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artigo de personalidade juridica

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CENTRO UNIVERSITÁRIO CURITIBA 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO stricto sensu - MESTRADO EM DIREITO 
 
ANDRÉ GONÇALVES ZIPPERER 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA DA SOCI EDADE 
LIMITADA EMPREGADORA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
2009 
 
CENTRO UNIVERSITÁRIO CURITIBA 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO stricto sensu - MESTRADO EM DIREITO 
ANDRÉ GONÇALVES ZIPPERER 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA DA SOCI EDADE 
LIMITADA EMPREGADORA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
2009 
 
ANDRÉ GONÇALVES ZIPPERER 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA DA SOCI EDADE 
LIMITADA EMPREGADORA 
 
 
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado 
em Direito Empresarial e Cidadania do Centro 
Universitário Curitiba, como requisito parcial para 
a obtenção do Título de Mestre em Direito. 
 
 
Orientador: Profº Dr. Eduardo Milléo 
 Baracat 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
2009 
 
ANDRÉ GONÇALVES ZIPPERER 
 
 
 
 
 
A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA DA SOCI EDADE 
LIMITADA EMPREGADORA 
 
 
 
 
Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do Título de 
Mestre em Direito pelo Centro Universitário Curitib a 
 
 
 
 
 
 
 
Presidente: _________________ __________________ 
 Eduardo Milléo Baracat 
 
 
 
 
 
 
 
 ___________________________________ 
 Aldacy Rachid Coutinho 
 (MEMBRO EXTERNO) 
 
 
 
 
 
 
 
 ___________________________________ 
 Luiz Eduardo Gunter 
 (MEMBRO INTERNO) 
 
 
 
 
 
 
Curitiba, de de 2 009. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos meus pais, Osny e Dagmar, meus grandes incentivadores. 
 
RESUMO 
 
 
Este trabalho tem como escopo analisar a teoria da desconsideração da 
personalidade jurídica da sociedade limitada empregadora a partir de valores e 
princípios constitucionais. O estudo se inicia pela conceituação da pessoa, 
personalidade e personalidade jurídica até a própria sociedade limitada quando 
empregadora. Considerando a ausência de legislação específica no Direito do 
Trabalho e o permissivo legal trazido pelo artigo 8º. da CLT a partir do uso da 
analogia como técnica adequada de integração da norma, é feita uma investigação 
nas legislações existentes para que se demonstre dentre aquelas que prevêem a 
utilização do instituto da desconsideração, a que mais se mostre adequada as 
necessidades de efetivação do processo trabalhista com a concretização dos 
direitos do trabalhador. Especial atenção é dedicada ao microcosmo consumerista 
diante de sua identificação com o Direito do Trabalho. Há o reconhecimento da 
Constituição como norma ápice e suprema do ordenamento jurídico, exigindo a sua 
preliminar observância quando da análise de qualquer norma, conforme demonstrar-
se-á. Três valores e princípios constitucionais, de forma mais detida são analisados 
diante de sua comunicabilidade com a natureza do crédito trabalhista e a sua 
importância para a subsistência do trabalhador e sua família. São eles o da 
dignidade da pessoa humana, o da duração razoável do processo e da função social 
da propriedade. Por fim, a partir das críticas feitas à opção legislativa, procura-se 
justificá-la. 
 
 
Palavras-chave: Desconsideração da Personalidade Jurídica; Sociedade Limitada 
Empregadora; Direito do Trabalho; Código de Defesa do Consumidor 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
This present article aims to make an analysis of the legal nature of the disregard 
doctrine first, and after to investigate the application in the Labor Law, especially 
concerning constitutional principles and values, whose supremacy in the legal 
system is recognized, like the principle of human dignity, reasonable duration of the 
litigation, and social use of the property as constitutional target to attract the 
necessary protection to the credit of the worker. This study starts searching for the 
real meaning of person, personality, legal entity, and finally private limited company. 
This one as an employer. Because of the absence of specific rule of law regarding 
the matter in the Labor Law field, it must be searched, according to principles and 
values that conduct this field, a norm that approaches to these as it is foreseen in the 
article # 8o. of Brazilian Labor Relations Code. Especially concerning the Brazilian 
Consumers Code. By the end, this study uses the critical made by some writers to 
the option to justify that. 
 
 
Keywords: Disregard of Legal Entity; Private Limited Company as an Employer; 
Labor Law System; Brazilian Consumers Code 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE SIGLAS 
 
 
CC – Código Civil 
CCB – Código Civil Brasileiro 
CDC – Código de Defesa do Consumidor 
CF – Constituição Federal 
CLT – Consolidação das Leis do Trabalho 
ONU – Organização das Nações Unidas 
OIT - Organização Internacional do Trabalho 
PL – Projeto de Lei 
STF – Superior Tribunal Federal 
STJ – Superior Tribunal de Justiça 
SUS – Sistema Único de Saúde 
TRT – Tribunal Regional do Trabalho 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
RESUMO.....................................................................................................................6 
ABSTRACT........................................... ......................................................................7 
LISTA DE SIGLAS.................................... ..................................................................8 
1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................9 
2 PERSONALIDADE JURÍDICA DA SOCIEDADE LIMITADA 
EMPREGADORA E A SUA DESCONSIDERAÇÃO ................ ................................13 
2.1 A PERSONALIDADE JURÍDICA .........................................................................13 
2.1.1 Do Conceito de Pessoa....................................................................................13 
2.1.2 Personalidade ..................................................................................................15 
2.1.3 Capacidade ......................................................................................................17 
2.1.4 Pessoas Naturais .............................................................................................18 
2.2 A PESSOA JURÍDICA.........................................................................................20 
2.2.1 Conceitos .........................................................................................................20 
2.2.1.1 Notícia histórica, evolução da construção dogmática....................................22 
2.2.1.2 Natureza jurídica ...........................................................................................25 
2.2.1.3 A personificação e seus efeitos.....................................................................29 
2.2.1.4 Classificação das pessoas jurídicas..............................................................30 
2.3 A SOCIEDADE LIMITADA EMPREGADORA .....................................................34 
2.3.1 As Sociedades: Conceito e Classificação ........................................................34 
2.3.1.1 Sociedade por quotas de responsabilidade limitada .....................................38 
2.3.2 O Empregador..................................................................................................43 
2.4 RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL DO SÓCIO ...........................................48 
2.5 DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA como modelo de 
responsabilidade externa. .........................................................................................502.6 A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. FORMAÇÃO 
HISTÓRICA...............................................................................................................53 
2.7 A TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA..........59 
2.7.1 O Desenvolvimento da Disregard Doctrine no Brasil .......................................59 
2.8 A TEORIA E SUA POSITIVAÇÃO ATUAL NO DIREITO BRASILEIRO..............61 
2.8.1 Natureza Jurídica do Instituto...........................................................................68 
3 VALORES CONSTITUCIONAIS DO TRABALHO SOB A ÓTICA D A 
INTERPRETAÇÃO DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE 
JURÍDICA DA SOCIEDADE EMPREGADORA .................. .....................................74 
3.1 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA ..................................................................74 
3.1.1 A Dignidade da Pessoa Humana como Princípio.............................................78 
3.1.2 O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana do Trabalhador ........................83 
3.1.2.1 Do reconhecimento da dignidade humana do trabalhador............................83 
3.1.2.2 Vertentes do respeito à dignidade humana do trabalhador...........................86 
3.2 O DIREITO FUNDAMENTAL À DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO DO 
TRABALHO...............................................................................................................97 
3.2.1 O processo e seus objetivos ............................................................................97 
3.2.1.1 A morosidade processual e suas conseqüências..........................................99 
3.2.1.2 Causas da morosidade................................................................................102 
3.3 O DIREITO FUNDAMENTAL À DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO: 
CONCEITO E LEGISLAÇÃO ..................................................................................104 
3.3.1 O status de Direito Fundamental....................................................................104 
 
3.3.2 Conceituação no processo do trabalho ..........................................................107 
3.4 PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA: ORIGEM, CONCEITO E 
FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS...................................................................110 
4 FUNDAMENTOS LEGAIS DA DESCONSIDERAÇÃO: A INTERPRE TAÇÃO 
SEGUNDO VALORES E PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS, 
ENTROSAMENTO DE SISTEMAS JURÍDICOS E INTEGRAÇÃO DA NORMA 
TRABALHISTA........................................ ...............................................................118 
4.1 A ANALOGIA COMO MÉTODO DE INTEGRAÇÃO DA NORMA .....................118 
4.1.1 A Interpretação da Expressão “Direito Comum” presente no Artigo 8º da Norma 
Celetária..................................................................................................................120 
4.2 O ENTROSAMENTO COM O MICRO-COSMO CONSUMERISTA..................129 
4.3 O JURISTA E A ESCOLHA LEGISLATIVA. O RESPEITO AO TRABALHADOR E 
VALORES CONSTITUCIONAIS .............................................................................134 
4.4 A APLICAÇÃO DA DISREGARD DOCTRINE E AS PECULIARIDADES DO 
CRÉDITO TRABALHISTA: A EFETIVAÇÃO DE PRECEITOS E VALORES 
CONSTITUCIONAIS ...............................................................................................140 
4.5 A ASSUNÇÃO DOS RISCOS DA ATIVIDADE ECONÔMICA PELO 
EMPREGADOR COMO FUNDAMENTO DA DISREGARD ....................................148 
4.6 A DISREGARD E O DIREITO FUNDAMENTAL CONSTITUCIONAL A 
RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO...............................................................151 
4.7 O PROBLEMA DO SÓCIO EMPREGADO (E O MINORITÁRIO) .....................153 
4.8 AS CRÍTICAS A APLICAÇÃO DA TEORIA MENOR: A VISÃO EMPRESARIAL E 
O MITO DA DESCONSIDERAÇÃO COMO INIMIGA DA ATIVIDADE PRODUTIVA
................................................................................................................................159 
5 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS................. .....................................166 
REFERÊNCIAS.......................................................................................................170 
 
