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1 ANATOMIA E FISIOLOGIA PATOLÓGICAS RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Doenças da Próstata e da Bexiga PRÓSTATA • Aspecto normal da próstata: o Órgão retroperitoneal que envolve o colo da bexiga e a uretra o Pesa aproximadamente 20g o Dividida em zona periférica, zona central, zona transicional e zona periuretral o Composta por glândulas revestidas por uma camada basal de epitélio cuboide baixa coberta por uma camada de células secretoras colunares (pode haver dobras papilares do epitélio) o Estroma fibromuscular abundante o Seu crescimento e sobrevida são controlados por andrógenos testiculares • Processos patológicos importantes: o Inflamação o Aumento nodular benigno (mais comuns) o Tumores DOENÇAS NÃO NEOPLÁSICAS DA PRÓSTATA • Inflamação (Prostatite): o Prostatite bacteriana aguda: ▪ Causada principalmente por cepas de E. coli ou outros bastonetes Gram -, enterococos e estafilococos FIGURA 21-30 Próstata adulta. A próstata normal contém várias regiões distintas, incluindo uma zona central (ZC), uma zona periférica (ZP), uma zona de transição (ZT) e uma zona periuretral. A maioria dos carcinomas surge da zona periférica e pode ser palpável durante o exame digital do reto. A hiperplasia nodular, em contraste, surge a partir da zona de transição situada mais centralmente e produz frequentemente obstrução urinária. ROBBINS FIGURA 21-31 Glândula prostática benigna com camada de células basais e camada de células secretoras. 2 ANATOMIA E FISIOLOGIA PATOLÓGICAS RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Infecção geralmente via refluxo intraprostático de urina ❖ Pode ocorrer por via linfo-hematogênica de infecções distantes ❖ Pode ocorrer após manipulações cirúrgicas da uretra ou próstata (Ex.: cateterização, citoscopia, dilatação uretral ou ressecção da próstata) ▪ Manifesta-se por febre, calafrios e disúria ▪ A próstata fica extremamente mole e sensível ao exame retal ▪ O diagnóstico pode ser confirmado por cultura de urina (biópsia pode provocar sepse) ▪ Infiltrado inflamatório principalmente neutrofílico ▪ Pode aparecer como pequenos abscessos disseminados, grandes áreas de necrose focal coalescentes ou edema difuso, congestão e ecimento supurativo de toda a glândula o Prostatite bacteriana crônica: ▪ Causada pelas mesmas bactérias da prostatite aguda ▪ Difícil diagnóstico e tratamento ▪ Pode ser assintomática ou apresentar dor lombar, disúria, desconforto perineal e suprapúbico ▪ Aparece de modo insidioso e sem causa desencadeante óbvia ▪ Normalmente associado a uma história de infecções recorrentes do trato urinário (Antibióticos penetram pouco na próstata → Bactérias permanecem em seu parênquima → Infecções recorrentes) ▪ Leucocitose em secreções prostáticas e culturas bacterianas positivas confirmam o diagnóstico o Prostatite não bacteriana crônica: ▪ Forma mais comum de prostatite ▪ Etiologia desconhecida ▪ Sinais e sintomas iguais os da bacteriana crônica, mas sem história recorrente de infecções ▪ Secreção prostática com mais de 10 leucócitos por campo de grande aumento, mas cultura negativa o Prostatite granulomatosa: ▪ A instilação de BCG na bexiga para tratamento de câncer é a principal causa ❖ Cepa de micobactéria atenuada que origina um quadro semelhante ao de tuberculose sistêmica ❖ Granuloma sem importância clínica (não precisa tratar) ▪ Pode ocorrer por infecção fúngica (principalmente em imunossuprimidos) ▪ Pode ser inespecífica (relativamente comum) por reação a secreções de ductos e ácinos rompidos • Hiperplasia prostática benigna (HPB) / Hiperplasia nodular da próstata / Hiperplasia fibroadenomatosa: o Doença prostática benigna mais comum em homens com mais de 50 anos ▪ Muitos apresentam sintomas moderados a graves (30% dos homens brancos > 50 anos nos EUA) o Há uma hiperplasia nodular do estroma prostático e células epiteliais ▪ Grandes nódulos bem nítidos na região periuretral da próstata ▪ Podem comprimir