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COMPETÊNCIA (1)

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVERSO – GOIÂNIA
 CURSO DE DIREITO PROCESSUAL PENAL 
 PROF. SÍLVIO ARAÚJO DE OLIVEIRA
 MÓDULO: JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA 
1-CONCEITOS:
 Jurisdição é a função estatal exercida com exclusividade pelo Poder Judiciário, consistente na aplicação de normas da ordem jurídica a um caso concreto, com a consequente solução do litígio. É o poder de julgar um caso concreto, de acordo do o ordenamento jurídico, por meio do processo.
 Para Lucchini, a competência vem a ser a medida da jurisdição, distribuída entre os vários magistrados, que compõem organicamente o Poder Judiciário do Estado.
 Em poucas palavras, competência é a delimitação do poder jurisdicional (fixa os limites dentro dos quais o juiz pode prestar jurisdição). Aponta quais os casos que podem ser julgados pelo órgão do Poder Judiciário. É, portanto, uma verdadeira medida da extensão do poder de julgar.
2-ESPÉCIES DE COMPETÊNCIA
 A doutrina tradicionalmente distribui a competência considerando três aspectos diferentes:
a) – ratione materiae: estabelecida em razão da natureza do crime praticado;
b) – ratione personae: de acordo com a qualidade das pessoas incriminadas;
c) – ratione loci: de acordo com o local em que foi praticado ou consumou-se o crime, ou o local da residência do seu autor.
 Essa classificação coincide com a do C.P.P., o qual em seu artigo 69 e incisos, dispõe que a competência se determina: (a) incisos I e II: pelo lugar da infração ou pelo domicílio do réu (ratione loci); (b) inciso III: pela natureza da infração (ratione materiae); (c) inciso VII: pela prerrogativa de função (ratione personae).
3-COMO SABER QUAL O JUÍZO COMPETENTE?
3.1 – COMPETÊNCIA RATIONE MATERIAE (NATUREZA DA INFRAÇÃO PENAL PRATICADA) - 
 (ARTIGO 69, INCISO III, DO CPP)
 Em primeiro lugar, cumpre determinar qual o juízo competente em razão da matéria, insto é, em razão da natureza da infração penal.
 Para a fixação dessa competência ratione materiae importa verificar se o julgamento compete à jurisdição comum ou especial (subdividida em eleitoral, militar e política). A Constituição Federal estabelece as jurisdições especializadas.
 Finalmente, no que diz respeito aos crimes dolosos contra a vida, e outros a que o legislador infraconstitucional posteriormente vier a faze expressa referência, a competência para o julgamento será do Tribunal do Júri, da jurisdição comum estadual ou federal, dependendo do caso (C.F, art. 5., XXXVIII, d).
OBS: O crime de latrocínio (roubo seguido de morte), será da competência do juízo comum e não do Tribunal do Júri, por se tratar de crime contra o patrimônio e não contra a vida (STF – SÚMULA 603).
3.2 – COMPETÊNCIA RATIONE PERSONAE ( COMPETÊNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO)-
 (ARTIGO 69, INCISO VII, DO CPP)
 
 Fixada a competência em razão da matéria, cumpre verificar o grau do órgão jurisdicional competente, ou seja, se o órgão incumbido do julgamento é juiz, tribunal ou tribunal superior. 
 Essa delimitação de competência é feita pela Constituição Federal e ,também, nas Constituições Estaduais, de acordo com a prerrogativa de função, que é chamada competência ratione personae.
 De fato, confere-se a algumas pessoas, devido à relevância da função exercida, o direito de serem julgadas em foro privilegiado. Não há que se falar em ofensa ao princípio da isonomia, já que não se estabelece a preferência em razão da pessoa, mas da função.
OBS: Prefeitos municipais: O julgamento cabe ao tribunal de justiça do respectivo Estado, independentemente de prévio pronunciamento da Câmara dos Vereadores (CF, art. 29, X), quando se tratar de crimes comuns, assim considerados aqueles tipificados do art. 1., do Decreto-lei n. 201/67. Devido à falta de um maior detalhamento, já que a Constituição Federal limitou-se a dizer “julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça”, sem especificar quais crimes a serem submetidos a esse órgão, tem-se entendido que, na hipótese de crime praticado contra bens, serviços ou interesses da União, competente será o Tribunal Regional Federal e não o TJ. Pela mesma razão, tratando-se de crime eleitoral, a competência será do Tribunal Regional Eleitoral.
