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PAPEL SOCIAL DA EQUIPE DIRETIVA DA ESCOLA PUBLICA COM RELAÇÃO À INDISCIPLINA ESCOLAR CORREIA, Marinêz Luiza 1 LINHARES, Clarice2 Resumo Este trabalho apresenta um recorte de uma investigação do papel social da equipe diretiva da escola com relação à indisciplina escolar, realizado no município de Chopinzinho, estado do Paraná,no Colégio Estadual Jose Armim Matte.Apresenta especificamente os resultados da investigação empírica sobre indisciplina escolar, realizada com 2 (duas) turmas de aluno do ensino fundamental do referido colégio. Para esse artigo a proposta teve como objetivo desvelar o papel social da equipe diretiva da escola pública contemporânea diante do fenômeno da indisciplina escolar e, especificamente, investigar que ações perfazem o papel social da equipe diretiva da escola pública quando este trata da indisciplina no ambiente escolar. Utilizou-se a pesquisa qualitativa, descritiva, direcionada a compreensão do fenômeno social no ambiente escolar, com coleta de dados por meio de observação e intervenção pedagógica. Os resultados confirmam que o papel social da equipe diretiva da escola pública contemporânea diante do fenômeno da indisciplina escolar implica no exercício de diferentes e de múltiplas ações. A essas ações determina amplo olhar sobre as ocorrências de indisciplina na escola, buscando elementos que contribuam para o seu conhecimento e que lhe confiram subsídios para a análise dos casos. O raio da ação da equipe diretiva da escola pública vai além do ambiente escolar quanto à função administrativa; coloca-se diretamente no âmago das questões que interessam ao conjunto da escola. Com isso a equipe diretiva da escola pública exerce o papel social na hora certa, quando requerido pelos professores, com os funcionários e com os alunos, como parte integrante e atuante na resolução dos problemas da escola. Palavras chave: Educação; Equipe diretiva; Papel social; Indisciplina escolar; Escola pública. Abstract This paper presents a cutting from an investigation of the social role of team policy with regard to the school indiscipline school, held in the city of Chopinzinho, state of Parana, in Jose State College Armim Matte. Presents specifically the results of 1 Professora de Matemática, Graduada pelo CEFET – Pato Branco; Especialista em Matemática, pela UNICENTRO – Guarapuava, mestre na área de educação pela Universidade Tuiuti do Paraná, professora PDE 2007. 2 Professora Orientadora - PDE 2007 – UNICENTRO – Guarapuava. 1 empirical research on school indiscipline, performed with two (2) classes of elementary school students of that college. For this article the proposal aimed to reveal the role of social policy team of public school before the contemporary phenomenon of school indiscipline and specifically to investigate about the actions that make up the social role of director of public school when it comes to indiscipline on the environment school. Using the qualitative research, descriptive, directed at understanding the social phenomenon in the school environment, with collecting data through observation and educational intervention. The results confirm that the role of social policy team of public school before the contemporary phenomenon of school indiscipline in the performance of different means and multiple actions. In these actions determines broad look at the occurrences of indiscipline in schools, seeking elements that contribute to your knowledge and giving him allowances for the analysis of the cases. The radius of action of the team's public school policy goes beyond the school environment as the administrative function, rather than director of the office is placed directly into the heart of the issues that matter to all of the school. With this policy the team's public school carries the social role at the right time, when requested by teachers, with officials and with students, as integral and active part in solving problems at school. Key words: Education; team policy, social role; Indiscipline school, Public School. 