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SÍNDROME METABÓLICA A Síndrome Metabólica (síndrome X, síndrome de resistência à insulina) consiste em um grupo de anormalidades metabólicas que conferem aumento de risco de doença cardiovascular (DCV) e diabetes melito. A evolução dos critérios para a síndrome metabólica desde a definição original feita pela Organização Mundial de Saúde em 1998 reflete as crescentes evidências e análises clínicas por uma variedade de conferências de consenso e organizações profissionais. As principais características da síndrome metabólica incluem obesidade central, hipertrigliceridemia, níveis baixos de colesterol da lipoproteína de alta densidade (HDL), hiperglicemia e hipertensão. Epidemiologia A característica mais desafiadora da síndrome metabólica a ser definida é a circunferência abdominal. A circunferência intra-abdominal (tecido adiposo visceral) é considerada mais fortemente relacionada com a resistência à insulina e o risco de diabetes e DCV e, para qualquer circunferência abdominal dada, a distribuição de tecido adiposo entre depósitos subcutâneos e viscerais varia substancialmente. Assim, entre as populações e dentro delas, há um risco menor vs maior com a mesma circunferência abdominal. Essas diferenças nas populações são refletidas na faixa de circunferências abdominais consideradas como de risco em diferentes localizações geográficas. A prevalência da síndrome metabólica varia em todo o mundo, refletindo em parte a idade e a etnicidade das populações estudadas e os critérios diagnósticos aplicados. Em geral, a prevalência da síndrome metabólica aumenta com a idade. A maior prevalência registrada em todo o mundo é nos norte-americanos. Uma maior industrialização global está associada a taxas crescentes de obesidade, que é um prenúncio do aumento drástico da prevalência da síndrome metabólica, em especial à medida que a população envelhece. Além disso, o aumento da prevalência e da gravidade da obesidade entre crianças é refletido nas características da síndrome metabólica em uma população mais jovem. Aumentos da circunferência abdominal predominam entre mulheres, enquanto aumentos dos níveis de triglicerídeos plasmáticos de jejum ( para >150mg/dl), reduções nos níveis de colesterol HDL e hiperglicemia são mais prováveis em homens. Fatores de Risco ➔ Sobrepeso/obesidade: a adiposidade central é uma característica essencial da síndrome, e a prevalência da síndrome reflete a forte relação entre a circunferência abdominal e o aumento de adiposidade. Entretanto, apesar da importância da obesidade, os pacientes que têm peso normal também podem ser insulino-resistentes e podem ter a síndrome metabólica. ➔ Estilo de vida sedentário: a inatividade física é um preditor de eventos de DCV e do risco de morte relacionado. Muitos componentes da síndrome metabólica estão associados a um estilo de vida sedentário, incluindo aumento do tecido adiposo (predominantemente central), colesterol HDL reduzido e aumento dos triglicerídeos, da pressão arterial e da glicose nas pessoas geneticamente suscetíveis. Comparados com os indivíduos que assistem televisão ou vídeos ou usam computador por menos de 1 hora/dia, aqueles que o fazem por mais de 4 horas/dia apresentam risco duas vezes maior de síndrome metabólica. ➔ Envelhecimento: acomete quase 50% da população com mais de 50 anos de idade e mulheres >60 anos de idade são mais acometidas do que os homens. Observa-se que a prevalência da síndrome depende da idade na maioria das populações mundiais. ➔ Diabetes melito: esse está incluído tanto nas definições de síndrome metabólica pelo NCEP como nas harmonizantes. Estima-se que a grande maioria (cerca de 75%) dos pacientes com diabetes tipo 2 ou com tolerância à glicose diminuída tenha síndrome metabólica. A presença da síndrome metabólica nessas populações está relacionada com uma prevalência maior de DCV do que em pacientes com diabetes