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1 Direito Processual Penal II 6º Semestre A Professor Adolfo Sakamoto Lopes e-mail: adolfolopes@umc.br, adolfolopes@mpsp.mp.br instagram: prof.adolfosakamoto Prova M1: 14 de abril de 2021 – até procedimento do júri Prova M2: 09 de junho de 2021 – recursos e nulidades Conteúdo programático: artigos 351 e seguintes do Código de Processo Penal 1. Processos em espécie: 1.1. Processo: é a sequência de atos que se realizam e se desenvolvem no tempo, com a finalidade de aplicar o direito material ao fato concreto. Processo engloba, além do procedimento, a relação jurídica entre autor, juiz e réu. 1.2. Procedimento: é o meio pelo qual o processo se viabiliza ou se realiza; é a dinâmica de atos processuais realizados, incluindo desde o oferecimento da denúncia até a sentença. É o caminho a ser seguido. 1.3. Espécies de procedimentos: a) ordinário: crimes com pena máxima igual ou superior a quatro anos (crimes chamados de grande potencial ofensivo ou de maior potencial ofensivo) – art. 396 a 405 do CPP; b) sumário: crimes com pena entre dois a quatro anos (chamados de crime de médio potencial ofensivo) – art. 396 a 399 e 531 a 538 do Código de Processo Penal; c) sumaríssimo: crimes de menor potencial ofensivo (Lei n.º 9099/95). Aplica-se para os delitos com pena máxima igual ou até 2 anos. OBS: qualificadoras e causas de aumento ou de diminuição são levadas em consideração para estabelecer qual procedimento será aplicável. agravantes e atenuantes não interferem, pois não alteram os limites das penas. mailto:adolfolopes@umc.br 2 havendo concurso de crimes com procedimentos distintos, aplica-se o procedimento do crime mais grave. Como regra geral, aplica-se o procedimento ordinário de forma subsidiária na omissão dos outros procedimentos. 1.4. Instrução Criminal: conjunto de atos praticados com o fim e fornecer elementos para o julgador decidir a lide. Produção da prova. 1.4.1. Início: a) recebimento ou não da denúncia ou queixa; b) havendo recebimento, determina-se a citação do acusado para responder por escrito à acusação em dez dias; c) apresentação da defesa escrita (momento para se alegar exceções, sob pena de preclusão – incompetência relativa do juízo, litispendência, coisa julgada), podendo ser juntados documentos, especificar quais provas pretende produzir e arrolar testemunhas (oito no ordinário e no rito do júri – artigo 401 do CPP - e cinco no sumário). A apresentação dessa defesa inicial escrita é obrigatória (artigo 396-A do CPP); d) manifestação do MP ou querelante em cinco dias somente se houver preliminar ou juntada de documentos; e) decisão mantendo ou rejeitando o recebimento da denúncia ou queixa (artigo 397 do CPP); f) mantido o recebimento da denúncia ou queixa, designa-se audiência de instrução e julgamento, a ser realizada em até 60 dias para o ordinário e 30 para o sumário; g) audiência inicia-se com a oitiva do ofendido, inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, esclarecimentos de peritos, acareações e interrogatório. O sistema para oitiva das pessoas obedece ao cross- examination; diligências (artigo 402 do CPP) e debates orais (20 min, prorrogáveis por mais dez para cada parte. Se houver mais de um réu, cada defesa terá tal prazo. O assistente do MP tem 10 min), sentença. Obs. Se a causa for complexa, o juiz poderá converter os debates orais em memoriais escritos a serem apresentados em cinco dias e prolatará sentença também escrita em dez dias. natalia Destacar natalia Destacar natalia Destacar 3 Se for procedimento do júri, o procedimento tem 90 dias para se encerrar (art. 412 do CPP). Poderá ocorrer a inversão da ordem para oitiva das testemunhas em caso de carta precatória. Princípio da identidade física do juiz: juiz que colhe a prova fica vinculado ao processo (art. 399, par. 2º). 1.5. Citação – artigos 351 e seguintes do CPP Ato pelo qual se dá ciência ao acusado de que há contra ele uma acusação formal, cientificando-o de que poderá comparecer a juízo e para fazer sua defesa. A citação contempla dois atos: cientificação do acusado acerca da acusação; chamamento para comparecer a juízo e se defender, caso queira. Somente réu pode ser citado. Se a ré for pessoa jurídica, a citação deve recair sobre o representante legal. O juiz é quem determina a citação e o oficial de justiça cumpre. A citação é ato processual indispensável para a formação da relação jurídica. Qualquer vício na citação importará em nulidade absoluta. Se o réu citado não comparece a juízo para se defender, poderá ser declarado revel (art. 367 do CPP). A revelia tem a única consequência de, se o acusado não comparecer ao ato para o qual foi chamado, o processo prosseguirá em seus ulteriores termos mesmo na sua ausência. 1.5.1. Classificação a) real ou pessoal: é aquela efetivada na própria pessoa do réu; b) ficta ou presumida: quando não é encontrado pessoalmente e a citação ocorre mediante publicação de edital ou por hora certa (art. 362). 1.5.2. Citação do militar – artigo 358 do CPP É realizada com a expedição de ofício pelo juiz, chamado de ofício requisitório, dirigido ao chefe do serviço onde o militar está lotado, cabendo a ele realizar a citação. É exceção à citação por oficial de justiça. 1.5.3. Citação do funcionário público – artigo 359 do CPP 4 É realizada pelo oficial de justiça e o chefe da repartição onde trabalho deve ser notificado acerca do dia em que ele se ausentará. 1.5.4. Citação do réu no estrangeiro – artigo 368 do CPP É expedida carta rogatória. Expedida a carta, a prescrição fica suspensa até que ela seja juntada nos autos. 1.5.5. Citação por edital – artigo 363, par. 1º do CPP Ato que se realiza por meio da publicação de edital. Só pode ser realizada se os meios para localizar o réu foram esgotados. O oficial de justiça certificará que o acusado está em local incerto e não sabido (LINS). O prazo do edital será de 15 dias. OBS: Citação circunduta é aquela realizada com vício e que deve ser anulada. Assim, a decisão judicial anulando o ato de citação denomina-se circundução. 