1 Introdução O objeto de estudo é o papel social da equipe diretiva da escola pública atual diante do fenômeno da indisciplina escolar e dedica-se a desvelar como se dá a construção deste papel. Compreende que a indisciplina escolar apresenta-se na contemporaneidade como um fenômeno que cada vez mais preocupa professores, pais, diretores e equipes pedagógicas das escolas, sejam estas públicas ou privadas e, em sua constatação, conforme os atores da escola, aparecem múltiplas conotações. Com relação às expectativas dos atores da escola quanto ao papel da equipe diretiva da escola pública, quando o assunto é a indisciplina escolar, Paro (1996b, p. 101) constatou que “a concepção tradicional é de que o diretor é alguém para se temer por ser a última instância disciplinar”. Esta constatação não advém da contemporaneidade, pois em registros de atas de escolas em décadas passadas é possível verificar que esta afirmação fundamenta-se em trajetórias institucionalizadas historicamente no processo de construção social das realidades escolares. O trabalho da equipe diretiva da escola, no passado, constituía-se em repassar informações, controlar, supervisionar e dirigir a escola de acordo com 2 normas propostas pelo sistema de ensino, haja vista ser esta a função preponderante que a sociedade e o modelo político pedagógico dele esperava. A escola, através destes dirigentes, cumpria sua função, moldava e coagia comportamentos, sendo considerado uma boa equipe diretiva aquela que cumprisse essas obrigações plenamente, de modo a garantir que jamais se fugisse ao estabelecido pelas normas das hierarquias superiores, representadas pelo Ministério da Educação, Secretarias de Estado de Educação, Representações Legais, Delegacias, Coordenadorias de Educação, entre outras instâncias oficiais. Cabe ressaltar que as tensões, as contradições e os conflitos não tinham lugar para reflexões ou discussões nos espaços escolares formais cotidianos: eram simplesmente eliminados ou ignorados. A escola era lugar harmônico. Por isso, a intenção é responder a questão: qual o papel social exercido pela equipe diretiva da escola pública com relação à indisciplina escolar? Especificamente aquela ocorrida durante a prática pedagógica do professor e trazida ao conhecimento do diretor da escola através destes ou da equipe pedagógica da escola. Objetiva-se portando, usando-se da intervenção pedagógica nas turmas elencadas, o desvelamento do papel social da equipe diretiva da escola pública contemporânea diante do fenômeno da indisciplina escolar e investigar que ações perfazem este papel quando este trata da indisciplina no ambiente escolar. A metodologia do estudo escolheu o cotidiano escolar como o espaço para a investigação; a opção metodológica foi de cunho qualitativo. A pesquisa é descritiva, direcionada à compreensão do fenômeno social no ambiente escolar da indisciplina. Para a coleta de dados foram distribuídos 15 ( quinze) questionários para os professores das referidas turmas e 16 (dezesseis) para os alunos das mesmas. Após a realização dos questionários, os dados coletados sofreram analise e as propostas sugeridas foram colocadas em prática, para posteriormente se proceder na aferição dos resultados. Para a análise dos dados obtidos na pesquisa foram observadas etapas denominadas de pólos cronológicos: a pré-análise; a exploração do material; o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação (BARDIN, 1977). 3 2 A investigação sobre o papel social da equipe diretiva nas duas series do Colégio Estadual José Armim Matte do município de Chopinzinho, Paraná Os resultados da pesquisa foram divididos em dois grupos formados pelos professores e pelo grupo de alunos. Os professores que responderam os questionário foram nominados de P1, P2,...Pn, totalizando 15 professores das turmas escolhidas e os alunos de A1, A2...An, num total de 16 alunos, escolhidos aleatoriamente . Na pesquisa realizada com os grupos,partindo do pressuposto de que a equipe diretiva da escola têm acesso às informações sobre ocorrência de indisciplina, foi perguntado sobre indisciplina e demais questões que circundam o tema. As respostas foram categorizadas e são mostradas a seguir: A.1) O que é considerado indisciplina no grupo de professores: “Indisciplina é a falta de respeito com as pessoas (professores); falar ao mesmo tempo, sair da carteira, gritar, entrar, e sair da sala sem respeitar regras