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BBTS - BB TECNOLOGIA E SERVIÇOS TÉCNICAS DE NEGOCIAÇÃO Professor Guilherme Miziara Apostila BBTS - BB TECNOLOGIA E SERVIÇOS TÉCNICAS DE NEGOCIAÇÃO Professor Guilherme Miziara DB1008291 Texto digitado DB1008291 Texto digitado DB1008291 Texto digitado DB1008291 Texto digitado DB1008291 Texto digitado DB1008291 Texto digitado DB1008291 Texto digitado Ementa Programas Executivos Técnicas de Negociação - Plano de Aula - 1 CURSO: In Company BBTS DISCIPLINA: Técnicas de Negociação PROFESSOR: Guilherme Miziara SHORT BIO: Guilherme Miziara é jornalista, pós-graduado em Comunicação Empresarial, com MBA em Estratégia e Mestre em Sistemas de Gestão pela UFF. Palestrante nas áreas de Comunicação e Negociação e Diretor Executivo da Miziara Habilidades em Comunicação – empresa que atua nas maiores instituições de ensino, escolas de negócios e empresas do Brasil. Docente da disciplina Habilidades em Comunicação no COPPEAD/UFRJ. Professor de Comunicação Estratégica, Técnicas de Apresentação e Negociação na Fundação Dom Cabral. Professor da disciplina Técnicas de Negociação no MBA da UFF. Ministra cursos nas áreas de Apresentações Corporativas, Técnicas de Comunicação para Professores, Oratória, Sustentação Oral, Comunicação Empresarial e Negociação e Gerenciamento de Conflitos nas Pós em Direito, LLMs e MBAs do IBMEC. Conteudista e professor do curso online de Oratória e Negociação no CERS. Ministra palestras e treinamentos in company em comunicação e negociação por todo o país. Realiza treinamentos em empresas nacionais e transnacionais de grande porte como: ABI, Andrade Gutierrez, Artplan, B2W, Banco do Brasil, Bradesco, BNDES, ECEME, Endesa, Fetranspor, Furnas, Globo.com, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Halliburton, João Fortes Engenharia, Lojas Americanas, Médicos Sem Fronteiras, Mills, NTU, Petrobras, PREVI, Sebrae, Senac, Souza Cruz, Supergasbras, SuperVia, ThyssenKrupp CSA, TV Globo, Vale, entre outras. Treina executivos, diretores e presidentes de empresa, atletas, pessoas públicas, acadêmicos e palestrantes para apresentações em público, aulas e entrevistas. De 2006 a 2011 trabalhou com disciplinas de Comunicação na FGV-RJ e FGV- SP. Hoje capacita em comunicação os professores do IBMEC-RJ, da UFF e do COPPEAD/UFRJ, além de multiplicadores da Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais e de empresas privadas. gmiziara@hotmail.com (21) 98100-7843 Programas Executivos Técnicas de Negociação - Plano de Aula - 2 Objetivos Ao final da disciplina o aluno deverá: Ter uma visão global das negociações nas relações empresariais através do estudo interdisciplinar do processo, utilizando a metodologia da Escola de Harvard. Estar familiarizado com as principais técnicas, táticas e estratégias de negociação, vislumbrando sua aplicação em suas atividades profissionais. Entender os cenários possíveis em uma Negociação e conseguir identificar suas preferências de postura e argumentação para conseguir influenciar as pessoas e gerar engajamento. Tópicos abordados: “Negociar é Preciso”; Concessões, Cenários e Planejamento; Gestão de Conflitos; A Teoria dos Estilos; A Estrutura e as Etapas do Processo Negocial; Percepções, Preferências e Dominância Cerebral; Estratégias e Táticas Negociais; Argumentação Estratégica e Influência; Comunicação Interpessoal e Linguagem Corporal Programas Executivos Técnicas de Negociação - Plano de Aula - 3 BIBLIOGRAFIA-BÁSICA: FISHER, Roger; URY, William; PATTON, Bruce. Como Chegar ao SIM. Rio de Janeiro: Imago, 2005. WANDERLEY, José Agusto. Negociação Total: encontrando soluções, vencendo resistências , obtendo resultados. São Paulo: Editora Gente, 1998 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR: KAHNEMAN, Daniel. Rápido e Devagar: duas formas de pensar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. WEIL, Pierre; TOMPAKOW, Roland. O Corpo Fala: a linguagem silenciosa da comunicação não verbal. Petrópolis: Vozes, 1986. LOPES, Sonia; STOECKICHT, Ingrid. Negociação. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009 SCHOPENHAUER, Arthur. Como Vencer um Debate sem Precisar Ter Razão. Rio de Janeiro: Topbooks, 1997. O’CONNOR, Joseph; SEYMOR, John. Introdução à Programação Neurolinguística: como entender e influenciar as pessoas. Tradução Heloisa, de M. Costa. São Paulo: Summus, 1995. DIMITRIUS, Jo-Ellan; MAZZARELLA, Mark. Decifrar pessoas: como entender o comportamento humano. Tradução Sonia Augusto. 29ª ed. São Paulo: Elsevier, 2000. COHEN, Herb. Você Pode Negociar Qualquer Coisa. Editora Record: Rio de Janeiro, 2004 POLITO, Reinaldo. Artigos. São Paulo: Revista Vencer, 2005. Apresentações Prof. Guilherme Miziara IBMEC | In Company BBTS / 2018 Técnicas de Negociação 1 2 CONTEÚDOCONTEÚDO Cenário Tipos de Negociação Estrutura do Processo Negocial Estratégias, Táticas e Concessões Modelos de Argumentação Comunicação Interpessoal 3 O que é Negociação? • Conceito: ‐ É um processo de comunicação, de troca de informações, em que as partes tentam concordar sobre o que cada uma deve dar e receber, ou fazer e receber, em uma transação. A negociação ocorre a cada instante com todos nós 4 Quem Negocia? 5 6 Por que Negociamos? 7 ZOPA 8 Negociação X Processo 9 Negociador Brasileiro 10 11 Diferenças Culturais 12 13 A Palavra É A palavra é metade de quem a pronuncia e metade de quem a escuta. Michel Eyquem de Montaigne 14 Posições Perceptivas 15 Vivemos no Mundo de Informaçõesdo Excesso 16 17 Tipos de Negociação 18 Antigo Modelo de Negociação 19 Barganha Posicional Focada nas posições. Precisamos focar nos interesses. Na Barganha Posicional, quem cede se sente... 20 Posição inicial • Inflexibilidade em relação a algo. • Argumentos não consideram os contra‐argumentos. 21 Barganha Posicional Na Barganha Posicional pode ocorrer o maior Pecado da Negociação 22 Barganha Posicional Dizer que algo é... 23 Negociação Baseada em Princípios 24 Negociação Baseada em Princípios Onde o foco deve ser nos ganhos, mas sem atrapalhar o relacionamento. 25 Disputa pela laranja 26 Negociação Baseada em Princípios • Negociação Baseada em Princípios (Método Harvard): ‐ Pessoas: Separe as pessoas do problema. ‐ Interesses: Encontre objetivos comuns. ‐ Opções: Pense em opções criativas e de satisfação mútua. Pense nas possibilidades de acordo. ‐ Critérios: Defina um padrão objetivo para o resultado. 27 Pessoas 28 Interesses 29 Opções 30 Opções 31 Tática de Concessões (2) (1) (4) (3)Muita Pouca Pouca Muita Importância para mim Importância para o outro 32 Critérios 33 Análise “O Que” Fazer e “Como” Fazer? Planejamento Interação Controle 34 Análise 35 ANÁLISE • Coleta de informações e entendimento do cenário. • Diagnóstico da situação. • Identificação de seus interesses e da outra parte. 