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Língua Portuguesa VII: 
Semântica e Pragmática
Língua Portuguesa VII: 
Semântica e Pragmática
Organizado por Universidade Luterana do Brasil
Universidade Luterana do Brasil – ULBRA
Canoas, RS
2016
Daisy Batista Pail 
Dóris Cristina Gedrat
Jane Sirlei Kuck Konrad
Conselho Editorial EAD
Andréa de Azevedo Eick
Ângela da Rocha Rolla
Astomiro Romais
Claudiane Ramos Furtado
Dóris Gedrat
Honor de Almeida Neto
Maria Cleidia Klein Oliveira
Maria Lizete Schneider
Luiz Carlos Specht Filho
Vinicius Martins Flores
Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. 
Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores 
a emissão de conceitos.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida 
por qualquer meio ou forma sem prévia autorização da 
ULBRA.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei 
nº 9.610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal.
ISBN: 978-85-5639-118-6
Dados técnicos do livro
Diagramação: Marcelo Ferreira
Revisão: Marcela Machado
Apresentação
As autoras do livro de Língua Portuguesa VII: Gramática e Ensino convidam o leitor a adentrar no campo de estudo do significado lin-
guístico, alertando, no entanto, que, por ser uma temática polêmica e que 
apresenta muitos caminhos, houve a necessidade de fazer escolhas e de-
limitar os campos teóricos a serem abordados em cada um de seus capí-
tulos.
O primeiro capítulo, Estudo do significado linguístico, situa o tema 
dentro da ciência a que está vinculado, a linguística, para então diferenciar 
maneiras de abordá-lo: em relação ao mundo externo, em relação ao uso 
da língua e em relação à mente.
A temática do segundo capítulo, Hiponímia, hiperonímia, sinoní-
mia e antonímia, fornece uma proposta baseada na Semântica Lexical 
para explicar as relações de sentido entre as palavras. No terceiro capítulo, 
Acarretamento e pressuposição, focalizam-se duas relações de sentido 
existentes entre sentenças da língua, as quais, muitas vezes, tornam difícil a 
demarcação do campo de estudos da semântica e da pragmática.
O quarto capítulo, Ambiguidade e vagueza, trata de forma breve as 
relações de ambiguidade e vagueza, as quais só podem ser resolvidas com 
referência ao contexto.
O estudo contido no quinto capítulo, Significado, sentido e referên-
cia, aborda as relações de significação dentro da linguagem e as relações 
semânticas que se estabelecem entre a linguagem e o mundo.
O sexto capítulo, Semiótica, tenta resumir o estudo dos signos, área 
muito ampla que se ocupa não apenas dos signos linguísticos, como o faz 
a Linguística. A Semiótica constitui-se numa ciência geral do signo.
Apresentação v
O sétimo capítulo, Atos da fala, apresenta a Teoria dos Atos de Fala, 
oriunda da Filosofia da Linguagem, que trouxe à tona a concepção da lin-
guagem como uma forma de ação, chamando a atenção para que, mais 
do que usar a linguagem para se falar a respeito de realidades e de experi-
ências, age-se através de determinadas construções linguísticas, propondo 
que falar é igual a agir.
Implícitos: implicaturas conversacionais, oitavo capítulo, contempla 
um estudo sobre um tipo de significado implícito: as implicaturas conversa-
cionais. Parte da proposta original para, então, acrescentar uma alteração 
decisiva na ideia inicial, fazendo referência aos processos cognitivos que 
orientam a conversação e a maneira como se veiculam e se recebem os 
significados na comunicação verbal.
O penúltimo capítulo aborda a Teoria da Relevância, que, apesar de 
manter uma relação de origem com a teoria das implicaturas conversacio-
nais de Grice, sugere um tratamento cognitivo às implicaturas, subsumindo 
todas elas sob o rótulo de Relevância.
A proposta do último capítulo, Lógica e Cognição, objetiva desafiar o 
leitor a refletir a respeito das noções introdutórias sobre lógica e cognição, 
dada sua importância e relação para com os estudos linguísticos.
Como se pode constatar, os temas contidos neste livro revestem-se de 
uma fonte inesgotável de provocação motivacional para inúmeras leituras 
complementares, bem como de indicadores de muitos caminhos a serem 
pesquisados. Desejamos que o livro estimule seus leitores a enveredarem 
por esses caminhos.
 1 Estudo do Significado Linguístico ...........................................1
 2 Sinonímia, Antonímia, Hiponímia e Hiperonímia .................20
 3 Acarretamento e Pressuposição ...........................................38
 4 Ambiguidade e Vagueza .....................................................55
 5 Significado, Sentido e Referência ........................................71
 6 Semiótica ...........................................................................90
 7 Atos de Fala .....................................................................109
 8 Implícitos: Implicaturas Conversacionais ............................126
 9 Teoria da Relevância .........................................................149
 10 Lógica e Cognição ............................................................172
Sumário
Capítulo 1
Dóris Cristina Gedrat1
Estudo do Significado 
Linguístico
1 Graduada em Letras Português/Inglês, mestre e doutora em Linguística Aplica-
da pela PUC/RS. Atualmente é professora e coordenadora do curso de Letras da 
Universidade Luterana do Brasil, em Canoas, RS.
2 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
Introdução
Ao adentrarmos o campo do significado linguístico, precisa-
mos de muita coragem, pois ele apresenta muitos caminhos 
e é preciso fazer escolhas. Assim, neste capítulo, delimitamos 
que aspectos relacionados ao significado serão abordados. 
Primeiro, situaremos o tema dentro da ciência a que está vin-
culado, a linguística, para então diferenciarmos maneiras de 
abordá-lo: em relação ao mundo externo, em relação ao uso 
da língua e em relação à mente.
1.1 Situando o estudo do significado
O estudo do significado linguístico é objeto da área da ciência 
linguística chamada Semântica. Todos concordam, no entanto, 
que para se continuar a desenvolver este tema, os caminhos 
são muitos e controversos, a tal ponto que duas teorias podem 
dizer coisas completamente diferentes ao definirem o mesmo 
objeto: o significado. Ou a significação?
A significação é descrita como a relação entre as palavras 
e o que elas significam (LYONS, 1977, p. 84). E o que exata-
mente elas significam (coisas, pensamentos, conceitos, imagi-
nação) é chamado de seu significado. Desse modo, utilizare-
mos “significação” como sendo uma relação, sempre cientes 
de que não há forma definitiva nem garantida de se dizer quais 
são as duas partes desta relação, uma vez que o significa-
do, numa ponta, não é sempre o mesmo tipo de coisa. Ilari e 
Capítulo 1 Estudo do Significado Linguístico 3
Geraldi (2006, p. 5), ao introduzirem sua obra sobre semânti-
ca, apontam essa realidade:
Espera-se de um livro de iniciação sobre qualquer discipli-
na que comece por uma ou mais definições da disciplina 
em questão, que delimite claramente o conjunto de fatos 
a que a disciplina se aplica, e que enumere e ilustre seus 
conceitos centrais. Uma introdução à semântica constru-
ída segundo esse modelo começaria provavelmente por 
afirmações genéricas como “a semântica é a ciência que 
estuda a significação” e prosseguiria expondo um corpo 
de doutrina supostamente acabado.
Duvidamos que esse enfoque seria realmente esclarece-
dor para o leitor. As posições sobre o que é significação 
são inúmeras e extremamente matizadas e vão desde o 
realismo dos que acreditam que a língua se superpõe 
como uma nomenclatura a um mundo em que as coisas 
existem objetivamente, até formas de relativismo extre-
mado, segundo as quais é a estrutura da língua que de-
termina nossa capacidade de perceber o mundo; desde 
a crença de que a significação de uma expressão fica ca-
balmente caracterizada pela tradução em outra expres-
são, até a crença de que qualquer tradução é impossível 
e para compreender a significação de uma palavra ou 
frase se exige a participaçãodireta em atividades de um 
determinado tipo.
Adotando a mesma estratégia dos autores acima, tendo 
em vista a existência de orientações tão distintas e a disper-
são própria da semântica, aqui também não estudaremos as 
4 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
escolas e os conceitos teóricos, mas os problemas, ou fatos 
semânticos, os quais serão identificados pelo estudante no uso 
corriqueiro de sua língua e nos textos de diversos tipos com os 
quais terá contato.
Os problemas aqui abordados serão aqueles que tiveram 
lugar central nas reflexões sobre semântica desde o final do 
século XIX, e que servirão de base para o estudante analisar 
outros problemas semânticos com os quais poderá se depa-
rar. Assim, estudaremos fatos da língua, utilizando-a, portanto, 
para falar dela própria e, embora não nos detenhamos nas 
escolas e desenvolvimentos teóricos, cada fato sempre será 
estudado segundo a perspectiva teórica que o apontou.
1.1.1 Semântica e Pragmática
A Semântica não é a única área da linguística que estuda o 
significado, ela está extremamente entrelaçada com a Pragmá-
tica, por vezes não podendo se desvincular desta na análise 
do significado de expressões e enunciados. Como exemplo, o 
enunciado (1), dito por João:
(1) João: Eu prometo não mentir mais.
Se considerarmos o significado da sentença proferida por 
João como sendo as condições que devem existir para que a 
sentença seja verdadeira, diremos que João mentia e promete 
que não mentirá mais. Isso poderia ser a semântica da oração, 
pois “Eu” se refere ao falante, e o falante é João, “não mentir 
mais” implica que anteriormente ele mentia e o significado de 
Capítulo 1 Estudo do Significado Linguístico 5
“prometo” é algo como assegurar de antemão alguma coisa, 
neste caso, “não mentir mais”.
Por outro lado, vê-se que isso não é tudo o que o enun-
ciado de João veicula em termos de informação comunicada, 
porque no significado do verbo “prometer” existe um aspecto 
que invoca as intenções do falante. Não temos como garantir 
que João realmente tem a intenção de não mentir mais, ele 
pode estar nos enganando ao dizer que promete não mentir 
mais.
Portanto, não temos como afirmar que a sentença é ver-
dadeira ou falsa, sob este ponto de vista, o ponto de vista 
pragmático, que vai além da semântica, além do significado 
verdadeiro das palavras e da sentença como um todo, des-
considerando o ato de fala e as condições necessárias para 
que ele seja produzido de maneira satisfatória.2 Para que este 
enunciado seja produzido de maneira satisfatória, João deve 
estar realmente comprometido a parar de mentir, e isso já não 
é uma questão semântica, pois foge ao tratamento da língua, 
diz respeito às atitudes e intenções do falante.
Para melhor compreensão da diferença entre essas duas 
ciências, analisemos o exemplo de Fiorin (2003, p. 161):
2 De maneira “feliz”, conforme a Teoria dos Atos de Fala, de Austin, que será 
apresentada no capítulo 7. 
6 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
Fonte: (CARROLL, Lewis. As aventuras de Alice. 3 ed. São Paulo: Summus, p. 182)
Conforme o autor, quanto ao significado do termo “hoje”, 
para a Rainha, ele é fixo, bem como “ontem” e “amanhã”. 
Então, sendo a regra doce amanhã e doce ontem, Alice nunca 
poderá ter os doces, pois o significado fixo, isento de contexto 
de comunicação, é sempre igual e não considera a situação. 
Por outro lado, Alice defende que o sentido das palavras está 
relacionado ao ato de produzir um enunciado, consequente-
Capítulo 1 Estudo do Significado Linguístico 7
mente, às vezes “tem de ser doce hoje”, porque “hoje” é o dia 
em que um ato de fala é produzido. Ela mostra que o signifi-
cado da palavra “hoje” é compreendido quando se estabelece 
uma relação com a situação de comunicação.
O que Alice está destacando é o significado pragmático 
das palavras e orações da língua, as condições que governam 
a utilização da linguagem, a prática do uso da língua. A utili-
zação de “hoje” num contexto de comunicação faz referência 
apenas ao dia em que o ato de fala se realiza, então, a regra 
“doce amanhã e doce ontem” elimina doce no dia em que se 
fala, mas inclui doce no dia seguinte. Caso se diga a mesma 
coisa no dia seguinte, já não se está mais observando a regra, 
pois, pragmaticamente, “hoje” é só o dia em que se produziu 
o enunciado.
Neste e nos próximos capítulos, estudaremos tanto o signi-
ficado dito “literal” quanto o significado dependente da inter-
pretação do falante/ouvinte.
1.2 Tipos de significado
Como vimos acima, a tentativa de definir a área de estudos da 
Semântica nos leva a um problema que é o de dizer o que é o 
significado. Segundo Neto (2003, p. 9):
Infelizmente, os significados não são objetos que possa-
mos ver, cheirar, apalpar; os significados não estão no 
contínuo espaço-temporal, de forma a podermos obser-
8 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
vá-los, medi-los, como fazemos com os objetos, diga-
mos, “físicos”.
Essa natureza “não física” dos significados coloca pro-
blemas tremendos para todas as abordagens teóricas 
que pretendem considerá-los uma espécie de entidade. 
Tanto teorias que tomam o significado como o objeto 
que a expressão linguística refere [...], quanto teorias que 
assumem que o significado é um conceito, ou uma ideia, 
que reside na mente das pessoas [...] vão ter problemas 
sérios ao tentar dar conta de preposições, conjunções, 
artigos etc., que certamente são expressões com signi-
ficado mas que não apresentam referente claro, nem se 
associam claramente a conceitos.
Pelas palavras de Neto, percebemos que os significados 
se manifestam em diversos tipos, como as preposições, por 
exemplo, que não significam da mesma maneira que os subs-
tantivos. Uma preposição estabelece uma relação entre duas 
palavras, ao passo que um substantivo tem um conteúdo sig-
nificativo por si, podendo variar dentro de contextos diferentes, 
mas a preposição não tem esse tipo de significado. O autor 
continua:
Dizer que o significado de uma expressão é a “coisa” 
que a expressão refere só é razoável quando tratarmos 
de expressões que designam objetos [...]. Se tratamos 
de nomes próprios (Pedro, Curitiba etc.), de nomes co-
muns concretos (mesa, pedra, livro etc.) e de adjetivos 
qualificativos que designam atributos físicos de objetos 
(vermelho, alto, gordo etc.), temos a impressão de que a 
Capítulo 1 Estudo do Significado Linguístico 9
abordagem referencial se sustenta; por outro lado, dian-
te de nomes abstratos, como “liberdade” ou “amor”, por 
exemplo, assumirmos que o significado é o objeto referi-
do já não parece ser mais tão razoável.
Considerar, alternativamente, que os significados são 
entidades mentais não melhora em nada a situação da 
teoria semântica. Em primeiro lugar, porque conhecemos 
muito pouco sobre o funcionamento das mentes, e é 
pura especulação dizer que lá existem coisas que podem 
ser chamadas de “significados” [...]. Em segundo lugar, 
e principalmente, porque não temos acesso ao conteúdo 
da mente, o que impede qualquer abordagem minima-
mente objetiva do significado.
Assim, varia a maneira como as palavras e sentenças da 
língua significam, isto é, a significação se dá de diferentes 
formas, ou ainda, o significado pode ser de diferentes tipos. 
Vemos também que qualquer abordagem do significado não 
consegue captar todos os casos, justamente pelo fato de haver 
diferentes tipos de significado. Por outro lado, as teorias exis-
tentes são sérias e dão conta dos fatos semânticos dos quais 
se comprometem a tratar, por isso, como já foi referido acima, 
estudaremos fatos e não teorias, e cada fato dentro da teoria 
que o tratou.
Nós nos limitaremos, a seguir, a explicar e ilustrar três ti-
pos de significado: o significado dependente das condições de 
verdade no mundo (relação entre expressões linguísticas e o 
mundo externo), o significado apreendido através dos elemen-
tos do contexto da comunicação (relação entre as expressõeslinguísticas e o uso que os falantes fazem delas) e o significado 
10 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
cognitivo, que emerge das estruturas semânticas que já temos 
instaladas em nossa mente (relação entre as expressões e algo 
equivalente aos conceitos mentais).
1.2.1 Significado e mundo externo
O significado tomado como a relação entre a expressão lin-
guística e o mundo externo faz uso direto na noção aristotélica 
de verdade, segundo a qual uma sentença consiste em seu 
acordo (ou correspondência) com a realidade.
Tarski (1972) formulou a seguinte convenção para estabe-
lecer a correspondência entre a linguagem e o mundo: consi-
deremos a sentença “A neve é branca”, ela será verdadeira se 
a neve é branca e será falsa se a neve não é branca. Em outras 
palavras, se eu afirmo que a neve é branca e ela é, de fato, 
branca, a afirmação é verdadeira; se eu afirmo que a neve 
não é branca, mas a neve é branca, a afirmação será falsa. A 
equivalência é descrita em (2):
(2) A sentença “A neve é branca” é verdadeira se, e apenas 
se, a neve é branca.
Para se mostrar o que a definição de verdade acima deter-
mina para as línguas naturais, chamamos a sentença “A neve 
é branca” de X e damos o nome de p às condições necessárias 
e suficientes para a determinação da verdade de X, ou seja, a 
brancura da neve. Vejamos a representação em (3):
(3) X é verdadeira se, e apenas se, p.
Capítulo 1 Estudo do Significado Linguístico 11
Assim, para que a sentença “A neve é branca” seja verda-
deira, é preciso que a neve seja branca e basta que a neve 
seja branca.
Deve ficar bem claro que o significado da sentença está 
sendo igualado às condições de verdade da sentença e não 
à sua verdade ou falsidade. Com relação ao exemplo acima, 
é fácil sabermos que ela é verdadeira, além de estabelecermos 
suas condições de verdade (a brancura da neve), pois, quem 
já viu neve, sabe que ela é branca e não tem dúvidas.
No entanto, consideremos uma sentença como:
(4) O número de computadores neste estado é um milhão.
As condições de verdade para (4) são expressas facilmen-
te: a sentença será verdadeira se, e apenas se, o número de 
computadores no estado for um milhão. Contudo, para saber-
mos se a sentença é verdadeira ou falsa, para conhecermos 
a verdade ou falsidade dessa sentença, é necessário contar o 
número de computadores no estado, o que não é fácil fazer 
e pode inclusive ser impossível. Mesmo assim, sabemos dizer 
quais são as condições de verdade da sentença e é com elas 
que o significado dessa sentença é identificado.
1.2.2 Significado e uso (pragmática)
Ao se estudar o significado no uso linguístico, está-se, como 
diz Pinto (2000, p. 48), apostando “nos estudos da linguagem, 
levando em conta também a fala, e nunca nos estudos da lín-
gua isolada de sua produção social”.
12 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
A conversação é o lugar por excelência de onde saem os 
exemplos de significações dependentes do contexto e das con-
dições de uso da língua. Além dos exemplos dados acima, 
quando diferenciamos a semântica da pragmática, vejamos 
o exemplo em (5), tratado primeiramente por Grice (1989) 
como uma implicatura conversacional, tema do capítulo 8:
(5) Enunciado – João: “Bateram no meu carro.”
Implicatura: o carro de João não foi totalmente destruído.
A partir do enunciado de João, pelo conhecimento que te-
mos quanto à maneira como os participantes de uma conver-
sação se comportam, podemos inferir não apenas o que ele 
diz – que alguém bateu em seu carro -, mas também que o 
carro não foi completamente destruído, pois, caso tivesse sido, 
João teria dito. Assim, o significado compreendido a partir da 
sentença que João enuncia é muito mais amplo do que apenas 
o significado dependente das condições de verdade dessa sen-
tença, é um significado retirado do contexto da conversação, 
que inclui o conhecimento partilhado entre falante e ouvinte.
Outro exemplo de significado retirado de características da 
situação de fala é o significado de palavras que fazem refe-
rência explícita ao aqui e agora da conversação. Por exemplo, 
suponhamos uma situação em que Maria está numa loja esco-
lhendo um vestido e, apontando para um azul que ela acabou 
de experimentar, diz:
(6) Fico com este.
A falante está se baseando em algumas características ób-
vias da situação:
Capítulo 1 Estudo do Significado Linguístico 13
 Â o momento presente leva ao uso do verbo no presen-
te do indicativo, que expressa a ação transcorrida num 
momento simultâneo ao momento da fala;
 Â a pessoa que fala é a própria Maria, por isso o uso do 
verbo na primeira pessoa do singular, que serve para 
fazer referência ao indivíduo que, na situação de fala, 
assume o papel de locutor;
 Â o objeto presente do qual se fala, o vestido, leva ao uso 
do demonstrativo “este”, com papel de identificar algum 
objeto presente na situação de fala, como um dos as-
suntos a que a interação verbal diz respeito.
Em outras palavras, somente em relação ao contexto ime-
diato da situação de fala é que podemos compreender o signi-
ficado do enunciado em (6), pois, sem ele, não teríamos como 
saber quem fica com o quê. Mais um caso de significado ba-
seado no uso linguístico, em que se vai muito além do signifi-
cado dependente das condições de verdade da sentença.
1.2.3 Significado e mente
É possível dizer, neste ponto, que “entender o significado de 
uma expressão é estabelecer uma conexão entre a expressão 
e as entidades não linguísticas a que a expressão se aplica” 
(NETO, 2003, p. 10). Ver o significado como algo na mente é 
tomar as entidades não linguísticas na conexão acima como 
sendo entidades mentais, que, conforme Jackendoff (1985), 
são os conceitos que armazenamos mentalmente.
14 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
Observando as criancinhas, vemos que elas, desde que 
começam a falar, já utilizam os termos com referência às cate-
gorias conceituais nas quais se encaixam. Em outras palavras, 
não vemos as crianças falarem de coisas colocando-as no lu-
gar de verbos nas frases, mas sim de substantivos. Os subs-
tantivos expressam o conceito de coisas e está armazenado 
mentalmente. No exemplo (7a), a seguir, temos um enunciado 
em que a criança expressa o conceito como ele é, e, em (7b), 
como seria se estivesse sendo utilizado na categoria conceitual 
errada, o que não ocorre (por isso o * antes do enunciado):
(7) a. Vi a corrida de carros com o papai.
* b. Vi a corre de carros com o papai.
Em (7a), “corrida” é um substantivo e representa uma coi-
sa, embora abstrata, por isso também vem antecedido de ar-
tigo. Já em (7b), “corre” é uma forma verbal, por isso não 
pode estar no lugar em que está, nem vir antecedido de arti-
go, expressando uma ação com movimento. Como prova de 
que temos esses conceitos armazenados e que eles é que nos 
fornecem o significado dos termos e das frases da língua, utili-
zamos esse tipo de exemplo, em que o conceito vem expresso 
na linguagem numa palavra da categoria que o conceito real-
mente representa.
Vemos que, na abordagem cognitiva, o significado não vem 
da relação com o mundo, mas emerge de dentro para fora, 
dos nossos corpos em interação com o meio que nos circunda. 
No caso do exemplo acima, a criança sabe colocar os termos 
nas categorias de conceitos que eles representam porque assi-
Capítulo 1 Estudo do Significado Linguístico 15
milou essas categorias em sua relação com o meio, que inclui 
os falantes ao seu redor e tudo a respeito do que se fala.
A partir desse mundo experienciado, forma-se a memória 
que ampara o falar e o pensar, por isso o significado é uma 
questão da cognição em geral e não um fenômeno pura ou 
prioritariamente linguístico.
Dica de Leitura
- ILARI, Rodolfo; GERALDI, João W. Semântica. 11. ed. São 
Paulo: Ática, 2006.
Um texto simples e direto, adequado a estudantes de gra-
duação que estão iniciando seus estudos em Semântica.
Recapitulando
Neste capítulo, iniciamos o estudo do significadoem lingua-
gem natural. Destacamos a diferença entre semântica e prag-
mática e situamos as principais abordagens sobre o significado 
da língua: com relação ao mundo real, com relação ao uso da 
língua em situações de comunicação e com relação à mente.
Referências
FIORIN, José L. (org.) Introdução à Linguística. II Princípios 
de análise. São Paulo: Contexto, 2003.
16 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
FREGE, Gottlob. Lógica e filosofia da linguagem. São Paulo: 
Cultrix, 1978.
GEDRAT, Dóris C. A relevância da relevância na inferência 
não trivial e na significação implícita. Dissertação de 
mestrado, PUC/RS, 1993.
GEDRAT, Dóris C. Relevância da composição semântica 
das estruturas conceituais lexicais. Tese de doutorado, 
PUC/RS, 1999.
GRICE, Paul. Logic and conversation. In: GRICE, P. (ed) Studies 
in the way of words. Cambridge, Mass.: Harvard Univer-
sity Press, 1989. pp. 22-40.
HURFORD, James R.; HEASLEY, Brendan. Curso de semânti-
ca. Traduzido por Delzimar da Costa Lima e Dóris Cristina 
Gedrat. Canoas: Ulbra, 2004.
ILARI, Rodolfo; GERALDI, João W. Semântica. 11. ed. São 
Paulo: Ática, 2006.
JACKENDOFF, Ray. Semantics and cognition. Cambridge, 
Mass.: The MIT Press, 1985.
LEVINSON, Stephen C. Pragmatics. Cambridge: Cambridge 
University Press, 1983.
LYONS, John. Semântica, v.1, Lisboa: Presença, 1977.
NETO, José B. Semântica de modelos. In: MÚLLER, A. L; 
NEGRÃO, E. V.; FOLTRAN, M.J. (orgs.) Semântica Formal. 
São Paulo: Contexto, 2003.
Capítulo 1 Estudo do Significado Linguístico 17
OLIVEIRA, Roberta Pires de. Semântica. In: MUSSALIM, F; 
BENTES, A. C. Introdução à linguística – 2. Domínios e 
fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001.
PINTO, Joana P. Pragmática. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. 
(orgs.) Introdução à linguística 2: domínio e fronteiras. 
São Paulo: Cortez, 2000.
SPERBER, Dan; WILSON, Deirdre. Relevance: communication 
and cognition. Cambridge: Harvard University Press, 1995.
TARSKI, A. La concepción semántica de la verdade y los 
fundamentos de la semántica. Buenos Aires: Nueva 
Visión, 1972.
Atividades
 1) Diga de que maneira explicamos o significado da sentença 
em (1) nos remetendo ao mundo externo:
(1) A estrela da manhã é a estrela da tarde.
 2) Podemos falar sobre dois tipos de significado em relação 
ao advérbio “hoje”, aquele que ignora o contexto de uso 
e o que depende deste contexto. Quais seriam as duas 
análises?
 3) Como se explica que a cognição humana não permite que 
um falante racional produza um enunciado do tipo que 
está em negrito no diálogo a seguir?
"Hoje" como termo de significado fixo, como ontem e amanhã; e "hoje" considerando o contexto de comunicação, no qual o ato de fala é produzido.
Vênus
18 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
 A: Tiago acabou de chegar de viagem. Você sabe de onde 
ele veio?
B: Ele veio para Santa Catarina.
 4) Vimos que, para a semântica das condições de verdade 
(ou semântica formal), o significado de uma sentença é 
dado em função da satisfação das condições necessárias 
no mundo para que a sentença seja verdadeira. Assim, 
conhecer o significado de uma sentença é saber em que 
circunstâncias, no mundo, tal sentença pode ser conside-
rada verdadeira ou falsa. Quando ouvimos o enunciado 
da sentença “Tem uma mosca na salada”, podemos não 
saber se ela é verdadeira ou falsa, mas sabemos em que 
situações ela seria verdadeira. Esse conhecimento é se-
mântico, faz parte do nosso conhecimento do significado 
da sentença “Tem uma mosca na salada”.
 Cada parte do significado de uma sentença contribui para 
o significado da sentença toda, e se entre palavras há re-
lações semânticas, entre sentenças também há, e as pa-
lavras dentro de sentenças influenciam nas relações entre 
as sentenças que as contêm. Por exemplo, “mosca” é hi-
pônimo de “inseto”, pois seu significado está incluído no 
de inseto, então, se existir alguma mosca, necessariamente 
existe um inseto. Paralelamente, as sentenças “Tem uma 
mosca na salada” e “Tem um inseto na salada” também 
mantêm uma relação que, neste caso, é o de acarreta-
mento, ou seja, se a primeira é verdadeira, a segunda ne-
cessariamente o é também.
porque temos relações estabelecidas como vem de e vai para.
Capítulo 1 Estudo do Significado Linguístico 19
 Diga se os pares de sentenças abaixo mantêm uma rela-
ção de acarretamento entre si, ou não3:
a) Uma menina passou correndo por aqui.
 Uma pessoa passou correndo por aqui.
b) Ouvia-se uma pessoa cantando.
Ouvia-se um homem cantando.
 5) Faça a mesma análise da questão 4 nos seguintes pares:
a) Hoje teve sol.
 Hoje fez calor.
b) João tirou nota 10.
 Alguém tirou nota 10.
3 Os exemplos são adaptados de Fiorin (2003, p. 253-254).
Jane Sirlei Kuck Konrad1
Capítulo 2
Sinonímia, Antonímia, 
Hiponímia e 
Hiperonímia
1 Especialista em Administração e Planejamento para Docentes.
Capítulo 2 Sinonímia, Antonímia, Hiponímia e Hiperonímia 21
Introdução
Como você já leu anteriormente, este livro fala sobre Semânti-
ca, que é uma área da Linguística que estuda o significado de 
palavras, frases, expressões, bem como suas interpretações.
Veja estes exemplos:
 1) A mãe se dirige ao seu filho:
 “-João, feche a porta dos fundos, está entrando um vento 
frio.”
 2) O papa fala num concílio:
 “- Amados, fechem a porta dos fundos das igrejas, esta-
mos perdendo muitos fiéis.”
No primeiro exemplo, o sentido de “fechar a porta” é li-
teral, físico, pois há vento frio entrando pela porta. Já no se-
gundo exemplo, o papa se refere à saída de fiéis da igreja, 
por diversos motivos, e é preciso encontrar alternativas para 
estancar essa saída.
Dentro da Semântica há uma área chamada Semântica 
Lexical. Semântica Lexical, como o termo sugere, se origina 
das palavras léxico e semântica. Léxico nada mais é do é o 
conjunto de palavras usadas em uma língua ou em um texto. E 
semântica estuda o significado de palavras, frases, expressões, 
bem como suas interpretações.