1.5.6. Artigo 366 do CPP: ao réu citado por edital que não comparecer para responder à acusação e não constituir defensor, o processo e o prazo prescricional serão suspensos. Esse artigo é considerado uma norma híbrida, ou seja, com conteúdos penal e processual penal. Tal dispositivo não se aplica para crimes da Lei n.º 9613/98 (Lei de Lavagem de Dinheiro – art. 2º, par. 2º) Uma vez suspenso o processo e a prescrição, pode ocorrer a produção antecipada de provas consideradas urgentes. Podem ser consideradas urgentes perícias e testemunhos. O prazo da prescrição não pode ser infinito, pois somente são imprescritíveis os crimes e racismo e ações de grupos armados (art. 5º, XLII e XLIV da CF). Disso decorre que lei infraconstitucional não pode ampliar o rol de crimes imprescritíveis, de competência da CF. Assim, o prazo da suspensão da prescrição é o mesmo da pretensão punitiva, tal como previsto na súmula n.º 415 do STJ. Ex: homicídio: 20 anos + 20 anos: 40 anos. Embriaguez ao volante: 8 anos + 8 anos: 16 anos. Com a suspensão, a prisão preventiva do réu também pode ser decretada, já que ele, com sua fuga do distrito da culpa, inviabiliza a aplicação da lei penal. 5 1.6. Intimação é a ciência dada à parte acerca da prática de um ato processual, ou seja, refere-se à cientificação de um ato já ocorrido. 1.7. Notificação é a comunicação dada à parte acerca de um ato processual que está por vir, ou seja, refere-se à cientificação de um ato futuro. 1.8. Procedimento dos crimes contra a honra (artigos 138 ao 140 do Código Penal) Artigos 519 a 523 do CPP.Também se aplica aos crimes de difamação, apesar do art. 519 não ser expresso nesse sentido. Inicia-se: 1. com o oferecimento de queixa crime; 2. designa-se audiência de tentativa de conciliação (o não comparecimento do querelante pode acarretar o reconhecimento da perempção – art. 60, III do CPP. Também há entendimento, minoritário, no sentido de que o não comparecimento do querelante significa que não quer, de forma alguma, qualquer tipo de conciliação com o querelado); 3. se houver conciliação, a queixa é arquivada. Tecnicamente seria melhor extinção da punibilidade nos termos do artigo 107, V do CP; 4. se não houver conciliação, segue-se o rito sumaríssimo da Lei n.º 9099/95 se for crime de menor potencial ofensivo, ou sumário se for de médio potencial. A apresentação da exceção da verdade ou da notoriedade poderá ser feita por ocasião da resposta escrita, logo após a citação. A primeira é a oportunidade do querelado demonstrar a verdade de suas afirmações, ao passo que a segunda é a possibilidade de demonstração de que as afirmações são do domínio público (se o fato já era notório e do domínio público, não há ofensa à honra). O acolhimento das exceções acarreta a rejeição da queixa por atipicidade da conduta. 1.9. Procedimento Sumaríssimo (artigos 60 e seguintes da Lei n.º 9099/95) 1.9.1 Fase pré-processual: A Lei n.º 9099/95 deu eficácia à previsão do artigo 98, inciso I da CF. 6 São considerados delitos de menor potencial ofensivo aqueles com preceito secundário máximo de até dois anos, ou somente a pena de multa. Se o autor do fato não for encontrado para ser intimado ou citado, os autos são encaminhados para a Justiça Comum (art. 66, parágrafo único). Ao procedimento sumaríssimo se aplica o princípio da discricionariedade regrada, em contraponto ao princípio da obrigatoriedade. Por esse princípio, o MP poderá deixar de oferecer denúncia e propor um acordo penal, que recebe o nome de transação penal. Ela é regrada porque deve obedecer requisitos legais para o oferecimento da transação penal, quais sejam: a) não ter sido o autor do fato beneficiado com o mesmo instituto nos últimos cinco anos; b) não ter sido o autor do fato condenado de forma definitiva a pena privativa de liberdade; c) não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do autor do fato, bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessário e suficiente a adoção da medida; d) aceitação do benefício pelo autor do fato e seu defensor. Para delitos de menor potencial ofensivo, não é instaurado IP, mas sim termo circunstanciado. Ao autor do fato flagrado cometendo delito de menor potencial ofensivo, não será ele autuado em flagrante se ele assumir o compromisso de comparecer no Juizado Especial Criminal (artigo 69, parágrafo único da Lei n.º 9099/95). A aceitação do benefício da transação penal não significa assumir culpa ou responsabilidade pelo evento. 1.9.2. Fase processual: frustrada a transação penal e não sendo o caso de arquivamento, a denúncia é oferecida oralmente em audiência; uma cópia dela é entregue ao denunciado, sendo este o ato de citação; designa-se audiência de instrução e julgamento; podem ser arroladas até cinco testemunhas, em aplicação analógica ao artigo 532 do 7 CPP; aberta a audiência, será dada a palavra ao defensor oferecer defesa; depois, segue para decisão judicial recebendo ou rejeitando a denúncia; recebida a denúncia, segue-se a audiência com oitiva da vítima, oitiva das testemunhas arroladas na denúncia, testemunhas arroladas pela defesa e interrogatório; debates orais por vinte minutos e sentença. Da sentença caberá apelação no prazo de dez dias; também cabem embargos de declaração em cinco dias; o recurso é julgado por Turmas Recursais, composta por três juízes de primeiro grau. 1.9.3. Suspensão condicional do processo: artigo 89 da Lei n.º 9099/95, também chamado de sursis processual. Trata-se de instituto que, apesar de estar previsto na Lei n.