36 Planejamento 37 PLANEJAMENTO • Quais os melhores argumentos? • Qual o mínimo aceitável? • Quais os melhores critérios e opções? • Quem está com o poder? 38 39 40 41 MACNA 42 Mando de Campo INTERAÇÃO O que será Abordado Disposição da Sala Negociação em Equipe Blefe 43 Mando de Campo 44 Disposição da Sala 45 Distribuição do Contato Visual Vaidade 46 Blefe 47 48 O Que Será Abordado? 49 Coerência na Negociação em Equipe 50 P INTERAÇÃO E R C E 51 (Acontece fora da Mesa de Negociação): CONTROLE Avaliação de Resultados e Posturas 52 E as Pessoas na Negociação? 53 54 Percepção e Argumentação 55 Crenças 56 Experiências 57 58 59 Convencer Persuadir 60 Dominância Cerebral 61 Dominância Cerebral 62 63 Primeira Oferta TÁTICAS 64 Tática: Negociação LimitadaTÁTICAS: O QUE FAZER? 65 TÁTICAS: O QUE FAZER? 66 Cone do Silêncio 67 Proposta Absurda 68 E a Comunicação na Negociação? 69 Sentido Comunicação Posturas Reações Silêncio Não verbal 70 Ouvir Muito e Falar Pouco 71 72 BRINCADEIRAS 73 Emoção X Tempo Emoção Tempo CHOQUE NEGAÇÃO ANSIEDADE RAIVA DEPRESSÃO ACEITAÇÃO SOLUÇÃO 74 Encerramento 75 Encerramento 76 77 Guilherme Miziara @professormiziara Redes Sociais Guilherme Miziara 78 Texto / Case / Exercício 79 Il us tr aç õe s Th ie m i O ka w ar a Il us tr aç õe s Th ie m i O ka w ar a 64 DOM 80 O poder da comunicação nos processos de negociação negociação POR REG INA ROSSETT I E MUR ILO FURTADO DE MENDONÇA JUN IOR A comunicação tem um papel fundamental nos processos de negociação, já que os resultados do entendimento dependem muito da sua quali- dade. A preparação, a troca de informações e o entendimento mútuo também devem ser exercidos com técnica e sabedoria. A habilidade e o conhecimento definem a complexidade da arte de negociar que, em sua forma mais rudimentar, caracteriza-se como uma negociação distributiva ligada ao “agir estraté- gico”, com os efeitos daquilo que é dito sobre o interlocutor, na ausência de linguagem consensu- al. No entanto, a forma mais exuberante da nego- ciação está na intersubjetividade compartilhada e no entendimento mútuo, que busca um consenso exponencialmente lucrativo para as partes envolvi- das na negociação, atendendo assim os interesses comuns e superando as metas pré-estabelecidas. O objetivo deste artigo é compreender a nego- ciação a partir da teoria do agir comunicativo, de Jürgen Habermas (2002). O autor conceitua dois tipos de agir – o estratégico e o comunicativo – e distingue dois tipos de negociação – a distributiva e a integrativa. Os agir estratégico é típico da nego- ciação distributiva, enquanto o comunicativo está mais presente na negociação integrativa. DOM 65 81 o sucesso de quem fala depende dele ser suficien- temente compreensível e aceitável pelo ouvinte. Habermas também observa que o objetivo nem sempre é alcançado, pois os participantes da negociação têm a liberdade de, mesmo compre- endendo, poder dizer não ao que é dito, ou seja, o ouvinte tem a liberdade de não aceitar o que diz o outro. O sucesso dessa conversa depende da racionalidade da linguagem, orientada para se conseguir um entendimento, e também indica a responsabilidade dos participantes da interação nos processos de entendimento. A intenção comunicativa da racionalidade bus- ca, naturalmente, alcançar o entendimento mútuo, porque pressupõe a dimensão social da intersubje- tividade inerente a todo agir comunicativo: quem fala procura se entender a respeito de algo com o ouvinte. Segundo Luís Carlos Lopes (2003), enten- dimento mútuo significa um diálogo aceito por todos os participantes, por meio da negociação, o que Habermas chama de entendimento mútuo, baseado no respeito entre as partes envolvidas. O entendimento mútuo busca o consenso. É importante notar que não se trata de um consenso absoluto e universal, em que toda a sociedade esteja de acordo, mas de consensos estabelecidos por pessoas, grupos, comunidades e setores da sociedade em alguns momentos, segundo determi- nados interesses, de forma dinâmica e dialogada. Ele pressupõe o reconhecimento das pretensões de validade em um mundo social e também objetivo. É importante notar uma sutil diferença entre o entendimento mútuo e o acordo. O entendimento mútuo acontece quando o ouvinte reconhece que as razões de quem fala são boas para ele, em cer- tas circunstâncias, mas não se apropria delas. O acordo ou consenso somente é alcançado quando os participantes do ato de comunicação aceitam uma pretensão de validade pelas mesmas razões. Então, o entendimento só vai acontecer quando as razões de justificação da validade são com- partilhadas pelos envolvidos. O reconhecimento intersubjetivo, motivado pelas mesmas razões, faz surgir um acordo sobre alguma coisa, estabelecen- do assim o consenso. Por fim, a diferença entre o agir estraté- gico e o comunicativo está na eficácia da arte de comunicar. O estratégico significa apenas a transmissão de uma informação, sem nenhuma AGIR ESTRATÉGICO E AGIR COMUNICATIVO Segundo Habermas, o agir estratégico está pre- sente nas comunicações unilaterais, em que há apenas uma transmissão de informações, sem a preocupação do entendimento da outra parte. Para isso, é necessária uma hierarquia ou mesmo uma superposição dos atores envolvidos e dos inte- resses em jogo. Ele é próprio da ação que busca alcançar um resultado, utilizando-se de atos da fala para causar determinada reação performática do interlocutor, que produza reações e comporta- mentos no ouvinte. Também se baseia em planos individuais de ação, em que a cooperação mútua e o reconhecimento intersubjetivo são descartados. O monólogo lhe é peculiar e a questão do entendi- mento está em segundo plano. Está presente em apresentações sem a preocupação de entendimen- to e com interpretações casuais e duvidosas, já que o alinhamento de objetivos sequer é questio- nado. Tudo isso é percebido em grandes discursos, por vezes eloquentes, mas sem nenhum espectro de abrangência, com palavras “soltas ao léu”. Já no agir comunicativo, segundo o autor, está cristalizado o entendimento, a compreensão e a participação efetiva no meio linguístico. Esse agir é identificado num debate de ideias com múltiplos argumentos a serem refletidos pelos atores envol- vidos, visando alcançar o consenso esperado. Ele possui dois sentidos, um mais fraco e outro mais forte. O fraco acontece quando o entendimento mútuo se estende a fatos e razões dos agentes para manifestarem suas expressões de vontade unilaterais. Já o sentido forte ocorre quando o entendimento mútuo se estende às próprias razões normativas, que baseiam a escolha dos fins. Os envolvidos fazem referência a orientações de valor, que determinam sua vontade para além de suas preferências. Em ambos os casos observados de expressões da vontade, não inseridas num contexto normativo, as proposições de intenção e solici- tação já são empregadas