional da Polícia, independência institucional do Ministério Público e garantias à atuação do Judiciário. Significa também presunção de inocência, divisão entre as atividades de acusar e de julgar, devido processo legal e reconhecimento da importância do advogado para o sistema de justiça (MOREIRA, 2015, p. 4)." A Operação Lava Jato, portanto, vem sofrendo críticas por juristas que levantam a questão de violação às garantias e direitos fundamentais. Expõe Bruno que a Lava Jato adota o Direito Penal do Inimigo: A aplicação do Direito Penal do Inimigo aos crimes de corrupção: uma análise da Operação Lava Jato Página 10 "A Lava Jato peca exatamente por entender que, se é para combater a corrupção, pode tudo. Não é bem assim. Nosso Código Penal (LGL\1940\2) nem de longe permite a adoção dos princípios da teoria do direito penal do inimigo. De inspiração fascista, a teoria, de autoria do jurista alemão Gunter Jakobs, propõe a declaradas inimigas da sociedade (BRUNO, 2017, p. 1)." Não obstante tais críticas, ficou demonstrado que a Lava Jato tem pontos positivos, quais sejam: a exposição dos crimes de corrupção envolvendo políticos de alta relevância social e mais, expõe os crimes, investigam e processam, chegando às condenações que são devidas e proporcionais aos crimes cometidos. Olhando o passado recente, pode-se observar que esses crimes nunca seriam descobertos e processados, o Direito Penal não tinha mecanismos e instituições fortes para tanto. Contudo, com o surgimento da delação premiada, buscas e apreensões, conduções coercitivas e prisões preventivas, muitos corruptos foram descortinados. De par com isso, a Operação Lava Jato consolidou as instituições investigativas nos âmbitos federais e estaduais, provocando melhor cooperação internacional para as investigações. Outro grande passo para as investigações na Lava Jato foi a possibilidade de prender o réu após a condenação em segunda instância (EL PAÍS, 2018). Vasconcellos apresenta em artigo na revista Conjur as considerações do Juiz Sergio Moro sobre as prisões preventivas e a delação premiada: "A prisão pré-julgamento é uma forma de se destacar a seriedade do crime e evidenciar a eficácia da ação judicial, especialmente em sistemas judiciais morosos. Desde que presentes os seus pressupostos, não há óbice moral em submeter o investigado a ela. O juiz, aliás, é só elogios ao instituto da delação premiada. “Um criminoso que confessa um crime e revela a participação de outros, embora movido por interesses próprios, colabora com a Justiça e com a aplicação das leis de um país. Se as leis forem justas e democráticas, não há como condenar moralmente a delação; é condenável nesse caso o silencio” diz em seu artigo (VASCONCELLOS, 2015, p. 3, grifo nosso)." Percebe-se, portanto, que para o enfretamento da criminalidade corrupta no Brasil, as instituições fortaleceram suas bases institucionais, com novos mecanismos investigativos legalmenteprevistos. No entanto, as novas formas de agir dos criminosos corruptos têm requerido uma atuação mais eficaz e eficiente do Estado. 3.2 O corrupto é um inimigo no Direito Penal brasileiro? O inimigo, na teoria do Direito Penal do inimigo, é aquele que viola as leis do Estado de forma permanente, rompendo com pacto social (contrato social), sobretudo, por descumprir o dever de não praticar crimes contra a sociedade, cometendo alta traição. Assim, perde sua característica de pessoa, passando a ser tratado como ser humano no estado de natureza, sem garantias fundamentais. Tendo em vista que o crime de corrupção tem uma peculiaridade, que é a dificuldade de apuração desses fatos criminosos, mesmo havendo tipos penais que já representam um nível satisfatório de condutas criminosas, é ainda para o Direito Penal e Processual Penal difícil de chegar aos criminosos de colarinho branco, de modo a inibi-los ou puni-los pelos atos ilícitos praticados ( FILHO; ALENCAR, 2013). Segundo Silva, a sensação de impunidade impõe a divisão entre