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Técnicas de Tradução em Língua Espanhola

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Indaial – 2019
Técnicas de Tradução 
em Língua espanhoLa
Prof. Dr. Wellington Freire Machado
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2019
Elaboração:
Prof. Dr. Wellington Freire Machado
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
M149t
 Machado, Wellington Freire
 Técnicas de tradução em língua espanhola. / Wellington Freire 
Machado. – Indaial: UNIASSELVI, 2019.
 141 p.; il.
 ISBN 978-85-515-0421-5
 1. Língua espanhola. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 460
III
apresenTação
Olá, acadêmico! É com sensação de entusiasmo e sentimento de dever 
cumprido que apresentamos este valioso material para sua iniciação ao estudo 
das Técnicas de Tradução em Língua Espanhola.
Este livro didático foi concebido com base em reflexões teórico-práticas 
adaptadas aos objetivos de aprendizagem, estabelecidos pela UNIASSELVI. 
Como você já sabe, a UNIASSELVI prioriza um alto padrão de qualidade, que 
acompanha o livro desde seu planejamento até a execução final.
Esta disciplina está dividida em três unidades: Teorias, critica e história 
da tradução; Procedimentos técnicos e literários da tradução; e O ensino de lín-
gua estrangeira e a tradução. Em cada uma delas você conhecerá técnicas, refle-
xões, normas e questões pertinentes ao estudo da tradução em língua espanhola. 
Ao término de cada unidade, você encontrará autoatividades complementares 
ao conteúdo estudado.
Para que você conheça questões próprias de cunho teórico e prático, na 
Unidade 1 serão apresentados tópicos específicos de teoria, crítica e história da 
tradução. Esta primeira parte – apesar de bastante teórica – proporcionará uma 
dimensão apropriada do que significam os Estudos da Tradução em âmbito aca-
dêmico.
Na Unidade 2 conheceremos os procedimentos técnicos e literários da 
tradução: é neste momento em que poderemos vislumbrar como colocar a mão 
na massa. Aparecerão, então, questões como as escolhas do tradutor, os recursos 
tecnológicos que podem ser empregados durante o ato de tradução, os textos 
técnicos, os textos literários – como a poesia, o conto, o romance e o teatro –, as 
questões de recursos audiovisuais (como a dublagem e a legendagem), a tradu-
ção jurídica e a tradução técnica e científica.
Por fim, na Unidade 3, conheceremos outro viés da pesquisa aplicada 
em tradução: o ensino de língua estrangeira e a tradução. Nesta etapa, serão 
abordadas questões como a linguística aplicada à tradução, a Língua Brasileira 
de Sinais (LIBRAS) e a didática específica na formação de tradutores e intérpre-
tes. Neste momento, estudaremos as noções de tradução direta e inversa, a tra-
dução especializada, a questão da interpretação e, por fim, o papel do intérprete 
e o mundo da tradução simultânea.
Ao terminar o presente livro você terá estudado teorias, procedimentos 
e técnicas de tradução de textos em língua espanhola. Faremos, ao longo desta 
jornada, diversos exercícios que nos auxiliarão a fixar o conhecimento aqui com-
partilhado, e treinar estas questões nos domínios da língua na qual você está 
estudando, a língua espanhola.
IV
Aceite este material como uma porta que o guiará ao mundo incrível 
da tradução. Seja muitíssimo bem-vindo a este universo! Aproveite com 
sabedoria o que a sua UNIASSELVI lhe proporciona.
Prof. Dr. Wellington Freire Machado
V
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
VI
VII
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá 
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, 
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
LEMBRETE
VIII
UNIDADE 1 – TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA DA TRADUÇÃO ............................................1
TÓPICO 1 – PRIMEIROS ESTUDOS DA TRADUÇÃO ...................................................................3
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3
2 A CONTRIBUIÇÃO DO FORMALISMO RUSSO ..........................................................................6
3 JIŘÍ LEVÝ E A RELAÇÃO COM O CÍRCULO DE PRAGA ...........................................................9
4 OUTRA VISÃO SOBRE O TRADUZIR ...........................................................................................12
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................16
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................17
TÓPICO 2 – TEORIAS CONTEMPORÂNEAS .................................................................................19
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................19
2 A QUESTÃO SISTÊMICA NO FORMALISMO RUSSO .............................................................20
3 ITAMAR EVEN-ZOHAR E A TEORIA DOS POLISSISTEMAS ................................................22
4 A ESPECIFICIDADE DA TRANSCRIAÇÃO .................................................................................30
5 A TRADUÇÃO CULTURAL ...............................................................................................................34
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................39
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................40
UNIDADE 2 – PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E LITERÁRIOS DA TRADUÇÃO ................41
TÓPICO 1 – A TRADUÇÃO LITERÁRIA ..........................................................................................43
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................43
2 A IMPORTÂNCIA DO TRADUTOR NO CAMPO LITERÁRIO ...............................................443 DUAS TENDÊNCIAS EM TRADUÇÃO DE FICÇÃO .................................................................46
4 A ESCOLHA DO TRADUTOR DE FICÇÃO ..................................................................................50
5 A TRADUÇÃO DE POESIA ...............................................................................................................54
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................59
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................60
TÓPICO 2 – ASPECTOS PROFISSIONAIS DA TRADUÇÃO ......................................................65
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................65
2 A INVISIBILIDADE DO TRADUTOR ............................................................................................66
3 A TRADUÇÃO E AS TOMADAS DE DECISÕES .........................................................................69
4 A QUESTÃO DA FLUÊNCIA .............................................................................................................72
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................74
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................75
TÓPICO 3 – A PRÁTICA DA TRADUÇÃO .......................................................................................77
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................77
2 A TRADUÇÃO JURAMENTADA ....................................................................................................78
3 TRADUÇÃO JURÍDICA .....................................................................................................................81
4 LEGENDAGEM E DUBLAGEM ........................................................................................................84
sumário
IX
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................88
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................89
UNIDADE 3 – O ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA E A TRADUÇÃO .............................91
TÓPICO 1 – AS LÍNGUAS DE SINAIS ..............................................................................................93
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................93
2 SURGIMENTO DAS LÍNGUAS DE SINAIS ................................................................................94
3 AS LÍNGUAS DE SINAIS NO MUNDO HISPÂNICO ................................................................97
4 LIBRAS....................................................................................................................................................98
5 A PROFISSÃO DE LIBRAS NO BRASIL: PROFESSOR, TRADUTOR/INTÉRPRETE .......100
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................105
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................106
TÓPICO 2 – PROGRAMAS DE APOIO À TRADUÇÃO (PAT) ...................................................107
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................107
2 O TRADUTOR FREELANCER E O MANEJO DE FERRAMENTAS .......................................108
3 FERRAMENTAS ÚTEIS ....................................................................................................................108
3.1 TRADOS ..........................................................................................................................................109
3.2 WORDFAST ....................................................................................................................................109
3.3 GOOGLE TRANSLATE ................................................................................................................110
3.4 MYMEMORY ..................................................................................................................................111
3.5 OMEGAT .........................................................................................................................................112
4 UMA REFLEXÃO SOBRE O USO DE SOFTWARES DE TRADUÇÃO ..................................113
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................116
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................117
TÓPICO 3 – NICHOS DA TRADUÇÃO ...........................................................................................119
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................119
2 TRADUÇÃO MÉDICA ......................................................................................................................120
3 TRADUÇÃO FARMACÊUTICA .....................................................................................................120
4 TRADUÇÃO DE GAMES .................................................................................................................121
5 TRADUÇÃO E-COMMERCE ...........................................................................................................122
6 TRADUÇÃO WEB ..............................................................................................................................123
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................125
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................126
TÓPICO 4 – A FORMAÇÃO DE TRADUTORES E INTERPRETES ..........................................129
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................129
2 A TRADUÇÃO SIMULTÂNEA .......................................................................................................130
3 A SITUAÇÃO PROFISSIONAL DO TRADUTOR HOJE ..........................................................133
4 ASSOCIAÇÕES DE TRADUTORES ..............................................................................................134
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................136
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................137
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................138
1
UNIDADE 1
TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA 
DA TRADUÇÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• conhecer os enfoques da tradução enquanto disciplina acadêmica;
• estudar as principais teorias da tradução;
• reconhecer as especificidades presentes nas teorias tradicionais e nas con-
temporâneas;
• entender a importância do Formalismo Russo para as primeiras teorias da 
tradução;
• conhecer a história da disciplina para, nas unidadesseguintes, estudar 
questões ligadas à prática da tradução;
• estudar a noção de Polissistemas;
• explorar teorias contemporâneas fundamentais, como a Teoria da Trans-
criação, a Teoria dos Polissistemas e Tradução Cultural.
Esta unidade está dividida em dois tópicos. No decorrer da unidade você en-
contrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – PRIMEIROS ESTUDOS DA TRADUÇÃO
TÓPICO 2 – TEORIAS CONTEMPORÂNEAS
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
PRIMEIROS ESTUDOS DA TRADUÇÃO
1 INTRODUÇÃO
Querido acadêmico! Antes de qualquer início é preciso escolher um ponto de 
partida. Nestas palavras iniciais explicaremos sobre o que trata este livro didático e 
também discorreremos a respeito da tradução como disciplina acadêmica.
Começaremos, então, por esse último. O termo Estudos da Tradução surge 
a partir da proposição de James Holmes, em artigo intitulado The name and nature 
of Translation Studies. Originalmente pensado em inglês, o autor sugere o título de 
Translation Studies, o que foi amplamente aceito por outros estudiosos do ramo.