e estreitar o canal uretral → Obstrução parcial ou completa de uretra 3 ANATOMIA E FISIOLOGIA PATOLÓGICAS RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o Não é considerada lesão pré-maligna o A evidência histológica é comum e aumenta a incidência com a idade (20% aos 40 anos → 90% aos 80 anos) ▪ Apenas 10-25% dos homens com evidência microscópica apresentarão sintomas clínicos o Etiologia e patogenia: ▪ Acredita-se que origina de uma redução da morte celular, acumulando células senescentes ▪ A Di-hidrotestosterona (DHT) é o principal andrógeno na próstata ❖ Formada a partir da testosterona pela ação da 5α-redutase tipo 2 (encontrada em células do estroma) ❖ Fora da próstata, a DHT pode ser formada pela ação da 5α-redutase tipo 1 (fígado e pele) ▪ DHT → Liga ao receptor de andrógeno (RA) nas células prostáticas estromais e epiteliais → Estimula a transcrição de fator de crescimento de fibroblastos (FGF) e fator transformante do crescimento (TGF-β) ❖ Aumentam a proliferação de células estromais ❖ Diminuem morte das células epiteliais ▪ Os FGFs são reguladores parácrinos de crescimento epitelial → Crescimento da próstata ▪ O TGF-β é agente mitogênico de fibroblastos e outras céls. mesenquimais, mas inibe proliferação epitelial o Morfologia: ▪ A próstata chega a pesar entre 60 e 100 g ▪ Ocorre quase exclusivamente na zona de transição (ZT) da próstata ▪ Nódulos inicialmente de células estromais e depois quase predominantemente epiteliais ▪ Os aumentos nodulares podem atingir a parede lateral da uretra, comprimindo-a (orifício em fenda) ▪ Pode se projetar para cima até o assoalho da uretra (hipertrofia do lobo mediano) ▪ Os nódulos variam em cor e consistência dependendo do seu conteúdo ❖ Principalmente glândulas: Nódulos amarelo-rosados e moles, com líquido prostático branco-leitoso ❖ Principalmente estroma fibromuscular: Nódulos cinza-pálidos e duros, sem saída de líquido ▪ Aspecto microscópico de proliferação glandular ❖ Agregados de glândulas cisticamente dilatadas revestidas por uma camada de células colunar interna e uma camada externa cuboide ou achatada ❖ Focos de metaplasia escamosa podem aparecer próximo a infartos (mimetiza carcinoma urotelial) ▪ Biópsia por agulha normalmente não é utilizada pelo tamanho e por não conseguir amostras da ZT o Aspectos clínicos: ▪ A obstrução urinária é o principal problema clínico ▪ Aumento da resistência ao fluxo urinário → Hipertrofia e distensão da bexiga e retenção urinária ❖ Reservatório de urina residual na bexiga → Maior risco de infecção bacteriana da bexiga e rins ❖ Retenção urinária aguda e súbita requer cateterização de emergência para alívio ▪ Há aumento da frequência urinária, noctúria, dificuldade em iniciar e interromper a urina, gotejamento pós-miccional e disúria 4 ANATOMIA E FISIOLOGIA PATOLÓGICAS RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Casos leves podem ser tratados sem terapia farmacológica ou cirúrgica ❖ Diminuição da ingestão de líquidos (especialmente antes de dormir) ❖ Moderação da ingestão de álcool e cafeína ❖ Programas de micção controlada ▪ Casos moderados a graves podem ser tratados com terapia farmacológica ❖ α-bloqueadores* → Inibem receptores α1-adrenérgicos → Diminuem o tônus da musculatura lisa ❖ Agentes inibidores da síntese de DHT (Ex.: inibidores da 5-α-redutase) → Redução física da próstata ▪ Casos resistentes à terapia farmacológica podem ser tratados com procedimentos mais invasivos ❖ Ressecção transuretral da próstata (RTUP) é padrão-ouro (porém alta morbidade e custo) ❖ Ultrassom focalizado de alta intensidade ❖ Terapia a laser ❖ Hipertermia ❖ Eletrovaporização transuretral ❖ Ablação por agulha transuretral usando radiofrequência BEXIGA • Aspecto normal da bexiga: o É revestida pelo urotélio (um epitélio de transição), junto com as pelves renais, ureteres e parte da uretra ▪ 5 ou 6 camadas de células com núcleos ovais FIGURA21-33 Hiperplasia nodular da próstata. A, Nódulos bem definidos da hipertrofia prostática benigna comprimem a uretra, que passa a ter uma luz em fenda. B, Uma visão microscópica de toda a próstata mostra nódulos das glândulas hiperplásicas em ambos os lados da uretra. C, Em maior aumento, a dupla população celular típica: podem ser vistas a camada de células colunares internas e a camada de células basais achatadas externas. 