OBS: Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba pública sujeita a prestação de contas perante órgão federal (SÚMULA 208 – STF);
OBS: Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba transferida o incorporada ao patrimônio municipal (SÚMULA 209 – STF)
3.2.1 – ANÁLISE DAS SÚMULAS 704 E 721 DO STF
Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por conexão ou continência do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados – SÚMULA 704 – STF.
Na hipótese de o crime ser praticado por dois ou mais agentes em concurso, em que um deles tiver foro privilegiado, todos os coautores e partícipes deverão ser julgados perante esse juízo especial, reunindo-se os processos pela conexão ou continência.
Exemplo 1 - Deputado Federal (julgado pelo STF), juntamente com Joaquim de Tal e Pedro de Tal,( julgados pela justiça comum), comentem várias infrações penais (EXCETO: crime de homicício doloso). Segundo a SÚMULA 704-STF, todos os autores das infrações penais deverão ser julgados por um único tribunal, exatamente do autor com foro privilegiando em razão das suas funções. Neste caso, todos serão julgados pelo STF a quem cabe julgar, originariamente, o Deputado Federal.
Exemplo 2 - Deputado Federal (julgado pelo STF), juntamente com Joaquim de Tal e Pedro de Tal,( julgados pela justiça comum), comentem um crime homicício.
CUIDADO!!!
No referido exemplo, devemos ter o cuidado de observarmos que a competência para julgar o Deputado Federal é do STF (determinado na C.F) e o crime doloso contra a vida é o Tribunal do Júri, determinado, também, na C.F em seu artigo 5., inciso XXXVIII, d.
Neste caso, a autoridade que possui o foro por prerrogativa de função definido originariamente na Constituição não irá a julgamento pelo Tribunal do Júri pela prática de crime doloso contra a vida, ao contrário dos demais que participaram do mesmo crime que serão julgados pelo Júri popular. Resumindo: neste caso, haverá, obrigatoriamente, a separação dos processos – Dep. Federal (julgado pelo STF) e os demais, Tribunal do Júri.
CUIDADO!!!
QUANDO SE TRATAR DEPUTADO ESTADUAL
SÚMULA Nº 721
A COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL DO TRIBUNAL DO JÚRI PREVALECE SOBRE O FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇAO ESTABELECIDO EXCLUSIVAMENTE PELA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL.
Poder-se-ia concluir que a súmula encerraria a discussão proposta no presente Conflito de Competência. No entanto, cabe alertar para o seguinte: a Constituição Federal reserva aos deputados estaduais as mesmas prerrogativas previstas aos deputados federais - art. 27, 1º:
Art. 27, 1º. Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais, aplicando- sê-lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas
Em outro dispositivo, o mesmo diploma legal prevê que os deputados federais gozam de foro por prerrogativa de função:
Art. 53, 1º. Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal.
Quando se tratar de crime doloso contra a vida o Deputado Estadual será julgado pelo Tribunal de Justiça do seu Estado e não pelo Tribunal do Júri, resguardado pelo princípio da simetria, assim como os demais crimes comuns. 
A Súmula 721 do STF, estabelece: ‘a competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição estadual”. 
Isso significa que a competência do Tribunal do Júripara o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, estabelecida na CF, prevalecerá sobre qualquer outra não prevista pela própria Constituição Federal.
Exemplo 1 – Secretário de Segurança Pública do Estado de Goiás, quando praticar um crime comum, será julgado pelo Tribunal de Justiça do Estado, por previsão expressa somente na Constituição do Estado de Goiás. Portanto, caso a mesma autoridade pratique um crime doloso contra a vida, o mesmo deverá ser julgado perante o Tribunal do Júri, conforme a Súmula 721 do STF.
