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Lara Santos – Medicina FTC Síndrome metabólica ➢ Etiologia: • A Síndrome Metabólica (SM) é um transtorno complexo representado por um conjunto de fatores de risco cardiovascular, usualmente relacionados à deposição central de gordura e à resistência à insulina, que é um processo que acontece devido ao ganho de peso, mas também pode começar com o diabetes tipo 2. • A causa mais comum é o ganho de peso, que levo ao aumento da pressão arterial, ao desenvolvimento do diabetes tipo 2 e às alterações de triglicérides e colesterol. • Por reunir diversos fatores de risco cardiovascular no mesmo paciente, esta síndrome aumenta sobremaneira o risco de eventos e o aumento em 2,5 vezes da mortalidade cardiovascular. A síndrome metabólica também está associada à liberação de fatores pró-agregantes plaquetários, pró-coagulantes, pró-inflamatórios e antifibrinolíticos, favorecendo a disfunção endotelial, o estresse oxidativo e, portanto, os eventos cardiovasculares. • O endotélio disfuncional predispõe os fenômenos aterotrombóticos e diminui sua resposta vasodilatadora, facilitando o aparecimento de hipertensão, diabete melito e, consequentemente, da síndrome metabólica. ➢ Fatores de risco: • A síndrome metabólica (SM) é um transtorno complexo que está intimamente relacionado ao estilo de vida: alimentação, sedentarismo e o estresse. Esses fatores, juntamente com predisposição genética e avanço da idade, são essenciais para o desenvolvimento de obesidade, resistência insulínica, hipertensão e dislipidemia, compondo o quadro da SM. • Os fatores genéticos associados à síndrome podem ser vários, entre eles: deficiência de receptores de insulina e de colesterol, problemas nos genes responsáveis pela enzima conversora de angiotensina e doenças como a hipercolesterolemia familiar. • Em mulheres na pós-menopausa, também há uma preocupação com o desenvolvimento da SM, pois a redução dos níveis estrogênicos compromete também a vasodilatação. • Já as mulheres que sofrem de síndrome dos ovários policísticos, por apresentarem níveis de andrógeno e glicemia elevados, também são mais predispostas à síndrome metabólica. ➢ Quadro clínico: • Síndrome, por definição, é um conjunto de sinais e sintomas. Na Síndrome Metabólica, o quadro clínico está diretamente relacionado às patologias que a compõem, como Diabete Mellitus tipo II, obesidade central, Hipertensão Arterial Sistêmica e Dislipidemia. Entretanto, a sintomatologia nessas doenças pode ser leve ou ausente e evidenciar-se apenas na presença de complicações, o que dificulta o diagnóstico da síndrome e torna extremamente necessários o exame físico detalhado e os exames laboratoriais. Lara Santos – Medicina FTC • A resistência insulínica (Diabete Mellitus tipo II) e a obesidade central são os principais componentes da síndrome, levando a uma situação favorável para o surgimento dos outros componentes. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) a resistência insulínica é o fator primordial da Síndrome Metabólica, tendo que estar presente para o seu diagnóstico. Recentemente a I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica (I-DBSM) recomendou que para os componentes pressão arterial e triglicerídeos, o uso de medicação anti-hipertensiva ou de hipolipemiantes, assim como o diagnóstico prévio de Diabetes, preencham os critérios específicos. ➢ Síndromes de resistência à insulina: • A condição de resistência à insulina engloba um amplo espectro de distúrbios, com a hiperglicemia representando um dos aspectos mais prontamente diagnosticado. A síndrome metabólica, síndrome de resistência à insulina, ou síndrome X são termos usados para descrever uma quantidade de desarranjos metabólicos que inclui resistência à insulina, hipertensão, dislipidemias (HDL diminuído e triglicerídeos elevados), obesidade central ou visceral, diabetes tipo 2 ou