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1 Lara Maia – Obstetrícia – 2021.1 TORCH Definição - Doenças infectocontagiosas que podem ocorrer durante a gravidez. - Infecções congênitas: são infecções que passam ou com o bebê intraútero ou durante o parto. - Infecções congênitas com apresentacão clínica semelhante → retardo de crescimento intra-útero, lesões oculares, do sistema nervoso e visceral, entre outras. Infecções TORCH • T= Toxoplasmose • O= Outras (Sífilis, Parvovírus B-19 e HIV) • R= Rubéola • C= Citomegalovírus (CMV) • H= Herpes simples (HSV) Sinais e sintomas: • RCIU: comprometimento do crescimento fetal. Quando as infecções congênitas ocorrem no início da gravidez, elas podem causar RCIU simétrico (bebê todo pequeno, pois as alterações são desde o começo da gravidez). • Hepatomegalia • Esplenomegalia • Púrpura • Icterícia • Hidropsia não imune • Prematuridade • RN PIG • Anemia • Microcefalia: as TORCHS também são causadoras de microcefalia. • Hidrocefalia • Calcificações cerebrais • Coriorretinite • Alterações músculo esqueléticas TO= TOxoplasmose R= Rubéola C= Citomegalovírus (CMV) H= Herpes simples (HSV) S= Sífilis 2 Lara Maia – Obstetrícia – 2021.1 Introdução: A gravidade e a extensão da infecção congênita depende: • Tipo de infecção; • Idade gestacional da soroconversão; • Status imunológico materno: pacientes com sistema de defesa mais baixo, terão uma carga viral maior. Quando maior a carga viral da doença, maior a chance de contaminar o bebê. Infecções congênitas: 1. Intraútero: o sangue materno contaminado vai passar para a placenta → cordão umbilical → bebê. 2. Perinatal: ocorre na passagem do canal em contato com as secreções, lesões ativas. Ex: herpes, HIV. 3. Pós-natal: passagem através do leite. Ex: HIV. A confirmação da infecção fetal: - Identificação do microrganismo OU - Detecção dos antígenos OU - Detecção de IgM específica: indica fase aguda da doença e é uma partícula muito grande → o IgM materno não consegue passar pela placenta. Então, se identifica IgM no sangue fetal ou no líquido amniótico → tem certeza que o IgM foi produzido pelo próprio bebê. Confirma que o feto intraútero está contaminado. • Materiais para confirmação: líquido amniótico (amniocentese), sangue fetal (cordocentese) ou derrames serosos (PCR – ascite). Sinais inespecíficos de infecção fetal: - IgM total elevada: sem ser a especifica para determinada doença. Indica que tem doença, mas não sabe qual é. - Trombocitopenia - Eosinofilia (agentes parasitários) 3 Lara Maia – Obstetrícia – 2021.1 - Enzimas hepáticas elevadas (GGT e DHL): indica comprometimento infeccioso do bebê mesmo sem saber qual é o agente. Toxoplasmose Transmissão congênita - Primoinfecção: quando a mulher infecta-se pela primeira vez durante a gestação. - Toxoplasmose (Infecção crônica): o agente está presente e não foi completamente exterminado pelo SI. Essas pacientes podem ter reativação do toxoplasma que ficou adormecido, que não foi eliminado do corpo, durante uma queda de defesa (muito comum durante a gravidez). • HIV positivo • Drogas citotóxicas • Terapia com corticoesteróides • Imunodepressão Transmissão materna - Agente etiológico: Toxoplasma gondii (Protozoário intracelular) - Ciclo sexuado: Gato e outros felinos → precisa ter a passagem pelo gato. No entanto, não precisa deixar de ter contato com o gato, mas sim ter cuidado com a contaminação com os cistos (mãos, alimentos). - Oocistos: Vetores mecânicos Formas de contaminação: • Terra • Verduras • Inalação • Animais → Cisto → Carne • Ovos • Leite não pasteurizado OBS: Paciente que não tem defesa contra toxoplasmose → evitar a ingesta de alimentos crus. Ex: sushi, salada na rua (nada cru deve ser comido na rua, pois não sabe se foi higienizado corretamente). 