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Carolina R. Dobrotinic APG 02 SOI V Síndrome metabólica e DM 2 Objetivos: 1. Compreender quais os critérios para diagnosticar um síndrome metabólica 2. Entender a fisiopatologia, manifestações clínicas, etiologia, epidemiologia e fatores de risco da diabetes mellitus tipo 2 3. Conhecer o tratamento da DM2 Síndrome metabólica A Síndrome Metabólica (SM) é um transtorno complexo representado por um conjunto de fatores de risco cardiovascular usualmente relacionados à deposição central de gordura e à resistência à insulina A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o National Cholesterol Education Program’s Adult Treatment Panel III (NCEP-ATP III) formularam definições para a SM. A definição da OMS preconiza como ponto de partida a avaliação da resistência à insulina ou do distúrbio do metabolismo da glicose, o que dificulta a sua utilização. A definição do NCEP-ATP III foi desenvolvida para uso clínico e não exige a comprovação de resistência à insulina, facilitando a sua utilização. Segundo o NCEP-ATP III, a SM representa a combinação de pelo menos três componentes dos apresentados no Quadro 1 e é a definição recomendada pela I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica (I-DBSM). Em face da recomendação da American Diabetes Association, o ponto de corte proposto para o diagnóstico de glicemia de jejum alterada passou de 110mg/dL para 100mg/dL, o que futuramente poderá influir no critério diagnóstico da SM. Circunferência abdominal aumentada: definição específica para a população e para o país. A síndrome metabólica tem, assim, três probabilidades etiológicas: obesidade e distúrbios do tecido adiposo, resistência à insulina e um conjunto de fatores independentes (moléculas de origem hepática, vascular e imunológica) que se inter-relacionam com componentes específicos. Da mesma forma, uma dieta hipocalórica, associada a um estilo de vida sedentário, gera excesso de tecido adiposo, o que significa não só uma fonte elevada de energia, mas também excesso de tecido adiposo a ser eliminado. Isso forma uma cascata pró-inflamatória dada pela liberação de interleucina 6 (IL6) e fator de necrose tumoral alfa (TNF alfa) 22, que reduz a adiponectina, como mediador anti-inflamatório e, por sua vez, sensibiliza o endotélio vascular para vasoconstrição, aumentando a pressão arterial, o que gera maior concentração de óxido nítrico, menor eliminação de radicais livres e aumento de ácidos graxos livres no circulação. Paralelamente, ocorre resistência à ação da insulina, condição na qual os tecidos têm uma resposta diminuída para ter glicose circulante antes da ação da insulina São objetivos da investigação clínica e laboratorial: confirmar o diagnóstico da síndrome metabólica (SM) de acordo com os critérios do NCEP-ATP III e identificar fatores de risco cardiovascular associados. Para tanto, realiza-se: 1. História clínica - idade, tabagismo, prática de atividade física, história pregressa de hipertensão, diabetes, diabetes gestacional, doença arterial coronariana, acidente vascular encefálico, síndrome de ovários policísticos (SOP), doença hepática gordurosa não-alcoólica, hiperuricemia, história familiar de hipertensão, diabetes e doença cardiovascular, uso de medicamentos hiperglicemiantes (corticosteróides, betabloqueadores, diuréticos). 2. Exame físico necessário para diagnóstico da SM: • Medida da circunferência abdominal: é tomada na metade da distância entre a crista ilíaca e o rebordo costal inferior. • Níveis de pressão arterial: deve-se aferir no mínimo duas medidas da pressão por consulta, na posição sentada, após cinco minutos de repouso. • Peso e estatura: devem ser utilizados para o cálculo do índice de massa corporal através da fórmula: IMC = Peso/Altura2. • Exame da pele para pesquisa de acantose nigricans: examinar pescoço e dobras cutâneas. • Exame cardiovascular. 3. Exames laboratoriais necessários para o diagnóstico da SM: • Glicemia de jejum. A SM, definida pelos critérios do NECP-ATP III, recomenda para o diagnóstico das alterações da tolerância à glicose apenas a avaliação laboratorial de jejum, não exigindo teste de tolerância oral à glicose (TOTG) nem métodos acurados de avaliação da insulino-resistência (clamp euglicêmico, HOMA–IR). • Dosagem do HDL-colesterol e dos triglicerídeos Outros exames laboratoriais adicionais poderão ser realizados para melhor avaliação do risco cardiovascular global Atualmente, as definições mais utilizadas para o diagnóstico da síndrome metabólica são as estabelecidas pela International Diabetes Federation e pelo Adult Treatment Panel III em sua versão modificada 2015. Ambos reconhecem a necessidade de ajustar os parâmetros para o diagnóstico da obesidade abdominal às características étnicas e regionais, por isso apresentam as definições que correspondem