A Semântica Lexical é, na verdade, uma das teorias, dentre 
as muitas, que se dedicam aos estudos semânticos. É uma te-
oria que faz parte da semântica estruturalista. A preocupação 
22 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
principal está na linguagem. Lembra dos estudos de Saussure, 
conhecido como o pai da Linguística? Ele defendia exatamente 
essa ideia, ênfase na linguagem, não nas coisas. Na semânti-
ca lexical as palavras sempre serão definidas ou interpretadas 
em relação a outras, pois elas se encontram dentro de um 
sistema lexical.
No que diz respeito às relações de significados que há en-
tre palavras, quando se fala de Semântica Lexical existem dois 
termos importantes: campo lexical e campo semântico.
Campo lexical – Cada língua, no seu léxico, conjunto de 
palavras, apresenta uma variedade de campos lexicais, que 
podem ser definidos como subconjuntos de palavras da mesma 
área de conhecimento. Também podem ser palavras cognatas, 
ou seja, palavras formadas por composição e derivação, a 
partir de um mesmo radical. Como a língua é um instrumento 
vivo, dinâmico, esses campos podem ser modificados, por isso 
a relação entre eles também pode mudar.
Peguemos como exemplo o campo lexical alimentação, 
para construir todo campo lexical podemos usar palavras 
como, feijão, arroz, leite, pão, café, carne, legumes etc.
Outros exemplos:
Campo lexical de praia: areia, água, calor, diversão, cer-
veja etc.
Campo lexical de viagem: descanso, trabalho, passeio, 
lazer etc.
Capítulo 2 Sinonímia, Antonímia, Hiponímia e Hiperonímia 23
Campo lexical de casa: família, lar, aconchego, amigos 
etc.
Campo lexical de empresa: trabalho, realização, constru-
ção etc.
Campo lexical de pedra: pedregulho, pedreira, pedreiro 
etc.
Campo semântico: – O campo semântico de uma de-
terminada palavra é o conjunto de todos os significados e 
possibilidades que ela pode ter. O conjunto de palavras uni-
das pelo sentido, dependendo do contexto, portanto, é mais 
abrangente.
Por exemplo, apalavra “az”, pode se referir a uma carta 
de baralho ou a alguém muito bom em alguma coisa.
Outros exemplos:
 Â Campo semântico de partir: ir embora, zarpar, fugir, 
sair, morrer, quebrar, espatifar, fraturar, angustiar, in-
quietar, …
 Â Campo semântico de nota: dinheiro, grana, conta, 
talão, anotação, bilhete, comentário, aviso, explicação, 
som, tom, …
 Â Campo semântico de conta: cálculo, contagem, con-
sideração, apreço, estima, responsabilidade, nota, fatu-
ra, miçanga, vidrilho, …
24 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
 Â Campo semântico de cabeça: crânio, coco, inteli-
gência, juízo, memória, imaginação, líder, comandante, 
topo, …
 Â Campo semântico de guarda: vigilante, sentinela, vi-
gilância, tutela, custódia, proteção, preservação, salva-
guarda, …
 Â Campo semântico de natureza: meio ambiente, seres 
vivos, modo de ser, essência, temperamento, qualidade, 
tipo, …
Neste capítulo abordaremos algumas das relações semân-
ticas, a saber: sinonímia, antonímia, hiperonímia e hiponímia.
2.1 Sinonímia e Antonímia
2.1.1 Sinonímia
Sinonímia é a parte da Semântica que estuda os sinônimos, 
palavras que apresentam a possibilidade de serem substituídas 
por outras em determinado contexto, apresentando significado 
semelhante.
Veja os exemplos:
 1) João foi buscar o cachorro no pet shop.
João foi buscar o cão no pet shop.
 2) Depois de uma discussão, Joana saiu chorando da casa 
da sua mãe.
Capítulo 2 Sinonímia, Antonímia, Hiponímia e Hiperonímia 25
 Depois de uma discussão, Joana saiu aos prantos da 
casa da sua progenitora.
 3) O juiz inquiriu a testemunha apenas duas vezes, para ele 
a culpa do réu estava clara.
O juiz fez perguntas à testemunha apenas duas vezes, 
para a ele o delito do réu estava nítido.
Em todos os casos observados acima, acontece uma troca 
de palavras ou expressões por outra semelhante. Mas o senti-
do não muda.
Agora veja este exemplo:
 4) Estava com pressa, comi um cachorro-quente.
Estava com pressa, comi um cão-quente.
Então vejam que depende da construção da frase ou ex-
pressão. Por isso não posso trocar a palavra cachorro-quente 
por cão-quente. Não faz nenhum sentido. Principalmente por 
se tratarem de palavras compostas.
Portanto, nos exemplos 1 a 3 temos situações de sinonímia, 
pois há a substituição de palavras ou expressões por outras 
idênticas ou aproximadas, sem mudança substancial do sig-
nificado, em diferentes contextos. Quando a sinonímia não é 
de palavras somente, mas de conteúdo, chama-se sinonímia 
de conteúdo. Aqui nem sempre falamos em sinonímia perfeita, 
mas de sinonímia relativa. Segundo Cançado (2005, p. 44), 
“...não é possível pensar em sinonímia de palavras fora do 
contexto em que são empregadas.” Ainda, segundo Cançado 
(2005, p. 46):
26 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
...mesmo entre sentenças a sinonímia perfeita não existe. Isso 
se procurarmos duas sentenças idênticas em termos de 
estrutura sintática, de entonação, de sugestões, de possi-
bilidades metafóricas e até mesmo de estruturas fonéticas 
e fonológicas. Se esperarmos encontrar sinonímia nessas 
circunstâncias, então não é com surpresa que poderemos 
afirmar que esta não existe.
A sinonímia é muito importante quando pensamos em re-
latos que uma pessoa faz de algo que ouviu, por exemplo. 
Ela não fará um relato literal do que ouviu, mas usará termos 
ou expressões aproximadas. Você certamente já recontou as 
histórias ou conto de fadas que ouviu na infância. Nunca as 
contou usando sempre as mesmas palavras, a menos que seja 
um texto decorado. Também em traduções a sinonímia é mui-
to importante, pois o tradutor irá se deparar com expressões 
que não poderão ser traduzidas literalmente, pois poderiam 
ficar com o sentido distorcido, nestes casos usam-se termos ou 
expressões aproximadas. Igualmente em redações, obras lite-
rárias, textos técnicos, relatórios etc., é comum usar o recurso 
da sinonímia para evitar repetição de termos ou expressões.
2.1.2 Antonímia
A antonímia, por sua vez, carrega o sentido de contrariedade, 
são significados contrários, oposição de sentidos entre as pa-
lavras.
Veja os exemplos a seguir:
 1) Morto/vivo
Capítulo 2 Sinonímia, Antonímia, Hiponímia e Hiperonímia 27
 2) Bom/mau
 3) Cedo/tarde
 4) Alto/baixo
 5) Gordo/magro
 6) Comprou/vendeu
Assim como falamos anteriormente que a sinonímia é rela-
tiva, não perfeita, o mesmo se aplica à antonímia. Nem sem-
pre encontramos um antônimo perfeito. Por isso costuma se 
falar em graus de antonímia.
Voltando aos nossos exemplos acima:
No exemplo 1: morto/vivo e no exemplo 6: comprou/
vendeu, temos antônimos mais perfeitos do que nos outros 
exemplos, pois um excluem o outro.
Vejamos o exemplo 2: bom/mau. Um exemplo mau de 
uma pessoa, em tese, se oporia a um exemplo bom. Mas se 
eu disser que pessoa x deu exemplo menos mau que pessoa y, 
pode equivaler a dizer que pessoa x é melhor. O mesmo pode-
-se aplicar aos outros exemplos, os pares: cedo/tarde; alto/
baixo; gordo/magro. Em qualquer um desses pares, sempre 
que se fizer uma comparação há a questão subjetiva, pois de-
penderá com quem vai se fazer a comparação. Posso dizer 
que uma pessoa é alta ou baixa, dependendo com quem está 
sendo comparada.
28 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
2.1.2.1 Classificação de antonímias
Antônimos binários ou complementares: quando uma é 
aplicada a outra não poderá ser aplicada ou quando a afir-
mação de um supõe a negação do outro.
a) Morto/vivo:
b) Esquerdo/direito:
c) Par/ímpar:
d) Verdadeiro/falso:
e) Mesmo/diferentes:
Nos exemplos acima listados facilmente se percebe que 
quando se aplica um predicado o outro não pode ser apli-
cado. Por exemplo, se um sujeito está vivo, exclui a possibi-
Capítulo 2 Sinonímia, Antonímia, Hiponímia e Hiperonímia 29
lidade de estar morto. O braço esquerdo necessariamente é 
o esquerdo, jamais será o braço direito, e vice-versa. Se um 
número é par, exclui-se a possibilidade de ser ímpar. Se uma 
questão é verdadeira não pode ser falsa.
Antônimos de conversão: Pode ser definido como uma 
relação de sentidos entre predicados.
Se um predicado descreve um relacionamento entre duas 
coisas (ou pessoas) e outro predicado descreve a mesma re-
lação quando as duas coisas (ou pessoas) são mencionadas 
em ordem oposta, então esses dois predicados são conversos. 
(JAMES R. HURFORD, B. HEASLEY, 2004, p. 159)
Veja os exemplos:
 Pedro é filho de Antônio.
 Antônio é pai de Pedro.
 Luís pagou 10 reais ao pedreiro.
 O pedreiro recebeu 10 reais de Luís.
 Suzana comprou um perfume de Sílvia.
 Sílvia vendeu um perfume à Suzana.
Em todos estes exemplos citados, quando se diz a mesma 
coisa em relação inversa os predicados são conversos. Tam-
bém são conhecidos como antônimos recíprocos, pois as duas 
palavras supõem-se mutuamente.
Você poderá fazer este exercício com outros pares de antô-
nimos, por exemplo: abaixo/acima; avô/neto; tomar empres-
tado/emprestar.
30 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
Antônimos Graduais: São chamados de predicados gra-
duais ou antônimos graduais, quando entre as duas palavras 
existem outras de grau intermediário ou se estão em lados 
opostos numa escala de valores.
Um exemplo clássico são os antônimos quente/frio.
Pensando nestes dois predicados opostos, percebemos que 
pode haver outros intermediários, como morno, temperado. 
Assim como a definição de frio ou quente pode ser subjetivo. 
Na região Norte um dia frio é diferente de um dia frio na re-
gião Sul. Da mesma forma uma caldeira quente é diferente de 
um forno ou dia quente.
Alguns outros exemplos que se enquadram como antônimos 
graduais: grande/pequeno; inteligente/estúpido; amor/ódio.
Para verificar se as palavras podem ser classificadas em 
graus de antonímia pode-se tentar combiná-las com expres-
sões: meio/um pouco/muito/demais/como, quão.
Nos exemplos citados acima podemos ter situações inter-
mediárias: grande/médio/pequeno; inteligente/sábio/estúpi-
do;amor/ser indiferente/ódio. Além disso, poderíamos usar, 
por exemplo: muito grande, muito inteligente, inteligente de-
mais etc.
2.3 Hiponímia/hiperonímia
O prefixo hipo exprime a ideia de inferioridade, escassez, di-
minuição, de baixo. Provém do grego, hupo. O prefixo hiper, 
Capítulo 2 Sinonímia, Antonímia, Hiponímia e Hiperonímia 31
por sua vez, exprime ideia de posição superior, excesso, aci-
ma. Provém do grego, hupér.
Do ponto de vista da semântica, hipônimos e hiperônimos 
são palavras que pertencem a um mesmo campo semântico, 
tem familiaridade entre si. Como as palavras sugerem, as pa-
lavras hipônimas pertencem a um grupo mais restrito, especí-
fico. Estão num mesmo nível. As palavras hiperônimas perten-
cem a um grupo mais abrangente, de sentido mais genérico.
Observe os exemplos a seguir:
32 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
As palavras da primeira coluna são os hipônimos. Estão 
num mesmo nível, pertencem a uma mesma classe, no exem-
plo, classificadas como árvore, animal, mineral etc. Na se-
gunda coluna estão os hiperônimos, que são mais genéricos, 
mais abrangentes, que representam um grupo, uma classe. 
Obviamente poderíamos ter muito mais hipônimos relaciona-
dos ao hiperônimo árvore, por exemplo, assim como nos ou-
tros exemplos.
Também há palavras que são hipônimas e que numa outra 
relação de hierarquia podem se transformar em hiperônimas.
Veja alguns exemplos:
Pintado
Tambaqui Peixe
Lambari
Pastor alemão
Labrador Cachorro
Vira-lata
Vermelha
Malagueta Pimenta
Calabresa
Mouse
Teclado Computador
Gabinete
Capítulo 2 Sinonímia, Antonímia, Hiponímia e Hiperonímia 33
Destrinçando o exemplo que vimos acima:
O labrador pertence à classe cachorro, cachorro pertence 
à classe animal.
Labrador – cachorro – animal
A malagueta pertence à classe das pimentas, que por sua 
vez pertence à classe das especiarias.
Malagueta – pimenta – especiarias
Portanto, o item mais específico contém todas as outras 
propriedades da cadeia (hipônimo). O item que está contido 
nos outros itens, mas não contém nenhuma das outras pro-
priedades da cadeia é o termo geral (hiperônimo). Sempre o 
hipônimo contém seu hiperônimo, mas o hiperônimo não con-
tém seu hipônimo. Exemplo: toda laranjeira é uma árvore, mas 
nem toda árvore é uma laranjeira; toda bota é um calçado, 
mas nem todo calçado é uma bota; todo lambari é peixe, mas 
nem peixe é lambari.
Recapitulando
Neste capítulo vimos quatro diferentes fenômenos estudados 
pela semântica: sinonímia, antonímia, hiponímia e hiperoní-
mia.
Aprendemos que não existem sinônimos e antônimos per-
feitos e que as palavras hipônimas pertencem a um grupo mais 
34 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
restrito, específico, enquanto que as palavras hiperônimas per-
tencem a um grupo mais abrangente, genérico.
Referências
CANÇADO, Marcia. Manual de semântica – noções básicas 
e exercícios. UFMG, 2005.
HURFORD, James R.; HEASLEY, Brendan. Curso de semânti-
ca. Traduzido por Delzimar da Costa Lima e Dóris Cristina 
Gedrat. Canoas: Ulbra, 2004.
ILARI, Rodolfo. Introdução à semântica. Brincando com a 
gramática. São Paulo: Contexto, 2006.
ILARI, Rodolfo. Semântica. São Paulo: Ática, 2005.
MARQUES, Maria Helena Duarte Marques. Iniciação à se-
mântica. Jorge Zahar, 1996.
Atividades
 1) Sobre sinonímia é correto afirmar:
I) Os sinônimos nem sempre são perfeitos;
II) Dependendo do caso, os sinônimos podem ser relati-
vos;
Capítulo 2 Sinonímia, Antonímia, Hiponímia e Hiperonímia 35
III) Se substituirmos a palavra diferente por distinto, não 
haverá mudança substancial do significado.
a) As três afirmativas estão incorretas.
b) Apenas a afirmativa I está correta.
c) Apenas a afirmativa II está correta.
d) As três afirmativas estão corretas.
e) Apenas a alternativa III está incorreta.
 2) Leia:
I) Assim como a sinonímia, a antonímia é relativa, não 
perfeita.
II) Sempre é possível encontrar um antônimo perfeito.
III) Antonímias não possuem classificação.
a) Apenas a alternativa I é verdadeira.
b) As três alternativas são verdadeiras.
c) As três alternativas são falsas.
d) Apenas a alternativa II é verdadeira.
e) Apenas a alternativa III é verdadeira.
 3) Relacione as colunas:
AB – Antônimos binários ou complementares
AG – Antônimos graduais
36 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
a) ( ) certo/errado
b) ( ) dia/noite
c) ( ) preto/branco
d) ( ) bem/mal
e) ( )alto/baixo
 4) Leia as seguintes frases. Após, dê a classificação das anto-
nímias encontradas:
I) Ana é avó de Joana.
 Joana é neta de Ana.
II) Silvia é mãe de Pedro.
Pedro é filho de Silvia.
III) Álvaro é tio de Marta.
Marta é sobrinha de Álvaro.
a) As três antonímias são de conversão.
b) As três são complementares.
c) As três são graduais.
d) Apenas a I é gradual.
e) Apenas a II é gradual.
 5) Veja:
I) Poodle > cachorro > animal
Capítulo 2 Sinonímia, Antonímia, Hiponímia e Hiperonímia 37
II) Margarida > flor > vegetal
III) Laranja > fruta > vegetal
Agora, assinale a única alternativa correta:
a) Poodle é hiperônimo e animal é hipônimo.
b) Poodle é hipônimo e animal é hiperônimo.
c) Vegetal é hipônimo.
d) Laranja é hiperônimo.
e) Margarida é hiperônimo.
Daisy Batista Pail1
Capítulo 3
Acarretamento e 
Pressuposição1
1 Professora adjunta do curso de Letras da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). 
Doutoranda em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do 
Sul (PUCRS) e colaboradora no grupo de pesquisa SynSemPra (Syntax, Semantics, 
Pragmatics and Interfaces) na mesma Universidade.
Capítulo 3 Acarretamento e Pressuposição 39
Introdução
A esta altura você já deve ter estudado e percebido que os 
estudos da linguagem podem ser feitos através de diferentes 
abordagens, as quais influenciarão a forma como se entende 
o que é língua, o que é linguagem e tantos outros conceitos re-
lacionados ao tema. Uma vez que semântica se encontra den-
tro dos estudos linguísticos, ela também apresenta diferentes 
abordagens, propostas, pontos de vista. Chierchia (2003) di-
vide o estudo do significado em três abordagens: abordagem 
representacional (mentalista), abordagem pragmático-social e 
abordagem representacional (referencial).
A última se aproxima da lógica, pertence a uma vertente 
formalista. Esta, porém, apresenta dois momentos: um anterior 
a Gottlob Frege (1848-1925) e uma posterior (a que chamare-
mos referencial, em consonância com Cançado (2012) e Ilari 
e Geraldi (2003). Nessa não há preocupações quanto ao in-
divíduo, muito menos quanto a aspectos cognitivos e cerebrais 
deste. Estuda-se a linguagem pela linguagem, livre de contex-
to e quaisquer questões subjetivas. A forma de pensamento 
é cartesiana (de Descartes), razão separada da emoção. Em 
Linguística I: Fundamentos, estudamos essa visão, herança de 
filósofos como Aristóteles. Compatível com a proposta aristo-
télica, Gottlob Frege é o maior expoente nessa perspectiva de 
semântica referencial.
Além de sua definição de significado, seu trabalho tam-
bém é relevante devido à distinção entre sentido e referência e 
à noção de quantificador (conforme Oliveira, 2009). É nessa 
visão que estudaremos dois tipos de implicação: acarreta-
40 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
mento e pressuposição. Iniciaremos nosso estudo a partir 
do que pode ser implicação e inferência (seção 1). Uma vez 
que tivermos estudado esses conceitos, poderemos trabalhar 
acarretamento (seção 2), noção puramente semântica. Fina-
lizaremos com uma noção que se encontra nos limites entre 
semântica e pragmática: pressuposição (seção 3).
3.1 Implicação
Assim como tantas outras palavras, implicação também pos-
sui diferentes acepções, tanto no âmbito leigo quanto espe-
cializado. Ela pode se relacionar com inferência, implicatura, 
acarretamento, pressuposição etc. Não é difícil encontrarmos 
frases como ‘isso implicará em queda das vendas‘, ‘isso acar-
reta uma série de ações positivas‘,‘ele pressupõe que teremos 
essa informação‘. Um pouco mais raro é inferir: ‘não consegui 
inferir nada ao assistir O homem duplicado‘. Nas acepções 
especializadas, porém, essas palavras assumem significados 
distintos, isto é, deixam de ser sinônimas. De semelhante, to-
das trazem subentendida a ideia de “resultar”, ou seja, um 
processo de significação que permite concluir-se algo.
Segundo Cançado (2012, p. 32), implicação pode ser assu-
mida de forma escalar; “indo da noção mais restrita da implica-
ção conhecida como acarretamento à noção mais abrangente 
da implicação conhecida como implicatura conversacional”. 
Neste capítulo estudaremos dois tipos de implicação. O pri-
meiro é estritamente semântico, livre de contexto, apenas o que 
está contido explicitamente na sentença e considerado. A esse 
Capítulo 3 Acarretamento e Pressuposição 41
tipo de implicação damos o nome de acarretamento. O se-
gundo é uma noção semântico-pragmática. Semântico, pois o 
conteúdo codificado é ponto de partida; e pragmático, porque, 
se refere também a um conhecimento de mundo dos falantes. 
Esse tipo é chamado de pressuposição. Outro tipo de impli-
cação importante é a implicatura. Essa é uma noção prag-
mática, está relacionada ao indivíduo, ao contexto, a intenção 
(como estudaremos na parte de pragmática).
3.2 Acarretamento
No primeiro capítulo, fomos introduzidos aos estudos dos sig-
nificados. Também já vimos que podemos fazer isso pelo viés 
pragmático ou pelo semântico. Nesse, tradicionalmente, há 
uma tendência de se entender a tarefa do semanticista como 
determinar o significado das palavras. Segundo Chierchia 
(2003, p. 171), “os fatos e as generalizações semânticas vão 
muito além daquilo que diz respeito ao significado das pala-
vras”. Em verdade, o principal objetivo da semântica talvez 
não fosse este, mas “o estudo das operações através das quais 
os significados das palavras são combinados e integrados nos 
significados de expressões complexas” (CHIERCHIA, 2003). 
Passemos ao exemplo a seguir:
(1) a. O Homem-Aranha que fez a rede de proteção das 
janelas no meu apartamento.
 b. A rede de proteção das janelas do meu aparta-
mento foi feita por Peter Parker.
42 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
Ainda que nunca tenha ouvido essas frases antes, um fa-
lante de língua portuguesa será capaz de avaliar como essas 
duas sentenças se relacionam semanticamente. Nós percebe-
mos que se ‘a‘ for assumida como verdadeira, ‘b‘ também 
será verdadeira, que elas podem ser usadas como sinônimas. 
“Assim como sabemos emitir juízos de boa formação sobre 
as sentenças de nossa língua, também sabemos emitir juízos 
sobre o modo como duas sentenças se relacionam semanti-
camente” (CHIERCHIA, 2003, p. 172). Isso é possível devido 
à nossa competência semântica: “[a] capacidade de emitir 
juízos só pode ser a manifestação daquilo que sabemos impli-
citamente sobre o significado das expressões de nossa língua” 
(CHIERCHIA, 2003, p. 172).
Como vimos ao estudarmos hiponímia, o significado de 
uma palavra pode “estar contida” em outra. Como ‘aparta-
mento‘ “está dentro de” ‘residência‘, pois esta é mais ampla 
que ‘apartamento‘. Vejamos os exemplos a seguir:
(2) a. Eles sabem que o curso iniciará esta tarde.
 b. O curso começará à tarde.
(3) a. A criança quebrou o vidro da porta com uma pedra.
 c. O vidro da porta está quebrado.
É possível a qualquer falante de nossa língua dizer que exis-
te relação de sentido entre as frases em (2) e em (3). Identi-
ficamos que se ‘a‘ (tanto em 2 como em 3) é verdadeira, ‘b‘ 
será necessariamente verdadeira, pois – assim como ocorre 
na hiponímia – ‘b‘ está dentro de ‘a‘. Cançado (2012, p. 32) 
Capítulo 3 Acarretamento e Pressuposição 43
afirma que acarretamento ocorre “quando o sentido de uma 
sentença está incluído no sentido de outra.”
(4) a. Ana fará a apresentação ou Paulo exibirá o vídeo.
 b. Ana fará a apresentação e Paulo exibirá o vídeo.
 c. Paulo exibirá o vídeo.
Assumindo que a 4a seja uma sentença verdadeira, não 
podemos afirmar o mesmo sobre 4c. A partir de 4a não temos 
certeza se Ana fará a apresentação ou se Paulo exibirá o vídeo 
(valor disjuntivo de ‘ou‘) ou se ambos serão envolvidos (valor 
injuntivo de ‘ou‘). Intuitivamente, tendemos a interpretar pelo 
valor disjuntivo, ou um ou outro, mas não os dois, aumentan-
do a dúvida sobre 4c. Se, entretanto, avaliarmos 4c partindo 
de 4b, nossa conclusão será diferente: assumiremos 4c como 
verdadeira também. Para Chierchia (2003, p. 173), isso “deve 
estar relacionado aos significados diferentes destas duas con-
junções coordenativas.”, mas não somente delas.
(5) a. Ele pegou dinheiro e foi ao banco.
 b. Ele foi ao banco e pegou dinheiro.
Enquanto em 4b podemos inverter as orações que com-
põem a sentença sem alteração aparente do significado, não 
podemos fazer o mesmo em 5. Em 5a, concluímos que a pes-
soa foi fazer um depósito; em 5b, saque. Notemos, contudo, 
que essa conclusão não é necessária como ocorre nos exem-
plos anteriores. A pessoa poderia ter ido pagar uma conta no 
caixa, entregar dinheiro para alguém ou qualquer outra coisa 
saque ou depósito
44 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
em 5a, da mesma forma poderíamos chegar a conclusões di-
ferentes em 5b. Nesse exemplo, não temos acarretamento.
Chierchia (2003, p. 174) caracteriza acarretamento (ele 
usa o termo consequência) da seguinte forma:
(6) A2 é uma consequência de B3 se (=se, e apenas se)
i. a informação associada a A já está contida em B;
ii. se B for verdadeira no tempo t, então A também é 
verdadeira no mesmo tempo t;
iii. toda situação que puder ser descrita através de B 
também pode sê-lo através de A.
Leia-se que uma sentença será acarretamento de outra 
se atender àquelas condições. Consideremos nosso primeiro 
exemplo:
•	 	1b	 (A	 rede	de	proteção	das	 janelas	do	meu	apar-
tamento foram feitas por Peter Parker.) é acarreta-
mento de 1a (O Homem-Aranha que fez a rede de 
proteção das janelas no meu apartamento.), pois 1b 
está contida em 1a; assumindo-se 1a como verda-
deira no tempo t, então 1b também é verdadeira no 
mesmo tempo t.
Cançado (2012, p. 33) caracteriza acarretamento da mes-
ma forma, ainda que com outras palavras, como consta a se-
guir:
2 Essa é a sentença sendo avaliada com relação a outra.
3 Essa é a sentença tomada como partida para avaliação de outra.
sentença sendo avaliada com relação a outra.
sentença tomada como partida para avaliação de outra.
Capítulo 3 Acarretamento e Pressuposição 45
(7) Duas sentenças estabelecem uma relação de acarre-
tamento se:
•	 	a	sentença	(a)	for	verdadeira,	a	sentença	(b)	também	
será verdadeira;
•	 	a	informação	da	sentença	(b)	estiver	contida	na	in-
formação da sentença (a);
•	 	a	sentença	 (a)	e	a	negação	da	sentença	 (b)	 forem	
sentenças contraditórias.
Exemplos:
(8) a. Em determinado momento, o mestre segura um 
dos pés do aprendiz, que está de ponta cabeça. 
(Galileu, 2015)
 b. O aprendiz não está de ponta cabeça.
A sentença 8a não acarreta a sentença 8b, pois a informa-
ção associada a 8b não está contida em 8a. Se negarmos 8b, 
não haverá contradição com relação a 8a: “Não é verdade 
que o aprendiz não está de ponta cabeça”.
(9) a. Paulo sabe que sua filha chegou.
 b. Paulo acredita que sua filha chegou.
 c. A filha de Paulo chegou.
Temos dois verbos de natureza diferente em (9). ‘Saber‘ e 
‘acreditar‘ não envolvem da mesma forma a noção de ver-
dade. Enquanto 9a acarreta 9c, o mesmo não acontece em 
relação a 9b e 9c. A relação entre 9b e 9c não é necessária, 
O aprendiz está de ponta cabeça
46 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
ou seja, pode ser negada sem que haja necessariamente con-
tradição. ‘Saber‘ pressupõe a existência do objeto (em sentido 
amplo), ‘acreditar‘, por outro lado, não. É possível acreditar 
em algo que não seja verdade.
(10) a. Ana acredita em unicórnios mágicos que moram 
em Boa Vista.
 b. Unicórnios mágicos moram em Boa Vista.(11) a. Não foi Ana quem gabaritou a prova de semânti-
ca.
 b. Alguém gabaritou a prova de semântica.
A sentença 11a não acarreta 11b, a negação sobre ‘a‘ não 
leva a afirmação de ‘b‘.
(11) c. Não foi Ana quem gabaritou a prova de semânti-
ca, na verdade ninguém conseguiu.
A noção de acarretamento só se aplica a sentenças de-
clarativas, assim sentenças interrogativas, por exemplo, não 
podem ser avaliadas dessa forma.
Segundo Ilari e Geraldi (2003, p. 53), “a relação de con-
sequência entre orações é extremamente importante: compre-
ender corretamente uma frase é, numa situação dada, saber 
enumerar todas as suas consequências”.
Capítulo 3 Acarretamento e Pressuposição 47
3.3 Pressuposição
Enquanto acarretamento é uma noção puramente semântica, 
a pressuposição se encontra no limite entre semântica e prag-
mática. Vejamos os exemplos a seguir:
(12) a. Paulo parou de correr pelo parque.
(13) a. Não foi a Ana que gabaritou a prova de semânti-
ca.
(14) a. Ana se certificou de que havia enviado o relatório.
Em todas essas sentenças, outras informações são reco-
nhecidas, como consta a seguir:
(12) b. Paulo corria pelo parque.
 c. Paulo não corre mais pelo parque.
(13) b. Alguém gabaritou a prova de semântica.
(14) b. Ana enviou o relatório.
As informações dessas outras sentenças são admitidas im-
plicitamente, conforme observado por Frege. Veja essa outra 
sentença:
(12) d. Não é verdade que Paulo parou de correr 
pelo parque.
Ao se fazer a negação de 12a, podemos perceber que 
somente o conteúdo de 12c é afetado, como observado por 
Frege. A partir disso, ele também apontou que, como reitera-
do por Ilari e Geraldi (2003), 12b não é conteúdo declarado. 