4 Lara Maia – Obstetrícia – 2021.1 Formas de evitar toxoplasmose: 1. Evitar mexer na areia do gato; 2. Evitar jardinagem; 3. Evitar alimentos crus → todos os alimentos devem ser bem passados, pois o calor mata e evitar a contaminação. • Evitar contato com os oocistos. Risco de transmissão fetal - O risco é maior no final da gravidez. - Quanto mais avançado estiver o 3º trimestre, maior a chance de transmitir a infecção para o bebê. - Quanto mais precoce for a transmissão na gravidez, maior a gravidade → é o período de maior formação do bebê (divisão de células). Então, maior chance de mal formações. Periconcepcional → transmissão mínima: • Maior risco de: Ab. Espontâneo, Hidrocefalia • Calcificações IC, Dist. psicomot. • Coriorretinite macular 1º Trimestre e 2º trimestre → transmissão importante: • Icterícia • Hepatoesplenomegalia, Dist. tônus, • Comprom. multivisceral 3º Trimestre → transmissão máxima: • Forma subclínica: quadros mais leves. • Coriorretinite periférica • Pode ser contaminado e não desenvolver nenhum quadro de má formação, pois o bebê já está todo formado. Prévia à concepção → quase nula. Periconcepcional → mínima (1%). 1º trimestre → 1,6 a 1,8%. 2° trimestre → 7,2 a 19%. 5 Lara Maia – Obstetrícia – 2021.1 3º trimestre → 22% a 67% (pode chegar a 99% no termo). Risco de infecção fetal: espiramicina - É muito importante durante o pré-natal identificar que aquela paciente contraiu toxoplasmose, pois faz parte do acompanhamento diminuir o risco de transmissão para o bebê. - É bem estabelecido é uma forma de diminuir a transmissão do protozoário para o bebê → evitar que desenvolva o quadro infecioso. - Taxa de infecção fetal maior nas pacientes que não estavam em uso da espiramicina. Diagnóstico materno - Pede IgM e IgG na 1ª consulta. - Imune: IgM negativo e IgG positivo (possui defesa, pois já teve toxoplasmose antes) → não vai se contaminar durante a gravidez. - Não imune: IgM e IgG negativo (não possui defesa) → pode se contaminar → fazer orientação e continuar vigilância de toxoplasmose durante o pré-natal (de preferência mensal, mas o MS estabelece que 1 vez por trimestre). Conduta pré-natal - Sorologia Positiva (Soroconversão) → paciente apresentou IgM positivo, provavelmente está com a infecção. - Até confirmar se é uma infecção que ocorreu na gravidez, se está comprometendo o bebê ou se está infectado → precisa começar o tratamento que diminui as chances de passar para o bebê. 0 10 20 30 40 50 60 70 80 Pericon. 1º Trim. 2º Trim. 3º Trim. SEM TTO COM TTO 6 Lara Maia – Obstetrícia – 2021.1 - Quanto mais precoce começa a espiramicina, menor o risco de infecção fetal. 1) Espiramicina (3g/d) 2) Teste da Avidez a IgG: quando apenas o IgM é positivo, a paciente está na fase aguda da doença. Mas quando o IgG é positivo, a infecção pode ser antiga e o IgM começou a cair, mas não negativou. Quando tem uma gestante com menos de 16 semanas, como esse IgM pode ficar positivo por 4/6 meses, precisa fazer o teste de avidez do IgG. • IgG produzido há muito tempo → IgG de alta avidez= infecção mais tardia. • IgG produzido recentemente → IgG de baixa avidez= aumenta as chances de ser uma infecção recente. • Muda a conduta em relação a paciente, pois se a infecção é antiga, não tem risco de transmissão para o bebê. Mas se a infecção for recente, precisa manter espiramicina. 