 
 
 
 9 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
Impactado com o súbito desconto em sua conta corrente o empresário vê-se 
diante da responsabilização pessoal, através de seus bens, por dívida advinda de 
uma execução trabalhista decorrente de reclamatória movida contra pessoa jurídica 
da qual é sócio. 
Por outro lado também, não raro situações nas quais, após anos de uma 
desgastante batalha judicial, o trabalhador encontra enorme dificuldade em receber 
os direitos reconhecidos judicialmente em razão da ineficiência do processo de 
execução que esbarra em situações de ausência de bens da empresa para a qual 
prestou serviços. 
Persistem dificuldades com que se deparam o juiz e as partes litigantes. Tais 
problemas são relevantes, pois podem atingir a efetividade do processo e, por 
conseqüência, o próprio ideal de justiça a ele subjacente. 
Considerando que o propósito de que um processo judicial seja instrumento 
hábil capaz de sustentar o exercício da jurisdição, não se pode negar que o 
processo trabalhista justo se relaciona com a necessidade de sua efetividade 
através de instrumentos existentes para sua concretização em fase executória. 
O tema da desconsideração da pessoa jurídica ganhou larga dimensão e 
importância, mormente após a inserção no processo do trabalho do BACEN-JUD1, 
sistema pelo qual o Juízo trabalhista pugna pelo auxílio do sistema integrado do 
banco central para realizar penhoras diretamente em todas as contas correntes em 
nome da pessoa. 
O modo pelo qual a responsabilidade dos sócios é determinada, o 
levantamento do véu da pessoa jurídica com a invasão direta do patrimônio 
daqueles requer aprofundamento da matéria, notadamente a justificar a utilização do 
instituto da desconsideração de forma ampla ou restrita na justiça do trabalho. 
O tema é de solar relevância, pois trata de instrumento eficaz para a 
concretização de direito buscado através do processo judicial trabalhista, assim 
como para sua própria efetivação o que se confunde com a efetivação de princípios 
constitucionais. 
 
1 Resolução Administrativa TST 73/2005. 
 10 
O objetivo deste trabalho é realizar uma análise do instituto, seus aspectos 
técnicos jurídicos para, a partir de uma análise sob a ótica constitucional de proteção 
ao trabalhador e dos frutos percebidos através do seu trabalho, justificar a ampliação 
das possibilidades de desconsideração da pessoa jurídica e aplicação analógica dos 
termos previstos no código consumerista sobre a matéria. 
A ausência de legislação própria no Direito do Trabalho, e do permissivo legal 
existente no artigo 8º. da CLT para, através da utilização do instituto da analogia, 
preencher a lacuna com textos legais de outros códigos e leis, suscita acalorada 
discussão entre doutrinadores e Juízes. 
As opções que se apresentam trazidas do universo consumerista e do Direito 
Civil, principalmente (embora não as únicas, mas as mais importantes) divide 
opiniões. As posições são defendias com importantes e relevantes argumentos, os 
quais pretendemos expor neste trabalho, sempre tendo como norte interpretativo a 
Constituição Federal. 
O presente trabalho delimita-se na análise do instituto da desconsideração da 
personalidade jurídica, tão somente. Embora existam instrumentos que permitam a 
responsabilização direta dos sócios, o que não se nega, este não é o entendimento 
da jurisprudência que de forma praticamente unânime, faz uso da disregard doctrine 
como fundamento legal para o levantamento do véu da pessoa jurídica. 
Também, optou-se por concentrar o exame do instituto em sociedades 
limitadas por se tratar da modalidade mais comum de empresas no Brasil. Não se 
tratará, portanto, de Sociedades Anônimas, ou quaisquer outros. 
A opção pela aplicação analógica do artigo28 do Código do Consumidor é 
desde já assumida e justificada, razão pela qual, também, não irá se tratar dos 
requisitos para aplicação da forma restritiva de aplicação do instituto da 
desconsideração conforme previsão do artigo 50 do Código Civil, tais como, fraudes, 
abusos, falta de liquidação regular, sub-capitalização, elusão do poder de controle, e 
confusão patrimonial. 
Por se tratar de uma análise do instituto no Processo do Trabalho sob a ótica 
Constitucional, assim como seus pressupostos diante da proteção constitucional do 
salário, o presente trabalho não tem como escopo entrar em questões processuais, 
tais como necessidade de intimação, recursos cabíveis, ou aplicação ex oficio que 
não serão tratadas. 
 11 
Em relação à matéria de ordem constitucional, opta o presente trabalho de 
Mestrado, por abranger dois princípios que entende relacionados com a matéria, 
quais sejam o princípio da dignidade da pessoa humana, intimamente vinculado ao 
caráter alimentar da parcela retributiva salarial, e o da duração razoável do 
processo, direito fundamental constitucional ligado à situações que privilegiem 
opções para a rápida efetivação do processo. 
O objetivo, então, é definir de que forma o instituto da desconsideração da 
personalidade jurídica da sociedade empregadora limitada deve ser aplicado no 
processo, respeitando as características e o arcabouço normativo e principiológico 
do ramo do Direito do Trabalho, em contraposição a uma visão exclusivamente 
economicista, com vistas a plena efetividade aos princípios constitucionais de 
proteção ao salário, valorização do trabalho e proteção à dignidade da pessoa 
humana. 
Na primeira parte do trabalho, far-se-á análise do conceito de pessoa, 
personalidade e personalidade jurídica, chegando à sociedade limitada, como 
personalidade jurídica empregadora. A partir daí, passa a analisar a 
desconsideração da personalidade jurídica como modelo de responsabilização 
externa, sua evolução histórica, positivação e natureza jurídica. 
Na segunda parte será feita análise da escolha do jurista e sua escolha 
legislativa, através da opção pelo texto constitucional como norte interpretativo. Dois 
princípios específicos serão abordados por guardarem conexão com o instituto da 
desconsideração, o da dignidade da pessoa humana em razão de sua íntima ligação 
com o caráter alimentar do crédito e o da duração razoável do processo por servir de 
fundamento constitucional a opções que privilegiem a rapidez processual e 
efetivação do processo. 
No terceiro capítulo, analisar-se-á como a desconsideração da personalidade 
jurídica age na concretização dos valores e princípios constitucionais quando 
aplicado no Processo do Trabalho, em especial os dois princípios explicados no 
capítulo anterior. Diante da ausência de norma específica no campo juslaboral, faz-
se necessário estudo sobre o método de integração da norma no momento de sua 
aplicação, mediante permissivo do artigo 8º. da CLT, através do uso da analogia. A 
opção pela norma insculpida no Código de Defesa do Consumidor por sua amplitude 
é, então, justificada. 
 12 
Não se deixa de lado também, sob pena de omissão, as críticas à aplicação 
da chamada teoria menor da desconsideração da personalidade jurídica no Direito 
do Trabalho, em especial por parte de respeitáveis juristas ligados ao direito 
empresarial. 
A vinculação necessária a valores e princípios constitucionais, colocados em 
primeiro plano, através de considerações sobre separação patrimonial entre sócio e 
sociedade limitada, desaguando na necessidade de, a partir deste estudo, expor 
critérios para aplicação do instituto da desconsideração da personalidade jurídica no 
Processo do Trabalho leva à aderência à linha 2, proposta pelo programa do 
Mestrado “Atividade empresarial e constituição: inclusão e sustentabilidade.”. 
 
 13 
2 PERSONALIDADE JURÍDICA DA SOCIEDADE LIMITADA EMPR EGADORA E A 
SUA DESCONSIDERAÇÃO 
 
 
2.1 A PERSONALIDADE JURÍDICA 
 
 
2.1.1 Do Conceito de Pessoa 
 
 
A idéia de personalidade está umbilicalmente ligada à idéia de pessoa. Um 
estudo sobre a personalidade jurídica deve estar intimamente ligado a um conceito 
próprio de pessoa. 
A palavra pessoa advém do latim persona, trazida da linguagem teatral 
romana. Significava máscara, uma vez que os atores as adaptavam ao rosto de 
modo a dar eco às palavras. Personare quer dizer, pois, ecoar, fazer ressoar. O 
termo evoluiu passando a significar o próprio ator que dava voz à máscara e mais, 
tarde, passou a se confundir com o próprio homem; depois passou o conceito a 
referir-se ao sujeito de direito, nos moldes do sentido como hoje é aplicado. Excluía-
se na época, entretanto, os escravos pois estes eram res.2 3 
Monteiro4 ensina que a palavra em questão pode ser tomada em três 
diferentes acepções: vulgar, filosófica e jurídica. 
Na acepção vulgar é sinônimo de ser humano, empregada de modo 
inconsciente, acepção que não se coaduna com a técnica jurídica. Na acepção 
filosófica, pessoa é o ente que realiza seu fim moral e emprega sua atividade de 
modo consciente, ou seja, pessoa é homem. 
Por fim, na acepção jurídica, pessoa “é o ente físico ou moral, suscetível de 
direitos e obrigações”. Assim esclarece o autor, que pessoa é, neste sentido, 
sinônimo de sujeito de direito ou de relação jurídica.5 
 
2 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil : Parte Geral. Revista e atualizada por 
Ana Cristina de Barros Monteiro França Pinto. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 61. Neste mesmo sentido 
3 LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de Direito Civil .. 8. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 
1996. p. 282. 
4 MONTEIRO, op. cit., p. 62. 
5 MONTEIRO, loc. cit. 
 14 
Miranda6 pontua em eu Tratado que “ser pessoa é apenas ter a possibilidade 
de ser sujeito de direito. Se sujeito de direito é estar na posição de titular de direito. 
Não importa se esse direito é subjetivado, se é munido de pretensão e ação, ou 
exceção.” 
Conclui-se, portanto, que todo ser humano é pessoa, no sentido jurídico.7 
Assim, de se admitir, forçosamente, que a de existir um sujeito que lhe 
detenha a titularidade. Esse sujeito pode ser o homem, individualmente, ou 
agrupamento destes inspirados por fins e interesses comuns.8 
Logo se nota, portanto, que a idéia de homem, independe do conceito de 
pessoa, constituindo conceitos absolutamente distintos. O professor Caetano 
Foschini apud Márcio André Medeiros de Moraes demonstra a bipartição do termo 
pessoa, demonstrando que este se reporta também ao homem, primeiramente com 
sendo sujeito de direito inteligente, parte passiva e ativa da relação jurídica que 
produz direito de uma parte e dever de outra. 
Este homem deve ser considerado na sua individualidade corpórea, bem 
como uma faculdade natural ao querer da qual possa ter origem o direito e o dever. 
Não se limita, no entanto ao homem, tanto que também criou uma maneira 
artificial, uma faculdade de querer para a qual, através de um artifício legal, atribuiu-
se capacidade de direito a um ente que não é homem. 9 
Tem-se então que o conceito abrange necessariamente a chamada pessoa 
natural, também chamada de pessoa física e a pessoa jurídica, denominada da 
mesma forma de pessoa moral ou coletiva (agrupamento humanos visando a fins de 
interesse comum). 
 