48 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
Esse conteúdo Frege chamou de pressuposição. Há pressu-
posição quando uma sentença A pressupõe uma sentença B 
“toda vez que tanto a verdade quanto a falsidade da primei-
ra acarretam a verdade da segunda” (ILARI; GERALDI, 2003, 
p. 61). Cançado (2012) propõe um “teste” para verificar se 
uma sentença pressupõe a outra ou não. Faz-se uma família 
de sentenças e se uma informação continua inalterada, essa 
informação constitui uma pressuposição.
Aplicando esse teste às sentenças (12), (13) e (14):
 Â Sentença afirmativa;
 Â Sentença negativa;
 Â Sentença condicional;
 Â Sentença interrogativa.
(12) a. Paulo parou de correr pelo parque.
 a‘. Não é verdade que Paulo parou de correr pelo 
parque.
 a‘‘. Se Paulo parou de correr pelo parque, então ele 
está correndo por outro lugar.
 a‘‘‘. Paulo parou de correr pelo parque?
(13) a. Não foi a Ana que gabaritou a prova de semântica.
 a‘. Foi a Ana que gabaritou a prova de semântica.
Capítulo 3 Acarretamento e Pressuposição 49
 a‘‘. Não foi a Ana que gabaritou a prova de semân-
tica?
 a‘‘‘. Se não foi a Ana que gabaritou a prova de se-
mântica, então deve ter sido Pedro.
(14) a. Ana se certificou de que havia enviado o relatório.
 a‘. Não é verdade que Ana se certificou de que ha-
via enviado o relatório.
 a‘‘. Ana se certificou de que havia enviado o relató-
rio?
 a‘‘‘. Se Ana se certificou de que havia enviado o 
relatório, então não haverá problema.
Em todas, se toma como verdade a sentença ‘b‘, ainda que 
possa ser negado. É possível que em alguns casos tenhamos 
acarretamento e pressuposição, mas existência de acarreta-
mento não implica em pressuposição e vice-versa.
Recapitulando
Nesse capítulo, estudamos a possibilidade de diferentes tipos 
de implicação, focando em dois, especificamente, acarreta-
mento e pressuposição. O acarretamento é uma relação de 
implicação necessária entre duas sentenças, e, por isso, não 
pode ser negada. Ele é uma noção puramente semântica, isto 
é, apenas o conteúdo proposicional é considerado. A pres-
suposição, por outro lado, se encontra no meio do caminho 
50 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
entre semântica e pragmática. Enquanto a primeira envolve 
apenas o conteúdo declarado na sentença, a segunda envolve 
um conteúdo não declarado, ligado a nosso conhecimento de 
mundo e que pode ser negado. Lembramos, entretanto, que 
esses dois tipos de implicação não são os únicos que existem.
Referências
CANÇADO, Márcia. Manual de semântica. São Paulo: 
Contexto, 2012.
CHIERCHIA, Gennaro. Semântica. Tradução Luiz Arthur 
Pagani, Lígia Negri, Rodolfo Ilari. Campinas, SP: Editora da 
UNICAMP, 2003.
ILARI, Rodolfo; GERALDI, João Wanderley. Semântica. 11. ed. 
São Paulo: Ática, 2006.
OLIVEIRA, Roberta Pires de. Semântica. In MUSSALIM, 
Fernanda; BENTES, Anna Christina (orgs.). Introdução 
à linguística: domínios e fronteiras. 6. ed. São Paulo: 
Cortez, 2009.
Atividades
 1) Diga, das afirmações após o texto a seguir, se são (ou não) 
acarretamentos e/ou pressuposições, justificando sua res-
posta de acordo com as definições:
Capítulo 3 Acarretamento e Pressuposição 51
Tiro único – Voz fraca faz Lula focar em São Paulo 
Em recuperação, ex-presidente evita viagens e não deve vir 
a Porto Alegre.
Em sua primeira eleição após deixar o poder, o cabo eleito-
ral mais disputado do país faz uma campanha reclusa.
Ainda em recuperação – com garganta fragilizada pelo tra-
tamento contra câncer -, ex-presidente Lula tem priori-
zado a atuação de bastidores. (Zero Hora, Domingo, 
16 de setembro)
I) Lula foi presidente. 
II) Lula tinha voz forte.
III) Lula ainda não está bem. 
IV) Lula não está em Porto Alegre.
V) Lula esteve no poder. 
VI) Lula está concorrendo. 
VII) Há outros cabos eleitorais disputados.
VIII) Lula tem câncer.
 2) Marque a alternativa que não apresenta acarretamento e 
nem pressuposição:
I) ( ) a. Ana acredita que eu sei onde fica o bar.
 b. Sei onde fica o bar.
II) ( ) a. Não foi Paulo quem preparou o jantar.
ACARRETAMENTO
52 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
 b. Alguém preparou o jantar.
III) ( ) a. João adivinhou que choveria.
 b. Choveu.
IV) ( ) a. Minha avó adorou o creme hidratante que ga-
nhou.
 b. Minha avó ganhou um creme hidratante.
V) ( ) a. Ana parou de conversar pelo MSN.
 b. Ana conversava pelo MSN.
 3) Indique quais alternativas apresentam acarretamento e/ou 
pressuposição.
I) ( ) a. A prova será obrigatória a partir deste ano.
 b. Todos deverão fazer a prova.
II) ( ) a. Inicialmente, a prova será realizada uma vez por 
ano?
 b. Haverá uma prova a cada ano.
III) ( ) a. Munari, artista e designer italiano, morto aos 90, 
em 1998, fez de sua obra uma tentativa de identificar 
estruturas que já existem.
 b. Ele localizou estruturas já existentes.
IV) ( ) a. Sai primeira foto de Tom Hanks caracterizado 
como Walt Disney.
 b. Tom Hanks foi fotografado.
Capítulo 3 Acarretamento e Pressuposição 53
 4) Considere o par de sentenças abaixo e marque a alterna-
tiva correta.
I) Proibir o uso de máscaras não é o pior que pode acon-
tecer.
II) Algo pior do que a proibição do uso de máscaras pode 
acontecer.
a) No par de sentenças não há pressuposição;
b) No par de sentenças não há acarretamento;
c) No par de sentenças há somente pressuposição;
d) No par de sentenças há somente acarretamento;
e) No par de sentenças há acarretamento e pressuposi-
ção.
 5) Considerando a noção de acarretamento, preencha as la-
cunas com ‘todos‘ e ‘nem todos‘ de modo que a afirmação 
seja verdadeira.
a) __________ maçãs são frutas, mas ________ frutas 
são maçãs.
b) __________ remédios são anti-histamínicos, mas 
________ anti-histamínicos são remédios.
c) ________ pessoas que ganharam o prêmio Nobel são 
físicos, mas _______ físicos que ganharam o prêmio 
Nobel são pessoas.
d) _______ furacão é uma tempestade, mas _______ é 
um furacão.
54 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
e) _______ artefatos achados nessa escavação são pe-
dras, mas ________ artefatos de pedra foram achados 
nessa escavação.
Jane Sirlei Kuck Konrad1
Capítulo 4
Ambiguidade e Vagueza1
1 Especialista em Administração e Planejamento para Docentes.
56 Língua Portuguesa VII: Semânticae Pragmática
Introdução
Neste capítulo você encontrará importantes definições e exem-
plos esclarecedores acerca de dois fenômenos semânticos de-
finidos como ambiguidade e vagueza. 
Ambiguidade
Você certamente já se deparou com afirmações, sejam elas 
escritas ou faladas, em que ficou em dúvida sobre seu real 
sentido, pois poderia haver diferentes interpretações.
Veja estes exemplos:
 1) Pedro ama Maria tanto quanto sua mãe.
Poderíamos entender que:
a) Pedro ama Maria tanto quanto sua mãe ama Maria.
b) Pedro ama Maria tanto quanto ele ama sua mãe.
 2) Os meninos tinham 10 jogos de videogame.
Cada menino tinha 10 jogos de videogame ou os 10 jogos 
estavam distribuídos entre eles?
 3) Conversei com Antônio enquanto caminhava pelo 
shopping.
Quem caminhava pelo shopping? Eu ou Antônio?
Veja este conto de Luís Fernando Veríssimo:
Capítulo 4 Ambiguidade e Vagueza 57
Conto Erótico 
- Assim? 
- É. Assim. 
- Mais depressa? 
- Não. Assim está bem. Um pouco mais par... 
- Assim? 
- Não, espere. 
- Você disse que... 
- Para o lado. Para o lado! 
- Querido... 
- Estava bem mas você... 
- Eu sei. Vamos recomeçar. Diga quando estiver bem. 
- Estava perfeito e você... 
- Desculpe. 
- Você se descontrolou e perdeu o... 
- Eu já pedi desculpas! 
- Está bem. Vamos tentar outra vez. Agora. 
- Assim? 
- Um pouco mais para cima. 
- Aqui? 
- Quase. Está quase! 
- Me diga como você quer. Oh, querido... 
- Um pouco mais para baixo. 
- Sim. 
- Agora para o lado. Rápido! 
- Amor, eu... 
- Para cima! Um pouquinho... 
- Assim? 
- Ai! Ai! 
- Está bom? 
- Sim. Oh, sim. Oh Yes, sim. 
- Pronto. 
- Não! Continue. 
- Puxa, mas você... 
- Olha aí. Agora você... 
- Deixa ver... 
- Não, não. Mais para cima. 
- Aqui? 
 
- Mais. Agora para o lado. 
- Assim? Para a esquerda. O lado esquerdo! 
- Aqui? 
- Isso! Agora coça.
Disponível em: http://www.paralerepensar.com.br/verissimo_contoerotico.htm
58 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
As construções acima demonstradas são exemplos de am-
biguidade, quando há mais de um sentido em palavras, frases, 
proposições ou textos. A ambiguidade pode servir como recur-
so estilístico – como no caso do Conto Erótico -, mas também 
pode ser um vício de linguagem, quando as palavras são mal 
empregadas em frases. Resumindo, a ambiguidade pode ser 
um problema ou um recurso.
4.1 A ambiguidade como problema
a. Ambiguidade lexical
É quando a ambiguidade acontece em relação às palavras. 
Isso acontece quando uma palavra admite, pelo menos, uma 
dupla interpretação em determinado contexto. E quando não 
empregada ou transmitida corretamente gera ambiguidade.
Pode ser gerada por dois tipos de fenômenos: homonímia 
e polissemia.
Homonímia: é a relação entre duas ou mais palavras com 
significados diferentes, porém com a mesma estrutura fono-
lógica. A homonímia ocorre quando os sentidos da palavra 
ambígua não são relacionados.
Veja os exemplos:
a) O jogador foi para o banco.
b) Sofia limpou a manga antes de comer.
c) Vovó adorava aquele canto.
Capítulo 4 Ambiguidade e Vagueza 59
 Â No exemplo (a) fica a dúvida para qual banco o jogador 
foi. O banco instituição financeira, banco de reservas ou 
o banco da praça?
 Â No exemplo (b) não sabemos de Sofia limpou a manga 
da camisa ou a manga (fruta)?
 Â No exemplo (c) a vovó adorava aquele canto (música/
composição) ou um canto (espaço)?
Polissemia: acontece quando uma palavra ou expressão 
possui mais de um sentido, além do seu sentido original.
Veja os exemplos:
a) A professora reclamou da letra de Roberto.
b) A letra daquela música resumia-se a meia dúzia de 
palavras.
c) Pelé faz um gol de letra na Copa do Mundo de 1970.
d) Paulo interpretou tudo ao pé da letra.
A palavra letra possui significados diversos em cada um 
dos exemplos, podendo, porém, ser entendido pelo contexto.
 Â No exemplo (a): trata-se de caligrafia.
 Â No exemplo (b): trata-se de composição musical.
 Â No exemplo (c): trata-se de gol bonito.
 Â No exemplo (d): trata-se de interpretação literal.
Importante: Nos casos de ambiguidade lexical a análise 
sempre acontece em relação a palavras ou termos, porém não 
60 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
está relacionada às funções que os termos exercem na oração. 
Algumas vezes também se confunde homonímia e polissemia. 
Lembre-se: quando duas ou mais palavras com origens e sig-
nificados diferentes apresentam a mesma grafia e fonologia 
são classificadas como caso de homonímia. Polissemia, por 
outro lado, acontece quando a mesma palavra apresenta vá-
rios significados.
b. Ambiguidade sintática
No caso da ambiguidade sintática a questão está relacionada 
às funções que os termos exercem na oração. Não há a neces-
sidade de interpretar as palavras individualmente. A ambigui-
dade acontece em relação à estrutura sintática.
Veja os exemplos:
a) Eu ouvi a notícia sobre o incêndio na empresa.
b) Carlos pediu ao pai para passear.
c) Encontrei a senha do telefone celular que havia perdi-
do.
 Â No exemplo (a) poderíamos interpretar de duas formas: 
Que eu ouvi a notícia sobre o incêndio que aconteceu 
na empresa ou que eu estava na empresa enquanto 
ouvi a notícia sobre o incêndio.
 Â No exemplo (b) poderíamos interpretar: Que Carlos pe-
diu licença ao pai para fazer um passeio ou que Carlos 
fez um pedido ao pai para que passeasse.
Capítulo 4 Ambiguidade e Vagueza 61
 Â No exemplo (c) poderíamos interpretar: Que encontrei a 
senha do celular, pois a havia perdido ou que encontrei 
a senha do telefone celular, o qual havia perdido.
Nestes exemplos fica perceptível que a ambiguidade não 
acontece em relação às palavras, mas a aplicação e funciona-
lidade dos termos na oração.
c. Ambiguidade de escopo
A ambiguidade de escopo envolve a ideia do alcance de uma 
ação, o que se encontra em nosso campo de visão. Geralmen-
te envolvem ideias de distribuição coletiva e outra individual. A 
interpretação de uma expressão depende da outra. Quando a 
estrutura da frase permite duas possibilidades de relação.
Veja os exemplos:
a) João deu um presente para todas as crianças.
b) Todos os atletas torcem para dois times.
No exemplo (a) podemos entender de duas formas: Que 
João deu um presente para cada criança ou que todas elas 
em conjunto receberam um único presente. Então seria repre-
sentado assim:
a1) Todas as crianças – receberam um presente (único).
a2) Cada criança – recebeu um presente (diferente).
No exemplo (b) também pode haver entendimento duplo: 
Que todos os atletas torcem pelos mesmos dois times ou que 
62 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
cada atleta torce para dois times diferentes. Então seria repre-
sentado assim:
b1) Todos os atletas – torcem (para os mesmos) dois times.
b2) Cada atleta – torce para dois times (diferentes)
d. Ambiguidade semântica
Esta ambiguidade não é gerada pelos itens lexicais e nem na 
estrutura da sentença, mas sim pelo fato de os pronomes po-
derem ter diversos antecedentes.
Veja os exemplos:
a) O cachorro do seu vizinho me atacou.
b) O taxista levou Antônio ao hospital com seu próprio 
carro.
c) Arthur conversou com seu professor?
No exemplo (a) a duplicidade de sentido acontece porque 
o pronome seu, antes de cachorro deixa a dúvida: trata-se 
de um animal de estimação que o atacou ou ele se refere ao 
vizinho de alguém que o tratou mal.
No exemplo (b) o pronome seu pode se referir tanto ao 
taxista quanto a Antônio. Assim fica a ambiguidade. Não se 
sabe de quem era o carro.
Capítulo 4 Ambiguidade e Vagueza 63
No exemplo (c) também há ambiguidade. Pode-se inter-
pretar que o interlocutor quer saber se Arthur conversou com 
o professor dele (do Arthur) ou se com o professor de quem 
escuta a pergunta.
Importante: Como vocês puderam perceber, a ambiguida-
de, nos casos citados acima, constitui-se como um vício de 
linguagem. Deve ser evitado. Pode comprometer a compre-
ensão do conteúdo, levar a interpretações equivocadas. Por 
isso sempre é preciso fazer uma revisão acuradaa fim de dar 
clareza aos textos ou enunciados.
4.2 Ambiguidade como recurso
Assim como a ambiguidade pode ser um problema, também 
pode ser usada como recurso. É muito comum usar esse recur-
so em textos humorísticos, músicas, publicidade, quadrinhos e 
até mesmo do ponto de vista visual.
O texto, Conto Erótico no 1, de Luís Fernando Veríssimo, é 
um exemplo de como usar esse recurso em texto humorístico. 
Para quem lê, de fato parece tratar-se de um conto erótico. Na 
última linha a surpresa. Não se tratava disso. O objetivo era 
atrair o leitor, provavelmente.
64 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
Veja estas piadas:
No chuveiro
Manuel está tomando banho e grita para Maria: 
- Ô, Maria, me traz um xampu. 
E Maria lhe entrega o xampu. Logo em seguida, grita nova-
mente: 
- Ô Maria, me traz outro xampu. 
- Mas eu já te dei um agorinha mesmo, homem!!! 
- É que aqui está dizendo que é para cabelos secos e eu já 
molhei os meus.
Na Casa do Patrão
 
O patrão dá uma bronca no caseiro: 
- Olha, seu José, não deixe a sua cadela entrar novamente na 
minha casa! Ela está cheia de pulgas! 
No mesmo instante o caseiro vira-se para a sua cadelinha: 
- Teimosa, vê se não entra mais na casa do patrão! Lá tá cheio 
de pulgas! 
Disponível em: www.piadasdodia.com.br
Nas duas piadas o recurso da ambiguidade é explorado. 
O objetivo é que elas se tornem engraçadas. Na primeira a 
ambiguidade está nos cabelos secos. É um caso de polissemia, 
quando uma mesma palavra passa a ter sentidos diferentes. 
Na segunda piada a ambiguidade está na questão semântica, 
pois fica a dúvida se a casa está cheia de pulgas ou a cadela 
do caseiro.
Capítulo 4 Ambiguidade e Vagueza 65
Vagueza
Assim como a ambiguidade, a vagueza também gera dificul-
dades de interpretação. Isso acontece quando determinado 
termo é aplicado a situações de forma imprecisa. Segundo 
Cançado (2005, p. 62), “...esse fenômeno semântico está as-
sociado a expressões que fazem referência apenas de uma 
maneira aproximada, deixando o contexto acrescentar as in-
formações não especificadas nas expressões vagas.”
Veja os exemplos:
a) Vi um elefante grande.
b) A formiga que me mordeu era grande.
c) Reencontrei meu amigo depois de muito tempo. Qua-
se não o reconheci, pois estava careca.
d) A pedra encontrada por João foi difícil de quebrar, era 
dura.
e) Felipe machucou o pé ao chutar a bola, estava dura.
f) Antônio é alto. Ninguém dos seus irmãos tem sua altu-
ra.
g) Vi de longe meu avô andando na praça. Usava sua 
costumeira camisa vermelha.
h) Cheguei ao balcão e pedi uma cerveja. A atendente 
estava como sempre, simpática.
Nos exemplos da letra (a) e (b), o adjetivo grande se re-
fere tanto a elefante quanto a formiga. Se compararmos os 
66 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
dois animais, obviamente diríamos que um elefante é grande 
e uma formiga pequena. Mas tanto entre os elefantes quanto 
entre as formigas há diferenciação de tamanhos.
No exemplo da letra (c) há dois termos que geram vagueza 
de interpretação.
O primeiro termo é muito tempo. Ele se apresenta como 
um termo vago. Quanto tempo? A ideia de tempo é relativa. 
O que é muito tempo para um pode não ser para outro.
O segundo termo é careca. O que define quando alguém 
é careca? Não se costuma definir graus de calvície. Se alguém 
não tiver nenhum fio de cabelos ou tiver alguns fios definimos 
como sendo careca. Como não há precisão é um termo vago.
Nas letras (d) e (e) o adjetivo é dura. No exemplo da letra 
(d) dura se refere à pedra e na letra (e) dura se refere à bola. 
Ninguém pensaria chutar uma pedra como chuta uma bola. É 
um grau diferente de concepção do adjetivo dura.
Na letra (f) o termo que determina a vagueza é alto. Qual 
a altura de Antônio? Poderia ser que seus irmãos tivessem em 
torno de 1,50 ou 1,60 m. Ou talvez tivessem em torno de 2 m 
de altura. Não existe definição de altura.
Na letra (g) o termo é vermelha. O avô usava a costumeira 
camisa vermelha. As cores possuem tonalidades. Poderia ser 
um vermelho mais claro ou mais escuro. Por isso as cores tam-
bém se enquadram nos termos vagos.
Por último, na letra (h) o adjetivo simpática refere-se a 
atendente. Assim como nos outros casos esse termo é relativo, 
Capítulo 4 Ambiguidade e Vagueza 67
vago. O que eu considero como simpático outra pessoa pode 
não considerar.
Assim como nos casos de ambiguidade, também a vagueza 
somente pode ser resolvida pelo contexto. No caso da ambi-
guidade o contexto ajudará a definir a opção por um dos sen-
tidos. No caso de vagueza o contexto pode acrescentar algum 
detalhe específico que não está na expressão. De algum modo 
a vagueza faz parte da linguagem por questões de conceito 
e percepção. A ambiguidade facilmente pode ser resolvida, 
basta mudar algum termo. Quando se trata de vagueza os 
parâmetros para especificar um termo são o mais complexos.
Recapitulando
Neste capítulo definimos tanto a ambiguidade quanto a va-
gueza. Vimos, por exemplo, que ambiguidade é a duplicidade 
de sentido de uma palavra, de uma oração ou até mesmo de 
um texto e que a vagueza, segundo Cançado (2005, p. 62), 
“...está associada a expressões que fazem referências apenas 
de uma maneira aproximada, deixando o contexto acrescentar 
as informações...”.
Referências
CANÇADO, Marcia. Manual de semântica – noções básicas 
e exercícios. UFMG, 2005.
68 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
HURFORD, James R.; HEASLEY, Brendan. Curso de semânti-
ca. Traduzido por Delzimar da Costa Lima e Dóris Cristina 
Gedrat. Canoas: Ulbra, 2004.
ILARI, R. Introdução à semântica. Brincando com a gramáti-
ca. São Paulo: Contexto, 2006.
ILARI, Rodolfo. Semântica. São Paulo: Ática, 2005.
MARQUES, Maria Helena Duarte Marques. Iniciação à se-
mântica. Jorge Zahar, 1996.
Atividades
 1) Leia as seguintes afirmativas:
I) A ambiguidade pode ser utilizada como recurso de 
expressão em alguns tipos de textos: poesia, humor, 
histórias em quadrinhos e piadas.
II) A ambiguidade pode gerar problemas para a comuni-
cação.
III) A ambiguidade lexical pode ser causada pelos fenô-
menos chamados homonímia e polissemia.
a) Apenas a questão I está correta.
b) Todas as questões estão corretas.
c) Apenas a questão III está incorreta.
d) Apenas as questões I e III estão corretas.
Capítulo 4 Ambiguidade e Vagueza 69
e) Apenas as questões I e II estão corretas.
 2) A frase abaixo apresenta ambiguidade:
O Vereador falará do projeto na Rádio Alternativa.
 Reescreva essa frase, alterando a ordem das palavras, para 
eliminar a ambiguidade; na resposta, acrescente uma vír-
gula à frase.
 3) As seguintes frases estão ambíguas. Reescreva essas frases 
e elimine as ambiguidades:
a) João deve aguardar sua sogra e levá-la em sua cami-
nhonete até o shopping.
b) O homem encontrou o assaltante em sua residência.
c) O pai falou ter julgado o filho errado.
d) Caso você tivesse ido à igreja com Paulo, veria seu 
irmão.
e) Vi o terrível acidente do ônibus.
 4) No mês de junho, o governo do Estado de São Paulo di-
vulgou uma campanha objetivando reduzir o consumo de 
água. Para dar essa notícia, um jornal publicou o seguinte:
 CAMPANHA PARA REDUÇÃO DE CONSUMO DE ÁGUA 
DO GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO ENTRA EM 
NOVA FASE.
 Percebe-se que a manchete tem um duplo sentido. Consi-
derando o objetivo da notícia, esse problema poderia ter 
sido evitado com a seguinte redação:
veria o irmão dele
veria o irmão dele
o homem encontrou o assaltante na minha residência.
o homem encontrou o assaltante na residência dele
que aconteceu no ônibus
de dentro do onibus
O vereador falará do projeto que ocorrerá na rádio alternativa.
O vereador irá a rádio alternativa falar do projeto
O pai falou que julgou o filho de forma errada.
o pai julgou errado o filho
João deve aguardar a sogra dele e leva-la em sua caminhonete até o shopping.
João deve aguardar minha sogra e leva-la em sua caminhonete...
70 Língua Portuguesa VII: Semânticae Pragmática
a) Campanha contra a redução do consumo de água do 
Governo do Estado de São Paulo entra em nova fase.
b) A redução do consumo de água do governo do Estado 
de São Paulo entra em nova fase de Campanha.
c) Campanha contra o governo do Estado de São Paulo 
entra em nova fase de consumo de água.
d) O consumo de água da campanha do governo do 
Estado de São Paulo entra em nova fase.
e) Campanha do governo do Estado de São Paulo para 
a redução do consumo de água entra em nova fase.
 5) Qual a única alternativa em que a frase não é ambígua?
a) Vi o acidente do carro.
b) Ana partiu com seu pai.
c) O cachorro do meu sobrinho é bonito.
d) O padre viu o fiel parado na sacristia.
e) É permitido entrar de chapéu no recinto.
Dóris Cristina Gedrat1
Capítulo 5
Significado, Sentido e 
Referência1
1 Graduada em Letras Português/Inglês, mestre e doutora em Linguística Aplicada 
pela PUC/RS. Atualmente é professora e coordenadora do curso de Letras da Uni-
versidade Luterana do Brasil (Ulbra), em Canoas, RS.
72 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
Introdução
Neste capítulo, estudamos duas maneiras de falar sobre o sig-
nificado de palavras e expressões da linguagem verbal: o sen-
tido e a referência. Ao falar em sentido, lidamos com relações 
dentro da linguagem, ao passo que a referência nos remete a 
relações entre a linguagem e o mundo.
5.1 Sentido e Referência
Foi o filósofo alemão Gottlob Frege (1848-1925) que fez a dis-
tinção entre o sentido e a referência das palavras e expressões 
da linguagem. Segundo Frege, a Semântica, por ser uma ciên-
cia, só pode tratar dos aspectos objetivos do significado, por 
isso é necessário eliminar elementos que dependam da subje-
tividade, que seriam tratados pela Psicologia, ficando para a 
Semântica apenas o significado objetivo, ou seja, os aspectos 
abertos à inspeção pública, sobre os quais a comunidade pode 
concordar. Conforme ilustra Oliveira (2001, p. 20):
Eu e você temos representações distintas de estrela – 
você talvez a associe a um sentimento nostálgico, eu, à 
euforia das viagens espaciais -, mas compartilhamos o 
sentido de estrela, já que sempre concordamos quando 
alguém diz estrela apontando um certo objeto no céu 
que reconhecemos como estrela. Nós também concor-
damos em discordar do uso de estrela para se referir à 
lua, a menos que estejamos diante de algum tipo de uso 
indireto da palavra ou de um engano. O sentido de um 
Capítulo 5 Significado, Sentido e Referência 73
nome próprio como estrela da manhã é o que nos per-
mite alcançar, falar sobre, um certo objeto no mundo da 
razão pública, o planeta Vênus, a sua referência.
Conforme a explicação acima, o sentido é o que nos per-
mite chegar a uma referência no mundo. Frege (1978, p. 63) 
utiliza um exemplo esclarecedor para a distinção entre sentido 
e referência:
No caso de um nome próprio genuíno como “Aristóte-
les”, as opiniões quanto ao sentido podem certamente 
divergir. Poder-se-ia, por exemplo, tomar como seu sen-
tido o seguinte: o discípulo de Platão e o mestre de Ale-
xandre Magno. Quem fizer isto associará outro sentido à 
sentença “Aristóteles nasceu em Estagira” do que alguém 
que tomar como sentido daquele nome: o mestre de Ale-
xandre Magno, que nasceu em Estagira.
Este exemplo de Frege, como um nome próprio, demons-
tra bem o fato de que um mesmo objeto pode ter diferentes 
sentidos. Se o objeto é a pessoa de Aristóteles (a referência do 
termo “Aristóteles”), o “caminho” percorrido (que é o sentido) 
para se chegar a essa referência pode ser tanto o discípulo de 
Platão, como também o mestre de Alexandre Magno. Esses 
dois sentidos são diferentes, dizem coisas bem diferentes, mas 
levam à mesma referência: o filósofo Aristóteles, um ser obje-
tivo no mundo real.
Assim também pode haver sentidos sem referência, por 
exemplo, “a sentença mais longa da Língua Portuguesa”. Essa 
expressão tem sentido, mas dificilmente terá referência, uma 
vez que sempre é possível acrescentar mais uma oração su-
74 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
bordinada a uma sentença, tornando-a mais longa do que a 
anterior, ad infinitum. Em outras palavras, não há como en-
contrar no mundo a referência de “a sentença mais longa da 
Língua Portuguesa”.
Quando há a referência, como no caso de “discípulo de 
Platão”, o sintagma discípulo de Platão refere-se ao homem 
Aristóteles, no mundo real (que já não existe mais, mas exis-
tiu), e Aristóteles é o referente do sintagma. Hurford e Heasley 
– H&H – (2004, p. 43) dão um exemplo ainda mais concreto. 
Eles solicitam que o leitor toque sua orelha esquerda e depois 
explicam que o sintagma sua orelha esquerda refere-se à coisa 
que o leitor tocou em resposta à solicitação acima. Por seu tur-
no, a orelha esquerda do leitor é o referente do sintagma sua 
orelha esquerda, mostrando, assim, concretamente, o que foi 
dito acima, que referência é uma relação entre partes de uma 
língua e coisas fora da língua (no mundo).
Sobre o sentido, os autores (p. 45) dizem: “[...] o sentido de 
uma expressão é o seu lugar num sistema de relações semân-
ticas com outras expressões na língua”, e exemplificam com a 
identidade de significado, um conceito intuitivo. Por exemplo, 
em (1), as palavras destacadas em cada sentença têm o mes-
mo significado:
(1) Ontem eu não fiz nada.