tipo 2 ou comprometimento da tolerância à glicose, mas que não têm essa síndrome. ➔ Doença cardiovascular: indivíduos com síndrome metabólica são duas vezes mais propensos a morrer de doença cardiovascular em comparação com aqueles que não têm, e seu risco de um infarto agudo do miocárdio ou acidentes vascular encefálico (AVE) é três vezes maior. A prevalência aproximada da síndrome metabólica em pacientes com doença arterial coronariana (DAC) é de 50, com uma prevalência de cerca de 35% em pacientes com doença da artéria coronária prematura (com 45 anos de idade ou menos), e uma prevalência particularmente alta nas mulheres. Com reabilitação cardíaca apropriada e alterações no estilo de vida (por exemplo nutrição, atividade física, redução do peso e, em alguns casos, agentes farmacológicos), a prevalência da síndrome pode ser reduzida. ➔ Lipodistrofia: esses distúrbios em geral estão associados à síndrome metabólica. Tanto a Lipodistrofia genética quanto a Lipodistrofia adquirida podem dar origem a resistência grave à insulina e muitos dos componentes da síndrome metabólica. Etiologia ➔ Resistência à insulina: a hipótese mais aceita e unificadora para descrever a fisiopatologia da síndrome metabólica é a resistência à insulina, que é causada por um defeito incompletamente compreendido da ação da insulina. O início da resistência à insulina é anunciado por hiperinsulinemia pós-brandial, seguida da hiperinsulinemia de jejum e, finalmente, hiperglicemia. Um grande contribuinte preliminar para o desenvolvimento da resistência à insulina é uma abundância dos ácidos graxos circulantes. Os ácidos graxos livres (AGLs) ligados à albumina plasmática são derivados predominantemente dos estoques de triglicerídeos do tecido adiposo liberados pelas enzimas lipolíticas intracelulares. Os ácidos graxos também são produzidos a partir da lipólise das lipoproteínas ricas em triglicerídeos em tecidos por meio da lipoproteína lipase. A insulina medeia tanto a antilipólise como a estimulação da lipoproteína lipase no tecido adiposo. É importante salientar que a inibição da lipólise no tecido adiposo é a via mais sensível de ação da insulina. Assim, quando se desenvolve resistência à insulina, o aumento da lipólise produz mais ácidos graxos, os quais reduzem ainda mais o efeito antilipolítico da insulina. O excesso de ácidos graxos aumenta a disponibilidade do substrato e cria resistência à insulina, modificando a sinalização a jusante. Os ácidos graxos prejudicam a captação de glicose mediada pela insulina e acumulam-se como triglicerídeos tanto no músculo esquelético quanto no cardíaco, enquanto o aumento da produção de glicose e o acúmulo de triglicerídeos ocorrem no fígado. ➔ Resistência à leptina: a leptina reduz o apetite, promove gasto de energia e aumenta a sensibilidade à insulina. Além disso, a leptina pode regular a função cardíaca e vascular por um mecanismo dependente de óxido nítrico. No entanto, quando há desenvolvimento de obesidade, ocorre hiperleptinemia, com evidência de resistência à leptina no cérebro e em outros tecidos que resulta em inflamação, resistência à insulina, hiperlipidemia e uma gama de distúrbios cardiovasculares, como hipertensão, aterosclerose, DAC e insuficiência cardíaca. Recentemente, o microbioma intestinal surgiu como um contribuinte importante para o desenvolvimento da obesidade e de distúrbios metabólicos relacionados como síndrome metabólica. A interação entre predisposição genética, dieta e flora intestinal é importante. ➔ Aumento da circunferência abdominal: importante componente dos critérios de diagnósticos mais recentes e mais frequentemente aplicados para a síndrome metabólica. Entretanto, medir a circunferência abdominal não distingue de maneira confiável os aumentos do tecido adiposo subcutâneo daqueles decorrentes da gordura visceral; essa distinção requer tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM). Com aumentos no tecido