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semântica e pragmática

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Língua Portuguesa VII: 
Semântica e Pragmática
Língua Portuguesa VII: 
Semântica e Pragmática
Organizado por Universidade Luterana do Brasil
Universidade Luterana do Brasil – ULBRA
Canoas, RS
2016
Daisy Batista Pail 
Dóris Cristina Gedrat
Jane Sirlei Kuck Konrad
Conselho Editorial EAD
Andréa de Azevedo Eick
Ângela da Rocha Rolla
Astomiro Romais
Claudiane Ramos Furtado
Dóris Gedrat
Honor de Almeida Neto
Maria Cleidia Klein Oliveira
Maria Lizete Schneider
Luiz Carlos Specht Filho
Vinicius Martins Flores
Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. 
Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores 
a emissão de conceitos.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida 
por qualquer meio ou forma sem prévia autorização da 
ULBRA.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei 
nº 9.610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal.
ISBN: 978-85-5639-118-6
Dados técnicos do livro
Diagramação: Marcelo Ferreira
Revisão: Marcela Machado
Apresentação
As autoras do livro de Língua Portuguesa VII: Gramática e Ensino convidam o leitor a adentrar no campo de estudo do significado lin-
guístico, alertando, no entanto, que, por ser uma temática polêmica e que 
apresenta muitos caminhos, houve a necessidade de fazer escolhas e de-
limitar os campos teóricos a serem abordados em cada um de seus capí-
tulos.
O primeiro capítulo, Estudo do significado linguístico, situa o tema 
dentro da ciência a que está vinculado, a linguística, para então diferenciar 
maneiras de abordá-lo: em relação ao mundo externo, em relação ao uso 
da língua e em relação à mente.
A temática do segundo capítulo, Hiponímia, hiperonímia, sinoní-
mia e antonímia, fornece uma proposta baseada na Semântica Lexical 
para explicar as relações de sentido entre as palavras. No terceiro capítulo, 
Acarretamento e pressuposição, focalizam-se duas relações de sentido 
existentes entre sentenças da língua, as quais, muitas vezes, tornam difícil a 
demarcação do campo de estudos da semântica e da pragmática.
O quarto capítulo, Ambiguidade e vagueza, trata de forma breve as 
relações de ambiguidade e vagueza, as quais só podem ser resolvidas com 
referência ao contexto.
O estudo contido no quinto capítulo, Significado, sentido e referên-
cia, aborda as relações de significação dentro da linguagem e as relações 
semânticas que se estabelecem entre a linguagem e o mundo.
O sexto capítulo, Semiótica, tenta resumir o estudo dos signos, área 
muito ampla que se ocupa não apenas dos signos linguísticos, como o faz 
a Linguística. A Semiótica constitui-se numa ciência geral do signo.
Apresentação v
O sétimo capítulo, Atos da fala, apresenta a Teoria dos Atos de Fala, 
oriunda da Filosofia da Linguagem, que trouxe à tona a concepção da lin-
guagem como uma forma de ação, chamando a atenção para que, mais 
do que usar a linguagem para se falar a respeito de realidades e de experi-
ências, age-se através de determinadas construções linguísticas, propondo 
que falar é igual a agir.
Implícitos: implicaturas conversacionais, oitavo capítulo, contempla 
um estudo sobre um tipo de significado implícito: as implicaturas conversa-
cionais. Parte da proposta original para, então, acrescentar uma alteração 
decisiva na ideia inicial, fazendo referência aos processos cognitivos que 
orientam a conversação e a maneira como se veiculam e se recebem os 
significados na comunicação verbal.
O penúltimo capítulo aborda a Teoria da Relevância, que, apesar de 
manter uma relação de origem com a teoria das implicaturas conversacio-
nais de Grice, sugere um tratamento cognitivo às implicaturas, subsumindo 
todas elas sob o rótulo de Relevância.
A proposta do último capítulo, Lógica e Cognição, objetiva desafiar o 
leitor a refletir a respeito das noções introdutórias sobre lógica e cognição, 
dada sua importância e relação para com os estudos linguísticos.
Como se pode constatar, os temas contidos neste livro revestem-se de 
uma fonte inesgotável de provocação motivacional para inúmeras leituras 
complementares, bem como de indicadores de muitos caminhos a serem 
pesquisados. Desejamos que o livro estimule seus leitores a enveredarem 
por esses caminhos.
 1 Estudo do Significado Linguístico ...........................................1
 2 Sinonímia, Antonímia, Hiponímia e Hiperonímia .................20
 3 Acarretamento e Pressuposição ...........................................38
 4 Ambiguidade e Vagueza .....................................................55
 5 Significado, Sentido e Referência ........................................71
 6 Semiótica ...........................................................................90
 7 Atos de Fala .....................................................................109
 8 Implícitos: Implicaturas Conversacionais ............................126
 9 Teoria da Relevância .........................................................149
 10 Lógica e Cognição ............................................................172
Sumário
Capítulo 1
Dóris Cristina Gedrat1
Estudo do Significado 
Linguístico
1 Graduada em Letras Português/Inglês, mestre e doutora em Linguística Aplica-
da pela PUC/RS. Atualmente é professora e coordenadora do curso de Letras da 
Universidade Luterana do Brasil, em Canoas, RS.
2 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
Introdução
Ao adentrarmos o campo do significado linguístico, precisa-
mos de muita coragem, pois ele apresenta muitos caminhos 
e é preciso fazer escolhas. Assim, neste capítulo, delimitamos 
que aspectos relacionados ao significado serão abordados. 
Primeiro, situaremos o tema dentro da ciência a que está vin-
culado, a linguística, para então diferenciarmos maneiras de 
abordá-lo: em relação ao mundo externo, em relação ao uso 
da língua e em relação à mente.
1.1 Situando o estudo do significado
O estudo do significado linguístico é objeto da área da ciência 
linguística chamada Semântica. Todos concordam, no entanto, 
que para se continuar a desenvolver este tema, os caminhos 
são muitos e controversos, a tal ponto que duas teorias podem 
dizer coisas completamente diferentes ao definirem o mesmo 
objeto: o significado. Ou a significação?
A significação é descrita como a relação entre as palavras 
e o que elas significam (LYONS, 1977, p. 84). E o que exata-
mente elas significam (coisas, pensamentos, conceitos, imagi-
nação) é chamado de seu significado. Desse modo, utilizare-
mos “significação” como sendo uma relação, sempre cientes 
de que não há forma definitiva nem garantida de se dizer quais 
são as duas partes desta relação, uma vez que o significa-
do, numa ponta, não é sempre o mesmo tipo de coisa. Ilari e 
Capítulo 1 Estudo do Significado Linguístico 3
Geraldi (2006, p. 5), ao introduzirem sua obra sobre semânti-
ca, apontam essa realidade:
Espera-se de um livro de iniciação sobre qualquer discipli-
na que comece por uma ou mais definições da disciplina 
em questão, que delimite claramente o conjunto de fatos 
a que a disciplina se aplica, e que enumere e ilustre seus 
conceitos centrais. Uma introdução à semântica constru-
ída segundo esse modelo começaria provavelmente por 
afirmações genéricas como “a semântica é a ciência que 
estuda a significação” e prosseguiria expondo um corpo 
de doutrina supostamente acabado.
Duvidamos que esse enfoque seria realmente esclarece-
dor para o leitor. As posições sobre o que é significação 
são inúmeras e extremamente matizadas e vão desde o 
realismo dos que acreditam que a língua se superpõe 
como uma nomenclatura a um mundo em que as coisas 
existem objetivamente, até formas de relativismo extre-
mado, segundo as quais é a estrutura da língua que de-
termina nossa capacidade de perceber o mundo; desde 
a crença de que a significação de uma expressão fica ca-
balmente caracterizada pela tradução em outra expres-
são, até a crença de que qualquer tradução é impossível 
e para compreender a significação de uma palavra ou 
frase se exige a participaçãodireta em atividades de um 
determinado tipo.
Adotando a mesma estratégia dos autores acima, tendo 
em vista a existência de orientações tão distintas e a disper-
são própria da semântica, aqui também não estudaremos as 
4 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
escolas e os conceitos teóricos, mas os problemas, ou fatos 
semânticos, os quais serão identificados pelo estudante no uso 
corriqueiro de sua língua e nos textos de diversos tipos com os 
quais terá contato.
Os problemas aqui abordados serão aqueles que tiveram 
lugar central nas reflexões sobre semântica desde o final do 
século XIX, e que servirão de base para o estudante analisar 
outros problemas semânticos com os quais poderá se depa-
rar. Assim, estudaremos fatos da língua, utilizando-a, portanto, 
para falar dela própria e, embora não nos detenhamos nas 
escolas e desenvolvimentos teóricos, cada fato sempre será 
estudado segundo a perspectiva teórica que o apontou.
1.1.1 Semântica e Pragmática
A Semântica não é a única área da linguística que estuda o 
significado, ela está extremamente entrelaçada com a Pragmá-
tica, por vezes não podendo se desvincular desta na análise 
do significado de expressões e enunciados. Como exemplo, o 
enunciado (1), dito por João:
(1) João: Eu prometo não mentir mais.
Se considerarmos o significado da sentença proferida por 
João como sendo as condições que devem existir para que a 
sentença seja verdadeira, diremos que João mentia e promete 
que não mentirá mais. Isso poderia ser a semântica da oração, 
pois “Eu” se refere ao falante, e o falante é João, “não mentir 
mais” implica que anteriormente ele mentia e o significado de 
Capítulo 1 Estudo do Significado Linguístico 5
“prometo” é algo como assegurar de antemão alguma coisa, 
neste caso, “não mentir mais”.
Por outro lado, vê-se que isso não é tudo o que o enun-
ciado de João veicula em termos de informação comunicada, 
porque no significado do verbo “prometer” existe um aspecto 
que invoca as intenções do falante. Não temos como garantir 
que João realmente tem a intenção de não mentir mais, ele 
pode estar nos enganando ao dizer que promete não mentir 
mais.
Portanto, não temos como afirmar que a sentença é ver-
dadeira ou falsa, sob este ponto de vista, o ponto de vista 
pragmático, que vai além da semântica, além do significado 
verdadeiro das palavras e da sentença como um todo, des-
considerando o ato de fala e as condições necessárias para 
que ele seja produzido de maneira satisfatória.2 Para que este 
enunciado seja produzido de maneira satisfatória, João deve 
estar realmente comprometido a parar de mentir, e isso já não 
é uma questão semântica, pois foge ao tratamento da língua, 
diz respeito às atitudes e intenções do falante.
Para melhor compreensão da diferença entre essas duas 
ciências, analisemos o exemplo de Fiorin (2003, p. 161):
2 De maneira “feliz”, conforme a Teoria dos Atos de Fala, de Austin, que será 
apresentada no capítulo 7. 