comunicativamente, ou seja, com a meta de levar o ouvinte a um assenti- mento racionalmente motivado. O objetivo do agir comunicativo é promover o entendimento mútuo, isto é, entender-se com alguém a respeito de algo. Habermas atribui a ele dois níveis: a compreensão e a aceitação. Primeiro, o ato da fala deve ser compreendido pelo ouvinte e, depois, se possível, ser aceito por ele. Portanto, 66 DOM 82 preocupação com o seu entendimento, enquanto o comunicativo denota não apenas a compreen- são, como também a integração social das ações envolvidas. Comparar esses dois conceitos remete ao resultado, pois enquanto uma ação se limita a transmitir uma informação, a outra considera o entendimento intersubjetivo. Um acordo não pode ser imposto nem forçado por uma das partes, ele deve ser negociado. Segundo Habermas, aquilo que se obtém visivelmente através de gratificação ou ameaça, sugestão ou engano, não pode valer como acordo. NEGOCIAÇÃO Negociação, para H. Cohen (1980), é o uso da informação e do poder com o objetivo de influenciar o comportamento dentro de uma “rede de tensão”. O poder é circunstancial, pois ora estamos com ele, ora sem ele. Pode-se nascer poderoso numa família abastada ou estar momen- taneamente travestido de poder, mas a variável “informação” faz toda a diferença, pois é ela que provoca deslocamentos em um jogo de poder. Quem detém o conhecimento implicitamente exerce o poder, mesmo que de maneira disfarçada ou sutil. Já F. Guirado (2008) define negociação como um processo de comunicação interativo, estabe- lecido quando duas ou mais partes buscam um acordo, durante uma transação, para atender aos seusinteresses. Essa definição mostra claramente a importância da comunicação no processo de negociação e sua dinâmica na apresentação das controvérsias laterais. A dialética, num processo de negociação, pode ser diluída com mediações profissionais em busca do senso comum. Em todos os processos fica evidenciada a importância de uma lógica, um roteiro, uma trilha de sequência contínua desse procedimento. Toda negociação envolve um processo com quatro fases: a preparação, a troca de informações, as propostas de solução e o fechamento do negócio (Shell, 2001). • A preparação mostra a importância de se considerar inúmeras variáveis antecipadamente. Ao nos conscientizarmos da importância da adoção dessa prática, convergimos para os seus benefí- cios. É consenso, entre os estudiosos do tema, que não se recorre a essa prática cotidianamente para não sacrificar o processo, contaminando seus O OBJETIVO DO AGIR COMUNICATIVO É PROMOVER O ENTENDIMENTO MÚTUO, ISTO É, ENTENDER-SE COM ALGUÉM A RESPEITO DE ALGO DOM 67 83 objetivos e resultados. Partindo dessa premissa, podemos concluir que aquele que se prepara minimamente para uma negociação já se apre- senta em melhores condições de argumentar. Isso implica naturalmente equilíbrio emocional e uso da razão, pois a previsibilidade foi contemplada para a adoção da estratégia mais adequada. Outro fator recorrente é a segurança que temos quando prevemos todas as possibilidades, dando margem a iniciativas contundentes na apresentação de soluções. Quando alguém está convicto de suas proposições, o conhecimento da causa expande as expectativas, reforçando a credibilidade de ima- gem e a confiança. O exercício de se antecipar aos fatos nos possibilita uma melhor gestão do tempo, evita pressões e, principalmente, surpresas. • A troca de informações é uma dinâmica fundamental, pois sem ela não saímos do lugar, o que impede qualquer tipo de acordo. É nessa fase que a qualidade do acordo será definida. Trata-se de algo relevante no exercício da negociação e no cenário colaborativo. O esmero nessa ação nos conduz a resultados exponenciais e, por que não dizer, ao “estado da arte” dessa prática. O que é importante para você? Essa indagação aberta tem o objetivo claro e transparente de apurar os ver- dadeiros interesses subjacentes, que permeiam a situação naquele momento. Instala-se, então, um clima que permite ao outro lado (interlocutor) se considerar parte do processo e da solução. A partir daí, a fluidez se instala e o acordo se aproxima. • As propostas de solução resultam da fluidez dos dados transformados em informações. Essa depuração conduz naturalmente à criação de valor, quando é percebida a conectividade dos interesses comuns. • O fechamento de acordos e obtenção de compromissos são lugares comuns para aqueles que seguem as melhores práticas no processo de negociação. É a conclusão de uma sequência con- tinuada e metodológica, que resulta na construção de cenários sólidos e os torna mais perenes. A negociação pode ser classificada em distri- butiva e integrativa. Segundo Bazerman e Neale (1998), a negociação distributiva geralmente envolve apenas uma questão – que eles chamam de “torta fixa” – uma pessoa ganha à custa da outra. O significado da “torta fixa” é o preço. Uma A INEXISTÊNCIA DA TROCA DE INFORMAÇÕES LIMITA O ENTENDIMENTO DAS PARTES, LEVANDO A RESULTADOS POUCO SIGNIFICATIVOS 68 DOM 84 ouvintes o assentimento racional necessário a um acordo mais elaborado, num contexto de geração de valor. Enfatiza-se aqui o alcance da negocia- ção colaborativa ou integrativa, uma vez que as expectativas de ambos os lados foram superadas, extrapolando as questões iniciais das discussões. A criação de valor permite deixar de lado a questão central de um conflito ou uma transação, ao pro- duzir inúmeros enunciados baseados na percepção de conectar os interesses subjacentes em questão, para obter soluções inovadoras. Dessa arte pode- mos esperar uma nova forma de conduzir as nego- ciações, assumindo a ação comunicativa como um efeito importante dos objetivos pretendidos. Regina Rossetti é professora do PPGCOM da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), São Paulo, Doutora em Filosofia pela USP. MuRilo FuRtado de Mendonça JunioR é professor convidado da Fundação Dom Cabral, mestrando em Comunicação no PPGCOM da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), São Paulo. Este trabalho foi apresentado no GP Teorias da Comunicação do XV Encontro dos Grupos de Pesquisas em Comunicação, no XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. negociação em que há uma única questão (preço) é considerada distributiva, pelo simples fato de distribuir a faixa de preços (alvo e reserva) das partes implicadas. Aí, o ganho de uma das partes implica, consequentemente, a perda da outra parte. É a forma mais comum de negociação, mas não a única. A negociação integrativa é marcada pela coo- peração e busca de um acordo. Nela, o papel da comunicação é mais forte. As partes competem para dividir o valor e, ao mesmo tempo, cooperam entre si para obter o máximo de benefícios, con- jugando seus interesses num acordo. Nesse tipo de negociação, é