3) Dg. Fetal (Propedêutica Invasiva): investigar se o bebê já está infectado → PCR no líquido amniótico, no sangue. Normalmente faz amniocentese. 4) USG a cada 4 semanas ou 15 dias: analisar rastreio de más formações e acompanhar a evolução do bebê. 5) Avaliação Neonatal: precisa ser avaliado com sorologia quando nascer. Diagnóstico fetal 1. USG: usado para colher o sangue, o líquido amniótico. 2. PCR: 3. Biologia: USG: - Pode já identificarsinais que o bebê está comprometido pela toxoplasmose: • Dilatação Ventricular Cerebral • Calcificações Intracranianas: bem característico. • Placentite/Placentomegalia • Ascite • Miocardite 7 Lara Maia – Obstetrícia – 2021.1 - 1ª imagem: bebê com hidrocefalia; - 5ª imagem: ascite importante. OBS: gestante com IgM positivo para toxoplasmose e essas alterações USG → confima quadro de infecção fetal. Biológico: PCR - Líquido amniótico - Sangue Fetal – Sinais Específicos e Sinais Inespecíficos - O ideal é que o diagnostico fetal ocorre entre 18ª e 24ª semana. - Líquido amniótico: • Inoculação em camundongo: 50% • Cultura de fibroblastos: 76% • PCR: 100% → Faz uma amniocentese e vai direto para o PCR (maior sensibilidade). - Sangue fetal – sinais específicos: • IgM especifico: +/- 25% dos casos → quando encontra no sangue do bebê, com certeza foi ele que produziu e está infectado. • Inoculação em camundongo • PCR - Sangue fetal – sinais inespecíficos → alterações sugestivas do quadro de infecção. • IgM total elevada 63% casos • Eosinofilia 50% casos • Trombocitopenia 63% casos • Elevação g GT 70% casos • Elevação DHL 75% casos • No geral, vai direto para o PCR. 8 Lara Maia – Obstetrícia – 2021.1 Conduta: < 16 semanas - Nota técnica de como deve ser feito o acompanhamento dessas gestantes e dos RNs com toxoplasmose. - É baseado na idade gestacional da paciente. OBS: As sorologias são disponibilizadas pelo SUS (protocolo). Das TORCH, a toxoplasmose e sífilis são as únicas doenças que o tratamento durante a gravidez gera impacto. Ex: rubéola não tem tratamento e nem forma de evitar que o bebê contrai, então o ideal é evitar que a mãe contraia, por isso tem que orientar a vacina antes da gestação. Como toxoplasmose e sífilis tem tratamento, faz parte do protocolo pedir sorologia para todas. As outras doenças não tem tratamento, então não adianta pedir sorologia. Só pede quando identifica uma alteração na USG, ex: microcefalia, que pode ser por uma infecção congênita → rastrear todas as infecções congênitas. Esquema tríplice: Sulfadiazina + pirimetamina + Ac. Folínico. 9 Lara Maia – Obstetrícia – 2021.1 Conduta: > 16 semanas - Se IgM e IgG forem positivos, não é possível fazer o teste de avidez, pois tem mais de 16 semanas. - O teste de avidez garante que o anticorpo foi gerado nos últimos 4/5 meses → se a mulher tem mais de 16 semanas, ele já pode ter sido criado na gravidez. Já pode ter um IgG de alta avidez mesmo se o anticorpo tiver sido formado no começo da gravidez. Profilaxia • Consumir carnes bem cozidas; • Lavar vegetais e comer frutas sem cascas; • Usar luvas durante a preparação dos alimentos e quando realizar tarefas de jardinagens; • Evitar o contato com gatos e desinfectar os lugares com fezes; • Evitar comer alimentos crus e lacteos não pasteurizados. 