combinadas” (P1) “Atrapalhar o andamento das atividades...” (P2) “Atitudes que atrapalhem o bom andamento das atividades das aulas” (P3) A.2) O que é considerado indisciplina no grupo de alunos: “É bagunçar, não fazer nada” (A1) “Quando o aluno e o professor não se respeitam” (A2) “Falta de interesse tanto dos alunos como nos professores, no caso dos professores seria não explicar bem a matéria e nos alunos não se interessarem em aprendê-la”. (A3) B1) O motivo específico para a indisciplina da turma na visão dos professores “Desinteresse no assunto estudado”(P1) “Objetivos e perspectivas de vida ainda não muito claros” (P2) “Falta de base dos conhecimentos anteriores” (P3) “A idade é um dos fatores e a falta da postura familiar em não repassar os valores que deveria repassar”(P4) B2) O motivo específico para a indisciplina na turma na visão dos alunos: 4 “Em geografia o professor manda só fazer resumos e não explica totalmente a matéria, e na hora de corrigir os trabalhos corrige rapidamente que se percebe que nem foi lido. Em inglês a professora explica bem, mas nos dá tema de 4ª serie que pode nos prejudicar futuramente e a falta de apostilas de inglês é muito ruim para nós”(A1) “A professora não tem domínio da sala” (A9) “Tem aulas em que ficamos muito tempo sem fazer nada, ou a atividade é pouco para a aula inteira, ai a gente bagunça”. (A3) C1) O que os professores sugerem para amenizar ou refrear a indisciplina: “Diálogo constante, palestras e filmes que suscitem os valores” (P1) “Numero reduzido de alunos em sala de aula” (P14) “Formar o contrato pedagógico com alunos, nele colocam-se todos os comportamentos que espera-se”(P9) C2) O que os alunos sugerem para amenizar ou refrear a indisciplina: “Não deixar tempo sem fazer nada” (A6) “Dar aulas diferentes e preparar melhor estas aulas” (A2) “Ter regras e leis claras e que sejam cumpridas” (A12) “Aplicar penalidades nos alunos que fazem bagunça” (A4) D1) Liste ações que você professor delega a equipe diretiva da escola com relação ao enfrentamento da indisciplina escolar. “Diminuir o número de alunos em sala de aula” (P1) “Oportunizar momentos de reflexão e até mesmo cursos na formação dos professores que tratem do assunto” (P4) “Valorização de todo o corpo docente com metas e objetivos traçados em conjunto com a comunidade escolar”. (P6) D2) Liste ações que você aluno delega a equipe diretiva da escola com relação ao enfrentamento da indisciplina escolar. “Chamar pais dos alunos que são indisciplinados, e fazer com que tomem providencias” (A10) “Aplicar punições severas de expulsão e repreensão” (A8) “Mudança de sala e de escola se não houver mudança de atitude” (A7) 5 Após estes relatos, partiu-se para conversação com a equipe diretiva da escola enunciada, onde sugeriu-se uma proposta de intervenção para aplicar as medidas sugeridas. A equipe diretiva auxiliou no diagnostico desta indisciplina e na proposta de enfrentamento que foi realizada em 8 aulas com as atividades: a) vídeo educativo b) Musica c) Formação do contrato pedagógico d) Atividades recreativas e) Atividades de recorte e colagem explicitando os valores f) Escrita de textos que denotassem os valores que gostariam de ter presentes em sala de aula. Desta forma as medidas tomadas pela equipe diretiva da escola revelam que o papel desta compreende o aprendizado de rotinas que se tornam necessárias para o desempenho exterior, conforme propuseram Berger e Luckmann (2002), incluindo este aprendizado nas várias camadas cognoscitivas, e mesmo afetivas, do corpo do conhecimento que é diretamente e indiretamente adequado a este papel. Segundo levantamentos feitos por Paro (1996b) estar na equipe diretiva de uma escola pública está além da dimensão estritamente operativa, significa o desempenhando um papel social, longe de uma mera operacionalização, mas, de desvelamento dos verdadeiros propósitos a que se propõe a educação. Paro assim indica: [...] administrar uma escola pública não se reduz à aplicação de uns tantos métodos e técnicas, importados, muitas vezes, de empresas que nada têm a haver com os objetivos educacionais. [...] administrar a escola exige a permanente impregnação de seus fins pedagógicos na forma de alcançá-los (PARO, 2000, p. 07). Verifica-se, desta categoria, o seguinte: o professor é o primeiro membro da escola que se depara com a ocorrência de indisciplina e a ele cabe tomar medidas para sua resolução. O risco de que essa ocorrência fuja ao seu controle levará ao seu próprio descrédito como educador. Na condição da equipe diretiva , a delegação dessa responsabilidade ao professor é um ato pedagógico e agregador, ao não dissociar o aluno dos motivos (supostos) que encontra em sala de aula; ali os encontra, ali devem ser resolvidos. 