6 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
Fonte: (CARROLL, Lewis. As aventuras de Alice. 3 ed. São Paulo: Summus, p. 182)
Conforme o autor, quanto ao significado do termo “hoje”, 
para a Rainha, ele é fixo, bem como “ontem” e “amanhã”. 
Então, sendo a regra doce amanhã e doce ontem, Alice nunca 
poderá ter os doces, pois o significado fixo, isento de contexto 
de comunicação, é sempre igual e não considera a situação. 
Por outro lado, Alice defende que o sentido das palavras está 
relacionado ao ato de produzir um enunciado, consequente-
Capítulo 1 Estudo do Significado Linguístico 7
mente, às vezes “tem de ser doce hoje”, porque “hoje” é o dia 
em que um ato de fala é produzido. Ela mostra que o signifi-
cado da palavra “hoje” é compreendido quando se estabelece 
uma relação com a situação de comunicação.
O que Alice está destacando é o significado pragmático 
das palavras e orações da língua, as condições que governam 
a utilização da linguagem, a prática do uso da língua. A utili-
zação de “hoje” num contexto de comunicação faz referência 
apenas ao dia em que o ato de fala se realiza, então, a regra 
“doce amanhã e doce ontem” elimina doce no dia em que se 
fala, mas inclui doce no dia seguinte. Caso se diga a mesma 
coisa no dia seguinte, já não se está mais observando a regra, 
pois, pragmaticamente, “hoje” é só o dia em que se produziu 
o enunciado.
Neste e nos próximos capítulos, estudaremos tanto o signi-
ficado dito “literal” quanto o significado dependente da inter-
pretação do falante/ouvinte.
1.2 Tipos de significado
Como vimos acima, a tentativa de definir a área de estudos da 
Semântica nos leva a um problema que é o de dizer o que é o 
significado. Segundo Neto (2003, p. 9):
Infelizmente, os significados não são objetos que possa-
mos ver, cheirar, apalpar; os significados não estão no 
contínuo espaço-temporal, de forma a podermos obser-
8 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
vá-los, medi-los, como fazemos com os objetos, diga-
mos, “físicos”.
Essa natureza “não física” dos significados coloca pro-
blemas tremendos para todas as abordagens teóricas 
que pretendem considerá-los uma espécie de entidade. 
Tanto teorias que tomam o significado como o objeto 
que a expressão linguística refere [...], quanto teorias que 
assumem que o significado é um conceito, ou uma ideia, 
que reside na mente das pessoas [...] vão ter problemas 
sérios ao tentar dar conta de preposições, conjunções, 
artigos etc., que certamente são expressões com signi-
ficado mas que não apresentam referente claro, nem se 
associam claramente a conceitos.
Pelas palavras de Neto, percebemos que os significados 
se manifestam em diversos tipos, como as preposições, por 
exemplo, que não significam da mesma maneira que os subs-
tantivos. Uma preposição estabelece uma relação entre duas 
palavras, ao passo que um substantivo tem um conteúdo sig-
nificativo por si, podendo variar dentro de contextos diferentes, 
mas a preposição não tem esse tipo de significado. O autor 
continua:
Dizer que o significado de uma expressão é a “coisa” 
que a expressão refere só é razoável quando tratarmos 
de expressões que designam objetos [...]. Se tratamos 
de nomes próprios (Pedro, Curitiba etc.), de nomes co-
muns concretos (mesa, pedra, livro etc.) e de adjetivos 
qualificativos que designam atributos físicos de objetos 
(vermelho, alto, gordo etc.), temos a impressão de que a 
Capítulo 1 Estudo do Significado Linguístico 9
abordagem referencial se sustenta; por outro lado, dian-
te de nomes abstratos, como “liberdade” ou “amor”, por 
exemplo, assumirmos que o significado é o objeto referi-
do já não parece ser mais tão razoável.
Considerar, alternativamente, que os significados são 
entidades mentais não melhora em nada a situação da 
teoria semântica. Em primeiro lugar, porque conhecemos 
muito pouco sobre o funcionamento das mentes, e é 
pura especulação dizer que lá existem coisas que podem 
ser chamadas de “significados” [...]. Em segundo lugar, 
e principalmente, porque não temos acesso ao conteúdo 
da mente, o que impede qualquer abordagem minima-
mente objetiva do significado.
Assim, varia a maneira como as palavras e sentenças da 
língua significam, isto é, a significação se dá de diferentes 
formas, ou ainda, o significado pode ser de diferentes tipos. 
Vemos também que qualquer abordagem do significado não 
consegue captar todos os casos, justamente pelo fato de haver 
diferentes tipos de significado. Por outro lado, as teorias exis-
tentes são sérias e dão conta dos fatos semânticos dos quais 
se comprometem a tratar, por isso, como já foi referido acima, 
estudaremos fatos e não teorias, e cada fato dentro da teoria 
que o tratou.
Nós nos limitaremos, a seguir, a explicar e ilustrar três ti-
pos de significado: o significado dependente das condições de 
verdade no mundo (relação entre expressões linguísticas e o 
mundo externo), o significado apreendido através dos elemen-
tos do contexto da comunicação (relação entre as expressõeslinguísticas e o uso que os falantes fazem delas) e o significado 
10 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
cognitivo, que emerge das estruturas semânticas que já temos 
instaladas em nossa mente (relação entre as expressões e algo 
equivalente aos conceitos mentais).
1.2.1 Significado e mundo externo
O significado tomado como a relação entre a expressão lin-
guística e o mundo externo faz uso direto na noção aristotélica 
de verdade, segundo a qual uma sentença consiste em seu 
acordo (ou correspondência) com a realidade.
Tarski (1972) formulou a seguinte convenção para estabe-
lecer a correspondência entre a linguagem e o mundo: consi-
deremos a sentença “A neve é branca”, ela será verdadeira se 
a neve é branca e será falsa se a neve não é branca. Em outras 
palavras, se eu afirmo que a neve é branca e ela é, de fato, 
branca, a afirmação é verdadeira; se eu afirmo que a neve 
não é branca, mas a neve é branca, a afirmação será falsa. A 
equivalência é descrita em (2):
(2) A sentença “A neve é branca” é verdadeira se, e apenas 
se, a neve é branca.
Para se mostrar o que a definição de verdade acima deter-
mina para as línguas naturais, chamamos a sentença “A neve 
é branca” de X e damos o nome de p às condições necessárias 
e suficientes para a determinação da verdade de X, ou seja, a 
brancura da neve. Vejamos a representação em (3):
(3) X é verdadeira se, e apenas se, p.
Capítulo 1 Estudo do Significado Linguístico 11
Assim, para que a sentença “A neve é branca” seja verda-
deira, é preciso que a neve seja branca e basta que a neve 
seja branca.
Deve ficar bem claro que o significado da sentença está 
sendo igualado às condições de verdade da sentença e não 
à sua verdade ou falsidade. Com relação ao exemplo acima, 
é fácil sabermos que ela é verdadeira, além de estabelecermos 
suas condições de verdade (a brancura da neve), pois, quem 
já viu neve, sabe que ela é branca e não tem dúvidas.
No entanto, consideremos uma sentença como:
(4) O número de computadores neste estado é um milhão.
As condições de verdade para (4) são expressas facilmen-
te: a sentença será verdadeira se, e apenas se, o número de 
computadores no estado for um milhão. Contudo, para saber-
mos se a sentença é verdadeira ou falsa, para conhecermos 
a verdade ou falsidade dessa sentença, é necessário contar o 
número de computadores no estado, o que não é fácil fazer 
e pode inclusive ser impossível. Mesmo assim, sabemos dizer 
quais são as condições de verdade da sentença e é com elas 
que o significado dessa sentença é identificado.
1.2.2 Significado e uso (pragmática)
Ao se estudar o significado no uso linguístico, está-se, como 
diz Pinto (2000, p. 48), apostando “nos estudos da linguagem, 
levando em conta também a fala, e nunca nos estudos da lín-
gua isolada de sua produção social”.
12 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
A conversação é o lugar por excelência de onde saem os 
exemplos de significações dependentes do contexto e das con-
dições de uso da língua. Além dos exemplos dados acima, 
quando diferenciamos a semântica da pragmática, vejamos 
o exemplo em (5), tratado primeiramente por Grice (1989) 
como uma implicatura conversacional, tema do capítulo 8:
(5) Enunciado – João: “Bateram no meu carro.”
Implicatura: o carro de João não foi totalmente destruído.
A partir do enunciado de João, pelo conhecimento que te-
mos quanto à maneira como os participantes de uma conver-
sação se comportam, podemos inferir não apenas o que ele 
diz – que alguém bateu em seu carro -, mas também que o 
carro não foi completamente destruído, pois, caso tivesse sido, 
João teria dito. Assim, o significado compreendido a partir da 
sentença que João enuncia é muito mais amplo do que apenas 
o significado dependente das condições de verdade dessa sen-
tença, é um significado retirado do contexto da conversação, 
que inclui o conhecimento partilhado entre falante e ouvinte.
Outro exemplo de significado retirado de características da 
situação de fala é o significado de palavras que fazem refe-
rência explícita ao aqui e agora da conversação. Por exemplo, 
suponhamos uma situação em que Maria está numa loja esco-
lhendo um vestido e, apontando para um azul que ela acabou 
de experimentar, diz:
(6) Fico com este.
A falante está se baseando em algumas características ób-
vias da situação:
Capítulo 1 Estudo do Significado Linguístico 13
 Â o momento presente leva ao uso do verbo no presen-
te do indicativo, que expressa a ação transcorrida num 
momento simultâneo ao momento da fala;
 Â a pessoa que fala é a própria Maria, por isso o uso do 
verbo na primeira pessoa do singular, que serve para 
fazer referência ao indivíduo que, na situação de fala, 
assume o papel de locutor;
 Â o objeto presente do qual se fala, o vestido, leva ao uso 
do demonstrativo “este”, com papel de identificar algum 
objeto presente na situação de fala, como um dos as-
suntos a que a interação verbal diz respeito.
Em outras palavras, somente em relação ao contexto ime-
diato da situação de fala é que podemos compreender o signi-
ficado do enunciado em (6), pois, sem ele, não teríamos como 
saber quem fica com o quê. Mais um caso de significado ba-
seado no uso linguístico, em que se vai muito além do signifi-
cado dependente das condições de verdade da sentença.
1.2.3 Significado e mente
É possível dizer, neste ponto, que “entender o significado de 
uma expressão é estabelecer uma conexão entre a expressão 
e as entidades não linguísticas a que a expressão se aplica” 
(NETO, 2003, p. 10). Ver o significado como algo na mente é 
tomar as entidades não linguísticas na conexão acima como 
sendo entidades mentais, que, conforme Jackendoff (1985), 
são os conceitos que armazenamos mentalmente.
