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Prezado aluno Este texto foi produzido para apresentar os principais conceitos da Pesquisa Operacional (PO), campo do conhecimento destinado a solucionar problemas com a utilização de modelos matemáticos. Profissionalmente ou mesmo pessoalmente estamos sempre tomando decisões, ou seja, optando entre diversas opções qual é a mais adequada. Na maioria das vezes essas decisões são tomadas por meio de ações reflexas condicionadas ou simplesmente por hábito. É assim, por exemplo, que dirigimos nosso automóvel todos os dias. Não “pensamos” no que fazer antes de cada movimento que fazemos no transito. Este material e a Pesquisa Operacional (PO) não se preocupam, no entanto, com estas decisões reflexas e sim com as decisões conscientes, aquelas nas quais há um método racional de solução. José Celso Contador (1998) afirma que uma decisão consciente é formalizada em seis etapas: Formulação do problema e fixação do objetivo; Construção do modelo ou modelagem do problema; Validação do modelo; Obtenção da solução; Avaliação da solução e, Implantação, acompanhamento e manutenção da solução. Evidentemente que um processo tão formal como o mencionado acima é necessário quando trabalhamos com problemas complexos, mas de modo geral, ainda que de uma maneira mais intuitiva, menos formal, usamos essas etapas mesmo quando trabalhamos com problemas mais simples, seja no campo das decisões qualitativas seja no campo das decisões quantitativas. Decisões qualitativas envolvem fatos que não são quantificáveis, como por exemplo, a decisão de um gerente industrial de aumentar a produção porque supõe ou pressente que o mercado irá melhorar. Essas decisões não são objeto do nosso estudo nesta disciplina. Decisões quantitativas envolvem fatos quantificáveis, ou seja, situações que podem ser mensuradas e atribuídos valores numéricos a ela. Por exemplo, uma empresa que tem as fontes de matéria prima e os clientes dispersos geograficamente pode decidir através de um modelo matemático qual é a melhor localização para suas atividades industriais, que torne os custos logísticos os mínimos possíveis. O tratamento destes modelos matemáticos é o objetivo da PO. Os tradicionais textos sobre Pesquisa Operacional apresentam fundamentação matemática extremamente complexa. Não é esse o objetivo deste texto. Pretendemos apresentar o assunto de modo que apenas os conhecimentos elementares de matemática sejam requeridos. Desta forma, nenhuma demonstração matemática faz parte do escopo deste trabalho. Contador (1998) citando Churchman, Ackoff e Arnoff conceitua Pesquisa Operacional como “a aplicação de instrumentos, técnicas e métodos científicos a problemas relativos ao funcionamento de um sistema, permitindo a obtenção de soluções ótimas para esses problemas”, e ressalta que ela é caracterizada pela utilização de modelos matemáticos para orientar s executivos na tomada de decisões a respeito de operações sob seu controle, estando inserida na Teoria dos Sistemas. 2 Observe a ênfase na caracterização de sistemas e de aspectos matemáticos. Essa caracterização é importante porque cada sistema é parte de um sistema mais amplo e pode ser composto por sistemas menos amplos. Nem todos os sistemas são passiveis de serem tratados pela PO, sendo, portanto uma das mais importantes e a primeira das atribuições de que trabalha com pesquisa operacional a delimitação das fronteiras dos sistemas a serem estudados, assegurando a aplicabilidade da PO a ele. Ackoff e Sassieni, também citados por Contador consideram que a PO como a aplicação do método científico, por equipes interdisciplinares, a problemas relativos ao controle de sistemas organizacionais, com a finalidade de obter soluções que satisfaçam aos objetivos da organização como um todo. Esses autores, portanto evidenciam o caráter de conciliadora dos objetivos conflitantes das diversas funções dentro de uma organização. Em resumo, portanto, podemos dizer que a PO pesquisa a solução ótima que atenda aos objetivos conflitantes dos diversos setores de uma organização, tendo em mente o objetivo corporativo. É, portanto, a utilização de modelos matemáticos e simulações para a correta alocação de recursos, permitindo a condução e a coordenação das operações em uma organização. Assim sendo, esse texto pretende apresentar as principais técnicas e ferramentas estudadas em PO, capacitando o Administrador a tomar decisões de maneira mais racional e objetiva, através do uso de modelos previamente estudados. Esperamos que, com esse material, você tenha a oportunidade de aprender os conceitos básicos de Pesquisa Operacional e, apto para