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INFECÇÕES NA GESTAÇÃO

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Julia Paris Malaco 
Infecções na gestação 
 
Infecção: colonização de um organismo hospedeiro por uma espécie estranha. Numa infecção, o 
organismo infectante procura utilizar os recursos do hospedeiro para se multiplicar (com evidentes prejuízos 
para o hospedeiro). O organismo infectante, ou patogênico, interfere na fisiologia normal do hospedeiro e 
pode levar a diversas consequências. 
Funções imunológicas na gravidez: supressão de diversas funções imunológicas para que o organismo 
materno possa tolerar a presença do tecido fetal. 
 Linfócito T 
 
Imunologia materna e infantil: 
 Resposta primária fetal à gestação: IgM 
 Imunidade passiva: IgG transmitida ao feto através da placenta 
 
Infecção vertical: passagem de um agente infeccioso da mãe para o feto 
 Na gestação 
 No trabalho de parto ou parto 
 Pela amamentação 
 
Efeitos da infecção congênita: 
 Abortamento 
 Malformações fetais 
 Infecção neonatal 
 Doença aguda após o nascimento 
 Infecção assintomática com sequelas tardias 
 
Acompanhamento pré-natal 
 Sorologias 
 Exames de urina I e urocultura 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Sífilis 
Agente causador: Treponema pallidum 
Transmissão: predominantemente sexual 
Transmissão vertical HIV x Sífilis 
 É bem infrequente uma gestante apresentar doença clínica, já que as lesões de fase primária, o cancro 
ocorrem em canal vaginal ou colo de útero e passam despercebidas; entretanto, em qualquer gestante 
que refira lesão ulcerada em região genital, atual ou prévia, sífilis deve sempre ser considerada → 
rastreamento. 
 A maioria das gestantes atendidas em pré-natal e diagnosticadas com sífilis se apresenta assintomática 
e sem história prévia de infecção ou tratamento, sendo, então, diagnosticadas na fase latente 
indeterminada da doença. 
 Quanto mais recente for a infecção materna, maior a carga de treponemas circulantes e mais grave e 
frequente será o comprometimento fetal. O risco de transmissão vertical é muito elevado na doença 
sintomática (fases primária e secundária) variando de 90 a 100%. 
 Comprometimento fetal: pode ocorrer em 70% a 100% dos casos. 
Julia Paris Malaco 
 As repercussões da sífilis na gestação incluem graves efeitos adversos para o concepto, desde abortos, 
óbitos fetais e neonatais até recém-nascidos vivos com sequelas diversas da doença, que poderão se 
manifestar até os 2 anos de vida. 
 O nascimento de crianças assintomáticas é o quadro mais comum. Mais de 70% das crianças infectadas 
são assintomáticas ao nascimento, sendo de fundamental importância o rastreamento na gestante. 
 
Diagnostico 
 Testes treponêmicos: São testes que detectam anticorpos contra antígenos do Treponema pallidum. 
Estes testes são qualitativos. Eles definem a presença ou ausência de anticorpos na amostra. 
 Testes não treponêmicos (vdrl): São testes que detectam anticorpos não treponêmicos, anteriormente 
denominados anticardiolipínicos, reagínicos ou lipoídicos. Esses anticorpos não são específicos para 
Treponema pallidum, porém estão presentes na sífilis. 
o Qualitativos – rotineiramente utilizados como testes de triagem para determinar se uma amostra é 
reagente ou não; 
o Quantitativos – são utilizados para determinar o título dos anticorpos presentes nas amostras que 
tiveram resultado reagente no teste qualitativo e para o monitoramento da resposta ao tratamento. 
O título é indicado pela última diluição da amostra que ainda apresenta reatividade ou floculação 
visível. 
 
Tratamento: O tratamento deve ser realizado com a utilização de penicilina, já que não existe evidência de 
que nenhuma outra droga consiga tratar adequadamente o feto intra-útero. 
 As doses de penicilina recomendadas são definidas a partir do diagnóstico de infecção recente ou 
tardia. Nas situações de doença nas fases primária e secundária, a dose recomendada de penicilina 
benzatina é de 2.400.000UI divididas em duas injeções em cada um dos glúteos. 
 A maioria das gestantes, entretanto, se encontra assintomática e sem referir história prévia de tratamento 
ou conhecimento da infecção. Nessa situação, o diagnóstico é de fase latente indeterminada, devendo 
ser tratada com 7.200.000UI, divididas em 3 aplicações semanais de 2.400.000UI. 
 A eficácia da penicilina em prevenir ou tratar a infecção fetal é bastante elevada. O parceiro sexual 
deverá ser sempre convocado pelo serviço de saúde para orientação, avaliação clínica, coleta de 
sorologia e tratamento. 
 