5 ANATOMIA E FISIOLOGIA PATOLÓGICAS RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ 1 camada superficial de células grandes e achatadas (“em guarda-chuva”), com citoplasma abundante o O epitélio repousa sobre uma membrana basal bem desenvolvida e abaixo dela vem a lâmina própria o A lâmina própria possui feixes de músculo liso que formam uma muscular da mucosa descontínua o Mais profundamente há a muscular própria, com feixes musculares maiores e bem definidos (M. detrusor) • Ureteres e bexiga: o Os ureteres entram na bexiga em um curso oblíquo o A musculatura vesical que circunda o orifício ureteral atua como válvula, bloqueando o refluxo vesicoureteral • Tratos genitais e bexiga: o Relação íntima do trato genital feminino com a bexiga ▪ Pode ocorrer disseminação de doenças de um trato para o outro ▪ Prolapsos do útero levam junto o assoalho da bexiga, que sofre protrusão para a vagina (cistocele) o No trato genital masculino as vesículas seminais e a próstata estão imediatamente posteriores e inferiores ao colo da bexiga ▪ O aumento da próstata pode causar obstrução urinária DOENÇAS NÃO NEOPLÁSICAS DA BEXIGA • Inflamação da bexiga (cistite): o Ocorre mais no sexo feminino (uretra mais curta) o Pode causar pielonefrite bacteriana por disseminação retrógada de microrganismos para os rins o Pode ser complicação de algo associado a estase urinária (Ex.: aumento prostático, cistocele, cálculo, tumor) o Cálculos vesicais, obstrução urinária, DM, instrumentação e imunodeficiência são fatores predisponentes o Causas de cistite: ▪ Principalmente coliformes (E. coli, Proteus, Klebsiella e Enterobacter) ▪ Tuberculose renal (cistite tuberculosa) ▪ C. albicans ou agentes criptocócicos (principalmente em imunossuprimidos ou uso de AB de longo prazo) ▪ Esquistossomose (S. haematobium), vírus (Ex.: adenovírus), clamídia e micoplasma (menos comuns) ▪ Irradiação da região da bexiga (cistite por radiação) o Morfologia: ▪ Pode causar uma inflamação aguda ou crônica ▪ Na cistite aguda há hiperemia da mucosa e infiltrado neutrofílico, às vezes associado a exsudato ▪ Medicamentos antitumorais citotóxicos ou infecção por adenovírus podem causar cistite hemorrágica ▪ A persistência da infecção bacteriana leva à cistite crônica (infiltrados inflamatórios mononucleares) ▪ Há outros padrões de cistite crônica que nem sempre estão associados à infecção ❖ Cistite folicular: Presença de folículos linfoides na mucosa da bexiga e parede subjacente 6 ANATOMIA E FISIOLOGIA PATOLÓGICAS RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ❖ Cistite eosinofílica: Infiltração de eosinófilos submucosos (inflamação subaguda inespecífica ou manifestação de um distúrbio alérgico sistêmico) o Tríade de sintomas da cistite: ▪ Frequência urinária ▪ Dor abdominal baixa (região da bexiga ou suprapúbica) ▪ Disúria (dor ou queimação ao urinar) • Formas especiais de cistite: o Cistite intersticial / Síndrome da dor pélvica crônica: ▪ Cistite crônica ▪ Ocorre mais frequentemente no sexo feminino (entre 40 a 60 anos) ▪ Etiologia desconhecida ▪ Avaliação, diagnóstico e tratamento difíceis ▪ Manifesta-se clinicamente por dor suprapúbica intermitente geralmente intensa ▪ Há frequência urinária, urgência, hematúria e disúria ▪ Achados citoscópicos de fissuras e hemorragias puntiformes na mucosa da bexiga após distensão luminal ▪ Presença característica de muitos mastócitos na mucosa (na lâmina própria, embicado na camada musc.) ▪ Pode estar associada com úlceras mucosas crônicas (úlceras de Hunner) na fase tardia/clássica ▪ Tardiamente pode aparecer fibrose transmural, levando à bexiga contraída ▪ Achados patológicos