continuar os estudos nessa área quando necessário for. Introdução Grande parte da ciência da Administração está em aplicar corretamente os recursos disponíveis. Raramente, para não usarmos a palavra nunca, teremos a quantidade de recursos que sonhamos para um empreendimento qualquer. Eles serão sempre reduzidos e mais, só poderemos afirmar que somos ou seremos bem sucedidos nesta arte, se os recursos aplicados multiplicarem-se em ganhos de capital, que proporcionarão mais recursos para novas empresas. Numa organização qualquer frequentemente estarão à disposição várias oportunidades de aplicação desses recursos, algumas apresentando mais retorno outras menos retorno, algumas mais adequadas às nossas capacidades outras menos adequadas, algumas que implicam em mais riscos e outras em menos riscos. Qual das alternativas escolher pode ser um dilema difícil de ser resolvido. Você como administrador frequentemente será decidir entre essas várias opções. Como fazer? Muitas das vezes iremos decidir baseados na nossa intuição, experiência, como dizem os americanos em nosso “feeling”. Será que isso é suficiente? Possivelmente não! Mesmo nas vezes que formos bem sucedidos temos que levar em conta o risco que corremos com esse processo. Ferramentas objetivas, matemáticas, metodológicas não irão substituir a intuição, mas poderão ser importantes complementos a ela. A pesquisa operacional atua exatamente nesse campo. Ela criou e cria ferramentas, processos, modelos que permitirão tornar nossas decisões o mais lógicas e racionais possíveis. 3 Imagine que você tenha dois produtos diferentes para lançar no mercado. Cada um desses produtos tem um potencial de vendas, um custo de fabricação, uma margem de lucro, a necessidade de publicidade, competências produtivas. Você dispõe de certa quantia em dinheiro para fazer o negócio acontecer, digamos só para efeito de raciocínio, de R$10 milhões. Você aplicaria toda a quantia no produto A ou no Produto B? Parte no A e parte no B? Quanto no A e quanto no B? Perceba que essas perguntas só têm respostas dentro de um contexto real, no qual você poderia sua experiência e intuição. Mas mesmo nesse contexto perceba o risco que correrá seja qual for sua decisão. Não ficaria mais fácil para você se técnicas estudadas, testadas e aplicadas em outros casos dessem pelo menos uma indicação do melhor caminho a seguir? Nessa disciplina tentaremos aprender justamente algumas dessas ferramentas. Como elas foram desenvolvidas e como podem ser utilizadas. Veremos como elas servem para tomar decisões, para mediar conflitos entre os objetivos particulares de cada função da empresa com os objetivos corporativos e como aplicar melhor todos os nossos recurso, não só capital, mas recursos humanos, tecnológicos, materiais ou científicos. Evidentemente esse material tem como ambição abrir uma porta à sua curiosidade, não explorar totalmente as instalações. Não temos tempo suficiente para isso. Mas uma introdução a esse tema pode atiçar sua curiosidade sobre uma área frequentemente relegada a segundo plano pelos administradores, transformando-se numa oportunidade profissional para você. Introdução à Pesquisa Operacional A Pesquisa Operacional é uma ciência aplicada voltada para a resolução de problemas reais.Tem como foco a tomada de decisões, aplicando conceitos e métodos de várias áreas científicas na concepção, planejamento ou operação de sistemas. A Pesquisa Operacional é usada para avaliar linhas de ação alternativas e encontrar as soluções que melhor servem aos objetivos dos indivíduos ou organizações (SOBRAPO – Sociedade Brasileira de Pesquisa Operacional). O objetivo deste primeiro módulo é mostrar a gênese e evolução da Pesquisa Operacional na Segunda Guerra Mundial até os dias de hoje mostrando como essa ciência objetiva introduzir elementos de objetividade e racionalidade nos processos de tomada de decisão, sem descuidar, no entanto, dos elementos subjetivos e de enquadramento organizacional que caracterizam os problemas. Tenta mostrar também como os grandes desenvolvimentos técnicos e metodológicos a partir da segunda metade do século XX, com o apoio de meios computacionais de crescente capacidade e disseminação, nos permitem trabalhar enormes volumes de dados sobre as atividades, não apenas das empresas, mas, também de instituições do setor público dentro e fora da área econômica. Face ao seu caráter multidisciplinar, a Pesquisa Operacional é uma disciplina científica de características horizontais com suas contribuições estendendo-se por praticamente todos os domínios da atividade humana, da Engenharia à Medicina, passando pela Economia e a Gestão Empresarial, sendo especialmente importante na Administração, como ferramenta objetiva de decisões. 