os homens do bem e do mal e, nessa senda, a sociedade, mediante o discurso mediático, busca por um direito penal mais forte e com menos garantias, protegendo os homens de bem, e, a um só tempo, punindo fortemente os homens que são contra o bem-estar social, os corruptos, apresentando, assim, uma distinção na aplicação do Direito Penal (SILVA, 2015b. A aplicação do Direito Penal do Inimigo aos crimes de corrupção: uma análise da Operação Lava Jato Página 11 Em uma forma de comparação, com base nas teorias dos filósofos do contrato social, os autores Alencar Filho e Alencar (2013), argumentam qual é a diferença de um inimigo que declara guerra contra o Estado e o outro que sabe os efeitos dos seus atos na sociedade: "[...] qual a diferença, consequentemente prática, ao se avaliar o animus de alguém que declara uma guerra formalmente e de outro que sabe os efeitos, em um nível nacional, de seus atos? Parece que o segundo, se diferencia do primeiro apenas pela hipocrisia, falsidade, com que finge ser um cidadão, pois que em outros aspectos, como a consequência de seus atos, podem ser tão mais destrutiva do que os praticados pelo primeiro, se alcançado seu objetivo. Outrossim, é valido o seguinte pensamento: O pior inimigo é aquele que tu pensas em ser teu amigo, pois que ele te destruíra sem que tu percebas e não te darás, ao menos, a chance de te defender ( FILHO; ALENCAR, 2013, p. 8)." Observa-se que para a sociedade o crime de corrupção é intolerável, tendo em consideração que as consequências dos crimes de colarinho branco são terríveis para o cidadão e, não é de se imaginar, que o corrupto perante a sociedade é o inimigo dos demais que cumpre com seu papel no dever de um bem-estar social. Nessa perspectiva, o corrupto seria um inimigo a ser combatido, em face das consequências terríveis que seus atos provocam em toda a sociedade. Não há como ignorar que a traição é contra seus conterrâneos, os homens da vida política eleitos para defender os interesses daquela comunidade, rompem com o pacto de confiança, indo ao encontro apenas dos seus interesses individuais, gerando um sentimento de indignação em seus eleitores. Silva indaga a se o corrupto é um inimigo no Direito Penal brasileiro: "Afinal, postas essas considerações, torna-se necessário responder ao questionamento-objetivo do presente artigo: O corrupto é um inimigo no Direito Penal brasileiro? A resposta é positiva. Em razão da política criminal (partindo do pressuposto de que o Brasil possui uma política criminal) adotada pelo Brasil, nas últimas décadas, o Direito Penal foi sendo ajustado para punir de forma cada vez mais severa a corrupção. No entanto, cabe ressaltar que essa resposta é positiva para o Direito Penal e para a Política Criminal, mas não para Criminologia, um dos ramos autônomos da Ciência Criminal (SILVA, 2016, p. 18)." Argumenta os autores Alencar Filho e Alencar que, não obstante fosse o corrupto inimigo, o Direito Penal do Inimigo não se aplicaria de forma absoluta no Direito Penal brasileiro, mas de forma mitigada e necessária, senão vejamos: "Indubitavelmente, o direito penal do inimigo, se não aplicado em sua íntegra, mas de forma mitigada, é uma resposta proporcional a grandeza da problemática em tela. O prejuízo social, econômico, cultural, resultante é tão abrangente que não se pode mencionar qualquer problema no país que não esteja derivadamente antecedido do mesmo (ALENCAR FILHO; ALENCAR, 2013, p. 9)." A caracterização do inimigo, imposta pela teoria Direito Penal do Inimigo, não se vincula no Direito Penal brasileiro por completo, especialmente porque os princípios fundamentais vedam qualquer uso da distinção do cidadão e inimigo. Contudo, o Direito Penal brasileiro já apresenta características do Direito Penal do Inimigo, por exemplo, a antecipação da tutela penal, contudo, longe de se tornar uma violação aos direitos fundamentais, mas apenas com a necessidade de se amoldar com os crimes globalizados. Conforme Greco (2016), o Direito Penal do inimigo, do autor Jakobs, já existe nas legislações brasileiras: A aplicação do Direito Penal do Inimigo aos crimes de corrupção: uma análise da Operação Lava Jato Página 12 "[...] O Direito Penal do Inimigo, conforme salienta Jakobs, já existe em nossas legislações, gostemos disso ou não, a exemplo do que ocorre no Brasil com a Lei 12.850, de 2 de agosto de 2013 (LGL\2013\7484), que além de definir o conceito de organização criminosa, dispôs sobre a investigação criminal, os meios de provas, infrações penais correlatas e o procedimento a ser aplicado (GRECO, 2016, p. 23)." Portanto, considerando a dificuldade que se tem para combater o crime de corrupção, por ser um sistema bem esquematizado por seus operadores, que possuem meios suficientes para permanecer impunes de seus atos criminosos e considerando que o corrupto é o grande vilão, inimigo da sociedade brasileira, surge a necessidade do tratamento mais rígido contra os crimes de colarinho branco. 3.3 Críticas ao Direito Penal do Inimigo, no âmbito dos crimes da Operação Lava Jato A teoria do Direito Penal do Inimigo com suas características de punibilidade vêm recebendo críticas por doutrinadores e estudiosos, bem como a Operação Lava Jato, que para alguns tem a características do Direito Penal do Inimigo, e, assim, realizam críticas como violação de direitos fundamentais no uso indevido da delação premiada e da prisão preventiva. Ao considerar o inimigo como não pessoa, a ideia de Jakobs não passou ilesa pela doutrina. A crítica parte do pressuposto de que o Direito Penal Inimigo trata do inimigo no Direito Penal do autor. Com a ideia de que o inimigo deve ser tratado por sua periculosidade, sendo desconsiderada a sua personalidade de pessoa, e, assim, se afastando da ideia do Estado de Direito. O único que poderia ser legítimo para aplicação da sanção penal é o Direito Penal do fato, tendo em vista que o agente responde pelo fato criminoso praticado (HABIB, 2016). Segundo Zaffaroni (2007), o tratamento do inimigo como não pessoa é a primeira incompatibilidade com o princípio do Estado de direito: "A essência do tratamento diferenciado que se atribui ao inimigo consiste em que o direito lhe nega sua condição de pessoa. Ele só é considerado sob o aspecto de ente perigoso ou daninho. Por mais que a ideia seja matizada, quando se propõe estabelecer a distinção entre cidadão (pessoas) e inimigos (não-pessoas), faz-se referência a seres humanos que são privados de certos direitos individuais, motivo pelo qual deixaram de ser considerados pessoas, e esta é a primeira incompatibilidade que a aceitação do hostil, no direito, apresenta com relação ao princípio do Estado de direito (ZAFFARONI, 2007, p. 18)." Observa-se que as críticas sobre o Direito Penal do inimigo são referentes na dupla imputação que a teoria apregoa com a subdivisão: Direito Penal do cidadão e Direito Penal do inimigo. Este sendo tratado por sua periculosidade, legitimando um Direito Penal do autor, algoque para os estudiosos e doutrinadores é incompatível com o Estado de Direito. Para Habib (2016), Jakobs não explica a forma e o momento que o delinquente passa a ser tratado como inimigo: "Parece que quando Jakobs sustenta a condição de não pessoa do inimigo, ele deixa de explicar e fundamentar a forma e o momento pelos quais a pessoa transforma-se em não pessoa. Qual seria o momento exato para essa conversão? Como se faria essa transformação? São perguntas às quais o professor de Bonn não respondeu. A prática de um delito não pode converter-se em um meio para o agente despedir-se da sociedade. Mas não é só. Se Jakobs sustenta a aplicação do Direito Penal do inimigo, inclusive com normas processuais, em que momento, dentro do processo criminal, tais normas seriam aplicadas ao agente ter-se-ia a certeza da prática do crime com o trânsito em julgado da sentença condenatória, e aí já não seria mais possível aplicar ao agente as normas do Direito Penal do inimigo, porque