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TÂMARA MELO – MEDICINA CLÍNICA INTEGRADA 1° UND DOENÇAS COMUNS DA TIREOIDE – PARTE 1 INTRODUÇÃO: A glândula tireoide adulta contém dois lobos que envolvem anteriormente os aspectos anterolaterais direito e esquerdo da linha média da traqueia entre a cartilagem tireoide e a fenda supraesternal. Cada lobo é demarcado em polos superior, médio e inferior. Os polos direito e esquerdo estão conectados através de um istmo no aspecto anterior da traqueia, imediatamente abaixo da cartilagem cricoide. O tecido tireoidiano é composto de folículos esféricos agrupados, cada um contendo uma única camada de células foliculares epiteliais conhecidas como tireócito que envolvem um lúmen contendo coloide. O principal componente do coloide é a tireoglobulina, uma proteína específica do tireócito. As células C parafoliculares, derivadas do tecido da crista neural e que produzem calcitonina, estão amplamente dispersas entre os folículos A principal função da tireoide é produzir quantidades adequadas de Hormônio tireoidiano(HT) para atender às demandas periféricas. Os dois principais HT são a tri- iodotironina ou T3 e a tetraiodotironina (tiroxina ou T4). A tireoide normal produz todo o T4 circulante e cerca de 20% do T3 circulante. Os 80% restantes do T3 circulante provêm da deiodinação periférica do T4, por meio da ação das deiodinases tipo 1 (D1) e tipo 2 (D2). A tireoide é controlada pela atividade do eixo hipotalâmico-hipofisário-tireoidiano. O TSH, produzido pelas células tireotróficas da hipófise anterior, liga-se a receptores específicos nas células tireoidianas e estimula todas as etapas da síntese do T4 e do T3, bem como sua liberação pela glândula. A síntese e a secreção do TSH, por sua vez, são inibidas pelos HT (feedback negativo) e estimuladas pelo hormônio liberador da tireotrofina (TRH), produzido no hipotálamo. Diversas condições podem cursar com hipofunção ou hiperfunção tireoidianas, facilmente diagnosticadas pela dosagem de TSH e T4 livre. A medida do T3 apenas é útil quando se suspeita de T3-toxicose (hipertireoidismo com T4 normal) ou tireotoxicose induzida pela ingestão de T3. HIPOTIREOIDISMO: Síndrome clínica resultante da deficiente produção ou ação dos hormônios tireoideanos causando um “Alentecimento” generalizado dos processos metabólicos. Ele pode ser classificado como: Primário – (por mau funcionamento da própria tireoide). Secundário – (de causa hipofisária, por deficiência de tireotrofina ou TSH). Terciário – (por deficiência hipotalâmica do hormônio liberador da tireotrofina ou TRH). Causa rara – resistência periférica à ação dos hormônios – 1000 casos descritos. O HIPOTIREOIDISMO PRIMÁRIO (HTP): Mais comum – 95% dos casos Prevalência mundial: cerca de 5% Pode ser endêmico em áreas com deficiência de iodo Mais comum em mulheres Aumento de prevalência com a idade No HTP, caracteristicamente há falta do feedback dos HT sobre os tireotrofos e, assim, sempre se observa elevação do TSH, associada à redução dos níveis de T4 livre, e o T3 pode estar baixo ou normal. Níveis altos de TSH, sem TÂMARA MELO – MEDICINA CLÍNICA INTEGRADA 1° UND alteração dos HT, caracterizam o hipotireoidismo subclínico. HIPOTIREOIDISMO CENTRAL: O hipotireoidismo central (HC) caracteriza-se por deficiente produção de TSH e pode resultar de qualquer patologia da região hipotalâmico- hipofisária, bem como de seu tratamento com cirurgia ou radioterapia. Laboratorialmente, manifesta-se por níveis séricos baixos de T4 livre, enquanto os do TSH em geral estão baixos ou normais. raro (0,005% na população geral). Muitas vezes é impossível separar entre secundário e terciário; Geralmente é decorrente de Processos neoplásicos, inflamatórios, isquêmicos, infiltrativos ou traumáticos; Levando o Comprometimento da capacidade secretória da Hipófise ou do Hipotálamo. HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO E NA CRIANÇA: Descrito em 1/ 4-5 mil nascidos vivos Congênito sem bócio Defeitos no desenvolvimento da glândula Administração indevida de Iodo 131 à gestante Hiporresponsividade ao TSH (raro) Congênito com bócio Defeitos herdados na biossíntese dos hormônios Em crianças, a causa mais comum de hipotireoidismo adquirido é a doença de Hashimoto. Os HT possuem papel fundamental