às populações latinas. Na América Latina, faltam pontos de corte para a circunferência da cintura, por isso propõe-se que pontos de corte de 95 cm em homens e 91 cm em mulheres sejam usados para o diagnóstico de obesidade abdominal e, da mesma forma, seja usado como um dos os critérios da síndrome metabólica para essa população http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0120-56332021000100060#B22 Fisiopatologia e etiologia DM 2 O diabetes Tipo 2 é uma doença complexa que envolve a interação de fatores genéticos e ambientais, além de um estado pró-inflamatório Fatores Genéticos Identificaram pelo menos 30 loci que conferem individualmente um aumento mínimo a modesto do risco de vida para o diabetes tipo 2. É provável que muitos dos polimorfismos identificados estejam em genes associados com a secreção de insulina, porém ainda não se sabe direito Fatores Ambientais O mais importante fator de risco ambiental para o diabetes tipo 2 é a obesidade, particularmente a obesidade central ou visceral. Os dois defeitos metabólicos primordiais que caracterizam o diabetes tipo 2 são: • Diminuição da resposta dos tecidos periféricos, especialmente de músculo esquelético, tecido adiposo e fígado em relação à insulina (resistência à insulina). • Secreção inadequada de insulina em virtude da resistência desenvolvida e hiperglicemia (disfunção da célula β). A resistência à insulina prediz o desenvolvimento da hiperglicemia e, geralmente, faz-se acompanhar do hiperfuncionamento compensatório das células β e da hiperinsulinemia nos estágios precoces da evolução do diabetes. Ao longo do tempo, a incapacidade das células β em se adaptar às necessidades secretoras crescentes para a manutenção de um estado euglicêmico resulta em hiperglicemia crônica e nas complicações de longo prazo resultantes do diabetes permanente Causas e consequências da resistência à insulina: • Incapacidade para inibir a produção endógena de glicose no fígado (gliconeogênese), o que contribui para os altos níveis de glicose no sangue em jejum. • Observa-se fosforilação reduzida da tirosina do receptor de insulina e de proteínas IRS nos tecidos periféricos, o que compromete a sinalização da insulina e reduz o nível do transportador de glicose GLUT-4 na superfície da célula. De fato, um dos mecanismos pelos quais o exercício pode melhorar a sensibilidade é através da translocação aumentada de GLUT-4 para a superfície das células do músculo esquelético. • Incapacidade para inibir a lipoproteína lipase no tecido adiposo, conduzindo a um excesso circulante de ácidos graxos livres (AGLs), que, por sua vez, amplificam o estado de resistência à insulina. • O excesso de AGLs sobrecarrega as vias de oxidação dos ácidos graxos intracelulares, levando ao acúmulo de intermediários citoplasmáticos, como, por exemplo, o diacilglicerol (DAG). Esses intermediários “tóxicos” podem atenuar a sinalização através da via do receptor de insulina. • O excesso de AGLs também compete com a glicosepela oxidação do substrato, levando à inibição retroativa das enzimas glicolíticas, agravando, assim, ainda mais o desequilíbrio existente da glicose. • Os níveis de adiponectina estão reduzidos na obesidade, contribuindo, assim, para a resistência à insulina. • O excesso de AGLs no interior de macrófagos e células β pode ativar o inflamassoma, um complexo citoplasmático multiproteico que leva à secreção da citocina interleucina IL-1β. A IL-1β, por sua vez, faz a mediação da secreção das citocinas pró-inflamatórias de macrófagos adicionais, células de ilhotas e outras células. A IL-1 e outras citocinas são liberadas na circulação e agem sobre os principais locais de ação da insulina para promover resistência à insulina. Assim, AGLs em excesso podem impedir a sinalização de insulina diretamente nos tecidos periféricos, bem como indiretamente, através da liberação das citocinas pró-inflamatórias. Embora a resistência à insulina, por si só, possa levar a uma tolerância limitada à glicose, a disfunção das células β é praticamente um requisito para o desenvolvimento do diabetes patente. Em contraste com os defeitos genéticos graves na função da célula β que ocorre em formas monogênicas de diabetes, a função da célula β aumenta precocemente, no processo da doença, na maioria dos pacientes com diabetes do tipo 2 “esporádica”, principalmente como uma medida compensatória para combater a resistência à insulina e manter a euglicemia. No entanto, às vezes, aparentemente esgotam sua capacidade de se adaptar às demandas de longo prazo da resistência periférica à insulina, e o estado hiperinsulinêmico dá lugar a um estado de deficiência relativa de insulina. Causas e consequências da disfunção da célula β: • Excesso de ácidos graxos livres, os quais comprometem a função da célula β e atenuam a liberação de insulina (“lipotoxicidade”). • Impacto