10 Lara Maia – Obstetrícia – 2021.1 Quadro clínico pós-natal: - Maioria assintomáticos, mas são de risco para desenvolver coriorretinite (perda de visão com o passar do tempo) → é importante saber que a mãe teve toxoplasmose durante a gravidez para fazer a vigilância desse RN. Tríade Clássica: • Corioretinite • Hidrocefalia • Calcificações intracranianas Outros sintomas: febre, rash cutâneo, microcefalia, convulsões, icterícia, trombocitopenia, linfadenomegalia Rubéola Epidemiologia - RNA vírus: gênero Rubivírus, família Togaviridae; - Adultos podem ter um quadro de rubéola e serem assintomáticos. - Doença assintomática: 25 a 50% dos casos → grande problema, pois a mulher pode estar com rubéola e não saber, descobrindo apenas quando faz o exame. - Toda gestante que desenvolver doença exantemática precisa investigar se não foi rubéola (pede sorologia) → se confirmar, muda a forma de vigilância da gravidez (fazer USG em serviço de referência, pois é um bebê que tem maior risco de estar infectado. Primoinfecção / Infecção Subclínica Incidência → 1º Trim. → 90 % Transmissão → 2º Trim. → 25 % 3º Trim. → 95 % - 100 % - Diferente da toxoplasmose: a taxa de transmissão é alta no 1º trimestre, cai um pouco no 2º trimestre e volta a subir no 3º trimestre. - Quanto mais precoce a infecção, maior o risco de má formação mais grosseira. 11 Lara Maia – Obstetrícia – 2021.1 Distribuição Mundial - 20% são susceptíveis na idade reprodutiva. - Os casos diminuíram bastante → teve campanha para vacinar todas as mulheres. - A vacina da rubéola é de vírus vivo atenuado, então é proibido fazer durante a gravidez. - Se a gravidez for planejada, o ideal é que faça a vacina antes de engravidar. - Qualquer vacina de vírus vivo tem que ter, pelo menos, 30 dias entre a última dose e a liberação para engravidar. Quadro clínico materno: - Exantema máculo-papular, febrícula, adenopatia (generalizada, principalmente subocciptal, pós-auricular e cervical posterior) e artralgia (25%). - Assintomáticos: 25-50% - Viremia: 5 - 7 da infecção - Período de incubação: 14 – 21 dias - Fase Prodrômica: 1 - 2 dias - Período exantemático: 2 - 3 dias Risco de sequelas fetais: • 1º Trimestre a aproximadamente 100% • 2º Trimestre a aproximadamente 35% • Após 17ª semana a formas subclínicas (*) Transmissão materna: - Direta, através do contato com secreções nasofaríngeas (contato com secreções de outra pessoa doente). - Período de transmissibilidade: 5 - 7 dias antes do início do exantema e 5 - 7 dias após. 12 Lara Maia – Obstetrícia – 2021.1 Rastreamento pré-natal: - Diagnóstico clínico - Diagnóstico laboratorial: • Sorologias: IgM e IgG (1º a 3º dias pós-exantema) → mais utilizado. Não adianta fazer muito precoce, tem um tempo para o IGM positivar após surgir o exantema. • Inibição da hemaglutinação ( custo e simples ) • Outros métodos (mais sensíveis): aglutinação do látex, imunofluorescência, hemaglutinação passiva, ensaio imunoenzimático (ELISA) • Isolamento viral: pouco utilizado, resultado demorado (6 semanas) e alto custo Síndrome da rubéola congênita - Bebê contaminado intraútero com a mãe que desenvolveu rubéola. • Sequelas Oftalmológicas: Catarata / Microftalmia / Glaucoma / Coriorretinite • Sequelas Cardíacas: Ducto Arterioso Patente / Estenose Art. Pulmonar / CIV ou CIA • Sequelas Neurológicas: Surdez Neurossensorial / Retardo Mental / Microcefalia 13 Lara Maia – Obstetrícia – 2021.1 Diagnóstico pré-natal de infecção fetal 1. Ultrassonográfico: USG morfológica e eco fetal 2. Propedêutica fetal invasiva - Pensa em rubéola