6 No tocante à conversa com o aluno, os relatos apontam que para os casos de indisciplina, esta é a primeira medida a ser tomada, isto também se constitui em ato pedagógico, pois bem disseram Berger e Luckmann (2002) que as instituições procuram preservar as suas definições das tentativas individuais de mudanças ao pretenderem ter autoridade sobre o indivíduo. Ao manter o professor como responsável pela resolução da ocorrência de indisciplina na escola, são observadas as inter-relações entre a instituição e suas normas, o professor e o seu trabalho, e o aluno como protagonista de um papel não isento de importância; a escola espera dele ações regradas e instituídas; o aluno espera da escola a similaridade de sua vida. Quanto ao uso das regras e regulamentos para a resolução de ocorrência de indisciplina na escola evidencia-se ainda mais a institucionalidade da escola na formatação e distribuição de normas de conduta por parte de seus membros. Este entendimento é reforçado pela perspectiva de Berger e Luckmann (2000, p. 38) quando os autores evidenciam que: Apreendo a realidade da vida diária como uma realidade ordenada. Seus fenômenos acham-se previamente dispostos em padrões que parecem ser independentes da apreensão que deles tenho e que se impõe a minha apreensão. A realidade da vida cotidiana aparece já objetivada, isto é, constituída por uma ordem de objetos que foram designados como objetos antes de minha entrada em cena. Assim, a expectativa da escola desde o momento em que o aluno assume o desempenho do papel de educando, é a de que ele também assuma as normas institucionais que essa escola impõe. O contrário é visto como indisciplina e a ela são dirigidas essas normas. Na escola, enquanto condição mantida sob regras e legislações, é verdadeira a compreensão de que a escola mantém controle sobre seus alunos, como respaldo daquilo que está institucionalizado: As crianças devem ‘aprender a comportar-se’ e, uma vez que tenham aprendido, precisam ser mantidas na linha. O mesmo se dá naturalmente com os adultos. [...] Quanto mais a conduta é institucionalizada tanto mais se torna predizível e controlada. Se a socialização das instituições foi eficiente, é possível aplicar completas medidas coercitivas, econômica e seletivamente (BERGER e LUCKMANN, 2002, p. 89). Garcia (2005) lembra que professores, alunos, pais e diretores constroem a noção de escola que habitam, um processo de construção que inclui os papéis a 7 serem exercidos por cada um dos atores. A participação da família na construção social desse espaço educacional deve ser patente e se constituir em uma das estratégias pedagógicas do diretor. Desta maneira, também é papel da escola desenvolver diretrizesdisciplinares de base pedagógica, intensa e legitimada pela sociedade e comunidade escolar, em consonância com o projeto político-pedagógico, incluindo orientações regras e procedimentos disciplinares, as quais ganham legitimidade de acordo com seu desenvolvimento, onde reside também a atuação da equipe diretiva. Na constatação de Garcia(2005) a indisciplina requer de todos os atores da escola medidas preventivas e de enfrentamento, portanto, ano cabe somente aos professores ou a equipe diretiva apontar maneiras de solucionar a indisciplina que vige na relação professor aluno, antes sim, pensar indisciplina na escola é um processo coletivo. Aos atores escolares, no caso da equipe diretiva da escola, incidirá a alteração de papéis tradicionais, pois ele está sendo chamado a desempenhar novos papéis no interior da escola propiciando ao meio escolar um pensamento reflexivo, onde existe também a descentralização e a ruptura com um papel somente administrativo; ele passa a ser visto como um elemento de apoio pedagógico quando acontecem as ocorrências