3.3 – COMPETÊNCIA RATIONE LOCI
 Verificada a competência ratione materiae e personae, cabe, agora, fixar a competência em razão do lugar, porque é necessário saber qual o juízo eleitoral, militar, federal ou estadual dotado de competência em razão do território.
 A competência de foro é estabelecida de modo geral, ratione loci, em atenção ao lugar onde ocorreu o delito: “A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração (TEORIA DO RESULTADO), ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução” (CPP, art.70). 
 Essa competência é firmada subsidiariamente pelo domicílio ou residência do réu, quando desconhecido o lugar da infração, (CPP, art. 72 caput). Nos casos de exclusiva ação penal privada, o querelante poderá preferir o foro de domicílio ou da residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração – (CPP, art.73).
 Estabelecida a competência de foro, pelo lugar da infração ou pelo domicílio do réu, é por distribuição entre os juízes da jurisdição que se fixa a competência concreta daquele perante o qual se movimentará a ação penal (CPP, art. 75).
 Se incerta a jurisdição em que o delito foi cometido, por ter ocorrido em limites divisionais, ou não houver segura fixação dos limites do território jurisdicional, e quando o crime, continuado ou permanente, houver sido praticado em mais de uma jurisdição, a competência será estabelecida pela prevenção, entre os juízes, normalmente competentes, das respectivas jurisdições (CPP, art. 83).
 Quando desconhecido o lugar onde ocorreu a infração, e o réu tiver mais de uma residência, a competência, entre os juízes das respectivas jurisdições, se estabelecerá por prevenção (CPP, art. 72 & 1.).
 No caso de, além de desconhecido o lugar da infração, não se conhecer a residência do réu, que não é encontrado, a competência se determinará pela prevenção de qualquer juiz, que seja o primeiro a tomar conhecimento do fato (CPP, art. 72, & 2.).
RESUMINDO:
O PRIMEIRO CRITÉRIO PARA DETERMINAR A COMPETÊNCIA NO C.P.P., É O LUGAR DA INFRAÇÃO, NÃO SENDO CONHECIDO O LUGAR DA INFRAÇÃO O PRÓXIMO CRITÉRIO SERÁ, SUBSIDIARIAMENTE, O DOMICÍLIO OU RESIDÊNCIA DO RÉU. NÃO CONHECIDOS, AMBOS, O CRITÉRIO SERÁ A PREVENÇÃO.
3.3.1 – TEORIAS A RESPEITO DO LUGAR DO CRIME:
A) –TEORIA RESULTADO (CPP, ART. 70, CAPUT). No caso da conduta e do resultado ocorrerem dentro do território nacional, mas em locais diferentes (delito plurilocal) aplica-se a teoria do resultado: “a competência será determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.
IMPORTANTE!!!
No crime de homicídio, quando a morte é produzida em local diverso daquele em que foi realizada a conduta, a jurisprudência entende que o foro competente é o da ação ou omissão, e não o do resultado (STJ).
EXEMPLO 1 : João esfaqueia Sebastião na cidade de Goiânia e o mesmo é levado para a cidade de São Paulo, onde se recupera. Neste caso, como houve tentativa de homicídio, a ação penal se desenvolverá na cidade de Goiânia onde ocorreram os últimos atos de execução (CPP, art. 70, caput);
EXEMPLO 2 : João esfaqueia Sebastião na cidade de Goiânia e o mesmo é levado para a cidade de São Paulo, onde VEM A FALECER. Neste caso, como houve homicídio consumado, a ação penal se desenvolveria, a princípio, na cidade de SÃO PAULO onde o crime se consumou (morte), (CPP, art. 70, primeira parte); Porém, pela jurisprudência do STJ, por exceção à teoria do resultado, o crime de homicídio será julgado onde ocorrem os eventos, os fatos (TEORIA DA ATIVIDADE – AÇÃO OU OMISSÃO – ART. 4. DO CPP), e não onde ocorreu o resultado morte.