º 9099/95, aplica-se para todos os crimes com penas mínimas não superiores ou iguais a um ano. Requisitos: pena mínima não superior a um ano (leva-se em consideração causas de aumento e de diminuição); não estar o réu respondendo a nenhuma outra ação penal; não tenha sido condenado anteriormente. Prazo: de dois a quatro anos. Condições da suspensão: a) reparação do dano, salvo impossibilidade; b) proibição de frequentar determinados lugares; c) proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do juiz; d) comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades; e) outras condições adequadas ao caso e à situação pessoal do acusado; Revogação: facultativa: par. 4º obrigatória: par. 3º. Expirado o prazo do benefício, será declarada extinta a punibilidade do réu. Durante a suspensão, o prazo prescricional também é suspenso. Obs: A Lei n.º 9099/95 não se aplica para crimes que envolvam a Lei n.º 11340/2006, artigo 41. 1.10. Procedimento da Lei n.º 11343/2006 a) procedimento: artigos 48 a 53 8 1. comunicação da prisão em flagrante em 24horas; 2. determinação de destruição das drogas em 10 dias; 3. incineração da droga em 15 dias pelo Delegado de Polícia, com a presença do MP e da autoridade sanitária; 4. 30 dias para encerrar o IP se o indiciado estiver preso e 90 dias se o indiciado estiver solto; 5. artigo 51, par. único: o prazo para encerramento do IP pode ser duplicado por autorização do juiz, após manifestação do MP e a requerimento do delegado. b) instrução criminal: artigos 54 a 58 1. 10 dez dias para oferecimento da denúncia, seja para indiciado preso ou solto; 2. notificação do denunciado para oferecer defesa prévia escrita em 10 dias (é o momento para arrolar testemunhas); 3. se houver juntada de documentos ou se for alegada alguma exceção, manifestação do MP; 4. decisão judicial acerca do recebimento da denúncia em cinco dias; 5. podem ser arroladas até 5 testemunhas; 6. recebida a denúncia (artigo 56), determina-se a realização de audiência de instrução e julgamento e citação do réu; 7. audiência de instrução em 30 dias ou em 90 dias se houver determinação de instauração de incidente de dependência; 8. a audiência de instrução e julgamento segue o que está previsto no CPP (jurisprudência predominante) e não o procedimento previsto no artigo 57; 9. Debates orais e sentença oral, ou sentença escrita no prazo de 10 dias. 2. SENTENÇA 2.1. Natureza jurídica: exteriorização da função jurisdicional estatal, que contém a manifestação formal do Estado, aplicando o direito 9 material ao caso concreto e com a finalidade de colocar fim a um conflito de interesses. 2.2. Classificação (em sentido amplo): a) decisão interlocutória simples: decidem questões processuais, sem ingressar no mérito da lide. Ex: decretação de prisão; recebimento da denúncia, restituição de objeto apreendido. b) decisão interlocutória mista: encerra uma etapa do processo, sem julgamento do mérito. Podem ser não terminativa, encerram uma etapa do processo, mas não colocam fim ao processo (ex: pronúncia), e terminativas, encerram uma etapa do processo e colocam fim ao processo (ex: rejeição de denúncia ou da queixa-crime). 2.3. Conceito: decisão definitiva oriunda do Poder Judiciário que põe fim ao processo, com ou sem julgamento do mérito. 2.4. Classificação (em sentido estrito – próprio): a) condenatória: julga procedente o pedido, total ou parcialmente; b) absolutória: julga improcedente o pedido. Se subdivide em: própria: não impõe nenhuma sanção ao réu; imprópria: reconhecem a prática da infração, mas impõem medidade segurança. c) terminativa: julgam o mérito, mas não condenam ou absolvem. Ex: extinção da punibilidade por morte do agente. 2.5. Outras classificações: a) subjetivamente simples: proferida por um único julgador; b) subjetivamente plúrimas: proferidas por órgãos colegiados. Ex. acórdãos; c) subjetivamente complexas: proferidas por mais de um órgão. Ex. decisão em julgamento do Tribunal do Júri. 2.6. Requisitos da sentença a) relatório: art. 381, inciso I e II do CPP. Indicação do nome das partes e exposição relevante do processo. Exceção: art. 81, par. 3º da Lei n.º 9099/95, dispensa-se o relatório; b) fundamentação: também chamada de motivação. Art. 381, inciso III do CPP. Exposição dos motivos dos motivos de fato e de direito que levaram o julgador à proferir a decisão daquela maneira. Atende 10 ao disposto no artigo 93, inciso IX da CF. Deve apreciar toda a matéria alegada pelas partes, ainda que de forma sucinta. Fundamentação por relação é aquela em que o juiz adota como razões de decidir a motivação exposta por outro órgão judicial ou de alguma manifestação da parte ou do MP. c) dispositivo: ou conclusão. Art. 381, incisos IV e V do CPP. É o parágrafo que condensa a decisão propriamente dita; d) data e assinatura. Obs. Sentença suicida é aquela que contém contradição entre a fundamentação e a parte dispositiva. Cabe embargos de declaração. 2.7. Efeitos da sentença Uma vez prolatada ou proferida a sentença, encerra-se a atividade jurisdicional daquele juiz prolator. A sentença entrega a prestação jurisdicional. O juiz prolator da sentença é obrigado a sair do processo, constituindo-se em impedimento (art. 252, II do CPP). 2.8. Princípio da correlação Deve existir uma correlação entre o fato descrito na denúncia ou queixa e o fato pelo qual o réu é condenado. O magistrado não pode julgar o acusado de forma extra petita (fora do pedido), ultra petita (além do pedido) ou citra petita (aquém do pedido). Significa que o acusado deve ser julgado pelos fatos descritos na denúncia e não pela classificação dada na acusação. 