preciso ser bom tanto na criação de valor quanto em reivindicá-lo (Watkins, 2006). Os cinco pressupostos para se alcançar o “estado da arte” da negociação integrativa são: os nego- ciadores estarem dispostos a trocar informações; entender as necessidades, interesses e objetivos das partes; enfatizar interesses comuns e mini- mizar diferenças; buscar soluções que atendam as partes envolvidas; criar valor explorando os interesses subjacentes. CONSIDERAÇÕES FINAIS O conceito de agir estra- tégico é mais adequado à negociação distributiva, quando a comunicação – baseada em planos individuais de ação e transmissão de informação unidirecional – produz uma fala sem entendimen- to plausível, caracterizando-se aí uma negociação competitiva ou distributiva com posicionamento exacerbado e sem a busca dos interesses comuns. Nesse caso, fica evidente a ausência de consenso, já que a comunicação é unilateral e sem possibili- dade de pactos e/ou acordos. Exceto em socieda- des hierarquizadas, o agir estratégico não encontra eco, pois vivemos num ambiente globalizado, sempre em busca de soluções compreendidas e compartilhadas. A inexistência da troca de infor- mações limita o entendimento das partes, levando a resultados pouco significativos. O conceito de agir comunicativo é mais ade- quado à negociação integrativa, porque parte do pressuposto de que considerar os interesses alheios se sobrepõe, de maneira absoluta, na construção de soluções que atendam as partes envolvidas. E isso só será possível considerando-se a dialética intersubjetiva. Os atos de fala ilocutó- rios (com intenção comunicativa) produzem nos PARA SE APROFUNDAR NO TEMA BAZERMAN, Max H.; NEALE, Margaret Ann. Negociando racionalmente. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000. 199 p. BLAKE, Robert; MOUTON, Jane S. Managerial Facades. Advanced Management Journal, New York, v. 31, n. 3, p. 30-37, Jul. 1966. FISHER, Roger; URY, William. Como chegar ao sim: negociação de acordos sem conces- sões. Rio de Janeiro: Imago, 1985. 143 p. HABERMAS, Jurgen. Verdade e Justificação: ensaios filosóficos. São Paulo: Loyola, 2004. 330 p. WATKINS, Michael (Org.). Negociação. Rio de Janeiro: Record, 2008. 206 p. DOM 69 85 O Processo de Negociação, sua estrutura e importância no contexto atual. Luiz Carlos Rodrigues ∗ Jose Vilmar de Oliveira ** Resumo: A Negociação está cada vez mais presente no nosso cotidiano. Vivemos num mundo globalizado, e num ambiente típico de mudanças e conflitos. Essa realidade do mundo em transformação faz com que jogos de interesses se choquem, e com isso surgem os conflitos, além de diversos outros fatores que interferem no processo relacional das pessoas dos grupos e organizações. Sobre esses aspectos, procuramos através de umalinguagem clara e objetiva, mostrar a importância do processo de negociação dentro deste contexto. A necessidade de desenvolvimento da habilidade de negociação e premente, pois vivemos num mundo de conflitos e jogo de interesses. Diante disso, o artigo apresenta em síntese o processo de negociação, sua importância de se conhecer os objetivos da negociação, e conduzi-la no cenário em que a mesma esta inserida, bem como a importância de se conhecer o negócio, objeto da negociação, o ambiente e as expectativas em relação ao processo e o conflito que envolveu aquela negociação. Não deixando de lembrar da ética e concessões que envolvem todo um processo negociação. Palavras-chave: Negociação. Conflito. Ambiente. Ética. Concessões. 1 Introdução Com as constantes mudanças no cenário do nosso mundo globalizado, e o com o aumento cada vez mais dos objetivos desafiadores pelos quais as organizações estão inseridas, cada vez mais a tomada de decisão rápida e acertada, bem como a resolução dos conflitos através da negociação, vêm ganhado espaço e importância no contexto do nosso cotidiano. Pretendemos com este artigo reacender a lembrança da importância do processo de negociação, seu conceito, as etapas, objetivos, e a importância de analise dos cenários. Procuramos de forma clara e simples abordar os aspectos fundamentais que devem ser observados pelo negociador, a importância do conhecimento do negócio, conhecimento do ∗ Graduado em Administração pelo UBM, pós-graduado em Gerência Superior de Empresas, Gestão de Recursos Humanos e Gestão Estratégica em Negócios pelo UBM , Mestrando em Gestão e estratégias em Negócios pela UFRRJ e Professor Universitário na AEDB e UBM. lucarod@yahoo.com ** Graduado em Engenharia Metalúrgica Pela UFF, Graduado em Administração e pós-Graduado em Gerência Superior de Empresa pelo UBM e Mestrando em Gestão e Estratégias em Negócios pela UFRRJ e professor universitário no UBM. Jose_vilmar.oliveira@saint_gobain.com 32 86 mailto:lucarod@yahoo.com mailto:Jose_vilmar_oliveira@saint_gobain.com ambiente e as expectativas da negociação, o processo do conflito, e um dos fatores mais importantes que á a ética na negociação. Com a elaboração deste artigo, esperemos contribuir com aqueles que buscam orientação para a preparação, condução e fechamento de um processo de negociação. 2 O Conceito de Negociação Segundo David Berley (The Positive Negotiation Program – 1984), Negociação é um processo, em que duas ou mais partes, com interesses comuns e antagônicos se reúnem para confrontar e discutir propostas explícitas com o objetivo de alcançarem um acordo. Concordamos com essa definição, uma vez que realmente a negociação é um processo, pois está situado no tempo passado, presente e futuro e, além disso, exige planejamento, execução e controle. Uma negociação normalmente é originada de uma situação ou problema ocorrido no passado, visando uma solução para o presente ou futuro. O início do processo de negociação se dá pela necessidade de uma das partes em resolver um determinado problema ou solucionar um conflito. Isso implica em dizer que, para que haja um processo de negociação, necessariamente precisa haver duas ou mais partes envolvidas e interessadas em negociar para chegarem a um acordo. Quando falamos em acordo, implicitamente, podemos dizer que as partes envolvidas no processo precisaram fazer algumas concessões de seus interesses ou pontos de vista para que o acordo fosse firmado. Contudo, não se pode afirmar se as partes fecharam um bom acordo, pois isto é muito subjetivo, uma vez que os interesses são antagônicos e, muitas vezes, a negociação se dá, como já dissemos, para corrigir problemas ou conflitos existentes, que se não solucionados, trarão ainda mais problemas ou prejuízos para as partes envolvidas. Neste contexto, existem alguns fatores importantes que precisam ser levados em consideração num processo de negociação que são: Interesse em negociar - As partes envolvidas precisam estar interessadas na negociação, de outro modo, ele nunca se concretizará. Saber