14 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
Observando as criancinhas, vemos que elas, desde que 
começam a falar, já utilizam os termos com referência às cate-
gorias conceituais nas quais se encaixam. Em outras palavras, 
não vemos as crianças falarem de coisas colocando-as no lu-
gar de verbos nas frases, mas sim de substantivos. Os subs-
tantivos expressam o conceito de coisas e está armazenado 
mentalmente. No exemplo (7a), a seguir, temos um enunciado 
em que a criança expressa o conceito como ele é, e, em (7b), 
como seria se estivesse sendo utilizado na categoria conceitual 
errada, o que não ocorre (por isso o * antes do enunciado):
(7) a. Vi a corrida de carros com o papai.
* b. Vi a corre de carros com o papai.
Em (7a), “corrida” é um substantivo e representa uma coi-
sa, embora abstrata, por isso também vem antecedido de ar-
tigo. Já em (7b), “corre” é uma forma verbal, por isso não 
pode estar no lugar em que está, nem vir antecedido de arti-
go, expressando uma ação com movimento. Como prova de 
que temos esses conceitos armazenados e que eles é que nos 
fornecem o significado dos termos e das frases da língua, utili-
zamos esse tipo de exemplo, em que o conceito vem expresso 
na linguagem numa palavra da categoria que o conceito real-
mente representa.
Vemos que, na abordagem cognitiva, o significado não vem 
da relação com o mundo, mas emerge de dentro para fora, 
dos nossos corpos em interação com o meio que nos circunda. 
No caso do exemplo acima, a criança sabe colocar os termos 
nas categorias de conceitos que eles representam porque assi-
Capítulo 1 Estudo do Significado Linguístico 15
milou essas categorias em sua relação com o meio, que inclui 
os falantes ao seu redor e tudo a respeito do que se fala.
A partir desse mundo experienciado, forma-se a memória 
que ampara o falar e o pensar, por isso o significado é uma 
questão da cognição em geral e não um fenômeno pura ou 
prioritariamente linguístico.
Dica de Leitura
- ILARI, Rodolfo; GERALDI, João W. Semântica. 11. ed. São 
Paulo: Ática, 2006.
Um texto simples e direto, adequado a estudantes de gra-
duação que estão iniciando seus estudos em Semântica.
Recapitulando
Neste capítulo, iniciamos o estudo do significadoem lingua-
gem natural. Destacamos a diferença entre semântica e prag-
mática e situamos as principais abordagens sobre o significado 
da língua: com relação ao mundo real, com relação ao uso da 
língua em situações de comunicação e com relação à mente.
Referências
FIORIN, José L. (org.) Introdução à Linguística. II Princípios 
de análise. São Paulo: Contexto, 2003.
16 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
FREGE, Gottlob. Lógica e filosofia da linguagem. São Paulo: 
Cultrix, 1978.
GEDRAT, Dóris C. A relevância da relevância na inferência 
não trivial e na significação implícita. Dissertação de 
mestrado, PUC/RS, 1993.
GEDRAT, Dóris C. Relevância da composição semântica 
das estruturas conceituais lexicais. Tese de doutorado, 
PUC/RS, 1999.
GRICE, Paul. Logic and conversation. In: GRICE, P. (ed) Studies 
in the way of words. Cambridge, Mass.: Harvard Univer-
sity Press, 1989. pp. 22-40.
HURFORD, James R.; HEASLEY, Brendan. Curso de semânti-
ca. Traduzido por Delzimar da Costa Lima e Dóris Cristina 
Gedrat. Canoas: Ulbra, 2004.
ILARI, Rodolfo; GERALDI, João W. Semântica. 11. ed. São 
Paulo: Ática, 2006.
JACKENDOFF, Ray. Semantics and cognition. Cambridge, 
Mass.: The MIT Press, 1985.
LEVINSON, Stephen C. Pragmatics. Cambridge: Cambridge 
University Press, 1983.
LYONS, John. Semântica, v.1, Lisboa: Presença, 1977.
NETO, José B. Semântica de modelos. In: MÚLLER, A. L; 
NEGRÃO, E. V.; FOLTRAN, M.J. (orgs.) Semântica Formal. 
São Paulo: Contexto, 2003.
Capítulo 1 Estudo do Significado Linguístico 17
OLIVEIRA, Roberta Pires de. Semântica. In: MUSSALIM, F; 
BENTES, A. C. Introdução à linguística – 2. Domínios e 
fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001.
PINTO, Joana P. Pragmática. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. 
(orgs.) Introdução à linguística 2: domínio e fronteiras. 
São Paulo: Cortez, 2000.
SPERBER, Dan; WILSON, Deirdre. Relevance: communication 
and cognition. Cambridge: Harvard University Press, 1995.
TARSKI, A. La concepción semántica de la verdade y los 
fundamentos de la semántica. Buenos Aires: Nueva 
Visión, 1972.
Atividades
 1) Diga de que maneira explicamos o significado da sentença 
em (1) nos remetendo ao mundo externo:
(1) A estrela da manhã é a estrela da tarde.
 2) Podemos falar sobre dois tipos de significado em relação 
ao advérbio “hoje”, aquele que ignora o contexto de uso 
e o que depende deste contexto. Quais seriam as duas 
análises?
 3) Como se explica que a cognição humana não permite que 
um falante racional produza um enunciado do tipo que 
está em negrito no diálogo a seguir?
"Hoje" como termo de significado fixo, como ontem e amanhã; e "hoje" considerando o contexto de comunicação, no qual o ato de fala é produzido.
Vênus
18 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
 A: Tiago acabou de chegar de viagem. Você sabe de onde 
ele veio?
B: Ele veio para Santa Catarina.
 4) Vimos que, para a semântica das condições de verdade 
(ou semântica formal), o significado de uma sentença é 
dado em função da satisfação das condições necessárias 
no mundo para que a sentença seja verdadeira. Assim, 
conhecer o significado de uma sentença é saber em que 
circunstâncias, no mundo, tal sentença pode ser conside-
rada verdadeira ou falsa. Quando ouvimos o enunciado 
da sentença “Tem uma mosca na salada”, podemos não 
saber se ela é verdadeira ou falsa, mas sabemos em que 
situações ela seria verdadeira. Esse conhecimento é se-
mântico, faz parte do nosso conhecimento do significado 
da sentença “Tem uma mosca na salada”.
 Cada parte do significado de uma sentença contribui para 
o significado da sentença toda, e se entre palavras há re-
lações semânticas, entre sentenças também há, e as pa-
lavras dentro de sentenças influenciam nas relações entre 
as sentenças que as contêm. Por exemplo, “mosca” é hi-
pônimo de “inseto”, pois seu significado está incluído no 
de inseto, então, se existir alguma mosca, necessariamente 
existe um inseto. Paralelamente, as sentenças “Tem uma 
mosca na salada” e “Tem um inseto na salada” também 
mantêm uma relação que, neste caso, é o de acarreta-
mento, ou seja, se a primeira é verdadeira, a segunda ne-
cessariamente o é também.
porque temos relações estabelecidas como vem de e vai para.
Capítulo 1 Estudo do Significado Linguístico 19
 Diga se os pares de sentenças abaixo mantêm uma rela-
ção de acarretamento entre si, ou não3:
a) Uma menina passou correndo por aqui.
 Uma pessoa passou correndo por aqui.
b) Ouvia-se uma pessoa cantando.
Ouvia-se um homem cantando.
 5) Faça a mesma análise da questão 4 nos seguintes pares:
a) Hoje teve sol.
 Hoje fez calor.
b) João tirou nota 10.
 Alguém tirou nota 10.
3 Os exemplos são adaptados de Fiorin (2003, p. 253-254).
Jane Sirlei Kuck Konrad1
Capítulo 2
Sinonímia, Antonímia, 
Hiponímia e 
Hiperonímia
1 Especialista em Administração e Planejamento para Docentes.
Capítulo 2 Sinonímia, Antonímia, Hiponímia e Hiperonímia 21
Introdução
Como você já leu anteriormente, este livro fala sobre Semânti-
ca, que é uma área da Linguística que estuda o significado de 
palavras, frases, expressões, bem como suas interpretações.
Veja estes exemplos:
 1) A mãe se dirige ao seu filho:
 “-João, feche a porta dos fundos, está entrando um vento 
frio.”
 2) O papa fala num concílio:
 “- Amados, fechem a porta dos fundos das igrejas, esta-
mos perdendo muitos fiéis.”
No primeiro exemplo, o sentido de “fechar a porta” é li-
teral, físico, pois há vento frio entrando pela porta. Já no se-
gundo exemplo, o papa se refere à saída de fiéis da igreja, 
por diversos motivos, e é preciso encontrar alternativas para 
estancar essa saída.
Dentro da Semântica há uma área chamada Semântica 
Lexical. Semântica Lexical, como o termo sugere, se origina 
das palavras léxico e semântica. Léxico nada mais é do é o 
conjunto de palavras usadas em uma língua ou em um texto. E 
semântica estuda o significado de palavras, frases, expressões, 
bem como suas interpretações.
A Semântica Lexical é, na verdade, uma das teorias, dentre 
as muitas, que se dedicam aos estudos semânticos. É uma te-
oria que faz parte da semântica estruturalista. A preocupação 
22 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
principal está na linguagem. Lembra dos estudos de Saussure, 
conhecido como o pai da Linguística? Ele defendia exatamente 
essa ideia, ênfase na linguagem, não nas coisas. Na semânti-
ca lexical as palavras sempre serão definidas ou interpretadas 
em relação a outras, pois elas se encontram dentro de um 
sistema lexical.
No que diz respeito às relações de significados que há en-
tre palavras, quando se fala de Semântica Lexical existem dois 
termos importantes: campo lexical e campo semântico.
Campo lexical – Cada língua, no seu léxico, conjunto de 
palavras, apresenta uma variedade de campos lexicais, que 
podem ser definidos como subconjuntos de palavras da mesma 
área de conhecimento. Também podem ser palavras cognatas, 
ou seja, palavras formadas por composição e derivação, a 
partir de um mesmo radical. Como a língua é um instrumento 
vivo, dinâmico, esses campos podem ser modificados, por isso 
a relação entre eles também pode mudar.
Peguemos como exemplo o campo lexical alimentação, 
para construir todo campo lexical podemos usar palavras 
como, feijão, arroz, leite, pão, café, carne, legumes etc.
Outros exemplos:
Campo lexical de praia: areia, água, calor, diversão, cer-
veja etc.
Campo lexical de viagem: descanso, trabalho, passeio, 
lazer etc.
Capítulo 2 Sinonímia, Antonímia, Hiponímia e Hiperonímia 23
Campo lexical de casa: família, lar, aconchego, amigos 
etc.
Campo lexical de empresa: trabalho, realização, constru-
ção etc.