Ontem eu não fiz coisa alguma.
Dizemos que nada e coisa alguma têm o mesmo sentido.
Assim, também, uma mesma palavra pode ter mais de um 
sentido, como ilustrado com a palavra banco em (2):
Capítulo 5 Significado, Sentido e Referência 75
(2) Tenho uma conta no Banco do Brasil.
Nós conduzimos a canoa para o outro banco do rio.
Eu banco o valente quando necessário.
Nota-se, assim, que enquanto o referente de uma expres-
são é, em geral, uma coisa ou pessoa no mundo, o sentido de 
uma expressão é uma abstração que pode existir na mente do 
usuário da língua e, quando alguém compreende o que lhe é 
dito, pode-se afirmar que esta pessoa apreendeu o sentido das 
expressões que ouviu.
5.2 Expressões referenciais
Segundo H&H (p. 54), “uma expressão referencial é qualquer 
expressão usada no enunciado para referir alguma coisa ou 
alguém (ou uma coleção claramente delimitada de pessoas ou 
coisas), isto é, usada com um referente particular na mente.”
Por exemplo, o nome Pedro em um enunciado tal como 
“Pedro é de Pelotas”, onde o falante tem uma pessoa particu-
lar em mente quando diz “Pedro”, é uma expressão referen-
cial. Por outro lado, Pedro em “Não há nenhum Pedro nes-
te endereço” não é uma expressão referencial, porque nesse 
caso o falante não teria uma pessoa específica em mente ao 
enunciar a palavra.
Assim, os autores mostram que sintagmas nominais, como 
nomes, por exemplo, podem ter, ou não, uma interpretação 
referencial, podem ser, ou não, referenciais, dependendo do 
76 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
contexto. Observemos o exemplo (3), com sintagma nominal 
indefinido:
 (3) Uma mulher esteve aqui procurando por você ontem à 
noite.
Será que o sintagma nominal uma mulher está sendo usa-
do para referir uma mulher em particular? Sim, então também 
é uma expressão referencial. Vejamos agora o exemplo (4), 
utilizando sintagma nominal indefinido:
 (4) Os cabelos de João são sedosos como os cabelos de uma 
mulher.
Nesse caso, uma mulher não refere uma mulher particular, 
então, não é uma
expressão referencial.
Consideremos, agora, um exemplo com plural:
 (5) Quatro crianças foram retiradas debaixo dos escombros 
de um edifício que desmoronou durante o terremoto.
A expressão quatro crianças é referencial, pois o repórter 
que enuncia (5) tem
quatro crianças específicas em mente. Já em (6), a mesma 
expressão não é referencial, pois não refere quatro crianças 
específicas no mundo.
 (6) Este carrinho de montanha russa tem capacidade para le-
var quatro crianças.
Capítulo 5 Significado, Sentido e Referência 77
Vejamos agora alguns exemplos de expressões referenciais 
com sintagmasnominais definidos, constatando que eles tam-
bém nem sempre funcionam como expressões referenciais:
 (7) “Ele é uma pessoa sensacional!” – dito por um colega de 
João, a seu respeito.
 (8) “Se alguém algum dia se casar com Mônica, ele está su-
jeito a sofrer.”2
Enquanto em (7) o sintagma nominal definido “ele” é uma 
expressão referencial, em (8) o mesmo sintagma não é ex-
pressão referencial, pois, enquanto em (7) o falante tem um 
homem específico em mente, em (8) isso não ocorre, pois está 
se referindo a algum homem que porventura um dia case com 
Mônica.
Mostramos, assim, que a noção de expressão referencial 
não é sempre fácil de aplicar. Conforme visto nos dois últimos 
exemplos, não é claro o que queremos dizer quando dizemos 
que um falante deve ter um indivíduo em particular em men-
te para fazer uma referência. Portanto, tanto com sintagmas 
nominais indefinidos, como também no caso dos sintagmas 
nominais definidos, a questão se eles são usados como expres-
sões referenciais depende muito do contexto e das circunstân-
cias de uso.
2 Exemplo retirado de H&H (2004, p. 58).
78 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
5.3 Relações de Sentido
Tendo em vista que o “sentido de uma expressão é o conjun-
to total das relações de sentido que ela contrai com outras 
expressões da língua” (H&H, p. 140), é importante estudar-
mos quais são essas relações contraídas entre as expressões 
da língua e entre sentenças. Nosso estudo aqui será limitado a 
duas relações: Sinonímia e Hiponímia. O aluno pode ampliar 
seu estudo sobre as relações de sentido através da bibliografia 
citada sobre este assunto.
Por sinonímia entendemos a relação entre duas expressões 
que têm o mesmo sentido. Embora seja difícil encontrar a sino-
nímia perfeita, é sempre possível dizer se duas expressões, em 
um contexto, são sinônimas. Por exemplo:
 (9) Quantas crianças Pedro e Maria têm?
Quantos filhos Pedro e Maria têm?
As expressões crianças e filhos não são sinônimas fora de 
contexto, mas nas duas sentenças em (9) são.
Já a hiponímia denomina uma relação em que o significa-
do de uma das expressões está incluído no significado da ou-
tra. A expressão que inclui o significado da outra é a hiponímia 
e a que tem seu significado incluído é o superordenado. Veja 
os pares de expressões em (10):
 (10) emoção (superordenado) – tristeza (hipônima)
flor (superordenado) – margarida (hipônima)
ser humano (superordenado) – criança (hipônima)
Capítulo 5 Significado, Sentido e Referência 79
O significado de emoção está incluído no de tristeza, pois 
tristeza é um tipo de emoção, então, tristeza é hipônimo de 
emoção; o significado de margarida inclui o significado de 
flor, portanto, margarida é hipônimo de flor; a criança é um 
tipo de ser humano, então o significado de ser humano está 
incluído no significado de criança, assim, criança é hipônimo 
de ser humano.
Agora, fazendo uma extensão das relações de sentido entre 
expressões para relações entre sentenças, temos que paráfrase é 
para sentenças como sinonímia é para expressões. Exemplificando:
 (11) Clara comprou uma casa da imobiliária Vendas S.A.
A imobiliária Vendas S.A. vendeu uma casa para Clara.
Sendo as expressões comprou e vendeu sinônimas, as sen-
tenças que as incluem se tornam paráfrases uma da outra. 
Veja a paráfrase entre orações que contêm os sinônimos crian-
ças e filhos:
 (12) Pedro e Maria amam suas crianças.
Pedro e Maria amam seus filhos.
Com relação à hiponímia, veja o que acontece quando 
uma oração possui uma expressão hipônima de outra, que 
está em outra oração:
 (13) a. O governo está realizando o reflorestamento de eu-
caliptos na região da campanha.
 b. O governo está realizando o reflorestamento de ár-
vores na região da campanha.
80 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
Como eucaliptos é uma categoria de árvores, logo o sig-
nificado da expressão eucaliptos está incluído no significado 
da expressão árvores, quando se diz (13a), acarreta-se (13b)3.
Dica de Leitura
HURFORD, James R.; HEASLEY, Brendan. Curso de semân-
tica. Traduzido por Delzimar da Costa Lima e Dóris Cristina 
Gedrat. Canoas: Ulbra, 2004.
Este livro é uma tradução de “Semantics: a coursebook”, 
dos autores Hurford e Heasley, que apresenta os principais tó-
picos em Semântica e Pragmática de uma maneira fácil de 
compreender, com muitos exercícios práticos e comentários 
sobre suas respostas.
Recapitulando
Neste capítulo, estudamos a distinção entre sentido e referên-
cia em relação ao significado linguístico. Para aprofundarmos 
o tema, mostramos como ele se manifesta nas distintas rela-
ções semânticas entre palavras e entre sentenças da língua.
3 Na relação de acarretamento, se uma sentença é verdadeira, a outra necessa-
riamente o é também. Aplicando-se essa noção à relação entre hipônimos, se uma 
sentença contendo uma expressão hipônima de outra é verdadeira, a sentença que 
contém a expressão da qual aquela é hipônima (o superordenado) é necessaria-
mente verdadeira.
Capítulo 5 Significado, Sentido e Referência 81
Referências
FIORIN, José L. (org.) Introdução à Linguística. II Princípios 
de análise. São Paulo: Contexto, 2003.
FREGE, Gottlob. Lógica e filosofia da linguagem. São Pau-
lo: Cultrix, 1978.
GEDRAT, Dóris C. A relevância da relevância na inferência 
não trivial e na significação implícita. Dissertação de 
mestrado, PUC/RS, 1993.
GEDRAT, Dóris C. Relevância da composição semântica 
das estruturas conceituais lexicais. Tese de doutorado, 
PUC/RS, 1999.
GRICE, Paul. Logic and conversation. In: GRICE, P. (ed.) 
Studies in the way of words. Cambridge, Mass.: Harvard 
University Press, 1989. p. 22-40.
HURFORD, James R.; HEASLEY, Brendan. Curso de semânti-
ca. Traduzido por Delzimar da Costa Lima e Dóris Cristina 
Gedrat. Canoas: Ulbra, 2004.
ILARI, Rodolfo; GERALDI, João W. Semântica. 11. ed. São 
Paulo: Ática, 2006.
JACKENDOFF, Ray. Semantics and cognition. Cambridge, 
Mass.: The MIT Press, 1985.
LEVINSON, Stephen C. Pragmatics. Cambridge: Cambridge 
University Press, 1983.
LYONS, John. Semântica, v.1, Lisboa: Presença, 1977.
82 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
NETO, José B. Semântica de modelos. In: MÚLLER, A. L.; 
NEGRÃO, E. V.; FOLTRAN, M. J. (orgs.) Semântica Formal. 
São Paulo: Contexto, 2003.
OLIVEIRA, Roberta Pires de. Semântica. In: MUSSALIM, F.; 
BENTES, A. C. Introdução à linguística – 2. Domínios e 
fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001.
PINTO, Joana P. Pragmática. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. 
(orgs.) Introdução à linguística 2: domínio e fronteiras. 
São Paulo: Cortez, 2000.
SPERBER, Dan; WILSON, Deirdre. Relevance: communication 
and cognition. Cambridge: Harvard University Press, 1995.
TARSKI, A. La concepción semántica de la verdade y los 
fundamentos de la semántica. Buenos Aires: Nueva 
Visión, 1972.
Atividades4
 1) a) Não apenas palavras têm sentido, mas também expres-
sões mais longas, tais como sintagmas e sentenças. Intuiti-
vamente, os pares seguintes significam a mesma coisa?
(1)Carlos jogou seus discos fora.
Carlos jogou fora seus discos.
4 As atividades deste capítulo são adaptações feitas a partir das unidades 3, 4 e 
10 de H&H (2004).
Capítulo 5 Significado, Sentido e Referência 83
Sim/Não
(2) Marta apertou a mão bem forte.
Marta apertou bem forte a mão. Sim/Não
(3) Jovens preferem carros velozes.
Carros que atingem altas velocidades são preferidos por 
pessoas de pouca idade. Sim/Não
 b) Considere a afirmação: “toda expressão que tem signi-
ficado tem sentido, mas nem toda expressão tem referên-
cia”. As palavras seguintes se referem a coisas no mundo?
(1) antes Sim/Não (3) mas Sim/Não
(2) possível Sim/Não (4) porque Sim/Não
 2) a) O que se pretende com a palavra significa, significado, 
quer dizer etc. nos seguintes exemplos, referência (R), ou 
sentido (S)?
(1) Quando Júnior falou do “brinquedo quebrado”, ele quis 
dizer o carrinho sem rodas no sofá.
R/S
(2) Quando Alberto fala sobre “sua ex-mulher”, ele querdizer Catarina.
R/S
(3) Professor, o que significa paralelo? R/S
(4) Gostar tem o mesmo significado de ter afeto por. R/S
(5) Procure pelo significado de catalisador em seu 
dicionário.
R/S
(6) Se você olhar para trás agora, você verá de quem estou 
falando.
R/S
b) Responda às seguintes questões:
sentido
84 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
(1) Dê um exemplo de uma expressão que poderia ser 
usada para se referir ao Presidente da República do 
Brasil em 2008.
 _____________________________________________
_______
(2) Dê um exemplo de uma expressão que poderia ter re-
ferência variável.
 _____________________________________________
_______
(3) Dê um exemplo de uma expressão que sempre (em 
conversações cotidianas normais) tem referência cons-
tante.
 _____________________________________________
_______
(4) Dê um exemplo de expressões diferentes que têm um 
mesmo referente.
 _____________________________________________
_______
(5) Dê um exemplo de uma expressão que não tem refe-
rente.
 _____________________________________________
_______
 3) a) Quais das seguintes poderiam ser usadas como expres-
sões referenciais? Circule a reposta de sua escolha.
minha casa, minha universidade
rio de janeiro, cidade maravilhosa
mas, porem, contudo
lua, brasil, mundo
Capítulo 5 Significado, Sentido e Referência 85
(1) Orlando Sim/Não (5) uma mulher Sim/Não
(2) Meu irmão Sim/Não (6) meus filhos Sim/Não
(3) não Sim/Não (7) reclamar Sim/Não
(4) a menina de rosa Sim/Não (8) depois Sim/Não
 b) As seguintes expressões são referenciais?
(1) um cara, em “Márcia está namorando um 
cara.”
Sim/Não
(2) um gaúcho, em “Márcia quer casar com um 
gaúcho.”
Sim/Não
(3) um apartamento, em “Pedro está procurando 
um apartamento.”
Sim/Não
(4) um garoto alto, em “O delegado acredita 
que um garoto alto assaltou a cantina.”
Sim/Não
(5) um garoto alto, em “Um garoto alto assaltou 
a cantina.”
Sim/Não
(6) um sabiá, em “Cada manhã um sabiá vinha 
cantar no meu quintal.”
Sim/Não
 4) a) Circule a resposta correta:
(1) Qual das seguintes opções caracteriza o sintagma um 
carro novo? Circule sua resposta.
(a) uma expressão referencial
(b) não uma expressão referencial
(c) às vezes, uma expressão referencial e às vezes não, 
dependendo do contexto e das circunstâncias de uso.
(2) Desde tem sentido da mesma forma que casa tem sen-
tido? Sim/Não
86 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
(3) As expressões rápida e ligeira têm o mesmo sentido 
nas sentenças seguintes?
 A mudança foi rápida.
 A mudança foi ligeira. Sim/Não
(4) Circule as palavras que podem ser expressões referen-
ciais (em português normal do dia a dia).
 Maria, abaixo, Sol, tudo, quadrado, lindo, veio.
b) Assim como a tradução perfeita entre línguas é pos-
sível, pode-se dizer que o mesmo sentido pertence a 
expressões em línguas diferentes.
Circule a resposta certa:
(1) I live in Brazil e Eu moro no Brasil dizem a mesma coi-
sa? Sim/Não
(2) As sentenças em (1) têm o mesmo sentido? Sim/
Não
(3) As expressões live e moro têm o mesmo sentido? Sim/
Não
 5) a) Nas sentenças abaixo, os pares de palavras em letra 
maiúscula têm o mesmo sentido?
(1) O ladrão tentou OMITIR/ESCONDER as jóias. Sim/
Não
Capítulo 5 Significado, Sentido e Referência 87
(2) Eva vai ADQUIRIR/COMPRAR um novo carro. Sim/
Não
(3) Estes pêssegos estão GRANDES/ MADUROS. Sim/
Não
(4) Esta é uma frase PERDIDA/ PEQUENA. Sim/Não
(5) Você tem minha PROFUNDA/ ENORME admiração. 
Sim/Não
 b) Os pares abaixo são paráfrases um do outro (assu-
mindo que os referentes dos nomes e outras expres-
sões referenciais permanecem os mesmos), portanto, 
embora expressem o conteúdo semântico de formas 
diferentes, ele é o mesmo em cada uma das sentenças 
do par? Indique sua resposta circulando P (paráfrase) 
ou NP (não paráfrase).
(1) Marcos é o pai de Antônio.
Antônio é o filho de Marcos. P/NP
(2) Marcos é o pai de Antônio.
Antônio é o pai de Marcos. P/NP
(3) Meu irmão tem um corsa.
Este corsa pertence ao meu irmão. P/NP
(4) A abelha estava na parede .
A parede estava embaixo da abelha. P/NP
c) Responda:
88 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
(1) Em termos de conceitos, o que você pode dizer sobre 
as relações entre as palavras da coluna A e as da co-
luna B?
A B
Rosa Flor
Gato Animal
Amor Sentimento
(2) O que você pode dizer sobre a relação entre as sen-
tenças A e as sentenças B?
A B
Marcelo estava colhendo uma rosa. Marcelo estava colhendo uma flor.
Cláudia comprou um gato. Cláudia comprou um animal.
Esta poesia fala de amor. Esta poesia fala de sentimento.
d) Qual é a relação entre as sentenças A e B?
A
Carla colheu todas as minhas rosas.
Todos os gatos de Cláudia têm colera.
Maria pintou todos os quadrados de roxo.
B
Carla colheu todas as minhas flores.
Todos os animais de Cláudia têm colera.
paráfrase
acarretamento
acarretamento
acarretamento
hiper/super
hipo
hipo
hipo
hiper/super
hiper/super
Capítulo 5 Significado, Sentido e Referência 89
Maria pintou todos os quadrados de roxo.
Parte da resposta é: as sentenças B acarretam as sentenças 
A. Mas existe uma importante qualificação que deve ser adi-
cionada a isso. Você sabe o que é?
se de fato todos os animais são gatos
Jane Sirlei Kuck Konrad1
Capítulo 6
Semiótica1
1 Especialista em Administração e Planejamento para Docentes.
Capítulo 6 Semiótica 91
Introdução
Ao longo do seu curso você foi apresentado à origem da Lin-
guística. Lá, entre outras definições, a Linguística é definida 
como uma ciência que se ocupa do estudo dos fatos relativos 
à linguagem, cujo maior expoente foi Ferdinand de Saussure. 
Em seus estudos ele abordou a questão dos signos na obra 
Curso de Geral de Linguística. No seu entender os signos eram 
parte da vida social. Surge, assim, o que se denominou de se-
miologia, ciência que se ocuparia do estudo dos signos.
Os estudos nessa área avançaram. Outros linguistas e 
cientistas também contribuíram, com outros olhares. Também 
em outras áreas do conhecimento passou a ser campo de estu-
do e pesquisa. O nome do campo de pesquisa dos processos 
dos signos não era semiologia, mas semiótica. Passaram en-
tão a surgir dúvidas: semiótica e semiologia eram dois campos 
de pesquisa diferentes ou apenas possuem nomes diferentes? 
Alguns teóricos até diferenciam os termos em alguns aspectos, 
mas, na atualidade, o termo usado é semiótica.
Essa definição de que o conceito a ser adotado para todos 
os estudos nessa área seria semiótica aconteceu por sugestão 
do comitê fundador da Associação Internacional de Estudos 
Semióticos, em 1969, liderados por Roman Jakobson, Roland 
Barthes, E. Benveniste, A. J. Greimas, C. Lévi-Strauss e Thomas 
A. Sebeok.
92 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
6.1 Conceituando
Hoje, internacionalmente, o termo Semiótica é usado para o 
campo de estudos, sistemas e pesquisas relacionadas aos sig-
nos ou aos processos que os envolvem.
Em termos de definição, Semiótica é uma palavra que vem 
do grego: semeion que significa signo, e otica que significa 
Ciência. Poderíamos traduzir, então, como a ciência dos sig-
nos, ou a ciência que estuda os signos. Signo, por sua vez, 
pode ser entendido como a representação de uma determi-
nada coisa. A mente humana tem acesso ao mundo externo 
através de representações. O nome Semiótica vem da raiz gre-
ga semeion, que quer dizer signo. Semiótica é a ciência dos 
signos.
A Semiologia surgiu das ciências linguísticas, cujo principal 
expoente foi Ferdinand de Saussure (1857-1913) – já estu-
dado ao longo do curso, em diversas temáticas. A Semiótica, 
como hoje é concebida, surgiu do pragmatismo americano, 
cujo nome principal foi Charles Sanders Peirce (1839-1914). 
São esses dois expoentes que estudaremos neste capítulo.
6.2 Ferdinand de Saussure
Saussure concebia a linguagem como um sistema de signos, 
sendo esse o fato central da linguagem. Para ele, o signo lin-
guístico inclui apenas dois componentes:um significado e um 
significante. Podendo ser resumido assim: Signo = significado 
Capítulo 6 Semiótica 93
+ significante. O Significado se refere ao conceito do signo, 
a representação mental, mensagem que ele transmite. O Sig-
nificante, por sua vez, é o veículo que contém a mensagem, 
diz respeito ao som do signo, também chamada de imagem 
acústica. Nesse aspecto, toda palavra que possui um sentido é 
considerada um signo linguístico.
Exemplos
Nesse sistema elaborado por Saussure, o conjunto todo 
forma o signo, ou seja, significado e significante.
94 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
Características do signo linguístico:
Arbitrariedade: uma das características do signo linguístico 
é o seu caráter arbitrário. Não existe uma razão para que um 
significante (som) esteja associado a um significado (conceito). 
Isso explica o fato de que cada língua usa significantes (som) 
diferentes para um mesmo significado (conceito).
Valtemos aos nossos exemplos
Capítulo 6 Semiótica 95
IMPORTANTE:
A arbitrariedade do signo é uma questão cultural, con-
textual. No desenvolvimento de uma língua o signo se 
constituiu assim, não podendo ser modificado por qual-
quer falante. Sempre se constitui numa questão social.
Linearidade: Os componentes que integram um deter-
minado signo se apresentam um após o outro, tanto na fala 
como na escrita, numa sucessão temporal ou espacial. Por isso 
não se pode produzir mais de um elemento linguístico de cada 
vez. Não é possível, por exemplo, produzir mais de um som ao 
mesmo tempo ou mesmo produzir duas palavras ao mesmo 
tempo. Essa é uma característica das línguas naturais.
96 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
Resumindo, Saussure entende que a linguagem tem caráter 
referencial, pois os homens referem-se a coisas que são ex-
ternas, fatos e objetos com a ajuda da linguagem. Os signos 
linguísticos podem ser também psíquicos, não somente físicos.
6.3 Charles Sanders Peirce (1839-1914)
Charles Sanders Peirce (1839-1914) é considerado o fundador 
da moderna semiótica e também do Pragmatismo. Foi cientis-
ta, matemático, historiador, filósofo e lógico. Formou-se pela 
Universidade de Harvard em Química, contribuiu também no 
campo da Geodésia, Biologia, Psicologia, Matemática, Filoso-
fia. Como você pode notar, ele atuou em diversas áreas. Em 
relação à semiótica ele ampliou a noção de signos o que im-
plicou também em ampliação da noção de linguagem. A Se-
miótica Peirciana também é considerada uma Filosofia Cien-
tífica da Linguagem. Dedicou seus estudos, durante boa parte 
de sua vida, para fundamentar as teorias deste conceito, ou 
seja, a elaboração da Semiótica, a ciência dos signos. Em sua 
concepção, o signo é aquilo que substitui o objeto em nossa 
mente, constitui a linguagem, base para os discursos que per-
meiam o mundo.
Em outras palavras, entendemos o mundo a nossa volta a 
partir daquilo que nossa mente percebe.
Capítulo 6 Semiótica 97
Categorias universais de Peirce
Peirce, em seus estudos, desenvolveu uma teoria que ele no-
minou como Categorias do Pensamento e da Natureza, ou 
Categorias Universais do Signo, assim descritas:
 Â Primeiridade (primeiro): é como um fenômeno se apre-
senta à consciência, em seu estado puro – corresponde 
ao acaso. Aqui ainda não cabe qualquer associação, é 
uma qualidade de sensação. É uma etapa de pré-refle-
xão.
 Â Secundidade: é o conflito da consciência com o fenô-
meno, tenta entendê-lo, corresponde à ação e reação, 
causa e efeito. Está relacionada a alguma coisa, inseri-
do no tempo e espaço. Registro do sentimento.
 Â Terceiridade – é a interpretação e generalização dos fe-
nômenos, a mediação ou o processo. É a conexão entre 
qualidade e fato. Descreve potencial.
Obs: As categorias acima descritas são citadas separadas 
para melhor compreensão. Elas se somam, não podendo ser 
dissociadas na análise de um signo.
Interpretando a definição acima...
Já temos em nosso pensamento uma gama de signos. É a 
partir daí que se organiza o processo de linguagem. Ao ouvir-
mos uma música, lermos um texto, vermos o sorriso de uma 
criança, nossa mente entra em cena, faz uma relação (interme-
diação) entre esses signos com a realidade a nossa volta. Por-
que nossa compreensão de mundo, da forma como interpreta-
98 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
mos e transmitimos qualquer informação, fomenta o processo 
de comunicação que, por sua vez, é constituído de sistemas de 
signos necessários para toda e qualquer linguagem.
A tríade de Peirce
Em sua teoria, Peirce propõe a representação do conhecimen-
to em forma de tríade: signo, objeto e interpretante.
Figura 1: As três entidades do signo. Fonte: Coelho Netto, 2010, p. 56.
 Â Signo (representamen): podem ser sinais escritos, gestos, 
desenhos, símbolos, imagens, cores, odores. É aquilo 
que representa algo para alguém. Mantém uma relação 
com um objeto, uma segunda coisa que a representa.
Exemplo: a palavra mesa é exemplo de um signo que tem 
um objeto concreto (existe). Quando lemos a palavra mesa 
nossa mente imagina esse objeto.
 Â Objeto: aquilo a que o representamen se refere, que ele 
representa. É a coisa representada pelo signo.
Capítulo 6 Semiótica 99
 Â Objeto imediato: interior ao próprio signo, é visto a par-
tir do contexto do signo, seu conteúdo representativo.
 Exemplo: o signo cadeira pode carregar em si vários 
objetos: cadeira de dentista, cadeira de diretor etc.
 Â Objeto dinâmico: é um objeto que existe independente 
do processo semiótico. Contribui para o signo determi-
nar sua representação. É feito de maneira imperfeita. 
Pode ser uma qualidade, uma emoção, um indivíduo, 
um hábito, um padrão da natureza etc.
 Â Interpretante: pode ser definido como um signo mais 
elaborado, tendo o signo primeiro como ponto de par-
tida, baseado em conceitos e valores. O interpretante 
é o receptor do signo. Em outras palavras, o signo cria 
na mente dessa pessoa um signo equivalente ou mais 
desenvolvido, denominado interpretante.
100 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
Nesse exemplo é possível perceber como funciona a tría-
de de Peirce. O signo remete a um objeto, e o interpretante, 
receptor do signo, elabora o signo. No exemplo, aqui, o inter-
pretante elaborou ou criou um signo pensando numa cadeira 
em forma de trono do rei.
Resumindo: Na concepção de Peirce estamos cercados de 
signos, pois tudo que está ao alcance da nossa percepção são 
signos, que somente podem ser explicados por outros signos. 
Não seríamos capazes de interpretar qualquer signo se já hou-
vesse uma prévia interpretação em cada signo.
Classificação dos signos
Peirce elaborou, em sua teoria sobre os signos, todo um siste-
ma de tricotomias. Três, em particular, se destacaram mais, e 
que mostraremos aqui:
 Â Signo em relação a si mesmo:
 1) Quali-signo: o signo como qualidade imediata, uma espé-
cie de pré-signo, como a impressão causada por uma cor. 
Ex: a impressão causada pela cor verde.
 2) Sin-signo: é o resultado da singularização do quali-signo. 
Ex: a impressão que essa cor verde causa na pessoa.
 3) Legi-signo: é o resultado de uma impressão mediada por 
convenções ou leis gerais. Ex: a cor verde significa espe-
rança, isso é uma convenção geral.
 Â Relação do signo com o objeto:
Capítulo 6 Semiótica 101
 1) Ícone: refere-se ao aspecto qualitativo do objeto. Seria um 
quase-signo. O ícone é o resultado da relação de seme-
lhança ou analogia entre o signo e o objeto que ele substi-
tui. Acontece a partir da contemplação. Ex: uma escultura 
é semelhante ao objeto que ela substitui. Também chama-
dos de signo icônico.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Escultura#/media/File:Louvre_Venus_de_Milo_
DSC00900.jpg
 2) Índice: aparece como indicador a algo que está ligado, 
por associação ou referência. Relação de causa e efeito. 
Pode haver conexões por vestígios ou indícios, por exem-
plo. Ex: raio forte – índice de mau tempo.
 3) Símbolo: representa o objeto porconvenção coletiva, legi-
timada por regras. A palavra é um símbolo por excelência. 
Ex: nos banheiros temos a indicação de feminino e mascu-
lino por símbolos, convencinada mundialmente.
102 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
 Â Relação do signo com o interpretante:
 1) Rema: o interpretante produz uma conjectura, uma pos-
sibilidade qualitativa, depende de complementação. Se 
usarmos o termo homem sem um contexto sintático ele é 
um rema, por exemplo.
 2) Dicente: corresponde ao enunciado, sentença, que pode 
ser verificado, envolve julgamento. O termo “homem”, 
usado no exemplo anterior, inserido numa sentença: O 
homem está ferido. Fornece condições de averiguar, por 
exemplo, se, de fato, é verdadeira a afirmação ou as pos-
síveis causas de estar ferido.
 3) Argumento: o argumento contém mais informações com-
probatórias, o que torna possível tirar conclusões. Se as 
informações a respeito do homem estivessem complemen-
tadas de que ele estava ferido porque apresentava o corpo 
cheio de ataduras e curativos, o raciocínio estaria comple-
to, portanto seria um argumento.
No quadro a seguir, de forma elucidativa, você pode ver 
um resumo do que apresentamos sobre a semiótica de Peirce.
Capítulo 6 Semiótica 103
Quadro 1 Categorias e tricotomias de Peirce
Categorias
Tricotomias
Significação Objetivação Interpretação
Signo em si Signo com seu 
objeto
Signo com seu
interpretante
Primeiridade Quali-signo Ícone Rema
Secundidade Sin-sigo Índice Dicente
Terceiridade Legi-signo Símbolo Argumento
Fonte: Cadernos de Semiótica aplicada – CASA, Vol. 11 n. 2, dezembro de 2013. 