fazer concessões - Dificilmente as partes chegarão a um acordo sem abrir mão muitas vezes de valores pessoais ou sentimentais, pois um bem que tenha valor sentimental, para quem está se desfazendo dele vala muito mais do que para quem o está comprando. Pois, no caso do vendedor, existe a questão sentimental e que, muitas vezes, por uma necessidade é obrigado a se desfazer daquele bem. Já para o comprador, é um processo de negociação normal onde é colocado um valor real sem o fator sentimento embutido. A concessão é uma peça importante no processo de negociação, então ela tem que ser dosada para, ao se concedê-la, obter-se o melhor. Muitos negociadores se guardam ou se retraem, no início das negociações, e fazem poucas concessões nesta fase, mas não fazem isso por fraqueza ou porque são durões ou inflexíveis, apenas estão usando uma estratégia de conhecer o oponente, analisando os seus movimentos e posições. Após conhecer os pontos fortes e fracos dos oponentes começa a fazer as concessões devidas. Alguns negociadores cedem, muito pouco, durante toda a negociação, porém nos momentos de impasses e conflitos cedem muito. Quem está negociando deve saber que muitas concessões feitas não custam nada, então devemos fazê- las e deixar com que a outra parte negociadora fique satisfeita. 33 87 O Poder de Barganhar - Os participantes da negociação precisam ter poder para efetuar a negociação e chegarem a um acordo. O empowerment é importante, pois mostra ao oponente que o opositor tem poder de decisão. 3 Etapas da Negociação No processo de negociação devemos cumprir algumas etapas para se alcançar os objetivos. Assim, estratégias e táticas devem ser seguidas para se evitar ou minimizar o aparecimento de impasses, que fatalmente aparecerão. Também no processo surgirá a necessidade de se fazer concessões para se alcançar os objetivos. No conhecimento dos negócios é importante se conhecer, além dos objetivos, as alternativas e os critérios de decisão que serão tomadas durante o processo de negociação. 3.1 Objetivos O primeiro passo no planejamento de cada negociação é determinar os objetivos. Saber o que realmente queremos. Como existem vários objetivos no processo de negociação é necessário organizá-los por ordem de prioridade, classificando-os quais podem ser negociados e quais não entram em discussão. Essa classificação tem um caráter pessoal e serve para se traçar alguma tática ou estratégia e não deve ser externado para não dar ferramentas ao oponente. Os objetivos, também, podem ser classificados como: Ideais: são aqueles que podem ser alcançados se o outro negociador concorda com o que você solicita. Realistas: são aqueles em que o outro negociador não aceita a sua proposta e oferece resistência, atingindo-se o objetivo após concessões das partes envolvidas. Quanto aos objetivos é bom ter uma visão bem clara do que são verdadeiramente os objetivos para distinguí-los de desejos e necessidades. Os objetivos devem ser colocados na mesa de negociação quando se precisa efetivamente de alguma coisa. Como exemplo podemos dar: uma solicitação de um treinamento no exterior. A negociação com o chefe só deve ser colocada como objetivo quando este treinamento for essencial, ou seja, você precisa fazer para melhorar seus conhecimentos, mas se for apenas para fazê-lo sem agregar conhecimentos, não deve constar da pauta de negociação. Em uma negociação os objetivos devem ser definidos. Esta definição deve ser acompanhada de uma margem de negociação com valores máximo e mínimo definidos. Estes valores servem de parâmetros para que o negociador se guie, sem correr o risco de ultrapassar os limites ou crie algum impasse por desconhecimentodestes. Neste ponto, é bom lembrarmos o livro “A arte da Guerra” – Sun Tzu, que diz: “Se conhecemos o oponente e a nós mesmos não precisamos temer o resultado de uma centena de combates”. Isto significa que, além de conhecermos o que queremos, também, é necessário que façamos tudo, o que estiver ao nosso alcance, para conhecermos o oponente, saber o que ele deseja, saber quais são os seus pontos fracos e fortes. Quando determinamos o máximo e o mínimo desejáveis é bom que se faça uma justificativa destes valores para que no futuro se saiba porque se chegou a estes valores e, assim, podemos explicar aos interessados o porque destes valores. 34 88 3.2 Cenários A preparação para um processo de negociação deve levar em conta os cenários que envolvem a negociação. Os cenários servirão para se fazer simulações e, assim, antecipar os possíveis resultados. Para a negociação de preços de uma prestação de serviços, por exemplo, em um período inflacionário, a montagem de cenários com baixa, média e alta inflação se faz necessário para que tenhamos uma visão do que pode acontecer, nos três cenários, e a partir daí, fazer as correções necessárias para se obter o preço mais justo para ambas as partes. 3.3 Conhecimento do negócio As pessoas que estão envolvidas na negociação devem ter pleno conhecimento do negócio para evitar um fracasso dos objetivos pretendidos. Há necessidade de indicar pessoas que conheçam o negócio para que elas discutam, ponderem, analisem e tomem decisões mais acertadas. Se pessoas leigas forem indicadas para negociar, o risco de não termos uma boa negociação é muito grande, pois elas não conhecem o negócio e, às vezes, nem o assunto envolvido, em determinado momento. Se isto acontece, é possível que a parte que tem pessoas preparadas para a negociação faça um bom acordo, não pelos seus próprios conhecimentos e virtudes, mas pela fragilidade da outra parte. 3.3.1 Quadro de interesses Os negociadores devem saber claramente quais são os interesses envolvidos na negociação. Assim, devem saber quais são os interesses comuns que atendem as partes envolvidas, quais os interesses que se complementam para alcançar os objetivos do foco principal. É importante, também, saber os interesses opostos ou conflitantes que podem atrapalhar uma boa negociação, além de outros interesses que possam surgir durante a negociação, os quais podem atender ou não, a uma determinada parte dos negociadores ou a todos os envolvidos. Supondo que não atendam a uma parte envolvida, então novas negociações começarão, com foco nestes novos interesses, para se eliminar os conflitos que apareceram. 3.3.2 O que será negociado? É preciso ter bem definido o que será negociado. Essa definição é que irá delinear como o processo será conduzido. Para evitar que surjam problemas novos ou minimize o aparecimento destes, nas negociações, deve-se relacionar tudo o que será negociado, durante a montagem dos cenários. Quando sabemos o que será negociado, devemos definir a importância e os valores do que será negociado. Isso é bom, porque se atribui uma escala ou hierarquia de importância e valor daquilo que estamos negociando. 