no desenvolvimento e crescimento infantil, sendo que a ocorrencia do hipotireoidismo pode causar: NO RECÉM-NASCIDO, o hipotireoidismo manifesta-se pela persistência da icterícia fisiológica, choro rouco, constipação intestinal, sonolência, problemas relacionados a alimentação, hérnia umbilical, atraso importante da maturação óssea e – se não tratado de maneira adequada e precoce – ocorre importante e irreversível retardo mental. No entanto, a maioria dos casos de hipotireoidismo congênito (prevalência de 1:5.000) não tem, ao nascimento, sintomas/sinais da doença, a qual deve ser rastreada em todo neonato com a utilização do “teste do pezinho”. Recém-nascido: Cretinismo o Dificuldade respiratória, icterícia, cianose, má alimentação, choro rouco, acentuado retardo da maturação óssea o Retardo mental importante e irreversível. o Importancia da triagem neonatal. CRETINISMO é o termo utilizado para casos de hipotireoidismo congênito associado ao retardo mental, à baixa estatura, a uma característica inchação da face e das mãos. Com frequência, acompanha-se de surdo-mudez e sinais neurológicos de anormalidades dos tratos piramidal e extrapiramidal. Quando o hipotireoidismo se inicia APÓS OS 2 anos de idade, não ocorre retardo mental, e a síndrome se manifesta por baixa estatura (associada a retardo da idade óssea e hiporresponsividade do GH aos testes de estímulo), desempenho escolar deficitário, atraso no desenvolvimento puberal e graus variáveis dos sintomas e sinais observáveis nos adultos.4,10,11 Em contrapartida, em casos raros, o hipotireoidismo primário grave pode se exteriorizar por um quadro de puberdade precoce incompleta (síndrome de van Wyk-Grumbach), reversível com a reposição de L-tiroxina. Criança: o Retardo de crescimento e dificuldade de aprendizagem o Puberdade precoce com baixa estatura TÂMARA MELO – MEDICINA CLÍNICA INTEGRADA 1° UND HIPOTIREOIDISMO – FATORES DE RISCO: Idade acima de 60 anos Sexo feminino Bócio Nódulos na tireoide História familiar de doença tiroideana Radioterapia em cabeça e pescoço o Radiação externa e iodoterapia Doença auto-imune tiroideana ou extra- tireoide Drogas: lítio, amiodarona Tabagismo HIPOTIREOIDISMO – CAUSAS/ETIOLOGIA: Podem ser provocadas pela redução do tecido tireoidiano funcionante ou por defeitos na biossíntese e liberação dos hormônios: REDUÇÃO DO TECIDO TIREOIDEANO FUNCIONANTE: Tireoidite de Hashimoto – causa mais comum – anticorpo antiperoxidase (anti-TPO): Trata-se de doença autoimune, caracterizada por títulos elevados de anticorpos antiperoxidase (anti-TPO). Tireoidite subaguda As tireoidites subagudas (granulomatosa, linfocítica e pós-parto) com frequência levam ao hipotireoidismo, que nesse caso é transitório na grande maioria das vezes. Tratamento da doença de Graves A doença de Graves pode, também, ter essa doença como estágio final, devido à agressão glandular pelo processo autoimune. Da mesma maneira, pacientes com hipertireoidismo autoimune podem evoluir para hipotireoidismo e vice-versa, em função de mudanças no tipo predominante de anticorpos contra o receptor do TSH (de estimuladores para bloqueadores) Doenças infiltrativas como hemocromatose, sarcoidose, esclerose sistêmica progressiva, amiloidose ou cistinose (até 86% em adultos). Agenesia de tireoide: ausência da tireoide. DEFEITOS NA BIOSSÍNTESE E LIBERAÇÃO DOS HORMÔNIOS: Disormonogênesecongênita Grave deficiência de iodo Drogas – fármacos antitireoidianos de síntese, iodo, lítio, amiodarona, contrastes radiológicos, valproato de sódio, sunitinibe, fármacos bocígenos sintéticos ou naturais etc. o A terapia com ¹³¹I representa, em nosso meio, a segunda causa mais comum de hipotireoidismo O câncer da tireoide não costuma causar hipotireoidismo. HIPOTIREOIDISMO – MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Com a redução dos HT nós teremos a desaceleração generalizada dos processos metabólicos e o Acúmulo de glicosaminoglicanos no espaço intersticial. Comprometimento geral do organismo; Grande variação e riqueza de sintomas; Perda gradual da função >> clínica insidiosa Pode ser assintomático ou oligossintomático; Gravidade da doença, exames de triagem Astenia, sonolência, intolerância ao frio, pele seca e descamativa, voz arrastada, hiporreflexia profunda, edema facial, anemia, bradicardia, ganho