B) – TEORIA DA UBIQUIDADE (CÓD. PENAL, ART. 6.) No caso de um crime praticado em território nacional e o resultado ser produzido no estrangeiro (crimes a distância ou de espaço máximo), aplica-se a teoria da ubiquidade, prevista no artigo 6., Código Penal; o foro competente será tanto o do lugar da ação ou omissão quanto o do local em produziu ou deveria produzir o resultado. Assim, o foro competente será o do lugar em que foi praticado o último ato de execução no Brasil (art. 70, & 1.), ou o local no estrangeiro onde se produziu o resultado.
4 – COMPETÊNCIA FUNCIONAL
 A competência funcional é ditada por outros três aspectos:
a) – fase do processo – pode haver um juiz do processo, juiz da execução, juiz do sumário de culpa do Júri etc.;
b) – Objeto do juízo – no Júri, ao juiz presidente incumbe resolver as questões de direito suscitadas no curso do julgamento (art. 497, X), proferindo sentença condenatória ou absolutória ( art. 492) e fixando a pena. Enquanto aos jurados compete responder aos quesitos que lhes são formulados (arts, 482 e 491 do CPP);
c) – grau de jurisdição (competência funcional vertical); a competência pode ser originária (como no foro por prerrogativa de função) ou em razão do recurso (princípio do duplo grau de jurisdição).
CONTINUAÇÃO ( JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA)
5 – COMPETÊNCIA ABSOLUTA E RELATIVA
 Nos casos de competência ratione materiae e personae e competência funcional, cumpre observar que é o interesse público que dita a distribuição de competência. A competência absoluta não pode ser derrogada nem modificada pelas partes, sob pena de implicar nulidade absoluta.
 No caso da competência territorial (ratione loci) a mesma é relativa e quando não alegada no momento oportuno, ocorre a preclusão. Por conseguinte, é prorrogável.
6 – COMPETÊNCIA POR CONEXÃO
 Conexão é o vínculo, o liame, o nexo que se estabelece entre dois ou mais fatos, que os torna entrelaçados por algum motivo, sugerindo a sua reunião no mesmo processo, a fim de que sejam julgados pelo mesmo juiz, diante do mesmo compêndio probatório e com isso se evitem decisões contraditórias. São efeitos da conexão: a reunião de ações penais em um mesmo processo e a prorrogação de competência.
6.1 – ESPÉCIES DE CONEXÃO – CPP, ART. 76, INCISOS I, II e III
A) – CONEXÃO INTERSUBJETIVA, que se divide em:
 A-1) - Conexão intersubjetiva por simultaneidade – ( CPP, art. 76, I, primeira parte): quando duas ou mais infrações são praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas...
OBS: Neste caso não existe liame subjetivo entre elas, ou seja, sem que estejam atuando em concurso de agentes.
Exemplo: várias pessoas cometendo saques a um supermercado.
 Neste caso, o ideal é que o mesmo juiz julgue todos os infratores.
A-2) – Conexão intersubjetiva concursa ou por concurso ou por concurso de agentes prolongado no tempo – (CPP, art. 76, I, segunda parte): quando duas ou mais infrações são praticadas por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar.
OBS: Nesse caso, os agentes estão unidos pela identidade de propósitos, resultando os crimes de um acerto de vontades visando ao mesmo fim. Ao contrário da primeira hipótese, não há reunião ocasional, mas um vínculo subjetivo unindo todos os agentes.
Exemplo: É o caso, por exemplo, das grandes quadrilhas de sequestradores, em que um executa o sequestro, outro vigia o local, um terceiro planeja a ação, outro negocia o resgate e assim por diante. Todos devem ser julgados pelo mesmo juiz.
OBS: Quando os crimes são praticados em tempo e lugar diferentes, haverá a faculdade de separar os processos conforme discorre o artigo 80 CPP.
A-3 – Conexão intersubjetiva por reciprocidade – (CPP, art. 76 , i, parte final): quandoduas ou mais infrações são praticadas por várias pessoas, umas contra as outras.
 Exemplo: É o caso das lesões corporais recíprocas, em que dois grupos rivais bem identificados se agridem. Os fatos são conexos e devem ser reunidos em um mesmo processo.
B) – CONEXÃO OBJETIVA, LÓGICA OU MATERIAL – (CPP, ART. 76, INCISO II): dividida da seguinte forma:
B-1) – Conexão objetiva teleológica: quando uma infração é praticada para facilitar a execução da outra.