adiposo visceral, os AGL derivadosdo tecido adiposo são direcionados para o fígado. Por outro lado, aumentos na gordura subcutânea abdominal liberam produtos da lipólise na circulação sistêmica e evitam efeitos mais diretos no metabolismo hepático. ➔ Dislipidemia: em geral, o fluxo de AGL para o fígado está associado a aumento da produção de lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDLs) ricas em triglicerídeos que contêm Apolipoproteína B (apoB). O efeito da insulina nesse processo é complexo, mas a hipertrigliceridemia é um excelente marcador do distúrbio de resistência à insulina. A hipertrigliceridemia não apenas é uma característica da síndrome metabólica, como também os pacientes com síndrome metabólica apresentam níveis elevados de ApoCIII carregadas nas VLDLs e outras lipoproteínas. Esse aumento da ApoCIII é inibitório para a lipoproteína lipase, contribuindo para a hipertrigliceridemia, e também associado a mais doença cardiovascular aterosclerótica. Outro distúrbio principal da lipoproteína na síndrome metabólica é uma redução do HDL-colesterol. Essa redução é uma consequência das modificações na composição e no metabolismo da HDL. Em presença de hipertrigliceridemia, a redução no conteúdo de HDL-colesterol é uma consequência da redução do conteúdo de éster de colesteril do núcleo da lipoproteína em combinação com alterações mediadas pela proteína de transferência do éster de colesteril nos triglicerídeos, tornando essa partícula menor e mais densa. Essa alteração na composição da lipoproteína também resulta em um aumento da depuração de HDL da circulação. Essas alterações na HDL têm uma relação com a resistência à insulina que provavelmente é indireta, ocorrendo em consonância com mudanças no metabolismo da lipoproteína rica em triglicerídeos. Além da HDL, as lipoproteínas de baixa densidade (LDLs) são modificadas em sua composição na síndrome metabólica. Com triglicerídeos séricos de jejum >2,0mm (cerca de 180 mg/dl), quase sempre há uma predominância de LDL pequena, densa que é considerada mais aterogênica, embora sua associação com hipertrigliceridemia e HDLs baixas dificulte a avaliação de sua contribuição independente para os eventos de DCV. Indivíduos com hipertrigliceridemia frequentemente têm aumentos no teor de colesterol tanto de subfrações de VLDL1 como de VLDL2 e no número de partículas de LDL. Ambas essas alterações da lipoproteína podem contribuir para o risco aterogênico em pacientes com síndrome metabólica. ➔ Intolerância à glicose: os defeitos da não ação da insulina na síndrome metabólica levam à deficiência na supressão da produção de glicose pelo fígado e pelos rins, além de redução da captação de glicose e do metabolismo nos tecidos sensíveis à insulina, isto é, tecidos muscular e adiposo. A relação entre glicemia em jejum alterada ou tolerância à glicose diminuída e resistência à insulina é bem sustentada em estudos com seres humanos, primatas não humanos e roedores. Para compensar os defeitos da ação da insulina, a secreção de insulina e/ou a depuração têm de ser modificadas para sustentar a euglicemia. Finalmente, esse mecanismo compensatório falha, em geral devido a defeitos na secreção de insulina, resultando na evolução da glicemia em jejum alterada/e ou tolerância à glicose diminuída para o diabetes melito. ➔ Hipertensão arterial: a relação entre resistência à insulina e hipertensão está bem estabelecida. Paradoxalmente, sob condições fisiológicas normais, a insulina é um vasodilatador com efeitos secundários na reabsorção de sódio nos rins. Entretanto, em caso de resistência à insulina, o efeito vasodilatador da insulina é perdido, porém o efeito renal na reabsorção de sódio fica preservado. A insulina também aumenta a atividade do sistema nervoso simpático, um efeito que pode ser preservado no caso de resistência à insulina. A resistência à insulina é caracterizada por deficiência específica da via na sinalização