TGD/GDA, e doença cardiovascular acelerada. • Várias formas relativamente raras de resistência acentuada à insulina incluem aspectos do DM tipo 2 ou TGD (transtorno global do desenvolvimento). As mutações no receptor de insulina que interferem na ligação ou na transdução de sinais constituem uma causa rara de resistência à insulina. A acanthosis nigricans e sinais de hiperandrogenismo (hirsutismo, acne e oligomenorreia em mulheres) também são características físicas comuns que podem ajudar a identificar o desenvolvimento da resistência insulínica. • Duas síndromes distintas de resistência grave à insulina já foram descritas em adultos: (1) tipo A, que afeta mulheres jovens e se caracteriza por acentuada hiperinsulinemia, obesidade e características de hiperandrogenismo, e (2) tipo B, que afeta mulheres de meia-idade e se caracteriza por acentuada hiperinsulinemia, características de hiperandrogenismo, e distúrbios autoimunes. • Os indivíduos com síndrome de resistência de resistência à insulina tipo A têm um defeito ainda não definido na via sinalizadora de insulina. • Os indivíduos com síndrome de resistência à insulina tipo B têm autoanticorpos dirigidos ao receptor da insulina. Esses autoanticorpos receptores podem bloquear a ligação da insulina ou estimular o receptor da insulina, dando origem a uma hipoglicemia intermitente. ➢ Fisiopatologia: • Chama-se de resistência à insulina (RI) a diminuição da sensibilidade das células-alvo aos efeitos metabólicos da insulina; assim, a insulina não consegue reduzir efetivamente a glicemia. A RI está relacionada à obesidade, diabete melito tipo 2, diabetes tipo 1 descompensada, processos inflamatórios difusos. • Mutações que afetam a produção e a ação da leptina e da adiponectina podem levar a RI, uma vez que baixos índices de adiponectina associam-se a obesidade e DM 2, e altos níveis de leptina têm relação com a lipotoxicidade nos tecidos não adiposos. Ela pode também estar relacionada com mutações do receptor da insulina, dislipidemia, aumento dos níveis de glicocorticóides e com síndrome dos ovários policísticos Lara Santos – Medicina FTC (caracterizada por disfunção ovariana crônica e hiperandrogenismo). Estima-se que 80% das mulheres com essa síndrome têm hiperglicemia. • Existem basicamente dois tipos de adipócitos no corpo humano: um adipócito grande, com baixa capacidade de armazenamento de ácidos graxos livres e com alta capacidade de secreção de citocinas inflamatórias; e um adipócito pequeno, capaz de armazenar grandes quantidades de ácidos graxos e com baixa secreção de citocinas. Este último adipócito é o mais funcional e benéfico para o corpo humano, sendo encontrado geralmente na gordura subcutânea, enquanto o primeiro adipócito está mais presente na gordura visceral. • A SM parece ser decorrente de uma desproporção na distribuição destes dois adipócitos, ou seja, a SM é consequência da obesidade visceral. O excesso de ácidos graxos livres (AGL) e de citocinas secretadas pelos adipócitos viscerais (adipocinas) parecem ser os responsáveis pelo aumento da resistência insulínica. • Quando a oferta de AGL excede a capacidade oxidativa dos tecidos, ocorre uma sobrecarga de gordura nos tecidos insulino-sensíveis causando lipotoxicidade. Pode-se dizer, então, que a captação da glicose mediada pela insulina é inversamente proporcional à quantidade de gordura circulante. • Quando há excesso de tecido adiposo, ocorre o aumento da excreção das citocinas: IL-6, o TNF-alfa e a resistina, que são citocinas “maléficas” que ajudam no aparecimento da RI. A adiponectina, que parece ser uma citocina antissíndrome metabólica. Os níveis de adiponectina estão reduzidos em pacientes com SM. • No músculo esquelético, a elevação do AGL reduz a sensibilidade à insulina por prejudicar a translocação do GLUT-4 na membrana plasmática e inibir a captação de glicose insulino-mediada. O resultado