De acordo com Introdução aos Estudos Tradutológicos (2015, p. 9), atualmente, 
pode-se dizer que os Estudos da Tradução, no que tange ao âmbito da pesquisa pura, 
bipartem-se em duas perspectivas infinitamente amplas: (a) os estudos descritivos da 
tradução; (b) os estudos teóricos da tradução.
Os estudos descritivos, de acordo com a proposta de Holmes (1988), centram-
-se no produto (product-oriented, a tradução em si mesma), na função (function-orien-
ted, a tradução em determinado contexto social) e também no processo (process-orien-
ted, o que acontece na mente do tradutor, o processo de traduzir).
A pesquisa focada no produto descreve a tradução como um todo, voltando 
seu foco para a questão textual: a comparação entre traduções e o contraste entre tra-
duções diferentes. Já os estudos focados na função se voltam, como o próprio nome 
sugere, para a função da tradução em dado contexto sociocultural. O foco aqui, dife-
rentemente dos estudos descritivos com enfoque no produto, volta-se para a questão 
do contexto, no qual se realiza determinada tradução. Já não mais o texto, mas o 
contexto. A questão histórica também possui grande importância para os estudos 
orientados por este caminho, segundo Holmes.
UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA 
4
FIGURA 1 – PESQUISA FOCADA NO PRODUTO
FONTE: <http://bit.ly/2P61SrP>. Acesso em: 29 nov. 2019.
Ainda, segundo Introdução aos Estudos Tradutológicos, (2015, p. 9), com relação 
aos estudos descritivos focados em questões de cunho psicológico, pode-se dizer que 
os estudiosos desse ramo consideram métodos do campo da psicologia para realizar 
suas pesquisas.
Na contraface dos estudos descritivos se encontram os estudos teóricos. Se 
por um lado os estudos descritivos se voltam para a descrição em três níveis possí-
veis, o que os estudos teóricos de tradução fazem é valer-se dos resultados obtidos na 
pesquisa descritiva para elaborar proposições de âmbito maior.
As teorias que se centram no meio, conforme Holmes (1988), dedicam-se a es-
tudar o meio em que ocorre a tradução, que pode ser a tradução feita por computado-
res, a tradução feita por intérpretes, ou também as CAT Tools, ferramentas do campo 
da computação que auxiliam o tradutor a realizar a sua tarefa. Já as teorias que se 
voltam para a área estão mais restritas ao par de línguas envolvidas (por exemplo es-
panhol-português). Diferentemente do enfoque voltado na área, que se vale de uma 
abordagem comparatista, as teorias enfocadas no nível lidam com os níveis linguís-
ticos possíveis de serem explorados. O nível da palavra, as terminologias etc. Ainda 
no nível do texto, as teorias dedicadas ao tipo textual se voltam para a questão dos 
gêneros, sejam eles literários ou não. Por último, e não menos importante, as teorias 
que se voltam à época enfocam em textos contemporâneos ou antigos. Já as teorias 
restritas a um tipo de problema se voltam, como o próprio nome sugere, a problemas 
próprios da área da tradução.
TÓPICO 1 | PRIMEIROS ESTUDOS DA TRADUÇÃO
5
FIGURA 2 – O TRABALHO DE INTÉRPRETE
FONTE: <http://bit.ly/3410laQ>. Acesso em: 29 nov. 2019.
A pesquisa aplicada em tradução se debruça sobre uma série de elementos 
empíricos que dizem respeito diretamente ao ato de traduzir em si. Um dos elemen-
tos desta pesquisa é a questão da tradução e do ensino: a formação do tradutor, a 
questão da técnica e problemas enfrentados no dia a dia de trabalho. A questão das 
ferramentas, por sua vez, dedica-se aos recursos que o tradutor terá ao seu dispor 
durante o trabalho da tradução: dicionários de dúvidas, gramáticas, dicionários eti-
mológicos etc. Já o campo relativo ao âmbito das políticas de tradução, volta-se às 
políticas linguísticas e a outras questões de política cultural. Por último, e não menos 
importante, na ponta do ramo em pesquisa aplicada em tradução, encontra-se o viés 
da crítica de tradução: é através desta pesquisa que se abaliza o mérito de traduções 
específicas, como destaca Holmes (1988). Tendo em vista este apanhado, o que espe-
rar, então, desta disciplina a partir deste ponto?
FIGURA 3 – FERRAMENTAS QUE AUXILIAM O TRADUTOR
FONTE: <http://bit.ly/356ulmK>. Acesso em: 29 nov. 2019.
UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA 
6
FIGURA 4 – O IMPÉRIO ROMANO E AS ORIGENS DA TRADUÇÃO
FONTE: <http://bit.ly/2P3wutV>. Acesso em: 29 nov. 2019.
Conheceremos, nestas páginas iniciais, nomes e teorias significativas que 
pensaram questões pertinentes à tradução enquanto disciplina acadêmica. Aborda-
remos, assim, questões teóricas que envolvem desde o nível da palavra, enquanto 
forma, até uma abordagem histórico-cultural da tradução.
2 A CONTRIBUIÇÃO DO FORMALISMO RUSSO
Alguma vez você já ouviu falar no Formalismo Russo? O Formalismo Russo 
foi uma corrente de crítica literária muito importante, surgida no começo do século 
XX e com reverberações posteriores. Na história dos estudos da tradução no ociden-
te, esta escola não é reconhecida como um marco de fundação nos estudos tradutó-
rios. No entanto, as bases do formalismo serviram para orientar a metodologia de 
estudiosos como Jiří Levý, conforme veremos a seguir. Afinal, o que defendia o For-
malismo Russo?
FIGURA 5 – O FORMALISTA BORIS MIKHAILOVICH EIKHENBAUM (1886-1959)
FONTE: <http://bit.ly/2E2pE1G>. Acesso em: 29 nov. 2019.
TÓPICO 1 | PRIMEIROS ESTUDOS DA TRADUÇÃO
7
Em seu livro intitulado Teorias Contemporâneas da Tradução, Edwin Gentzler 
(professor de literatura comparada e ex-diretor do Centro de Tradução da Universi-
dade de Massachusetts, Amhers), traça as principais características do Formalismo 
Russo, que de alguma forma serviram de base para os estudos posteriores de Jiří 
Levý na década de 1960.
Um dos primeiros apontamentos de Gentzler diz respeito à questão da lite-
rariedade: ele relembra que os formalistas russos buscavam isolar e definir o que os 
seguidores dessa corrente entendiam por "literariedade". Para tanto, esses estudiosos 
focavam em questões que "viam como fato literário separando artefatos literários de 
outras disciplinas, tais como a psicologia, sociologia e história cultural" (GENTZLER, 
2009, p. 111). Essa questão é importante porque nos dá a dimensão exata do entendi-
mento de arte e literatura que possuíam os formalistas. Para Viktor Chklovski (1973, 
p. 40), um dos formalistas mais estudados, a arte é entendida como “a soma dos dis-
positivos artísticos e literários que o artista manipula para criar sua obra".
Gentzler comenta que a literatura e os textos estudados eram vistos pelos 
formalistas como possuindo autonomia (independência). O autor considera esse con-
ceito bastante importante para a construção de teorias contemporâneas da tradução, 
pois o enfoque se volta para o texto em si e suas especificidades, nãopara noções 
idealizadas:
Essa noção é importante para a atual geração de estudiosos tradutores 
interessados em como a tradução literária pode contribuir com a teoria da 
tradução, pois lhes permite enfocar sua investigação em traços determi-
nantes específicos de textos literários, em vez de noções metafísicas acerca 
da natureza da literatura e do significado (GENTZLER, 2009, p.111).
Além disso, também é importante mencionar que os formalistas se preo-
cupavam com a questão da singularidade do texto: para Gentzler (2009), eles ten-
tavam determinar o que difere o texto literário de outros, ou, em suas palavras: "o 
que faz os textos literários diferentes de outros textos, que os torna novos, criativos, 
inovadores" (GENTZLER, 2009, p.11).
Alguma vez você já parou para pensar na questão do significado das pala-
vras na literatura? Veja o que diz o importante crítico literário brasileiro Ítalo Mori-
coni no livro Como e por que ler a poesia brasileira do século XX (2002, p. 8), a respeito 
do significado da palavra em âmbito poético:
Toda linguagem tem seu quê de poesia. Mas a poesia é onde o “quê” da 
linguagem está mais em pauta. A poesia brinca com a linguagem. Chama 
atenção para possibilidades de sentido. Explora significativamente coinci-
dências sonoras entre palavras. Fabrica identidades por analogia, através 
de imagens ou metáforas: mulher é flor, rapaz é rocha, amor é tocha. Nu-
vem é pluma. Pedra é sono.
Ainda nas palavras do autor:
UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA 
8
Ocorre que a palavra poesia abrange sentidos que vão além da linguagem 
verbal, oral ou escrita. Ela também se refere a um universo muito mais 
amplo e menos exclusivo ou especializado que o do livro e da leitura. É 
o lado aquém livro da poesia. Que tem a ver com o universo da cultura, 
tem a ver com o ar que nos envolve. Um filme pode ter poesia. Um gesto, 
comum ou excepcional, pode ter poesia. A poesia está no ar. A poesia é 
popular. Se mulher é flor, a poesia está na boca do povo, vem da boca do 
povo. Espera-se que a poesia enquanto arte específica das palavras de 
algum modo, revele ou esteja articulada com essa poesia além livro, essa 
poesia da vida (MORICONI, 2002, p. 8-9).