Disponível em: http://seer.fclar.unesp.br/casa
Nas categorias, primeiridade, secundidade e terceiridade, te-
mos os níveis de percepção, que por sua vez estão relacionados 
com o signo, em todos os seus aspectos e propriedades internas 
(do signo consigo mesmo), da objetivação que é a relação do 
signo com seu objeto e a interpretação, que envolve o receptor.
Recapitulando
Neste capítulo vimos que Saussure (1857-1913) e Peirce 
(1839-1914) foram contemporâneos. Desenvolveram suas 
teorias sobre o signo ao mesmo tempo. Ambos deram grande 
contribuição, cada qual com suas ideias.
104 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
Saussure desenvolveu o conceito do signo verbal. A pa-
lavra oral, principalmente, tinha função primordial. Já Peirce 
desenvolveu uma ideia de signo mais abrangente, pois signo 
é qualquer coisa que representa alguma coisa para alguém, 
onde se incluem os signos não verbais.
O significante de Sassure é muitas vezes comparado ao 
signo de Peirce, e o significado de Saussure é muitas vezes 
comparado ao objeto de Perice.
Para Saussure, significante e significado são inseparáveis, 
um implica na necessidade da existência do outro. O signifi-
cante é arbitrário.
Peirce concebeu a ideia de um terceiro elemento, o intér-
prete, que nada mais é do que compreensão da relação entre 
o signo e o objecto. O signo (significante) e objeto (significa-
do) estão ligados por um interpretante.
Em outras palavras, para Peirce há a necessidade da exi-
tência de um interpretante para relacionar signo e objeto, en-
quando para Saussure a relação entre significado e significan-
te se dá de forma arbitrária.
Referências
Cadernos de Semiótica aplicada - CASA, Vol. 11 n. 2, dezem-
bro de 2013. Disponível em: <http://seer.fclar.unesp.br/
casa>.
Capítulo 6 Semiótica 105
COELHO NETTO, José Teixeira. Semiótica, informação e 
Comunicação: diagrama da teoria do signo. 7. ed. São 
Paulo: Perspectiva, 2010.
NÖTH, W. Panorama da semiótica: de Platão a Peirce. 4. 
ed. São Paulo: Annablume, 2008.
______. A Semiótica no Século XX. 3. ed. São Paulo: Annablume, 
2005.
PEIRCE, C. S. Semiótica. Tradução de José Teixeira Coelho 
Neto. São Paulo: Perspectiva, 1977.
______. Semiótica e filosofia. Tradução de Leonidas 
Hegenberg e Octanny Silveira da Mota. São Paulo: Cultrix, 
1975.
SANTAELLA, L. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense, 
2002.
SAUSSURE, F. de. Curso de linguística geral. São Paulo: 
Cultrix, 2006.
Atividades
 1) Sobre Semiótica é correto afirmar que:
I) É uma ciência que estuda os signos.
II) É considerada uma Filosofia Científica da Linguagem.
III) Seu fundador foi Charles Peirce.
106 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
a) Todas as alternativas estão corretas.
b) Apenas a alternativa I está correta.
c) Apenas a alternativa III está incorreta.
d) Apenas a alternativa III está correta.
e) Apenas a alternativa I está incorreta.
 2) Marque V para as alternativas verdadeiras e F para as fal-
sas:
I) Peirce desenvolveu ou Categorias Universais do Signo
II) As Universais do signo são assim chamadas: Primeiri-
dade, Secundidade, Terceiridade
III) Secundidade é o registro do sentimento.
Na ordem, as alternativas acima são:
a) V F F
b) F F V
c) V V V
d) F F V
e) V F V
 3) Diga se as seguintes alternativas estão certas ou erradas:
I) Signo, objeto e interpretante. Essa é a tríade proposta 
por Peirce.
Capítulo 6 Semiótica 107
II) Peirce elaborou apenas duas classificações para os 
signos: Relação do signo com o objeto e relação do 
signo com o interpretante.
III) Segundo Peirce, estamos cercados de signos.
As alternativas acima estão (em ordem):
a) certa – errada – errada
b) certa – errada – certa
c) certa – certa – certa
d) errada – errada – certa
e) certa – certa – errada
 4) Preencha os espaços em branco:
I) ________________________ se divide em: Quali-sig-
no, Sin-signo e Legi-signo.
II) ________________________representa o objeto por 
convenção coletiva.
III) ________________________aparece como indicador 
a algo que está ligado.
 Os espaços ficam preenchidos corretamente na se-
guinte ordem e com os seguintes termos:
a) Símbolo Índice Ícone
b) Ícone Índice Símbolo
c) Signo em relação a si mesmo Símbolo Índice
símbolo
signo em relação a si mesmo
indicador
108 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
d) Signo em relação a si mesmo Índice Símbolo
e) Símbolo Índice Símbolo
 5) Diga se as seguintes alternativas são corretas ou incorre-
tas:
I) Na relação do signo com o interpretante temos: rema, 
dicente e argumento.
II) O objeto se divide em imediato e dinâmico.
III) Rema contém mais informações comprobatórias, o 
que torna possível tirar conclusões.
a) Todas as alternativas estão corretas.
b) Apenas a alternativa I está correta.
c) Apenas a alternativa III está incorreta.
d) Apenas a alternativa III está correta.
e) Apenas a alternativa I está incorreta.
ícone, índice e símbolo
argumento
Dóris Cristina Gedrat1
Capítulo 7
Atos de Fala
1 Graduada em Letras Português/Inglês, mestre e doutora em Linguística Aplicada 
pela PUC/RS. Atualmente é professora e coordenadora do curso de Letras da Uni-
versidade Luterana do Brasil (Ulbra), em Canoas, RS.
110 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
Introdução
Neste capítulo, estudaremos a Teoria dos Atos de Fala, de 
John Langshaw Austin. Oriunda da Filosofia da Linguagem, 
esta teoria, construída no início dos anos 1960 do século XX, 
posteriormente, passa a fazer parte da Pragmática Linguística, 
trazendo importantes contribuições no que se refere à concep-
ção da linguagem como uma forma de ação. Austin mostra 
que, mais do que usarmos a linguagem para falarmos a res-
peito da realidade e de nossas experiências, agimos através 
de determinadas construções linguísticas, estabelecendo-se a 
correspondência entre falar e agir.
7.1 Contextualizando a Teoria dos Atos de 
Fala
A teoria dos atos de fala está descrita no livro “Quando dizer 
é fazer. Palavras e ação”, de John Langshaw Austin. Neste livro 
encontram-se as 12 conferências apresentadas em Harvard, 
em 1955, pelo próprio Austin, que marcam a virada linguís-
tica na filosofia. Isso significa que o método para análise da 
linguagem sofreu uma grande alteração.
Na apresentação do livro, o tradutor Danilo Marcondes 
de Souza Filho explica que, no início do século XX, a tarefada 
filosofia era elucidar os elementos centrais de nossa experiên-
cia através das formas lógicas em que nosso conhecimento, 
crenças e opiniões sobre o real se expressam e nossa experi-
ência se articula. Assim, nasceu a filosofia da linguagem, fo-
Capítulo 7 Atos de Fala 111
calizando a natureza e a estrutura da linguagem, desvendando 
os conceitos de termo e proposição, sentido e referência, no-
mes próprios e predicativos, verdade e falsidade, entre outros. 
Paralelamente, nascia a filosofia da linguagem ordinária, ou 
Escola de Oxford, com Austin como um dos principais repre-
sentantes.
Uma de suas concepções mais originais foi “minha pala-
vra é meu penhor”, o que faz com que se considere o ato de 
fala, a interação comunicativa propriamente dita, como tendo 
um caráter contratual ou de compromisso entre partes. Austin 
abordava temas como responsabilidade e ação, percepção e 
conhecimento e outros. Seu método era a análise filosófica da 
linguagem ordinária, entendendo-se linguagem ordinária por 
linguagem do dia a dia, linguagem comum, falada por qual-
quer pessoa em conversações e situações diversas. A visão 
agora é orientada pela consideração da linguagem a partir 
de seu uso, da linguagem como forma de ação, e a análise 
da sentença deu lugar a análise do ato de fala, do uso da lin-
guagem em um determinado contexto, com uma determinada 
finalidade e de acordo com certas normas e convenções. O 
que se analisa não é mais a estrutura da sentença com seus 
elementos constitutivos, mas sim as condições sob as quais o 
uso de determinadas expressões linguísticas produzem certos 
efeitos e consequências em uma dada situação.
Consequentemente, a linguagem não é mais vista como re-
presentação ou correspondência da realidade, mas sim como 
ação sobre a realidade. O conceito de verdade é substituído 
pelo de felicidade, eficácia do ato e pela dimensão moral de 
compromisso. A seguir, veremos do que se trata a ideia de 
112 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
fazer coisas com a linguagem, de interferir sobre o mundo ao 
proferir palavras e enunciados.
7.2 Enunciados performativos
Na primeira conferência, Austin inicia diferenciando os enun-
ciados constativos dos enunciados performativos. Se eu digo 
“Simão está na cozinha”, eu assevero ao meu ouvinte que no 
mundo real existe uma situação em que uma pessoa de nome 
Simão está numa sala identificada pela expressão referencial a 
cozinha. Como diz o nome constativos, tais enunciados servem 
para descrever estados de coisas, para constatar fatos no mun-
do. E os filósofos acreditavam que este era o papel de uma 
declaração, podendo-se sempre dizer se a declaração era ver-
dadeira ou falsa. Austin demonstrou que muitas declarações 
não podem ser falsas ou verdadeiras, e que muitas também 
nada descrevem sobre o mundo. Por exemplo:
 (1) Presidente de uma empresa: “Declaro encerrada esta reu-
nião.”
Como você pode facilmente ver, o presidente da empresa 
que disse “Declaro encerrada esta reunião” não está descre-
vendo nenhum estado de coisas ou fatos no mundo, nem é 
possível dizer se seu proferimento (ou enunciado) é falso ou 
verdadeiro. Ele está simplesmente encerrando a reunião, atra-
vés desse dito. Então, proferir uma sentença como essa, nas 
circunstâncias apropriadas, não é descrever o ato praticado, 
nem declarar que se está praticando um ato, é fazê-lo, isto é, 
Capítulo 7 Atos de Fala 113
praticá-lo concretamente. A isso Austin chamou de enunciado 
performativo, baseado no inglês “to perform”, que significa 
“fazer”.
Resumindo, um enunciado performativo é aquele que efe-
tivamente descreve o ato que realiza, isto é, ele realiza algum 
ato e simultaneamente descreve esse ato. Veja os dois exem-
plos:
 (2) Eu prometo pagar-lhe amanhã.
 (3) João prometeu pagar-me amanhã.
“Eu prometo pagar-lhe amanhã” é performativo porque, 
ao dizê-lo, o falante efetivamente faz o que o enunciado des-
creve, i.e. ele promete pagar ao ouvinte no dia seguinte. Em 
outras palavras, o que o enunciado descreve é uma promessa.
Diferentemente, o enunciado “João prometeu pagar-me 
amanhã”, embora descreva uma promessa, não é ele mesmo 
uma promessa. Assim, esse enunciado não faz simultaneamen-
te o que ele descreve, não sendo, portanto, um performativo. 
Veja o próximo exemplo:
 (4) Eu estou tentando abrir esta caixa com uma chave de fen-
da.
“Eu estou tentando abrir esta caixa com uma chave de fen-
da” é um enunciado constativo, porque faz uma asserção so-
bre um estado de coisas particular, mas não é performativo, 
i.e. o enunciado não faz e descreve simultaneamente o mesmo 
ato.
114 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
Muitos enunciados performativos contêm o pronome de 
primeira pessoa “Eu”, seguido por um certo tipo de verbo no 
tempo presente. Ex. “Eu prometo...”, “Eu admito...”, “Eu con-
gratulo...” etc. Todos esses são verbos que descrevem atos de 
fala e são classificados como verbos performativos. Portanto, 
um verbo performativo é aquele que, quando usado numa 
sentença simples positiva no presente, com um sujeito em pri-
meira pessoa do singular, pode fazer o enunciado daquela 
sentença ser performativo. Por exemplo, Sentenciar é um verbo 
performativo porque o enunciado “Eu o sentencio a ser en-
forcado” é um enunciado performativo. Por outro lado, Punir 
não é um verbo performativo porque “Eu o puno” não é um 
enunciado performativo.
Como já foi dito acima, a maioria dos enunciados perfor-
mativos têm verbo na primeira pessoa do singular, no entanto, 
nem todos. Por isso, o teste mais confiável para determinar se 
um enunciado é performativo é inserir a sequência com isto e 
ver se o enunciado modificado é aceitável.
7.3 Condições de felicidade
Austin, ao demonstrar o que são enunciados performativos, 
também estabeleceu uma série de condições para que o ato 
seja realizado de maneira completa e feliz, ou seja, que seja 
bem sucedido. Essas condições ele denominou condições de 
felicidade. Assim, como eu já havia mencionado anteriormen-
te, não se fala em condições de verdade dos enunciados, mas 
sim de felicidade. Essa noção veio para tentar regulamentar 
Capítulo 7 Atos de Fala 115
questões como a mentira, por exemplo, quando se diz “Eu 
prometo” sem se ter a intenção de fazer o que se está pro-
metendo; ou a prática de atos de fala de forma vazia, como 
quando se diz “Considero o réu culpado” sem se ocupar a 
posição de um juiz.
Austin resume da seguinte maneira o que ele considera ne-
cessário para o funcionamento feliz, ou sem tropeços, de um 
enunciado performativo:
A.1 – Deve haver um procedimento convencionalmente 
aceito, que apresente um determinado efeito convencional e 
que inclui o proferimento de certas palavras, por certas pesso-
as, e em certas circunstâncias, e, além disso, que
A.2 – as pessoas e circunstâncias particulares, em cada 
caso, devem ser adequadas ao procedimento específico invo-
cado.
B.1 – O procedimento tem de ser executado, por todos os 
participantes, de modo correto e
B.2 – completo.
C.1 – Nos casos em que, como ocorre com frequência, o 
procedimento visa às pessoas com seus pensamentos e senti-
mentos, ou visa à instauração de uma conduta correspondente 
ou parte de alguns dos participantes, então aquele que parti-
cipa do procedimento, e o invoca deve de fato ter tais pensa-
mentos ou sentimentos, e os participantes devem ter a intenção 
de se conduzirem de maneira adequada, e, além disso,
116 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
C.2 – devem realmente conduzir-se dessa maneira subse-
quentemente.
As seis condições descritas estão assinaladas por letras di-
ferentes porque há diferença entre a violação de cada condi-
ção de felicidade no tipo de infelicidade produzida no ato de 
fala. As condições A e B, quando violadas, causam desacertos 
no ato, e a quebra das condições C causa abusos.
É interessante também ver o que os autores Hurford e 
Heasley explicam como sendo as condições de felicidade de 
enunciados performativosespecíficos:
Uma das condições de felicidade para o ato de ordenar é 
que o falante deve ser superior a, ou ter autoridade sobre, o 
ouvinte. Portanto, se um servo diz à Rainha “Abra a janela”, há 
uma certa incongruência, ou anomalia, ou infelicidade no ato 
(de ordenar) realizado, mas se a Rainha diz “Abra a janela” ao 
servo, não há infelicidade. Uma condição de felicidade para o 
ato de acusar é que o feito ou propriedade atribuídos ao acusa-
do sejam incorretos de alguma forma. Assim, podemos acusar 
alguém de roubo ou assassinato de maneira feliz, mas, normal-
mente, se acusarmos alguém de ser uma pessoa legal, ou de 
ajudar uma senhora idosa a atravessar a rua, o ato de acusar 
será infeliz. (HURFORD, J.; HEASLEY, B., 2004, p. 339-340)
A seguir, alguns dos atos de fala exemplificados pelos au-
tores. Para cada um deles, são sugeridas quatro condições 
de felicidade. Em cada caso, apenas duas das condições de 
felicidade são efetivamente corretas. Indique as condições de 
felicidade:
Capítulo 7 Atos de Fala 117
(5) prometer:
(a) O falante deve pretender realizar a coisa prometida.
(b) O falante deve ser inferior em status ao ouvinte.
(c) A coisa prometida deve ser algo que o ouvinte queira 
que aconteça.
(d) A coisa prometida deve ser moralmente errada.
As respostas corretas são (a) e (c), pois, para realizar de 
maneira feliz o ato de prometer, o falante deve pretender rea-
lizar a coisa prometida e a coisa prometida deve ser algo que 
o ouvinte queira que aconteça.
(6) desculpar-se:
(a) O falante deve ter feito a coisa pela qual está se des-
culpando.
(b) A coisa pela qual o falante está se desculpando deve ser 
(ou ter sido) inevitável.
(c) A coisa pela qual o falante está se desculpando deve ser 
moralmente errada.
(d) O ouvinte não deve querer que aquilo pelo que o falan-
te está se desculpando aconteça (ou tenha acontecido).
Aqui, as condições de felicidade para o ato de desculpar-se 
são (a) e (d), isto é, o falante deve ter feito a coisa pela qual 
está se desculpando e o ouvinte não deve querer que aquilo 
pelo que o falante está se desculpando aconteça, ou tenha 
acontecido.
118 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
(7) saudar/cumprimentar:
(a) O falante e o ouvinte devem ser de sexos diferentes.
(b) O falante e o ouvinte não devem estar no meio de uma 
conversa.
(c) O falante deve acreditar que o ouvinte tenha recente-
mente sofrido uma perda.
(d) O falante sente algum respeito e/ou senso de amizade 
(mesmo que sutil) pelo ouvinte.
Neste caso, as corretas são (b) e (d). Ao saudar, o falante 
e o ouvinte não devem estar no meio de uma conversa e o 
falante deve ter um sentimento respeitoso e/ou amigável pelo 
ouvinte.
(8) nomear:
(a) A coisa ou pessoa nomeada não pode já ter um nome 
reconhecido que o falante conheça.
(b) O falante deve ser reconhecido por sua comunidade 
como tendo autoridade para nomear.
(c) A coisa ou pessoa nomeada deve pertencer ao falante.
(d) A coisa ou pessoa nomeada deve ser tida com respeito 
considerável pela comunidade.
Para nomear algo ou alguém, é necessário que a coisa 
ou pessoa nomeada não tenha um nome já reconhecido que 
o falante conheça, e que o falante seja reconhecido por sua 
Capítulo 7 Atos de Fala 119
comunidade como tendo autoridade para nomear, portanto, 
respostas (a) e (b).
(9) protestar:
(a) O falante e o ouvinte devem ter estado em conflito entre 
si recentemente.
(b) O falante deve desaprovar o estado de coisas protes-
tado.
(c) O estado de coisas protestado deve ser desaprovado 
pela comunidade em geral.
(d) O ouvinte deve ser tido como responsável (pelo falante) 
quanto ao estado de coisas protestado.
Finalmente, no caso 5, as respostas corretas são (b) e (d), 
ou seja, para protestar, o falante deve desaprovar o estado de 
coisas protestado e o ouvinte deve ser tido como responsável 
quanto ao estado de coisas protestado.
Como vimos anteriormente, Austin iniciou suas conferên-
cias mostrando como os enunciados constativos se diferencia-
vam dos performativos. Essa distinção baseava-se na pessoa 
do sujeito e no verbo, o que levou a inúmeros casos que fu-
giam a este modelo, então, mais tarde, ele resolveu abando-
nar essa dicotomia, distribuindo os atos de fala em categorias 
diferentes, originando um tratamento que incluía muito mais 
casos na língua.
120 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
7.4 Atos ilocucionários e atos 
perlocucionários
Começamos pelas perlocuções, ou atos perlocucionários:
Ato perlocucionário: ato realizado por um falante ao enun-
ciar algo, de causar um certo efeito no ouvinte e em outras 
pessoas.
Em outras palavras, a perlocução de um enunciado é o 
efeito de causar uma mudança no ouvinte, mesmo que não 
intencionalmente. Por exemplo, se alguém diz “Cuidado!”, ele 
ou ela pode estar querendo alertar, mas também irá assustar 
os mais sensíveis, mesmo não tendo tido essa intenção. O sus-
to causado é o ato perlocucionário produzido pelo enunciado. 
É fundamental que fique bem claro o fato de a perlocução 
frequentemente ser acidental.
Passemos agora para os atos ilocucionários:
Os Atos Ilocucionários (ou simplesmente as Ilocuções) re-
alizadas por um falante ao proferir enunciados são atos 
definidos por convenções sociais, atos tais como abor-
dar, acusar, admitir, desculpar-se, desafiar, reclamar, dar 
pêsames, cumprimentar, recusar, prantear, dar permis-
são, dar passagem, saudar, despedir-se, caçoar, nomear, 
oferecer, elogiar, prometer, propor casamento, protestar, 
recomendar, render-se, agradecer, brindar. (HURFORD, 
J.; HEASLEY, B., 2004, p. 331)
Portanto, ao dizer “Quero lhe dar os parabéns pela sua 
conquista”, eu realizo o ato ilocucionário de parabenizar, ou 
Capítulo 7 Atos de Fala 121
cumprimentar. Para isso se tornar mais concreto, veja mais 
alguns exemplos de atos ilocucionários realizados por certos 
enunciados:
ENUNCIADO ATO ILOCUCIONÁRIO
“Você aceita um pedaço de bolo?” Oferecer
“Tenha a bondade.” (dito a alguém 
que Dar passagem
quer passar pela mesma porta)
“Lamento não poder ir à sua festa”. Desculpar-se
“Olá, como vai?” Saudar
“Até logo.” Despedir-se
“Pode ir brincar lá fora.” Dar permissão
Retomando esses dois tipos de atos, para que a distinção 
fique bem clara, podemos dizer que, de maneira geral, o ato 
ilocucionário faz parte do enunciado e é pretendido pelo fa-
lante está totalmente sob seu controle e é assim como diz o 
enunciado. Por outro lado, o ato perlocucionário realizado 
através de um enunciado nem sempre é pretendido pelo falan-
te, não está totalmente sob seu controle e, normalmente, não 
é evidente até após o enunciado ser feito. É muito mais comum 
referir-se a um falante ‘tentando‘ realizar um ato perlocucio-
nário (ex. tentando divertir, chocar, ou incomodar alguém) do 
que se referir a um falante ‘tentando‘ realizar um ato ilocucio-
nário (ex. tentando desculpar-se, ou oferecer algo a alguém, 
ou reclamar sobre algo).
O ato de dirigir-se a alguém, por exemplo, é ilocucionário 
porque é algo que um falante pode decidir por si mesmo fazer 
122 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
e quando fazer. O ouvinte (destinatário), numa situação de 
fala, não pode decidir se vai ser abordado ou não (embora ele 
possa ignorar o fato de estar sendo abordado, ou não notar 
ter sido abordado). O ato de persuadir alguém a fazer algo, 
por outro lado, é perlocucionário, porque o falante não pode 
ter certeza de estar persuadindo o ouvinte, independentemente 
do quanto tente fazê-lo. O ouvinte pode decidir deixar-se per-
suadir, ou não. Agora, diga se os seguintes atos são ilocucio-
nários ou perlocucionários:
(1) distrair alguém (4) ofender alguém
(2) fazer um apelo (5) prever algo
(3) rejeitar algo (6) fazer chacota de alguém
No primeiro, trata-se de um ato perlocucionário, em que 
algo acidental distraiu alguém, por exemplo, um barulho mui-
to forte. Fazer um apelo é intencional, então, trata-se de um 
ato ilocucionário. O terceiro ato também é ilocucionário,pois 
faz parte do controlo do falante produzi-lo. Já o quarto não 
pode ser ilocucionário, a princípio, pois ofender é um efeito 
paralelo, portanto, não totalmente intencional. E os últimos 
dois são ilocucionários, prever e fazer chacota. O número 6 
pode ser o ato ilocucionário do mesmo enunciado que produz 
a perlocução em 4.
Dica de Leitura
Pragmática
LEVINSON, Stephen C.
iloc
iloc
perloc
iloc
perloc
iloc
Capítulo 7 Atos de Fala 123
Pragmática. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
Nesta obra, Levinson aborda de forma detalhada as princi-
pais questões pragmáticas, como implicaturas conversacionais 
e atos de fala.
Recapitulando
Neste capítulo, estudamos a Teoria dos Atos de Fala, procu-
rando entender de que forma podemos fazer coisas ao dizer 
palavras e enunciados. Oriunda da Filosofia da Linguagem, 
esta teoria, construída no início dos anos 1960 do século XX, 
posteriormente, passa a fazer parte da Pragmática.
Referências
AUSTIN, J. L. Quando dizer é fazer. Porto Alegre: Artes 
Médicas, 1990.
HURFORD, J.; HEASLEY, B. Curso de semântica. Canoas: 
Ulbra, 2004.
LEVINSON, Stephen C.
Pragmática. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
SEARLE, John. Actos de abla. Madrid: Cátedra, 1994.
124 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
Atividades
 1) Assinale a alternativa correta que apresenta um enunciado 
performativo:
a) A manhã está fria.
b) O livro tem mais de cem páginas.
c) Eu prometo não chegar tarde.
d) João tem somente oito anos.
e) Todos os enunciados são performativos.
 2) O enunciado “Você poderia abrir a porta?” realiza o ato 
ilocucionário de:
a) perguntar
b) pedir
c) ordenar
d) implorar
e) duvidar
 3) Assinale a alternativa correta:
a) O ato perlocucionário corresponde exatamente ao ato 
ilocucionário.
b) A perlocução corresponde ao conteúdo proposicional 
do enunciado.
c) A perlocução é o que o falante quer comunicar.
perloc depende do ouvinte; iloc da intenção do falante
ilocucionário
ilocução - intenção do falante
Capítulo 7 Atos de Fala 125
d) O ato perlocucionário foge muitas vezes ao controle 
do falante.
e) Nenhuma das alternativas está correta.
 4) Assinale qual dos atos ilocuicionários seguintes visa expli-
citamente desencadear um ato perlocucionário:
a) jurar algo
b) elogiar alguém
c) afirmar algo
d) negar algo
e) nenhum
 5) O enunciado “Eu peço-lhes desculpas pelo ocorrido” pode 
ser classificado como em ato:
a) performativo
b) questionador
c) representativo
d) descritivo
e) nenhum
causa efeito ilocutório
você é bonito!
obrigada! - perlocucionário, depende do ouvinte
Dóris Cristina Gedrat1
Capítulo 8
Implícitos: Implicaturas 
Conversacionais
1 Graduada em Letras Português/Inglês, mestre e doutora em Linguística Aplicada 
pela PUC/RS. Atualmente é professora e coordenadora do curso de Letras da Uni-
versidade Luterana do Brasil (Ulbra), em Canoas, RS.
Capítulo 8 Implícitos: Implicaturas Conversacionais 127
Introdução
Conforme já foi visto anteriormente, a pragmática é uma das 
áreas da linguística que trata do significado, mas não se con-
funde totalmente com a semântica, pois, enquanto a semân-
tica privilegia o significado imanente, tanto quanto possível 
independente do contexto de uso, a pragmática justamente 
mostra, além deste dito, que outros significados – implícitos – 
o falante veicula ao se comunicar através da língua. Neste ca-
pítulo veremos um tipo de significado implícito: as implicaturas 
conversacionais. Em primeiro lugar, estudaremos a proposta 
original, para então acrescentarmos uma alteração decisiva 
na ideia inicial, que faz referência aos processos cognitivos que 
orientam nossa conversação e a maneira como veiculamos e 
recebemos os significados ao nos comunicarmos verbalmente.
8.1 A Teoria das Implicaturas 
Conversacionais2
Segundo Grice (1989), ao nos comunicarmos, somos orienta-
dos, sem consciência disso, por princípios e regras da conver-
sação. Tais regras nos levam a dialogar da forma mais coope-
rativa possível, visando ao maior grau de univocidade atingível 
na troca de informações. Daí vem a denominação “Princípio 
2 As unidades deste capítulo foram adaptadas da dissertação de mestrado de 
GEDRAT, Dóris C. (1993), e da tese de doutorado da mesma autora (GEDRAT, 
1999).
128 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
de Cooperação” (PC). Esse princípio compõe-se de máximas e 
submáximas, arranjadas nas seguintes quatro categorias:
 (1) PRINCÍPIO DE COOPERAÇÃO
Faça sua contribuição conversacional conforme exigido, no 
estágio em que se encontra a conversação, de acordo com o 
propósito ou direção da mesma.
 1. Categoria da Qualidade: procure afirmar coisas verdadei-
ras.
(i) Não afirme o que você acredita ser falso.
(ii) Não afirme algo para o qual você não possa fornecer 
evidência adequada.
 2. Categoria da Quantidade:
(i) Faça com que sua mensagem seja tão informativa 
quanto necessária conforme os propósitos da conver-
sação.
(ii) Não dê mais informações do que o necessário.
 3. Categoria da Relevância: seja relevante.
 4. Categoria da Maneira: seja Claro.
(i) Evite obscuridade de expressão.
(ii) Evite ambiguidade.
(iii) Seja breve.
(iv) Seja ordenado.
Capítulo 8 Implícitos: Implicaturas Conversacionais 129
Grice diz que jamais as pessoas dialogam sem observar 
esse princípio cooperativo. Por outro lado, observar o princípio 
pode incluir a quebra de uma máxima. Assim, uma implicatura 
conversacional pode ser produzida mediante a observação ou 
a quebra de uma máxima. Exemplo:
 (2) A: Não suporto mais essa dor de cabeça.
B: Tome panadol.
Em (2), o falante B coopera, na medida em que ele possui 
evidências de que panadol é um remédio que cura dores de 
cabeça, ou seja, está obedecendo à máxima da qualidade, 
mesmo que, aparentemente, possa estar violando a máxima 
da relação, mudando o tópico do assunto. Ao dizer que A 
deve tomar panadol, B implicou conversacionalmente que pa-
nadol é bom contra dores de cabeça. Trata-se de uma implica-
tura por observação das máximas.
Ou consideremos (3):
 (3) Comprei dois livros.
