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Diabetes Mellitus Gestacional – DMG DEFINIÇÃO − Diabetes Mellitus (DM) é um conjunto de alterações metabólicas que acarretam em hiperglicemia decorrente de uma deficiência insulínica, a qual pode ser fruto de: redução na produção pancreática, inadequada liberação e/ou resistência periférica à insulina − temos diversas classificações etiológicas que configuram diversas apresentações do DM, dentre elas está o DM tipo 1, DM tipo 2 e DM Gestacional (DMG). − algumas mulheres já serão previamente diagnosticadas com alguns dos tipos etiológicos de DM, outras que possivelmente já tinham DM no entanto só chegam a receber tal diagnóstico durante a gestação, enquanto outras terão esta apresentação exclusivamente no ciclo gravídico-puerperal o qual chamamos DMG RELAÇÃO DA GESTAÇÃO COM HIPERGLICEMIA − O organismo materno passa a ser responsável pelo crescimento e desenvolvimento do feto e, para isto, é desencadeado um estado de hipoglicemia de jejum, um catabolismo exagerado de lipídeos e progressiva resistência à insulina. − A partir do 2º trimestre da gestação desenvolve-se uma resistência à insulina comandada pelos hormônios contrainsulínicos (lactogênio placentário, estrogênio, cortisol, progesterona, prolactina) que reduzem a atuação da insulina em seus respectivos receptores como forma de direcionar os produtos do metabolismo da glicose para o feto, deixando a gestante com os produtos do metabolismo dos lipídeos. Cerca de 80% do gasto energético fetal é realizado pelo metabolismo da glicose. − Com isso, há um aumento da produção de insulina nas gestantes saudáveis, pois aquelas que já estavam com sua produção de insulina “no limite”, não conseguem elevar sua produção de insulina, o que leva ao estado hiperglicêmico, podendo desenvolver diabetes durante a gestação. − Aquela resistência à insulina que se inicia no 2º trimestre progride por toda a gestação, elevando as necessidades de insulina no organismo materno até próximo ao termo. Já no puerpério, por não haver mais atuação de hormônios contrainsulínicos há uma queda brusca da necessidade de insulina. COMPLICAÇÕES TRAZIDAS PELO DIABETES NA GESTAÇÃO GESTANTE − As gestantes costumam apresentar algumas alterações decorrentes da alteração no metabolismo da glicose, sendo alguns sinais bem marcantes naquelas que apresentam uma DMG: • Glicosúria: mesmo nas que não tem DM, devido ao aumento da taxa de filtração glomerular • Maior predisposição à infecção urinária, candidíase vaginal • Progressão de lesões vasculares: retinopatia diabética principalmente, sobretudo, nas que possuem DM prévio • Associação com pré-eclâmpsia (importância das profilaxias) • A hipertensão arterial sistêmica é complicação frequente em pacientes diabéticas FETO − A hiperinsulinemia traz ainda a aceleração do crescimento fetal levando à macrossomia • A hiperglicemia nas primeiras 6 a 8 semanas de gestação aumenta o risco de malformações fetais • A macrossomia é definida por recém-nascidos com peso superior a 4.000 g • O feto começa a crescer precocemente em 20-28 semanas e esse crescimento é acelerado • Fetos macrossômicos apresentam aumento das necessidades de oxigênio, hipoxemia crônica e, decorrente dela, aumento do número de hemácias (Policitemia neonatal) decorrente de hiperglicemia e hiperinsulinemia, que levam a diminuição do conteúdo de oxigênio livre arterial e estímulo da eritropoese para compensação do transporte de oxigênio. ✓ A policitemia neonatal é complicação comum do diabetes • Fetos macrossômicos tem maiores riscos para desenvolver síndrome de angústia respiratória, cardiomiopatia, icterícia, hipoglicemia, hipocalemia, hipomagnesemia, policitemia com hiperviscosidade