Campo lexical de pedra: pedregulho, pedreira, pedreiro 
etc.
Campo semântico: – O campo semântico de uma de-
terminada palavra é o conjunto de todos os significados e 
possibilidades que ela pode ter. O conjunto de palavras uni-
das pelo sentido, dependendo do contexto, portanto, é mais 
abrangente.
Por exemplo, apalavra “az”, pode se referir a uma carta 
de baralho ou a alguém muito bom em alguma coisa.
Outros exemplos:
 Â Campo semântico de partir: ir embora, zarpar, fugir, 
sair, morrer, quebrar, espatifar, fraturar, angustiar, in-
quietar, …
 Â Campo semântico de nota: dinheiro, grana, conta, 
talão, anotação, bilhete, comentário, aviso, explicação, 
som, tom, …
 Â Campo semântico de conta: cálculo, contagem, con-
sideração, apreço, estima, responsabilidade, nota, fatu-
ra, miçanga, vidrilho, …
24 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
 Â Campo semântico de cabeça: crânio, coco, inteli-
gência, juízo, memória, imaginação, líder, comandante, 
topo, …
 Â Campo semântico de guarda: vigilante, sentinela, vi-
gilância, tutela, custódia, proteção, preservação, salva-
guarda, …
 Â Campo semântico de natureza: meio ambiente, seres 
vivos, modo de ser, essência, temperamento, qualidade, 
tipo, …
Neste capítulo abordaremos algumas das relações semân-
ticas, a saber: sinonímia, antonímia, hiperonímia e hiponímia.
2.1 Sinonímia e Antonímia
2.1.1 Sinonímia
Sinonímia é a parte da Semântica que estuda os sinônimos, 
palavras que apresentam a possibilidade de serem substituídas 
por outras em determinado contexto, apresentando significado 
semelhante.
Veja os exemplos:
 1) João foi buscar o cachorro no pet shop.
João foi buscar o cão no pet shop.
 2) Depois de uma discussão, Joana saiu chorando da casa 
da sua mãe.
Capítulo 2 Sinonímia, Antonímia, Hiponímia e Hiperonímia 25
 Depois de uma discussão, Joana saiu aos prantos da 
casa da sua progenitora.
 3) O juiz inquiriu a testemunha apenas duas vezes, para ele 
a culpa do réu estava clara.
O juiz fez perguntas à testemunha apenas duas vezes, 
para a ele o delito do réu estava nítido.
Em todos os casos observados acima, acontece uma troca 
de palavras ou expressões por outra semelhante. Mas o senti-
do não muda.
Agora veja este exemplo:
 4) Estava com pressa, comi um cachorro-quente.
Estava com pressa, comi um cão-quente.
Então vejam que depende da construção da frase ou ex-
pressão. Por isso não posso trocar a palavra cachorro-quente 
por cão-quente. Não faz nenhum sentido. Principalmente por 
se tratarem de palavras compostas.
Portanto, nos exemplos 1 a 3 temos situações de sinonímia, 
pois há a substituição de palavras ou expressões por outras 
idênticas ou aproximadas, sem mudança substancial do sig-
nificado, em diferentes contextos. Quando a sinonímia não é 
de palavras somente, mas de conteúdo, chama-se sinonímia 
de conteúdo. Aqui nem sempre falamos em sinonímia perfeita, 
mas de sinonímia relativa. Segundo Cançado (2005, p. 44), 
“...não é possível pensar em sinonímia de palavras fora do 
contexto em que são empregadas.” Ainda, segundo Cançado 
(2005, p. 46):
26 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
...mesmo entre sentenças a sinonímia perfeita não existe. Isso 
se procurarmos duas sentenças idênticas em termos de 
estrutura sintática, de entonação, de sugestões, de possi-
bilidades metafóricas e até mesmo de estruturas fonéticas 
e fonológicas. Se esperarmos encontrar sinonímia nessas 
circunstâncias, então não é com surpresa que poderemos 
afirmar que esta não existe.
A sinonímia é muito importante quando pensamos em re-
latos que uma pessoa faz de algo que ouviu, por exemplo. 
Ela não fará um relato literal do que ouviu, mas usará termos 
ou expressões aproximadas. Você certamente já recontou as 
histórias ou conto de fadas que ouviu na infância. Nunca as 
contou usando sempre as mesmas palavras, a menos que seja 
um texto decorado. Também em traduções a sinonímia é mui-
to importante, pois o tradutor irá se deparar com expressões 
que não poderão ser traduzidas literalmente, pois poderiam 
ficar com o sentido distorcido, nestes casos usam-se termos ou 
expressões aproximadas. Igualmente em redações, obras lite-
rárias, textos técnicos, relatórios etc., é comum usar o recurso 
da sinonímia para evitar repetição de termos ou expressões.
2.1.2 Antonímia
A antonímia, por sua vez, carrega o sentido de contrariedade, 
são significados contrários, oposição de sentidos entre as pa-
lavras.
Veja os exemplos a seguir:
 1) Morto/vivo
Capítulo 2 Sinonímia, Antonímia, Hiponímia e Hiperonímia 27
 2) Bom/mau
 3) Cedo/tarde
 4) Alto/baixo
 5) Gordo/magro
 6) Comprou/vendeu
Assim como falamos anteriormente que a sinonímia é rela-
tiva, não perfeita, o mesmo se aplica à antonímia. Nem sem-
pre encontramos um antônimo perfeito. Por isso costuma se 
falar em graus de antonímia.
Voltando aos nossos exemplos acima:
No exemplo 1: morto/vivo e no exemplo 6: comprou/
vendeu, temos antônimos mais perfeitos do que nos outros 
exemplos, pois um excluem o outro.
Vejamos o exemplo 2: bom/mau. Um exemplo mau de 
uma pessoa, em tese, se oporia a um exemplo bom. Mas se 
eu disser que pessoa x deu exemplo menos mau que pessoa y, 
pode equivaler a dizer que pessoa x é melhor. O mesmo pode-
-se aplicar aos outros exemplos, os pares: cedo/tarde; alto/
baixo; gordo/magro. Em qualquer um desses pares, sempre 
que se fizer uma comparação há a questão subjetiva, pois de-
penderá com quem vai se fazer a comparação. Posso dizer 
que uma pessoa é alta ou baixa, dependendo com quem está 
sendo comparada.
28 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
2.1.2.1 Classificação de antonímias
Antônimos binários ou complementares: quando uma é 
aplicada a outra não poderá ser aplicada ou quando a afir-
mação de um supõe a negação do outro.
a) Morto/vivo:
b) Esquerdo/direito:
c) Par/ímpar:
d) Verdadeiro/falso:
e) Mesmo/diferentes:
Nos exemplos acima listados facilmente se percebe que 
quando se aplica um predicado o outro não pode ser apli-
cado. Por exemplo, se um sujeito está vivo, exclui a possibi-
Capítulo 2 Sinonímia, Antonímia, Hiponímia e Hiperonímia 29
lidade de estar morto. O braço esquerdo necessariamente é 
o esquerdo, jamais será o braço direito, e vice-versa. Se um 
número é par, exclui-se a possibilidade de ser ímpar. Se uma 
questão é verdadeira não pode ser falsa.
Antônimos de conversão: Pode ser definido como uma 
relação de sentidos entre predicados.
Se um predicado descreve um relacionamento entre duas 
coisas (ou pessoas) e outro predicado descreve a mesma re-
lação quando as duas coisas (ou pessoas) são mencionadas 
em ordem oposta, então esses dois predicados são conversos. 
(JAMES R. HURFORD, B. HEASLEY, 2004, p. 159)
Veja os exemplos:
 Pedro é filho de Antônio.
 Antônio é pai de Pedro.
 Luís pagou 10 reais ao pedreiro.
 O pedreiro recebeu 10 reais de Luís.
 Suzana comprou um perfume de Sílvia.
 Sílvia vendeu um perfume à Suzana.
Em todos estes exemplos citados, quando se diz a mesma 
coisa em relação inversa os predicados são conversos. Tam-
bém são conhecidos como antônimos recíprocos, pois as duas 
palavras supõem-se mutuamente.
Você poderá fazer este exercício com outros pares de antô-
nimos, por exemplo: abaixo/acima; avô/neto; tomar empres-
tado/emprestar.
30 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
Antônimos Graduais: São chamados de predicados gra-
duais ou antônimos graduais, quando entre as duas palavras 
existem outras de grau intermediário ou se estão em lados 
opostos numa escala de valores.
Um exemplo clássico são os antônimos quente/frio.
Pensando nestes dois predicados opostos, percebemos que 
pode haver outros intermediários, como morno, temperado. 
Assim como a definição de frio ou quente pode ser subjetivo. 
Na região Norte um dia frio é diferente de um dia frio na re-
gião Sul. Da mesma forma uma caldeira quente é diferente de 
um forno ou dia quente.
Alguns outros exemplos que se enquadram como antônimos 
graduais: grande/pequeno; inteligente/estúpido; amor/ódio.
Para verificar se as palavras podem ser classificadas em 
graus de antonímia pode-se tentar combiná-las com expres-
sões: meio/um pouco/muito/demais/como, quão.
Nos exemplos citados acima podemos ter situações inter-
mediárias: grande/médio/pequeno; inteligente/sábio/estúpi-
do;amor/ser indiferente/ódio. Além disso, poderíamos usar, 
por exemplo: muito grande, muito inteligente, inteligente de-
mais etc.
2.3 Hiponímia/hiperonímia
O prefixo hipo exprime a ideia de inferioridade, escassez, di-
minuição, de baixo. Provém do grego, hupo. O prefixo hiper, 
Capítulo 2 Sinonímia, Antonímia, Hiponímia e Hiperonímia 31
por sua vez, exprime ideia de posição superior, excesso, aci-
ma. Provém do grego, hupér.
Do ponto de vista da semântica, hipônimos e hiperônimos 
são palavras que pertencem a um mesmo campo semântico, 
tem familiaridade entre si. Como as palavras sugerem, as pa-
lavras hipônimas pertencem a um grupo mais restrito, especí-
fico. Estão num mesmo nível. As palavras hiperônimas perten-
cem a um grupo mais abrangente, de sentido mais genérico.
Observe os exemplos a seguir:
32 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
As palavras da primeira coluna são os hipônimos. Estão 
num mesmo nível, pertencem a uma mesma classe, no exem-
plo, classificadas como árvore, animal, mineral etc. Na se-
gunda coluna estão os hiperônimos, que são mais genéricos, 
mais abrangentes, que representam um grupo, uma classe. 
Obviamente poderíamos ter muito mais hipônimos relaciona-
dos ao hiperônimo árvore, por exemplo, assim como nos ou-
tros exemplos.
Também há palavras que são hipônimas e que numa outra 
relação de hierarquia podem se transformar em hiperônimas.