6 MIRANDA. Pontes de. Tratado de direito privado : parte geral. Campinas: Bookseller, 1999. p. 207. 
7 KELSEN, Hans. Teoria pura do direito . 4. ed. Trad. João Baptista machado. São Paulo: Martins 
Fontes, 1994. p. 188. Kelsen apresenta uma concepção um pouco diferente da descrita. Para o autor 
é sujeito jurídico quem é sujeito de uma pretensão ou titularidade jurídica. Explica o autor que o 
conceito de sujeito de direito é auxiliar à descrição do direito, desta forma o conceito de sujeito de 
direito não é necessáriopara a descrição do direito, é um conceito auxiliar que facilita a exposição do 
direito. Assim, a pessoa, seja ela natural ou jurídica, é a unidade personificada que representa um 
complexo de direitos e deveres; é a unidade personificada das normas jurídicas que lhe impõe 
deveres e lhe conferem direitos. Logo, sob o prisma Kelseniano é a pessoa uma construção da 
ciência do direito, que com esse entendimento afasta o dualismo: direito objetivo e subjetivo. 
8 MONTEIRO, 2003, p. 62. 
9 FOSCHINI, Caetano. Delle Persone e del Loro Stato secondo el Codice Ci vile Italiano, 1886 
apud MORAES, Márcio André Medeiros. A desconsideração da personalidade jurídica no códi go 
de defesa do consumidor . São Paulo: LTr, 2002. p. 19. 
 15 
A doutrina italiana, no mesmo sentido, também destaca ser o conceito de 
pessoa diferente do homem singular, mas sim como destinatário da regulação de 
conduta.10 
Alpa11 enfatiza que o conceito de pessoa apresenta uma interpretação mais 
complexa, pois exige uma premissa de fato (no caso de pessoa física, ou natural, a 
existência de um homem, e no caso da pessoa jurídica a existência de um 
ordenamento) e uma premissa de direito, que reclama a conexão entre fato e 
comportamento através de uma referência comum. 
Por este motivo, parece ser esta a razão de o legislador de 2002, ter se 
decidido pela substituição da terminologia homem pela pessoa.12 13 
 
 
2.1.2 Personalidade 
 
 
 Amaral14 ensina que no direito romano a personalidade jurídica do homem 
dependia de requisitos físicos (nascimento com vida, separação do ventre materno e 
forma humana) assim como da existência de três estados: de liberdade (status 
liberatis), cidadania (status civitatis) e de família (status familiae). Assim, desta 
interpretação, pode-se dizer que o reconhecimento da personalidade, com os 
 
10 ALPA, Guido. Trattato di dirito Civile: Storia, fonti, interpret azione . Milano: Giuffrè editore, 2000. 
p.332. O autor ensina: La riflessione storica mostra cosi l’opportunitá dello sforzo diretto a separare Il 
concetto di persona dall’imagine Del protagonisa dela scena giuridica. E a tale obiettivo è dedicata La 
parte analítica dell’opera. Le premesse teroiche accolte da P. Zatti sono da um lato La redifinizione 
del concetoo di persona come concetto di genere proposta da Uberto Scarpelli, dalláltro l’analisi dei 
concetti Del tipo “diritto soggesttivo”, e dell’escrizione di diritti ed obblighi., secondo Alf Ross. 
11 Ibid., p 332. “il concetto di persona ha però più complesse condizioni d'uso: esso riassume una 
premessa di fatto nel caso della persona fisica, l'esitenza di un uomo, nel caso della personna 
giuridica, l'esistenza di un ordinamento, ed una premessa di diritto, che richiama il collegamento di 
fatto e comportamenti tramite ir loro comune referimento, nel caso della persona fisica, all'uomo, nel 
caso della personsa giurudica, all'ordinamento. 
12 No mesmo sentido NAHAS, Thereza Christina. Desconsideração da pessoa jurídica: reflexos 
civis e empresariais no direito do trabalho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. p. 13. 
13 GONÇALVES, 2009, p. 75, observa que: No relatório sobre o texto do novo Código Civil aprovado 
pelo Senado Federal constava ter sido operada a substituição, no artigo correspondente ao 
supratranscrito, da palavra homem por ser humano. Nova modificação ocorreu posteriormente, na 
Câmara dos Deputados, consagrando-se a expressão toda pessoa, com o objetivo de adequar a 
redação à nova ordem constitucional, de modo evitar eventuais dúvidas de interpretação. Trocou-se, 
também, a palavra obrigações pro deveres, considerada mais apropriada e mais ampla, pois estes 
podem decorrer da lei ou do contrato. 
14 AMARAL, Francisco. Direito civil : introdução. 7. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. p. 253. 
 16 
direitos da plena capacidade jurídica exigia que o sujeito fosse livre (não escravo), 
cidadão (não estrangeiro) e sui iuris ou chefe de família. 
 Já no direito moderno, “extinta a escravidão, reconhecido aos estrangeiros o 
gozo dos direitos civis, e admitindo que a situação familiar não altera a capacidade 
jurídica, a personalidade surge como projeção da natureza humana.”15 
 O mesmo autor, baseado na doutrina italiana apresenta duas concepções de 
personalidade jurídica do homem advindas da evolução doutrinária do tema: Para a 
concepção naturalista, “todos os indivíduos têm personalidade, considerada inerente 
à condição humana como atributo essencial do ser humano, dotado de vontade, 
liberdade e razão.”16 
 Já para a concepção formal, própria da ciência jurídica positivista, “a 
personalidade é a atribuição ou investidura do direito.”17 Assim pessoa e ser humano 
não coincidiriam. Para Amaral, a pessoa não seria o ser humano dotado de razão, 
mas simplesmente o sujeito de direito criado pelo direito objetivo.18 
 Esta concepção formal é a adotada pela doutrina, segundo a qual, a idéia de 
pessoa está intimamente ligada à idéia de personalidade, exprimindo a aptidão 
genérica para adquirir direitos e contrair obrigações.19 
 É pressuposto para a inserção e atuação da pessoa na ordem jurídica. É, 
portanto, a personalidade, qualidade ou atributo do ser humano.20 21 
 A personalidade é, desta forma, um conceito básico da ordem jurídica, que a 
estende a todos os homens, consagrando-a na legislação civil e nos direitos 
constitucionais de vida, liberdade e igualdade. 22 
 
15 AMARAL, 2008, p. 253. 
16 AMARAL, loc. cit. 
17 AMARAL, loc. cit. 
18 AMARAL, loc. cit. Completa o autor: “Com uma visão mais atualizada, pode-se dizer que pessoa 
traduz a qualificaçãO jurídica da condição natural do indivíduo, em uma transposição do conceito 
ético de pessoa para a esfera do direito privado, e no reconhecimento de que são inseparáveis as 
construções jurídicas da realidade social, na qual se integram e pela qual se justificam.” 
19 SOUZA, Rabindranath Valentino Aleixo Capelo de. O direito geral de personalidade . Coimbra: 
Coimbra, 1995. p. 117. A doutrina portuguesa define, a partir do texto do artigo 70 do Código Civil 
daquele país, personalidade como bem tutelado pelo direito, numa concepção humana sendo “...o 
real e o potencial físico e espiritual de cada homem em concreto, ou seja, o conjunto autônomo, 
unificado, dinâmico e evolutivo dos bens integrantes da sua materialidade física e do seu espírito 
reflexivo, sócio-ambientalmente integrados.” Tal conceito aproxima-se da concepção naturalista 
descrita por Amaral (2008). 
20 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro : teoria geral do direito civil. 25. ed. São 
Paulo: Saraiva, 2008. p. 114. 
21 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro . 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 70. 
22 VALLADÃO, Haroldo. Capacidade de direito . Enciclopédia Saraiva do Direito. São Paulo: Saraiva. 
v. 13. 1977. p. 34. 
 17 
 Beviláqua23 a define como “a aptidão, reconhecida pela ordem jurídica a 
alguém, para exercer direitos e contrair obrigações.” 
 É, portanto, pressuposto de direitos e deveres. 
 O direito reconhece a personalidade também a certas entidades chamadas 
morais, denominadas pessoas jurídicas, compostas de pessoas naturais que se 
agrupam, com observâncias das condições legais ou constituídas de um patrimônio 
destinado a um fim determinado.24 
 
 
2.1.3 Capacidade 
 
 
 A Capacidade é elemento da personalidade, sendo definida por Monteiro25 
como “a aptidão para adquirir direitos e exercer, por si ou por outrem, atos da vida 
civil.” O conjunto desses poderes constitui a personalidade, que, localizando-se ou 
concretizando-se num ente, forma a pessoa.26 
 Assim, pode-se dizer que a capacidade é a “medida jurídica da 
personalidade”, ou seja, o limite da potencialidade de adquirir direitos ou contrair 
obrigações.27 
 Enquanto a personalidade é um valor, a capacidade é a projeção deste valor 
que se traduz num quantum. Existe,portanto, a possibilidade de medida, de 
graduação. 
 E justamente neste fato que está o desencontro entre os dois conceitos que, 
apesar de umbilicalmente interligados, não são expressões sinônimas. Pode-se ser 
mais ou menos capaz, mas não se pode ser mais ou menos pessoa.28 29 
 