da hiperglicemia crônica (“glicotoxicidade”). • “Efeito incretina” anormal, levando à redução da secreção de GIP e GLP-1, os hormônios que promovem liberação de insulina • Deposição amiloide dentro ilhotas. • Muitos dos polimorfismos associados ao aumento do risco para o diabetes tipo 2 ocorrem em genes que controlam a secreção de insulina Manifestações clínicas DM 2 Na maioria das vezes, a doença é assintomática ou oligossintomática por longo período, sendo o diagnóstico realizado por dosagens laboratoriais de rotina ou manifestações das complicações crônicas. Com menor frequência, indivíduos com DM2 apresentam sintomas clássicos de hiperglicemia (poliúria, polidipsia, polifagia e emagrecimento inexplicado). Raramente a cetoacidose diabética consiste na manifestação inicial do DM2 Fatores de risco DM 2 Os consagrados fatores de risco para DM2 são: história familiar da doença, avançar da idade, obesidade, sedentarismo, diagnóstico prévio de pré-diabetes ou diabetes mellitus gestacional (DMG) e presença de componentes da síndrome metabólica, tais como hipertensão arterial e dislipidemia Critérios para rastreamento do DM2 Indivíduos com idade < 45 anos; sugere-se rastreamento de DM2 em indivíduos com sobrepeso ou obesidade e que apresentem mais um fator de risco para DM dentre os seguintes: • Pré-diabetes; • História familiar de DM (parente de primeiro grau); • Raça/etnia de alto risco para DM (negros, hispânicos ou índios Pima); • Mulheres com diagnóstico prévio de DMG; • História de doença cardiovascular; • Hipertensão arterial; • HDL-c < 35 mg/dL e/ou triglicérides > 250 mg/dL; • Síndrome de ovários policísticos; • Sedentarismo; • Acantose nigricans. Epidemiologia DM 2 O Brasil é o quarto país do mundo com maior número de indivíduos com diabetes (~12 milhões de diabéticos), sendo o Diabetes Mellitus tipo 2 responsável por 90% de todos casos da doença, enquanto o Diabetes Mellitus tipo 1 responde por até 5% dos casos identificados no país. Dados revelam que do total de gastos hospitalares do Sistema Único de Saúde (SUS), 15,3% são despesas relacionadas com o tratamento do diabetes mellitus No que o tange perfil de distibuição segundo o gênero, observamos predominância do diabetes em pacientes do sexo feminino. Dentre os fatores associados à este perfil, destaca-se o maior interesse e procura por parte das mulheres pelos serviços de saúde, o resulta em um maior número de diagnósticos quando comparado aos homens. Em adição, este fenômeno estaria relacionado a uma maior tendência das mulheres ao aumento de peso, o que predispõe a resistência à insulina quando comparado aos pacientes do sexo masculino Segundo o estudo de Palmeira e Pinto, em Salvador - Bahia, o diabetes mellitus acomete majoritariamente a população na faixa etária de 40 a 60 anos por vários motivos, que vão desde as alterações no metabolismo durante o envelhecimento, até fatores ambientais como sedentarismo e dietas ricas em carboidratos simples e com alto teor de lipídeos. Observou-se que 84,7% dos pacientes possuíam apenas o ensino fundamental; confirmando que a educação formal é considerada um fator determinante na compreensão dos mecanismos do processo saúde - doença, assim como no desenvolvimento da consciência e da capacidade de manutenção do autocuidado Tratamento DM 2 No momento do diagnóstico de diabetes mellitus tipo 2 (DM2), além de orientar mudanças no estilo de vida (educação em saúde, alimentação e atividade física), o médico costuma prescrever um agente antidiabético oral. A escolha desse medicamento baseia-se nos seguintes aspectos: mecanismos de resistência à insulina (RI), falência progressiva da célula beta, múltiplos transtornos metabólicos (disglicemia, dislipidemia e inflamação vascular) e repercussões micro e macrovasculares que acompanham a história natural do DM2. Os agentes antidiabéticos orais são medicamentos que reduzem a glicemia, a fim de mantê-la em níveis normais (em jejum < 100 mg/dL e pós-prandial < 140 mg/dL). Sob esse conceito amplo, de acordo com o mecanismo de ação principal, os antidiabéticos podem ser agrupados do seguinte modo: aqueles que incrementam a secreção pancreática de insulina (sulfonilureias e glinidas); os que reduzem a velocidade de absorção de glicídios (inibidores das alfaglicosidases); os que diminuem a produção hepática de glicose (biguanidas); e/ou os que aumentam a utilização periférica de glicose (glitazonas); aqueles que exercem efeito incretínico mediado pelos hormônios GLP-1 (peptídio semelhante a glucagon 1, glucagon-like peptide-1) e GIP (peptídio inibidor gástrico, gastric inhibitory polypeptide), considerados peptídios insulinotrópicos dependentes de glicose. Esses fármacos incretinomiméticos são capazes de aumentar a secreção de insulina apenas quando a glicemia se eleva
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