De fato, ao longo da história da humanidade, a literatura, arte cujo principal 
instrumento é a palavra, tem relegado amostras significativas do poder humano de 
criação e reinvenção do já conhecido. Uma abordagem formalista da criação literá-
ria nos permite contemplar a arte não no que diz respeito a sua estrutura profunda 
(como defendem teóricos do nível de Chomsky e Nida), mas sim no que tange aos 
seus elementos estruturais superficiais, conforme menciona Gentzler em seu manual 
de teoria da tradução.
Por falar em significado das palavras, você já leu alguma obra de Guimarães 
Rosa?
Foi um importante autor brasileiro conhecido por seu grande poder de invenção linguística 
e neologismos. Rosa criou palavras, brincou com o significado e escreveu com traço fino 
o seu nome na história da literatura brasileira.
Ficou curioso? Recomendamos a leitura de Grande Sertão: Veredas.
 
FONTE: ROSA, G. Grande Sertão: Veredas. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
DICAS
Observe, agora, o que diz Edwin Gentzler (2009, p. 112) com relação ao 
formalismo e aos Estudos da Tradução:
O formalismo e os estudos de tradução privilegiam elementos estruturais 
superficiais e os analisam a fim de aprender o que determina o status 
literário. De fato, os formalistas russos, embora usassem conceitos temá-
ticos, relegavam-nos a um status secundário e estavam mais interessa-
dos em conceitos composicionais. Argumentavam que as ideias abstratas 
frequentemente tinham a mesma aparência no decorrer da história; im-
portante para eles era como os conceitos temáticos se expressavam. Os 
estudos da tradução usam conceitos temáticos de um modo semelhante, 
mudando-os de uma posição primária e determinante para um conceito 
dependente da cultura e língua na qual estão inseridos.
Gentzler ainda enfatiza: 
TÓPICO 1 | PRIMEIROS ESTUDOS DA TRADUÇÃO
9
Talvez o aspecto mais importante e menos entendido do Formalismo Rus-
so seja sua dimensão histórica. Os ataques contra a escola tendem a criti-
car suas crenças “decadentes” da arte pela arte, e sua falta de parâmetros 
históricos. Os formalistas russos, contudo, não só analisavam os textos de 
maneira sincrônica, mas também diacrônica, tentando compreender como 
os textos se relacionam a uma tradição literária determinante. Sua análise 
formal incorporava, portanto, fatores intrínsecos e extrínsecos para deter-
minara contribuição de um texto específico para uma tradição literária em 
evolução ou seu distanciamento dela (GENTZLER, 2009, p. 112).
FIGURA 6 – EDWIN GENTZLER, AUTOR DE DIMENSÕES PRECURSORAS NA TEORIA DA 
TRADUÇÃO
FONTE: <http://tic-conference.eu/images/Edwin2-10.JPG>. Acesso em: 22 fev. 2019.
Com o advento da autenticidade, a metodologia e as convicções formalistas 
influenciaram gerações subsequentes de teóricos e pensadores sobre a arte, a palavra 
e os princípios de tradução. É o caso dos autores que conheceremos no subtópico 
seguinte.
3 JIŘÍ LEVÝ E A RELAÇÃO COM O CÍRCULO DE PRAGA
Os grupos conhecidos como checo e eslovaco eram constituído por teóricos 
como Jiří Levý, Frantisek Miko e Anton Popovic. De acordo com Gentzler (2009) estes 
grupos evoluíram a partir do próprio Formalismo Russo. Uma questão importante 
sinalizada pelo autor é o distanciamento do conceito de literatura "como obra au-
tônoma isolada do resto do mundo" (GENTZLER, 2009, p. 113). Para o autor, este 
movimento já começara anteriormente nas etapas últimas do formalismo:
UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA 
10
Um dos motivos de o texto de Levy, Umèni Preklodu (Tradução literária) 
(1963), traduzido para o alemão como Die Literarísche Übersetzung (1969), 
ser tão instrumental para os estudos da tradução foi justamente o fato de 
utilizar as doutrinas do Formalismo Russo, aplicando-as ao tema da tra-
dução e mostrando como as leis estruturais formalistas se localizavam na 
história e como elas interagem com pelo menos duas tradições literárias ao 
mesmo tempo, a da cultura-fonte e a da cultura receptora (GENTZLER, 
2009, p. 113).
FIGURA 7 – JIŘÍ LEVÝ
FONTE: <http://bit.ly/2Lxly5N>. Acesso em: 20 fev. 2019.
Jiří Levý (1926–1967) nasceu na Tchecoslováquia (atual República Checa). 
Foi um dos mais importantes pesquisadores da tradução de seu tempo. Levý 
também atuava como historiador e teórico da literatura, sendo o seu pensamento 
fundamental para o desenvolvimento da teoria da tradução naquele país. De 
acordo com Gentzler (2009), Levý possuía fortes raízes formalistas, o que é 
percebido através da metodologia linguística perceptível no projeto teórico do 
autor. Gentzler (2009) afirma que um primeiro fato que sobressai foi a distinção 
feita por Roman Jakobson em On Linguistic Aspect of Translation, obra de 1959:
Os estruturalistas de Pragaviam os textos como incorporados em redes se-
mióticas da língua como um código ou complexo de elementos linguísticos 
que se combinam de acordo com certas regras. Cada palavra, assim, rela-
ciona-se com outros segmentos do mesmo texto (sincrônica) e outras pala-
vras em textos na tradição literária (diacrônica) (GENTZLER, 2009, p. 114).
Levý estabeleceu, então, um modelo. Nesse modelo era salutar que se man-
tivesse a qualidade literária da obra de arte. Isto é, a tradução não agiria como um 
"agente facilitador", convertendo a complexidade do texto da cultura-fonte em algo 
mais palatável para a cultura-receptora. Além de Jakobson, outro membro do Círcu-
TÓPICO 1 | PRIMEIROS ESTUDOS DA TRADUÇÃO
11
lo Linguístico de Praga, foi salutar para a criação da teoria e Levý: Vilém Mathesius. 
Gentzler (2009, p. 114) afirma que em 1913 escrevera que "a meta fundamental da 
tradução literária era alcançar, ou pelos mesmos artifícios ou por outros, o mesmo 
efeito artístico que no original"
FIGURA – VILÉM MATHESIUS, PRESIDENTE DO CÍRCULO
Acadêmico! Ao longoda sua trajetória alguma vez você já deve ter ouvido falar no Círculo 
Linguístico de Praga. Vamos relembrar o que foi o Círculo?
O Círculo Linguístico de Praga, também conhecido como "Escola de Praga", foi um 
dos movimentos mais importantes no âmbito das letras no século XX. O grupo reuniu 
importantes linguistas e críticos literários responsáveis por estudos no âmbito da semiótica 
e do estruturalismo. Este grupo, estabelecido na cidade de Praga, havia teóricos do nível 
de Roman Jakobson, René Wellek, Vilém Mathesius e Nikolai Trubetzkoy.
FONTE: <http://ualk.ff.cuni.cz/userfiles/index.jpg>. Acesso em: 29 nov. 2019.
NOTA
Observe o que diz Gentzler (2009) sobre a concepção do efeito da tradução 
poética na teoria de Levý (amparado nas reflexões de Matheisus):
"A tradução significativa da poesia prova que a correspondência do efeito 
artístico é muito mais importante que os artifícios artísticos equivalentes. Mathesius 
afirmava que a tradução dos artifícios artísticos iguais ou quase iguais costuma fazer 
com que a tradução exerça efeitos diferentes no leitor” (GENTZLER, 2009, p. 114).
UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA 
12
O entendimento da língua para Levý passava pela ideia de que esta é um 
sistema semiótico conformada por aspectos sincrônicos e diacrônicos.
Caro acadêmico! Você lembra quando estudamos os conceitos de sincronia 
e diacronia no livro Linguística Aplicada à Língua Espanhola? Na ocasião, dissemos:
“Os conceitos de sincronia e diacronia são de importância vital para os estudos linguísticos. 
Saussure estabeleceu dois tipos de linguísticas: a linguística sincrônica e a linguística 
diacrônica. A sincrônica se ocupa de um recorte temporal (por exemplo, a língua no 
século XV). Já a linguística diacrônica se ocupa com as transformações da língua através 
do tempo (a língua nos séculos XV, XVI, XVII, XVIII...). O significado das palavras sincronia e 
diacronia está ligado à origem na língua grega: Diacronia, do grego dia ‘através’ e chrónos 
‘tempo’, quer dizer ‘através do tempo’, e sincronia, do grego syn ‘juntamente’ e chrónos 
‘tempo’, significa ‘ao mesmo tempo’" (MACHADO, 2017, p. 10).
FONTE: MACHADO, W. F. Linguística aplicada à língua espanhola. Indaial: Uniasselvi, 2017.
IMPORTANT
E
Uma das chaves para compreender a teoria de Levý, no que tange aos 
seus limites e à filosofia que emprega, pode ser encontrada na ideia exposta por 
Gentzler (2009) ao discorrer sobre a crença formalista em relação a poeticidade:
A crença formalista de que a poeticidade era uma qualidade formal, algo 
que podia ser separado de uma obra, é crucial para compreendermos a 
teoria de tradução de Levý. Ele acreditava que poderia determinar, pela 
lógica, aqueles aspectos que fazem de um texto uma obra de arte, sepa-
rando-os do conteúdo, do mundo, do sistema linguístico, substituindo-os 
por elementos estilísticos de uma língua diferente, igualmente separados 
de tudo o mais, e chegar a uma obra igualmente artística (GENTZLER, 
2009, p. 115).
Assentado sobre bases formalistas e inspirado por importantes nomes do 
Círculo de Praga, como Roman Jakobson e Vilém Mathesius, a Teoria da Tradução 
de Jiří Levý acrescenta ânimo aos Estudos da Tradução ao pensar a obra de arte ar-
ticulada em sistemas linguístico distintos, considerando especificidades em culturas 
diferentes, a fonte e a receptora.