quando faz USG de rotina e identifica alteração. - O MS não orienta o rastreio universal de rubéola, pois não tem medicação que impeça a transmissão para o bebê. - Faz a sorologia quando é identificada alteração no USG morfológico (precisa ver cristalino → identificar se há catarata congênita). Propedêutica fetal invasiva: com intuito de fechar o diagnóstico do bebê. - Sangue Fetal → IgM específica: se der positiva no sangue do bebê, foi porque ele produziu. Exames Inespecíficos - Isolamento Viral (LA)? - PCR Tratamento antiviral → Não há. OBS: Normalmente quando vê alguma alteração e tem a sorologia da mãe, não faz propedêutica fetal, pois não vai mudar conduta. Evita ser mais invasivo (risco de parto prematuro, infecção). Profilaxia: - Exames sorológicos pré-concepcional ou na 1a consulta; - Maior risco: profissionais em contato com público (professores, profissionais da saúde…) →orientar a vacinação. - Se for uma gravidez planejada, vacine-se contra as TORCHS. - 80% adultos => soropositivas Profilaxia passiva (imunoglobulina): • Previne de malformações congênitas ( uso controverso ) • Ig. Específica (até 6 dia após o contato) • 7o dia pós-contato = viremia (Exposição do feto/embrião) Profilaxia ativa (Vacinação): • Contraindicado na gestação • Não engravidar 3 meses após o uso (pelo menos 30 dias). 14 Lara Maia – Obstetrícia – 2021.1 Citomegalovírus Epidemiologia: Idade Reprodutiva → 50 - 85 % IgG + (indicando que já possuem a defesa, pois se contamina ao longo da vida). Gestantes Suscetíveis (classe sócio-econômica) → 2 % alta 6 % baixa Primoinfecção → risco fetal: 30 - 40 % - 10 % → sintomático - 90 % → assintomático (maior dos casos) - 5 a 15 % → sequela neurológica - Adolescência: 40-50% soropositivos. - Países subdesenvolvidos: 85% gestantes imunes. - Países desenvolvidos: 50% mulheres soronegativas. Etiologia: - Herpesvírus Humano 5; - Vírus DNA; - Cadeia dupla; - Família dos herpesvírus. 15 Lara Maia – Obstetrícia – 2021.1 Transmissão: - Contato Íntimo com fluidos biológicos →Saliva, Urina, Lágrima, Colostro, Sangue, Muco endocervical e Sêmen - Transmissão vertical • Intraútero • Perinatal (Canal de Parto → contato com as secreções maternas) • Aleitamento materno - Período Incubação: 4 - 8 semanas Quadro clínico materno: - Subclínico (Sintomas de resfriado) → mais frequente; - Síndrome Monolike (semelhante a Mononucleose): febre, letargia, dor de garganta, artralgia, esplenomegalia, linfocitose, trombocitopenia, adenopatia → menos comum. - Disfunções hepáticas: elevação de transaminases Rastreamento pré-natal: Indicações: universal? - MS não recomenda rastreio universal → não muda conduta, pois não tem tratamento. Fazer sorologia quando: • Clínica materna • Contato com infectados • Alteração de USG que indique investigação de infecções congênitas (Hidrocefalia…) Métodos: Sorologia (IgM e IgG), imunofluorescência, ELISA, hemaglutinação Repercussões fetais - É a forma MAIS frequente das infecções congênitas; - 40.000 RN infectados/ano (EUA); - 0,2 - 2,2% de todos neonatos; - Pode ocorrer mesmo com a imunidade materna; 16 Lara Maia – Obstetrícia – 2021.1 - A maior parte dos RN também serão assintomáticos, semelhante a mãe. - Nos RN sintomáticos => 90% com sequelas importantes → quanto mais precoce foi a infecção, maior a chance de ter sequelas mais graves. • Infecção primária: 35 - 40% • Taxa de infecção independe da IG: não tem diferença na taxa de transmissão entre os trimestres (diferente de toxoplasmose