o processo já teria chegado ao fim. De outro lado, se o A aplicação do Direito Penal do Inimigo aos crimes de corrupção: uma análise da Operação Lava Jato Página 13 arsenal normativo processual do inimigo for aplicado desde logo, no início do processo, não se terá a certeza da prática do delito e, consequentemente, não se poderá afirmar que se trata de um inimigo (HABIB, 2016, p. 11)." O referido autor aduz argumentos persistentes ao criticar a teoria do Direito Penal do Inimigo, porque, o autor Jakobs não explica a forma na qual um cidadão passa a ser inimigo. Tendo em vista que, o próprio Jakobs, com fundamento nos filósofos do contrato social, por exemplo, Hobbes e Kant, diz que o cidadão ao cometer uma infração não poderá, de per se, ser considerado inimigo do Estado, pois esse tem a perspectiva e o direito de voltar ao meio social, ao garantir uma cognição suficiente da norma vigente de que não cometerá outros fatos criminosos, não permanecendo na criminalidade. Outro ponto importante é na fase processual, em que momento o cidadão é considerado inimigo no Direito Processual Penal, com vista ao princípio de inocência. Se o cidadão é declarado inimigo sem um processo, viola-se o princípio de inocência e o devido processo legal, podendo ser o agente um inocente, por outro lado, se espera o trânsito em julgado do processo, não se pode mais aplicar o Direito Penal do Inimigo ao cidadão, pois esse obteve todos os direitos inerentes ao cidadão no processo. Portanto, Jakobs não deixa clara a forma como o cidadão passará a ser tratado como inimigo. Já no âmbito da Operação Lava Jato tem se criticado a atuação dos responsáveis pela investigação, por estarem violando direitos fundamentais dos investigados e condenados. Por exemplo: interceptação telefônica, grampos nos escritórios advocatícios, prisões preventivas com longo tempo de duração contra a delação premiada e violações ao princípio de inocência. Segundo Soares (2017), abordando os argumentos do advogado Marluns Arns, que defende a Operação Lava Jato e para ele representa uma mudança de paradigma para a sociedade, mas faz ressalva sobre o uso indevido da delação premiada e da prisão preventiva extensa: "Vejo neste momento um excesso de colaborações premiadas. Para que a colaboração seja válida, é preciso que ela seja fundamentada em provas reais. É muito importante que não seja um”ouvi dizer” ou “eu vi de passagem”. Se isso não acontece, ou ela não é homologada ou acaba sendo derrubada. Não podemos transformar este instrumento numa situação comum para qualquer réu em qualquer processo. Essa vulgarização da colaboração premiada pode acabar invalidando todo o instrumentoJá as prisões preventivas são opções que a lei permite, o Ministério Público pede e o juiz acaba concedendo. Existem casos em que o próprio Supremo Tribunal Federal sinalizou que não seria necessária a manutenção da prisão preventiva. Se, em um primeiro momento, ela é importante na visão do magistrado, após algum tempo, ao final da instrução processual, quando o réu não pode mais atrapalhar a produção das provas, quando ele não pode mais se ausentar do país porque os passaportes foram recolhidos, não há a meu ver porque manter a prisão preventiva (SOARES, 2017, p. 1)." Assim, mostra-se que o uso da delação premiada e das prisões preventivas vem sofrendo muitas críticas. Mas, os investigadores da Operação Lava Jato defendem os meios usados como imprescindíveis para as investigações. Aponta Moreira (2015), que a Operação Lava Jato tem usado os métodos do direito penal do inimigo, uso da subdivisão do cidadão e inimigo: "Embora vivamos sob uma democracia constitucional, a Operação “Lava Jato” tem se utilizado de métodos condizentes com a transformação de cidadãos em inimigos: primeiro, com a figura da delação; segundo, com a transformação da prisão preventiva em meio ordinário apto a produzir provas. Na perspectiva adotada pela “Lava Jato”, ou seja, a do direito penal do inimigo, duas