4 1.1 – Histórico da Pesquisa Operacional O termo Pesquisa Operacional parece ter surgido no início da década de 1940, coincidindo com a Segunda Guerra Mundial que geralmente é citada como a responsável pelo surgimento da PO. Alguns autores, como Sobral e Peci consideram a PO como sinônimo da Abordagem Quantitativa, umas das abordagens estudadas nas Teorias da Administração. Outros autores, mesmo reconhecendo que a utilização do termo PO é relativamente recente chegam a colocar o uso de técnicas de pesquisa operacional em tempos muito mais remotos. Parece ser bem documentado o uso destas técnicas já no século 16 e alguns autores chegam a citar o famoso incêndio da frota romana em Siracusa, provocada por espelhos solares ajustados por Arquimedes, como um exemplo do uso de pesquisa operacional, mesmo que sem esse nome. O certo é que a gênese e o desenvolvimento inicial da PO estão fortemente ligados aos esforços aliados na Segunda Grande Guerra. A necessidade de alocar de forma eficiente os parcos recursos disponíveis fez com que os exércitos americano e britânico convocassem elevado número de cientistas para lidar com as complexidades dos problemas táticos e estratégicos envolvidos. Na prática, como afirmam Hillier e Lieberman, lhes foi solicitada a realização de pesquisas sobre operações (militares). Ellenrieder, citado por Contador, comenta este momento da seguinte forma: “Sob o ponto de vista histórico, o nome PO é relativamente novo, de origem militar, sendo usado pela primeira vez na Grã Bretanha, durante a Segunda Guerra Mundial. No começo desse conflito, os organismos responsáveis pela defesa daquele pais utilizaram o concurso de especialistas tais como físicos, biólogos, matemáticos para assessorar e contribuir no estudo e solução de certos problemas que, geralmente, se consideravam de atribuição estritamente militar. Basicamente, as razões disto eram fundadas no fato da existência de armamentos relativamente novos mas sem o suficiente uso que permitisse medir sua eficiência máxima. Em agosto de 1940, o Chefe do comando Antiaéreo daquele país solicitou a colaboração do professor P.M.S. Blackett da Universidade de Manchester, prêmio Nobel de Física, para estudar a coordenação dos equipamentos de radar com um novo aparelho que indicava a elevação e rumo dos canhões tendo por objetivo abater aviões nazistas que bombardeavam Londres. Para realizar seu trabalho, Blackett reuniu uma equipe com treino científico, mas não necessariamente especialista em eletrônica. Seu grupo incluía três fisiólogos, dois físico- matemáticos, um astrofísico, um oficial militar, um topógrafo, um físico geral e dois matemáticos. Essa equipe foi batizada pelos contemporâneos como “o Circo de Blackett”, que, apesar do nome depreciativo, demonstrou ser altamente eficiente na tarefa para a qual foi criada. O sucesso de Blackett e de seu “circo” estimulou a formação de equipes mistas de especialistas nos diversos campos do conhecimento vinculados aos problemas relativos às operações militares, táticas ou estratégicas. Assim foram resolvidos, com sucesso, problemas referentes à detecção de navios e submarinos inimigos através do uso de radar em aeroplanos, e á determinação da melhor profundidade para explodir as bombas lançadas dos aviões contra os submarinos, entre outros. As equipes de “analistas operacionais”, como eles foram chamados naquela época, começaram a se expandir na Grã-Bretanha e logo, no Canadá, na Austrália e nos Estados Unidos.” Terminada a guerra o sucesso da PO nos aspectos bélico motivou interesse no mundo dos negócios que passava a apresentar crescente complexidade e especialização. A explosão 5 econômica a partir da reconstrução mundial contribui de maneira particularmente importante na crescente convicção de muitos executivos que as técnicas de PO aplicavam-se não só aos aspectos bélicos como as ao contexto organizacional. Dois fatores em especial foram responsáveis pelo rápido crescimento da PO. Em primeiro lugar o desenvolvimento rápido das técnicas gestadas durante a guerra. O método Simplex, por exemplo, já havia sido desenvolvido por Dantzig em 1947. No final da década de 1950 já estavam bem desenvolvidas as ferramentas padrão da PO, como programação linear, teoria das filas e teoria do inventário. O segundo fator importante para a generalização da PO é a extraordinária explosão tecnologia no terreno das telecomunicações e da cibernética ocorridas a partir desta época, mas em especial a partir da década de 1980. Atualmente milhões de pessoas ao redor do mundo dispõe de computadores