e rubéola). • IG menor => clínica maior Sequelas em longo prazo: • Convulsões; • Atrofia óptica: perda de visão; • Surdez; • Déficits sensoriais; • Retardo mental; • Problemas odontológicos. Diagnóstico pré-natal de infecção fetal: - USG/ Eco fetal/ RNM - Procedimentos invasivos: sangue fetal, líquido amniótico, líquido ascético → PCR. 17 Lara Maia – Obstetrícia – 2021.1 - USG fetal: corte transversal do abdômen com ascite importante PCR com líquido ascético para investigar as principais TORCHS. Conduta pré-natal: Gestante soroconversão + - PCR: L. A → Identificação Viral Sangue Fetal → analisar IgM e IgG. - Indicador Prognóstico - Opções de Tratamento: alguns trabalhos falam sobre diminuição do risco de infecção e desenvolvimento da doença, mas não está bem estabelecido e não é protocolo que justifique um rastreio universal. • Ganciclovir • Valaciclovir Profilaxia: - Orientações nas soronegativas: evitar pegar virose (recomendações). - Vacinas – NÃO HÁ. 18 Lara Maia – Obstetrícia – 2021.1 Herpes simples genital: Etiologia: Herpes simples tipo 1 e tipo 2 • Tipo 1: 15% • Tipo 2: 85% Transmissão: - Sexual - Contato direto (solução de continuidade → contato direto com a bolha) - Infecção congênita (transplacentaria) → transmissão vertical. - Neonatal 19 Lara Maia – Obstetrícia – 2021.1 Clínica materna: Infecção Primária: - Assintomática (75%) - Desaparece após 14 dias - Período prodômico: fisgadas em região genital. - Manifestações sistêmicas: Febre/ Mialgia / Cefaléia / Artralgia / Astenia (ou muitas vezes nem desenvolve sintomas). - Lesões genitais: • Eritema (ardor, prurido e dor) → Vesículas → Úlceras= múltiplas verrugas pequenas que estouram e dão origem as úlceras dolorosas. • Adenopatia Satélite (75%) Infecção Recorrente: - Pode ser que o vírus da herpes fique eternamente adormecido → o sistema imune não consiga destruí-lo. - Pode ter o vírus da herpes e passar muito tempo sem crise. No entanto, passa por um período de estresse, usa corticoide, adquire alguma doença, o SI cai e a infecção pelo herpes reativa → infecção recorrente (paciente que já tinha tido um quadro antes e voltou a ter novos episódios). - Fatores de Risco: Stress, Traumas, Infecções, Menstruação e Exposição ao sol. - Fase sintomática menor → menos vesículas e dor. - Resposta terapêutica maior. Transmissão vertical: Evolução na Gestação: - Infecção fetal precoce: • 1o trim. => 2 - 3x abortamento (principal: primoinfecção) • Alta chance de abortamento - Infecção congênita: • Disseminação hematogênica (a partir da 12a sem.) • Rara (1/3.500 gestações). • Lesões fetais: Microcefalia / Hidrocefalia / Calcificações intracranianas / Alterações oculares / Catarata / Hepatomegalia / Parto Prematuro (> 20 sem) / Lesões vesiculares. 20 Lara Maia – Obstetrícia – 2021.1 Transmissão neonatal: - Através do canal de parto e contato com lesões de herpes. - Herpes simples ativa é uma indicação relativa de cesária, pois se tiver mais de 4 horas de bolsa rota o efeito protetor do bebê não passar pelo canal não existe mais (já teve contaminação do bebê por ascensão do vírus). - Infecção primária: 30 – 40% - Infecção recidivante: 0,5 - 3% - Clínica: 4 - 10 dias de vida • Anorexia e irritabilidade. • Vesículas cutâneas. • Manif. gerais: febre, tosse, cianose, taquicardia, icterícia • Diátese hemorrágica (sangramento do TGI). Diagnostico diferencial: 1. Sífilis 2. Cancro mole 3. Candidíase 4. Donovanose 5. Linfogranuloma venéreo • A úlcera da herpes é muito característica, pois são várias, pequenas, tem história de vesícula anterior. Diagnóstico clínico: - Dor e hipersensibilidade nos genital externo; - Sintomas urinários → arde para urinar (não é infecção do TU, mas sim porque a urina ácida bate da úlcera e arde); - Dispareunia; - Vesículas genitais; - Úlceras rasas dolorosas. Diagnóstico colposcópico - Vesículas de paredes finas com fluido aquoso claro e vasos atípicos; - Visualizar tanto em vulva quanto em vagina. 