Seria compatível com as condições de verdade de (3) que 
o falante tivesse comprado mais do que dois livros, pois “dois” 
não acarreta “apenas dois”. Se “Comprei apenas dois livros” 
é falso, “Comprei dois livros”‘ não é necessariamente falso, 
logo, aquela não é consequência lógica desta. No entanto, 
pela máxima da quantidade, devemos dar toda a informação 
exigida, então, caso o falante tivesse comprado mais do que 
dois livros, ele o teria dito. Do contrário, não estaria sendo 
cooperativo.
130 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
Em outras palavras, (3) implica, pela máxima da quantida-
de, que o falante comprou apenas dois livros. O efeito desta 
máxima é acrescentar ao enunciado uma inferência pragmáti-
ca que diga que a afirmação utilizada é a mais forte ou infor-
mativa para aquela situação. (LEVINSON, 1983, p.106). Por 
outro lado, vejamos o exemplo em (4):
 (4) A: Você gosta de chinelos Samoa?
B: O chinelo Samoa é para quem tem o que fazer.
Segundo Grice, o falante B está violando o princípio de co-
operação, pois quebra a máxima da quantidade, ao dar mais 
informação do que o solicitado, e a máxima da relevância, ao 
responder algo não diretamente relacionado à pergunta de A. 
No entanto, ao reconhecer que B está violando o princípio, 
A, ao mesmo tempo, supõe que B esteja querendo comunicar 
algo através dessa quebra.
Como afirma Grice, os participantes de uma conversação 
nunca dizem as coisas só por dizer, mas sempre com um pro-
pósito.3 Após realizar um cálculo mental e inconsciente, pro-
cessado em frações de segundos, A inferirá, do enunciado de 
B, que os outros chinelos são para pessoas desocupadas, pre-
guiçosas, que não têm nada para fazer, sem objetivos etc. O 
fato de B violar uma ou mais máximas não quer dizer que ele 
não esteja cooperando, e sim que ele está cooperando num 
nível mais profundo, de forma que A deverá realizar um cálcu-
3 Ou, segundo Sperber& Wilson (1995), os enunciados já vêm com o máximo de 
relevância garantida. Nunca se diz algo irrelevante para os propósitos comunicativos 
dos participantes no discurso.
Capítulo 8 Implícitos: Implicaturas Conversacionais 131
lo de inferência mais extenso para concluir outras proposições. 
Ao realizar esse cálculo, A está procurando encaixar o que B 
disse dentro do princípio de cooperação. O que A inferiu é o 
que B implicou conversacionalmente, por quebra ou “explora-
ção” de máximas.
Consideremos (5):
 (5) A: A criminalidade vai baixar e o Brasil vai melhorar.
B: Certo. E o sol vai esfriar.
O falante B diz algo totalmente absurdo, logo não obedece 
à máxima da qualidade, segundo a qual deve-se dizer coisas 
verdadeiras para as quais se tem evidências. Isso ao nível do 
que é dito. Contudo, se formos um pouco mais longe, con-
cluiremos que B ainda assim está cooperando. Supondo-se 
o contrário do que B disse, mais o fato de ele ter ligado seu 
enunciado ao de A, com o conetivo “e” o qual indica não con-
traste entre as partes ligadas, B está querendo implicar conver-
sacionalmente que o enunciado de A também é absurdo. Pelas 
evidências, a criminalidade não vai baixar e o Brasil não vai 
melhorar. Grice pretendeu explicar passagens irônicas dessa 
forma, sugerindo que, se não houvesse princípios cooperativos 
subjacentes, as ironias não seriam compreendidas.
Consideremos, agora, o exemplo (6):
 (6) A: Você vai começar aquele tratamento que o médico re-
ceitou hoje mesmo, não é?
B: Nossa, olha aqui, está passando “Corredeiras no Deser-
to”! Vamos ver?
132 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
Nesse diálogo, entre marido e mulher, B pode estar im-
plicando que não está disposta a iniciar o tratamento e nem 
quer falar sobre o assunto. Ela explorou a máxima da relação, 
ao nível do dito, ao fazer uma contribuição sem relevância 
alguma com relação ao que era exigido naquele estágio da 
conversação.4
Finalmente, a implicatura conversacional por violação da 
máxima de maneira pode ser exemplificada assim:
 (7) A: Que horas começa a corrida?
B: Exatamente, às nove horas, dez minutos e zero segun-
dos, no turno da manhã.
Supondo-se que os dois amigos estejam conversando 
sobre uma corrida que iniciará em poucos minutos, a cuja 
transmissão ao vivo assistirão pela televisão, o falante B foi 
consideravelmente prolixo em sua resposta, violando, assim, 
a submáxima de maneira “Seja breve”, quando poderia sim-
plesmente ter dito “Às nove e dez”. Indo além do nível do dito, 
e procurando entender a resposta do amigo como uma con-
tribuição cooperativa, B pode concluir que A deixou implícita 
sua ansiedade por assistir à corrida, prevendo com precisão 
o início da mesma e demonstrando sua satisfação por estar 
quase na hora da largada.
4 Sperber & Wilson modificaram essa visão dizendo que a relevância está envolvida 
em todas as instâncias de conversação e que, por não estar relacionado com o 
tópico ao nível do dito, de forma alguma um enunciado não é relevante. Ou seja, a 
máxima da relevância jamais é violada.
Capítulo 8 Implícitos: Implicaturas Conversacionais 133
Todas as implicaturas até agora apresentadas são o que 
Grice chamou de implicaturas “particularizadas”, aquelas que 
dependem de informações do contexto para que possam ser 
calculadas. Por exemplo, para que o ouvinte infira com preci-
são a implicatura de B, em (4) acima, as seguintes informações 
devem estar presentes no contexto particular da conversação: 
existem tipos de chinelos para pessoas que não têm o que 
fazer e existem tipos de chinelos para pessoas que têm o que 
fazer; o Rider é um chinelo cuja propaganda destaca o uso do 
mesmo por pessoas em férias, tranquilas, sem compromisso; o 
Samoa, como resposta, dá importância, exatamente, ao fato 
de seus usuários terem o que fazer na vida, emprestando uma 
conotação positiva ao que a propaganda do Rider deixava en-
tender como indesejado; as pessoas, normalmente, preferem 
identificar-se com um tipo ativo, ou seja, que tem o que fazer, 
logo, por isso gostam de Samoa e não de Rider.
Grice também distinguiu as implicaturas conversacionais 
“generalizadas”, em oposição às particularizadas. Ao contrá-
rio destas, aquelas não exigem um contexto especial ou cená-
rio para surgirem. O exemplo que Grice mesmo dá é quanto 
ao uso de sentenças como (8):
 (8) Entrei numa casa.
Sempre que alguém disser (8), não estará se referindo à 
sua própria casa, caso contrário não estaria cooperando por 
não dizê-lo.
Desde seu surgimento, essa teoria tem merecido a atenção 
de inúmeros filósofos, lógicos e linguistas, que defenderam e 
aplicaram as sugestões de Grice, ou as criticaram e reformu-
134 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
laram. Na unidade seguinte, veremos a principal modificação 
feita a partir da visão de Grice, destacando o fato de nunca 
sermos não relevantes em nossa comunicação conversacional.
8.2 Implicaturas segundo Sperber e 
Wilson na Teoria da Relevância
Em meados dos anos 1980, Dan Sperber e Deirdre Wilson, 
revisitando os conceitos de Grice, propuseram modificações 
cruciais nas noções de relevância e de quebra de máximas. 
Eles passaram a defender que as pessoas tendem a prestar 
atenção a fenômenos relevantes e a processá-los de forma a 
maximizar a relevância. Enquanto Grice estabelece um princí-
pio cooperativo, Wilson e Sperber defendem que o princípio 
sempre observado é o princípio da relevância. Eles destacam 
a relevância como sendo a orientação geral para o processa-
mento de informação na mente humana.
Para demonstrar isso, eles caracterizam relevância não 
apenas como uma propriedade de suposições na mente, mas 
também como uma propriedade de fenômenos (estímulos, por 
exemplo, enunciados) no ambiente os quais levam à constru-
ção de suposições. Para esses autores, um ato de comunica-
ção ostensiva5 comunica, automaticamente, uma “presunção 
de relevância ótima”, o que significa dizer que todo ato de 
5 Um ato de comunicação ostensiva é o ato de o falante pedir a atenção do ou-
vinte, o que ele faz quando começa a falar. 
Capítulo 8 Implícitos: Implicaturas Conversacionais 135
comunicação é relevante o suficiente para valer a atenção da 
audiência.6
A partir da noção de relevância ótima, Wilson e Sperber 
definem o Princípio da Relevância (PR):
 (9) Suposição de relevância ótima:
a) O conjunto de suposições que o comunicador preten-
de tornar manifesto ao ouvinte é relevante o suficiente 
para fazer valer a pena o ouvinte processar o estímulo 
ostensivo7;
b) O estímulo ostensivo é o mais relevante que o comu-
nicador poderia ter usado para comunicar.
Princípio da relevância:
Todo ato de comunicação ostensiva comunica a presunção 
de sua relevância ótima.
Segundo Sperber e Wilson (1995:38), a orientação pelo 
que é relevante é uma propriedade da psicologia humana que 
afeta, também, a comunicação verbal, o que não significa, en-
tretanto, que exista um critério fixo de relevância e que aquelas 
informações que o atingirem serão relevantes. O conceito é 
relativo, principalmente ao contexto de comunicação e, além 
disso, gradual. Em outras palavras, uma suposição só é re-
6 O termo relevante, na Teoria da Relevância, tem um sentido técnico, não se 
confundindo com o sentido comum do termo nas diversas línguas em que existe.
7 Estímulo ostensivo, aqui, é o ato de iniciar uma conversação, dizer alguma coisa 
a alguém.
136 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
levante dentro de um contexto de suposições, e certas supo-
sições serão mais relevantes do que outras em determinado 
contexto, podendo ocorrer o inverso em outro contexto.
Por exemplo, considerando-se um conjunto de suposições 
que se pode ter em mente enquanto se espera para comprar 
um bilhete na fila do cinema, um enunciado proferido por al-
guém, do tipo É realmente uma pena que Mário Quintana já 
tenha falecido, não terá relevância nenhuma no contexto, por 
não ter efeito no contexto. Não há, neste contexto,nenhuma 
suposição com a qual a nova informação possa se combinar e 
originar implicações contextuais.
Contudo, entre todas as suposições disponíveis a um indi-
víduo, em seu ambiente cognitivo, que suposição é mais pro-
vável que ele construa e processe? Segundo Wilson e Sperber, 
a propriedade da relevância é que o decidirá: ela consiste em 
atingir objetivos pelo custo mínimo de processamento.
Algumas informações são antigas e já fazem parte da re-
presentação de mundo do indivíduo; outras são novas, mas 
nada acrescentam a essa representação por não se conecta-
rem a ela de forma alguma. Já outras, também novas, quando 
combinadas com as já existentes, produzem outras, ou refor-
çam alguma que já exista, ou, ainda, rejeitam determinadas 
informações estocadas. Quando o processamento de novas 
informações produz este tipo de efeito, Wilson e Sperber dizem 
que elas são relevantes. E, quanto maiores os efeitos por elas 
produzidos, mais relevantes elas são.
Segundo Wilson e Sperber (1995, p. 137-142), a interpre-
tação de um enunciado será o processamento de informações 
Capítulo 8 Implícitos: Implicaturas Conversacionais 137
novas combinadas a informações antigas. As informações an-
tigas (já armazenadas) formam o contexto no qual o enuncia-
do é processado. Portanto, durante o processamento de um 
enunciado, o contexto vai se formando, a partir de um contex-
to inicial, e se modificando com reforço de suposições e com 
o aparecimento de novas suposições contextuais, que são as 
implicaturas (suposições e conclusões implicadas).
Imaginemos, por exemplo, que Pedro seja o novo bolsista 
do curso de Letras francês-português e chegue à universidade 
para a reunião marcada com o coordenador das disciplinas 
de francês, sobre a qual Maria havia lhe avisado, mas não 
sabe ao certo se deve entrar na sala 11 ou na 12. Ao entrar na 
11, decide perguntar à secretária se está na sala correta, po-
rém, antes de dirigir-se a ela, vê, na porta, uma placa dizendo 
Enter, but knock first, please,8 logo compreende que se trata do 
departamento de inglês. Com base nas duas assunções, (10) 
e (11), Pedro deriva a conclusão implicada (12), um tipo de 
efeito contextual acima mencionado:
 (10) A reunião com o professor de francês será na sala 11 
ou na sala 12.
 (11) Na sala 11 funciona o departamento de inglês.
 (12) A reunião será na sala 12.
Pedro deduz (12) a partir de sua assunção anterior, (10), 
mais a nova informação, (11), não de uma delas apenas. As-
sim, diz-se que (11) é relevante num contexto contendo (10), 
8 Em português, “Entre, mas bata primeiro, por favor”.
138 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
precisamente, porque (11) permite esse processo de inferência 
a partir da união dos dois. A assunção (10) é o contexto no 
qual a nova informação (11) implica contextualmente (12).
Mas as pessoas não têm o mesmo grau de suposições so-
bre o mundo. Podem-se ter mais ou menos evidências quanto 
às suposições, bem como mais ou menos confiança nas mes-
mas. Por sua vez, as novas informações irão influir na força das 
suposições existentes. Por exemplo, supondo (12), Pedro entra 
na sala 12 e, como a porta encontra-se aberta, escuta a con-
versa que o coordenador do departamento que ali funciona 
está tendo ao telefone. O coordenador diz o seguinte:
 (13) Isso não vai ao encontro das metas do departamento 
de francês.
Mesmo que Pedro não tivesse o objetivo de ficar escutando 
conversas alheias, dados os acontecimentos até este ponto, 
ele prestará atenção ao enunciado do professor em (13) por-
que, entre outras assunções que já tinha, (13) é mais uma 
evidência confirmando (12). Temos, então, o segundo tipo de 
efeito contextual, o reforço de uma assunção já existente, e 
dizemos que (13) é relevante no contexto (12), pois (13) é a 
informação nova e (12), a antiga.
Por outro lado, uma nova informação pode também atingir 
relevância ao contradizer e eliminar uma suposição existente, 
que é o terceiro tipo de efeito contextual. Imaginemos, por 
exemplo, que, ainda com a suposição (12) em mente, mais a 
suposição (14), Pedro escuta a pessoa ao telefone dizer (15):
Capítulo 8 Implícitos: Implicaturas Conversacionais 139
 (14) A pessoa que está ao telefone é o professor com quem 
tenho que me reunir.
 (15) Sim, fico contente por não pertencer ao departamento 
de francês.
Como (15) vai diretamente contra (14), também amea-
çando (12), Pedro automaticamente terá de rejeitar uma de-
las, considerando a inconsistência de sua união. Ele rejeitará 
aquela para a qual tem menos evidências, isto é, (14), encon-
trando, assim, a relevância de (15) no contexto formado pelas 
assunções antigas (12) e (14), por rejeitar uma delas.
Logo uma informação nova é relevante em qualquer con-
texto no qual ela origine conclusões implicadas, reforce supo-
sições ou contradiga e leve à eliminação de uma suposição 
existente (quanto mais suposições eliminar e quanto mais for-
tes essas suposições tiverem sido, tanto mais relevante a infor-
mação nova será).
Como já foi dito aqui, Wilson e Sperber não pretendem 
definir o termo “relevância” semanticamente, e sim tentam ex-
plicar o conceito teórico de relevância como propriedade de 
processos mentais conforme a psicologia cognitiva. Para ser 
relevante, dizem os autores, as suposições de um enunciado 
devem interagir com o seu contexto, isto é, deve, necessaria-
mente, haver uma interação entre informação nova e informa-
ção antiga.
Os autores dizem, no entanto (p. 121), que, mesmo nos 
casos em que a suposição propriamente dita é irrelevante, a 
escolha que o falante fez de utilizar uma suposição irrelevante 
140 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
pode ser relevante, opondo-se, assim, à noção de quebra da 
relevância de Grice. Conforme a teoria de Wilson e Sperber, 
então, se o nível do dito não gera efeitos contextuais, logo, 
não parece ser relevante, o fato de o falante ter escolhido 
aquele enunciado já carrega em si uma presunção de relevân-
cia, como é o caso do exemplo (6), acima, em que a falante 
B mudou completamente de assunto, dizendo algo totalmente 
irrelevante em relação ao que A havia perguntado, mas atin-
gindo o seu propósito de relevância, que era justamente não 
falar sobre o assunto perguntado.
Dessa forma, o princípio cooperativo de Grice passa a ser 
o princípio da relevância e, assim como em Grice, o princípio 
cooperativo sempre é seguido, mesmo com quebra de máxi-
mas. Para Wilson e Sperber, o princípio da relevância sempre 
é seguido, mesmo que, ao nível do dito, não pareça haver 
relevância.
Dica de Leitura
HURFORD, James R.; HEASLEY, Brendan. Curso de semân-
tica. Traduzido por Delzimar da Costa Lima e Dóris Cristina 
Gedrat. Canoas: Ulbra, 2004.
Este livro, um manual de semântica, que inclui a pragmáti-
ca, foi pensado e elaborado para alunos de letras, linguística 
e áreas afins. A obra apresenta princípios e conceitos básicos 
das duas ciências que estudam o significado da linguagem 
natural, conciliando informações de caráter tradicional, dia-
logando com outros manuais e apontando tendências. Além 
Capítulo 8 Implícitos: Implicaturas Conversacionais 141
disso, estimula o leitor a navegar nos rumos do funcionamento 
da linguagem através de uma abordagem instigante.
Recapitulando
Neste capítulo, estudamos uma das teorias mais importantes 
na área do significado linguístico, a teoria das implicaturas 
conversacionais, de Grice. Ele revolucionou o tratamento se-
mântico da linguagem, ao demonstrar que o significado vei-
culado na comunicação não é capturado por uma semântica 
das condições de verdade, pois esta não tem como tratar dos 
fatores contextuais determinantes na interpretação de enuncia-
dos. Em seguida, vimos que a teoria de Grice sofreu críticas e, 
como é muito natural em ciência, outros pesquisadores, neste 
caso Sperber e Wilson, a partir das descobertas de Grice, pro-
puseram reformulações que trouxeram a análise do significado 
na comunicação para mais pertodo que ocorre realmente em 
situações de conversação, ampliando-a também para a cog-
nição em geral e para o mecanismo que temos na mente para 
processar qualquer tipo de informação.
Referências
FIORIN, José L. (org.) Introdução à Linguística. II Princípios 
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Atividades9
 1) Neste capítulo, explicamos a noção de implicatura con-
versacional. Implicatura é um conceito de significado do 
enunciado oposto a significado da sentença, mas parale-
lo, de muitas maneiras, à relação de sentido de acarreta-
mento, que vimos no capítulo 3. Além disso, relaciona-se 
ao método pelo qual os falantes chegam às elocuções in-
diretas dos enunciados.
 Retomando, quando uma proposição A é VERDADEIRA, 
uma proposição B, consequentemente, também é VERDA-
DEIRA, então a proposição A ACARRETA a proposição B.
9 As atividades deste capítulo são adaptações feitas a partir dos exercícios da uni-
dade 26 de Hurford e Heasley (2004).
144 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
 Imagine que haja, digamos, seis estudantes que poderão 
ou não ir à festa. Isto é, nós estamos considerando um 
pequeno mundo contendo seis estudantes. Imagine que 
seus nomes sejam Felipe, Rute, Margarete, Luísa, André e 
Janete.
(1) A expressão alguns estudantes especifica algum nú-
mero particular de estudantes, ex. 4, ou 5, ou 6? Sim/
Não
(2) A sentença Alguns, de fato, todos os estudantes foram 
à festa é uma contradição? Sim/Não
(3) Se alguns estudantes é usado como uma expressão re-
ferencial, referindo-se apenas ao grupo Felipe, Rute e 
Margarete, a sentença Alguns estudantes foram à festa 
diz alguma coisa sobre Luísa, André e Janete? Sim/
Não
(4) Se a sentença Alguns estudantes foram à festa é verda-
deira, em que o sintagma sujeito da sentença refere-se 
a um grupo particular de estudantes, podemos logica-
mente concluir alguma coisa sobre o grupo de estu-
dantes não referido? Sim/Não
(5) Então, se Alguns estudantes foram à festa é verdadei-
ro, pode-se conceber que os outros estudantes não 
referidos também foram à festa? Sim/Não
(6) Se Alguns estudantes foram à festa é verdadeiro, po-
der-se-ia conceber o caso que, de fato, TODOS os 
estudantes foram à festa? Sim/Não
Capítulo 8 Implícitos: Implicaturas Conversacionais 145
(7) Alguns estudantes foram à festa acarreta Nem todos os 
estudantes foram à festa? Sim/Não
 2) 
a) Na conversação normal, um falante prestativo:
(1) Dá respostas relativamente não específicas, até mes-
mo vagas, às perguntas? Sim/Não
(2) Dá informação que o ouvinte já sabe? Sim/Não
(3) Dá informação que não é relevante para o tópico da 
conversação? Sim/Não
(4) Dá informação de uma forma que é fácil de com-
preender? Sim/Não
(5) Evita ambiguidade ou afirmações potencialmente con-
fusas? Sim/Não
b) Agora, em cada uma das situações acima, diga se o 
segundo falante, embora claramente não cooperativo, 
está falando a verdade ou não (até onde você pode 
dizer).
(1) Sim/Não (3) Sim/Não
(2) Sim/Não (4) Sim/Não
 3) Circule a resposta correta:
(1) Maria fala francês acarreta Maria é filha de João? 
Sim/Não
146 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
(2) Se eu pergunto “Alguma das filhas de João fala uma 
língua estrangeira?”, e você responde “Maria fala 
francês”, seria razoável que eu concluísse que Maria é 
filha de João? Sim/Não
(3) Eu normalmente assumiria que você daria uma respos-
ta relevante? Sim/Não
(4) Na situação acima, se Maria não fosse, de fato, filha 
de João, a resposta que você deu seria relevante? 
Sim/Não
(5) Seria razoável que eu raciocinasse da seguinte forma: 
se Maria não fosse filha de João, a resposta dada não 
seria relevante; eu assumo que a resposta É relevante 
e, portanto, Maria É filha de João. Sim/Não
4) Agora você terá a oportunidade de manusear com 
o Princípio de Cooperação. Dê uma implicatura do 
enunciado de B em cada uma das situações a seguir:
(1) A: “Você me ama?” B: “Gosto muito de você.”
 Implicatura: __________________________________
_________
(2) A: “Havia um violinista no bar ontem à noite?”
 B: “Havia um homem esfregando um arco num violi-
no.”
 Implicatura: __________________________________
________
NÃO AMA
O VIOLINISTA NÃO ERA MUITO BOM
Capítulo 8 Implícitos: Implicaturas Conversacionais 147
(3) A: “Você gostou do meu carpete novo?” B: “O papel 
de parede não é mau.”
 Implicatura: __________________________________
________
 5) Abaixo há algumas conversações entre duas pessoas, A 
e B. Após cada conversação, é dada uma implicatura do 
enunciado de B. Em cada caso, diga se a assunção crucial 
que conduz o ouvinte a essa implicatura envolve a máxima 
da (R) relevância, (Q) qualidade, (M) maneira. Circule sua 
resposta.
(1) A: “Meu carro está estragado.” B: “Há uma oficina 
dobrando a esquina.”
 Implicatura: A oficina está aberta e tem um mecânico 
que pode arrumar o estrago. R/Q/M
(2) A: “Que matérias João está fazendo?” B: “Ele não 
está fazendo Linguística.”
 Implicatura: B não sabe exatamente que matérias João 
está fazendo. R/Q/M
(3) A: “Você escovou os dentes e arrumou seu quarto?” 
B: “Eu escovei meus dentes.”
 Implicatura: B não arrumou seu quarto. R/Q/M
(4) A: “Quem era o homem com quem você estava con-
versando?”
 B: “Aquele é o marido de minha mãe.”
NÃO GOSTEI
148 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
 Implicatura: O marido da mãe de B não é o pai de B. 
R/Q/M
(5) A: “A Beti está?” B: “Sua luz está acesa.”
 Implicatura: A luz do quarto de Beti acesa normalmen-
te é um sinal quanto a ela estar ou não. R/Q/M
Daisy Batista Pail1
Capítulo 9
Teoria da Relevância12
1 Professora adjunta do curso de Letras da Universidade Luterana do Brasil (Ul-
bra). Doutoranda em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do 
Sul (PUCRS) e colaboradora no grupo de pesquisa SynSemPra (Syntax, Semantics, 
Pragmatics and Interfaces) na mesma Universidade.
2 Este capítulo é uma adaptação de uma seção da dissertação de mestra-
do da autora. Disponível no link http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
nlinks&ref=000112&pid=S1982-2553201300030000300009&lng=pt.
150 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
Introdução
Nos capítulosanteriores, pudemos estudar a diferença en-
tre semântica e pragmática. Vimos também que elas não 
apresentam uma única forma de tratamento. A semântica, por 
exemplo, pode ser tratada a partir de um ponto de vista re-
ferencial (na qual o teórico de maior expoente é Frege) ou 
mentalista (na qual encontramos papéis temáticos, metáforas 
e protótipos). A pragmática não é diferente, entre as aborda-
gens podemos encontrar: análise da conversação, atos de fala, 
implicaturas (de Grice), Teoria da Relevância. A importância 
da proposta de Grice é tão grande no quadro de estudos se-
mânticos e pragmáticos, que há uma divisão entre griceanos e 
neogriceanos. A proposta da Teoria da Relevância (doravante 
TR), apesar de se diferenciar e distanciar em muitos aspectos, 
também mantém relação de origem com o trabalho de Grice.
É sobre a Teoria da Relevância que estudaremos a seguir. 
Começaremos por noções introdutórias relevantes para o 
entendimento dessa teoria (seção um), como seu argumento 
para a explicação de como paramos de “procurar significa-
dos” para enunciados. Essa busca ocorre de acordo com o 
princípio de relevância, em que se procura potencializar os 
efeitos cognitivos (seção 2). Assim como em Grice, a intenção 
tem papel importante para a teoria, distingue-se, entretanto, 
outro nível fundamental nessa: intenção comunicativa e inten-
ção informativa (seção 3). Por último, veremos a noção de 
implicação dentro da pragmática: implicatura (como proposto 
inicialmente por Grice); e o processo de enriquecimento prag-
mático de enunciados: explicatura (seção 4).
Capítulo 9 Teoria da Relevância 151
9.1 Sobre relevância
A Teoria da Relevância surgiu como uma reinterpretação 
cognitiva do modelo inferencial de Grice, que não apresen-
ta preocupações dessa natureza. No modelo griceano, pou-
co é tratado sobre a recuperação de atitudes proposicionais 
(conforme Feltes e Silveira, 2002), intenções mais complexas 
e o papel da cognição. A Teoria da Relevância, diferentemen-
te, segundo Carston, “se preocupa com os processos on-line 
de interpretação do enunciado e da natureza do(s) sistema(s) 
mental(s) responsável(s) por eles”3 (2011, p. 1). Isso significa 
que a proposta procura explicar processos em ação quando 
se tenta entender um enunciado, assim como em que consis-
tem os sistemas mentais relacionados com esses processos, 
diferenciando-se, pois, também do modelo de códigos (base-
ado na premissa de codificação e decodificação de Shannon 
e Weaver).
Conforme Wilson e Sperber (2002, p. 249), “um enuncia-
do é, obviamente, um pedaço linguisticamente codificado de 
evidência, portanto, a compreensão verbal envolve um ele-
mento de decodificação”4 (2002, p. 249). O código será um 
dos inputs em um processo “inferencial não demonstrativo que 
permite a interpretação do significado do falante”5 (WILSON; 
SPERBER, 2002, p. 250) em contraposição a argumentos da 
lógica, como dedutivos, por exemplo. Conectada às ciências 
3 Tradução da autora (TA)
4 TA
5 TA
152 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
cognitivas, a Teoria da Relevância assume “(1) que a mente é 
modular (2) que muitos processos mentais são realizados atra-
vés de heurísticas rápidas e econômicas” (CARSTON, 2011, 
p. 3).6
Sperber e Wilson, apoiados em estudos sobre a cognição 
humana e sobre a lógica, partem da hipótese de que o Prin-
cípio de Relevância, baseado numa relação de economia 
e eficiência da informação, faz parte da cognição humana. 
Conforme Carston (2011, p. 2), o
sistema cognitivo humano é em geral guiado de forma a 
realizar tantas melhorias a seus conteúdos representacio-
nais e a sua organização quanto possível, enquanto ga-
rante que o custo de seus recursos de energia é mantido 
tão baixo quanto razoavelmente possível.7
Isso significa que nossa mente procura extrair o máximo de 
informação e mantê-la potencialmente organizada, usando o 
mínimo de energia possível. A partir disso, os autores desen-
volveram uma abordagem pragmático-cognitiva que objetiva 
“explicar como o ouvinte infere o significado do falante basea-
do na evidência provida” (WILSON; SPERBER, 2002, p. 250).8 
Essa tentativa é baseada em uma alegação central do mode-
lo griceano, descritos no Princípio de Cooperação (PC) e nas 
máximas. Logo, a Teoria da Relevância compartilha a mesma 
intuição que Grice: enunciados surgem de uma expectativa de 
6 TA
7 TA
8 TA
Capítulo 9 Teoria da Relevância 153
relevância. Contudo, é questionada a necessidade do Princípio 
de Cooperação, bem como suas máximas, pois a alegação 
principal, considerada de acordo com as ciências cognitivas, 
da Teoria da Relevância, é que as expectativas de relevância 
de um enunciado são precisas e previsíveis o suficiente para 
guiar o ouvinte (WILSON; SPERBER, 2002).
9.2 Efeitos cognitivos
De acordo com Carston (2011, p. 2), “(…) relevância é uma 
propriedade potencial de qualquer processo perceptual e 
cognitivo”,9 ou seja, qualquer estímulo externo (como imagens, 
sons, cheiros etc.) ou representação interna que forneçam um 
input10 para processos cognitivos podem vir a se tornar rele-
vantes para um indivíduo na medida em que houver equilíbrio 
entre esforço mental no processamento de informação e efei-
tos cognitivos alcançados (WILSON; SPERBER, 2002, p. 250): 
“(a) quanto maior é o número dos efeitos cognitivos, maior é 
a relevância; (b) quanto menor é o esforço de processamento, 
maior é a relevância” (SPERBER; WILSON, 2001, p. 11).