2.8. Emendatio libelli – art. 383 do CPP (emenda da acusação) O réu se defende dos fatos descritos na denúncia ou queixa, pouco importando a classificação dada na acusação. Assim, o julgador poderá dar classificação diversa daquela descrita na denúncia ou queixa, amoldando- se a decisão de acordo com os fatos descritos na denúncia, ainda que venha a aplicar pena mais grave, sem prévia manifestação da defesa. Assim, o mais importante é a correta descrição dos fatos, podendo o juiz emendar a acusação (dar classificação jurídica diversa – fazer referência ao artigo da Lei Penal). Classificação diversa também pode ser dada em grau de recurso. No entanto, se houver apenas recurso por parte da defesa, não poderá aplicar natalia Destacar natalia Destacar natalia Destacar 11 pena mais gravosa, em homenagem ao princípio da proibição à reformatio in pejus em razão de não haver recurso por parte da acusação. Se a nova classificação jurídica do crime comportar o benefício do artigo 89 da Lei n.º 9099/95, marca-se audiência para a proposta do benefício. Ver súmula n.º 337 do STJ. Se a nova classificação jurídica do crime importar no reconhecimento de competência de outro juízo, os autos serão remetidos para ele. 2.9. Mutatio libelli – art. 384 do CPP (mudança da acusação) A mudança da acusação exige novo oferecimento de denúncia ou queixa pelo acusador. Não ocorre mais mera emenda, mas verdadeira mudança dos fatos descritos na acusação. Significa o surgimento de prova nova, até então não existente por ocasião do oferecimento da denúncia ou queixa ou se já existia não era conhecida. Caberá ao MP, uma vez encerrada a instrução, se for cabível nova definição jurídica do fato, aditar a denúncia ou o advogado do querelante aditar a queixa, em cinco dias. Assim, independentemente de ser o fato mais gravoso ou não, em homenagem ao princípio da correlação, deverá haver aditamento da acusação. O aditamento pode se dar em virtude de nova elementar ou circunstância não descrita na denúncia. Se o membro do MP não aditar a denúncia, poderá ser aplicado o artigo 28 do CPP em analogia. Ocorrendo o aditamento, a defesa tem cinco dias para se manifestar e depois o processo segue para decisão do juiz. Cada parte poderá arrolar até três testemunhas. Se houver recebimento do aditamento, o juiz designará audiência de instrução e novo interrogatório. Se não receber o aditamento, o feito segue normalmente. OBS: 1. o aditamento é necessário, mesmo que o crime seja menos grave, sob pena de nulidade por infringência ao princípio da correlação. Ex: roubo para furto. 2. a súmula n.º 453 do STF, mesmo sendo anterior à Lei n.º 11719/2008, continua aplicável. Tem a finalidade de impedir a denominada “supressão de instância”. natalia Destacar natalia Destacar natalia Destacar natalia Destacar natalia Destacar natalia Destacar natalia Destacar 12 Perguntas: 1. o artigo 384 do CPP fala que incumbe ao MP aditar a denúncia e a queixa? É possível? Queixa aqui se refere à ação penal privada subsidiária da pública. 2. é possível o juiz condenar alguém mesmo o MP pedindo a absolvição? Sim, artigo 385 do CPP. 2.10. Sentença absolutória São sete as hipóteses de absolvição do artigo 386 do CPP. Os incisos II, V e VII referem-se à falta de provas e autorizam responsabilização na esfera cível pelo mesmo fato. Os incisos I e IV impedem responsabilização cível. Os incisos III e VI não impedem a discussão na seara cível. As consequências da absolvição estão previstas no parágrafo único. Ressaltar a hipótese do inciso III (aplicará medida de segurança). Fichamento: artigos 513 a 518 do Código de Processo Penal – Procedimento dos Crimes cometidos por Funcionários Públicos artigos 524 a 530 – I do Código de Processo Penal – Procedimento dos Crimes Contra a Propriedade Imaterial Data de entrega: até 12 de abril de 2021 Forma: escrito a caneta Entrega: digitalizado e encaminha por e-mail ou pelo teams Nota: até 1 ponto Obs: não esquecer de citar a bibliografia 2.11. Sentença condenatória O juiz criminal, ao condenar alguém, deve observar o disposto no art. 387 do CPP. Os incisos V e VI estão revogados. Para que a sentença surta efeitos para as partes e para terceiros, é necessário ela seja publicada. A publicação ocorre com a entrega da sentença nas mãos do escrevente. Considera-se publicada a sentença no dia em que é recebida no cartório ou disponibilizada no sistema eletrônico e não a data que dela constar. Se a sentença for oral, considera-se publicada em audiência. 2.11.1. Efeitos 13 a) certeza da obrigação de reparar o dano resultante da infração: a sentença criminal é declaratória em relação ao direito de indenização na esfera civil (art. 91, inciso I do CP); b) perda dos instrumentos ou produtos do crime: reflexo do disposto no art. 91, inciso II do CP; c) imposição das penalidades do artigo 92 do CP: não são efeitos automáticos e devem ser motivados na sentença; d) prisão do acusado: o juiz fundamentará sobre a necessidade ou não de manter o réu preso, decretar sua prisão ou qualquer outra medida cautelar. Explicar que a regra é se está solto, que assim continue; se está preso, que assim continue; e) lançamento do nome do réu no rol dos culpados: em obediência ao disposto no art. 5º, LVII da CF. 2.11.2. Intimação da sentença a) pessoal: ao MP, ao defensor dativo e ao defensor público, ao réu preso ou solto e ao seu defensor. Conta-se o prazo para recurso a partir da última intimação feita ao réu ou ao seu defensor - artigo 392, incisos I e II do CPP; b) edital: para o réu e defensor com paradeiros ignorados,quando o oficial de justiça assim o certificar, e ao acusado revel (artigo 392, IV do CPP). OBS. Se o réu e seu defensor constituído não forem encontrados, o acusado será intimado por edital e o juiz nomeará defensor público ou dativo para patrocinar os interesses do réu, tudo em homenagem ao princípio da ampla defesa. Prazo do edital: artigo 392, parágrafo 1º do CPP. No Processo Penal, o prazo para recorrer/manifestar-se começa a correr da data da intimação e não da data da juntada do mandado no processo. 