Exemplo: O traficante que mata o policial para garantir a venda de entorpecentes a seus clientes.
B-2) – Conexão objetiva consequencial: quando uma infração é praticada para ocultar, garantir vantagem ou impunidade a outra.
Exemplo: O sujeito, após matar a esposa, incinera o cadáver, ocultando as cinzas, ou mata a empregada, testemunha ocular do homicídio (garantindo sua impunidade).
C) – CONEXÃO INTRUMENTAL OU PROBATÓRIA – (CPP, ART. 76, INCISO III): quando a prova de uma infração influir na outra. A questão, aqui, é de exclusiva conveniência da apuração da verdade real.
Exemplo: Polícia investiga um crime de roubo de veículo na cidade de Goiânia e descobre crime de receptação praticado na cidade de Anápolis. (Conexão probatória, a depender do caso fático).
7 – COMPETÊNCIA POR CONTINÊNCIA
Na continência não é possível a cisão em processos diferentes, porque uma causa está contida na outra.
HIPÓTESES DE CONTINÊNCIA:
7.1 – CONTINÊNCIA POR CUMULAÇÃO SUBJETIVA
a)- CPP, art.77,I - Quando duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração: nesse caso, existe um único crime (e não vários), cometido por dois ou mais agentes em concurso, isto é, em coautoria ou em participação, nos termos do art. 29, caput, do CP.
Aqui o vínculo se estabelece entre os agentes e não entre as infrações. É o caso da rixa (crime plurissubjetivo de condutas contrapostas), em que se torna conveniente o simultaneus processos entre todos os acusados. Há um só crime praticado, necessariamente, por três ou mais agentes em concurso ( UNIDADE DE CRIME E PLURALIDADE DE AGENTES).
7.2 - CONTINÊNCIA POR CUMULAÇÃO OBJETIVA
b)-CPP, art. 77,II - No caso de concurso formal (CP, art. 70), aberratio ictus (CP, art.73) e aberratio delicti (CP, art. 74):
-Aqui, existe pluralidade de infrações, mas unidade de conduta. No concurso formal, o sujeito pratica uma única conduta, dando causa a dois ou mais resultados.
Por exemplo: motorista imprudente, dirigindo perigosamente (única conduta), perde o controle e atropela nove pedestres, matando-os (nove homicídios culposos).
- Na aberratio ictus, o sujeito erra na execução e atinge pessoa diversa da pretendida ou, ainda, atinge quem pretendia e, além dele, terceiro inocente.
- Na aberratio delicti, o sujeito quer praticar um crime, mas, por erro na execução, realiza outro, ou, ainda, realiza o crime pretendido e o não querido.
Exemplo: irritado com o preço elevado de um terno, o sujeito joga uma pedra na vitrine, para produzir um dano na loja; quebra o vidro e, por erro, fere a vendedora (dano e lesão corporal culposa). Em todos esses casos, as causas são continentes e devem se julgadas pelo mesmo juiz.
8- FORO PREVALENTE
 Ocorrendo a reunião dos processos pela conexão ou continência, poderá haver prorrogação de competência em relação a um dos crimes, gerando a dúvida: qual o juízo que fará prevalecer a sua competência sobre a do outro?
O artigo 78 do CPP, dispõe a respeito.
Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as seguintes regras:
I – no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá a competência do júri;
Exemplo: Crime de homicídio e ocultação de cadáver.
II- no concurso de jurisdições da mesma categoria – (juízes igualmente competentes para julgar):
a)-preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave;
(Pena abstratamente prevista; pena de reclusão ou detenção)
Exemplo: Crime de sequestro realizado em Goiânia com Latrocínio na cidade de Rio Verde (crime mais grave na cidade de Rio Verde).
b)- prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior número de infrações, se as respectivas penas forem de igual gravidade;
Exemplo: Foram realizados dois crimes de furto na cidade de Goiânia e uma receptação na cidade de Luziânia.
(maior número de crimes, de penas proporcionais, foram realizados na cidade de Goiânia)
c)-firmar-se-á a competência pela prevenção, nos outros casos.