 
 
 
23 BEVILÁQUA, 1916 apud GONÇALVES, 2009, p. 70. 
24 GONÇALVES, 2009, p. 71. 
25 MONTEIRO, 2003, p. 64. 
26 MONTEIRO, loc. cit. 
27 GONÇALVES, op.cit. p. 71. 
28 AMARAL, 2008, p. 254. 
29 ALVES, José Carlos Moreira. A parte geral do Projeto do Código Civil brasileiro . São Paulo: 
Saraiva, 1986. 
 18 
 
 As duas, entretanto, se completam, pois a capacidade se ajusta ao conteúdo 
da personalidade. Tais institutos interpenetram-se, sem se confundirem.30 
 O próprio Código Civil em seu artigo 1º faz a simbiose entre personalidade e 
capacidade ao declarar que toda “pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem 
civil”. Assim, afirmar que o homem tem personalidade é o mesmo que dizer que ele 
tem capacidade para ser titular de direitos.31 
 Nem todas as pessoas, no entanto, possuem capacidade de fato, ou 
capacidade de exercício ou ação, que se traduz na capacidade para exercer os atos 
da vida civil. 
 Por faltarem alguns requisitos (maioridade, saúde, desenvolvimento mental, 
etc.), a lei sonega-lhes o direito de autodeterminação, de exercer os direitos pessoal 
e diretamente, exigindo sempre a participação de outra pessoa ou assistente.32 
 
 
2.1.4 Pessoas Naturais 
 
 
 No direito francês, assim como no italiano, utiliza-se o termo pessoa física 
para referir-se à pessoa humana. No direito nacional tal expressão é utilizada no 
direito tributário. Caio Mário da Silva Pereira, por exemplo, utiliza-se do termo 
pessoa natural, mesmo termo ao qual aderiram Gonçalves e Diniz, sob a justificativa 
que este designa o ser humano tal como ele é.33 
 
 
 
 
 
30 [...] os institutos da personalidade e da capacidade jurídicas interpenetram-se, sem se confundirem, 
com o bem da personalidade humana juridicamente relevante, na medida em que os valores jurídicos 
que aqueles institutos incorporam são reabsorvidos também no bem jurídico da personalidade, 
enquanto objecto da tutela geral referida. Concretizando, o bem jurídico da personalidade reivindica e 
incorpora um direito ao bem da personalidade jurídica plena e clama, conseqüência ou postula o bem 
de uma capacidade jurídica extensa. (SOUSA, 1995, p. 106). 
31 GONÇALVES, 2009, p. 71. 
32 Ibid.,.p. 72. 
33 DINIZ, 2008, p. 145. 
 19 
 Este é o posicionamento de nossa legislação civil, empregada no Código Civil 
e da grande maioria dos civilistas nacionais.34 
O Código Civil, em seu artigo 1º., trata de reconhecer a toda pessoa a 
capacidade para a aquisição de direitos e obrigações. No art. 2º. determina que a 
personalidade inicia com o nascimento com vida.35 
A expressão pessoas naturais do modo como é empregada no Código Civil, 
reporta-se tanto ao sujeito ativo como ao sujeito passivo da relação jurídica. Esta 
tecnicidade atribuída a um ser humano, entretanto, é criticada por parte da doutrina. 
Meirelles36 lembra que “esse mesmo sujeito que a lei civil define como tal é o 
homem, mas esse mesmo homem definido como sujeito de direito muitas vezes 
passa pelo mundo sem ter tido o mínimo de condições necessárias à sua 
sobrevivência.” 
Coutinho37, na esteira de Lorenzetti, acrescenta que a parte geral do direito 
civil, no entanto, apresenta-se hoje uma crise no que diz respeito a esta noção de 
pessoa natural. 
Avanços genéticos trazem ao lume situações não imaginadas ou previstas 
como a concepção intra e extra-uterina, ou o status jurídico do embrião e dos genes. 
Mesmo diante das hipóteses como a do nascituro, do ausente, para assegurar 
direitos, se nascer com vida. 
Acrescenta-se aí, situações como de fetos nascidos acéfalos, situações de 
barriga de aluguel, criação de espermatozóides a partir de células tronco, clonagem, 
e outros tantos advindos da evolução da ciência. 
 
 
 
34 Alguns autores, no entanto, como Sílvio Venosa e Miranda utilizam-se indiscriminadamente as 
terminologias pessoa humana e pessoa física para indicar o Homem como sujeito de direitos e 
obrigações na esfera jurídica e social. (NAHAS, 2007. p. 11). Diniz, 2008, p. 144, lembra que Teixeira 
de Freitas discorda da expressão porque tal denominação dá a entender existem “pessoas jurídicas 
não-naturais”, o que não corresponde à realidade, pois os entes criados pelo espírito humano 
também são naturais, por serem idéias personificadas; são, portanto, tão naturais quanto quem os 
gerou. Propôs o autor a denominação “ser de existência visível” em oposição a “seres de existência 
ideal”, este último a designar os entes coletivos, nomenclatura adotada pelo Código Civil argentino 
que aceitou essa inovação. 
35 Mesma linha adotada pelo Código Civil Alemão. 
36 MEIRELLES, Jussara. O Ser e o Ter na Codificação Civil Brasileira: do Sujeito Virtual à Cláusula 
Patrimonial. In: PATRIMONIAL, Luiz Edson Fachin (coord.). Repensando fundamentos de Direito 
Civil Brasileiro Contemporâneo . Rio de Janeiro: Renovar, 1998. p. 94. 
37 COUTINHO, Aldacy Rachid. Aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica no 
processo de execução trabalhista. In: NORRIS, Roberto (coord). Execução Trabalhista: visão atual. 
Rio de Janeiro: Forense, 2001. p 217. 
 20 
Assim, conclui a autora, “categorias jurídicas do arcabouço do direito privado, 
concretadas pelo ordenamento jurídico, devem ser revisitadas e reconstruídas.”38 
Lembrando a desumanização com que as tais pessoas naturais são por vezes 
tratadas pelo direito e seus aplicadores, arremata lembrando que essa pessoa 
natural, “quando chega como parte em uma reclamatória trabalhista, em geral é um 
não-ser, um desempregado. [...] É para o que não mais tem, o que entregou a sua 
força de trabalho e nada recebeu em troca que o processo do trabalho deve ter 
efetividade.”39 
 
 
2.2 A PESSOA JURÍDICA 
 
 
2.2.1 Conceitos 
 
 
Além da consideração da personalidade jurídica aos seres humanos, a ordem 
jurídica atribuiu a um conjunto de bens ou de pessoas personalidade jurídica. 
Por analogia com as pessoas físicas, a ordem jurídica disciplina o nascimento 
desses grupos, reconhecendo-os como sujeito de direito.40 
Os sujeitos de direto podem ser, portanto, naturais ou físicas, se coincidentes 
com o ser humano, ou pessoas jurídicas, quando “entidades ou organizações 
unitárias de pessoas ou de bens a que o direito atribui aptidão para a titularidade de 
relações jurídicas”.41 
O termo “pessoa jurídica”, no entanto, é contestado por muitos, pois no 
sentido de construção jurídica e seus atributos, toda pessoa é jurídica.42 
A justificativa encontrada para a existência destas entidades está vinculada à 
deficiência da pessoa natural e na impossibilidade ou dificuldade que esta tem de 
 
38 COUTINHO, 2001, p 217. 
39 COUTINHO, loc.cit. 
40 AMARAL, p. 312. 
41 AMARAL, loc. cit. 
42 Sobre essa opinião: DINIZ, 2008. p. 114 e GOMES, Orlando. Introdução ao Direito Civil. 4. ed. 
Rio de Janeiro: Forense, 1974. p. 208. 
 21 
“realizar certos fins que ultrapassam suas forças e os limites da vida individual”.43 
Havia, portanto, a necessidade de os indivíduos unirem esforços e utilizarem 
recursos coletivos para a realização de objetivos comuns.44 
Ao unir esforços a seus semelhantes, o homem multiplica suas possibilidades, 
propiciando a execução de obras extraordinárias e duráveis. 45 Isso ocorre tanto em 
empreendimentos econômicos como sociais, filantrópicos e culturais. 
Há de se ter em mente, ainda, que essa limitação da capacidade individual de 
há muito existe e se torna mais forte a cada dia, na medida em que a sociedade 
humana se torna cada vez mais complexa, sobtodos os aspectos, impondo a 
coletivização para o desenvolvimento das pessoas.46 
Tal constatação, portanto, motivou a organização de pessoas e bens, bem 
como o reconhecimento do direito, que atribuiu a este grupo uma personalidade, 
distinta de cada um de seus membros (sendo esta a sua principal característica), 
passando este a atuar na vida jurídica com personalidade própria. 
Assim, surgem as chamadas pessoas jurídicas, também designadas como 
pessoas morais em países com França e Suíça e pessoas coletivas em Portugal. 47 
Em Portugal ainda, apesar de se admitir a denominação pessoa coletiva diversas 
vezes lê-se a referência à personalidade jurídica da pessoa coletiva.48 
A Argentina adotou a expressão proposta por Teixeira de Freitas, entes de 
existência ideal.49 
No Brasil, assim como em países como Alemanha, Espanha, Uruguai, Grécia, 
antiga União Soviética e Itália, optou-se pela expressão “pessoas jurídicas”.50 
 