sanguínea. pode ter óbito fetal e má formação ✓ São mais comumente afetados o aparelho cardiovascular (principal), o sistema nervoso central (SNC), o sistema digestório, o aparelho genitourinário e o aparelho musculoesquelético. ✓ O aumento das taxas de hemoglobina glicada fetal, ávida por oxigênio, favorece a diminuição do oxigênio sanguíneo livre e a hipóxia tecidual. Esses fatores podem acarretar óbito fetal, o que pode explicar o sofrimento do feto. Por outro lado, a inibição dos mecanismos de maturação pulmonar leva a maiores taxas de síndrome do desconforto respiratório ✓ A hiperglicemia é também responsável pela ocorrência de diurese osmótica fetal e que leva ao aumento do volume de líquido amniótico e, consequentemente, a polidrâmnio. • A DMG não tratada pode levar à: rotura prematura de membranas, parto pré-termo, feto com apresentação pélvica, feto macrossômico, pré-eclâmpsia • No diabetes, é possível deparar-se com prematuridade espontânea ligada ao mau controle metabólico e a maiores incidências de polidrâmnio, macrossomia e infecções, sobretudo do sistema urinário • Também se descreve maior frequência de hiperbilirrubinemia neonatal em filhos de mãe diabética, além de maior frequência de hipocalcemia e hipomagnesemia nos primeiros dias de vida − Segundo a hipótese de Pedersen, a hiperglicemia materna acarretaria hiperglicemia fetal, estimulando o pâncreas fetal e resultando em hipertrofia e hiperplasia das células-beta, com aumento dos níveis de insulina fetal. Com a separação do binômio materno-fetal no nascimento, a transferência de aporte glicêmico é interrompida, levando à hipoglicemia neonatal. • A hipoglicemia neonatal é definida como valores de glicemia sérica inferiores a 40 mg/dL no recém- nascido de termo durante as primeiras 12 horas de vida. − Riscos a longo prazo • Aumenta-se o risco de desenvolvimento de DM2 na gestante • Aumenta-se o risco de a criança desenvolver obesidade e síndromes metabólicas de forma precoce DIAGNÓSTICO CLASSIFICAÇÃO − É importante reconhecer o momento de manifestação no diabetes. Uma mulher que foi diagnosticada com DM 2 no primeiro trimestre de gestação pode: • Ou ter desenvolvido diabetes devido à gestação o Glicemia em jejum na primeira consulta: entre 92 e 125mg/dL • Ou pode ser um caso de DM 2 pregresso não diagnosticado previamente o Nesse caso, os critérios diagnósticos de DM2 pregresso na gestação são: ✓ Glicemia em jejum 126 mg/dL ✓ Hemoglobina glicada 6,5% ✓ Glicemia ocasional 200mg/dL − O diagnóstico envolve duas fases distintas (Sociedade Bras. Diabetes) – rastreamento e confirmação diagnóstica: − Metas de controle do diabetes a serem atingidas pela gestante com diabetes: • FEBRASGO ✓ Glicemia de jejum ≤ 90mg/dl ✓ Pós-prandial ≤ 130mg/dl • OPAS ✓ (Tabela do Zugaib) Tabelas do Zugaib TRATAMENTO − O tratamento visa garantir a normoglicemia e diminuir as complicações maternofetais − O controle do diabetes gestacional é feito na maioria das vezes através de uma orientação nutricional adequada DIETA − A direta é constituída de aproximadamente: • 40-50% carboidratos • 30-35% lipídios • 15-20% proteínas • Fracionados em seis refeições durante o dia EXERCÍCIOS FÍSICOS − Atividade física leve a moderada, em pacientes sem contra-indicações clínicas ou obstétricas, contribuem para a redução e o controle da glicemia − Ao fazer exercícios físicos, tomar cuidados com picos de hipoglicemia INSULINOTERAPIA − Aquelas gestantes que não chegam a um controle adequado com dieta e atividade física tem indicação de associar uso de insulinoterapia. O uso da insulina é seguro durante a gestação − É a 1ª escolha no tratamento medicamentoso da DMG − As insulinas mais utilizadas e disponíveis são: • NPH, de ação intermediária, utilizada