do aumento de AGL e glicose circulante é o aumento da secreçãoda insulina pelo pâncreas, causando hiperinsulinenia, que pode desencadear uma retenção de sódio e um aumento da atividade simpática, favorecendo o desenvolvimento da hipertensão. • No fígado, os AGL aumentam a produção de glicose (favorecendo a hiperinsulinemia), triglicerídeos, lipoproteínas de baixa densidade (VLDL), aumentam a densidade das lipoproteínas de alta densidade (LDL) e, concomitantemente, diminuem o colesterol contido na lipoproteína da alta densidade (HDL). • A lipotoxicidade nas células β acontece pelo acúmulo de gordura nas ilhotas de Langerhans, alterando a secreção da insulina induzida pela glicose: aumento de sua secreção em curto prazo – hiperinsulinemia compensatória, e diminuição em longo prazo – hiperglicemia. Esse mecanismo propicia o desenvolvimento do diabetes 2. ➢ Complicações: • As pessoas acometidas pela síndrome metabólica, como já dito antes, estão sob o risco de morte por problemas cardiovasculares duas a três vezes maior que a população geral. A síndrome metabólica também aumenta o risco de diabetes tipo 2 e das complicações decorrentes desta patologia. • Dentre as complicações, destacam-se: nefropatia diabética, retinopatia diabética, retinopatia hipertensiva, neuropatia diabética, pé diabético, doença coronariana e cardíaca, doença cerebrovascular, arteriopatia periférica. http://www.abc.med.br/p/diabetes-mellitus/22360/diabetes+mellitus.htm Lara Santos – Medicina FTC ➢ Diagnóstico: • São objetivos da investigação clínica e laboratorial: confirmar o diagnóstico da síndrome metabólica (SM) de acordo com os critérios do NCEP-ATP III9 e identificar fatores de risco cardiovascular associados. Para tanto, realiza-se: → 1. História clínica: idade, tabagismo, prática de atividade física, história pregressa de hipertensão, diabetes, diabetes gestacional, doença arterial coronariana, acidente vascular encefálico, síndrome de ovários policísticos (SOP), doença hepática gordurosa não-alcoólica, hiperuricemia, história familiar de hipertensão, diabetes e doença cardiovascular, uso de medicamentos hiperglicemiantes (corticosteróides, betabloqueadores, diuréticos). → 2. Exame físico necessário para diagnóstico da SM Medida da circunferência Níveis de pressão arterial Peso, estatura e IMC Exame da pele para pesquisa de acantose nigricans Exame cardiovascular. → 3. Exames laboratoriais necessários para o diagnóstico da SM Glicemia de jejum: a SM, definida pelos critérios do NECP-ATP III, recomenda para o diagnóstico das alterações da tolerância à glicose apenas a avaliação laboratorial de jejum, não exigindo teste de tolerância oral à glicose (TOTG) nem métodos acurados de avaliação da insulino-resistência Dosagem do HDL-colesterol e dos triglicerídeos Lara Santos – Medicina FTC ➢ Tratamento: • O tratamento da SM deve visar à redução do excesso de peso, o controle da hiperglicemia, da pressão arterial e da dislipidemia. → Tratamento não medicamentoso da SM: • A realização de um plano alimentar para a redução de peso, associado a exercício físico são considerados terapias de primeira escolha para o tratamento de pacientes com síndrome metabólica. Está comprovado que esta associação provoca a redução expressiva da circunferência abdominal e a gordura visceral, melhora significativamente a sensibilidade à insulina, diminui os níveis plasmáticos de glicose, podendo prevenir e retardar o aparecimento de diabetes tipo 2. Há ainda, com essas duas intervenções, uma redução expressiva da pressão arterial e nos níveis de triglicérides, com aumento do HDL. • Recomendações adicionais: controle da ingestão de bebida alcoólica, cessação do tabagismo e controle de situações estressantes. → Tratamento Medicamentoso da hipertensão arterial: • O tratamento medicamentoso da hipertensão arterial na síndrome metabólica tem como objetivo reduzir a morbidade e a