4 Negociadores Uma vez definido o que será negociado, é necessário identificar quem tem o melhor perfil para conduzir a negociação, pois uma falha, dependendo do que está sendo negociado, pode causar grandes prejuízos à organização. 35 89 O negociador precisa conhecer a fundo sobre o que irá ser negociado, o tempo estimado para o fechamento do negócio, até onde o negociador pode chegar, quais as restrições, se é que elas existem. Isso fará com que o negociador tenha mais informações e com isso se sinta mais seguro durante o processo. É preciso que ele saiba também qual o procedimento a seguir caso haja um impasse na negociação. Com relação aos negociadores, estes devem apresentar algumas características, tais como, o relacionamento interpessoal. As pessoas que se propõem ou são indicadas como negociadores devem apresentar um estilo próprio que é o de não se envolver emocionalmente com a negociação e os atores desta. Quem vai para uma mesa de negociação não pode ver a outra parte como um inimigo, e sim como uma outra pessoa que quer resolver um problema comum. Para isso, devem ter flexibilidade nas negociações para evitar as decisões de “isso pode e isso não pode”. Essa flexibilidade é importante porque ela corta algumas arestas que vão surgindo ao longo das negociações. O negociador, ainda, deve ter e demonstrar confiança nos assuntos envolvidos na negociação. Se ele transmite segurança, o oponente terá mais cuidados ao fazer algumas colocações de seus pontos de vista, pois se eles forem colocados de uma forma errada ou que gerem interpretações dúbias, com certeza, ele sairá perdendo na negociação. O bom negociador deve formular bem as perguntas, considerando três pontos: o que quer saber, como perguntar e como aplicar as informações recebidas. 5 Ambiente da Negociação O “território” onde será feita a negociação também pode exercer influencia sobre o processo de negociação. Portanto, se o negociador não conseguir fazer a negociação em seu “território”, deverá evitar fazê-la no território do oponente, aconselha-se então conduzir o processo em um “território” neutro. Fazer a reunião no próprio ambiente é uma vantagem estratégica que não deve ser desprezada porque conhecemos todos os meios e podemos a qualquer momento, requisitar outras pessoas e/ou interessados nos assuntos tratados. A desvantagem é que, por motivos internos, podemos ser interrompidos para atender a um superior ou resolver algum problema da empresa. Ao contrário, se a reunião for no ambiente do adversário, não temos o controle sobre os acontecimentos logísticos, nem tampouco estamos familiarizados com o ambiente, gerando, assim, uma perturbação no processo de negociação. A vantagem é que pode solicitar um adiamento, tendo como justificativa, a necessidade de consultar a sua empresa. Outra vantagem é que ao se deslocar para o ambiente adversário, demonstramos ao oponente que estamos abertos para concessões. Quando a negociação é em ambiente neutro, a vantagem inicial é daquele que consegue ter ao seu lado os especialistas e o material necessário, e isso exige esforços em nível da organização. 6 Expectativas da Negociação É preciso que o negociador saiba claramente o que deseja da negociação, pois uma negociação sem objetivo, certamente não terá um bom desfecho. Segundo Arthur Diniz em seu artigo “Negociação: A arte de conseguir o que se quer” (revista vencer nº 67 – 2005), Quanto mais objetiva e baseada em critérios imparciais for a 36 90 negociação, melhor será o acordo final para todos. O sucesso está na ausência de paixão, na boa comunicação. Arthur Diniz, afirma que o processo de comunicação e de vital importância para o sucesso de uma negociação, pois dentro do processo de comunicação temos sempre três participantes que são: Um emissor, um receptor e uma mensagem. E, na maioria das vezes, existe mais de um participante indesejado: O mal-entendido. O segundo ponto importante no processo de comunicação e negociação, segundo Arthur Diniz, é o entendimento de como o receptor recebe a mensagem, pois existem três canais principais para condução da mensagem que são: Auditivo, visual e sinestésico. Sabemos que pessoas auditivas entendem melhor, as mensagens faladas, percebem ruídos inaudíveis e adoram música. Algumas frases características das pessoas auditivas: Eu entrarei em contato com você; Eu posso pegar essas idéias; Segura um segundo; Eu sinto isso nos meus ossos; Um homem de coração quente; Um cliente frio. Enquanto as pessoas visuais se comunicam com mais eficiência através de imagens, gostam de paisagens bonitas e se preocupammuito com a beleza. As pessoas visuais utilizam alguns exemplos de frases como: Eu vejo o que você quer dizer; Eu estou olhando atentamente para a idéia; Temos o mesmo ponto de vista; Mostre-me o seu ponto de vista; Você vai olhar para trás e rir. Já os sinestésicos são movidos por sentimentos e sensações e, facilmente, se emocionam. Alguns exemplos de frases de pessoas sinestésicas são: Vivendo em harmonia; Isso é grego para mim; Conversa fiada; Ouvir passarinho cantar; Entrar no tom; Música para meus ouvidos. De acordo com Arthur Diniz quando você consegue identificar no negociador estas características, você terá mais facilidade no processo de negociação, pois poderá utilizar estratégias de acordo com a característica do negociador, e assim poderá utilizar recursos compatíveis com cada estilo. 7 Conflito Conflito pode ser definido como “uma luta por valores e reivindicações de status, poder e recursos escassos” - Andrade, Rui Otávio Bernardes de, Rovigati, Danilo Alyrio, Macedo, Marcelo Álvaro da Silva - Princípios de Negociação. Segundo Lalande, “conflito é uma relação de dois poderes ou de dois princípios, cujas aplicações exigem de um mesmo objeto determinações contraditórias”.Em uma negociação, o 37 91 conflito, na maioria das vezes, sempre aparecerá, pois a negociação não ocorre com todos concordando ou não concordando com as propostas feitas. O conflito é um tipo de relação que nunca deixará de existir, pois sempre estamos contestando alguma afirmação. Conflito é uma palavra muito ampla, é inerente ao ser humano, uma vez que nunca estamos satisfeitos com o objetivo atingido. Logo que o atingimos entramos em um novo conflito para obter mais alguma coisa. Este é um tipo de conflito existente nas pessoas que buscam sempre melhorias pessoais, que pode ser uma ambição sadia ou a doentia, esta não respeita a ética nem os semelhantes, quer alcançar os a qualquer preço. As partes que estão em negociação devem fazer possível para minimizar os conflitos e, assim, evitar as divergências e intransigências. A intransigência, talvez seja a essência maior do conflito, pois ela se dá quando uma das partes envolvidas na negociação não aceita o ponto de vista da outra parte. Em situações de tensão, dificilmente uma parte abre mão do seu ponto de vista, e aí, se instala discussões e, às vezes, não são fáceis de resolver. No momento do conflito é bom que, no grupo, tenha alguma pessoa com poder de liderança para tentar resolver o problema, pois as pessoas esperam do líder. Mas, é bom que se diga que a posição do líder, neste momento, não é das melhores, porque todos esperam uma tomada de decisão milagrosa de sua parte. Não é uma tarefa fácil para o líder, porque ele está lidando com pessoas que têm pensamentos e posições antagônicas. Depois ela tem que tomar uma posição, e aí, surgem as perguntas. Como saber quem tem razão? Como saber a quem dar razão? Ela não tem a certeza completa de sua decisão, então, confia no seu instinto, com base em sua experiência e no seu tato diplomático. 