3. Embargos – artigo 382 do CPP As partes poderão embargar a sentença no prazo de DOIS dias, sempre que ela contiver obscuridade, ambiguidade, omissão ou contradição. a) Obscuridade: falta clareza na sentença; 14 b) Ambiguidade: a sentença admite duas ou mais interpretações em relação a determinado ponto; c) Contradição: afirmações feitas na sentença colidem com outras afirmações dela própria; d) Omissão: a sentença deixa de dizer o que era indispensável. Ex: deixa de fixar regime prisional. Os embargos interrompem o prazo para a interposição do recurso, em analogia ao CPC. No Juizado Especial Criminal (Lei 9099/95), o prazo dos embargos é de cinco dias e haverá apenas suspensão do prazo do recurso e não interrupção – artigo 83, parágrafo 1º da Lei n.º 9099/95). Procedimento de competência do Tribunal do Júri – artigos 406 a 497 do CPP 1. Introdução: instituição que vigora em nosso País de 1822, ocasião em que se julgava apenas crimes de imprensa. Com a CF de 1824, sua competência foi ampliada para julgar determinadas causas cíveis e criminais; com a CF de 1891, manteve-se a soberania do Tribunal do Júri; A CF de 1937 silenciou a respeito da soberania, que foi resgatada pela CF de 1946, agora o prevendo como garantia individual, condição mantida até os dias de hoje (por que a garantia individual é importante – cláusula pétrea); por uma emenda à Constituição de 1967, datada de 1969, restringiu-se a competência do júri para crimes dolosos contra a vida. O Tribunal do Júri, na CF de 1988, está previsto no art. 5º, XXXVIII da CF, inserido no capítulo dos direitos e garantias individuais. Por ser garantia individual, não pode ser suprimido nem mesmo por emenda constitucional, em obediência à limitação material explícita do art. 60, par. 4º da CF. Pergunta: a competência do Tribunal do Júri pode ser ampliada? Sim, pois a CF traz a competência mínima. 2. Princípios: a) plenitude de defesa: significa o exercício da defesa em grau maior que aquela garantia pela ampla defesa. Garante-se (i) a defesa por 15 profissional habilitado, feita por profissional habilitado e que não fica restrito à defesa técnica, podendo invocar razões outras de ordem moral, social, política criminal, emocional, religiosas. Se a defesa técnica for ineficiente, o juiz presidente poderá dissolver o conselho de sentença e declarar o acusado indefeso (art. 497, V do CPP); (ii) a autodefesa, deduzida pelo próprio réu, durante o interrogatório, podendo explanar sua versão. Ainda que haja colidência entre a defesa técnica e a autodefesa, deverá ser quesitada a tese apresentada em autodefesa (art. 482, par. Único do CPP); Questão: por ser a plenitude defesa um plus em relação à ampla defesa, então o acusado pode ele próprio sustentar sua defesa no Tribunal do Júri? b) sigilo das votações: princípio específico do Tribunal do Júri, não se aplica a ele o disposto no art. 93, inciso IX da CF (publicidade das decisões do Poder Judiciário). Por isso, a Lei n.º 11689/2008 restringiu à abertura das cédulas dos votos até o teto de quatro, pois se a votação fosse 7 X 0 o sigilo estaria quebrado; c) soberania dos veredictos: significa a impossibilidade do Tribunal modificar o mérito da decisão dos jurados. Este princípio é relativizado primeiro porque é passível de recurso, segundo porque o Tribunal de apelação poderá, uma única vez, anular o julgamento pelo fundamento de decisão contrária à prova dos autos. Em revisão criminal, tem-se entendimento que o Tribunal revisor pode anular a sentença condenatória e absolver o réu em caso de “decisão arbitrária”. Não há anulação, mas tão somente absolvição. O motivo dessa relativização se deve ao fato do Processo Penal ter por base o princípio da verdade real. 3. Formação do júri O Júri é um órgão colegiado heterogêneo e temporário, formado por um juiz e 25 jurados. Os jurados que tiverem funcionado como jurado nos últimos 12 meses, fica excluído de funcionar novamente como jurado – artigo 433 do CPP. O que é conselho de sentença? Juiz mais 7 jurados sorteados. Para ser jurado, a pessoa precisa – artigo 437 do CPP: 16 a) ser brasileiro nato ou naturalizado; b) maior de 18 anos de idade; c) notória idoneidade; d) alfabetizado; e) gozo dos direitos políticos; f) residir na comarca. O serviço do júri é obrigatório, podendo aquele que recusar se sujeitar ao crime de desobediência. Em caso de escusa de consciência, aplica- se o artigo 438, par. 1º do CPP. Estão isentos aqueles indicados no art. 437 do CPP. Privilégios dos jurados: art. 439 do CPP (prisão especial somente até o julgamento do crime). 4. Rito (procedimento) O procedimento do júri também é chamado de escalonado, em razão de existir duas fases delimitadas. A primeira começa com a denúncia e termina com a pronúncia, e a segunda começa com o recebimento dos autos pelo Juiz do júri, após o trânsito em julgado da pronúncia, até o julgamento pelo Tribunal do Júri. São crimes de competência do tribunal do júri aqueles descritos no Capítulo I do Título I (artigos 121 a 126 do CP). A primeira fase ou “judicium accusationis” ou sumário de culpa ou formação da culpa, começa com o oferecimento da denúncia e encerra-se com a decisão de pronúncia. Denúncia com até oito testemunhas – citação - dez dias para apresentar defesa escrita (resposta à acusação) podendo ser arroladas oito testemunhas - vista ao MP por cinco dias se houver juntada de documento ou questões preliminares – designação de data para oitiva de testemunhas – audiência pelo sistema do cross-examination (as partes perguntam diretamente e depois o magistrado complementa) (testemunhas arroladas na denúncia, testemunhas arroladas pela defesa, esclarecimentos de peritos, acareações, reconhecimento de pessoas e coisas, interrogatório e debates – 20 minutos + 10 min se for o caso – se for mais de um réu o prazo é individual) – decisão oral ou em dez dias. 17 Prazo para encerramento do procedimento: 90 dias – art. 412 do CPP. 5. Pronúncia (art. 413 do CPP): decisão de conteúdo declaratório, em que o magistrado admite a acusação e encaminha o feito para ser julgado pelo Tribunal do Júri. Há mero juízo de prelibação, ou seja, o juiz analisa apenas se a acusação é admissível, sem apreciar o mérito. Havendo prova da materialidade e indícios suficientes (juízo de probabilidade) de autoria, impõe-se a prolação da pronúncia. Nesse momento processual, vigora o princípio do in dubio pro societate. Se houver crime conexo e o juiz pronunciar o réu, não poderá absolvê-lo do crime conexo, já que os jurados é quem tem competência para analisá-lo. 6. Desclassificação: o juiz se convence da inexistência de crime doloso contra a vida, remetendo os autos para o Juízo competente. Se entender que é hipótese de desclassificação, não poderá apontar para qual crime está desclassificando, sob pena de prejulgamento. 