questões afrontam o direito penal constitucional vigente no Brasil: (I) a transformação A aplicação do Direito Penal do Inimigo aos crimes de corrupção: uma análise da Operação Lava Jato Página 14 do depoimento do delator de indício em prova, com a consequente equiparação dos depoimentos de dois ou de mais delatores em conjunto probatório; (II) a tendência a se perder a diferença qualitativa, ainda existente, entre os métodos investigativos da polícia e do Ministério Público dos praticados por delinquentes. Já a prisão preventiva com meio de produção de prova se classifica como modalidade de guerra ao inimigo (MOREIRA, 2015, p. 4)." Portanto, a Operação Lava Jato para certos críticos tem uma semelhança com Direito Penal do Inimigo. Para fundamentar suas conclusões usam o argumento de que a forma que os investigadores utilizam da delação premiada é leviana, pois buscam de qualquer forma informações que possam corroborar com a investigação. Por outro lado, por meio da prisão preventiva, forçam-se aos investigados a quererem delatar para terem sua prisão relaxada, tendo em vista que o seu tempo se estende de forma indefinida. Ao tratar os indiciados dessa forma, para os críticos, na Operação Lava Jato que investiga crimes de corrupção, provoca uma distinção entre o cidadão, que é aquele que se mantém dentro das normas jurídicas sem violá-las, ou, caso violem, não são considerados inimigos, pois foi apenas um fato eventual. Por outro lado, o corrupto é caracterizado como inimigo, sendo obrigado a colaborar ou em seu desfavor é preso preventivamente por tempo indeterminado, tendo seus direitos fundamentais violados. 3.3.1 As garantias constitucionais impedem a aplicação do Direito Penal do Inimigo? O Direito Penal do Inimigo encontra-se como a terceira velocidade no Direito Penal; de acordo com as lições de Jésus-Maria Silva Sánchez há três velocidades no Direito Penal. A primeira velocidade seria o Direito Penal clássico, que em último caso entra em ação e usa-se a pena privativa de liberdade, mas garantindo todos os direitos do agente. Na segunda velocidade encontra-se um Direito Penal mais brando, que não aplica as penas privativas de liberdade, por exemplo, os Juizados Especiais Criminais. Por último, o Direito Penal do Inimigo, que usa as penas privativas de liberdade e restringe os direitos fundamentais do infrator (GRECO, 2016). Na Teoria do Direito Penal do inimigo, Jakobs, traz a ideia de que o inimigo é aquele indivíduo que ao realizar a infração criminal se afasta do Direito de forma permanente, atua retirando a expectativa de validade da norma jurídica, não apresentando garantias cognitivas suficientes de um comportamento no futuro adequado ao Direito, logo, deverá ser neutralizado por ser um verdadeiro perigo para o Estado (HABIB, 2016). Ao neutralizar o delinquente permanente que não apresenta uma expectativa suficiente à norma jurídica, não se adequando ao Direito, tornar-se-á, na teoria do Direito Penal do Inimigo, um inimigo do Estado. Ao ser declarado inimigo, vem a perda de todos os direitos fundamentaisinerentes ao cidadão (pessoa), pois, para Jakobs, o inimigo deixa de ser cidadão, é despersonalizado e passa a ter caracterização de ser humano no estado de natureza (não pessoa), assim, contra o inimigo no estado de natureza é só coação (guerra). Portanto, surge a discussão de que o Direito Penal do Inimigo não é compatível ao Estado Democrático de Direito. Por outro lado, encontram-se argumentos de que os direitos fundamentais no Estado Democrático de Direito, que veda aplicação da teoria, não são absolutos, havendo a flexibilidade desses direitos e a possível aplicação do Direito Penal do Inimigo, sendo que já existe no ordenamento jurídico, implicitamente, a aplicação da discutida teoria. Os direitos fundamentais têm uma enorme importância no ordenamento jurídico. O seu surgimento ocorreu nas reações contra o Estado Absolutista, sendo reconhecido aos cidadãos direitos inalienáveis, invioláveis