21 Lara Maia – Obstetrícia – 2021.1 Diagnóstico laboratorial - Isolamento do vírus: mais sensível e menos utilizado • Fluido vesicular • Fragmentos úlceras • Fragmentos de nervos Diagnóstico laboratorial: - Sorologia: mais utilizado • Dosagem de IgM e IgG. - Citologia/Histologia: • Sugestivo: alterações celulares Tratamento na gestação: - A maioria dos estudos sugere tratar herpes na gravidez com objetivo de diminuir a carga viral e diminuir o risco de transmissão vertical. Aciclovir: Usar ou não usar? • 200 mg VO 6/6 horas • Diminuir carga viral no parto Medidas locais: - Dependendo se as vesículas estão infectadas. • Drenagem de vesículas • Soluções anti-sépticas • Tratar infecções associadas • Cremes(Dor/Ardor) Medidas Gerais: • Analgésiscos/anti-térmicos Conduta no parto: Cesariana: - Mandatória: • Lesões ativas 22 Lara Maia – Obstetrícia – 2021.1 • Membranas íntegras • Amniorrexe < 4 horas - Recomendada • Presença de vírus nas últimas 4 sem, mesmo que não tenha lesões ativas no momento do parto. Via Vaginal: - Mandatória: • Infecção fetal (Amniocentese ou Cordocentese) → infecção confirmada. *A cesária é para evitar transmitir para o bebê. Se ele já está infectado intraútero, não existe recomendação de cesária. - Recomendada: • Amniorrexe > 4h com lesões ativas • Infecções ativas nas últimas 4 semanas Sífilis - Toxoplasmose e sífilis gestacional são doenças de notificação compulsória, pois possui grande impacto na formação do bebê. - São importantes como indicadores. Etiopatogenia: - Disseminação hematogênica; - Treponema pallidum; - RN a transmissão é vertical; - Repercussões da sífilis gestacional: abortamento, morte fetal, prematuridade, hidropsia, RN sintomáticos ou assintomáticos. Epidemiologia: Os casos continuam a ocorrer, apesar do tratamento com penicilina ser conhecido há mais de meio século, de fácil acesso, de baixo custo e sem relato de resistência pela bactéria. As estratégias de controle da sífilis não são eficientes em manter a meta do Ministério da Saúde de eliminação da sífilis congênita no nosso país (o que significa até 1 caso de sífilis congênita/1.000 nascidos vivos ao ano). 23 Lara Maia – Obstetrícia – 2021.1 Falhas: dar o diagnóstico, realizar o tratamento da forma correta. Muitas taxas de sífilis gestacional e de RN contaminado. Fazer o exame antes da gestação, pois se descobrir a sífilis, trata antes de engravidar → esse rastreio deve fazer parte da consulta pré-concepcional e da 1ª consulta pré-natal. Risco de transmissão: - Em caso de sífilis latente (só descobriu porque fez o exame) → o risco de transmissão é menor para o bebê, mas existe. Manifestações clínicas: - A infecção intrauterina pode resultar em aborto, parto prematuro, natimorto e morte neonatal em até 40% dos casos. - A maioria dos RN é assintomática. - Pode atrasar o diagnóstico e piorar o prognóstico → muitas vezes faz a USG e não visualiza nada de alterado. - Importância de uma história materna e pré-natal bem feitos e anotação detalhada no cartão da gestante. Manifestações