III – no concurso de jurisdições de diversas categorias, predominará a de maior graduação;
Exemplo: STF e STJ
IV- no concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá esta.
Exemplo: concurso entre a justiça federal (comum) e a justiça eleitora (especial)
Quando houver concurso entre a justiça federal e a justiça estadual, prevalecerá a justiça federal – SÚMULA 122 DO STJ.
09 – DA SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA DOS PROCESSOS - ART, 79 DO CPP.
A conexão e a continência importarão unidade de processos e julgamento, SALVO:
I – no concurso entre a jurisdição comum e militar;
II – no concurso entre a justiça comum e a do juízo de menores.
& 1., Cessará, em qualquer caso, a unidade do processo, se, em relação a algum corréu, sobrevier doença mental (CPP, art., 152).
10 – DA SEPARAÇÃO FACULTATIVA DOS PROCESSOS – ART., 80 CPP)
Será facultativa as separação dos processos:
a) –quando as infrações tiverem sido praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes (vide: art.76, inciso I, segunda parte, CPP – conexão intersubjetiva por concurso);
b)- quando pelo excesso número de acusados e para não lhes prolongar a prisão provisória:
c) – ou por outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente a separação.
11 – DA PERPETUATIO JURISDICTIONIS
Segundo dispõe o artigo 81 do CPP, “verificada a reunião dos processos por conexão ou continência, ainda que no processo da sua competência própria venha o juiz ou tribunal a proferir sentença absolutória ou que desclassifique a infração para outra que não se inclua na sua competência, continuará competente em relação aos demais processos”.
Se, não obstante a conexão ou continência, forem instaurados processos diferentes, a autoridade de jurisdição prevalente deverá avocar os processos que corram perante os outros juízes, salvo se já estiverem com sentença definitiva. Neste caso, a unidade dos processos só se dará, ulteriormente, para o efeito de soma ou de unificação das penas.
13– COMPETÊNCIA POR PREVENÇÃO:
Prevenção significa prevenir, antecipar. Verificar-se-á a competência por prevenção toda vez que houver dois ou mais juízes igualmente competentes, em todos os critérios, para o julgamento da causa. Nesse caso, a prevenção surge como uma solução para determinar qual o juízo competente. (exemplo: decretar a prisão preventiva, diligências de busca e apreensão).
CASO I – Um policial civil (estadual) e um policial militar (estadual), em atividade conjunta das duas polícias, cometeram o delito de lesões corporais dolosas e de abuso de autoridade na cidade de Goiânia. Supondo esteja presente uma das situações de conexão previstas no art., 78 do CPP, qual será a justiça e órgão competente para o julgamento dos réus?
CASO 2 – E se, hipoteticamente, além desses dois delitos (lesões corporais dolosas e abuso de autoridade), na mesma operação policial, esses mesmos agentes cometessem ainda um delito de homicídio doloso contra um civil, como ficaria a situação processual?
CASO 3 – Arnaldo, Sebastião e Alex, previamente ajustados, subtraem em Porto Alegre três veículos com os quais, na cidade gaúcha de Guaíba, cometem um roubo a banco, atingindo na fuga um policial militar que reagiu, causando-lhe a morte. No outro dia, na cidade de São Lourenço, abordam um rapaz e, para subtrair o veículo que ele conduzia, matam-no. Finalmente, semana após, em Camaquã, são presos em cumprimento de mandado de prisão preventiva decretada pelo juiz estadual de São Lourenço (todas as cidades estão no mesmo estado). No momento da prisão, também é lavrado o flagrante pelo porte de 800 g de maconha, comprada com o dinheirodo roubo e destinada a venda. O flagrante é homologado e, dez dias depois, o juiz de direito da comarca de Camaquã recebe a denúncia por tráfico de substância entorpecente,
a) – Explique se existe e qual a modalidade de conexão ou continência.
b)- Qual a justiça será competente para julgá-lo?
c) – Qual será o órgão?
d) – Onde (foro) serão julgados?
e) – O que deverá fazer o juiz com competência prevalente quando receber a denúncia e verificar a instauração de processo-crime na cidade de Camaquã?

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