de fosfatidilinositol-3-quinase. No endotélio, esse comprometimento pode causar um desequilíbrio entre a produção de óxido nítrico e a secreção de endotelina 1, com consequente redução do fluxo sanguíneo. Embora esses mecanismos sejam provocativos, a avaliação da ação da insulina pela medição dos níveis de insulina de jejum ou pela avaliação do modelo de homeostase mostra que a resistência à insulina contribui apenas modestamente para o aumento da prevalência de hipertensão na síndrome metabólica. Outro mecanismo possível subjacente à hipertensão na síndrome metabólica é o papel vasoativo do tecido adiposo perivascular. As espécies reativas do oxigênio liberadas pelo fosfato de dinucleotídeo de adenosina-nicotinamida (NADPH)-oxidase comprometem a função endotelial e resultam em vasoconstrição local. A hiperuricemia (ácido úrico elevado) é outra consequência da resistência à insulina e é comumente observada na síndrome metabólica. ➔ Citocinas pró-inflamatórias: aumentos nas citocinas pró-inflamatórias – incluindo as interleucinas 1,6 e 18, a resistina, o fator de necrose tumoral alfa e o biomarcador sistêmico da proteína C-reativa – refletem a superprodução pela massa de tecido adiposo expandida. ➔ Adiponectina: é uma citocina anti-inflamatória produzida exclusivamente por adipócitos. Ela aumenta a sensibilidade à insulina e inibe muitas etapas no processo inflamatório. No fígado, inibe a expressão das enzimas gliconeogênicas e a taxa de produção de glicose. No músculo, a adiponectina aumenta o transporte de glicose e aumenta a oxidação do ácido graxo, parcialmente pela ativação de AMP-quinase. Os níveis de adiponectina são reduzidos na síndrome metabólica. Manifestações clínicas A síndrome metabólica normalmente não está associada a sintomas. Ao exame físico, a circunferência abdominal pode estar aumentada, e a pressão arterial, elevada. A presença de um ou de ambos os sinais deve alertar o médico sobre a necessidade de buscar anormalidades bioquímicas que possam estar associadas à síndrome metabólica. Porém, menos frequentemente, a lipoatrofia ou a acantose nigricans são encontradas ao exame. Como esses achados clínicos estão associados a resistência grave à insulina, outros componentes da síndrome metabólica devem ser esperados. Outras doenças associadas a síndrome metabólica, podem ser responsáveis pelas manifestações: ➔ Doença cardiovascular: o risco relativo para DCV de início recente em pacientes com a síndrome metabólica que não têm diabetes fica em média entre 1,5 e 3 vezes. Tanto a síndrome metabólica quanto o diabetes são preditores de AVE isquêmico, com maior risco entre pacientes com a síndrome metabólica do que entre aqueles com diabetes isoladamente e uma diferença particularmente grande entre mulheres as mulheres. Os pacientes com a síndrome metabólica também apresentam maior risco de doença vascular periférica. ➔ Diabetes tipo 2: o risco para diabetes em pacientes com síndrome metabólica é aumentado em 3 a 5 vezes. ➔ Outros distúrbios associados: além das características especificamente associadas à síndrome metabólica, outras alterações metabólicas acompanham a resistência à insulina. Essas alterações incluem aumentos em ApoB e ApoCIII, ácido úrico, fatores protrombóticos (fibrinogênio, inibidor I do ativador do plasminogênio), viscosidade do soro, dimetilarginina assimétrica, homocisteína, leucograma, citocinas pró-inflamatórias, proteína C-reativa, microalbuminúria, doença do fígado gorduroso não alcoólica e/ou esteato-hepatite não alcoólica e apneia obstrutiva do sono. ➔ Doença hepática gordurosa não alcoólica: o fígado gorduroso é uma doença relativamente comum. Entretanto, na esteato-hepatite não alcoólica, o acúmulo de triglicerídeos e a inflamação coexistem. Dos pacientes com síndrome metabólica, cerca de 25 a 60%, têm doença do fígado gorduroso não alcoólica e até 35% têm esteato-hepatite não alcoólica. À medida que a prevalência do