43 MONTEIRO, 2003, p. 120. 
44 GONÇALVES, 2009, p.182. 
45 MONTEIRO, op. cit., p. 120. 
46 SANTOS, Hemelino de Oliveira. Desconsideração da personalidade jurídica no proces so do 
trabalho: diretrizes à execução trabalhista : artigo 50 do Código Civil e sua aplicação trabalhista. 
São Paulo: Ltr, 2003. p. 19. 
47 A doutrina portuguesa de Mota Pinto (2005) defina a pessoa colectiva como “organizações 
constituídas por uma colectividade de pessoas ou por uma massa de bens dirigidos à realização de 
intresses comuns ou colectivos, às quais a ordem jurídica atribui a personalidade jurídica. Trata-se de 
organizações integradas essencialmente por pessoas ou essencialmente por bens, que constituem 
centros autônomos de relações jurídica – autônomos mesmo em relação aos seus membros ou às 
pessoas que actuam como seus órgãos.” 
48 MOTA PINTO, Carlos Alberto. Teoria Geral do Direito Civil. 3. Ed. Coimbra: Coimbra, 2005. p. 
268. 
49 Artigo 33 do Código Civil Argentino. 
50 No Brasil, o termo foi adotado no Código Civil (arts. 40 a 69) assim como outros povos. Na 
Alemanha arts. 21 a 89, na Itália arts. 11 a 42. O Código Civil espanhol adotou a expressão no artigo 
35. No Uruguai o artigo 21 do Código Civil, segunda alínea, adota a expressão. O Código Civil da 
antiga União Soviética utiliza pessoa jurídica em seu artigo 14 e seguintes. 
 22 
Inúmeras outras designações, entretanto, são lembradas tais como pessoas 
civis, místicas, abstratas, compostas, universidade de bens e de pessoas.51 52 O 
papa Inocêncio IV batizava tais entidades com o nome expressivo, de corpus 
mysticum, falando, ainda, os canonistas de antanho em persona universitatis, 
persona invisibilis, persona representata e persona collegi. 53 
A expressão pessoa jurídica, sem ser perfeita, é reconhecida por diversos 
autores como a menos imperfeita, pois designa como vivem e agem essas 
agremiações, pois acentua o ambiente que possibilita a sua existência.54 
Foi a doutrina alemã, entretanto, que atingiu a moderna concepção de pessoa 
jurídica, sistematizando a matéria de direito civil elaborando uma teoria geral 
reunindo noções, elementos e categorias jurídicas comuns a todos os ramos do 
direito.55 
Surge, então, decorrente desta existência concreta de grupos humanos e de 
bens para a satisfação de interesses e necessidades coletivas, com individualidade 
própria e distinta da de seus membros, impunha o seu reconhecimento ao direito. 
A par de toda essa tecnicidade envolvendo o conceito de pessoa jurídica deve 
se ter em mente principalmente que a entidade jurídica é constituída e criada pelo 
ser humano, para a ele servir dentro dos parâmetros de respeito à sua dignidade. 
Oliveira56 bem destaca que a pessoa jurídica “dele depende, que deve sua 
existência ao ordenamento jurídico e que é o que o ordenamento deseja que ela 
seja, pois que não é, no âmbito da vida jurídica, fenômeno natural pré-existente, mas 
mera criação do pensamento humano para a consecução de determinados fins.” 
 
 
2.2.1.1 Notícia histórica, evolução da construção dogmática 
 
 Como dito alhures o termo pessoa jurídica, com seu significado atual é 
elaboração moderna, advinda da dogmática alemã dos séculos XVIII e XIX que se 
 
51 DINIZ, 2008, p. 114. 
52 GONÇALVES, 2009, p. 182. 
53 SILVA, Wilson Melo da. Pessoas jurídicas : separata da Revista da Faculdade de Direito da 
U.F.M.G. Belo Horizonte: UFMG, 1966. p. 67. 
54 DINIZ, op. cit., p. 23. 
55 AMARAL, 2008, p. 318. 
56 OLIVEIRA, José Lamartine Correia de. A dupla crise da pessoa jurídica . São Paulo: Saraiva, 
1979. p. 329. 
 23 
integrou definitivamente na terminologia jurídica como produto de notável abstração 
jurídica dos juristas deste período. 
Tal construção resulta, assim como diversos outros conceitos e categorias 
jurídicas, de um longo processo evolutivo que apresenta três períodos distintos: o 
romano, o medieval e o moderno.57 
No direito romano, a pessoa jurídica não existia. Práticos, os romanos sempre 
se mostraram sóbrio e parcimoniosos sobre o tema, avesso a abstrações 
metafísicas. Os textos jurídicos desta época traziam o termo persona geralmente 
como sinônimo de homem.58 
Na primeira fase do Império Romano, conhecia-se, entretanto, certas 
associações de interesse público como universitates, sodalitates, corpora e 
collegia.59 
Foi no pensamento medieval, mormente no século XIV, com a contribuição do 
direito canônico que, reunindo elementos do direito romano pós-clássico, do direito 
germânico antigo e do próprio direito canônico, chega-se ao núcleo central do 
conceito de pessoa jurídica através do incremento das fundações, então 
denominadas corpus mysticum. 
Qualquer ofício eclesiástico, provido de patrimônio próprio, era considerado 
ente autônomo. Essas fundações que, a princípio, eram subordinadas à Igreja, mais 
tarde tornaram-se independentes. (pium corpus, sancta domus, hospitalis).60 
Foi somente na idade média a partir do pensamento de Sinaldo de Fleschi, 
que se chega a uma conceituação da pessoa ficta, consagrando a expressão 
“Universitas fingatur esse uma persona”.61 
A questão era decidir a cidade que se revoltava contra um soberano, o papa 
ou o imperador poderia ser castigada como um todo.62 
Até então, a resposta era positiva uma vez que condenava-se, excomungava-
se ou interditava-se cidades e vilas inteiras como se fossem uma só pessoa. 
 
57 AMARAL, 2008, p. 318. 
58 MONTEIRO, 2003, p. 121. 
59 A referência é feita por Monteiro (2003) em seu Curso de Direito Civil com base na lição de 
Calogero Gangi em Persone Fisiche e Giuridiche. Amaral (2008, p. 316), no entanto, destaca que 
expressões como universitas e corpus, figuras posteriormente consideradas jurídicas. 
60 MONTEIRO, op. cit., p. 121. 
61 A universalidade é tida como uma pessoa. 
62 AMARAL, op. cit. p. 316. 
 24 
Sinibaldo de Fieschi, que depois seria papa sob o nome de Inocêncio IV, 
defendia então a tese de que são diferentes a pessoa do homem, pois não tem 
alma, corpo, assim como os homens. Não se pode, portanto, uma universitas 
incorrer em pecado, conseqüentemente, ser excomungada ou, sequer cometer 
pecato.63 
Desta idéia, chegou-se a verificação de que a universitas exercitam direitos e 
deveres, devendo ser consideradas pessoas fictas. 
A concepção deste canonista se consolida-se quando ele, já como papa 
Inocêncio IV, consegue que o Concílio de Lyon, em 1245 proíba a excomunhão dos 
collegia e universitas, com base nos seus argumentos, consagrando a sua teoria nos 
meios jurídicos medievais, tendo sido ele o verdadeiro iniciador da teoria da pessoa 
jurídica.64 
Na época moderna, com o jusnaturalismo passa a denominar a persona ficta 
como pessoa moral designando “comunidades ou corporações”. Adotam tal 
denominação os códigos da Prússia e da Áustria. 
Amaral65 ressalta que o Código francês, no entanto, “não reconhecia a 
doutrina da existênciade corpos ou entes morais intermédios entre os Estado e o 
indivíduo, amparados e nascidos de normas estranhas ao poder do Estado, como 
eram as de direito natural.” 
A doutrina alemã, por fim, determinou os atuais contornos do que 
modernamente vem a ser a pessoa jurídica. 
No Brasil, reconheceu-se ampla personalidade às sociedades, quer civis quer 
comerciais.66 
Teixeira de Freitas, no famoso Esboço do Código Civil, apresentou a 
regulamentação das pessoas jurídicas, incluindo as sociedades na categoria de 
pessoas, com a advertência de que pela primeira vez tentou-se a temerária empresa 
de reunir em um todo “o que há de mais metafísico na jurisprudência”.67 
 
63 AMARAL, p. 316. 
64 AMARAL, loc. cit. 
65 Ibid. p. 318. 
66 O decreto no. 2.427, de 17/12/1997, promulgou a Convenção Interamericana sobre personalidade 
e capacidade das pessoas jurídicas no direito internacional privado, estabelecendo que elas são toda 
entidade que tenha existência e responsabilidades próprias, distinta da de seus membros, e que seja 
qualificada como pessoa jurídica segundo a lei do lugar de suas constituição. 
67 REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 25. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 373. 
 25 
O Esboço previa que as pessoas “ou são de existência visível ou são de 
existência ideal”. Elas podem adquirir os direitos, que o presente Código regula, nos 
casos e pelo modo e forma, que, no mesmo se determinar.68 
Essa matéria, no entanto, não é pacífica, sendo inúmeras as controvérsias 
sobre a natureza jurídica destes entes, sendo campo aberto à discussões e 
polêmicas entre civilistas, romanistas, criminalistas e trabalhistas. 
 