Veja alguns exemplos:
Pintado
Tambaqui Peixe
Lambari
Pastor alemão
Labrador Cachorro
Vira-lata
Vermelha
Malagueta Pimenta
Calabresa
Mouse
Teclado Computador
Gabinete
Capítulo 2 Sinonímia, Antonímia, Hiponímia e Hiperonímia 33
Destrinçando o exemplo que vimos acima:
O labrador pertence à classe cachorro, cachorro pertence 
à classe animal.
Labrador – cachorro – animal
A malagueta pertence à classe das pimentas, que por sua 
vez pertence à classe das especiarias.
Malagueta – pimenta – especiarias
Portanto, o item mais específico contém todas as outras 
propriedades da cadeia (hipônimo). O item que está contido 
nos outros itens, mas não contém nenhuma das outras pro-
priedades da cadeia é o termo geral (hiperônimo). Sempre o 
hipônimo contém seu hiperônimo, mas o hiperônimo não con-
tém seu hipônimo. Exemplo: toda laranjeira é uma árvore, mas 
nem toda árvore é uma laranjeira; toda bota é um calçado, 
mas nem todo calçado é uma bota; todo lambari é peixe, mas 
nem peixe é lambari.
Recapitulando
Neste capítulo vimos quatro diferentes fenômenos estudados 
pela semântica: sinonímia, antonímia, hiponímia e hiperoní-
mia.
Aprendemos que não existem sinônimos e antônimos per-
feitos e que as palavras hipônimas pertencem a um grupo mais 
34 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
restrito, específico, enquanto que as palavras hiperônimas per-
tencem a um grupo mais abrangente, genérico.
Referências
CANÇADO, Marcia. Manual de semântica – noções básicas 
e exercícios. UFMG, 2005.
HURFORD, James R.; HEASLEY, Brendan. Curso de semânti-
ca. Traduzido por Delzimar da Costa Lima e Dóris Cristina 
Gedrat. Canoas: Ulbra, 2004.
ILARI, Rodolfo. Introdução à semântica. Brincando com a 
gramática. São Paulo: Contexto, 2006.
ILARI, Rodolfo. Semântica. São Paulo: Ática, 2005.
MARQUES, Maria Helena Duarte Marques. Iniciação à se-
mântica. Jorge Zahar, 1996.
Atividades
 1) Sobre sinonímia é correto afirmar:
I) Os sinônimos nem sempre são perfeitos;
II) Dependendo do caso, os sinônimos podem ser relati-
vos;
Capítulo 2 Sinonímia, Antonímia, Hiponímia e Hiperonímia 35
III) Se substituirmos a palavra diferente por distinto, não 
haverá mudança substancial do significado.
a) As três afirmativas estão incorretas.
b) Apenas a afirmativa I está correta.
c) Apenas a afirmativa II está correta.
d) As três afirmativas estão corretas.
e) Apenas a alternativa III está incorreta.
 2) Leia:
I) Assim como a sinonímia, a antonímia é relativa, não 
perfeita.
II) Sempre é possível encontrar um antônimo perfeito.
III) Antonímias não possuem classificação.
a) Apenas a alternativa I é verdadeira.
b) As três alternativas são verdadeiras.
c) As três alternativas são falsas.
d) Apenas a alternativa II é verdadeira.
e) Apenas a alternativa III é verdadeira.
 3) Relacione as colunas:
AB – Antônimos binários ou complementares
AG – Antônimos graduais
36 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
a) ( ) certo/errado
b) ( ) dia/noite
c) ( ) preto/branco
d) ( ) bem/mal
e) ( )alto/baixo
 4) Leia as seguintes frases. Após, dê a classificação das anto-
nímias encontradas:
I) Ana é avó de Joana.
 Joana é neta de Ana.
II) Silvia é mãe de Pedro.
Pedro é filho de Silvia.
III) Álvaro é tio de Marta.
Marta é sobrinha de Álvaro.
a) As três antonímias são de conversão.
b) As três são complementares.
c) As três são graduais.
d) Apenas a I é gradual.
e) Apenas a II é gradual.
 5) Veja:
I) Poodle > cachorro > animal
Capítulo 2 Sinonímia, Antonímia, Hiponímia e Hiperonímia 37
II) Margarida > flor > vegetal
III) Laranja > fruta > vegetal
Agora, assinale a única alternativa correta:
a) Poodle é hiperônimo e animal é hipônimo.
b) Poodle é hipônimo e animal é hiperônimo.
c) Vegetal é hipônimo.
d) Laranja é hiperônimo.
e) Margarida é hiperônimo.
Daisy Batista Pail1
Capítulo 3
Acarretamento e 
Pressuposição1
1 Professora adjunta do curso de Letras da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). 
Doutoranda em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do 
Sul (PUCRS) e colaboradora no grupo de pesquisa SynSemPra (Syntax, Semantics, 
Pragmatics and Interfaces) na mesma Universidade.
Capítulo 3 Acarretamento e Pressuposição 39
Introdução
A esta altura você já deve ter estudado e percebido que os 
estudos da linguagem podem ser feitos através de diferentes 
abordagens, as quais influenciarão a forma como se entende 
o que é língua, o que é linguagem e tantos outros conceitos re-
lacionados ao tema. Uma vez que semântica se encontra den-
tro dos estudos linguísticos, ela também apresenta diferentes 
abordagens, propostas, pontos de vista. Chierchia (2003) di-
vide o estudo do significado em três abordagens: abordagem 
representacional (mentalista), abordagem pragmático-social e 
abordagem representacional (referencial).
A última se aproxima da lógica, pertence a uma vertente 
formalista. Esta, porém, apresenta dois momentos: um anterior 
a Gottlob Frege (1848-1925) e uma posterior (a que chamare-
mos referencial, em consonância com Cançado (2012) e Ilari 
e Geraldi (2003). Nessa não há preocupações quanto ao in-
divíduo, muito menos quanto a aspectos cognitivos e cerebrais 
deste. Estuda-se a linguagem pela linguagem, livre de contex-
to e quaisquer questões subjetivas. A forma de pensamento 
é cartesiana (de Descartes), razão separada da emoção. Em 
Linguística I: Fundamentos, estudamos essa visão, herança de 
filósofos como Aristóteles. Compatível com a proposta aristo-
télica, Gottlob Frege é o maior expoente nessa perspectiva de 
semântica referencial.
Além de sua definição de significado, seu trabalho tam-
bém é relevante devido à distinção entre sentido e referência e 
à noção de quantificador (conforme Oliveira, 2009). É nessa 
visão que estudaremos dois tipos de implicação: acarreta-
40 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
mento e pressuposição. Iniciaremos nosso estudo a partir 
do que pode ser implicação e inferência (seção 1). Uma vez 
que tivermos estudado esses conceitos, poderemos trabalhar 
acarretamento (seção 2), noção puramente semântica. Fina-
lizaremos com uma noção que se encontra nos limites entre 
semântica e pragmática: pressuposição (seção 3).
3.1 Implicação
Assim como tantas outras palavras, implicação também pos-
sui diferentes acepções, tanto no âmbito leigo quanto espe-
cializado. Ela pode se relacionar com inferência, implicatura, 
acarretamento, pressuposição etc. Não é difícil encontrarmos 
frases como ‘isso implicará em queda das vendas‘, ‘isso acar-
reta uma série de ações positivas‘,‘ele pressupõe que teremos 
essa informação‘. Um pouco mais raro é inferir: ‘não consegui 
inferir nada ao assistir O homem duplicado‘. Nas acepções 
especializadas, porém, essas palavras assumem significados 
distintos, isto é, deixam de ser sinônimas. De semelhante, to-
das trazem subentendida a ideia de “resultar”, ou seja, um 
processo de significação que permite concluir-se algo.
Segundo Cançado (2012, p. 32), implicação pode ser assu-
mida de forma escalar; “indo da noção mais restrita da implica-
ção conhecida como acarretamento à noção mais abrangente 
da implicação conhecida como implicatura conversacional”. 
Neste capítulo estudaremos dois tipos de implicação. O pri-
meiro é estritamente semântico, livre de contexto, apenas o que 
está contido explicitamente na sentença e considerado. A esse 
Capítulo 3 Acarretamento e Pressuposição 41
tipo de implicação damos o nome de acarretamento. O se-
gundo é uma noção semântico-pragmática. Semântico, pois o 
conteúdo codificado é ponto de partida; e pragmático, porque, 
se refere também a um conhecimento de mundo dos falantes. 
Esse tipo é chamado de pressuposição. Outro tipo de impli-
cação importante é a implicatura. Essa é uma noção prag-
mática, está relacionada ao indivíduo, ao contexto, a intenção 
(como estudaremos na parte de pragmática).
3.2 Acarretamento
No primeiro capítulo, fomos introduzidos aos estudos dos sig-
nificados. Também já vimos que podemos fazer isso pelo viés 
pragmático ou pelo semântico. Nesse, tradicionalmente, há 
uma tendência de se entender a tarefa do semanticista como 
determinar o significado das palavras. Segundo Chierchia 
(2003, p. 171), “os fatos e as generalizações semânticas vão 
muito além daquilo que diz respeito ao significado das pala-
vras”. Em verdade, o principal objetivo da semântica talvez 
não fosse este, mas “o estudo das operações através das quais 
os significados das palavras são combinados e integrados nos 
significados de expressões complexas” (CHIERCHIA, 2003). 
Passemos ao exemplo a seguir:
(1) a. O Homem-Aranha que fez a rede de proteção das 
janelas no meu apartamento.
 b. A rede de proteção das janelas do meu aparta-
mento foi feita por Peter Parker.
42 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
Ainda que nunca tenha ouvido essas frases antes, um fa-
lante de língua portuguesa será capaz de avaliar como essas 
duas sentenças se relacionam semanticamente. Nós percebe-
mos que se ‘a‘ for assumida como verdadeira, ‘b‘ também 
será verdadeira, que elas podem ser usadas como sinônimas. 
“Assim como sabemos emitir juízos de boa formação sobre 
as sentenças de nossa língua, também sabemos emitir juízos 
sobre o modo como duas sentenças se relacionam semanti-
camente” (CHIERCHIA, 2003, p. 172). Isso é possível devido 
à nossa competência semântica: “[a] capacidade de emitir 
juízos só pode ser a manifestação daquilo que sabemos impli-
citamente sobre o significado das expressões de nossa língua” 
(CHIERCHIA, 2003, p. 172).
Como vimos ao estudarmos hiponímia, o significado de 
uma palavra pode “estar contida” em outra. Como ‘aparta-
mento‘ “está dentro de” ‘residência‘, pois esta é mais ampla 
que ‘apartamento‘. Vejamos os exemplos a seguir:
(2) a. Eles sabem que o curso iniciará esta tarde.
 b. O curso começará à tarde.