e imprescritíveis. A busca aos direitos fundamentais aconteceu em consequência do indiscriminado poder do Estado, com base na supremacia estatal e do poder soberano que cometiam abusos aos súditos, tendo A aplicação do Direito Penal do Inimigo aos crimes de corrupção: uma análise da Operação Lava Jato Página 15 como justificativa a vontade do Soberano na defesa do Estado. Assim, o surgimento dos direitos fundamentais se concretizou pela primeira vez com a independência dos Estados Unidos em 1776 e, depois, pela Revolução Francesa em 1789, sendo concebidos da mesma forma que se encontram no modelo atual. Com o Estado de Direito passou a disciplinar nas constituições os direitos fundamentais garantidos aos cidadãos. Assim, os direitos fundamentais passaram a ser imprescindíveis para o surgimento da democracia, no qual delimitou a atuação do Poder Público e evitando os abusos do Estado contra os cidadãos (SILVA, 2011). Destaca Silva (2015a), que na Constituição Federal de 1988 com base no princípio da dignidade da pessoa humana, a teoria do direito penal do inimigo não tem aplicabilidade: "A Carta Magna brasileira de 1988 assegura, conforme já referido, em seu artigo 1º, III, que a República Federativa do Brasil possui como um de seus fundamentos a dignidade da pessoa humana. O próprio artigo 5º da referida lei, em seu caput, prevê que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”, mostrando mais uma vez que a teoria do direito penal do inimigo não teria qualquer eficácia e aplicabilidade nos dias atuais (SILVA, 2015a, p. 50)." O princípio da dignidade da pessoa humana, no Estado Democrático de Direito, é o norte dos princípios e normas do ordenamento jurídico. Assim, a teoria do direito penal do inimigo, na sua essência, é inaplicável no sistema jurídico penal brasileiro, pois, a teoria considera o cidadão delinquente um inimigo que perde a personalidade de pessoa, deixando de ser cidadão, indo de encontro com o princípio da dignidade da pessoa humana, que deixa claro que o status de pessoa é inerente ao ser humano na sua existência. Valor este que não pode ser suprimido dos indivíduos em sociedade. Conforme Greco (2016), o princípio da dignidade da pessoa humana é norma hierárquica superior: "Como princípio constitucional, a dignidade da pessoa humana deverá ser entendida como norma de hierarquia superior, destinada a orientar todo o sistema no que diz respeito à criação legislativa, bem como para aferir a validade das normas que lhe são inferiores. Assim, por exemplo, o legislador infraconstitucional estaria proibido de criar tipos penais incriminadores que atentassem contra a dignidade da pessoa humana, ficando proibida a cominação de penas cruéis, ou de natureza aflitiva, a exemplo dos açoites, mutilações, castrações etc. Da mesma forma, estaria proibida a instituição da tortura, como meio de se obter a confissão de um indiciado/acusado (por maior que fosse a gravidade, em tese, da infração penal praticada) (GRECO, 2016, p. 73)." Portanto, não se viola apenas o princípio da dignidade da pessoa humana, mas também os princípios de inocência, da proporcionalidade, da culpabilidade, do devido processo legal, da legalidade, da humanidade e demais princípios básicos ao cidadão. Ao desconsiderar o cidadão como não pessoa (inimigo), conforme a teoria do direito penal do inimigo, por consequência retira todos os direitos fundamentais, sendo sancionado no direito penal do autor, sem um devido processo legal. Segundo Zaffaroni (2007), a realização de um tratamento diferenciado aos seres humanos é característica do Estado absoluto: "[...] Na teoria política, o tratamento diferenciado de seres humanos privados do caráter de pessoas (inimigos da sociedade) é próprio do Estado absoluto, que, por sua essência, não admite gradações e, portanto, torna-se incompatível com a teoria política do Estado de Direito. Com isso, introduz-se uma contradição permanente entre a doutrina jurídico-penal que admite e legitima