pessoais do mais diversos tipos (desde desktops até tablets), capazes de realizar milhões de operações matemáticas em segundos, conectadas permanentemente aos seus pares pela internet. O desenvolvimento e o uso da PO provocou um impressionante aumento na eficiência das organizações resultando em contribuição notável para o aumento da produtividade da economia de diversos países. A tabela 1.1 foi retirada da obra Introdução à Pesquisa Operacional dos renomados estudiosos Frederick Hillier e Gerald Lieberman, editada continuamente nos últimos 40 anos e mostra o impacto financeiro (economia anual) do uso de técnicas da PO em diversas organizações. A essas economias de muitos milhões de dólares adicionam-se benefícios adicionais, não mensuráveis, tão ou mais significativos, tais como melhoria no atendimento aos clientes, maior controle gerencial e outros benefícios intangíveis. 6 Organização Natureza da aplicação Economia anual (US$) Federal Expres Planejamento logístico de despachos Não estimada Continental Airlines Otimizar a realocação de tripulações quando ocorrem desajustes nos horários de voo. 40 milhões Sw ift & Company Aumentar as vendas e melhorar o desempenho na fabricação 12 milhões Memorial Sloan-Kettering Cancer Center Procedimentos de tratamentos radioterápicos 459 milhões United Airlines, Programar turnos de trabalho nas centrais de reserva e nos balcões em aeroporto 6 milhões Welch´s Otimizar o uso e a movimentação de matéria prima 150 mil Sansung Eletronics Desenvolver métodos de redução de tempo de fabricação e níveis de estoque 200 milhões mais receitas Pacif ic Lumber Company Gestão de ecossistemas florestais a longo prazo 398 milhões VPL* Procter & Gamble Redesenho do sistema de produção e distribuição 200 milhões Canadian Pacif ic Reilw ay Planejamento de rotas para frete rodoviário 100milhões United Airlines, Realocação de aeronaves quando ocorrem problemas Não estimada U.S. Military Planejamento log´sitico da operação Tempestade no Deserto Não estimada Air New Zealand Alocação da tripulação de voo 6,7 milhões Taco Bell Programar a escala de funcionários nas lojas da rede 13 milhões Waste Management Desenvolvimento de um sistema de gerenciamento de rotas para coleta e eliminação de lixo 100 milhões Bank Hapoalim Group Desenvolvimento de um sistema de apoio à tomada de decisões para analistas de investimentos 31 milhões mais receitas Sears Programação e rotas de veículos para as frotas de entrega e atendimento domiciliar 42 milhões Conoco-Phillips Avaliação de projetos de exploração petrolífera Não estimada Workers Compensation Gestão de pedidos de benefícios por invalidez e reabilitação de alto risco 4 milhões Westinghouse Avaliar projetos de pesquisa e desenvolvimento Não estimada Merrill Lynch Gestão de riscos de liquidez parra as linhas de crédito rotativo 4 bilhões mais liquidez PSA Peugeot Citroen Orientar o processo de projeto para plantas de montagem de veículos ef icientes 130 milhões mais lucros KeyCorp Aumentar a ef iciência do serviço dos caixas de banco 20 milhões General Motors Aumentar a ef iciência das linhas de produção 90 milhões Deere & Company Controle de estoque por meio das cadeias de suprimentos 1 bilhão menos estoques Time Inc. Gerenciamento dos canais de distrivbuição para revistas 3,5 milhões mais lucros Bank One corporetion Gestão de linhas de crédito e taxas de juros para cartões de crédito 75 milhões mais lucros Merrill Lynch Análise para estabelecimentos de preços para o fornecimento de serviços f inanceiros 50 milhões mais receitas AT&T Projeto e operação de call centes 750 milhões mais lucros *VPL: Valor presente líquido Fonte:Hillier e Lieberman-Introdução à Pesquisa Operacional Tabela 1.1 - Aplicações da PO e resultados obtidos em Organizações. 1.2 – Objetivos e Metodologia da Pesquisa Operacional Como o próprio nome indica e como ficou claro na leitura do item anterior estamos tratando de uma pesquisa sobre operações, ou seja, a aplicação na resolução de problemas que envolvam o direcionamento e a coordenação de operações (atividades) nas organizações. A natureza dessas operações é muito diversa. Aplica-se PO numa gama extraordinariamente grande de áreas, tais como, manufaturas, armazenamento e transporte, planejamento financeiro e de crédito, assistência médica e hospitalar, serviços públicos e muitas outras. Observe também que o termo pesquisa sugere o uso do método cientifico na investigação dos problemas empresariais. Assim temos um processo que se inicia na observação e formulação do 7 problema, inclusive com a coleta de dados relevantes. A partir daí monta-se um modelo científico, tipicamente matemático, que