(3) a. A criança quebrou o vidro da porta com uma pedra.
 c. O vidro da porta está quebrado.
É possível a qualquer falante de nossa língua dizer que exis-
te relação de sentido entre as frases em (2) e em (3). Identi-
ficamos que se ‘a‘ (tanto em 2 como em 3) é verdadeira, ‘b‘ 
será necessariamente verdadeira, pois – assim como ocorre 
na hiponímia – ‘b‘ está dentro de ‘a‘. Cançado (2012, p. 32) 
Capítulo 3 Acarretamento e Pressuposição 43
afirma que acarretamento ocorre “quando o sentido de uma 
sentença está incluído no sentido de outra.”
(4) a. Ana fará a apresentação ou Paulo exibirá o vídeo.
 b. Ana fará a apresentação e Paulo exibirá o vídeo.
 c. Paulo exibirá o vídeo.
Assumindo que a 4a seja uma sentença verdadeira, não 
podemos afirmar o mesmo sobre 4c. A partir de 4a não temos 
certeza se Ana fará a apresentação ou se Paulo exibirá o vídeo 
(valor disjuntivo de ‘ou‘) ou se ambos serão envolvidos (valor 
injuntivo de ‘ou‘). Intuitivamente, tendemos a interpretar pelo 
valor disjuntivo, ou um ou outro, mas não os dois, aumentan-
do a dúvida sobre 4c. Se, entretanto, avaliarmos 4c partindo 
de 4b, nossa conclusão será diferente: assumiremos 4c como 
verdadeira também. Para Chierchia (2003, p. 173), isso “deve 
estar relacionado aos significados diferentes destas duas con-
junções coordenativas.”, mas não somente delas.
(5) a. Ele pegou dinheiro e foi ao banco.
 b. Ele foi ao banco e pegou dinheiro.
Enquanto em 4b podemos inverter as orações que com-
põem a sentença sem alteração aparente do significado, não 
podemos fazer o mesmo em 5. Em 5a, concluímos que a pes-
soa foi fazer um depósito; em 5b, saque. Notemos, contudo, 
que essa conclusão não é necessária como ocorre nos exem-
plos anteriores. A pessoa poderia ter ido pagar uma conta no 
caixa, entregar dinheiro para alguém ou qualquer outra coisa 
saque ou depósito
44 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
em 5a, da mesma forma poderíamos chegar a conclusões di-
ferentes em 5b. Nesse exemplo, não temos acarretamento.
Chierchia (2003, p. 174) caracteriza acarretamento (ele 
usa o termo consequência) da seguinte forma:
(6) A2 é uma consequência de B3 se (=se, e apenas se)
i. a informação associada a A já está contida em B;
ii. se B for verdadeira no tempo t, então A também é 
verdadeira no mesmo tempo t;
iii. toda situação que puder ser descrita através de B 
também pode sê-lo através de A.
Leia-se que uma sentença será acarretamento de outra 
se atender àquelas condições. Consideremos nosso primeiro 
exemplo:
•	 	1b	 (A	 rede	de	proteção	das	 janelas	do	meu	apar-
tamento foram feitas por Peter Parker.) é acarreta-
mento de 1a (O Homem-Aranha que fez a rede de 
proteção das janelas no meu apartamento.), pois 1b 
está contida em 1a; assumindo-se 1a como verda-
deira no tempo t, então 1b também é verdadeira no 
mesmo tempo t.
Cançado (2012, p. 33) caracteriza acarretamento da mes-
ma forma, ainda que com outras palavras, como consta a se-
guir:
2 Essa é a sentença sendo avaliada com relação a outra.
3 Essa é a sentença tomada como partida para avaliação de outra.
sentença sendo avaliada com relação a outra.
sentença tomada como partida para avaliação de outra.
Capítulo 3 Acarretamento e Pressuposição 45
(7) Duas sentenças estabelecem uma relação de acarre-
tamento se:
•	 	a	sentença	(a)	for	verdadeira,	a	sentença	(b)	também	
será verdadeira;
•	 	a	informação	da	sentença	(b)	estiver	contida	na	in-
formação da sentença (a);
•	 	a	sentença	 (a)	e	a	negação	da	sentença	 (b)	 forem	
sentenças contraditórias.
Exemplos:
(8) a. Em determinado momento, o mestre segura um 
dos pés do aprendiz, que está de ponta cabeça. 
(Galileu, 2015)
 b. O aprendiz não está de ponta cabeça.
A sentença 8a não acarreta a sentença 8b, pois a informa-
ção associada a 8b não está contida em 8a. Se negarmos 8b, 
não haverá contradição com relação a 8a: “Não é verdade 
que o aprendiz não está de ponta cabeça”.
(9) a. Paulo sabe que sua filha chegou.
 b. Paulo acredita que sua filha chegou.
 c. A filha de Paulo chegou.
Temos dois verbos de natureza diferente em (9). ‘Saber‘ e 
‘acreditar‘ não envolvem da mesma forma a noção de ver-
dade. Enquanto 9a acarreta 9c, o mesmo não acontece em 
relação a 9b e 9c. A relação entre 9b e 9c não é necessária, 
O aprendiz está de ponta cabeça
46 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
ou seja, pode ser negada sem que haja necessariamente con-
tradição. ‘Saber‘ pressupõe a existência do objeto (em sentido 
amplo), ‘acreditar‘, por outro lado, não. É possível acreditar 
em algo que não seja verdade.
(10) a. Ana acredita em unicórnios mágicos que moram 
em Boa Vista.
 b. Unicórnios mágicos moram em Boa Vista.(11) a. Não foi Ana quem gabaritou a prova de semânti-
ca.
 b. Alguém gabaritou a prova de semântica.
A sentença 11a não acarreta 11b, a negação sobre ‘a‘ não 
leva a afirmação de ‘b‘.
(11) c. Não foi Ana quem gabaritou a prova de semânti-
ca, na verdade ninguém conseguiu.
A noção de acarretamento só se aplica a sentenças de-
clarativas, assim sentenças interrogativas, por exemplo, não 
podem ser avaliadas dessa forma.
Segundo Ilari e Geraldi (2003, p. 53), “a relação de con-
sequência entre orações é extremamente importante: compre-
ender corretamente uma frase é, numa situação dada, saber 
enumerar todas as suas consequências”.
Capítulo 3 Acarretamento e Pressuposição 47
3.3 Pressuposição
Enquanto acarretamento é uma noção puramente semântica, 
a pressuposição se encontra no limite entre semântica e prag-
mática. Vejamos os exemplos a seguir:
(12) a. Paulo parou de correr pelo parque.
(13) a. Não foi a Ana que gabaritou a prova de semânti-
ca.
(14) a. Ana se certificou de que havia enviado o relatório.
Em todas essas sentenças, outras informações são reco-
nhecidas, como consta a seguir:
(12) b. Paulo corria pelo parque.
 c. Paulo não corre mais pelo parque.
(13) b. Alguém gabaritou a prova de semântica.
(14) b. Ana enviou o relatório.
As informações dessas outras sentenças são admitidas im-
plicitamente, conforme observado por Frege. Veja essa outra 
sentença:
(12) d. Não é verdade que Paulo parou de correr 
pelo parque.
Ao se fazer a negação de 12a, podemos perceber que 
somente o conteúdo de 12c é afetado, como observado por 
Frege. A partir disso, ele também apontou que, como reitera-
do por Ilari e Geraldi (2003), 12b não é conteúdo declarado. 
48 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
Esse conteúdo Frege chamou de pressuposição. Há pressu-
posição quando uma sentença A pressupõe uma sentença B 
“toda vez que tanto a verdade quanto a falsidade da primei-
ra acarretam a verdade da segunda” (ILARI; GERALDI, 2003, 
p. 61). Cançado (2012) propõe um “teste” para verificar se 
uma sentença pressupõe a outra ou não. Faz-se uma família 
de sentenças e se uma informação continua inalterada, essa 
informação constitui uma pressuposição.
Aplicando esse teste às sentenças (12), (13) e (14):
 Â Sentença afirmativa;
 Â Sentença negativa;
 Â Sentença condicional;
 Â Sentença interrogativa.
(12) a. Paulo parou de correr pelo parque.
 a‘. Não é verdade que Paulo parou de correr pelo 
parque.
 a‘‘. Se Paulo parou de correr pelo parque, então ele 
está correndo por outro lugar.
 a‘‘‘. Paulo parou de correr pelo parque?
(13) a. Não foi a Ana que gabaritou a prova de semântica.
 a‘. Foi a Ana que gabaritou a prova de semântica.
Capítulo 3 Acarretamento e Pressuposição 49
 a‘‘. Não foi a Ana que gabaritou a prova de semân-
tica?
 a‘‘‘. Se não foi a Ana que gabaritou a prova de se-
mântica, então deve ter sido Pedro.
(14) a. Ana se certificou de que havia enviado o relatório.
 a‘. Não é verdade que Ana se certificou de que ha-
via enviado o relatório.
 a‘‘. Ana se certificou de que havia enviado o relató-
rio?
 a‘‘‘. Se Ana se certificou de que havia enviado o 
relatório, então não haverá problema.
Em todas, se toma como verdade a sentença ‘b‘, ainda que 
possa ser negado. É possível que em alguns casos tenhamos 
acarretamento e pressuposição, mas existência de acarreta-
mento não implica em pressuposição e vice-versa.
Recapitulando
Nesse capítulo, estudamos a possibilidade de diferentes tipos 
de implicação, focando em dois, especificamente, acarreta-
mento e pressuposição. O acarretamento é uma relação de 
implicação necessária entre duas sentenças, e, por isso, não 
pode ser negada. Ele é uma noção puramente semântica, isto 
é, apenas o conteúdo proposicional é considerado. A pres-
suposição, por outro lado, se encontra no meio do caminho 
50 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
entre semântica e pragmática. Enquanto a primeira envolve 
apenas o conteúdo declarado na sentença, a segunda envolve 
um conteúdo não declarado, ligado a nosso conhecimento de 
mundo e que pode ser negado. Lembramos, entretanto, que 
esses dois tipos de implicação não são os únicos que existem.
Referências
CANÇADO, Márcia. Manual de semântica. São Paulo: 
Contexto, 2012.
CHIERCHIA, Gennaro. Semântica. Tradução Luiz Arthur 
Pagani, Lígia Negri, Rodolfo Ilari. Campinas, SP: Editora da 
UNICAMP, 2003.
ILARI, Rodolfo; GERALDI, João Wanderley. Semântica. 11. ed. 
São Paulo: Ática, 2006.
OLIVEIRA, Roberta Pires de. Semântica. In MUSSALIM, 
Fernanda; BENTES, Anna Christina (orgs.). Introdução 
à linguística: domínios e fronteiras. 6. ed. São Paulo: 
Cortez, 2009.