o conceito de inimigo e os princípios constitucionais internacionais do Estado de direito, ou seja, com a teoria política deste último A aplicação do Direito Penal do Inimigo aos crimes de corrupção: uma análise da Operação Lava Jato Página 16 (ZAFFARONI, 2007, p. 11)." Assim, a teoria do Direito Penal do inimigo na sua forma de atuação, usando um Direito Penal do fato e Direito Penal do autor, na qual foi proposta pelo autor Jakobs, não tem aplicabilidade no Estado Democrático de Direito, com base nos argumentos abordados. Contudo, Silva (2011, p. 121) argumenta que “não se pode olvidar que o Direito Penal do Inimigo sempre existiu, seja em Estados Democráticos seja em Estados Absolutos, ainda que sem essa denominação específica”. Os direitos e as garantias fundamentais não são considerados absolutos, há a possibilidade de relatividade em certas ocasiões, tendo na Constituição alguns exemplos dessas flexibilidades. Na defesa dos direitos humanos, no Pacto de San Jose da Costa Rica, tem a possibilidade de suspensão de garantias no caso de guerra, perigo público ou de outras situações que ameacem a independência ou a segurança do Estado. Bem como no artigo 29 da Declaração dos Direitos Humanos das Nações unidas, dispõe que todos têm suas liberdades garantidas, mas estarão sujeitas às limitações impostas pela lei, que tem a finalidade de assegurar os direitos e as liberdades dos demais cidadãos, respeitando as imposições da moral, da ordem pública e o bem-estar social democrático. E, por fim, tem a Declaração dos Direitos e Deveres do Homem e do Cidadão da Constituição Francesa de 1795, que, no seu artigo 6º, dispõe que o cidadão que violar de forma aberta as leis se declara em estado de guerra contra a sociedade (SILVA, 2011). Pode-se acrescentar, ainda, o entendimento do Supremo Tribunal Federal decidiu que os direitos e garantias fundamentais não podem ser utilizados como escudo para proteção de práticas ilícitas, bem como não poderá utilizar do argumento para o distanciamento ou mitigação da responsabilidade civil ou penal, sob pena de desrespeito ao Estado de Direito (SILVA, 2011). Observa-se que a imposição dos direitos e garantias fundamentais poderá sofrer relativização a depender do caso concreto, quando sua aplicabilidade for fundamento para afastar ou impedir a responsabilidade civil ou penal, bem como uso indevido para práticas ilícitas que gerem impunidade, como entende o Supremo Tribunal Federal. Conforme Silva (2011, p. 121), “lógico que sem extremismos, poderão existir situações, previamente delineadas, em que haveria a necessidade de um tratamento diferenciado, mas tudo de forma razoável”. Descreve Albuquerque (2011), que é visível a aplicação da teoria do direito penal do inimigo no Direito Penal brasileiro: "É perceptível em nosso ordenamento jurídico que o Direito Penal vem sendo contaminado e entrelaçado com regras típicas do modelo de Direito Penal do inimigo, como por exemplo, o discutidoRegime Disciplinar Diferenciado e a Lei dos Crimes Hediondos; no entanto essas medidas requerem cautela e uma delimitação precisa das possíveis ações desarrazoadas, máxime o legislador penal brasileiro na edição do Código Penal (LGL\1940\2) não ter previsto parâmetros relacionados às tendências do Direito Penal moderno (ABUQUERQUE, 2011, p. 53, grifo nosso)." Alencar Filho e Alencar (2013, p. 9) ao discutir sobre as consequências da corrupção no Brasil, abordam que, “indubitavelmente, o direito penal do inimigo, se não aplicado em sua íntegra, mas de forma mitigada, é uma resposta proporcional a grandeza da problemática em tela”. Assim, conforme supradescrito, a depender da situação, em caso concreto de altíssima necessidade, a teoria do Direito Penal do Inimigo, no uso das suas ideias no tratamento mais duro ao criminoso (no Estado Democrático de Direito), há possibilidade de restrições das garantias fundamentais que impedem a aplicação do Direito Penal, fortalecendo a vigência da norma e restabelecendo