sobrepeso/obesidade e da síndrome metabólicaaumenta, a esteato-hepatite não alcoólica pode se tornar uma das muitas causas mais comuns de doença hepática de estágio final e carcinoma hepatocelular. ➔ Hiperuricemia: reflete defeitos na ação da insulina na reabsorção tubular renal de ácido úrico e pode contribuir para hipertensão por seu efeito no endotélio. Um aumento da dimetilarginina assimétrica, um inibidor endógeno da óxido nítrico-sintase, também está correlacionado com disfunção endotelial. Além disso, a microalbuminúria pode ser causada por alterações do endotélio decorrentes de um estado de resistência à insulina. ➔ Síndrome do ovário policístico: é altamente associada à resistência à insulina (50 a 80%) e à síndrome metabólica, com uma prevalência da síndrome entre 40 e 50%. As mulheres com síndrome do ovário policístico são 2 a 4 vezes mais propensas a ter síndrome metabólica do que as mulheres sem síndrome do ovário policístico. ➔ Apneia obstrutiva do sono: é comumente associada a obesidade, hipertensão, aumento das citocinas circulantes, comprometimento da tolerância à glicose e resistência à insulina. Com essas associações, não é surpreendente que os indivíduos com apneia obstrutiva do sono com frequência tenham síndrome metabólica. Além disso, quando os biomarcadores da resistência à insulina são comparados entre pacientes com apneia obstrutiva do sono e controles com o mesmo peso, a resistência à insulina é observada como mais grave nos pacientes com apneia. O tratamento da pressão positiva contínua das vias respiratórias melhora a sensibilidade à insulina em pacientes com apneia obstrutiva do sono. Diagnóstico O diagnóstico da síndrome metabólica é estabelecido a partir do atendimento dos critérios, por meio da utilização de recursos à beira do leito e no laboratório. A anamnese deve incluir a avaliação dos sintomas para apneia obstrutiva do sono em todos os pacientes e síndrome do ovário policístico nas mulheres na pré- menopausa. A história familiar irá ajudar a determinar o risco para DCV e diabetes melito. As medidas da pressão arterial e da circunferência abdominal fornecem informações necessárias ao diagnóstico. ➔ Exames de laboratório: o lipidograma e a glicemia de jejum são necessários para determinar se há a presença da síndrome metabólica. A mensuração dos biomarcadores adicionais associados com resistência à insulina pode ser individualizada. Esses exames podem incluir ApoB, proteína C-reativa de alta sensibilidade, fibrinogênio, ácido úrico, microalbuminúria e exame de função hepática. Deve- se realizar um estudo do sono caso haja a presença de sintomas de apneia obstrutiva do sono. Se houver suspeita de síndrome do ovário policístico com base nas manifestações clínicas e anovulação, é necessário medir a testosterona, o hormônio luteinizante e o hormônio folículo-estimulante. Tratamento ➔ Estilo de vida: a obesidade é o motor propulsor por trás da SM. Assim, a redução do peso é a abordagem primária ao distúrbio. Com a redução do peso, a melhora na sensibilidade à insulina com frequência é acompanhada de modificações favoráveis em muitos componentes da síndrome metabólica. Em geral, as recomendações para a perda de peso incluem um combinação de restrição calórica, aumento da atividade física e modificação do comportamento. A restrição calórica é o componente mais importante, enquanto os aumentos na atividade física são importantes para a manutenção da perda de peso. Algumas das evidências sugerem que a adição da prática de exercícios à restrição calórica pode promover uma perda maior da gordura visceral. A tendência para readquirir o peso após a redução bem-sucedida do peso enfatiza a necessidade de mudanças comportamentais de longa duração. ➔ Dieta: antes de prescrever uma dieta para a perda de peso, é importante enfatizar que o paciente levou um tempo para desenvolver uma massa gordurosa aumentada; assim, a correção não precisa ocorrer rapidamente. Como