Atividades
 1) Diga, das afirmações após o texto a seguir, se são (ou não) 
acarretamentos e/ou pressuposições, justificando sua res-
posta de acordo com as definições:
Capítulo 3 Acarretamento e Pressuposição 51
Tiro único – Voz fraca faz Lula focar em São Paulo 
Em recuperação, ex-presidente evita viagens e não deve vir 
a Porto Alegre.
Em sua primeira eleição após deixar o poder, o cabo eleito-
ral mais disputado do país faz uma campanha reclusa.
Ainda em recuperação – com garganta fragilizada pelo tra-
tamento contra câncer -, ex-presidente Lula tem priori-
zado a atuação de bastidores. (Zero Hora, Domingo, 
16 de setembro)
I) Lula foi presidente. 
II) Lula tinha voz forte.
III) Lula ainda não está bem. 
IV) Lula não está em Porto Alegre.
V) Lula esteve no poder. 
VI) Lula está concorrendo. 
VII) Há outros cabos eleitorais disputados.
VIII) Lula tem câncer.
 2) Marque a alternativa que não apresenta acarretamento e 
nem pressuposição:
I) ( ) a. Ana acredita que eu sei onde fica o bar.
 b. Sei onde fica o bar.
II) ( ) a. Não foi Paulo quem preparou o jantar.
ACARRETAMENTO
52 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
 b. Alguém preparou o jantar.
III) ( ) a. João adivinhou que choveria.
 b. Choveu.
IV) ( ) a. Minha avó adorou o creme hidratante que ga-
nhou.
 b. Minha avó ganhou um creme hidratante.
V) ( ) a. Ana parou de conversar pelo MSN.
 b. Ana conversava pelo MSN.
 3) Indique quais alternativas apresentam acarretamento e/ou 
pressuposição.
I) ( ) a. A prova será obrigatória a partir deste ano.
 b. Todos deverão fazer a prova.
II) ( ) a. Inicialmente, a prova será realizada uma vez por 
ano?
 b. Haverá uma prova a cada ano.
III) ( ) a. Munari, artista e designer italiano, morto aos 90, 
em 1998, fez de sua obra uma tentativa de identificar 
estruturas que já existem.
 b. Ele localizou estruturas já existentes.
IV) ( ) a. Sai primeira foto de Tom Hanks caracterizado 
como Walt Disney.
 b. Tom Hanks foi fotografado.
Capítulo 3 Acarretamento e Pressuposição 53
 4) Considere o par de sentenças abaixo e marque a alterna-
tiva correta.
I) Proibir o uso de máscaras não é o pior que pode acon-
tecer.
II) Algo pior do que a proibição do uso de máscaras pode 
acontecer.
a) No par de sentenças não há pressuposição;
b) No par de sentenças não há acarretamento;
c) No par de sentenças há somente pressuposição;
d) No par de sentenças há somente acarretamento;
e) No par de sentenças há acarretamento e pressuposi-
ção.
 5) Considerando a noção de acarretamento, preencha as la-
cunas com ‘todos‘ e ‘nem todos‘ de modo que a afirmação 
seja verdadeira.
a) __________ maçãs são frutas, mas ________ frutas 
são maçãs.
b) __________ remédios são anti-histamínicos, mas 
________ anti-histamínicos são remédios.
c) ________ pessoas que ganharam o prêmio Nobel são 
físicos, mas _______ físicos que ganharam o prêmio 
Nobel são pessoas.
d) _______ furacão é uma tempestade, mas _______ é 
um furacão.
54 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
e) _______ artefatos achados nessa escavação são pe-
dras, mas ________ artefatos de pedra foram achados 
nessa escavação.
Jane Sirlei Kuck Konrad1
Capítulo 4
Ambiguidade e Vagueza1
1 Especialista em Administração e Planejamento para Docentes.
56 Língua Portuguesa VII: Semânticae Pragmática
Introdução
Neste capítulo você encontrará importantes definições e exem-
plos esclarecedores acerca de dois fenômenos semânticos de-
finidos como ambiguidade e vagueza. 
Ambiguidade
Você certamente já se deparou com afirmações, sejam elas 
escritas ou faladas, em que ficou em dúvida sobre seu real 
sentido, pois poderia haver diferentes interpretações.
Veja estes exemplos:
 1) Pedro ama Maria tanto quanto sua mãe.
Poderíamos entender que:
a) Pedro ama Maria tanto quanto sua mãe ama Maria.
b) Pedro ama Maria tanto quanto ele ama sua mãe.
 2) Os meninos tinham 10 jogos de videogame.
Cada menino tinha 10 jogos de videogame ou os 10 jogos 
estavam distribuídos entre eles?
 3) Conversei com Antônio enquanto caminhava pelo 
shopping.
Quem caminhava pelo shopping? Eu ou Antônio?
Veja este conto de Luís Fernando Veríssimo:
Capítulo 4 Ambiguidade e Vagueza 57
Conto Erótico 
- Assim? 
- É. Assim. 
- Mais depressa? 
- Não. Assim está bem. Um pouco mais par... 
- Assim? 
- Não, espere. 
- Você disse que... 
- Para o lado. Para o lado! 
- Querido... 
- Estava bem mas você... 
- Eu sei. Vamos recomeçar. Diga quando estiver bem. 
- Estava perfeito e você... 
- Desculpe. 
- Você se descontrolou e perdeu o... 
- Eu já pedi desculpas! 
- Está bem. Vamos tentar outra vez. Agora. 
- Assim? 
- Um pouco mais para cima. 
- Aqui? 
- Quase. Está quase! 
- Me diga como você quer. Oh, querido... 
- Um pouco mais para baixo. 
- Sim. 
- Agora para o lado. Rápido! 
- Amor, eu... 
- Para cima! Um pouquinho... 
- Assim? 
- Ai! Ai! 
- Está bom? 
- Sim. Oh, sim. Oh Yes, sim. 
- Pronto. 
- Não! Continue. 
- Puxa, mas você... 
- Olha aí. Agora você... 
- Deixa ver... 
- Não, não. Mais para cima. 
- Aqui? 
 
- Mais. Agora para o lado. 
- Assim? Para a esquerda. O lado esquerdo! 
- Aqui? 
- Isso! Agora coça.
Disponível em: http://www.paralerepensar.com.br/verissimo_contoerotico.htm
58 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
As construções acima demonstradas são exemplos de am-
biguidade, quando há mais de um sentido em palavras, frases, 
proposições ou textos. A ambiguidade pode servir como recur-
so estilístico – como no caso do Conto Erótico -, mas também 
pode ser um vício de linguagem, quando as palavras são mal 
empregadas em frases. Resumindo, a ambiguidade pode ser 
um problema ou um recurso.
4.1 A ambiguidade como problema
a. Ambiguidade lexical
É quando a ambiguidade acontece em relação às palavras. 
Isso acontece quando uma palavra admite, pelo menos, uma 
dupla interpretação em determinado contexto. E quando não 
empregada ou transmitida corretamente gera ambiguidade.
Pode ser gerada por dois tipos de fenômenos: homonímia 
e polissemia.
Homonímia: é a relação entre duas ou mais palavras com 
significados diferentes, porém com a mesma estrutura fono-
lógica. A homonímia ocorre quando os sentidos da palavra 
ambígua não são relacionados.
Veja os exemplos:
a) O jogador foi para o banco.
b) Sofia limpou a manga antes de comer.
c) Vovó adorava aquele canto.
Capítulo 4 Ambiguidade e Vagueza 59
 Â No exemplo (a) fica a dúvida para qual banco o jogador 
foi. O banco instituição financeira, banco de reservas ou 
o banco da praça?
 Â No exemplo (b) não sabemos de Sofia limpou a manga 
da camisa ou a manga (fruta)?
 Â No exemplo (c) a vovó adorava aquele canto (música/
composição) ou um canto (espaço)?
Polissemia: acontece quando uma palavra ou expressão 
possui mais de um sentido, além do seu sentido original.
Veja os exemplos:
a) A professora reclamou da letra de Roberto.
b) A letra daquela música resumia-se a meia dúzia de 
palavras.
c) Pelé faz um gol de letra na Copa do Mundo de 1970.
d) Paulo interpretou tudo ao pé da letra.
A palavra letra possui significados diversos em cada um 
dos exemplos, podendo, porém, ser entendido pelo contexto.
 Â No exemplo (a): trata-se de caligrafia.
 Â No exemplo (b): trata-se de composição musical.
 Â No exemplo (c): trata-se de gol bonito.
 Â No exemplo (d): trata-se de interpretação literal.
Importante: Nos casos de ambiguidade lexical a análise 
sempre acontece em relação a palavras ou termos, porém não 
60 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
está relacionada às funções que os termos exercem na oração. 
Algumas vezes também se confunde homonímia e polissemia. 
Lembre-se: quando duas ou mais palavras com origens e sig-
nificados diferentes apresentam a mesma grafia e fonologia 
são classificadas como caso de homonímia. Polissemia, por 
outro lado, acontece quando a mesma palavra apresenta vá-
rios significados.
b. Ambiguidade sintática
No caso da ambiguidade sintática a questão está relacionada 
às funções que os termos exercem na oração. Não há a neces-
sidade de interpretar as palavras individualmente. A ambigui-
dade acontece em relação à estrutura sintática.
Veja os exemplos:
a) Eu ouvi a notícia sobre o incêndio na empresa.
b) Carlos pediu ao pai para passear.
c) Encontrei a senha do telefone celular que havia perdi-
do.
 Â No exemplo (a) poderíamos interpretar de duas formas: 
Que eu ouvi a notícia sobre o incêndio que aconteceu 
na empresa ou que eu estava na empresa enquanto 
ouvi a notícia sobre o incêndio.
 Â No exemplo (b) poderíamos interpretar: Que Carlos pe-
diu licença ao pai para fazer um passeio ou que Carlos 
fez um pedido ao pai para que passeasse.
Capítulo 4 Ambiguidade e Vagueza 61
 Â No exemplo (c) poderíamos interpretar: Que encontrei a 
senha do celular, pois a havia perdido ou que encontrei 
a senha do telefone celular, o qual havia perdido.
Nestes exemplos fica perceptível que a ambiguidade não 
acontece em relação às palavras, mas a aplicação e funciona-
lidade dos termos na oração.
c. Ambiguidade de escopo
A ambiguidade de escopo envolve a ideia do alcance de uma 
ação, o que se encontra em nosso campo de visão. Geralmen-
te envolvem ideias de distribuição coletiva e outra individual. A 
interpretação de uma expressão depende da outra. Quando a 
estrutura da frase permite duas possibilidades de relação.
Veja os exemplos:
a) João deu um presente para todas as crianças.
b) Todos os atletas torcem para dois times.