mortalidade cardiovascular e renal, além de prevenir o agravamento metabólico. Esses benefícios podem ser alcançados em pacientes tratados com diuréticos, inibidores adrenérgicos, inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA), antagonistas do receptor AT1 da angiotensina II (BRA), antagonistas de canais de cálcio e vasodilatadores diretos. Entretanto, ao término de grande parte dos estudos que avaliaram o controle da pressão arterial (PA), a maioria dos pacientes utilizou associação dos hipotensores. ❖ Esquema terapêutico: o esquema terapêutico nos pacientes hipertensos com SM está centrado na meta da redução da pressão arterial em curto prazo de tempo (de três a Lara Santos – Medicina FTC seis meses), utilizando-se a monoterapia ou a associação de fármacos. Considerando-se que 75% dos pacientes necessitam da associação de hipotensores, sugere-se este esquema desde o início do tratamento. Já para os pacientes com Diabetes mellitus e SM, sugere-se a utilização de bloqueadores do sistema renina-angiotensina como parte do esquema terapêutico. Diante de lesão renal com proteinúria acima de 1g/dia, devem-se reduzir os níveis tensionais a cifras inferiores a 120mmHg/ 75mmHg, sendo que o esquema terapêutico deve incluir compulsoriamente um bloqueador do sistema renina-angiotensina. → Tratamento Medicamentoso do Diabetes mellitus: • Quando os pacientes com hiperglicemia não respondem ou deixam de responder adequadamente às medidas não-medicamentosas, devem ser inseridos um ou mais agentes antidiabéticos, com a finalidade de controlar a glicemia e promover a queda da hemoglobina glicada. O diagnóstico de DM deve ser confirmado pela repetição do teste em outro dia, a não ser que haja hiperglicemia inequívoca com descompensação metabólica aguda ou sintomas óbvios de DM. A tolerância diminuída à glicose pode ser identificada no jejum e também após sobrecarga com 75g de glicose. ❖ Combinação terapêutica: Combinando dois ou mais agentes antidiabéticos orais com mecanismos de ação diferentes obtém-se uma queda adicional na glicemia, com melhora do controle metabólico confirmado pela dosagem de A1c. Vários esquemas de combinações foram propostos e são utilizados. Quando a combinação terapêutica com medicamentos orais falha na obtenção do bom controle, está indicada a introdução de insulina de depósito (NPH ou Glargina) antes de o Lara Santos – Medicina FTC paciente dormir, ainda em combinação com medicamentos dose de insulina noturna deve ser ajustada de acordo com a glicemia de jejum, que deverá ser mantida entre 100mg/dL – 120mg/dL. Esta medida promove melhora no controle glicêmico com menor ganho ponderal. Estudo comparativo de combinação entre insulina e antidiabéticos orais demonstrou que a associação de insulina noturna e metformina diurna causou o menor ganho ponderal e produziu o melhor controle metabólico com menor incidência de hipoglicemia. → Tratamento Medicamentoso da Dislipidemia: • Na síndrome metabólica (SM), a dislipidemia caracteriza-se pela presença de níveis baixos de HDL-colesterol e níveis elevados de triglicérides. Embora a elevação do LDL-colesterol não seja considerada como um dos critérios diagnósticos da SM, os portadores desta síndrome apresentam alteração da densidade e do tamanho das partículas dessa lipoproteína, predominando o padrão tipo B (LDL pequena e densa). Esta associação é denominada de dislipidemia aterogênica. As evidências de estudos clínicos controlados apontam para a necessidade da redução do LDL-colesterol como meta primária a ser alcançada com o tratamento, concomitantemente com a correção dos níveis do HDL-colesterol e dos triglicérides. Referências: - Medicina Interna de Harrison – 18ª edição - Medcurso 2018 - Endocrinologia volume 3 - I DIRETRIZ BRASILEIRA DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA SÍNDROME METABÓLICA
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