4 OUTRA VISÃO SOBRE O TRADUZIR
Susan Bassnnet, professora universitária e importante teórica dos Estudos da 
Tradução, publicou, em 1980, um livro intitulado Translation Studies (Estudos da Tra-
dução, em tradução livre). As ideias defendidas pela professora da Universidade de 
TÓPICO 1 | PRIMEIROS ESTUDOS DA TRADUÇÃO
13
Warnick surgiram, segundo Gentzler, na esteira dos debates com os seus estudantes 
de pós-graduação. As ideias de Bassnnet são tão significativas, que Gentzler afirma 
que o livro fora "talvez o livro mais vendido de Estudos da Tradução" (GENTZLER, 
2009, p. 132). Afinal, o que defende Bassnnet?
FIGURA 8 – SUSAN BASSNETT
FONTE: <http://bit.ly/356zLy7>. Acesso em: 20 fev. 2019.
Primeiramente, é importante mencionar que Bassnett rompe com uma pers-
pectiva tradicional de teoria da tradução ao defender que "não há um modo correto 
de traduzir um texto literário" (GENTZLER, 2009, p. 132). Além disso, no livro de 
Bassnett também é defendida a ideia de que a interpretação da tradução seja baseada 
"na comparação da função do texto como original e traduzido" (GENTZLER, 2009, p. 
132). Veja o que diz Gentzler a respeito do modus operandi da teórica inglesa:
Em uma análise de um histórico da tradução de diversas versões do 13º po-
ema de Catulo, por exemplo, ela usa uma definição bastante geral do termo 
“função” para descrever “de maneira objetiva” as diferentes versões. Na 
verdade, porém, Bassnett parece se distanciar de uma tradução feita por sir 
Walter Marris, que “caiu no abismo esperando pelo tradutor que resolva se 
amarrar a um esquema de rima muito formal”, e preferir uma versão cheia 
de jargões e letras de rock’n ’roll de Franlc Copley, que ela acha “mais próxi-
ma do poema latino do que a versão literal de Marris”. Por fim, ao discorrer 
sobre uma versão de Ben Jonson, que traduziu o soneto em um poema de 
41 versos, ela sugere que se “aproxima mais em espírito, tom e linguagem 
a Catulo que qualquer uma das outras duas versões” (Bassnett, 1980, p. 88-
91). É claro que Bassnett tenta, retoricamente, decompor o conceito estreito 
dos leitores do que deveria ser uma tradução literária e nos ajudar a ver os 
fenômenos de tradução em um sentido mais amplo. Ela parece dar prefe-
rência, contudo, à inclusão de efeitos de ostranenie, possibilitando aos tradu-
tores acrescentar comentários e passagens a fim de acompanhar os efeitos 
do original e tornar o texto relevante para o leitor contemporâneo. Seu largo 
uso do termo “função” e sua aplicação liberal do conceito de mudança ate-
nuam as fronteiras entre definições tradicionais de tradução e adaptação 
(GENTZLER, 2009, p. 132).
As proposições da autora inglesa surgiram a partir de reflexões a respeito do 
flamengo/holandês. A perspectiva adotada pela autora, como percebemos através 
da exposição de Gentzler, traz-nos uma visão completamente ampliada da tradução, 
UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA 
14
isolando problematicamente questões como função, efeitos e atualização do texto aos 
leitores de determinada língua / tempo histórico.
Você sabe quem foi Catulo? Gaius Valerius Catullus foi um poeta romano 
nascido em Verona, aproximadamente 87 anos antes de Cristo! Durante o período 
republicano, o poeta romano é conhecido historiograficamente por ter rompido com 
as temáticas mitológicas presentes no passado romano, utilizando claramente em seus 
poemas uma linguagem coloquial.
NOTA
Gentzler (2009) menciona o trabalho de James Holmes como uma espécie de 
contraponto à perspectiva de Bassnett: "ele quer revelar primeiro o processo de tra-
dução, para depois entender por que determinadas decisões foram tomadas, antes 
de julgar o resultado como bom/mau, verdadeiro/inverídico ou compreendido/mal 
compreendido" (GENTZLER, 2009, p. 135). 
Nessa visão, a questão da tomada de decisão do tradutor é algo indissociável 
do processo de tradução, havendo sempre um leque de possibilidades à disposição 
do tradutor, que a todo momento se vê condicionado a realizar escolhas. Gentzler 
(2009, p. 135) pontua que "qualquer que seja o desenrolar da tradução, outras tradu-
ções sempre são possíveis, não melhores nem piores, mas diferentes, dependendo da 
poética do tradutor".
Esta abertura nos dá outra dimensão do processo de tradução, pois nos ensi-
na que o processo de escolhas do tradutor não precisa necessariamente se dar no âm-
bito da língua original ou na língua-alvo, mas no que Gentzler (2009) chama de "zona 
cinza", que se situa entre ambas línguas. Isto significa dizer que o tradutor, indivíduo 
conhecedor da língua/cultura fonte e da língua/cultura alvo, pondera, compara e es-
colhe a todo momento. 
A diferençaentre as abordagens de Holmes e de Bassnett é que Holmes 
tenta preservar o som, o sentido, o ritmo, o “material” textual do objeto na 
língua e recriar essas sensações específicas - som, sentido e associação - a 
despeito de limitações inerentes na língua-alvo, enquanto Bassnett enfoca 
o tema central e o significado, deriva a “função original” e permite a subs-
tituição de grande parte do texto, com todas as particulares ressonâncias e 
associações, por algo novo e muito diferente, mas que, em teoria, afeta o lei-
tor da mesma maneira. Em ambos os casos, atendo-se à definição da teoria 
dos estudos de tradução, podemos ver como os métodos para os tradutores 
em treinamento e/ou a real prática da tradução dão substância a qualquer 
discussão de teoria (GENTZLER, 2009, p.135).
TÓPICO 1 | PRIMEIROS ESTUDOS DA TRADUÇÃO
15
Você pode encontrar o artigo The name and the nature of Translation Studies 
em https://www.tau.ac.il/tarbut/tirgum/holmes75.htm. O texto está disponibilizado em 
língua inglesa.
DICAS
16
Neste tópico, você aprendeu que:
• É recente a existência da tradução como disciplina acadêmica.
• A pesquisa pura em tradução se biparte em estudos descritivos e estudos teóricos.
• James S. Holmes foi quem propôs o termo Translation Studies (Estudos da Tradução).
• A pesquisa aplicada explora a questão do ensino, das ferramentas, das políticas de 
tradução e da crítica.
• O Formalismo Russo serviu de base para as primeiras teorias acadêmicas que eclo-
diram na segunda metade do século XX.
• Jiří Levý utilizou perspectivas do Formalismo Russo aplicadas à tradução, consi-
derando aspectos relativos à cultura fonte e cultura receptora.
• Susan Bassnett isola problematicamente questões como função, efeitos e atualiza-
ção do texto aos leitores de determinada língua / tempo histórico.
RESUMO DO TÓPICO 1
17
1 Relacione as colunas:
Indique a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) 1 – 2 – 2 – 1 – 2 – 1 – 2.
b) ( ) 1 – 1 – 1 – 1 – 2 – 1 – 2.
c) ( ) 2 – 2 – 1 – 1 – 1 – 1 – 2.
d) ( ) 2 – 1 – 2 – 1 – 1 – 1 – 1.
e) ( ) 2 – 2 – 2 – 1 – 1 – 1 – 1.
2 A partir do que estudamos no subtópico 2, "A contribuição do Formalismo 
Russo", considere as seguintes afirmações:
I- O Formalismo Russo foi uma escola que se dedicou exclusivamente aos Estudos 
da Tradução, sendo considerada a pioneira.
II- Os formalistas russos buscavam isolar e definir o que os seguidores dessa cor-
rente entendiam por "literariedade".
III- Para os formalistas não havia diferença da forma dos textos literários para ou-
tras formas.
É CORRETO o que se afirma em:
a) ( ) I, II e III.
b) ( ) I e II.
c) ( ) Apenas II.
d) ( ) I e III.
e) ( ) Todas as opções estão incorretas.
3 Marque a opção CORRETA:
a) ( ) Susan Bassnett defende que há apenas um modo correto de traduzir.
b) ( ) A questão da tomada de decisão por parte do tradutor é um ponto de refle-
xão na teoria de James Holmes.
c) ( ) Bassnett tenta preservar o som, o sentido, o ritmo, o “material” textual do 
objeto na língua e recriar essas sensações específicas.
d) ( ) Holmes enfoca o tema central e o significado, deriva a “função original” e 
permite a substituição de grande parte do texto.
e) ( ) Aspectos como questões, como função e tempo histórico não são importan-
tes para a teoria de Bassnett.
AUTOATIVIDADE
Estudos descritivos de tradução
Estudos teóricos de tradução
( ) Foco no produto
( ) Foco no meio
( ) Foco no tipo textual
( ) Foco no processo
( ) Foco na época
( ) Foco na função
( ) Foco na área
18
19
TÓPICO 2
TEORIAS CONTEMPORÂNEAS
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
A Teoria dos Polissistemas surgiu através dos estudos e reflexões de Itamar 
Even-Zohar, professor da Universidade de Tel Aviv (Israel). Even-Zohar é um dos 
mais importantes teóricos da cultura da atualidade e vem desenvolvendo, da segun-
da metade do século XX aos dias atuais, importantes estudos que nos permitem com-
preender a questão cultural a partir de uma perspectiva sistêmica.