explique e equacione a “alma” do problema. Hipoteticamente esse modelo construído é uma representação fiel e viável do problema estudado representando suas características fundamentais e apresentando conclusões (as soluções do modelo matemático) válidas para a situação real. Essa hipótese deve ser validada. Essa validação é feita através da experimentação prática do modelo verificando-se sua adequação e, eventualmente, introduzindo-se modificações que o tornem mais próximo da realidade e da eficiência desejada. Como a pesquisa operacional trata da gestão prática das organizações é necessário também que ela forneça conclusões positivas e inteligíveis para o tomador de decisão. Hillier e Lieberman observam que uma característica importante da PO é seu ponto de vista abrangente. “... a PO adota um ponto de vista organizacional. Assim, tenta solucionar os conflitos de interesse entre as unidades de modo que seja (encontrada) a melhor solução para a organização como um todo. Isso não implica que o estudo de cada problema deva considerar explicitamente todos os aspectos da organização: ao contrário, os objetivos devem ser consistentes com aqueles de toda a organização.” Ackoff e Sasieni também procuram ressaltar que a PO tem por finalidade conciliar os objetivos conflitantes das diversas funções da organização e para tanto, segundo Contador, usam as atitudes dos departamentos de produção, de vendas, de finanças e de pessoal nas fases de planejamento da linha de produtos e de programação para ilustrar esses conflitos. O departamento de produção quer produzir a maior quantidade possível de bens a um custo menor possível. Isso será facilitado se produzir continuamente um mesmo produto. No caso de mais um produto o departamento defenderá a produção do volume total em um único momento, com o maior lote possível economizando nos tempos de preparação e treinamento, alcançando alta eficiência, mas aumentando os estoques. Assim o departamento de produção prefere uma política de estoques elevados e uma linha de produtos limitada. O departamento de vendas também deseja estoques elevados, para que tenha condições de entregar tudo o que o cliente venha a desejar no momento em que desejar, mas também deseja vender o máximo possível para cada cliente e assim, deseja uma linha de produtos extensa, com grande variedade de mix. Perceba que os departamentos de vendas e produção entram em conflito no que se refere à extensão do mix de produtos. O primeiro defendendo uma grande variedade e o departamento de produção insistindo na redução da variedade. O departamento financeiro deseja, continuamente, minimizar o capital necessário para as operações da empresa, e uma das maneiras mais fáceis é reduzir estoques e consequentemente o dinheiro empatado. A visão financeira julga também que os estoques devem oscilar proporcionalmente com o volume de vendas. Mas se o nível de vendas baixa o departamento de pessoal e também o de produção não desejam reduzir a produção e demitir colaboradores, pois ações deste tipo desperdiçam o capital que foi utilizado no recrutamento, seleção e treinamento, acarreta despesas com indenizações, prejudica o moral da organização e em eventual aumento de vendas obrigam a necessidade de seleção de novos funcionários. O departamento de pessoal deseja, portanto manter o nível de produção constante, o que no momento em que as vendas caem, gera estoques. Os departamentos de finanças e pessoal discordam fortemente em relação à política de estocagem. 8 Portanto, como observa Contador, “é responsabilidade do dirigente estabelecer a política de estoques que, segundo algum critério válido, melhor satisfaça aos interesses da empresa como um todo e não aos interesses de qualquer dos departamentos que lhe estejam subordinados, A tarefa de integração exige que todo o sistema seja considerado; isto é a essência do trabalho do dirigente. No que, em muitos casos, pode ser auxiliado pela PO”. Perceba, portanto que essa solução de conflitos conduz a outra característica da PO, a tentativa de se encontrar uma melhor solução, chamada como solução ótima para o modelo que representa o problema considerado. Hillier e Lieberman afirmam que “Dissemos uma melhor solução e não a melhor solução, pois pode haver várias soluções, cada uma delas sendo considerada a melhor”. Essas características mencionadas levam naturalmente a outra. A PO não é tarefa para um único indivíduo, que nunca teria todas as habilidades necessárias. A Pesquisa Operacional exige equipes multifuncionais compostas por indivíduos treinados em estatística, administração, matemática, teorias comportamentais entre outras especialidades.