para o controle da glicemia de jejum e pré-prandiais • Regular, de ação rápida, indicada para o controle das glicemias pós-prandiais − A Sociedade Brasileira de Diabetes recomenda a dose inicial entre 0,3 e 0,5 UI/kg/dia via subcutânea, devendo ser realizados ajustes a cada 15 dias até a 30ª semana e semanalmente após a 30ª semana baseado nos resultados da monitorizaçãoglicêmica. − A dose diária pode ser dividida em múltiplas aplicações diárias − Para as gestantes que usam insulina a noite, reforçar a realização de uma ceia para evitar hipoglicemia na madrugada − − Deve-se dar preferência à insulina humana em detrimento do animal, pelo fato da primeira ser menos imunogênica, prevenindo a formação de anticorpos, que ultrapassam a barreira placentária − Deve-se fazer a medição de glicemia capilar: • 6 vezes ao dia quando em uso de insulina – (jejum, pós-café, antes do almoço, pós-almoço, antes do jantar, pós-jantar) • 4 vezes ao dia quando não usa medicação - (jejum, pós- -café, pós-almoço, pós-jantar) − OBS: É importante destacar que a maioria das gestações complicadas pelo diabetes, quando tratada de maneira adequada, irá ter um excelente desfecho e os bebês nascerão saudáveis − Mulheres com DM prévio a gestação que estavam em uso de antidiabéticos orais devem ter os mesmos substituídos pela insulina durante a gestação, retornando com os respectivos antidiabéticos orais e suas doses logo após o parto − Não existem, até o momento, estudos controlados que comprovem se é seguro o uso de antidiabéticos orais na gestação. A glibenclamida atravessa minimamente a placenta, mas a metformina o faz em quantidades significativas. Embora até o momento não existam relatos de efeitos adversos, é necessário cautela na indicação rotineira destas medicações a mulheres com diabetes pré-gestacional − Em mulheres que usavam insulina antes da gravidez, geralmente é necessário reduzir a sua dose em 10% a 20%, durante o primeiro trimestre. Entre 18 e 24 semanas de gestação, em média, essa dose pode ser aumentada. No 3° trimestre, o aumento da produção de hormônios placentários com ação antagônica à da insulina resulta em uma necessidade ainda maior de elevação da dose de insulina, chegando a atingir o dobro ou triplo da dose usada pré-gravidez. Pacientes com DM2 geralmente necessitam de uma dose inicial diária de 0,7 a 1 unidade/kg de peso. As doses devem ser frequentemente ajustadas conforme os resultados do automonitoramento da glicemia capilar ANTIBIABÉTICOS ORAIS − A metformina deve ser considerada apenas na: • Não acessibilidade à insulina • Dificuldade na administração da insulina • Estresse exacerbado decorrente do uso da insulina seguido de restrição alimentar, mesmo após orientação adequada • Necessidade de altas doses de insulina (> 100UI) sem resposta adequada no controle glicêmico e ganho de peso excessivo em uso de insulina. ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL NO DM GESTACIONAL − Quando a mulher diabética manifesta o desejo de engravidar, deve proceder à avaliação pré-concepcional. O objetivo da avaliação pré-concepção é determinar e informar a mulher sobre os riscos relacionados à evolução do diabetes e dos possíveis efeitos de sua doença na gestação − Além disso, nesse momento, devem-se instituir medidas que possam melhorar o prognóstico materno e fetal − Na primeira consulta de pré-natal, gestantes com diabetes tipo 1 ou 2 necessitam de avaliação clínica e laboratorial detalhada. Deve-se mapear os maiores riscos de complicações para esta gestação, avaliar a retina com exame de fundo de olho, pressão arterial, função renal e os demais sistemas que possam ser afetados pela diabetes − No seguimento das gestantes com diabetes tipo 1 ou 2, os