FIGURA 9 – A TEORIA DOS POLISSISTEMAS
FONTE: <http://bit.ly/2LyWLhC>. Acesso em: 29 nov. 2019.
Even-Zohar não é propriamente um tradutor ou especialista em Estudos 
da Tradução. No entanto, ao longo de sua vasta produção ensaística, dedicou-se a 
abordar a tradução literária no plexo central da cultura. No livro Polisistemas de Cul-
tura (2017), o teórico israelense dedicou três ensaios ao tema da tradução: La posición 
de la literatura traducida en el polisistema literario; La fabricación del repertorio cultural y 
el papel de la transferencia; e Textemas vs. repertoremas en la traducción.
Nas páginas seguintes conheceremos não somente a teoria de Even-Zohar, 
mas também uma ideia embrionária já perceptível no Formalismo Russo e outras 
teorias contemporâneas.
UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA 
20
Você pode baixar gratuitamente o livro Polisistemas de Cultura (2017), em 
espanhol, diretamente através do website do autor. Para fazê-lo, acesse: https://m.tau.
ac.il/~itamarez/works/papers/trabajos/polisistemas_de_cultura2007.pdf.
DICAS
2 A QUESTÃO SISTÊMICA NO FORMALISMO RUSSO
Anteriormente, falamos nos primeiros formalistas russos e a influência desta 
significativa escola de crítica literária para os Estudos da Tradução. Você recorda 
qual era um dos principais conceitos associados ao formalismo? Na ocasião, men-
cionamos a questão da "autonomia": a linguagem poética e literária, em uma visão 
formalista, só é literária ao demonstrar capacidade de ressignificação. Por esta razão, 
a questão da autonomia esteve no centro dos principais estudos de base formalista. 
Mas, em que ponto essa visão da literatura começa a mudar e por que isso é tão im-
portante para os Estudos da Tradução e, por conseguinte, para a Teoria dos Polissis-
temas de Itamar Even-Zohar?
FIGURA 10 – YURI TYNIANOV (1894-1943) E A QUESTÃO SISTÊMICA
FONTE: <http://bit.ly/2Prl822>. Acesso em: 29 out. 2019.
Ao discorrer sobre o Formalismo Russo em Teorias contemporâneas da tra-
dução, Gentzler (2009) menciona que em Boris Èjxenbaum já ocorre a defesa do aban-
dono do entendimento da literatura como arte autônoma em prol de um entendi-
mento histórico do fenômeno literário. Se a literatura é produzida em âmbito social, 
como ignorar as diferentes variáveis que influenciam em sua criação?
https://m.tau.ac.il/~itamarez/works/papers/trabajos/polisistemas_de_cultura2007.pdf
https://m.tau.ac.il/~itamarez/works/papers/trabajos/polisistemas_de_cultura2007.pdf
TÓPICO 2 | TEORIAS CONTEMPORÂNEAS
21
O problema desta perspectiva se dá, inicialmente, porque o estudo da for-
ma – e a compreensão da autonomia dos textos literários e poéticos –, são pedras 
angulares na constituição desta escola de pensamento. No entanto, a mudança desta 
perspectiva ocorreu e, longe de ser uma traição ao modus operandi formalista, é vista 
pela crítica como um estágio natural das próprias ideias defendidas pelos formalistas 
russos. Veja o que diz Gentzler ao comentar esta questão:
[...] essa ruptura do formalismo russo foi uma consequência natural da 
abordagem formalista: na análise de uma questão literária específica, o 
crítico logo percebia que o problema literário não só estava emaranhado 
na história, mas também influenciava a história na qual se insere, abrindo 
o problema complexo da evolução literária (GENTZLER, 2009, p. 144).
Posterior às reflexões de Èjxenbaum, os formalistas seguintes passaram a 
considerar nuances de significativo valor histórico. Foi então que Yuri Tynianov 
(1928) escreveu ensaio intitulado Da Evolução Literária:
O crítico logo percebia que o problema literário não só estava emara-
nhado na história, mas também influenciava a história na qual se insere, 
abrindo o problema complexo da evolução literária. Segundo Tynjanov, 
qualquer nova obra literária deve necessariamente desconstruir unida-
des existentes ou, por definição, deixa de ser literária. A tradição literária 
não era mais concebida como uma linha reta contínua, mas antes como 
uma luta envolvendo destruição e reconstrução a partir deelementos" 
(TYNIANOV, 1928 apud GENTZLER, 2009, p.144)
Ruptura crítica – este é o termo com o qual Gentzler define Tynianov ao con-
siderar o desenvolvimento do formalismo e a relevância desta escola para os Estudos 
da Tradução. A crítica, que o autor direcionou em outros ensaios, volta-se contra o 
projeto formalista, chegando a criticar a pesquisa desenvolvida por alguns colegas, 
considerando-as "superficiais e mecânicas e seus resultados ilusórios e abstratos" 
(GENTZLER, 2009, p. 144).
FIGURA 11 – RÚSSIA, LOCAL E SURGIMENTO DO FORMALISMO RUSSO
FONTE: <http://bit.ly/2rt0tCE>. Acesso em: 29 out. 2019.
UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA 
22
A teoria de Tynianov (1928) acrescenta a noção de sistema e alarga as frontei-
ras do entendimento do fenômeno literário. Veja o que diz Even-Zohar a respeito do 
Formalista Russo: 
La formulación de Tynianov sobre las fronteras cambiantes de la literatu-
ra, en cuanto campo de acción institucionalizado en el que los rasgos es-
pecíficos que operan en él y por él están sometidos a una transformación 
constante, nos ha permitido liberarnos de la constricción de objetos de es-
tudio ya delimitados por las instituciones de la sociedad (EVEN-ZOHAR, 
2017, p. 26).
FIGURA 12 – AS INFLUÊNCIAS DO TEMPO HISTÓRICO
FONTE: <http://bit.ly/2E21sMQ>. Acesso em: 28 fev. 2019.
Ao trazer a noção de sistema, o formalismo, então, abriu caminhos para os 
teóricos que viriam posteriormente no fluxo temporal. No subcapítulo seguinte co-
nheceremos a teoria de Itamar Even-Zohar, em seus limites e importância para ques-
tões de tradução.
3 ITAMAR EVEN-ZOHAR E A TEORIA DOS POLISSISTEMAS
Atualmente, (re)conhecido como um dos mais importantes teóricos da cultu-
ra vivo, não é à toa que a teoria de Even-Zohar reverbera pelos mais distintos campos, 
permitindo leituras atentas e constantemente renovadas. De todas as características e 
limites naturalmente existentes na teoria de Even-Zohar, o grande destaque diz res-
peito ao alcance múltiplo e às possibilidades de leitura possíveis. A tradução, ponto 
diretamente relacionado com a questão literária, ganha grande destaque na linha de 
pensamento do teórico israelense.
TÓPICO 2 | TEORIAS CONTEMPORÂNEAS
23
FIGURA 13 – ITAMAR EVEN-ZOHAR, TEÓRICO DA UNIVERSIDADE DE TELAVIV
FONTE:<http://bit.ly/2DZkxiD>. Acesso em: 29 out. 2019.
A grande contribuição de Even-Zohar ao campo de estudos de cultura é o 
conceito de Polissistema. O Polissistema, como expressa o próprio nome, significa 
uma multiplicidade (poli) de sistemas que estão em constante interação. Estes siste-
mas, que funcionam articulados uns com os outros, podem ser de natureza literária 
ou extraliterária. A Teoria dos Polissistemas busca compreender a atuação de formas 
distintas de escrita em uma cultura específica.
A abordagem de Even-Zohar é considerada bastante completa porque ob-
serva o fenômeno ao qual se debruça a partir de diversas variáveis que permitem a 
existência do fenômeno "A" ou "B". A esta altura, você deve estar se perguntando: de 
onde surgiu essa noção de sistemas múltiplos que se entrecruzam e geram fenôme-
nos perceptíveis em âmbito social?
A resposta está você encontra nas páginas anteriores ao texto que você está 
lendo, acadêmico. Relembre que há pouco falávamos sobre o teórico russo Yuri Ty-
nianov (1928), especificamente sobre a singularidade deste teórico em relação aos 
demais formalistas russos. Gentzler (2009) comenta, em subcapítulo intitulado Ita-
mar Even-Zohar: explorando relações literárias intrasistêmicas, que a inspiração de Even-
-Zohar partiu, em primeira instância, dos conceitos outrora apresentados por Tynia-
nov, "como sistema, normas literárias e a noção de evolução como uma luta contínua 
entre vários sistemas literários" (GENTZLER, 2009, p. 148). O lugar de fala de Even-
-Zohar é a cultura hebraica, e as principais motivações que conduziram sua linha de 
pensamento, estão relacionadas com a tradução de textos literários para o hebraico e 
a relação do hebraico com outros sistemas. Observe, agora, a definição de Gentzler a 
respeito do Polissistema:
UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA 
24
Even-Zohar adotou o conceito de sistema de Tynjanov, sua estrutura hie-
rárquica de diferentes sistemas literários, seu conceito de desfamiliariza-
ção como artifício medidor de significação literária histórica e, por fim, 
seu conceito de mutação e evolução literária. A definição de Even-Zohar 
de Polissistema é igual ao conceito de sistema de Tynjanov, incluindo as 
estruturas literárias, semiliterárias e extraliterárias. O termo “Polissis-
tema” é, portanto, global, abordando todos os sistemas literários, tanto 
maiores quanto menores, existentes em determinada cultura. A substân-
cia de sua pesquisa envolve sua exploração das complexas inter-relações 
entre os vários sistemas, principalmente os sistemas maiores e os subsis-
temas menores (GENTZLER, 2009, p. 149).