Mais especificamente, algo se torna relevante quando o 
processamento de um input “em um contexto de suposições 
disponíveis permitem um efeito cognitivo positivo” (WILSON; 
SPERBER, 2002, p. 251). O efeito cognitivo será considerado 
positivo quando esse input for benéfico para o sistema cogni-
9 TA
10 Estímulo
154 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
tivo (CARSTON, 2011) e seu grau de relevância. Conforme 
pontuado por Carston, é determinado pelo esforço de pro-
cessamento que ele demanda, pois há uma série de sistemas 
cognitivos envolvidos (como memória, atenção e “fórmulas” 
para processamento e heurísticas11) (CARSTON, 2011).
Os efeitos cognitivos surgem quando ocorre(m) 
alteração(ões) no ambiente cognitivo de um indivíduo. Sperber 
e Wilson definem o ambiente cognitivo como um “conjunto 
de suposições manifestas em graus diversos (...)”. “Se as supo-
sições se tornam mutuamente manifestas, tem-se o ambiente 
cognitivo mutuamente manifesto (...)” (FELTES; SILVEIRA, 
2002, p. 28).
 (1) Vamos imaginar que há duas irmãs (Ana e Elsa) caminhan-
do juntas por uma rua. Ana diz: – Ele não vai conseguir. 
Elsa não entende e pergunta o que ela quis dizer. Ana en-
tendeu e responde: – Olaf não vai conseguir assar o mar-
shmallow.
Ana, ao explicar para Elsa a que se referia na primeira 
frase, permite que se torne mutuamente manifesta sua preocu-
pação. Elas passam a ter um ambiente cognitivo mutuamente 
manifesto, da mesma forma que aqueles que já assistiram ao 
filme “Frozen” estabeleceram um ambiente mutuamente ma-
nifesto comigo ao lembrarem que Olaf é um boneco de neve 
mágico, logo irá derreter.
Os efeitos cognitivos podem ser de três tipos. Fortaleci-
mento das suposições: ocorre quando as suposições já exis-
11 Princípios pragmáticos
Capítulo 9 Teoria da Relevância 155
tentes são reforçadas através de mais evidências. Contradi-
ção ou enfraquecimento de suposições: acontece quando há 
fornecimento de evidências contrárias entre duas suposições, 
sendo eliminada aquela que tiver menos evidências (se contra-
dição) ou, de acordo com Carston12 (2011, p. 2), “podendo 
ser rearranjada a forma como informação é guardada” (se en-
fraquecimento). Implicações contextuais, o mais importante 
de todos: consistem em “uma conclusão dedutível a partir de 
um input e do contexto juntos”, não podendo ser alcançada a 
mesma conclusão separadamente. Este último efeito é o que 
os autores chamam de P em C: a informação nova (P) é pro-
cessada no contexto de suposições existentes (C) na memóriaenciclopédica ou advindas do ambiente físico observável para 
derivar uma nova informação. De acordo com Carston (2011, 
p. 2), “tais efeitos podem ou não ser benéficos para um indi-
víduo, isto é, eles podem aumentar ou diminuir a acurácia da 
informação do sistema cognitivo sobre o mundo e talvez tornar 
uma informação usável mais fácil ou mais difícil de acessar”.13
 (2) A pergunta para B se há alguma janela batendo, se B dis-
ser, por exemplo, “deve ser no quarto”, haverá um efeito 
cognitivo pelo fortalecimento de suposições, se, no entan-
to, disser “deve ser no vizinho”, ocorrerá um enfraqueci-
mento de suposições.
A caracterização de relevância na relação efeito e benefício 
é, conforme Wilson e Sperber, comparativa em vez de quanti-
tativa, embora tenham feito algumas sugestões de como fazer 
12 TA
13 TA
156 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
essa caracterização de forma quantitativa. Enquanto alguns 
aspectos de processos cognitivos podem ser medidos ‘de fora‘, 
como tempo de processamento; e outros, a princípio, como 
o número de implicações contextuais; já outros não, como a 
força de implicações, nível de atenção – apesar de não citado 
pelos autores – emoção e intenção.14 Devido a isso, como co-
locado pelos autores, parece preferível tratar esforço e efeito 
como dimensões não representacionais: “eles existem e exer-
cem um papel na cognição quer sejam ou não mentalmente 
representados (...)”15 (WILSON; SPERBER, 2002, p. 254).
9.3 Intenção, princípio comunicativo e 
cognitivo
Como resultado da pressão de seleção constante para aumen-
tar a eficiência, o sistema cognitivo humano se desenvolveu de 
tal maneira que os mecanismos perceptuais tendem automati-
camente a escolher estímulos potencialmente relevantes, e os 
mecanismos de recuperação de memória tendem automatica-
mente a ativar hipóteses potencialmente relevantes, e os me-
canismos inferenciais tendem espontaneamente a processá-los 
da forma mais produtiva16 (WILSON; SPERBER, 2002, p. 254). 
Essa tendência é descrita no Princípio Cognitivo de Rele-
vância – “a cognição humana tende a ser guiada pela ma-
14 Acredita-se, em conformidade com Damásio (1996), Cooper et al. (2010), que 
emoções e intenções têm efeito sobre inferências.
15 TA
16 TA
Capítulo 9 Teoria da Relevância 157
ximização de Relevância”, (FELTES; SILVEIRA, 1999) – e torna 
possível, até certo ponto, predizer e manipular estados mentais 
de outros, de acordo com Wilson e Sperber (2002, p. 255).
A consciência sobre essa tendência leva o falante a produ-
zir um estímulo que chamará a atenção do ouvinte e que fará 
com que este acesse certas suposições contextuais para chegar 
ao significado pretendido. Compatível com o posicionamento 
griceano, na Teoria da Relevância se defende que a “comuni-
cação inferencial não é apenas uma questão de intenção de 
afetar os pensamentos de um público, é uma questão de levá-
-los a reconhecer que alguém tem essa intenção”17 (WILSON; 
SPERBER, 2002, p. 255). Esse tipo de comunicação é chama-
do de comunicação ostensiva-inferencial, que envolve um 
nível extra de intenção:
a. Intenção informativa: a intenção de informar o público so-
bre alguma coisa;
b. Intenção comunicativa: a intenção de informar o público 
sobre a intenção informativa (WILSON; SPERBER, 2002, p. 255).
A compreensão é alcançada quando a intenção comuni-
cativa é cumprida, ou seja, quando o público reconhece a 
intenção informativa, o que não exclui mal-entendidos. A co-
municação ostensiva e as intenções informativa e comunica-
tiva estão associadas à noção de manifestabilidade, mais 
especificamente a manifestabilidade mútua. Tornar algo 
17 TA
158 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
manifesto é chamar a atenção para algo, ter algo manifesto 
é estar ciente sobre algo. Quando os envolvidos na interação 
têm manifesta uma mesma coisa é chamada de manifestabili-
dade mútua, conforme Sperber e Wilson (1995).
De forma mais geral, a comunicação ostensivo-inferencial 
envolve o uso de um estímulo ostensivo, que visa tornar algo 
manifesto, isto é, chamar a atenção do ouvinte para algo. Se-
gundo Carston, a ostensão “é uma garantia implícita de que o 
enunciado é o mais relevante que o orador poderia ter produ-
zido, dada a sua competência e suas próprias metas correntes, 
e que é, pelo menos, relevante o suficiente para merecer ser 
processado”18 (CARSTON, 2011, p. 4). Isso baseia o segundo 
princípio de relevância, Princípio Comunicativo de Relevân-
cia: “Todo ato de comunicação ostensiva comunica a presun-
ção de sua própria relevância ótima” (SILVEIRA; FELTES, 1999).
Figura 1
Adaptado de: WATERSON, Bill. Os dias estão todos ocupados.
18 TA
Capítulo 9 Teoria da Relevância 159
Consideremos a tirinha acima. No segundo quadro, Mi-
guel (menino sem boné) tem a intenção informativa de infor-
mar que quer jogar um balão cheio de água na Susie quando 
ela passasse; sua intenção comunicativa é que Pedro (o meni-
no com boné) reconheça sua intenção comunicativa. Miguel 
já tinha manifesto em seu ambiente cognitivo seu plano e os 
passos necessários para possibilitar sua realização. Ao falar 
para Pedro seu plano, essa informação se torna mutuamente 
manifesta.
Esse Princípio e a noção de relevância ótima são centrais 
para essa perspectiva pragmática. Um estímulo ostensivo cria 
a presunção de relevância que, em termos de esforço e efei-
to, licencia o público a esperar uma relevância ótima:
[u]m estímulo ostensivo é otimamente relevante a um pú-
blico se e somente se: a. É relevante o bastante para 
ser merecedor do esforço de processamento do público; 
b. É o mais relevante compatível com as habilidades do 
comunicador e suas preferências. (WILSON; SPERBER, 
2002, p. 257). 
A relevância ótima ocorre quando tanto os interesses da 
pessoa que comunica quanto os dos receptores são levados 
em consideração. A presunção de relevância ótima licencia 
um procedimento particular de compreensão: 
“a. [s]iga o caminho de menor esforço no cálculo de efei-
tos cognitivos: teste hipóteses interpretativas (desambi-
guação, resolução de referentes, ajustes lexicais, implica-
160 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
turas etc.) em ordem de acessibilidade; b. [p]are quando 
as expectativas de relevância forem satisfeitas” (WILSON; 
SPERBER, 2002, p. 260).
9.4 Implicatura e explicatura
De acordo com Wilson e Sperber (2002, p. 261), “na comu-
nicação verbal, os falantes administram a transmissão de uma 
vasta gama de significados, apesar do fato de que não há ne-
nhum nível básico de informação para o ouvinte selecionar” e 
o “que torna possível para o ouvinte reconhecer a intenção 
informativa do falante é que enunciados codificam formas ló-
gicas (representações conceituais, embora fragmentadas ou 
incompletas), que foram manifestadamente escolhidos para 
fornecer como entrada para o processo de compreensão infe-
rencial do ouvinte”. Dessa forma, na comunicação se pode al-
cançar um grau de explicitude não viável na comunicação não 
verbal. Contudo, a noção de explicitude assumida pela Teoria 
da Relevância não se limita ao linguisticamente codificado, e a 
identificação do conteúdo explícito é igualmente inferencial e 
igualmente guiada pelo Princípio Comunicativo de Comunica-
ção, aplicando-se o mesmo procedimento já apresentado que 
pode ser dividido em subtarefas:
Capítulo 9 Teoria da Relevância 161
a. construindo uma hipótese apropriada sobre conteúdo ex-
plícito (em termos da Teoria da Relevância, EXPLICATURAS) 
através de decodificação, desambiguação, resolução de re-
ferente, e outros processos de enriquecimentos pragmáticos;
b. construindo uma hipótese apropriada sobre suposições con-
textuais pretendidas (nos termos da Teoria da Relevância, 
PREMISSSAS IMPLICADAS);
c. construindo uma hipótese apropriada sobre implicações con-
textuais pretendidas (nos termos da Teoria da Relevância, 
CONCLUSÕES IMPLICADAS) (WILSON; SPERBER, 2002, p. 
262).
Conforme Carston (2011, p. 5), a restriçãode conceito só 
prosseguirá até o momento que o ouvinte que estiver usando 
uma heurística de compreensão teórica-relevante atingir sua 
expectativa de relevância. “Usos metafóricos e hiperbólicos de 
palavras envolvem um tipo de ampliação do conceito (‘uso 
fraco‘), então abrangendo esse processo geral de ajustamento 
de significado lexical, que contribui para o conteúdo explicita-
mente comunicado” (CARSTON, 2011, p. 6). Diferentemente 
da proposta de Levinson sobre interpretação tipo, na Teoria 
da Relevância, explicaturas e implicaturas são dirigidas pela 
busca da relevância, o enriquecimento, a restrição lexical; e 
esta última é muito mais flexível e dependente de contexto do 
que naquela perspectiva (WILSON; SPERBER, 2002, p. 267). 
Essa diferença permite interpretações também mais flexíveis 
que podem ser um enfraquecimento em vez de restrição do 
significado codificado. Devido a isso, as explicaturas apresen-
162 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
tam um grau de indeterminação que é ligado à força de im-
plicaturas. Se a recuperação de uma implicatura é essencial 
para se chegar à interpretação que satisfaça as expectativas 
de recuperação, ela é considerada fortemente implicada ou 
uma implicatura forte. Se por outro lado a recuperação de 
uma implicatura ajuda a se chegar à interpretação relevante 
na forma esperada, ela é fracamente implicada ou uma im-
plicatura fraca que não é essencial, pois o enunciado sugere 
uma variedade de implicaturas similares, conforme Wilson e 
Sperber.
Entende-se por processo inferencial um conjunto de pre-
missas que resultam logicamente ou legitimam um conjunto de 
conclusões, por isso é considerado como cálculo não trivial. 
É não trivial porque não parte de premissas dadas a priori, pré-
-fixadas (como em acarretamento e pressuposição), mas cons-
truídas durante o ato comunicativo. Diferentemente da lógica 
formal, as inferências são não demonstrativas, pois funcio-
nam na base de suposições que podem ser apenas confirma-
das, mas não provadas. Devido ao funcionamento baseado 
em suposições, se pode explicar porque, mesmo nas melhores 
condições, é possível ocorrer falha na comunicação.
Vamos utilizar o mesmo segundo quadro da tirinha para 
demonstração de explicatura:
Capítulo 9 Teoria da Relevância 163
(1) A gente [Pedro e eu, Miguel] espera [sentado no galho da árvore no tempo t] a 
Susie passar embaixo da árvore [no tempo v] e joga [no tempo v] a bexi-
ga com água em cima dela [Susie].
Na Teoria da Relevância, temos três fontes de informações:
 Â Lexical: conteúdo linguístico;
 Â Memória enciclopédica: conhecimento de mundo, todas 
as informações sobre as quais temos conhecimento e 
estão em nossa memória;
 Â Lógica: cálculo não trivial que permite o desenvolvimen-
to de suposições.
Vamos a mais um exemplo:
Figura 2
Adaptado de: WATERSON, Bill.
Como conseguimos entender que João foi posto de castigo 
e a razão para ter sido posto de castigo? Em todos os quadros 
temos uma série de inputs imagéticos e linguísticos, que nos 
permitem começar a elaborar uma série de suposições.
164 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
Quadro 1
 Â o desenho de uma mulher adulta com olhos grandes, 
boca aberta, braços fora da posição de repouso dizendo 
“você[João] está atirando pedras na casa do vizinho?” Há 
vários pontos de interrogação e exclamação no final da 
frase;
 Â No chão, temos o desenho do que parecem ser algumas 
pedras;
 Â O desenho de João segurando uma pedra.
A partir disso podemos ter as premissas implicadas a seguir 
sobre a relação dos desenhos da mulher e de João:
P1 – A mulher é a mãe de João.
Podemos chegar a essa premissa de formas diferentes: se 
conhecemos esses personagens, ativamos essa premissa por 
meio de nossa memória enciclopédica; se não conhecemos 
podemos elaborar um processo inferencial para atingi-la. Te-
mos o desenho de uma mulher adulta consternada com uma 
criança sobre a situação da casa (premissa 2), a partir dela 
é possível acessarmos nossa memória enciclopédica sobre a 
ideia prototípica de família (pai, mãe, filho(s)). Aqueles que já 
conhecem os personagens têm um esforço cognitivo menor do 
que aqueles que não conhecem. Do desenho e entrada lexical 
e enciclopédica, chegamos à premissa 2 completa a seguir:
P2 – A mãe de João está consternada com João por ele 
estar jogando pedras na casa do vizinho. 
Capítulo 9 Teoria da Relevância 165
Quadro 2
 Â A mãe de João está com os braços levantados e gotas 
próximas à cabeça, perguntando “mas de onde é que 
você me tira essas ideias??!!
P3 – A mãe de João está fazendo uma pergunta retórica 
(sinais de interrogação e exclamação).
Quadro 3
 Â A mãe está com uma das mãos erguidas. João pergun-
ta: [eu, João]tenho genes ruins.
A partir disso podemos acessar nossa memória enciclopé-
dica sobre genes serem passados de pais para filhos. Com 
isso, podemos alcançar as premissas abaixo:
P4 – João não entendeu que se tratava de uma pergunta 
retórica.
P5 – Como respondeu com uma pergunta, João não tem 
certeza sobre a resposta.
P6 – A mãe não gostou de a pergunta de João sugerir que 
a responsabilidade por suas ideias se deve a seus pais.
Quadro 4
 Â João sentado no cantinho do castigo, dizendo “resposta 
errada”.
A partir de todos os inputs e das premissas de 1 a 6, con-
cluímos:
uma interrogação que não tem como objetivo obter uma resposta, mas sim estimular a reflexão do individuo sobre determinado assunto
166 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
C1 - João foi posto de castigo.
Conclusão implicada com ajuda da memória enciclopédi-
ca sobre castigo.
C2 – João acredita que ficou de castigo por ter sugerido 
que a responsabilidade pelas suas ideias advém de seus pais.
Recapitulando
Nesse capítulo, podemos estudar uma outra perspectiva prag-
mática que procura explicar a interação comunicativa huma-
na. Diferentemente de outras, essa apresenta compromissos 
com as ciências cognitivas, ainda que apresente pontos fra-
cos. Além de seu compromisso com a cognição e lógica, essa 
abordagem também pode explicar desentendimentos e não 
depende necessariamente da presença de inputs lexicais para 
explicar nossa compreensão.
Referências
COOPER, Jeffrey C.; KREPS, Tamar A.; WIEBE, Taylor; PIRKL, 
Tristana; KNUTSON, Brian. When Giving Is Good: Ven-
tromedial Prefrontal Cortex Activation for Others‘ Intentions. 
Neuron, v. 67, p. 511-521, ago. 2010.
CARSTON, Robyn. Relevance Theory. In: Routledge 
Companion to the Philosophy of Language. Eds. G. 
Capítulo 9 Teoria da Relevância 167
Russell and D. Graff Fara. London: Routledge, 2011. Dis-
ponível em: <http://www.ucl.ac.uk/psychlangsci/resear-
ch/linguistics/People/linguistics-staff/robyn_carston/pdfs/
Carston-2011-Russell.pdf>. Acesso em: 31 de outubro de 
2011.
DAMÁSIO, Antônio R. O Erro de Descartes. São Paulo: Com-
panhia das Letras, 1996.
FELTES, Heloísa Pedroso de Moraes; SILVEIRA, Jane Rita Cae-
tano da. Pragmática e cognição: a textualidade pela re-
levância e outros ensaios. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.
PAIL, Daisy Batista. A retórica da polidez e dos palavrões 
nas redes sociais: uma abordagem por interfaces. Disser-
tação de Mestrado, Instituto de Letras, PUCRS, 2012.
WATTERSON, Bill. Os dias estão todos ocupados: As aven-
turas de Clavin e Haroldo por Bill Watterson. Tradução 
de Alexandre Boide. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 
2011.
WILSON, Deirdre; SPERBER, Dan. Relevance Theory. UCL 
Working Papers in Linguistics, v. 14, p. 249-290, 2002. 
Disponível em: <http://www.phon.ucl.ac.uk/home/PUB/
WPL/02papers/wilson_sperber.pdf>. Acesso em: 28 de 
outubro de 2011.
168 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
Atividades
 1) Considere as proposições a seguir sobre a Teoria da Rele-
vância. Marque verdadeiro ou falso:
a) ( ) A Teoria da Relevância se preocupa com proces-
sos que ocorrem no momento em que a comunicação 
ocorre.
b) ( ) A compreensão verbal não envolve um elemento de 
decodificação.
c) ( ) O princípiocognitivo de relevância consiste na afir-
mação de que todo ato de comunicação ostensiva co-
munica a presunção de sua própria relevância ótima.
d) ( ) As intenções comunicativa e informativa não são as 
únicas envolvidas na comunicação.
e) ( ) A explicatura é um processo de enriquecimento 
pragmático de uma proposição através de, por exem-
plo, desambiguação, resolução de referentes, ajustes.
 2) Avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre 
elas.
I) Nem sempre o indivíduo buscará seguir o “caminho” 
que permite a maximização de relevância.
PORQUE
II) O princípio cognitivo de relevância consiste na ten-
dência a se guiar pela maximização de relevância.
ostensiva
comunicativo
Capítulo 9 Teoria da Relevância 169
 A respeito dessas asserções, marque a alternativa cor-
reta.
a) As asserções I e II são verdadeiras, e a II é justificativa 
para a primeira.
b) As asserções I e II são verdadeiras, mas a II não é jus-
tificativa para a primeira.
c) A asserção I é verdadeira, mas a II é falsa.
d) A asserção I é falsa, mas a II é verdadeira.
e) As asserções I e II são falsas.
 3) Leia o diálogo a seguir. Considere as três colunas a seguir 
e as inter-relacione.
A – Eu estou com fome.
B – Tem bolo na geladeira.
I II
a) Intenção informativa
( ) a intenção de informar 
ao público sobre a 
intenção informativa.
( ) Pode comer o bolo 
que tem na geladeira.
b) Intenção comunicativa
( ) a intenção de informar 
ao público alguma coisa;
( ) Que A saiba que 
B quer informar que 
pode comer o bolo da 
geladeira.
 4) Explique, utilizando os conceitos da Teoria da Relevância, 
a razão de B não ter entendido A.
b
A
B
A
170 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
 Ao passar de ônibus por uma avenida com obras da ci-
dade, A comenta com B que nunca terminavam aquilo. B 
pergunta: “O quê?”
 5) A seguir está transcrita uma propaganda da Folha de São 
Paulo. Não é mencionado o nome de ninguém. Todas as 
pessoas a que se fazem referência são indicadas através 
de características físicas e comportamentais. Que tipo de 
conhecimento é pressuposto para essa recuperação? 
Indique quem são as pessoas mencionadas.
Propaganda Antiga – Folha de São Paulo – Presidentes
 (Disponível no link http://campeoesdapropaganda.blogs-
pot.com.br/2010/03/propaganda-antiga-folha-de-sao-
-paulo.html)
 Tinha um presidente que antes sido ditador mas, depois 
foi eleito. Só que o Negão amigo dele arrumou uma en-
crenca na rua e o presidente deu um tiro no peito, no peito 
dele, não do Negão, foi um bafafa... Mas, assumiu o vice. 
Depois, veio o presidente que construiu uma cidade no 
meio do nada e mudou a capital pra lá. E aí veio outro que 
falava esquisito, tinha maneira de vassoura e de repente 
renunciou e ninguém entendeu bem porque e deu outra 
confusão danada. Mas, acabou assumindo outro vice que 
começou ter umas ideias e foi derrubado pelos militares, 
que botaram um general na presidência. Aliais, um não, 
vários. Um atrás do outro. Teve aquele baixinho e depois 
aquele outro que teve aquele treco e assumiu uma junta 
militar. Aí vieram mais três que não gostavam muito de ser 
presidente e quando ninguém mais aguentavam generais 
princípio da relevância;
comunicação ostensiva e ambiente cogntivo
Capítulo 9 Teoria da Relevância 171
eles deixaram entrar um civil que tinha sido ministro da-
quele que deu o tiro no peito. Mas, ele também teve um 
treco bem no dia da posse e ai entrou esse outro que seria 
vice que tinha um bigode estranho, se dizia poeta, que 
fez proibir subir os preço e deu com os burros na água. 
Foi quando voltou a eleição direta e ai ganhou o almo-
fadinha. Que confiscou o dinheiro da população, cons-
truiu uma cascata em casa e quase foi pra cadeia junto 
com o tesoureiro que depois foi morto por circunstâncias 
misteriosas. Mas, quando o almofadinha dançou, entrou 
um vice, aquele do topete, amante do pão de queijo, que 
relançou o fusca e lançou um novo dinheiro bolado por 
um ministro que por isso virou presidente e tá ai querendo 
ficar mais um pouquinho, talvez, disputando a eleição com 
o do bigode, o do topete e se deixarem o da cascata.
Bom! É basicamente isto.
Folha de São Paulo há 75 anos tentando explicar este país.
collor
Daisy Batista Pail1
Capítulo 10
Lógica e Cognição1
1 Professora adjunta do curso de Letras da Universidade Luterana do Brasil (Ul-
bra). Doutoranda em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do 
Sul (PUCRS) e colaboradora no grupo de pesquisa SynSemPra (Syntax, Semantics, 
Pragmatics and Interfaces) na mesma Universidade.
Capítulo 10 Lógica e Cognição 173
Introdução
Neste capítulo estudaremos noções introdutórias sobre lógi-
ca e cognição, dada sua importância e relação para com os 
estudos linguísticos. Na seção um, veremos o que é lógica, 
seu surgimento, bem como conceitos basilares. Na seção dois, 
trataremos do que é cognição e da origem dos estudos cog-
nitivos.
10.1 Elementar, meu caro Watson
Uma vez eliminado o impossível, o que restar, não im-
porta o quão improvável, deve ser a verdade.
Sherlock Holmes, de Arthur Conan Doyle
Não somente nas aventuras de Sherlock Holmes costuma-
mos nos deparar com referências à lógica. É comum ouvirmos 
dizer que “É lógico!”, “está quebrando a lógica”, “isso é lógi-
co”. Em muitos desses casos, relacionam-se essas expressões 
com a forma de raciocinar, uma forma que siga padrões já 
aceitos; em outros, com observações óbvias ou sua falta. De 
uma forma ou de outra, elas estão ligadas a mesma raiz de 
sentido: “raciocínio”.
A palavra ‘lógica‘ tem origem na palavra grega ‘logos‘, 
que significa ‘verbo‘, ‘palavra‘. Com alguns filósofos gregos, 
adquiriu o sentido de ‘raciocínio‘, ‘ideia‘. Encontramos essa 
mesma raiz em palavras como: sociologia, psicologia, odonto-
logia, entre outras. Apesar de Platão e sofistas terem dedicado 
174 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
trabalhos a questões lógicas, essa se popularizou com Aristó-
teles (IV a.C.). Alguns afirmam que foi este a criar a disciplina 
lógica. Sua preocupação era confrontar “as formas práticas de 
raciocinar, em suas idiossincrasias cotidianas, e as formas teó-
ricas de pensar, em suas normas de validação argumentativa” 
(COSTA). Segundo esse autor,
caberia à Lógica o papel de disciplina a normatizar o 
raciocínio correto na passagem das premissas à conclu-
são, o estabelecimento de critérios prévios tais que, fos-
sem as pessoas dominadas pela razão, lá estariam eles 
soberanos às circunstâncias, mesmo que com a astúcia 
dos sofistas.
Enquanto que as formas práticas envolveriam emoções, 
a lógica trataria da razão pura, raciocínio formal. Aristóteles 
é o responsável pela introdução do silogismo, lógica modal-
-temporal e lógica indutiva. É na sua proposta que surge a lei 
da não contradição e do terceiro excluído. Deve-se a seu tra-
balho a centralidade de argumentos dedutivos (há também ar-
gumentos indutivos e abdutivos). Esses se encontram dentro da 
lógica proposicional, junto com a lógica de predicados (para a 
qual o trabalho de Frege foi fundamental). Não é, entretanto, 
o único tipo de lógica que temos; mas não estudaremos essas 
outras, apenas alguns conceitos que se estendem a outras áre-
as e discussões (por exemplo, as implicações).
10.1.1 Noções lógicas
Como já vimos, na lógica procura-se atingir uma forma de 
pensamento racional. Para se chegar a uma conclusão é preci-
raciocínio dedutivo estruturado formalmente a partir de duas proposições (premissas), das quais se obtém por inferência uma terceira (conclusão) [p.ex.: "todos os homens são mortais; os gregos são homens; logo, os gregos são mortais"].
Capítulo 10 Lógica e Cognição 175
so passar por uma série de premissas, estabelecendo relações 
entre elas. Essas premissas consistem em proposições (daí o 
nome), afirmações que podem ser verdadeiras ou falsas (lei do 
terceiro excluído e da não contradição).
 (1) Se Ana sair cedo, então chegará antes dos convidados.
Ana saiu cedo.Então Ana chegará antes dos convidados.
Ao conjunto de premissas e a conclusão, dá-se o nome de 
argumento; ao processo envolvido, inferência. Esse tipo de 
argumento apresenta uma estrutura que será sempre válida 
dentro da lógica:
 
Se A então B 
A 
---------------- 
B 
A → B, A -|B 
 
Leia -se: A implica 
B, A portanto B 
Também pode ser 
escrito da seguinte 
forma: 
Esse argumento se chama regra de derivação condicional 
ou implicação. Ele pode ocorrer pela afirmação de A (antece-
dente), modo ponens; ou pela negação de B (consequente), 
modo tollens:
 
 
Se A então B 
~B 
---------------- 
˜A 
Também pode ser 
escrito da seguinte 
forma: 
A → B, ~B -|˜A 
Leia -se: A implica 
B, A portanto B 
176 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
Esse é o método sintático do argumento. Segundo Chier-
chia (2003, p. 53), consiste em “uma lista de esquemas de in-
ferência” e que “[t]odo raciocínio válido pode ser decomposto 
em um número finito de aplicações de tais esquemas” (idem). 
Esse método, ademais, apresenta uma contraparte semântica, 
método semântico. Esse explicita “as condições em que os 
enunciados são verdadeiros” (2003, p. 54). “Usando esse mé-
todo, podemos ver se as condições que tornam as premissas 
de um raciocínio verdadeiras também tornam automaticamen-
te verdadeiras as conclusões” (idem). Essa relação pode ser 
demonstrada através das chamadas tabelas-verdade. No caso 
do condicional, a tabela é a seguinte:
Tabela verdade
A → B
V V V
V F F
F V V
F F F
Se A e B forem verdadeiras, a implicação (→) será verda-
deira. Se for A verdadeira, mas B for falsa, então a implicação 
é falsa. Se A for falsa, mas B for verdadeira, a implicação será 
verdadeira. Se A e B forem falsas, então a implicação será 
falsa. Segue abaixo outros tipos de derivação de argumentos 
dedutivos.