7. Impronúncia (artigo 414 do CPP): o juiz não se convence da existência do fato ou dos indícios acerca da autoria. Não há prova da materialidade ou indícios mínimos de autoria. Não analisa o mérito da causa e, por isso, havendo prova nova o processo pode ser reaberto até que ocorra a prescrição. 8. Absolviçãosumária: absolvição do acusado nas hipóteses do art. 415 do CPP. Há análise do mérito e não há dúvida acerca da absolvição do réu. Na hipótese do inciso IV do art. 415 do CPP, o juiz somente poderá absolver sumariamente o acusado por inimputabilidade, se esta foi a única tese defensiva. Assim, se a tese defensiva, independentemente da inimputabilidade, for de legítima defesa, deverá ser pronunciado para que o réu tente alcançar a absolvição plena perante os jurados. 9. Despronúncia: é a decisão do Tribunal que dá procedência ao recurso da defesa contra a decisão de pronúncia. 10. Judicium causae (ou juízo da causa): segunda fase do procedimento do júri, que se inicia com o trânsito em julgado da decisão de pronúncia (artigo 421 do CPP). natalia Destacar 18 Abertura de vista para o MP por cinco dias para arrolar testemunhas, juntar documentos e requerer diligências. Após, é abertura vista para a defesa por igual prazo e mesma finalidade – artigo 422 do CPP. 11. Desaforamento – artigo 427 do CPP: é o deslocamento da competência territorial do julgamento pelo Conselho de Sentença, para comarca próxima, sempre que: a) houver interesse da ordem pública (paz social); b) dúvida sobre a imparcialidade do júri (réu é pessoa odiada ou querida na comarca, ou há fundada suspeita de corrupção no corpo de jurados); c) dúvida sobre a segurança do réu; d) houver excesso de serviço e o julgamento não se realizar em seis meses a contar do trânsito em julgado da pronúncia (artigo 428 do CPP). O desaforamento somente é cabível após o trânsito em julgado da decisão de pronúncia. 12. Reaforamento: retorno dos autos à comarca de origem. Não é possível como regra. A única possibilidade de reaforamento, seria da hipótese de na nova comarca surgirem os motivos do desaforamento. 13. Instalação da sessão de julgamento: juiz verifica se a urna contém as cédulas contendo o nome dos 25 jurados; faz-se a chamada nominal dos jurados; se houver ao menos 15 jurados declara instalado os trabalhos e diz o nome do réu e o número do processo que irá a julgamento; apregoamento das partes e testemunhas; após o pregão é o momento processual oportuno para alegar nulidades relativas posteriores à pronúncia; se não houver o número mínimo de jurados, sorteiam-se suplentes e o julgamento é redesignado para data próxima; leitura pelo juiz dos impedimentos, suspeição e incompatibilidades previstas nos artigos 448 e 449 do CPP; advertência dos jurados de que uma vez sorteados não poderão se comunicar entre si e com terceiros sobre os fatos, nem dar opinião sobre o processo, sob pena de exclusão do Conselho de Sentença e multa de um a dez salários mínimos; sorteio dos sete jurados; as partes poderão apresentar três recusas injustificadas ou peremptórias; primeiro é a defesa quem tem a palavra para recusar ou não e depois o MP (assistente de acusação não tem direito a recusas); formado o conselho de sentença, os jurados fazem o juramento do art. 472 do CPP; a partir do juramento começa a valer o dever de incomunicabilidade; entrega das cópias obrigatórias (par. único do 472) realização da instrução em plenário com oitiva do ofendido e de testemunhas; natalia Destacar natalia Destacar natalia Destacar natalia Destacar 19 as perguntas obedecem ao sistema do cross-examination (perguntas diretas); mas quem inicia as perguntas é o magistrado, seguindo-se as partes; os jurados também poderão formular perguntas por meio do juiz presidente (sistema presidencialista) OBS. Por isso se fala que na segunda fase do tribunal do júri, o sistema adotado é misto – cross-examination e presidencialista; poderão ser requeridas acareações, reconhecimento de pessoas e coisas, esclarecimentos de peritos, bem como a leitura de peças que se refiram às provas colhidas por carta precatória e às provas cautelares, antecipadas ou não repetíveis (laudos); segue-se o interrogatório do acusado; o uso de algemas somente é possível no caso do par. 3º do art. 474 do CPP; debates das partes, iniciando-se pela acusação; se for um único réu o tempo é de 1h30 para cada parte e mais uma hora para réplica e tréplica; se for mais de um réu, cada período de tempo é adicionado em uma hora; o assistente de acusação poderá dividir o tempo com o Promotor de Justiça; findos os debates e antes da réplica e tréplica, é possível reinquirição de testemunhas (art. 476, par. 4º do CPP); durante os debates, réplica e tréplica, as partes poderão pedir ao juiz que o orador indique a folha dos autos onde se encontra a peça por ele lida ou citada (art. 480 do CPP); durante os debates é vedada referência: a) à decisão de pronúncia, às decisões posteriores que julgaram admissível a acuação ou à determinação do uso de algemas como argumento de autoridade que beneficiem ou prejudiquem o réu; b) ao silêncio do acusado ou à ausência de interrogatório por falta de requerimento, em seu prejuízo; durante o julgamento não é permitida a leitura de documento ou a exibição de objeto que não tiver sido juntado com a antecedência mínima de três dias úteis, compreendendo-se nessa proibição a leitura de jornais ou qualquer outro escrito, bem como a exibição de vídeos, gravações, fotografias, laudos, quadros, croqui ou qualquer outro meio assemelhado, cujo conteúdo verse sobre matéria de fato a ser submetida à apreciação e julgamento pelos jurados. 