clínicas da sífilis recente (< 2 anos) - 70% assintomáticos - Mais frequentes: • Prematuridade • Baixo peso • Osteocondrite/ periostite • Rinite/coriza • Rash maculo-papular • Anemia 24 Lara Maia – Obstetrícia – 2021.1 • Hepato-esplenomegalia • Febre - Menos frequentes: • Linfoadenopatia • Meningite asséptica • Sífilis meningovascular • Pseudoparalisia • Nefropatia • Pneumonite • Ascite Manifestações clínicas da sífilis tardia (> 2 anos): - Mais comuns: • Anormalidades dentárias • Desenvolvimento pobre do maxilar • Palato em ogiva • Nariz em sela • Fronte olímpica (testa grande). • Ceratite intersticial - Menos comuns • Tíbia em sabre: tortuosidade da tíbia muito comum em bebês com sífilis congênita. • Rágades (fissuras periorais e perinasais) • Surdez • Retardo mental • Hidrocefalia Diagnóstico: - Quadro clínico e exames complementares. - O quadro clínico é escasso. - O diagnóstico é basicamente laboratorial → é muito difícil uma gestante relatar queixa de presença de úlcera (sífilis primária). É mais fácil dar o diagnóstico pelo exame. - Quando a infecção ocorre no terceiro trimestre, aproximadamente 60% das crianças poderão ser assintomáticas, apresentando sintomatologia meses ou anos após o nascimento → por isso é tão importante ter o seguimento do pré-natal e saber que o RN de uma mãe que tratou sífilis durante a gravidez, pois isso pode justificar alguma alteração no futuro. Pesquisa em campo escuro: - O treponema pode ser pesquisado em raspado de lesão mucosa ou cutânea ou no aspirado de punção de nódulo linfático satélite à lesão primária através de microscopia de campo escuro. 25 Lara Maia – Obstetrícia – 2021.1 Testes sorológicos: - Testes não treponêmicos: • VDRL (Veneral Diseases Research Laboratory): 1/1 → indica o nível atual da doença. Quando faz o diagnostico da gestante e começa a tratar, precisa acompanhar o VDLR da gestante até negativar. Se ele volta a crescer, indica um novo quadro de infecção e precisa tratar novamente. • RPR (Rapid Plasma Reagin) Por serem testes não treponêmicos, eventualmente, podem ocorrer resultados falso-positivos. É um excelente teste de triagem e seguimento pós-tratamento (queda de 4 x) → precisa acompanhar se o tratamento foi efetivo. Precisa colher mensalmente durante o acompanhamento. Pode ficar a “cicatriz do tratamento” → títulos muito baixos após tratamento, mas que não negativam. - Testes treponêmicos • FTA-abs IgG (Fluorescent Treponemal Antibody-Absortion) → vai sempre positivar em caso de sífilis prévia, então não indica infecção aguda. Sempre perguntar se a paciente já fez tratamento prévio, pois, nesse caso, o mais importante é o VDLR. • TPHA IgG (Treponema Pallidum Hemaglutination) • ELISA IgG (Enzime Linked Immunosorbent Assay) São testes que utilizam o treponema como antígeno com alta sensibilidade (99 a 100%) e especificidade (96 a 99%). Os resultados são qualitativos (positivo ou negativo) e, uma vez positivos, permanecem por toda a vida. Rastreamento pré-natal: - Obrigatório e universal; - Na primeira consulta pré-natal, a cada trimestre e no trabalho de parto (VDRL); - Na maternidade é feito de rotina: teste rápido para HIV, sífilis e hepatite B. Tratamento materno/fetal: - São pacientes que, geralmente, estão em fase de sífilis terciária ou latente. - Penicilina Benzatina: dose de 7.200.000 UI (2.400.000 IU por semana 3 a 4 doses) - Tratamento do parceiro concomitante ao da gestante.
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