 
2.2.1.2 Natureza jurídica 
 
 A doutrina está longe a apresentar um consenso sobre a natureza jurídica da 
pessoa jurídica, sendo que várias teorias foram elaboradas sobre o tema. 
As teorias são quatro: a) da ficção legal e da doutrina; b) teoria da 
equiparação; c) teoria orgânica ou da realidade objetiva; d) da realidade das 
instituições jurídicas.69 
A primeira teoria, teoria da ficção, sustentada por Savigny, constitui-se na 
doutrina tradicional, originando-se no direito canônico e prevalecendo até o século 
XIX.70 Hoje encontra-se em descrédito, não sendo mais aceita por praticamente 
 
68 O conceito de Teixeira de Freitas era oferecido no art. 272 do seu Código: “Todos os entes 
suscetíveis de aquisição de direito, que não são pessoas de existência visível, são pessoas de 
existência ideal”. 
69 Estas quatro denominações são igualmente lançadas por Diniz (2008, p. 232) e por Monteiro (2003, 
p. 123). Já Amaral (2008) cita dois grandes grupos ao enumerar estas teorias sendo eles o da ficção 
e o da realidade, cada um com subdivisões doutrinarias. Sendo estas duas teorias antagônicas. 
70 Essa teoria como as demais, liga-se a interesses político-econômicos que lhe configuram o 
fundamento ideológico. Representando o espírito da época, o individualismo, para quem somente o 
ser humano pode ser, como pessoa, titular de direitos subjetivos, a pessoa jurídica seria mera 
construção ou ficçao do direito pela conveniência do Estado. Ao atribuir-se a este o poder de conferir 
titularidade jurídica a grupos de pessoas ou a organização de bens, conceder-se-ia também u poder 
de intervenção no domínio privado, a seu arbítrio exclusivo. Esse é o motivo da aceitação dessa 
teoria, extremamente útil tanto aos que visavam impedir a implantação do Estado Liberal (os adeptos 
do Antigo Regime francês) como aos próprios Estados liberais nascentes, que precisavam impor a 
sua autoridade, por meio do controle da conveniência e oportunidade de organização das pessoas 
jurídicas. (AMARAL, 2008, p. 319). Na mesma linha, e de certa forma “absolvendo” Justen Filho, 
justifica no pensamento da época a adoção desta teoria: " Vale dizer, se o núcleo do direito subjetivo 
(e, por decorrência, do direito objetivo) residia na vontade, o único resultado cabível seria o de a 
pessoa jurídica não ser realmente um sujeito de direitos. E isso pela impossibilidade de localizar 
vontade senão no ser humano. E isso, pela impossibilidade de localizar vontade senão no ser 
humano. Atribuir a condição de pessoa (na acepção de titular de direitos) a quem não possa ter 
vontade, como seria o caso das pessoas jurídicas, significaria um falseamento da realidade. A teoria 
da ficção é uma resposta coerente para o problema da pessoa jurídica, desde que uma das balizas 
do raciocínio seja uma filosofia voluntarista.” (JUSTEN FILHO, Marçal. Desconsideração da 
personalidade societária no direito brasileiro . São Paulo: Revista dos Tribunais, 1987. p. 21). 
 
 26 
nenhum doutrinador brasileiro. 
Ela dá conta de que somente o homem é capaz de ser sujeito de direitos, 
concluindo que a pessoa jurídica é uma ficção legal, ou seja, “uma criação artificial 
de lei para exercer direitos patrimoniais e facilitar a função de certas entidades.” 
Vereilles-sommières defende o mesmo raciocínio afirmando que a pessoa 
jurídica apenas tem existência na imaginação dos juristas, não tendo qualquer 
objetividade, simples efeito de ótica, simples projeção.71 72 
A justificativa mais forte para a não aceitação desta teoria é justamente a 
aceitação do próprio Estado como pessoa jurídica, pois se concluirmos ser este 
mera ficção doutrinária, o direito que dele emana também o será.73 74 
A aceitação desta teoria traria problemas no caso concreto, como aponta 
Márcio André Medeiros Moraes75. O autor lembra que antes do Código Civil 
Brasileiro, no artigo 20, houvesse estabelecido que a pessoa jurídica não se 
confunde com a pessoa de seus membros, adotando a teoria orgânica, os julgados 
dos nossos tribunais encontravam dificuldades para explicar certos fatos. 
Indaga o autor: Se uma sociedade anônima vem a falir, a falência, a princípio, 
não atinge a pessoa dos acionistas. Como justificar tal fato com base na mera 
ficção?76 
A segunda teoria, formulada por Windscheid e Brinz, chamada teoria da 
equiparação também nega qualquer personalidade jurídica como substância. 
Admite, tão somente, a existência de certas massas de bens, determinados 
patrimônios equiparados, no seu tratamento jurídico, às pessoas naturais.77 78 
Da mesma forma que a anterior, é inaceitável pois “eleva os bens à categoria 
de sujeito de direitos e obrigações, confundindo pessoas com coisas.”79 
Para a teoria da realidade objetiva ou orgânica, formulada por Gierke e 
Zitelmann, pessoa não é somente o homem, pois junto destes há entes dotados de 
existência real, tão real quanto a das pessoas físicas. Assim, as pessoas jurídicas 
constituem realidades vivas, que têm existência e vontade própria. 
 
71 MONTEIRO, 2003, p. 124. 
72 DINIZ, 2008, p. 233. 
73 MONTEIRO, op. cit., p. 124. 
74 DINIZ, op. cit., p. 233 
75 MORAES MAM, 2002. p. 31. 
76 MORAES MAM, loc. cit. 
77 MONTEIRO, op. cit. p. 124.. 
78 DINIZ, op. cit. p. 233. 
79 DINIZ, loc. cit. 
 27 
Tal teoria não se suporta, na opinião de respeitáveis doutrinadores, pois 
admite que a pessoa jurídica tem vontade própria, sendo que o fenômeno volitivo é 
peculiar ao ser humano e não do ente coletivo.80 81 
Alguns escritores a criticam também por reduzir o papel do Estado a mero 
conhecedor de realidades já existentes, desprovido de maior poder criador. 82 
A quarta teoria é a chamada da realidade das instituições jurídicas, defendida 
por Hauriou, admite parcela de verdade em cada uma dessas concepções. 
É eclética e admite que do ponto físico e natural só a pessoa física é 
realidade. Sob este aspecto, portanto, a pessoa jurídica não passará de ficção. 
Entretanto, toda ciência aprecia os fenômenos de forma diversa definindo-os 
mediante critérios próprios.83 
Assim, como a personalidade humana deriva do direito (tanto assim que já 
privou seres humanos de personalidade – os escravos p.ex.), “damesma forma ele 
pode concedê-la a agrupamento de pessoas ou de bens que tenham por escopo a 
realização de interesses humanos.”84 
Logo, a personalidade jurídica não é, pois, ficção, mas um atributo que a 
ordem jurídica estatal outorga a agrupamentos de pessoas ou de bens que tenham 
por escopo a realização de interesses humanos, mediante preenchimento de 
determinados requisitos. Não de maneira arbitrária, mas sim tendo em vista 
determinada situação que já encontra devidamente concretizada.85 
Justen Filho também não concorda com a idéia de que a pessoa jurídica seja 
uma falsidade, criação arbitrária do direito. Entende que a expressão “pessoa 
jurídica”, é empregada pelo direito para indicar certas situações jurídicas. Logo, é 
uma expressão vocabular, lingüística. Assim “exatamente por se acatar um conceito 
relativo e histórico para pessoa jurídica, é que concluímos ser impossível desvincular 
 
80 MONTEIRO, 2003. p. 124. DINIZ, 2008. p. 233. 
81 Da mesma forma como havia feito com a teoria ficcionista, Justen Filho descreve o momento 
histórico desta teoria, de forma a adaptá-la ao contexto vivido esclarecendo que “também incoerente 
não era o pensamento de Gierke, muito embora também se tratasse de um voluntarista, Gierke não 
assumiu, em momento algum, posição assemelhável a realistas subseqüentes (tais como, verbi 
gratia, os pensadores institucionalistas). Gierke afirmou a realidade da pessoa jurídica na concepção 
de sua identidade ao ser humano. Ou seja, a pessoa jurídica não era uma ficção. Não porque 
correspondesse a um substrato real etc., mas acentuadamente porque seria figura identificável ao 
homem. Construiu a primeira teoria antropormófica da pessoa jurídica, buscando defender nela a 
existência de uma vontade idêntica à vontade humana.” (JUSTEN FILHO, 1987. p. 21). 
82 GONÇALVES, 2009, p. 185. 
83 MONTEIRO, 2003, p. 124. 
84 DINIZ, 2008, p. 233. 
85 MONTEIRO, 2003. p. 125. DINIZ, loc. cit. 
 28 
tal conceito da pluralidade das disposições normativas e das concepções 
dogmáticas acerca de pessoa, sujeito de direito, relação jurídica etc.” 
Arremata da seguinte forma: “A pessoa jurídica, enquanto expressão técnico 
jurídica, refere-se a conceitos e a situações jurídicas que se inserem dentro de 
contextos históricos e com os quais estabelecem interação.”86 
Apesar da crítica que se faz à esta teoria, de ser positivista e assim 
desvinculada de pressupostos materiais, é a que melhor explica o fenômeno pelo 
qual um grupo de pessoas, com iguais objetivos, pode ter personalidade própria, 
mas não se confunde com seus membros, oferecendo segurança.87 
É a teoria adotada pelo direito brasileiro, como se depreende do art. 45 do 
Código Civil, que disciplina o começo da existência legal das pessoas jurídicas do 
direito privado, bem como dos artigos 52, 54, VI, 61, 69 e 1033 do mesmo diploma 
legal. 
Note-se que a pessoa jurídica em sua essência, ou seja, a partir da análise de 
sua natureza jurídica é apenas um atributo conferido pelo Estado, um benefício 
tendo em vista uma determinada situação. Um expediente de ordem técnica para 
realização de determinados fins bens descritos por Maria Helena Diniz como de 
caráter humanístico. 
Sendo assim, há de se ter em mente que este atributo é concedido 
tecnicamente e, pode também ser afastado quando do impedimento da consecução 
dos fins buscados. 
As teorias são muitas e nem sempre tem uma mesma denominação. Alguns 
autores inclusive negam qualquer importância prática da elaboração de uma 
natureza jurídica para a personalidade jurídica. 
Rubens Requião defende que o problema da personalidade jurídica das 
sociedades comerciais comporta um tratamento prático, motivo pelo qual se afasta 
das abstrações das inúmeras teorias e preocupações científicas e doutrinárias sobre 
o tema. Assim, filiado ao posicionamento de Messineo, considerou de menor 
importância o problema sobre a realidade ou ficção das pessoas jurídicas, 
satisfazendo-se com a circunstância de possuírem elas uma realidade no e para o 
mundo jurídico.88 
 