seguintes exames laboratoriais deverão ser repetidos com 20, 28 e 34 semanas de idade gestacional: • Micoralbuminúria e/ou proteinúria de 24 horas, creatinina sérica e urocultura. − As consultas de pré-natal devem ser quinzenais, do diagnóstico de DMG até a 32ª semana e, daí em diante, semanais até o parto − É realizado pelo Perfil Glicêmico (PG) de 24 horas, nas gestantes usuárias de insulina e de 12 horas, nas controladas com dieta e exercício físico − Deve ser realizado um ultrassom no primeiro trimestre para datar a idade gestacional, um segundo entre a 24ª/25ª semanas para avaliação da morfometria fetal e, a partir da 30a semana, deve ser mensal para avaliação da biometria-desenvolvimento fetal, índice de líquido amniótico (ILA) e grau placentário, com Doppler das artérias umbilical e cerebral média, de preferência, a cada quinze dias; − Cardiotocografia anteparto – a partir da 28ª/30ª semana de gestação, semanal, nas gestantes seguidas em ambulatório e diária, nas gestantes durante as internações − Aproximadamente 6 semanas após o parto a mulher que teve diabetes gestacional deve realizar um novo teste oral de tolerância a glicose, sem estar em uso de medicamentos antidiabéticos. O histórico de diabetes gestacional é um importante fator de risco para desenvolvimento de diabetes tipo 2 ao longo da vida adulta e na senilidade. O aleitamento materno pode reduzir o risco de desenvolvimento de diabetes permanente após o parto. PUERPÉRIO E PÓS-PARTO − Não existem recomendações específicas para via de parto, sendo está determinada pelas condições obstétricas específicas da paciente − No período pré-parto, a meta do controle glicêmico deve estar entre 80 e 120 mg/dl − Gestantes que não usaram insulina durante a gestação, geralmente, não necessitam de cuidados especiais durante o parto − No momento do parto: • A partir do início do jejum, deve- se iniciar infusão venosa de solução glicosada a 5% a 100 ml/h. A medida da glicemia capilar deve ser realizada a cada hora para monitorização adequada. Bolus de insulina regular podem ser usados caso ocorram elevações glicêmicas significativas − − As pacientes com diabetes tipo 1 retornam aos esquemas de insulinoterapia pré-gravídicos ou têm redução em metade da dose do final da gestação • São frequentes os episódios de hipoglicemia durante ou imediatamente após as mamadas. A dose de insulina deve ser ajustada em virtude da diminuição dos hormônios hiperglicemiantes, do melhor aproveitamento periférico da insulina e também do gasto energético com a amamentação − Pacientes com diabetes mellitus tipo 2 poderão utilizar metade da dose de insulina prescrita no final da gestação ou hipoglicemiantes orais para controle glicêmico no período pós-parto AVALIAÇÃO DA GESTANTE DIABÉTICA REFERÊNCIAS − Livro: Obstetrícia – Zugaib – 2°ed − Artigo Diabetes Gestacional – Lenita Zajdenverg – Sociedade Brasileira de Diabetes (https://www.diabetes.org.br/publico/diabetes-gestacional) − Diretriz: Diabetes Mellitus Gestacional – Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – 2006 - http://www.fo.usp.br/wp-content/uploads/Diabetes-gestacional.pdf Diretrizes da sociedade brasileira de diabetes – 2014-2015: https://www.diabetes.org.br/profissionais/images/pdf/diabetes-gestacional/002-Diretrizes-SBD-Diabetes- Gestacao-pg323.pdf https://www.diabetes.org.br/publico/diabetes-gestacional http://www.fo.usp.br/wp-content/uploads/Diabetes-gestacional.pdf https://www.diabetes.org.br/profissionais/images/pdf/diabetes-gestacional/002-Diretrizes-SBD-Diabetes-Gestacao-pg323.pdf https://www.diabetes.org.br/profissionais/images/pdf/diabetes-gestacional/002-Diretrizes-SBD-Diabetes-Gestacao-pg323.pdf
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