a sua segurança perante a sociedade. A aplicação do Direito Penal do Inimigo aos crimes de corrupção: uma análise da Operação Lava Jato Página 17 4 Conclusão Com a evolução da sociedade, por meio da globalização e industrialização pós-Segunda Guerra Mundial, surgiram a microcriminalidade, a macrocriminalidade, bem como os primeiros fatores do enfretamento na sociedade globalizada de risco. Diante desse contexto, discutiu-se a necessidade de se recorrer a um Direito Penal mais repressivo, destacando-se, nesse aspecto, a possibilidade de aplicação do Direito Penal do Inimigo. Nos últimos anos surgiram investigações que evidenciaram muitos crimes de corrupção e sua extensão na política brasileira, praticamente um pacto oligárquico entre os representantes do povo visando o desvio de dinheiro público em benefício próprio. Uma das investigações mais conhecidas nacionalmente, nesse âmbito, é a “Operação Lava Jato”, a qual vem descortinando as fraudes envolvendo políticos e empresários de multinacionais. Dessa forma, analisou-se a compatibilidade ou incompatibilidade das garantias constitucionais com a aplicação do Direito Penal do Inimigo, sobretudo, considerando que as garantias fundamentais não podem ser um subterfúgio que impeça a aplicação da responsabilidade civil e penal. Prova disso é que a Teoria do Direito Penal do Inimigo já vem sendo aplicada não de forma integral, mas de forma mitigada, no ordenamento jurídico brasileiro, como no caso das restrições feitas pelos crimes hediondos (Lei 8.072/90 (LGL\1990\38)) e pelos crimes de organização criminosa (Lei 12.850/2013 (LGL\2013\7484)). Nessa senda, defendeu-se a ideia de que os crimes de corrupção praticados pelos políticos (crimes do colarinho branco) poderiam ser considerados atos de traição grave contra a sociedade, sobretudo por serem praticados por representantes do povo, gerando consequências tão gravosas à sociedade. Com efeito, nos termos do artigo 1º, parágrafo único, da Constituição Federal de 1988, o poder emanado pelo povo gera o compromisso de cuidar e promover os interesses da sociedade, visando o bem-estar social. No entanto, ao cometer o crime de corrupção visando a proveito próprio ou de terceiros, o parlamentar viola frontalmente a confiança depositada por meio do voto, gerando um sentimento de traição em relação àqueles que nele confiaram. Outro aspecto não menos importante que justifica a necessidade de implantação de tratamento diferenciado e mais gravoso ao crime de corrupção, é a dificuldade de investigação dos fatos delituosos praticados por agentes políticos e indivíduos que, além de exercer funções de relevância que lhes garantem certas prerrogativas e privilégios, influenciam os poderes da República das mais diversas formas. Por conseguinte, conclui-se que a aplicação da Teoria do Direito Penal do inimigo no sistema penal brasileiro de forma integral seria incompatível com as garantias e direitos fundamentais, especialmente tendo em vista o princípio da dignidade da pessoa humana. Entretanto, considerando que tais direitos e garantias fundamentais se tornam, muitas vezes, fundamentos para a mitigação da responsabilidade civil e penal, provocando no meio social sentimento de impunidade, prepôs-se a aplicação do Direito Penal do Inimigo, de forma mitigada, mediante a criação de um procedimento especial próprio para o crime de corrupção, pelo qual se restringiria as garantias e privilégios dos agentes (corruptos). Desse modo, entende-se que a criação de procedimento próprio trataria a pessoa do agente nos limites da sua culpabilidade punindo de forma mais gravosa o crime que atenta contra a sociedade, sem, contudo, desrespeitar as garantias fundamentais previstas na Constituição brasileira. Referências A aplicação do Direito Penal do Inimigo aos crimes de corrupção: uma análise da Operação Lava Jato Página 18 FILHO, José Wilhami Alencar; ALENCAR, Mª Márcia Lima de Aquino. 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