86 JUSTEN FILHO, 1987, p. 31-36. 
87 GONÇALVES, 2009, p. 186. 
88 REQUIÃO, 2003, p. 373. 
 29 
 
2.2.1.3 A personificação e seus efeitos 
 
 
 Amaral89 enumera alguns efeitos da personalização destacando que a pessoa 
jurídica existe no mundo e para o mundo das relações jurídicas sendo, portanto, 
uma realidade qualquer que seja a fundamentação teórica. 
 Estes efeitos, enumerados, tem grande importância prática e deles surgem 
vários efeitos:90 
a) Com a constituição da pessoa jurídica forma-se um novo centro de direitos 
e deveres, dotado de capacidade de direito e de fato; 
b) Esse novo centro unitário passa a ter direitos, deveres e interesses 
distintos dos direitos deveres e interesses das pessoas que dele 
participam individualmente; 
c) O destino econômico e jurídico do novo centro é totalmente diverso do de 
seus membros participantes; 
d) A autonomia patrimonial da pessoa jurídica é completa em face de seus 
membros, implicando no fato de que o patrimônio da pessoa jurídica é 
totalmente independente do patrimônio das pessoas que a constituem; 
e) Passa a existir independência das relações jurídicas da pessoa jurídica 
relativa à dos seus membros, de modo que direitos ou dívidas desses não 
são direitos ou dívidas daquele. (um credor de sócio não pode compensar, 
com a dívida deste, a sua dívida para a sociedade); 
f) A responsabilidade civil da pessoa jurídica é independente da das pessoas 
que a formam, de modo que os bens da pessoa jurídica não respondem 
pelas obrigações de seus membros e vice-versa; 
g) A pessoa jurídica não tem responsabilidade penal, embora a Lei 9.605, de 
12 de fevereiro de 1998, que dispões sobre as sanções penais e 
administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio 
ambiente, estabeleça, no art. 3º., que as pessoas jurídicas serão 
 
89 AMARAL, 2008, p. 322. 
90 Ibid. p. 322-323. 
 30 
responsabilizadas administrativa, civil, penalmente conforme o disposto 
nessa lei. A questão, entretanto, é controversa.91 
 Tais efeitos, entretanto, não são absolutos. 
 Na análise do caso concreto pode o magistrado, diante da presença de 
alguns requisitos, afastar essa autonomia da pessoa jurídica possibilitando a 
responsabilização dos sócios. 
 Essa doutrina chamada de disregard doctrine, tem por escopo responsabilizar 
os sócios pela prática de atos abusivos sob o manto da pessoa jurídica, coibindo 
manobras fraudulentas e abuso de direito, mediante equiparação do sócio e da 
sociedade, desprezando-se a pessoa jurídica, temporariamente, para alcançar as 
pessoas nela contidas.92 
 Este é o objeto deste estudo, mormente no que diz respeito a sociedades 
limitadas empregadoras, justamente a porosidade dos efeitos da personalização 
destes entes diante da existência de preceitos constitucionais de proteção a 
dignidade do homem enquanto trabalhador. 
 Ultrapassada a análise da pessoa jurídica, seus aspectos conceituais e 
natureza jurídica, necessária se faz o estuda da classificação das pessoas jurídicas 
eis que somente as sociedades limitadas serão objeto deste estudo. 
 Também faz-se necessário diagnóstico dessa figura na condição de 
empregadora, isto é, responsável direta por créditos e direitos trabalhistas 
decorrentes de prestação de trabalho. 
 
 
2.2.1.4 Classificação das pessoas jurídicas 
 
 
 No direito brasileiro as pessoas jurídicas são dividias em dois grande grupos, 
De um lado, as pessoas jurídicas de direito público, tais como União, Estado, 
 
91 No capítulo próprio de sociedade empresariais Campinho apresenta uma descrição mais 
simplificada dos efeitos da personificação: Partimônio próprio; Nome próprio; Nacionalidade pópria e 
domicílio próprio. (CAMPINHO, Sérgio. O direitode empresa à luz do novo código civil. 8. ed. Rio 
de Janeiro: Renovar, 2007. p. 67-68). Da mesma forma, ao se referir a sociedades empresariais 
Coelho enumera da seguinte maneira as conseqüências da personalização destas sociedades, 
conseqüências estas que eleva ao grau de “verdadeiros princípios de direito societário”: a) 
Titularidade negocial; b ) Titularidade processual; c) Responsabilidade patrimonial. (COELHO, Fábio 
Ulhoa. Manual de direito comercial : direito de empresa. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 114.) 
92 DINIZ, 2008. p. 313-314. 
 31 
Municípios, o Distrito Federal, os Territórios e as autarquias; de outro, as de direito 
privado, compreendendo todas as demais. O que as diferencia é o regime jurídico a 
que se encontram submetidos. 
 Já as pessoas jurídicas de direito público se subdividem em direito público 
interno e de direito público externo ou internacional. 
No caso das pessoas de direito público interno, a União, os Estados e os Municípios 
são reconhecidos como pessoas jurídicas, assim como o Distrito Federal. São 
consideradas também como de direito público interno organismos paraestatais 
criados pela Administração Pública, tais como as autarquias93 e “demais entidades 
de caráter público criadas por lei” (art. 41, incisos IV e V do novo Código Civil.) como 
agências reguladoras por exemplo. 
Autarquias são entes com personalidade pública que desfrutem de certa 
autonomia. Embora ligada umbilicalmente ao Estado, suas atividades podem ser 
mais ou menos vinculadas, dependendo de cada caso, sendo os limites de sua 
atividade definidos pela lei que as institui.94 Surgem quando a lei individualiza um 
patrimônio a partir de bens pertencentes a uma pessoa jurídica de direito público 
afetando-o à realização de um fim administrativo, e dotando-o de organização 
adequada.95 
Podem ser criadas pelos três níveis administrativos, União, Estados e 
Municípios 
As agências reguladoras ou executivas (autarquias federais criadas pela lei 
9.649/98, art. 51), são dotadas de poder regulador e deve, atribuído pelo sistema 
legal, para atuarem administrativamente dentro dos limites autorizados por lei, 
criando regulação para a consecução de uma relação entre usuários e agentes 
econômicos. 
A classificação da pessoa jurídica pode se dar quanto à sua nacionalidade, 
sua estrutura interna e função (ou órbita de atuação).96 
Quanto à nacionalidade, divide-se em nacional ou estrangeira. A pessoa 
jurídica nacional é aquela definida pelo art. 1126 do Código Civil, assim como arts. 
 
93 Definidas no artigo 5º. Do Decreto-lei n. 200, de 25/2/67, com alteração do Decreto 900, de 29/9/69: 
“o serviço autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica patrimônio e receita próprios, para 
executar atividades típicas da Administração Pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento, 
gestão administrativa e financeira descentralizada.” 
94 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil : parte geral. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 262-263. 
95 DINIZ, 2008. p. 218. 
96 GONÇALVES, 2009, p. 196. 
 32 
176, § 1º. e 222 da Constituição Federal como a sociedade organizada em 
conformidade com a lei brasileira e que tenha no País a sede de sua administração. 
Já a sociedade estrangeira, qualquer que seja o objeto, não pode, sem 
autorização do Poder Executivo, funcionar no País, ainda que por estabelecimentos 
subordinados, podendo, todavia, atuar como acionista de sociedade anônima 
brasileira (art. 1134). 
Quanto à sua estrutura interna, a pessoa jurídica de direito privado pode ser 
corporação (universitas personarum) e fundação (universitas bonorum). 
A corporação se caracteriza pelo aspecto pessoal, constituindo um conjunto 
de pessoas, reunidas para melhor consecução de seus objetivos, visando a 
realização de fins internos, estabelecidos pelos sócios. Seus objetivos são voltados 
para o interesse e o bem estar de seus membros, visando atingir, fins comuns. 97 
Se subdividem em associações e sociedades, podendo estas últimas serem 
simples e empresárias (art. 982 do CC). As associações não tem fins lucrativos, mas 
religiosos, morais, culturais, assistenciais, desportivos ou recreativos. As sociedades 
simples têm fim econômico e visam lucro, distribuídos entre os sócios. As 
sociedades empresárias distinguem-se da primeira pois têm por objetivo o exercício 
de atividade próprio de empresário sujeito ao registro previsto no art. 967 do Código 
Civil. 
As pessoas jurídicas de direito privado são instituídas por iniciativa de 
particulares e tem sua positivação no art. 44 do Código Civil, com redação dada pela 
Lei 10.825 de 22 de dezembro de 2.003 dividindo-se em: fundações, associações, 
sociedades (simples e empresárias) e, ainda partidos políticos. 
As fundações tem como aspecto dominante o material, pois compõe-se de um 
patrimônio personalizado, destinado a um determinado fim e tem objetivos externos, 
estabelecidos pelo instituidor. 
As fundações particulares são universalidades de bens, personalizadas pela 
ordem jurídica, em consideração ao fim estipulado pelo fundador, sendo este 
objetivo imutável e sues órgãos servientes, pois todas as resoluções estão delimitas 
pelo instituidor. Não tem fins econômicos nem fúteis, deve almejar fins nobre, para 
proporcionar a adaptação à vida social. 
 