de indisciplina. Em consonância, nas entrevistas, está o que Garcia (2005, p.88) já havia alertado de que “a solução para a indisciplina passaria pela modificação de esquemas de pensamento socialmente construídos nas escolas”, isto se dá quando a equipe diretiva da escola usa de variados recursos pedagógicos e sociais para o enfrentamento da mesma. A equipe diretiva da escola evidencia em suas opiniões que a indisciplina exige a mobilização dos atores escolares, levando-os a um processo de interação, não só das ocorrências de indisciplina, a investigação das causas que levam o aluno a praticar atitudes que geram o desconforto nas relações em sala de aula. Estes relatos evidenciam ser a indisciplina reflexo de uma construção individual e coletiva daquele meio social, reforçando que a sua constatação implica na ordem institucional que passa a alimentar uma rede: professor, pedagogo, diretor. É desta maneira que por esta rede passa a fluir a diversidade de constatações da realidade e de identidades subjetivas, promovendo a conscientização do indivíduo, ou seja, é 8 assim que se reforça a ressignificação de um papel, conforme anunciado por Berger e Luckmamnn (2002, p. 105), “as instituições incorporam-se a experiência do indivíduo por meio de papéis”. O professor colabora grandemente quando mantêm clareza, firmeza quanto à postura em relação à disciplina. Seu papel como professor é legitimado socialmente e a sua função é formar novas gerações, legitimando a sua autoridade pelo grupo- classe. (VASCONCELLOS, 2004). Considerando que as instituições requerem e determinam papéis para os indivíduos, cuja função primordial reside no fato de controlar a institucionalização e as condutas dos indivíduos que fazem parte dela, os papéis credenciam os executores ao mesmo tempo em que servem de referência para os controles. A disciplina escolar, por isso, deve ter enfoque no sentido social e individual, sob o risco de não serem desenvolvidas adequadamente ações pedagógicas que representem coerência com o mundo real da criança que neste ambiente se insere, isto porque também é fato que, à criança, a estranheza de coisas que não compreende e que lhe é imposta pode levá-la a praticar atos considerados indisciplinados, mas que são fruto de seu desajustamento no ambiente escolar, levando-o a despertar diferentes sentimentos, que incluem a apatia, a agressão e mesmo a evasão (ABUD e ROMEU, 1989, p. 82-3). Referenciando dados da literatura compreende-se que as exigências legais sobre os alunos na escola, evitando seu afastamento, suas faltas e obtenção de notas negativas se traduz em um número significativo de alunos com motivações, expectativas e competências diversas daquelas propostas pelas exigências escolares, viabilizando a ocorrência de conflitos que têm como foco questões como flagelos sociais que incluem a droga, AIDS, desemprego, desenraizamento familiar, e que se agravam por causa de situações já presentes. Criam-se situações que geram dificuldade de comunicação entre alunos e professores e mesmo entre os próprios alunos, carência de atenção e de afeto, bem como de fatores que emergem da ausência de significado da escola, se traduzindo em ignorância ou desleixo quanto aos padrões comportamentais de alguns grupos (MAGALHÃES e FERNANDES, 1999, p. 11). 9 O fato de a indisciplina ser considerada uma construção social da realidade onde ela acontece e sendo resultado dos condicionamentos sócio-culturais, já havia sido anunciada por Abud e Romeu (1989), pois ela assume diferentes entendimentos, em momentos (contextos) e pessoas diferentes e a interpretação do senso comum sobre a disciplina desejada se limita a manifestações exteriores de comportamento tradicionalmente visto como disciplinado. Portanto, é na qualidade da equipe diretiva da escola pública que os entrevistados se posicionaram diante de ocorrências de indisciplina na escola como atores de papéis diferenciados entre si, mas interativos no âmbito pedagógico e administrativo, sem questionar o próprio ingresso a novas cenas que se iniciam na escola, assumindo e moldando-se socialmente neste ambiente. 