O que você está achando das teorias que estamos apresentando a você? 
Complexo? Difícil de visualizar mentalmente? De fato, acadêmico, estes conceitos não são 
fáceis em um primeiro momento. Apesar disso, eles são importantes para que possamos 
dar início aos nossos Estudos da Tradução. Ao compreender a história desta disciplina 
em nível acadêmico, assim como outras questões teóricas, automaticamente estaremos 
aptos para avançar rumo a questões pertinentes ao ato de traduzir.
UNI
Onde entra a questão da tradução nessa ideia de Polissistema apresentado 
pelo teórico israelense? Even-Zohar considerou que a literatura traduzida deveria 
ser incluída no Polissistema: "em todos os modelos de sistemas anteriores, as tra-
duções eram invariavelmente classificadas como sistemas secundários; os dados 
de Even-Zohar mostravam que tal classificação pode ser incorreta" (GENTZLER, 
2009, p. 150). A questão centra-se, especificamente, em torno dos sistemas de cultu-
ras maiores e sistemas de culturas menores. Gentzler (2009) comenta que a tradução 
no âmbito das culturas maiores "como a anglo-americana ou francesa, diferem dos 
polissistemas de nações mais jovens ou menores, como Israel ou os Países Baixos" 
(GENTZLER, 2009, p. 150). Por serem autossuficientes, os polissistemas de cultura 
maior escanteiam a tradução literária para a margem social, ao passo que em culturas 
menores essas traduções ocupam um espaço de maior destaque. Esta conclusão é um 
exemplo bastante notável de um tipo de investigação realizada no domínio da Teoria 
do Polissistemas: o foco não está na tradução em si (enquanto forma), mas na rever-
beração desta em âmbito sociocultural, o que redimensiona o espectro de pesquisa 
do investigador.
TÓPICO 2 | TEORIAS CONTEMPORÂNEAS
25
FIGURA 14 – UNIVERSIDADE DE TEL AVIV, BERÇO DA TEORIA DE IVEN ZOHAR
FONTE: <http://bit.ly/36hB8u7>. Acesso em: 31 out. 2019.
Observe o que diz Even-Zohar a respeito da relação dos textos de origem 
e a literatura receptora:
Mi tesis es que las obras traducidas si se relacionan entre ellas al menos de 
dos maneras: por el modo en que los textos de origen son seleccionados 
por la literatura receptora, pues nunca hay una ausencia total de relación 
entre los principios de selección y los co-sistemas locales de la literatu-
ra receptora (para decirlo con la mayor cautela posible); y por el modo 
en que adoptan normas, hábitos y criterios específicos -en resumen, por 
su utilización del repertorio literario –, que resulta de sus relaciones con 
otros co-sistemas locales. Dichas relaciones no se limitan al nivel lingüís-
tico, sino que aparecen también en cualquier otro nivel de selección. De 
esta forma, la literatura traducida puede poseer un repertorio propio y 
hasta cierto punto exclusivo (EVEN-ZOHAR, 1999, p. 224).
Você pode ler o ensaio La posición de la literatura traducida en el polisistema 
literario, acessando: http://bit.ly/2YvOsbH.
FONTE: EVEN-ZOHAR, I. La posición de la literatura traducida en el polisistema literario. 
Traducción de Montserrat Iglesias Santos revisada por el autor. In: EVEN-ZOHAR,I. Teoría 
de los Polisistemas, Estudio introductorio, compilación de textos y bibliografía por 
Montserrat Iglesias Santos. Bibliotheca Philologica, Serie Lecturas. Madrid: Arco, 1999. pp. 
223-231.
DICAS
UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA 
26
Even-Zohar defende que há uma relação entre a cultura originária e a re-
ceptora e esta relação se manifesta na escolha dos textos traduzidos. O autor afirma, 
ainda, que considera a literatura traduzida "no solo como un sistema integrante de 
cualquier polisistema literario, sino como uno de los más activos en su seno" (EVEN-
-ZOHAR, 1999, p. 224).
Outro ponto relevante é a questão da posição da obra traduzida no Polissis-
tema literário, que não pode ser estaticamente primária ou secundária, sendo esta re-
lação variável (a depender das circunstâncias). Gentzler (2009) esmiúça essa questão, 
exemplificando cada um dos momentos em que a condição se alterna de secundária 
para primária:
Even-Zohar especifica três circunstâncias sociais que geram uma situação 
na qual a tradução ocuparia uma posição primária: quando uma literatura 
é “jovem” ou no processo de ser estabelecida; quando uma literatura é “pe-
riférica” ou “ fraca” ou ambas as coisas e quando uma literatura está viven-
do uma “crise” ou um momento de mudança (Even-Zohar, 1978a: 24). No 
primeiro caso, como é próprio da situação israelita e parece característico 
da cultura checa do século XIX (MACURA, 1990), a tradução supre a ne-
cessidade de uma literatura jovem de usar sua língua nova para tantas e va-
riadas espécies de escrita quantas forem possíveis. Como não podem criar 
todas as formas e gêneros, os textos traduzidos servem como a referência 
mais importante, durante certo período de tempo (embora não se limitem 
a essa função na hierarquia). Segundo Even-Zohar, o mesmo princípio se 
aplica à segunda situação, na qual uma literatura fraca, geralmente de uma 
nação menor, como Israel, não é capaz de produzir todas as espécies de 
escrita que um sistema mais forte, maior, reproduz - daí a inabilidade para 
produzir inovação e a subsequente dependência da tradução para introdu-
zir textos que estabeleçam precedentes. Em tais circunstâncias, os textos tra-
duzidos servem não apenas como um meio pelo qual novas ideias podem 
ser importadas, mas também como a forma de escrita mais imitada por 
escritores “criativos” na língua nativa. Na terceira situação, talvez análoga 
à situação cultural na América do Norte na década de 1960, modelos lite-
rários definidos já não estimulam a nova geração de escritores, que recor-
rem a outras fontes para encontrar ideias e formas. Sob tais circunstâncias 
históricas, ou combinação de circunstâncias, tanto escritores estabelecidos 
quanto de vanguarda produzem traduções, e, pelo texto traduzido, novos 
elementos são introduzidos em um sistema literário que, sem eles, não apa-
receria (GENTZLER, 2009, p. 151).
Como podemos perceber, a tradução em uma perspectiva polissistêmica está 
muito além da questão puramente textual, envolvendo condições socioculturais e 
atores que de alguma forma determinam o status ou a posição das traduções no âm-
bito do polissistema literário. Em outras palavras, questão social é fundamental na 
determinação dos papéis desempenhados pelas traduções feitas em determinado sis-
tema. Isso está diretamente ligado ao quão forte determinado sistema literário é (com 
modelos pré-existentes, presença ou não de cânone estabelecido etc). 
Even-Zohar, no entanto, afirma que “não somente o status socioliterário da 
tradução depende de sua posição dentro do polissistema, mas a prática da tradução 
também está subordinada a determinada posição” (EVEN-ZOHAR, 1999, p. 231).
TÓPICO 2 | TEORIAS CONTEMPORÂNEAS
27
Outra questão relevante é o porquê do surgimento de traduções. Gentzler 
comenta que Even-Zohar fala em "vácuos" em determinada cultura literária. Estes 
vácuos constituiriam a falta de características "técnicas, formas e até gêneros" (GENT-
ZLER, 2009, p. 152). Nesse sentido, a tradução preencheria um espaço até então não 
existente na cultura receptora, alargando, assim, os horizontes da cultura que rece-
beu. Pelo contrário, se não são feitas importações – de literatura estrangeira e de tra-
duções –, o sistema manter-se-ia estagnado e impossibilitado de desenvolver-se até o 
desejável estado de dinâmico.
Imagine você uma cultura literária muito jovem: uma nação recém-criada, 
uma língua sem memória conhecida ou tradição literária conservada. A tradução, em 
um contexto assim, passaria a apresentar linguagens "novas" aos produtores literá-
rios da cultura receptora. É como se o sistema A fornecesse a semente necessária pra 
que novas formas de literatura cresçam no solo receptor.
Even-zohar especifica que a literatura traduzida pode estar conectada com 
repertórios inovadores (caracterizados por ele como primários) ou com repertórios 
conservadores (secundários). O que ocorre quando determinada tradução (inovado-
ra, primária) penetra no solo da cultura receptora? [...] "no se puede mantener una 
distinción nítida entre textos originales y textos traducidos" (EVEN-ZOHAR, 1999, p. 
225). Ocorre uma espécie de fusão que torna por limitar as fronteiras. Isso acontece, 
sobretudo, porque, para o autor, muitas vezes as traduções são feitas por escritores 
destacados ou então membros da vanguarda que estão prestes a se transformar.
Se pensarmos nos maiores escritores brasileiros, prontamente perceberemos 
que muitos deles, além de escritores, também eram tradutores. Este é o caso de Ma-
chado de Assis, Manuel Bandeira, Cecília Meirelles e Haroldo de Campos. Juntos, 
os referidos autores traduziram ninguém menos que Edgard Allan Poe, Charles Di-
ckens, Virginia Woolf, Shakespeare, Sor Juana Inés de la Cruz, José Zorilla, Bertold 
Brecht, Jean de Cocteau, Friedrich Schiller, Ezra Pound, Homero, Maiakovski.
Um caso de vanguarda, por exemplo, liga-se à figura de Haroldo de Cam-
pos (a quem conheceremos nas páginas seguintes). Campos fazia parte do grupo 
Noigandres, grupo brasileiro de poetas de vanguarda formado em 1952, por nomes 
como Décio Pignatari, Augusto de Campos e Haroldo de Campos. Este grupo foi o 
responsável pelo surgimento da Poesia Concreta no Brasil. Juntos, traduziram obras 
de vanguarda que de alguma forma inspiraram a criação de outras similares no Po-
lissistema literário nacional.
UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA 
28
FIGURA 15 – REVISTA NOIGANDRES.
FONTE: <http://bit.ly/2YwbpeH>. Acesso em: 25 fev 2019.
Você conhece a literatura concretista do século XX? Os concretistas apresen-
taram uma nova forma de fazer literatura no Polissistema literário brasileiro. Suas contribui-
ções até hoje expressam um modo de fazer arte bastante particular.
NOTA
Ainda sobre a inserção de uma tradução em dada cultura, Even-Zohar si-
naliza que no momento em que surgem novos modelos literários, a tradução se 
transforma em um dos instrumentos de elaboração do novo repertório. Ou seja, é a 
partir dela que se criarão outras formas literárias: "A través de obras extranjeras se 
introducen en la litertura local ciertos rasgos (tanto princípios como elementos) antes 
inexistentes" (EVEN-ZOHAR, 1999, p. 225). Se incorporam, além de novos modelos, 
uma série de traços como "un lenguaje (poético) nuevo o nuevos modelos y técnicas 
compositivas" (EVEN-ZOHAR, 1999, p. 225). Os critérios que selecionam as obras 
traduzidas, adverte Even-Zohar, já são pré-determinados pela situação predominan-
te no polissistema local. Os textos não são escolhidos a esmo, de forma aleatória. 
Eles são escolhidos por que são compatíveis com o campo de expectativas da cultura 
receptora, com "las nuevas tendencias y con el papel supuestamente innovador que 
pueden asumir dentro de la literatura receptora" (EVEN-ZOHAR, 1999, p. 225).
Pense, por exemplo, no Polissistema literário brasileiro e no mercado editorial 
nacional. Basta uma visita nas principais livrarias localizadas em cidades de grande, 
médio e pequeno porte, para percebera invasão de diversos tipos de bestsellers que a 
cada ano invadem o mercado nacional e são devorados por um público receptor ávi-
TÓPICO 2 | TEORIAS CONTEMPORÂNEAS
29
do pelos lançamentos. Desde meados do século XIX, o Polissistema literário brasilei-
ro vem buscando sua afirmação frente a outros sistemas tradicionais. Lembre-se que 
os primeiros esforços partiram dos românticos, como José de Alencar, que buscavam 
na natureza e na cor local a verdadeira identidade brasileira.
Dado o advento da globalização, da internet e do surgimento de outras for-
mas de arte, (como o cinema, a televisão e os quadrinhos), hoje, menos de duzentos 
anos após os esforços dos primeiros românticos, o Polissistema literário nacional ain-
da importa repertórios de matriz primárias (inovadoras). As séries de livros publica-
dos por George R. R. Martin (Game of Thrones), são exemplos bastante tangíveis, que 
motivaram toda uma nova geração de escritores que produzem histórias inspiradas 
no estilo do autor inglês: Raphael Draccon, Felipe Castilho, Leonel Caldela e outros.
FIGURA 16 – RAPHAEL DRACCON / GEORGE MARTIN
FONTE: <http://bit.ly/2rx5xWu>. Acesso em: 29 nov. 2019. 
A teoria de Even-Zohar nos permite entender, então, como a tradução literá-
ria se articula com o Polissistema que a recebe, considerando variáveis que podem 
ser de ordem diversa e contribuindo com uma visão bastante ampla de uma teoria da 
tradução. Com Even-Zohar é dado um passo além do Formalismo Russo e das ou-
tras teorias predecessoras. Compreende-se o entendimento de teóricos como James 
S. Holmes (a quem Even-Zohar dedica uma epígrafe na introdução do ensaio La po-
sición de la literatura traduzida en el polisistema literário: a la memoria de James S Holmes, 
un gran estudioso de la traducción y un muy querido amigo” (EVEN-ZOHAR, 1999, 
p. 223) e esclarece as relações entre literatura, tradução e cultura.
UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA 
30
Recomendamos a leitura dos seguintes ensaios de Even-Zohar sobre a 
tradução literária:
EVEN-ZOHAR, I. La fabricación del repertorio cultural y el papel de la transferencia. In: 
Interculturas, Transliteraturas. Sanz Cabrerizo, Amelia ed. Madrid: Arco Libros, 2008. p. 217-
226. Disponível em: https://m.tau.ac.il/~itamarez/works/papers/trabajos/EZ-Fabricaccion-
del-repertorio2008.pdf. Acesso em: 29 out. 2019.
FONTE: EVEN-ZOHAR, I. La posición de la literatura traducida en el polisistema literario. 
Traducción de Montserrat Iglesias Santos revisada por el autor. In: EVEN-ZOHAR, I. Teoría 
de los Polisistemas, Estudio introductorio, compilación de textos y bibliografía por 
Montserrat Iglesias Santos. [Bibliotheca Philologica, Serie Lecturas] Madrid: Arco Libros, 
1999. p. 223-231. Disponível em: https://m.tau.ac.il/~itamarez/works/papers/trabajos/EZ-
Posicion-Traduccion.pdf. Acesso em: 29 out. 2019.
DICAS
4 A ESPECIFICIDADE DA TRANSCRIAÇÃO
No Brasil, a Teoria da Transcriação em âmbito poético surgiu através da mão 
de Haroldo de Campos (1929-2003). Campos foi um poeta e tradutor brasileiro e re-
conhecido como um dos principais nomes do Concretismo. Fazia parte do grupo 
Noigandres com seu irmão, o poeta Augusto de Campos, e Décio Pignatari. Publicou 
grande parte dos seus poemas na revista homônima do grupo.
O que significa o termo Transcriação, cunhado pelo autor paulista? Primeira-
mente, cabe afirmar que a Transcriação é um conceito complexo de difícil definição, 
inclusive para o próprio Haroldo de Campos. Nas linhas seguintes buscaremos elen-
car as principais características que conformam a ideia de transcriação desenvolvida 
pelo teórico paulistano.
https://m.tau.ac.il/~itamarez/works/papers/trabajos/EZ-Fabricaccion-del-repertorio2008.pdf
https://m.tau.ac.il/~itamarez/works/papers/trabajos/EZ-Fabricaccion-del-repertorio2008.pdf
https://m.tau.ac.il/~itamarez/works/papers/trabajos/EZ-Posicion-Traduccion.pdf
https://m.tau.ac.il/~itamarez/works/papers/trabajos/EZ-Posicion-Traduccion.pdf
TÓPICO 2 | TEORIAS CONTEMPORÂNEAS
31
FIGURA 17 – HAROLDO DE CAMPOS
FONTE: <http://bit.ly/2P2IxHS>. Acesso em: 29 out. 2019.
Você sabe o que foi o Concretismo?
“Os princípios do concretismo afastam da arte qualquer conotação lírica ou simbólica. 
O quadro, construído exclusivamente com elementos plásticos – planos e cores –, não 
tem outra significação senão ele próprio. A pintura concreta é "não abstrata", afirma Van 
Doesburg em seu manifesto, "pois nada é mais concreto, mais real, que uma linha, uma 
cor, uma superfície". Os desdobramentos da arte concreta na poesia se evidenciam em 
São Paulo pelo lançamento da revista Noigandres, em 1952, editada pelos irmãos Haroldo 
de Campos (1929-2003) e Augusto de Campos (1931), e por Décio Pignatari (1927-2012). 
No Rio de Janeiro, alunos do curso de Ivan Serpa no Museu de Arte Moderna do Rio de 
Janeiro (MAM/RJ), tendo como teóricos os críticos Mário Pedrosa (1900-1981) e Ferreira 
Gullar (1930-2016), formam o Grupo Frente, em 1954.”
FONTE: Concretismo. In: ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL. São Paulo: Itaú Cultural, 2019. 
Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo370/concretismo>. Acesso 
em: 4 de mar. 2019. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7.
IMPORTANT
E
A tradução, na visão de Haroldo de Campus, não é apenas uma simples 
transferência da língua original para a traduzida. O trabalho do tradutor é uma espé-
cie de criação que mantém na língua traduzida a essência das nuances presentes no 
texto original. Esta definição vale, em primeira instância, para o âmbito da tradução 
poética. Veja o que diz a Enciclopédia Itaú Cultural (2019, s.p) a respeito do termo:
O principal objetivo do tradutor, segundo a concepção de Haroldo, é fa-
zer coam que, de alguma maneira, a essência poética da língua de partida 
encontre ressonância da língua de chegada, mesmo que isso signifique 
certas alterações semânticas em relação ao poema original, as chamadas 
“lei das compensações em poesia.
UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA 
32
O objetivo do texto, em uma visão transcriadora, é mais importante do que 
o significado específico das palavras ao serem traduzidas. Ao detectar os elementos 
estruturais (como versos, sons e ritmos), o transcriador deve manter este objetivo do 
texto original, mantendo-se fiel aos propósitos do autor. É importante mencionar que 
há liberdade criativa no ato de transcriar, contanto que se mantenha o objetivo prin-
cipal. Imagine um poema que ao ser lido transpareça ao leitor a impressão de estar 
ouvindo as ondas do mar. O transcriador poderá, para manter este objetivo em sua 
trancriação, optar por formas que melhor se adequem a este objetivo na língua para 
a qual o texto será traduzido.
Desde o barroco, ou seja, desde sempre, não nos podemos pensar como 
identidade fechada e conclusa, mas sim, como diferença, como abertura, como movimento 
dialógico da diferença, contra o pano de fundo do universal [...] essa prática diferencial 
articulada a um código universal é também, por definição, uma prática tradutória Haroldo 
de Campos, Transcriação, p. 198-199 (apud REVISTA CIRCULADÔ. Ano IV, n. 5. set/ 2016).