14. Quesitos Encerrados os debates, réplica e tréplica, o juiz indaga os jurados se estão habilitados para realizar o julgamento ou se precisam de mais esclarecimentos. Os esclarecimentos somente poderão versar sobre 20 matéria de fato e não de direito. O juiz explica a significação dos quesitos e indaga das partes se tem alguma reclamação ou requerimento a fazer. Se estiverem habilitados, o juiz lê os quesitos em plenário. Os quesitos devem ser redigidos em proposições afirmativas, simples e distintas, tendo por base a pronúncia, as alegações das partes, o interrogatório do acusado. As partes seguem para a sala secreta. A ordem dos quesitos é aquela estabelecida no artigo 483 do CPP. Se houver a desclassificação do crime doloso contra a vida, incumbe ao juiz presidente proferir sentença e declarar qual o crime cometido pelo réu. Se houver crime conexo, também há deslocamento de competência para o juiz presidente proferir sentença. Para cada réu e para cada crime, serão feitas séries independentes de quesitos. 15. Votação Distribuição de papel opaco para os jurados, um contendo a palavra “sim” e outra a palavra “não”. As decisões do tribunal do júri são tomadas por maioria de votos. Se houver contradição entre a votação de quesitos, o juiz explicará aos jurados em que consistiu a contradição e submeterá à nova votação os quesitos contraditórios. Encerrada a votação, lavra-se a respectiva ata contendo o resultado dela e com a assinatura do juiz, das partes e dos jurados. 16. Sentença observa-se o disposto no artigo 492 do CPP. Recursos artigos 574 e seguintes do CPP 1. Conceito: é o meio processual de se obter nova apreciação da decisão (reexame da causa) com o fim de correção, modificação ou 21 confirmação. Pode ser obrigação imposta ao magistrado ou uma faculdade concedida à parte interessada que se sentir prejudicada. 2. Fundamentos: necessidade psicológica do vencido de que seja revista aquilo que foi decidido em seu desfavor ou que lhe prejudique. Também encontra fundamento no combate ao arbítrio e na falibilidade humana. O juízo que proferiu a decisão é chamado de Primeiro Grau, Primeira Instância ou juízo “a quo” e o tribunal que revê a decisão é chamada de Segundo Grau, Segunda Instância ou juízo “ad quem”. 3. Pressupostos processuais a) objetivos: cabimento, adequação, tempestividade, regularidade e inexistência de fato impeditivo ou extintivo.i. cabimento: o recurso deve ter previsão legal. ii. adequação: o recurso interposto deve ser adequado para a decisão que se quer impugnar. Este pressuposto é flexibilizado pelos princípio da fungibilidade ou da teoria do recurso indiferente. Segundo esta flexibilização, a interposição equivocada de um recurso por outro não impede o seu conhecimento, desde que oferecido dentro do prazo do recurso correto (art. 579 do CPP). Como regra, toda decisão comporta apenas um recurso (princípio da unirrecorribilidade das decisões). Exceção: interposição de recursos especial e extraordinário de forma simultânea. Pelo princípio da variabilidade dos recursos, é possível permitir a desistência de um recurso por outro, desde que o faça dentro do prazo legal. Tal princípio não se aplica ao MP (art. 576 do CPP). iii. tempestividade: o recurso deve ser interposto dentro do prazo legal. Não há prazo específico para o recurso de ofício, pois não transita em julgado enquanto não determinada a remessa de ofício (súmula 423 do STF). Segundo o art. 798 do CPP, os prazos recursais são fatais, contínuos e peremptórios, que começam a correr a partir do dia seguinte à intimação. Se a intimação ocorrer na sexta feira, o prazo começa a correr na 22 segunda feira imediata, salvo se for feriado (súmula 310 do STF). Se o prazo terminar em feriado ou em final de semana, o prazo é prorrogado até a segunda feira imediata. É irrelevante a ordem de intimação do réu e de seu defensor, pois o prazo recursal será contado daquela que ocorrer por último. Havendo dúvida sobre a tempestividade, a dúvida se resolve em favor do recorrente, diante do princípio da pluralidade dos graus de jurisdição. O prazo é contado da intimação e não da juntada do mandado, da carta precatória ou da carta de ordem nos autos (súmula 710 do STF). iv. regularidade: o recurso deve ser interposto por petição ou termo nos autos (art. 578 do CPP). Outra formalidade essencial são as razões de recurso, os fundamentos do pleito de reforma e nova análise da causa. v. fatos impeditivos: impedem a interposição do recurso ou do seu recebimento. Ex: renúncia ao recurso; morte do réu. Havendo divergência entre o réu e seu defensor em recorrer, prevalece a vontade daquele que pretende recorrer (súmula 705 do STF), já que não poderá ocorrer reformatio in pejus. vi. fatos extintivos: impedem o conhecimento do recurso interposto. Ex: desistência e deserção. Desistência é a manifestação expressa da vontade de não recorrer. A desistência é posterior à interposição do recurso. O MP não poderá desistir (artigo 576 do CPP) e o defensor deve possuir poderes especiais. Deserção é a presunção de desistência do recurso. Ex: falta de pagamento de custas; antigamente a fuga era interpretada como deserção. b) pressupostos subjetivos: são o