7.1 O Processo do Conflito O conflito se desenrola em um processo dinâmico no qual as partes se influenciam mutuamente. As condições antecedentes criam as condições para a ocorrência dos conflitos. Uma das partes percebe que existe uma situação potencial de conflito, passa a desenvolver sentimentos de conflito em relação à outra e se engaja em um comportamento de conflito. A ação de uma das partes conduz a alguma forma de defesa ou de reação à outra. Dessa reação (que pode ser positiva ou negativa), pode haver uma intensificação do conflito ou uma forma de resolução. 7.2 Administração de Conflitos Os conflitos são comuns nas organizações, então o administrador deve saber como trabalhar sob esse aspecto, e para isso tem à sua disposição três abordagens para administrar os conflitos, que são: 7.2.1 Abordagem estrutural do conflito O conflito surge das percepções criadas pelas condições de diferenciação, limitação de recursos e escassos e de interdependência. Para eliminar os conflitos neste aspecto é preciso atuar sobre uma das três condições que predispõem o conflito, a saber: Reduzir a diferenciação do grupo; Interferir nos recursos compartilhados; Reduzir a interdependência. 38 92 7.2.2 Abordagem dos Processos de Conflitos É a abordagem que procura reduzir os conflitos através da modificação do processo, isto é, de uma intervenção no episódio do conflito. Pode ser realizada de 3 maneiras diferentes: Desativação do conflito: uma parte reage cooperativamente; Reunião de confrontação entre as partes: Reunir face a face, as partes conflitantes, exteriorizar emoções, etc... Colaboração: É utilizada, após ultrapassada a oportunidade de desativação e reunião de confrontação. Identificar soluções do tipo ganha-ganha. 7.2.3 Abordagem Mista É a administração do conflito tanto nos aspectos estruturais como nos de processo, e inclui intervenções sobre a situação estrutural e sobre o episódio conflitivo. 7.2.4 Estilos de Administração de Conflitos Segundo Idalberto Chiavenato (Gestão de pessoas - O novo papel dos Recursos Humanos Nas organizações – 1999) Existem vários estilos de administração de conflitos, apresentaremos a seguir cinco desses modelos: 1 - Estilo de Evitação: Reflete uma postura nem assertiva nem cooperativa, na pretensão de evitar ou fugir ao conflito. É usado quando o problema é trivial, quando não há chance de ganhar, quando requer tempo para obter informações ou quando um desacordo pode ser oneroso. 2 - Estilo de Acomodação: Reflete alto grau de cooperação para suavizar as coisas e manter a harmonia. Consiste em resolver os pontos menores de discordância e deixar os problemas maiores à frente. 3 - Estilo Competitivo: É o comando autoritário que reflete forte assertividade para impor o seu próprio interesse. É utilizado quando uma ação decisiva deve ser rapidamente imposta em situações importantes ou impopulares, em que as ações de urgência ou emergência são necessárias ou indispensáveis. 4 - Estilo de Compromisso: Reflete uma combinação de ambas as características de assertividade e de cooperação. É utilizado quando uma parte aceita soluções razoáveis para a outra e cada parte aceita ganhos e perdas na solução. 5 - Estilo de Colaboração: Reflete elevado grau de assertividade e de cooperação. Habilita ambas as partes a ganhar, enquanto utiliza a negociação e o intercâmbio para reduzir diferenças. É utilizado quando os interesses de ambos os lados são importantes, quando os pontos de vista das partes podem ser combinados para uma solução e quando o compromisso requer consenso. O conflito, geralmente é o ponto de partida para o início de um processo de negociação, e desse processo, geralmente, surge o acordo. 8 O Processo de Negociação O processo de negociação é a forma ou maneira de como devemos utilizar as informações e os recursos sobre os cenários, o conhecimento do negócio, as habilidades e o relacionamento pessoal dos negociadores, ou seja, é a negociação propriamente dita. No processo, utilizamos as estratégias e táticas para se alcançar os objetivos. 39 93 Devemos iniciar a negociação, não com atritos ruídos ou desconfianças, mas, sim, transferir ou gerar confiança e criar um clima construtivo para que as pessoas sejam receptivas, dispostas a ouvir e prestar informações relevantes que possam levar ao bom desenvolvimento da negociação. Durante a negociação devemos coletar informações para nos inteirar e confirmar os problemas dos outros negociadores, as soluções e os possíveis benefícios que ele procura alcançar.Com conhecimento e habilidade os negociadores minimizam e eliminam os impasses fazendo concessões, dentro dos limites do objetivo desejável e o mínimo necessário. Durante o processo de negociação algumas técnicas, estratégias e táticas não devem ser utilizadas, são elas: 1- Improvisação e falta de planejamento: no mundo globalizado em que vivemos as informações são muito rápidas e em grande quantidade, aqueles que se preparam melhor têm grande chance de sair vitoriosos; 2- descobrir o ponto fraco do oponente e atacá-lo: o sucesso da negociação está na valorização dos aspectos positivos dos negociadores, então devemos descobrir as oportunidades e aproveitá- las. 3- aplicar truques, macetes e artimanhas: o uso destes artifícios pode tornar o adversário perigoso, ele pode, também, adotar os mesmos artifícios e derrotá-lo. 4- tentar a manipulação; se o negociador pretende se utilizar disto, a primeira coisa que tem a fazer é se colocar posição do outro. Veremos que o problema é bem diferente daquilo que pensamos. 5- agredir e intimidar: esta não é uma boa estratégia ou tática, pois demonstra para o adversário que quer impor a sua força, mas os seus argumentos são fracos. 