Regra de derivação: conjunção. Essa pode ocorrer pela 
introdução do “&” ou pela eliminação do “&”, equivalente ao 
Capítulo 10 Lógica e Cognição 177
‘e‘. Nesse tipo de derivação, a ordem das premissas não im-
porta, pois elas estão em equivalência. A conjunção só será 
verdadeira se os componentes forem verdadeiros.
Introdução do & Eliminação do &
A
B
---------
A&B
A&B
---------
A/B
Tabela verdade
A & B
V V V
V F F
F F V
F F F
Regra de derivação: disjunção. Assim como na conjun-
ção, esse tipo de derivação pode ocorrer pela introdução de 
"V" ou pela eliminação do "V", equivale ao ‘ou‘. A disjunção 
somente será verdadeira se um dos disjuntos for verdadeiro.
Introdução do V Eliminação do V
A
---------
AVB
AVB
˜A
--------
B
AVB
~B
--------
A
178 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
Tabela verdade
A V B
V V V
V V F
F V V
F F F
Podemos notar pela tabela, que a disjunção pode ser ex-
clusiva (ou A ou B, mas não as duas ao mesmo tempo) ou 
inclusiva (A e B ao mesmo tempo).
Seguindo-se esses esquemas, as conclusões serão neces-
sariamente verdadeiras se as premissas forem necessariamente 
verdadeiras.
10.1.2 Isso é ilógico
Contudo, quando usamos esses esquemas com a linguagem 
natural (diferentemente da artificial, própria à lógica), nem 
sempre os resultados serão iguais. Consideremos a conjun-
ção, por exemplo.
 (2) a. Ela encontrou o amor de sua vida (A) e casou (B).
 b. Ela casou (B) e encontrou o amor de sua vida (A).
Pela regra de derivação por conjunção, a ordem não inter-
fere. Na linguagem natural, entretanto, a ordem pode levar a 
outras conclusões (como em 2), ainda que o valor se submeta 
à tabela. A mesma discrepância pode ocorrer com a disjun-
Capítulo 10 Lógica e Cognição 179
ção. Na linguagem natural, tendemos a interpretar a disjunção 
como exclusiva.
 (3) Ana está no cinema ou no teatro.
Nessa ocorrência, tendemos a entender que será uma coi-
sa ou outra, mas não as duas. Também com a implicação 
pode haver divergências.
 (4) Se terminar seu afazer (A), pode jogar videogame (B).
Não terminou seu afazer (~A)
Então pode jogar videogame (B).
Esse argumento está correto, válido na lógica proposicio-
nal, porém não aceito na linguagem natural (veja a tabela ver-
dade). Enquanto, no exemplo abaixo, aceitamos a conclusão, 
mas se trata de um argumento logicamente inválido.
 (5) Se terminar seu afazer (A), pode jogar videogame (B).
Não terminou seu afazer (~A)
Então não pode jogar videogame (B).
Na perspectiva lógica, isso constitui uma falácia. Apesar 
disso, essa disciplina é altamente relevante, seja por seu for-
malismo (aplicável às mais diferentes áreas, como computa-
ção, por exemplo), seja por apresentar relação com a forma 
como inferimos conclusões. Quando estudamos a forma como 
inferimos, podemos fazer isso através da lógica informal. To-
davia, nenhuma delas apresenta preocupações concernentes 
à nossa cognição, embora não sejam incompatíveis (a Teoria 
180 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
da Relevância, por exemplo, se aproxima em muitos aspectos 
dessas duas, de forma mais ou menos explícita).
10.2 Cognição
Cognição tem a mesma raiz que conhecer, ambas ligadas 
a conhecimento. A cognição, juntamente com a memória, é 
considerada um evento mental e conhecimento que usamos 
para reconhecer um objeto, lembrar um nome, entender uma 
sentença ou resolver um problema (conforme Radvansky e 
Ashcraft, 2014). Radvansky e Ashcraft (2014, p. 2) afirmam 
que as ciências cognitivas são uma abordagem interdisciplinar 
que estuda cientificamente o “pensamento, linguagem e cére-
bro – em resumo o estudo científico da mente”.
O surgimento das ciências cognitivas é posterior a Segunda 
Guerra Mundial, período conhecido como revolução cogniti-
va – durante a década de 1950 – (RADVANSKY; ASHCRAFT, 
2014). Essas ciências se inspiraram em como computadores, 
com atenção especial à máquina de Touring (que se baseava 
também na lógica), processavam a informação. Com o adven-
to dessas máquinas e sua popularização, cientistas usaram-
-nas como analogia para entender como nossa mente funcio-
na. Anteriormente a essa revolução, a forma como se entendia 
a aprendizagem (entre outros processos mentais) era baseada 
no empirismo. Na linguística, por exemplo, acreditava-se que 
a linguagem era adquirida com base em estímulos e respostas, 
que a comunicação era apenas codificação e decodificação. 
Como já deve ter percebido, a linguística deve muito a essa 
doutrina segundo a qual todo conhecimento provém unicamente da experiência, limitando-se ao que pode ser captado do mundo externo
Capítulo 10 Lógica e Cognição 181
abordagem cognitiva, por outro lado, esta também deve à lin-
guística. Chomsky mudou o paradigma sobre a cognição ser 
algo artificial (adquirida culturalmente) para ser algo natural 
(inato), segundo Candiotto (2008).
10.2.1 Modularidade da mente e plasticidade 
cerebral
Muitas teorias com compromisso cognitivo assumem a modu-
laridade da mente (como modelo gerativo e Teoria da Relevân-
cia). A modularidade da mente consiste em módulos mentais 
especializados em certas funções cognitivas.
A teoria da modularidade defende a afirmação de que a 
mente é formada por vários módulos de processamento 
de informação, e esses módulos operam de forma rela-
tivamente independente uns dos outros, processando so-
mente um tipo específico de informação (corporal, visual, 
auditivo, linguístico...). (CANDIOTTO, 2008, p. 123)
A plasticidade, ligada à teoria modular da mente, diz res-
peito à capacidade que uma rede neuronal pode “aprender” 
o que outra desenvolvia.
Essa abordagem, porém, apresenta-se ligada a uma postu-
ra cartesiana, isto é, razão pura. Estudos (como o de Antônio 
Damásio), contudo, apontam que nossa racionalidade é mais 
complexa que isso, pois envolve razão e emoção. Nosso esta-
do emocional pode interferir em como armazenamos, recupe-
ramos ou processamos uma informação (aspecto desconside-
rado pela Teoria da Relevância).
182 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
Recapitulando
Procurou-se demonstrar nesse capítulo noções introdutórias 
sobre lógica e cogniçãode forma a demonstrar a importância 
delas para os estudos linguísticos.
Referências
CHIERCHIA, Gennaro. Semântica. Tradução Luiz Arthur Pa-
gani, Lígia Negri, Rodolfo Ilari. Campinas, SP: Editora da 
UNICAMP, 2003.
COSTA, Jorge Campos da. Lógica e Linguagem Natural 
nas Interfaces. Disponível em: <http://www.jcamposc.
com.br/textos_disciplinas/logicaelinguagemnaturalnasin-
terfaces.pdf>.
CANDIOTTO, Kleber Bez Birolo. Fundamentos epistemoló-
gicos da teoria modular da mente de Jerry A. Fodor. 
Trans/Form/Ação, São Paulo, 31(2): 119-135, 2008. Dis-
ponível em: <http://www.scielo.br/pdf/trans/v31n2/07.
pdf>. Acesso em: 7 de setembro de 2015.
RADVANSKY, Gabriel A.; ASHCRAFT, Mark H. Cognition. 6. 
ed. Upper Saddle River: Pearson Education, 2014.
Capítulo 10 Lógica e Cognição 183
Atividades
 1) A lógica apresenta relação com a forma como pensamos, 
de modo menos formal que a lógica dedutiva, entretan-
to. Intuitivamente, inferimos conclusões de certas informa-
ções. Para estabelecer conclusões sobre as relações entre 
as pessoas do mundo descrito a seguir, usamos lógica de 
mundo possíveis, argumentos indutivos e dedutivos, sem 
nem mesmo termos sido apresentados a essas noções.
 Essa atividade trata da relação interpessoal entre um gru-
po de quatro pessoas: Ana, Paula, Júlia e Maria. Essa rela-
ção é binária: ou gosta ou não gosta. O quadro a seguir 
mostra quem gosta de quem. Uma caixa marcada indica 
que a pessoa indicada na linha (horizontal) gosta da pes-
soa marcada na coluna (vertical), a ausência indica que 
essa não gosta.2
An
a
Jú
lia
Pa
ul
a
M
ar
ia
Ana
Júlia
Paula
Maria
2 Exercício adaptado de “Introduction to Logic”, por Michael Genesereth, disponí-
vel em: https://class.coursera.org/intrologic-004/lecture/3
184 Língua Portuguesa VII: Semântica e Pragmática
As sentenças a seguir descrevem algumas das relações en-
tre essas pessoas, com indicação de sua veracidade ou falsi-
dade nesse mundo possível.
Sentenças Valor
Maria não gosta de Paula. Falso
Ana não gosta de Maria. Verdadeiro
Júlia gosta de Paula ou de Maria. Falso
Ana gosta de todos que Júlia gosta. Verdadeiro
Paula gosta de tudo mundo que gosta dela. Verdadeiro 
Maria não gosta de Ana. Verdadeiro
Ninguém gosta de si mesmo. Verdadeiro 
Todo mundo gosta de alguém. Verdadeiro 
 2) Diga qual regra de derivação temos nos argumentos a se-
guir.
a) Paulo estava na festa.
Pedro estava na festa.
Portanto Paulo e Pedro estavam 
na festa.
_____________________
b) Se Ana fizer bolo então Bru-
no fará pastel.
Bruno não fará Pastel.
Logo Ana não fará bolo.
___________________
c) Paulo é solteiro ou casado.
Paulo não é casado.
Portanto, Paulo é solteiro.
__________________
 3) Vimos que nem sempre a linguagem natural e a lógica for-
mal estabelecem uma relação inequívoca. O argumento 
Capítulo 10 Lógica e Cognição 185
a seguir demonstra esse problema. Diga qual a regra de 
derivação presente e explique qual a disparidade.
(A) Paulo está no mercado.
(B) Paulo está no cinema.
Portanto Paulo está no mercado ou no cinema.
 4) Avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre 
eles.
I) A Teoria da Relevância é uma abordagem cognitiva,
PORQUE
II) A Teoria da Relevância não pressupõe que a com-
preensão passe por uma série de processos mentais, 
como memória, atenção.
A respeito dessas asserções, marque a alternativa correta.
a) As asserções I e II são verdadeiras, e a II é justificativa 
para a primeira.
b) As asserções I e II são verdadeiras, mas a II não é jus-
tificativa para a primeira.
c) A asserção I é verdadeira, mas a II é falsa.
d) A asserção I é falsa, mas a II é verdadeira.
e) As asserções I e II são falsas.
 5) Leia a frase a seguir e explique considerando o conteúdo 
estudado.
I) Não tenho nada a dizer e estou dizendo isso.
186 Gabarito
Gabarito
Capítulo 1
 1) A sentença expressa uma verdade que só pode ser apreendida pela 
verificação de fatos no mundo, exprimindo uma descoberta da Astro-
nomia: a estrela da manhã não era, como se pensava desde os gre-
gos, uma estrela diferente da estrela da tarde, mas o mesmo planeta 
Vênus. Estrela da manhã e estrela da tarde são dois caminhos para se 
chegar à mesma referência.
 2) Por um lado, podemos falar do sentido do termo “hoje” como sendo 
o termo que caracteriza o dia em curso no momento em que se fala. 
Dessa forma, não teríamos como nos remeter a algum dia específico, 
apenas à descrição semântica do termo. Por outro lado, o sentido 
pragmático de “hoje” é o dia específico em que uma conversação se 
realiza, ou seja, “4 de novembro”, “Natal de 2002” etc., dependen-
do do contexto. Por exemplo, na situação de fala a seguir, o sentido 
pragmático de “hoje” é “7 de setembro”: “Hoje se comemora a Inde-
pendência do Brasil”.
3) O enunciado “Ele veio para Santa Catarina” não seria produzido porque 
temos na mente um esquema de movimento de uma direção à outra, 
ligado ao uso dos verbos que expressam esses conceitos – “ir”, “vir”, 
“deslocar-se” etc. – que não permite o uso inadequado das prepo-
sições correspondentes – “de”, “para”. Assim, o que dá sentido ao 
enunciado nesses casos não é uma relação com o mundo nem o 
contexto de uso da língua, mas sim os esquemas que temos estocados 
na mente. Alguém vai/vem “de” algum lugar “para” outro. Como no 
diálogo a pergunta foi “de onde ele veio”, a resposta deveria ser “de 
Santa Catarina”.
 4) a) Há acarretamento, pois sempre que a primeira for verdadeira, a 
segunda também o será.
 b) Não há acarretamento, pois a primeira sentença pode ser verdadeira 
ao mesmo tempo que a segunda é falsa, por exemplo, se quem estava 
cantando não fosse um homem.
Gabarito 187
 5) a) “Hoje teve sol” não acarreta “Hoje fez calor” porque um dia pode 
estar ensolarado, sem estar quente. Ou seja, a verdade da primeira 
sentença não acarreta a verdade da segunda sentença.
 b) Há acarretamento, pois se a primeira é verdadeira, a segunda ne-
cessariamente o é também.
Capítulo 2
 1) d 2) a 3) ab ab ab ab ag 4) a 5) b
Capítulo 3
Questão 1
I – a. Ex-presidente evita viagens.
b. Lula foi presidente.
A acarreta b, pois a sentença a mais a negação da sentença b são contra-
ditórias.
a. Ex-presidente evita viagens.
a‘. Não é verdade que ex-presidente evita viagens.
a”. Ex-presidente evita viagens?
a‘”. Se o ex-presidente evita viagens, então ele está na cidade onde vive.
A pressupõe b, pois todos os membros da família de sentenças de a tomam 
b como verdade.
II – a. Voz fraca faz Lula focar em São Paulo.
b. Lula tinha voz forte.
A não acarreta b, pois a sentença mais a negação de b não são contradi-
tórias.
a. Voz fraca faz Lula focar em São Paulo.
a‘. Não é verdade que voz fraca faz Lula focar em São Paulo.
A”. Voz fraca faz Lula focar em São Paulo?
A‘”. Se voz fraca faz Lula focar em São Paulo, então não irá comparecer 
em outras cidades.
A não pressupõe b, pois nenhum membro da família de sentença de a toma 
b como verdade.
III – a. Em recuperação [...], ex-presidente Lula tem priorizado a atuação 
de bastidores.
188 Gabarito
b. Lula ainda não está bem.
A acarreta b, pois a sentença a mais a negação da sentença são contra-
ditórias.
a. Em recuperação [...], ex-presidente Lula tem priorizado a atuação de 
bastidores.
a‘. Não é verdade que, em recuperação [...], ex-presidente Lula tem priori-
zado a atuação de bastidores.
a”. Em recuperação [...], ex-presidente Lula tem priorizado a atuação de 
bastidores?
a‘”. Se em recuperação [...], ex-presidente Lula tem priorizado a atuação de 
bastidores, então não fará aparições públicas.
Se tomarmos ‘bem‘ como sinônimo de ‘curado‘, então a sentença a pres-
supõe b, pois todos os membros da família de sentenças de a tomam 
b como verdade; porém se tomarmos ‘bem‘ como sinônimo de ‘me-
lhor‘, então não teríamos pressuposição, pois ‘melhor‘ é em compa-
ração a um estado anterior.
IV a. [...] ex-presidente [...] não deve vir a Porto Alegre.
b. Lula não está em Porto Alegre.
A acarreta b, pois a sentença mais a negeção da sentença bsão contrárias.
a. [...] ex-presidente [...] não deve vir a Porto Alegre.
a‘. Não é verdade que [...] ex-presidente [...] não deve vir a Porto Alegre.
a”. [...] ex-presidente [...] não deve vir a Porto Alegre?
a‘”. Se [...] ex-presidente [...] não deve vir a Porto Alegre, então deverão 
repensar a organização.
A pressupõe b, pois todos os membros da família de sentenças de a tomam 
b como verdade.
V – a. Em sua primeira eleição após deixar o poder, o cabo eleitoral mais 
disputado do país faz uma campanha reclusa.
b. Lula esteve no poder.
A acarreta b, pois a sentença a mais a negação da sentença b são contra-
ditórias.
a. Em sua primeira eleição após deixar o poder, o cabo eleitoral mais dis-
putado do país faz uma campanha reclusa.
Gabarito 189
a‘. Não é verdade que em sua primeira eleição após deixar o poder, o cabo 
eleitoral mais disputado do país faz uma campanha reclusa.
a”. Em sua primeira eleição após deixar o poder, o cabo eleitoral mais 
disputado do país faz uma campanha reclusa?
a”‘. Se em sua primeira eleição após deixar o poder, o cabo eleitoral mais 
disputado do país faz uma campanha reclusa, então não estará tão 
ativo quanto costuma ser.
A pressupõe b, pois todos os membros da família de sentenças de a tomam 
b como verdade.
VI – a. Em sua primeira eleição após deixar o poder, o cabo eleitoral mais 
disputado do país faz uma campanha reclusa.
b. Lula está concorrendo.
A não acarreta nem pressupõe b, pois Lula é cabo eleitoral e não candi-
dato.
VII – a. Em sua primeira eleição após deixar o poder, o cabo eleitoral mais 
disputado do país faz uma campanha reclusa.
b. Há outros cabos eleitorais disputados.
A acarreta b, pois a sentença a mais a negação da sentença b são contra-
ditórias.
a. Em sua primeira eleição após deixar o poder, o cabo eleitoral mais dis-
putado do país faz uma campanha reclusa.
a‘. Não é verdade que em sua primeira eleição após deixar o poder, o cabo 
eleitoral mais disputado do país faz uma campanha reclusa.
a”. Em sua primeira eleição após deixar o poder, o cabo eleitoral mais 
disputado do país faz uma campanha reclusa?
a”‘. Se em sua primeira eleição após deixar o poder, o cabo eleitoral mais 
disputado do país faz uma campanha reclusa, então não estará traba-
lhando com muitos candidatos.
A pressupõe b, pois todos os membros da família de sentenças de a tomam 
b como verdade.
VIII – a. Ainda em recuperação – com garganta fragilizada pelo tratamento 
contra câncer -, ex-presidente Lula tem priorizado a atuação de bas-
tidores.
b. Lula tem câncer.
190 Gabarito
A não acarreta b, pois a mais a negação da sentença b não são contradi-
tórias. Ele poderia ter tido câncer e ter sido curado. A relação é não 
necessária.
a. Ainda em recuperação – com garganta fragilizada pelo tratamento con-
tra câncer –, ex-presidente Lula tem priorizado a atuação de bastido-
res.
a‘. Não é verdade que ainda em recuperação – com garganta fragilizada 
pelo tratamento contra câncer –, ex-presidente Lula tem priorizado a 
atuação de bastidores.
a”. Ainda em recuperação – com garganta fragilizada pelo tratamento con-
tra câncer –, ex-presidente Lula tem priorizado a atuação de bastido-
res?
a”‘. Se ainda em recuperação – com garganta fragilizada pelo tratamento 
contra câncer –, ex-presidente Lula tem priorizado a atuação de basti-
dores, então ele está se cuidando.
A pressupõe b, pois todos os membros da família de sentenças de a tomam 
b como verdade. Não há no texto informação que diga que Lula se 
curou. O tratamento não significa necessariamente cura.
Questão 2. i
Questão 3. i, iv
Questão 4. c
Questão 5
 a. Todas, nem todas
 b. Nem todos, todos
 c. Nem todas, todas
 d. Todo, nem toda
 e. Todos, nem todos
Capítulo 4
 1) b
 2) Na Rádio Alternativa, o vereador falará do projeto.
 3)
 a)João deve aguardar sua sogra e levá-la até o shopping, na cami-
nhonete dele.
Gabarito 191
 b) O homem foi à residência do assaltante e o encontrou.
 c) O pai falou ter errado no julgamento do filho.
 d) Caso você tivesse ido à igreja com Paulo, veria o irmão dele.
 e) Quando estava dentro do ônibus,vi o terrível acidente.
 4) e; 5) e
Capítulo 5
 1) a) (1) Sim (2) Sim (3) Sim
 b) Nenhuma das palavras se refere a alguma coisa no mundo. No 
entanto, todas essas palavras têm algum sentido.
 2) a) (1) R (2) R (3) S (4) S (5) S (6) R
 2) b) (1) José Luís Inácio da Silva, Lula etc. (2) minha casa, esta 
universidade etc. (3) China, a lua etc. (4) Rio de Janeiro, Ci-
dade Maravilhosa etc. (5) mas, então etc.
 3) a) (1) Sim (2) Sim (3) Não (4) Sim (5) Sim, como em “Uma mulher 
esteve aqui procurando por você” (6) Sim (Meus filhos refere-se a 
um par de coisas.) (7) Não (8) Não
 b) (1) Sim (2) Sim e Não: a sentença é ambígua. Depende se o falante 
tem uma pessoa em particular em mente, com quem Márcia queira se 
casar. (3) Sim e Não: a sentença é ambígua. Depende se o falante tem 
um apartamento em particular em mente. (4) Sim e Não (5) Sim, pode 
ser. (6) Sim e Não
 4) a) (1) (c) (2) Não (3) Sim (4) Maria, Sol
 b) (1) Sim. (2) Sim (3) Sim
 5) a) (1) Sim (2) Sim (3) Não (4) Não (5) Sim
 b) (1) P (2) NP (3) P (4) NP
 c) (1) As palavras da coluna A são hiponímias das palavras do grupo 
B (2) As sentenças A acarretam as sentenças B.
 d) As sentenças B acarretam as sentenças A. Entretanto, o acarreta-
mento de B para A somente ocorre quando o conjunto de coisas refe-
ridas pela frase que inclui todos na verdade existe. Por exemplo, Todos 
os animais de Cláudia têm colera acarreta Todos os gatos de Cláudia 
têm cólera somente se Cláudia de fato tem algum gato, isto é, se al-
gum de seus animais é um gato.
192 Gabarito
Capítulo 6
 1) a 2) c 3) b 4) c 5) c
Capítulo 7
 1) c 2) b 3) d 4) b 5) a
Capítulo 8
 1) (1) Não (2) Não (3) Não (4) Não (5) Sim (6) Sim (7) Não
 A relação de acarretamento entre sentenças é um tipo de INFERÊNCIA, 
isto é, qualquer conclusão que alguém pode razoavelmente tirar de 
uma sentença ou enunciado. Todos os acarretamentos são inferên-
cias, mas nem todas as inferências são acarretamentos. A implicatura 
é outro tipo de inferência, distinto do acarretamento. Os casos de 
inferência razoável acima não são casos de acarretamento. Eles são 
exemplos de implicatura (conversacional). Note que esses exemplos 
envolvem conclusões retiradas de enunciados em ocasiões particula-
res e não de sentenças isoladas. A implicatura não é uma forma de 
inferência que pode ser predita somente a partir do conhecimento do 
sistema de relações de sentido entre sentenças. Como um ouvinte faz 
inferências razoáveis de um enunciado quando a sentença efetivamen-
te enunciada não acarreta, de fato, algumas das inferências que ele 
faz? Devido ao conhecimento que eles têm do princípio cooperativo, 
a regra social dominante que falantes geralmente tentam seguir na 
conversação.
 2) a) (1) Não (2) Não (3) Não (4) Sim (5) Sim
 b) (1) Sim (2) Sim (3) Sim (4) Sim
 Ser cooperativo na conversação obviamente envolve mais do que sim-
plesmente dizer a verdade, embora isso seja parte da cooperação.
 3) (1) Não (2) Sim (3) Sim (4) Não (5) Sim
 O exemplo que nós recém analisamos é de implicatura. A proposição 
de que Maria é filha de João é uma implicatura do enunciado “Maria 
fala francês” nessa situação particular. O que faz esse ser um caso de 
implicatura é o papel crucial desempenhado nos cálculos do ouvinte 
pela suposição de que o falante está tentando ser cooperativo. O 
Gabarito 193
ouvinte tem permissão para retirar a inferência de que Maria é filha 
de João apenas se puder ser assumido com segurança que o ouvinte 
está sendo cooperativo. O exemplo acima usou a máxima da relação/
relevância.
 4) (1) B não ama A. (2) O violinista no bar não era muito bom. (3) B não 
gostou do novo carpete de A.
 Lembre-se de que num caso de implicatura o ouvinte crucialmente 
faz a assunção de que o falante não está violando uma das máximas 
conversacionais – da relevância, da qualidade, da quantidade e da 
maneira.
 5) (1) R (2) Q (3) Q (outalvez maneira, já que B poderia ter simplesmente 
dito “Sim” se ele tivesse arrumado seu quarto) (4) M (5) R
Capítulo 9
 1) V, F, F, V, V 2) a 3) I – b, a, II – a, b
 4) B pergunta “o quê?” por não saber do que A estava falando, ou seja, 
B não tinha manifesto em seu ambiente cognitivo o trecho em obras 
da avenida pela qual passavam. Isso não implica, contudo, que des-
conhecesse isso.
5) Essa propaganda pressupõe memória enciclopédica. A pessoa que não 
tiver esse conhecimento terá um esforço cognitivo maior do que aque-
le que souber.
 Tinha um presidente que antes tinha sido ditador mas, depois foi 
eleito[Getúlio Vargas]. Só que o Negão amigo[Gregório Fortunato] dele[Getúlio Vargas] ar-
rumou uma encrenca na rua e o presidente[Getúlio Vargas] deu um tiro no 
peito, no peito dele[Getúlio Vargas], não do Negão, foi um bafafa... Mas, 
assumiu o vice[Café Filho]. Depois, veio o presidente que construiu uma 
cidade[Juscelino Kubitschek] no meio do nada e mudou[Juscelino Kubitschek] a capi-
tal pra lá. E aí veio outro que falava esquisito[Jânio Quadros], tinha[Jânio Qua-
dros] mania de vassoura e de repente renunciou[Jânio Quadros] e ninguém 
entendeu bem porque e deu outra confusão danada. Mas acabou 
assumindo outro vice que começou a ter umas ideias[João Goulart] e foi 
derrubado[João Goulart] pelos militares, que botaram um general[Humberto 
Castelo Branco] na presidência. Aliás, um não, vários. Um atrás do outro. 
194 Gabarito
Teve aquele baixinho[Humberto Castelo Branco] e depois aquele outro que teve 
aquele treco[Artur da Costa e Silva] e assumiu uma junta militar[Aurélio de Lira Tava-
res, Augusto Rademaker, Márcio de Sousa Melo]. Aí vieram mais três[Emílio Garrastazu Médici, Ernesto 
Geisel, João Figueiredo] que não gostavam muito de ser presidente e, quando 
ninguém mais aguentava generais, eles deixaram entrar um civil que 
tinha sido ministro[Tancredo Neves] daquele que deu o tiro no peito[Getúlio Var-
gas]. Mas, ele[Tancredo Neves] também teve um treco bem no dia da posse e 
aí entrou esse outro que seria vice que tinha um bigode estranho[José 
Sarney], se dizia[José Sarney] poeta, que fez[José Sarney] proibir subir os preços e 
deu[José Sarney] com os burros na água. Foi quando voltou a eleição di-
reta e aí ganhou o almofadinha[Fernando Collor]. Que confiscou[Fernando Collor] 
o dinheiro da população, construiu[Fernando Collor] uma cascata em casa 
e quase foi[Fernando Collor] pra cadeia junto com o tesoureiro[Paulo César Farias] 
que depois foi morto por circunstâncias misteriosas. Mas, quando o 
almofadinha[Fernando Collor] dançou, entrou um vice, aquele do topete[Itamar 
Franco], amante do pão de queijo[Itamar Franco], que relançou[Itamar Franco] o fus-
ca e lançou um novo dinheiro[Itamar Franco] bolado por um ministro que 
por isso virou presidente[Fernando Henrique Cardoso] e tá aí querendo ficar[Fernando 
Henrique Cardoso] mais um pouquinho, talvez, disputando[Fernando Henrique Cardoso] 
a eleição com o do bigode[José Sarney], o do topete[Itamar Franco] e se deixarem 
o da cascata[Fernando Collor].
Capítulo 10
 1) A primeira sentença afirma que Maria não gosta de Paula, mas seu 
valor é falso, logo Maria gosta de Paula. Na segunda, é afirmado que 
Ana não gosta de Maria, cujo valor é verdadeiro; e na quarta que Ana 
gosta de todos de que Júlia gosta, logo Júlia também não gosta de 
Maria. A terceira afirma que Júlia gosta de Paula ou de Maria, mas 
seu valor é falso, pois sabemos que Júlia não gosta de Maria, logo 
Júlia e Ana gostam de Paula. Na quinta, é afirmada que Paula gosta 
de todos que gostam dela, então ela gosta de Ana, Júlia e Maria. Ana 
não gosta de Júlia e Júlia não gosta de Ana devido à sétima sentença, 
em que ninguém gosta de si, e à quarta sentença, Ana gosta de todos 
de que Júlia gosta.
Gabarito 195
An
a
Jú
lia
Pa
ul
a
M
ar
ia
Ana v
Júlia v
Paula v v v
Maria v
 2) a) Conjunção, introdução do &
 b) Implicação, modo tollens
 c) Conjunção, eliminação de V
 3) Regra de derivação por disjunção. Apesar de ser um argumento ver-
dadeiro dentro da lógica formal, contraria a intuição do falante. Para 
que Paulo pudesse estar no cinema e no mercado ao mesmo tempo, 
seria necessário que isso fosse fisicamente possível.
 4) c
 5) A frase apresenta uma contradição (também poderia ser chamada de 
paradoxo). Ao dizer “não tenho nada a dizer” já ocorre uma contra-
dição entre o ato e o conteúdo do proposição. A segunda parte da 
proposição apenas deixa isso mais claro. Na lógica formal, esse tipo 
de ocorrência não é aceita naturalmente, em oposição com a lógica 
informal.

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