3 Considerações finais Tendo como objeto de estudo da equipe diretiva da escola pública diante do fenômeno da indisciplina escolar, compreendendo-a como um fenômeno que requer a atenção de professores, familiares, pais, diretores e equipes pedagógicas das escolas, face aos conceitos que regem a sua percepção e compreensão: complexidade, amplitude, ambivalência e ambigüidade. Especificamente, objetivou investigar que ações perfazem o papel social da equipe diretiva da escola pública quando este trata da indisciplina no ambiente escolar. Dos resultados é possível afirmar que o papel social da equipe diretiva da escola pública diante do fenômeno da indisciplina escolar implica no exercício de diferentes e de múltiplas ações, determinando-lhe a necessidade de um olhar amplo sobre as ocorrências de indisciplina na escola, buscando elementos que contribuam para o seu conhecimento e que lhe confiram subsídios para a análise dos casos. Seu raio de ação extrapola o âmbito da escola quanto à função administrativa, isentando-o de serem administradores de gabinete, mas o coloca diretamente no âmago das questões que interessa ao conjunto da escola. Isso possibilita que a equipe diretiva da escola pública exerça o papel social na hora certa, quando requerido pelos professores, com os funcionários e com os alunos, como parte integrante e atuante na resolução dos problemas da escola. 10 A equipe diretiva da escola pública implementa práticas pedagógicas em situações traduzidas como sendo de indisciplina. Uma das ações segue regras, normas e regulamentos da escola, no tocante aos documentos, como o regimento interno da escola que dispõe sobre medidas disciplinares, como o livro de atas, e mesmo transferência de alunos, categorizada na pesquisa de campo como sendo atitudes formais, ou seja, são os instrumentos utilizados pelo diretor nas ações disciplinares. Interativamente o desenvolvimento do papel social da equipe diretiva da escola pública inclui o trabalho com a equipe pedagógica, com os professores, com os pais dos alunos e, especialmente, com toda a comunidade. O enfoque dessas ações visa à prevenção, intervenção social da equipe diretiva diretamente na sala de aula e nos ambientes de ocorrência de indisciplina, bem como o envolvimento em todos os setores da escola. Com estas ações sociais a equipe diretiva da escola pública se dissocia da restrição às questões burocráticas e administrativas, delega tais funções a secretárias e auxiliares e se dedica aos problemas que interage com a comunidade e com os alunos como um todo, atuando democraticamente e mais proximamente aos alunos. O caso da indisciplina na escola é, portanto, um tema prevalente na educação e deve ser estudado em todos os seus aspectos, no sentido desua prevenção, ou seja, se a socialização é construída no ambiente escolar, o acesso à escola faz do aluno um construtor de sua personalidade e de seu caráter. Os resultados obtidos na proposta de intervenção realizada nas duas turmas comprovam, que está sendo exigido da equipe diretiva da escola publica, quando diante da indisciplina escolar, um papel de mediação, reflexivo, de diagnosticar os problemas e propor alternativas em sua solução, mas este deve ser um processo de repensar coletivo, voltado ao pedagógico da escola e, sobretudo, envolvendo todos os atores que fazem parte do contexto escolar. 11 REFERÊNCIAS ABUD, M. J. M. ; ROMEU, S. A. A problemática da disciplina da escola: relato de experiência. In: D’ANTOLA, A. (Org.) Disciplina na escola: autoridade versus autoritarismo. São Paulo: EPU, 1989. p. 79-90. BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977. BERGER, P. I.; LUCKMANN, T. A construção social da realidade. 21. ed. Petrópolis: Vozes, 2002. GARCIA, J. A Construção Social da Indisciplina na Escola. In: Seminário Indisciplina na Educação Contemporânea, 2005, Curitiba. II Anais... Curitiba: UTP, 2005. v. 1. p. 87-93. MAGALHÃES, A. M. C.; FERNANDES, M. G. Indisciplina na sala de aula – como prevenir? Como remediar? 2. ed. Lisboa: Presença, 1999. PARO, V. H. Por dentro da escola pública. 2. ed. São Paulo: Xamã, 1996b. _____. Gestão Democrática da escola pública. 3. ed. São Paulo: Ática, 2000. VASCONCELLOS, C. dos S. (In)Disciplina: construção da disciplina consciente e interativa em sala de aula e na escola. 15. ed. São Paulo: Libertad, 2004.
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