 
 Hepatite B 
Agente causador: vírus da Hepatite B (VHB) 
Transmissão: sexual, transfusões sanguíneas, contato com sangue contaminado e transmissão vertical 
70 a 90% dos recém-nascidos filhos de mãe portadora do VHB e contaminados desenvolvem a forma 
crônica da doença. Estes podem, no futuro, apresentar suas complicações (cirrose e carcinoma 
hepatocelular) 
Rastreamento na gravidez: sorologia para hepatite B (HBsAg) , anti-HbS 
Mãe portadora: RN deve receber imunoglobulina até 12 horas de vida, pode ser amamentado 
Vacinação do recém-nascido: obrigatória (0, 2, 4, 6). 
 
 
 Toxoplasmose 
Agente causador: toxoplasma gondii 
Transmissão: ingestão de cistos do toxoplasma 
Consequências da infecção aguda materna: RCIU, morte fetal, prematuridade e/ou toxoplasmose 
congênita: surdez, cegueira e atraso no desenvolvimento neuropsicomotor. Em grande parte das crianças 
afetadas as sequelas são tardias, sendo a mais comum retinocoroidite que acomete até 70% dos infectados. 
 
Prevenção primária: 
 Lavar bem as mãos, superfícies e utensílios utilizados após manusear a carne crua Lavar bem frutas, 
legumes e verduras antes de se alimentar. 
 Usar luvas e lavar bem as mãos após contato com o solo e terra de jardim. 
 Não consumir leite e seus derivados crus, não pasteurizados, seja de vaca ou de cabra. 
 
Rastreamento na gravidez: sorologia 
Julia Paris Malaco 
Gestantes suscetíveis (IgG negativo): medidas preventivas – repetir exame no 2º e 3º trimestres – teste de 
avidez do IgG. 
Tratamento: espiramicina 500mg (1.500.000 UI) 2 comprimidos a cada 8 horas. O uso da Espiramicina em 
gestantes no quadro agudo de toxoplasmose pode reduzir em até 50% a transmissão vertical. 
 
 
 HIV 
Agente causador: vírus da imunodeficiência humana. 
Transmissão: sexual, transfusão sanguínea, contato com sangue. 
Rastreamento: sorologia (ELISA) – 1ª consulta e entre 28ª e 30ª semana – teste rápido na admissão na 
maternidade. 
Encaminhamento para unidade de referência. 
Terapia antirretroviral. 
 
 ITU 
Complicação clínica mais frequente da gravidez 
De 2% a 10% das gestantes apresentam bacteriúria assintomática 
25 a 35% desenvolvem pielonefrite aguda 
 
Agentes causadores: Escherichia coli (80 a 90% das infecções); outros gram-negativos: Klebsiella, 
Enterobacter e Proteus, enterococo e do estreptococo do grupo B. 
Medidas preventivas: durante a gestação toda mulher deve ser orientada a ingerir líquidos e a não protelar 
a micção. 
 
 Outras infecções 
 Citomegalovírus (CMV) 
 Hepatite C 
 Úlcera genital (sífilis primária, cancro mole, herpes genital) 
 Corrimento vaginal (candidíase, tricomoníase, vaginose bacteriana) 
 Corrimento uretral (clamídia, gonorreia) 
 Condiloma acuminado (vírus do papiloma humano – HPV) 
 Parasitoses intestinais 
 
Exame PPF (protoparasitológico de fezes) 
Alta incidência de helmintíases e protozooses no Brasil 
Transmissão a partir de fezes humanas disseminadas no meio ambiente (condições precárias de higiene, 
habitação, alimentação e saneamento básico) 
 Helmintíases mais comuns são: ancilostomíase, ascaridíase, enterobíase, estrongiloidíase, 
himenolepíase, teníase e tricuríase. 
 Amebíase, giardíase 
 Tratamento: preferencialmente logo após a 16ª semana. 
 
 Imunização na gravidez 
Não administrar na gestação: vacina de vírus vivo ou atenuado (tríplice viral - sarampo, caxumba e 
rubéola).Administrar na gestação: vacina contra hepatite B e dupla adulto (tétano e difteria), gripe A (H1N1). 
Importância do rastreamento pré-natal: 
 Orientação, medidas preventivas 
 Tratamento precoce 
 Seguimento da mãe e do RN no período pós parto.

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