8.1 Concessão A concessão, inclusive, é uma peça importante no processo de negociação, então, tem que ser dosada para, ao se concedê-la, obter-se o melhor. Muitos negociadores se guardam ou se retraem, no início das negociações, e fazem poucas concessões nesta fase, mas não fazem isso por fraqueza ou porque são durões ou inflexíveis, apenas estão usando uma estratégia de conhecer o oponente, analisando os seus movimentos e posições. Após conhecer os pontos fortes e fracos dos oponentes começa a fazer as concessões devidas. Alguns negociadores cedem, muito pouco, durante toda a negociação, porém nos momentos de impasses e conflitos cedem muito. Quem está negociando deve saber que muitas concessões feitas não custam nada, então devemos fazê-las e deixar com que a outra parte negociadora fique satisfeita. Conhecendo-se o que estamos negociando, temos as condições claras de conceder algo para as outras partes. As concessões devem ser feitas quando se tem a visão de que um impasse se aproxima ou quando ele aparece. Os negociadores que controlam melhor o fluxo de concessões têm uma boa chance de obter os melhores resultados em uma negociação. “O bom negociador bem-sucedido faz concessões sempre menores que os seus oponentes. Mostra-se menos generoso e menos previsível”- Karras, Chester L. O manual de negociação. 40 94 8.2 Ética No processo de negociação, as partes envolvidas têm que ter um compromisso de que a negociação se pautará por um comportamento ético para que haja uma confiança mútua entre as partes. “Ética, é a ciência dos costumes ou dos atos humanos, e seu objetivo é a moralidade, entendo-se por moralidade a caracterização desses mesmos atos como bem ou mal. O dever, em geral, é objeto da ética".(ANDRADE, Rui Otávio Bernardes de; Princípios de Negociação) Segundo P. Foulquié – Dictionnaire de la langue philosofhique, ética é a parte da filosofia que procura determinar a finalidade da vida humana e os meios para alcançá-la. Não existe em qualquer atividade um padrão de ética, ou modelo que deva ser seguido, pois ela depende da formação pessoal, educação e valores. Cada pessoa tem comportamentos, pensamentos a respeito de alguma coisa, Assim, o que pode ser ético para um, pode não ser para o outro. Em determinado contexto, a decisão pode ser ética, mas se houver mudança deste contexto, a mesma decisão pode ser não ética. Esse enfoque tem como resultado a ética situacional (ou relativa ou utilitária). A interpretação dos valores éticos pode ser absoluta ou relativa. Quando as pessoas se guiam e tomam decisões com base nas normas de conduta dependentes da situação estamos diante de um comportamento ético relativo. Contudo, se as pessoas se baseiam em premissas de que as normas de conduta são válidas para qualquer situação, o comportamento ético é absoluto. A idéia de ética relativa é aquela em que se acredita que determinado comportamento é correto porque existe uma justificativa lógica para se adotar uma determinada atitude. Até que ponto é correto avançar o sinal vermelho de trânsito porque estamos em uma área de alto risco de assalto, por isso se justifica tal comportamento? A ética relativa reconhece, também, a idéia de certo e errado é geográfica, pois uma coisa pode ser correta, em um país da América do Sul, mas pode ser errado em um país da África. Já a idéia de ética absoluta defende que determinados comportamentos são certos ou errados, em qualquer situação, e devem ser apresentados e defendidos como tal. O que se questiona neste tipo de ética é que o certo e o errado dependem de opiniões. Por exemplo, até que ponto é correto se manter o sigilo bancário de um político corrupto ou de um traficante de drogas? Ambos apresentam condutas não aprovadas pela maioria da sociedade, portanto têm comportamento aéticos. Um dos motivos que leva as pessoas a adotarem práticas não éticas é que elas buscam auferir vantagens de algumas situações para alcançar o objetivo, aumentar o poder e o controle. Quanto mais uma pessoa utiliza artifícios, estratégias e meios considerados não éticos, ela será julgada como uma pessoa tendenciosa, que toma decisões que não condizem com a verdade e a ética, tornando-se, assim, sem credibilidade. 9 Conclusão Podemos concluir que cada vez mais o processo de negociação está presente no dia-a- dia dos indivíduos, seja no aspecto pessoal, social ou organizacional. A negociação está presente na maioria de nossas ações cotidianas. O sucesso pessoal está estreitamente relacionado com a forma de como se conduz uma negociação. Uma boa estratégia de negociação é uma exclenete ferramenta para ajudar no processo de fechamento de um acordo. 41 95 Outro fator importante, é que em qualquer situação de negociação, o negociador precisa estar ciente do que será negociado, e que o fechamento de um bom negócio está relacionado com a sua preparação, seu estado emocional o nível de informação e a sua capacidade de persuasão pessoal. Não podemos esquecer de que o processo de negociação deve ser pautado por um comportamento ético e de confiança mútua entre as partes. Por fim, concluímos também, que a arte de negociar é fazer com que os negociadores saiam do processo de negociação com a sensação de terem feito um bom negócio ou um bom acordo, e que o fechamento de um processo de negociação é o resultado da encenação e interpretação de dois ou mais artistas que a seu modo e estilo buscam a satisfação e o atingimento real do objetivos das partes envolvidas. 10 Bibliografia ANDRADE, Rui Otávio Bernardes de; ROVIGATI, Danilo Alyrio; MACEDO, Marcelo Álvaro da. Princípios de Negociação. São Paulo: Atlas, 2004. CARVALHAL, Eugênio do; Negociação : fortalecendo o processo- como construir relações de longo prazo. Rio de Janeiro: Vision, 2004 CHIAVENATO, Idelaberto; Gestão de Pessoas : O Novo papel dos Recursos Humanos nas Organizações.Rio de Janeiro: Campus, 1999 DIAS, Mário; COSTA Roberto Figueiredo; Manual do Negociador. São Paulo: DFC – Consultoria e Treinamento;1990. KARRASS, Chester L. O manual de negociação. Rio de Janeiro: Ediouro, 1994. KRAUSE, Donald G. Sun Tzu: a arte da guerra para os executivos. São Paulo: Makron Books, 1996. OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças. Planejamento Estratégico. São Paulo: Atlas, 1992. 42 96 1 -V2 1 capa 1.1 Capa de rosto 1.1.1 - Ementa 02 - eMENTA - Plano de Aula - Negociação BBTS 3 - Apresentações 04 - Aula Negociação - PADRÃO - BBTS - ALUNO 5 - Texto Case Exercício 06 - O poder da comunicação nos processos de Negociação - A 07 -O Processo de Negociação, sua estrutura e importância no contexto atual_ 01- VAMO.pdf 1 INOVAÇÃO E COMPETITIVIDADE 1 - Capa e folha de rosto 1.1 - Ementa 1.1.2 Grupo TrigoEmenta 1.1.3 - Apresentações 2 Inovação e Gestão de Varejo 115 (5) 3 Texto Case Exercício 4 - Modelo Exercício 2018 Zona de Conforto 5 - Contra capa 2 Ementa_LJ_INOVeCOMP 3 - Apresentações 4 INOVeCOMP_GrupoTrigo_ProfLJ_apostila 5 Texto Case Exercício 6 INOVeCOMP_GrupoTrigo_ProfLJ_CasoPanera 7 INOVeCOMP_GrupoTrigo_ProfLJ_MAPI_A3_Lean 8 INOVeCOMP_GrupoTrigo_ProfLJ_MVP_Canvas
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