No exemplo (a) podemos entender de duas formas: Que 
João deu um presente para cada criança ou que todas elas 
em conjunto receberam um único presente. Então seria repre-
sentado assim:
a1) Todas as crianças – receberam um presente (único).
a2) Cada criança – recebeu um presente (diferente).
No exemplo (b) também pode haver entendimento duplo: 
Que todos os atletas torcem pelos mesmos dois times ou que 
62 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
cada atleta torce para dois times diferentes. Então seria repre-
sentado assim:
b1) Todos os atletas – torcem (para os mesmos) dois times.
b2) Cada atleta – torce para dois times (diferentes)
d. Ambiguidade semântica
Esta ambiguidade não é gerada pelos itens lexicais e nem na 
estrutura da sentença, mas sim pelo fato de os pronomes po-
derem ter diversos antecedentes.
Veja os exemplos:
a) O cachorro do seu vizinho me atacou.
b) O taxista levou Antônio ao hospital com seu próprio 
carro.
c) Arthur conversou com seu professor?
No exemplo (a) a duplicidade de sentido acontece porque 
o pronome seu, antes de cachorro deixa a dúvida: trata-se 
de um animal de estimação que o atacou ou ele se refere ao 
vizinho de alguém que o tratou mal.
No exemplo (b) o pronome seu pode se referir tanto ao 
taxista quanto a Antônio. Assim fica a ambiguidade. Não se 
sabe de quem era o carro.
Capítulo 4 Ambiguidade e Vagueza 63
No exemplo (c) também há ambiguidade. Pode-se inter-
pretar que o interlocutor quer saber se Arthur conversou com 
o professor dele (do Arthur) ou se com o professor de quem 
escuta a pergunta.
Importante: Como vocês puderam perceber, a ambiguida-
de, nos casos citados acima, constitui-se como um vício de 
linguagem. Deve ser evitado. Pode comprometer a compre-
ensão do conteúdo, levar a interpretações equivocadas. Por 
isso sempre é preciso fazer uma revisão acuradaa fim de dar 
clareza aos textos ou enunciados.
4.2 Ambiguidade como recurso
Assim como a ambiguidade pode ser um problema, também 
pode ser usada como recurso. É muito comum usar esse recur-
so em textos humorísticos, músicas, publicidade, quadrinhos e 
até mesmo do ponto de vista visual.
O texto, Conto Erótico no 1, de Luís Fernando Veríssimo, é 
um exemplo de como usar esse recurso em texto humorístico. 
Para quem lê, de fato parece tratar-se de um conto erótico. Na 
última linha a surpresa. Não se tratava disso. O objetivo era 
atrair o leitor, provavelmente.
64 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
Veja estas piadas:
No chuveiro
Manuel está tomando banho e grita para Maria: 
- Ô, Maria, me traz um xampu. 
E Maria lhe entrega o xampu. Logo em seguida, grita nova-
mente: 
- Ô Maria, me traz outro xampu. 
- Mas eu já te dei um agorinha mesmo, homem!!! 
- É que aqui está dizendo que é para cabelos secos e eu já 
molhei os meus.
Na Casa do Patrão
 
O patrão dá uma bronca no caseiro: 
- Olha, seu José, não deixe a sua cadela entrar novamente na 
minha casa! Ela está cheia de pulgas! 
No mesmo instante o caseiro vira-se para a sua cadelinha: 
- Teimosa, vê se não entra mais na casa do patrão! Lá tá cheio 
de pulgas! 
Disponível em: www.piadasdodia.com.br
Nas duas piadas o recurso da ambiguidade é explorado. 
O objetivo é que elas se tornem engraçadas. Na primeira a 
ambiguidade está nos cabelos secos. É um caso de polissemia, 
quando uma mesma palavra passa a ter sentidos diferentes. 
Na segunda piada a ambiguidade está na questão semântica, 
pois fica a dúvida se a casa está cheia de pulgas ou a cadela 
do caseiro.
Capítulo 4 Ambiguidade e Vagueza 65
Vagueza
Assim como a ambiguidade, a vagueza também gera dificul-
dades de interpretação. Isso acontece quando determinado 
termo é aplicado a situações de forma imprecisa. Segundo 
Cançado (2005, p. 62), “...esse fenômeno semântico está as-
sociado a expressões que fazem referência apenas de uma 
maneira aproximada, deixando o contexto acrescentar as in-
formações não especificadas nas expressões vagas.”
Veja os exemplos:
a) Vi um elefante grande.
b) A formiga que me mordeu era grande.
c) Reencontrei meu amigo depois de muito tempo. Qua-
se não o reconheci, pois estava careca.
d) A pedra encontrada por João foi difícil de quebrar, era 
dura.
e) Felipe machucou o pé ao chutar a bola, estava dura.
f) Antônio é alto. Ninguém dos seus irmãos tem sua altu-
ra.
g) Vi de longe meu avô andando na praça. Usava sua 
costumeira camisa vermelha.
h) Cheguei ao balcão e pedi uma cerveja. A atendente 
estava como sempre, simpática.
Nos exemplos da letra (a) e (b), o adjetivo grande se re-
fere tanto a elefante quanto a formiga. Se compararmos os 
66 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
dois animais, obviamente diríamos que um elefante é grande 
e uma formiga pequena. Mas tanto entre os elefantes quanto 
entre as formigas há diferenciação de tamanhos.
No exemplo da letra (c) há dois termos que geram vagueza 
de interpretação.
O primeiro termo é muito tempo. Ele se apresenta como 
um termo vago. Quanto tempo? A ideia de tempo é relativa. 
O que é muito tempo para um pode não ser para outro.
O segundo termo é careca. O que define quando alguém 
é careca? Não se costuma definir graus de calvície. Se alguém 
não tiver nenhum fio de cabelos ou tiver alguns fios definimos 
como sendo careca. Como não há precisão é um termo vago.
Nas letras (d) e (e) o adjetivo é dura. No exemplo da letra 
(d) dura se refere à pedra e na letra (e) dura se refere à bola. 
Ninguém pensaria chutar uma pedra como chuta uma bola. É 
um grau diferente de concepção do adjetivo dura.
Na letra (f) o termo que determina a vagueza é alto. Qual 
a altura de Antônio? Poderia ser que seus irmãos tivessem em 
torno de 1,50 ou 1,60 m. Ou talvez tivessem em torno de 2 m 
de altura. Não existe definição de altura.
Na letra (g) o termo é vermelha. O avô usava a costumeira 
camisa vermelha. As cores possuem tonalidades. Poderia ser 
um vermelho mais claro ou mais escuro. Por isso as cores tam-
bém se enquadram nos termos vagos.
Por último, na letra (h) o adjetivo simpática refere-se a 
atendente. Assim como nos outros casos esse termo é relativo, 
Capítulo 4 Ambiguidade e Vagueza 67
vago. O que eu considero como simpático outra pessoa pode 
não considerar.
Assim como nos casos de ambiguidade, também a vagueza 
somente pode ser resolvida pelo contexto. No caso da ambi-
guidade o contexto ajudará a definir a opção por um dos sen-
tidos. No caso de vagueza o contexto pode acrescentar algum 
detalhe específico que não está na expressão. De algum modo 
a vagueza faz parte da linguagem por questões de conceito 
e percepção. A ambiguidade facilmente pode ser resolvida, 
basta mudar algum termo. Quando se trata de vagueza os 
parâmetros para especificar um termo são o mais complexos.
Recapitulando
Neste capítulo definimos tanto a ambiguidade quanto a va-
gueza. Vimos, por exemplo, que ambiguidade é a duplicidade 
de sentido de uma palavra, de uma oração ou até mesmo de 
um texto e que a vagueza, segundo Cançado (2005, p. 62), 
“...está associada a expressões que fazem referências apenas 
de uma maneira aproximada, deixando o contexto acrescentar 
as informações...”.
Referências
CANÇADO, Marcia. Manual de semântica – noções básicas 
e exercícios. UFMG, 2005.
68 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
HURFORD, James R.; HEASLEY, Brendan. Curso de semânti-
ca. Traduzido por Delzimar da Costa Lima e Dóris Cristina 
Gedrat. Canoas: Ulbra, 2004.
ILARI, R. Introdução à semântica. Brincando com a gramáti-
ca. São Paulo: Contexto, 2006.
ILARI, Rodolfo. Semântica. São Paulo: Ática, 2005.
MARQUES, Maria Helena Duarte Marques. Iniciação à se-
mântica. Jorge Zahar, 1996.
Atividades
 1) Leia as seguintes afirmativas:
I) A ambiguidade pode ser utilizada como recurso de 
expressão em alguns tipos de textos: poesia, humor, 
histórias em quadrinhos e piadas.
II) A ambiguidade pode gerar problemas para a comuni-
cação.
III) A ambiguidade lexical pode ser causada pelos fenô-
menos chamados homonímia e polissemia.
a) Apenas a questão I está correta.
b) Todas as questões estão corretas.
c) Apenas a questão III está incorreta.
d) Apenas as questões I e III estão corretas.
Capítulo 4 Ambiguidade e Vagueza 69
e) Apenas as questões I e II estão corretas.
 2) A frase abaixo apresenta ambiguidade:
O Vereador falará do projeto na Rádio Alternativa.
 Reescreva essa frase, alterando a ordem das palavras, para 
eliminar a ambiguidade; na resposta, acrescente uma vír-
gula à frase.
 3) As seguintes frases estão ambíguas. Reescreva essas frases 
e elimine as ambiguidades:
a) João deve aguardar sua sogra e levá-la em sua cami-
nhonete até o shopping.
b) O homem encontrou o assaltante em sua residência.
c) O pai falou ter julgado o filho errado.
d) Caso você tivesse ido à igreja com Paulo, veria seu 
irmão.
e) Vi o terrível acidente do ônibus.
 4) No mês de junho, o governo do Estado de São Paulo di-
vulgou uma campanha objetivando reduzir o consumo de 
água. Para dar essa notícia, um jornal publicou o seguinte:
 CAMPANHA PARA REDUÇÃO DE CONSUMO DE ÁGUA 
DO GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO ENTRA EM 
NOVA FASE.
 Percebe-se que a manchete tem um duplo sentido. Consi-
derando o objetivo da notícia, esse problema poderia ter 
sido evitado com a seguinte redação:
veria o irmão dele
veria o irmão dele
o homem encontrou o assaltante na minha residência.
o homem encontrou o assaltante na residência dele
que aconteceu no ônibus
de dentro do onibus
O vereador falará do projeto que ocorrerá na rádio alternativa.
O vereador irá a rádio alternativa falar do projeto
O pai falou que julgou o filho de forma errada.
o pai julgou errado o filho
João deve aguardar a sogra dele e leva-la em sua caminhonete até o shopping.
João deve aguardar minha sogra e leva-la em sua caminhonete...
70 Língua Portuguesa VII: Semântica

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