interesse e a legitimidade. i. interesse: somente tem interesse a parte que teve algum tipo de sucumbência (art. 577, par. único do CPP). Mesmo em caso de condenação, o MP tem interesse recursal em prol do réu, já que, além de 23 parte, também atua como fiscal da lei. O MP somente não teria interesse em caso de pedir a condenação e depois recorrer para obter uma absolvição. A sucumbência (perda ou prejuízo) pode ser única, quando apenas uma das partes teve prejuízo, ou múltipla quando ambas são atingidas. A sucumbência é paralela se os interesses forem idênticos e recíproca quando opostos. Será direta se atingir apenas os integrantes da relação jurídica, e reflexa se atingir alguém de fora do processo. O prejuízo deve ser analisado apenas na parte dispositiva e não na fundamentação. ii. legitimidade: tem legitimidade para a interposição de recurso o MP, o querelante, o réu ou seu defensor – artigo 577, caput do CPP. 4. Interposição O recurso pode ser interposto por petição, peça subscrita pelo advogado ou pelo MP, ou pelo réu mediante termo nos autos (art. 578 do CPP). A interposição por termo é a manifestação verbal de vontade em recorrer do réu ou querelado e que deve ser reduzida a termo pelo escrevente. A apelação e o recurso em sentido estrito (RESE) podem ser interpostos por petição ou por termo nos autos, ao passo que os demais recursos somente por petição. As razões de recurso, os fundamentos de fato e de direito em que o recurso se baseia, podem ser juntados posteriormente ao recebimento do recurso. Exceção: apelação no âmbito do Juizado Especial Criminal, em que a petição de interposição deve obrigatoriamente se fazer acompanhar das razões de recurso (art. 82, par. 1º Lei 9099/95). 5. Recurso de ofício – artigo 574 do CPP 24 Também chamado de obrigatório, necessário ou anômalo, é aquele obrigatoriamente interposto pelo próprio juiz. Trata-se de decisão que está sujeita, forçosamente, ao duplo grau de jurisdição. São as seguintes hipóteses de recurso de ofício: 1. decisão do juiz de primeiro grau que concede habeas corpus (art. 574, I do CPP); 2. absolvição sumária (art. 574, II do CPP) – REVOGADO TACITAMENTE; 3. sentença que concede a reabilitação (art. 746 do CPP); 4. a decisão que determina o arquivamento ou que absolve réu em crime contra a economia popular (art. 7º Lei 1521/51). 6. Juízo de prelibação significa juízo de admissibilidade do recurso, em que se analisa os pressupostos objetivos e subjetivos dos recursos. Esta análise é feita tanto pelo juízo “a quo”, quanto pelo juízo “ad quem”. Juízo de delibação, por outro lado, é juízo sobre o mérito do recurso já recebido. 7. Efeitos dos recursos a) devolutivo: é a transferência ao juízo “ad quem” sobre o conhecimento de determinada causa. É o reexame da matéria objeto da decisão impugnada pela Superior Instância. Todos os recursos têm esse efeito. Se o reexame da matéria for do próprio juízo “a quo”, trata-se do chamado recurso iterativo. Ex: embargos de declaração. Se o reexame for pela superior instância, chama-se recurso reiterativo. Ex: apelação. Agora, se a análise do mérito for dos dois juízos, trata-se dos recursos mistos. Ex: agravo em execução e RESE. 25 b) suspensivo: efeito segundo o qual a sentença não pode ser executada enquanto pender julgamento. No silêncio da legislação, o recurso não tem esse efeito. c) extensivo: no caso de concurso de agentes, os efeitos da decisão do recurso sobre determinado réu, desde que não seja acerca de motivo pessoal, a todos se estenderão (art. 580 do CPP), desde que seja em benefício dos demais. d) regressivo, iterativo ou diferido: efeito segundo o qual o juízo prolator da sentença tem possibilidade de se retratar sobre o quanto decidido. É o chamado juízo de retratação. Ex: recurso em sentido estrito e o agravo em execução. 8. Apelação – artigos 593 e seguintes do CPP 8.1. Conceito: recurso que é interposto contra sentença definitiva ou com força de definitiva, cuja análise do mérito é feita pela Segunda Instância em reexame daquilo que foi decidido. 8.2. Características i) amplitude: devolve ou remete à Superior Instância a análise de tudo o que estiver sendo impugnado. ii) residual: só tem cabimento se outro recurso não for cabível. iii) preferência: goza de preferência se a decisão impugnada comportar mais de um recurso. Ex: apelação e recurso em sentido estrito contra sentença condenatória e que decretou prisão preventiva. 8.3. Apelação plena e limitada Aos recursos também se aplica a regra da inércia da jurisdição, ou seja, o Tribunal não pode agir de ofício se não for acionado por meio de recursos. Além disso, a Segunda Instância fica condicionada à análise da matéria impugnada, em homenagem à proibição de julgamento ultra ou extra petita. Assim, o Tribunal fica vinculado ao princípio tantum 26 devolutumquantum appellatum, previsto no art. 599 do CPP. Obs: súmula 160 do STF. Tourinho Filho entende que tal princípio não se aplica ao Processo Penal e é restrito ao Processo Civil, sob o fundamento da existência do princípio do favor rei. O recurso, assim, pode se dirigir contra toda a sentença – apelação plena ou ampla, ou parte do que foi decidido – apelação limitada ou restrita. No silêncio do apelante, o recurso será recebido em sentido amplo. 8.4. Apelação subsidiária É aquela interposta no caso de inércia do MP, em processo por crime de ação penal pública condicionada ou incondicionada. Tem legitimidade para o recurso a vítima e o CADI. Deve ser interposto no prazo de 15 dias após o término do prazo do recurso do MP (súmula n.º 448 do STF), se o assistente de acusação não estiver habilitado nos autos. Se já estiver habilitado, terá o mesmo quinquídio do MP para a apelação a contar da intimação da sentença. 8.5. Sentenças definitivas ou com força de definitivas
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