inespecíficos → Biópsia utilizada principalmente para descartar carcinoma in situ o Malacoplaquia: ▪ Reação inflamatória crônica distinta que parece resultar de defeitos adquiridos na função dos fagócitos ▪ É mais comum no sexo feminino ▪ Surge numa infecção bacteriana crônica, principalmente por E. coli ou por espécies de Proteus ▪ Formam-se na bexiga placas mucosas ligeiramente elevadas, amarelas e moles, de 3 a 4 cm de diâmetro ❖ Preenchidas por grandes macrófagos esponjosos, células gigantes multinucleadas e linfócitos ▪ Defeitos na função fagocítica → Macrófagos sobrecarregados com produtos bacterianos não digeridos ▪ Macrófagos com citoplasma granular abundante ❖ Fagossomos com resíduos membranosos e particulados de origem bacteriana ❖ Depósito de cálcio em lisossomos aumentados (Corpos de Michaelis-Gutmann) FIGURA 21-4 Cistite com malacoplaquia, mostrando exsudato inflamatório e extensas placas planas. 7 ANATOMIA E FISIOLOGIA PATOLÓGICAS RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Há lesões semelhantes na próstata, epidídimo, colón, pulmões, ossos e rins o Cistite polipoide: ▪ Irritação da mucosa da bexiga ▪ Pode ser causado por qualquer agente lesivo, principalmente por cateteres de demora ▪ Há um acentuado edema da submucosa → Urotélio é projetado em estruturas polipoides bulbosas largas ▪ Pode ser confundida com carcinoma urotelial papilar • Lesões metaplásicas: o Cistite glandular e cistite cística: ▪ Lesões comuns da bexiga ▪ Presença de ninhos de urotélio dentro da lâmina própria (ninhos de Brunn) ▪ As células epiteliais no centro do ninho sofrem metaplasia ❖ Cistite glandular: Células com aparência cuboide ou colunar ❖ Cistite cística: Células se retraem e produzem espaços císticos revestidos por urotélio achatado ▪ Normalmente as duas formas coexistem (cistite glandular e cística) ▪ Pode ocorrer metaplasia intestinal/colônica na cistite glandular o Metaplasia escamosa: ▪ Resposta a uma lesão → Urotélio substituído por epitélio escamoso não queratinizante (mais resistente) ▪ Deve ser diferenciado do epitélio escamoso glicogenado normalmente encontrado em mulheres FIGURA 21-5 Malacoplaquia, coloração do ácido periódico de Schiff (PAS). Observe os grandes macrófagos com citoplasma granular PAS-positivo e vários corpos de Michaelis-Gutmann densos e redondos, cercado por espaços claros arte atuais, no campo médio superior (seta). 8 ANATOMIA E FISIOLOGIA PATOLÓGICAS RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o Adenoma nefrogênico: ▪ Lesão incomum ▪ Resulta da cobertura de células tubulares renais em locais de urotélio lesado ❖ Pode infiltrar a lâmina própria e o músculo detrusor superficial (mimetizando processo maligno) ▪ Urotélio de revestimento pode ser substituído por epitélio cuboide (pode assumir crescimento papilar) • Obstrução: o A causa mais comum em homens é o aumento da glândula prostática devido à hiperplasia nodular o É menos comum em mulheres e a causa mais frequente é cistocele da bexiga o Pode ser causada por outras causas menos frequentes ▪ Estenoses uretrais congênitas e inflamatórias ▪ Fibrose inflamatória e contração da bexiga ▪ Tumores vesicais ▪ Invasão do colo da bexiga por tumores originados em órgãos contíguos ▪ Obstruções mecânicas causadas por corpos estranhos e cálculos ▪ Lesão da inervação que controla a contração da bexiga (bexiga neurogênica) o Morfologia: ▪ Inicialmente ocorre hipertrofia da musculatura lisa → Espessamento da parede da bexiga ▪ Hipertrofia progressiva → Feixes musculares aumentam muito → Trabeculação da parede da bexiga ▪ Ao longo do tempo são formadas criptas que podem converter em divertículos ▪ A bexiga pode ficar extremamente dilatada com parede adelgaçada e sem trabeculações (em obstrução aguda ou fases terminais,quando os mecanismos de reflexo estão deprimidos) FIGURA 21-13 Hipertrofia e trabeculação da parede da bexiga secundária a hiperplasia polipoide da próstata.
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