UNI
Sem lugar a dúvidas, a Transcriação poética é um ato de criação literária e 
demanda um grau de complexidade bastante considerável. Esta atividade demanda 
no transcriador uma grande sensibilidade poética e desenvolvida capacidade de cria-
ção. Estes pré-requisitos, portanto, fazem do ato transcriador um delicado caminho 
no âmbito da tradução.
Recomendamos a leitura do dossiê intitulado Tradução como criação e crítica – 
Haroldo de Campos e Henri Meschonnic, de autoria de Guilherme Gontijo Flores.
FONTE: FLORES, G. G. Tradução como criação e crítica – Haroldo de Campos e Henri 
Meschonnic. Revista CIRCULADÔ, São Paulo, ano IV, n. 5, set. 2016. Disponível em: http://
www.casadasrosas.org.br/crhc/arquivos/revista-circulado-ed5.pdf. Acesso em: 31 out. 2019. 
DICAS
A transcriação, hoje, ultrapassa os limites da poesia e pode ser encontrada 
também em outros segmentos, como é o casodo marketing. Dado ao seu enfoque 
estético, a teoria da transcriação se faz presente em outras formas de tradução que 
demandam fidelidade ao objetivo estético.
TÓPICO 2 | TEORIAS CONTEMPORÂNEAS
33
Em um âmbito geral, observe o que diz Martins (2016, s.p.) a respeito da téc-
nica e da distinção entre Tradução e Transcriação:
Entende-se por “transcriação” o processo de transportar uma 
mensagem criada em uma língua para outra. Mas transcriar não é 
sinônimo de traduzir – então qual é a diferença? A transcriação é 
a transformação de uma mensagem geral, que contém não só con-
teúdo escrito como também design visual e imagens. Envolvendo, 
deste modo, o contexto cultural de uma comunicação escrita, as-
sim como um anúncio, folheto ou site. O processo de transcriação 
requer um olhar abrangente para a mensagem, a fim de adaptá-la 
ao público sem ignorar os elementos de design principais, visando 
a consistência – principalmente ao lidar com mercados nacionais. 
Durante o processo de transcriação, o transcriador pode escolher 
restruturar a forma como a informação é apresentada para que a 
mensagem inerente seja mais relevante para o público alvo. O con-
teúdo original do idioma de partida é utilizado como base para a 
versão transcriada para a outra língua. É como pedir para alguém 
reescrever algo com suas próprias palavras. 
FIGURA 18 – TRANSCRIAÇÃO
FONTE: <http://bit.ly/2E17kpK>. Acesso em: 29 out. 2019.
Vamos especificar, então, as diferenças entre transliteração, tradução e trans-
criação? A transliteração constitui em uma transcrição das palavras de um alfabeto 
para outro idioma. Na sequência, observe um exemplo bastante simples de transli-
teração: o nome do autor transliterado do português para a língua grega: de Wellin-
gton Freire Machado em português temos, então Ουέλλινγκτον Φρέιρ Ματσάντο. 
UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA 
34
Acesse translate.google.com e tente transliterar o seu nome para outros 
idiomas com alfabetos distintos do nosso. Ouça o áudio e surpreenda-se com as distintas 
formas de pronúncia.
DICAS
Já a tradução encontra palavras de sentidos equivalentes em idiomas distintos. 
Veja o que diz o dicionário Michaelis (TRANSPOSIÇÃO, c2019) a respeito da tradução:
Transposição ou versão de uma língua para outra; técnica que consiste 
em traduzir palavra, enunciado, texto, obra etc. falado ou escrito, de 
uma língua para outra, possibilitando sua compreensão por alguém que 
não conhece ou não domina a língua em que originalmente o enunciado 
foi emitido.
Por fim, a transcriação ocorre quando o tradutor encontra formas de pre-
servar o sentido original do texto. De todas as atividades inerentes ao ato de tra-
duzir esta é, sem sombra de dúvidas, a mais complexa, visto que demanda gran-
de conhecimento, técnica e perspicácia.
5 A TRADUÇÃO CULTURAL
O conceito de Tradução Cultural apresenta um entendimento da tradução 
além do simples ato de verter um texto de uma língua para outra. A língua, aspecto 
fundamental da cultura, é um elemento de grande complexidade e se encontra no 
cerne do fractal cultural. Observar a história dos povos, portanto, é lançar automati-
camente um olhar para a história da tradução. Com tantos idiomas e dialetos distri-
buídos sobre os sete continentes, a tradução transformou-se na atividade que melhor 
representa a natureza humana.
A comunicação efetiva, que respeita as diferenças em suas mínimas particu-
laridades, é um pilar de grande importância no âmbito da tradução, já que esta só 
pode ser alcançada a partir da consciência do outro. Observe o que diz Pires (2008, p. 
2) a respeito da questão cultural nos domínios da tradução:
Para haver a comunicação entre duas culturas, é fundamental que a lín-
gua traduza não apenas fatos e informações, mas sim a forma de pensar 
e de valorar da outra cultura. O mediador deve dominar tanto a língua 
quanto a cultura dos povos envolvidos na tradução, como origem e como 
meta. Também é preciso haver equilíbrio de poderes entre uma cultura e 
outra, para haver uma relação de troca. Caso contrário, a tradução pode-
rá ficar comprometida, ou com o excesso de preocupação com a cultura 
meta, ou com o excesso de respeito pela cultura de origem. 
TÓPICO 2 | TEORIAS CONTEMPORÂNEAS
35
A tradução cultural acontece partindo do cuidado do tradutor ao transitar por 
culturas distintas: "se a tradução literária se vale de duas línguas e dois sistemas lite-
rários distintos, a tradução cultural pressupõe dois elementos, no mínimo, com identi-
dades próprias, construídas com base na história, na língua e na religião, entre outros 
aspectos" (PIRES, 2008, p. 2).
Peter Burke, na introdução de seu livro intitulado A tradução cultural nos primór-
dios da Europa Moderna (uma coletânea de ensaios coorganizada com R. Po-chia Hsia), 
discute a "tradução entre línguas no contexto da tradução entre culturas” (BURKE, 
2009, p.13).
FIGURA 19 – PETER BURKE
FONTE: <http://bit.ly/2RzcfpD>. Acesso em: 29 out. 2019.
Um dos pontos iniciais comentados pelos historiadores ingleses é a questão 
das diferenças culturais de uma cultura para a outra (como a questão do humor). 
Alguma vez você já ouviu uma piada em outro idioma e não achou graça? Observe 
o que dizem a respeito do tema:
Diferenças entre culturas, bem como entrelínguas reduzem o que se 
chamou de “tradutibilidade” dos textos. Um grande problema para 
qualquer pessoa que esteja traduzindo literatura cômica, por exemplo, 
é que o senso de humor das várias culturas, suas “culturas do riso”, 
como foram chamadas, são muito diferentes. Piadas não conseguem 
cruzar fronteiras. De maneira similar, com frequência elas estagnam 
ao longo dos séculos ou se tornam ininteligíveis, como as referências 
aos chifres dos maridos em Shakespeare, que podem ter feito as pla-
teias elisabetanas rolar de rir pelos corredores do Globe, mas são sau-
dadas com silêncio hoje em dia (BURKE, 2009, p. 13).
UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA 
36
Por qual razão a questão da tradução se tornou objeto de estudo – e ponto de 
reflexão – de um teórico do campo da história? Na coletânea de artigos são aborda-
dos aspectos como as missões católicas e as traduções na China (de 1583 a 1700), a 
língua como meio de transferência de valores culturais, a tradução da teoria política 
em um contexto europeu moderno, a questão do latim, e outros temas cujo enfoque 
se centra na questão cultural. Burke (2009) afirma que os historiadores fazem "a me-
dição entre o passado e o presente e enfrentam os mesmos dilemas de outros traduto-
res" (BURKE, 2009, p. 14). O principal dilema dos historiadores é manter a fidelidade 
ao original, sem deixar que se perca a compreensão dos leitores da língua meta.
Por exemplo, deveríamos falar da “política” de um rei medieval? 
A palavra não ocorre em textos medievais. Ela não era necessária, 
já que um rei medieval não precisava convencer eleitores a ele-
gê-lo apresentando-lhes um programa de ações futuras. Ele pode 
ter tido uma política no sentido de certos princípios ou estratégias 
subjacentes a suas ações políticas cotidianas, desde a promoção da 
justiça até a ampliação dos limites de seu reino, mas uma política 
no moderno sentido de um programa é um conceito anacrônico 
(BURKE, 2009, p. 14).
FIGURA 20 – CAPA DA EDIÇÃO BRASILEIRA DO LIVRO DE PETER BURKE
FONTE: <http://bit.ly/38lDcTW>. Acesso em: 29 out. 2019.
TÓPICO 2 | TEORIAS CONTEMPORÂNEAS
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Apesar do termo tradução cultural hoje estar associado a Burke, o autor es-
clarece que a alcunha se deu pela mão do antropólogo Edward Evans-Pritchard: “a 
expressão ‘tradução cultural’ foi originalmente cunhada por antropólogos do círcu-
lo de Edward Evans-Pritchard, para descrever o que ocorre em encontros culturais 
quando cada lado tenta compreender as ações do outro" (BURKE, 2009, p. 14). Como 
exemplo de tradução cultural, Burke (2009) menciona no ensaio O caso da antropóloga 
Laura Bohannan, que contou a história de Hamlet a um povo da África Ocidental. 
Burke comenta que Bohannan ouviu

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