ponderal, irregularidade menstrual, queda de cabelo. PELE: Pele: fria e pálida por ↓ de fluxo sanguíneo, atrofia da camada celular, hiperceratose com aspecto de pele áspera; ↓ de sudorese por queda da calorigênese e produção de suor; Descoloração; Unhas frágeis, cabelo quebradiço, alopecia; Edema sem cacifo (mixedema); TÂMARA MELO – MEDICINA CLÍNICA INTEGRADA 1° UND Casos mais graves. Infiltração por glicosaminoglicanos e retenção hídrica. APARELHO CARDIOVASCULAR: Bradicardia, diminuição do débito cardíaco, bulhas hipofonéticas, derrame pericárdico FUNÇÃO PULMONAR: Diminuição da resposta ventilatória à hipóxia e hipercapnia = respirações superficiais e lentas FUNÇÃO RENAL: Retenção hídrica pela incapacidade de excretar sobrecarga de líquidos = Edemas APARELHO REPRODUTOR: Hipermenorreia, infertilidade, galactorreia, disfunção erétil redução de libido OLHOS: Edema periorbitário, e mixedema SISTEMA DIGESTÓRIO Redução de motilidade, constipação, anemia perniciosa, doença celíaca, anorexia, distensão MUSCULAR Cãibras, fraqueza, mialgia METABÓLICO Aumento de LDL e triglicérides, aumento de transaminases, LDH NEUROLÓGICO Cefaleia, tonturas, zumbido, hiporreflexia, alterações vestibulares, déficits cognitivos, distúrbios visuais e auditivos, parestesias, nistagmo, tremores ANEMIA Diminuição da síntese de hemoglobina, deficiência de ferro por hipermenorreia e menor absorção, deficiência de folato (< absorção de ácido fólico), deficiência de vitamina B12). HIPOTIREOIDISMO DIAGNÓSTICO: Primário: TSH elevado, T4L e T3 baixos Alteração mais precoce: alteração do TSH (hipo subclínico) Secreção preferencial de T3 (1/3 dos pacientes pode ter T3 normal) Central: T4L baixo. TSH pode estar normal, baixo ou até mesmo alto TÂMARA MELO – MEDICINA CLÍNICA INTEGRADA 1° UND HIPOTIREOIDISMO – TRATAMENTO: LEVOTIROXINA: O tratamento do hipotireoidismo consiste em geral na administração de levotiroxina ou L-tiroxina (L- T4), em uma dose única diária. A L-tiroxina tem meia-vida de cerca de 7 dias e, assim, deve ser administrada em dose única diária. Os pacientes devem ser orientados a tomar a medicação em jejum (pela manhã, 60 minutos antes do desjejum ou no final da noite, ao deitar). Dose única diária, em jejum Dose inicial de acordo com peso e idade AVALIAR RESPOSTA DE ACORDO COM TSH E T4L: Tempo mínimo ideal para que se observe uma resposta plena do TSH ao tratamento. Caso o TSH persista elevado, aumenta-se a dose da L-T4 em 12,5 a 25 μg/dia até que se consiga a normalização do TSH Dosar a cada 6-8 semanas até alvo. Após, 1-2x/ano Ajustar dose até atingir meta de TSH TSH entre 0,5-2,5 mUI/L para adultos e até 10 em idosos Um TSH suprimido indica dose excessiva e necessidade de que essa dose seja reduzida. HIPOTIREOIDISMO SUBCLÍNICO: Tratamento controverso. No entanto, tem sido sugerido o início da reposição de L-tiroxina diante da detecção de níveis de TSH persistentemente acima de 10 mUI/ℓ (> 7 mUI/ℓ, se houver risco cardiovascular aumentado) ou, eventualmente, nos pacientes com níveis de TSH entre 4,5 e 10 mUI/ℓ, se há positividade para os anticorpos antitireoperoxidase, bócio, dislipidemia e/ou presença de sintomas de hipotireoidismo COMA MIXEDEMATOSO: Trata-se da complicação mais grave do hipotireoidismo, com mortalidade muito elevada (pode chegar a 60% ou mais), mesmo quando as medidas terapêuticas são realizadas em tempo hábil. Ocorre nos casos de hipotireoidismo grave de longa duração não diagnosticados ou naqueles tratados de maneira inadequada. Se tratando de uma emergência endócrina. Complicação mais grave da doença. Quadro grave de hipometabolismo. Alta mortalidade (60%). Doença grave, não diagnosticada ou tratamento inadequado. Fatores precipitantes (infecções, medicamentos, AVC, ICC, frio). Redução do nível de consciência + hipotermia. Bradicardia. Hipotensão. Hipoventilação. Hiponatremia. Hipoglicemia. Emergência. Não aguardar resultados de exames laboratoriais. Identificar e tratar fatores precipitantes. Suporte hemodinâmico e ventilatório. Volume e correção hidroeletrolítica. Aquecimento lento e gradual. Levotiroxina EV + corticoides EV. REFERÊNCIAS: Endocrinologia Clínica – Lúcio Vilar – 6ª edição. Cecil – Tratado de Medicina Interna – 24ª edição.
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