97 GONÇALVES, 2009, p. 196. 
 33 
As associações podem ser civis, religiosas, pias, morais, científicas ou 
literárias e as de utilidade pública. Constituem, portanto, uma universitas 
personarum, ou seja, um conjunto de pessoas que colimam fins e interesses não 
econômicos (CC, art. 53), que podem ser alterados, pois seus membros deliberam 
livremente.98 
Dever-se-á efetuar o registro do estatuto e a autorização governamental para 
que a associação seja uma pessoa jurídica (Lei n. 6015/73, arts. 114 a 121). Se não 
houver o registro será considerada uma associação irregular, não personificada, não 
tendo, portanto, personalidade jurídica.99 
As associações podem ser de diversos tipos dependendo das atividades 
exercidas por elas.100 
Neste ponto, a doutrina e a lei distinguem as associações e as sociedades, 
sendo que “as disposições concernentes às associações aplicam-se, 
subsidiariamente, às sociedades que são objeto do Livro II, da parte especial do 
código” (CC, art. 44, parágrafo único). O traço marcante distintivo entre uma e outra 
é justamente o fato daquelas não visarem lucro.101 
Tem-se como associação quando não há fim lucrativo ou intenção de dividir o 
resultado, “embora tenha patrimônio, formado por contribuição de seus membros 
para obtenção de fins culturais, educacionais, esportivos, religiosos, recreativos, 
morais, etc.”102 
 
98 Plena é a liberdade de associação para fins lícitos (CF/88, art. 5º., XVII). 
99 Da mesma forma, alguns autores trazem no estudo do tópico de pessoas jurídicas os grupos com 
personificação anômala. São entidades com muitas das características das pessoas jurídicas, mas 
que não chegam a ganhar personalidade, por lhe faltarem requisitos imprescindíveis à personificação, 
embora, na maioria das vezes, tenham representação processual. São citados como exemplos 
destes grupos a família, a massa falida, a herança jacente vacante, o espólio, as sociedades sem 
personalidades jurídicas (irregulares) e o condomínio. 
100 Filantrópicas, de assistência social, de utilidade pública, religiosas, espiritualistas, secretas, 
estudantis, formadas para manutenção de escolas livres ou de extensão cultural, culturais, de 
profissionais liberais, desportivas, organizadoras de corrida de cavalos, de amigos de bairro, caixas 
de socorro, para exercício de atividade de garimpagem, cooperativas, de poupança ou empréstimo, 
coletiva de consumo, trustes, de usuários do serviço público. (DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito 
Civil Brasileiro : teoriageral do direito civil. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 225-238) 
101 O artigo 53 do Código Civil, e, sua parte final, faz menção a “fins não econômicos” o que é 
criticado pela doutrina, que julga tal expressão como imprópria. Projeto de Lei n 7.160 de 27 de 
agosto de 2002 propõe a modificação da expressão para “fins não lucrativos”. 
102 DINIZ, 2008, p. 222. 
 34 
Campinho destaca que anteriormente não se justificava a distinção entre 
Associação e Sociedade. O próprio Código Civil de 1916, em seu inciso I, não 
autorizava tal discriminação.103 
A utilização indiscriminada destas expressões justificava-se em função da 
ligação íntima entre os conceitos de ambas, pois a sociedade está para a 
associação como uma espécie de gênero..104 
A técnica jurídica adotada pelo novo código, entretanto, as expressões 
associação e sociedade querem impor definições autônomas de espécies de do 
gênero pessoa jurídica de direito privado. 
 
 
2.3 A SOCIEDADE LIMITADA EMPREGADORA 
 
 
2.3.1 As Sociedades: Conceito e Classificação 
 
 
 Até o Código Civil de 1916, inexistia norma legal que admitisse a sociedade 
como pessoa jurídica. Em seu art.16, II, reconheceu então personalidade jurídica 
aos grupos coletivos, sejam de pessoas, sejam de capital (na Itália e na Alemanha a 
personalização é reconhecida apenas às sociedades de pessoas). 105 
 Assim quando da constituição de uma pessoa jurídica, transforma-se num 
novo ser, individualmente considerado, com patrimônio próprio, com órgãos em um 
novo ser, com seus próprios órgãos de administração. 
 A partir de sua inserção no mundo jurídico, passa a ter obrigações e direitos 
perante terceiros, coletividade e até mesmo perante a comunidade internacional. 
O novo Código Civil unificou as obrigações civis e comerciais no Livro II, 
concernente ao chamado direito de empresa, disciplinando as sociedades, em suas 
diversas formas, no Título II (arts. 981 e ss.) 
 
103 O próprio Código Comercial, na sua parte revogada, em diversas passagens fazia uso do vocábulo 
associação para espelhar sociedade (arts. 305, 5, 311,319,325, p. ex.). 
104 CAMPINHO, 2007, p. 34. 
105 GRASSELI, Odete. Desconsideração da personalidade jurídica in: COUTINHO, Aldacy Rachid, 
WALDRAFF, Célio Horst (coord.). Direito do Trabalho & Direito Processual do Trabalh o: temas 
atuais. Curitiba: Juruá, 1999. p. 430. 
 35 
A sociedade pode ser definida como: 
 
O resultado da união de duas ou mais pessoas, naturais ou jurídicas, que, 
voluntariamente, se obrigam a contribuir, de forma recíproca, com bens ou 
serviços para o exercício proficiente de atividade econômica e a partilha 
entre si, dos resultados auferidos nessa exploração.106 
 
Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam 
a contribuir, com bens, para o exercício da atividade econômica a partilha, entre si, 
dos resultados. A atividade pode restringir-se à realização de um ou mais negócios 
determinados (art. 981 e § único). 
O que aproxima, ou motiva a aproximação dos integrantes de uma sociedade, 
chamados tecnicamente de sócios, é o escopo de partilhar lucros.107 
A sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição, no registro 
próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos (artigos 985 e 45 do CC). 
As sociedades podem ser simples e empresárias.108 Como é a própria pessoa 
jurídica a empresária – e não seus sócios – o correto é falar em sociedade 
empresária, e não sociedade empresarial. (isto é, “de empresários”).109 
Tal divisão se dá em função de seu objeto ou da forma societária adotada.110 
Sociedades simples são normalmente constituídas por profissionais da 
mesma área e tem fim econômico e lucrativo que deverá ser repartido entre os 
sócios.111 Mesmo que eventualmente venham a praticar atos próprios do exercício 
de uma empresa, tal fato não a desnatura, pois o principal é a atividade principal por 
ela exercida.112 113 
 
 
 
106 CAMPINHO, 2007, p. 36. 
107 Ibid. p. 34. 
108 Expressões que substituíram a antiga divisão entre civis e comerciais. 
109 GONÇALVES, 2009, p. 205. 
110 Diferenciação adotada por CAMPINHO, op. cit. p. 36. 
111 São exemplos de sociedade simples: As cooperativas (Código Civil, § único do artigo 982), certas 
sociedades dedicadas à atividade agrícola ou pastoril e as sociedades de advogados (art. 966 do 
Código Civil c/c art. 15 da Lei n. 8.906/94). 
112 GONÇALVES, op. cit. p. 206. 
113 DINIZ, 2004, p. 238. 
 36 
Foram criadas pelo Código Civil de 2002, definindo-a o legislador por 
exclusão no artigo 982. Mais a frente, entre os artigos 997 e 1038, criou normas de 
regência desta espécie societária.114 
As sociedades empresárias também visam o lucro, mediante exercício de 
atividade mercantil115, e distinguem-se das sociedades simples porque têm por 
objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito ao registro previsto no 
art. 967 do Código Civil.116 
Coelho, numa linha semelhante, ensina que a diferenciação se encontra 
predominantemente no modo de explorar seu objeto. 
 
O objeto explorado sem empresarialidade (isto é, sem profissionalmente 
organizar os fatores de produção) confere à sociedade o caráter de simples, 
enquanto a exploração empresarial do objeto social caracterizará a 
sociedade como empresária.117 
 
Acerca do conceito de empresa, este estudo optará por uma visão trazida 
pelo direito do trabalho, utilizando-se subsidiariamente dos conceitos do direito 
empresarial, pois de acordo com os princípios protetivos deste ramo do direito, como 
se verá mais a frente. 
Considera-se empresário, nos termos do artigo 966 “quem exerce 
profissionalmente atividade econômica organizada para produção ou a circulação de 
bens ou de serviços.”118 
Trata-se, pois, daquela sociedade que tem por objeto “a exploração habitual 
de atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens e 
serviços, sempre com o escopo de lucro. Explora, pois, de forma profissional a 
empresa, resultado da ordenação do trabalho, capital, e porque não, da 
tecnologia”119120 
 
114 TOKARS, Fábio. Sociedades Limitadas. São Paulo: LTr, 2007. p.37- 38, destaca que existe uma 
cisão conceitual no código que criou dois significados para a sociedade simples. Segundo ele, “uma 
leitura atenta do art. 983, segundo a qual a sociedade que tenha por objeto atividade que não seja 
própria de empresários sujeito a registro (sociedade simples gênero) pode se estruturar nos termos 
dos artigos 997 e seguintes (sociedade simples espécie) ou n a forma de sociedade em nome 
coletivo, em comandita simples ou limitada”. 
115 DINIZ, 2004, p. 238. 
116 GONÇALVES, 2009, p. 206. 
117 COELHO, 2009, p. 111. 
118 Os conceitos de direito do trabalho serão tratados num tópico mais a frente. 
119 CAMPINHO, 2007, p. 38. 
120 “A pessoa jurídica de direito privado não-estatal, que explora empresarialmente seu objeto social 
ou a forma de sociedade por ações”. (COELHO, 2009, p. 111) 
 37 
Equipara-se também a sociedade que tenha por fim exercer atividade própria 
de empresário rural, que seja constituída de acordo com um dos tipos de sociedade 
empresária e que tenha requerido sua inscrição no Registro das Empresas de sua 
sede (Código Civil, arts. 968 e 984). 
Ao adquirir a condição de empresárias, estarão sujeitas a registro na Junta 
Comercial (artigo 982), submetem-se à falência, podem requerer recuperação 
judicial e negociar com credores plano de recuperação extrajudicial (art. 1º. Caput do 
artigo 48 e caput do artigo 161 da Lei no. 11.101/2005), bem como devem manter 
escrituração especial (artigos 1.179 e 1.180). Esses são os efeitos que se projetam 
sobre as sociedades empresárias consoante estabelece o Código Civil de 2.002 e a 
Lei no. 11.101/2005.121 
As sociedades empresárias podem assumir formas diferentes, quais sejam: 
sociedade em

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