cerca de 3.500 Kcal = 0,5 kg de gordura, uma restrição de cerca de 500 kcal diárias equipara-se a uma redução de peso de 0,5 kg por semana. As dietas com restrição de carboidratos promovem uma perda de peso inicial rápida. No entanto, após um ano, a quantidade de redução de peso é minimamente reduzida ou não é diferente daquelas apenas com restrição calórica. Assim, a adesão a uma dieta é mais importante do que o tipo de dieta que será escolhido. Além disso, há uma preocupação quanto às dietas com baixo teor de carboidratos e ricas em gordura saturada, em particular para pacientes com risco de DCV. Portanto, um padrão de dieta de alta qualidade – isto é, uma dieta rica em frutas, vegetais, grãos integrais, carnes magras de aves e peixes – deve ser estimulada para fornecer o benefício máximo de saúde global. ➔ Atividade física: antes de recomendar atividade física aos pacientes com a SM, é importante assegurar- se que esse aumento de atividade não cause risco. Alguns pacientes de alto risco devem submeter-se a avaliação cardiovascular completa antes de iniciar um programa de exercícios. Para um participante inativo, aumentos graduais na atividade física devem ser incentivados, visando aumentar a adesão e evitar lesões. Embora os aumentos na atividade física possam levar a uma redução modesta de peso, 60 a 90 minutos diários de atividade são necessários para atingir esse objetivo. Mesmo que um adulto com sobrepeso ou obeso seja incapaz de atingir tal nível de atividade, haverá um benefício de saúde significativo de pelo menos 30 minutos de atividade diária de intensidade moderada. É importante salientar que várias atividades rotineiras – como jardinagem, caminhada e limpeza da casa – requerem gasto calórico moderado. Assim, a atividade física não precisa ser definida somente em termos de exercícios formais, como corrida, natação ou tênis. ➔ Modificação do comportamento: o tratamento comportamental em geral inclui recomendações para restrição dietética e mais atividade física, resultando em perda de peso que beneficia a saúde metabólica. O desafio subsequente é a duração do programa, pois o ganho de peso com frequência acompanha uma redução de peso bem-sucedida. Desfechos de longo prazo podem ser aumentados por uma variedade de métodos, como acompanhamento por internet, rede social e telefone para manter contato entre provedores e pacientes. ➔ Obesidade: em alguns pacientes com SM, as opções de tratamento precisam estender-se além da intervenção no estilo de vida. Os fármacos para a perda de peso encontram-se em duas classes: supressores do apetite e inibidores da absorção. Os supressores do apetite incluem fentermina (para uso de curto prazo, 3 meses apenas), bem como as adições mais recentes fentermina/topiramato e lorcaserina, que são aprovadas sem restrições durante o tratamento. Os efeitos colaterais incluem palpitações, cefaleia, parestesias, obstipação e insônia. O orlistate inibe a absorção de gordura em cerca de 30%, sendo moderadamente eficaz se comparado com o placebo. O orlistate mostrou reduzir a incidência de diabetes tipo 2, um efeito especialmente evidente em pacientes com intolerância à glicose na linha de base. A cirurgia metabólica ou bariátrica é uma opção para os pacientes com a SM que têm um IMC maior que 40 kg/m2 ou mais de 35 kg/m2 com comorbidades. Uma aplicação em desenvolvimento para cirurgia metabólica inclui pacientes com IMC de apenas 30 kg/m2 e diabetes tipo 2. O bypass gástrico ou a gastrectomia vertical em manga resulta em drástica redução do peso e melhora das manifestações da síndrome metabólica. ➔ LDL-colesterol: para pacientes com SM e diabetes, uma estatina deve ser prescrita. Para aqueles pacientes com diabetes e DCV conhecida, as evidências atuais sustentam um máximo de penúltima dose de uma estatina potente ( ex: atorvastatina ou rosuvastatina). Para aqueles pacientes com síndrome metabólica, mas sem diabetes, e um escore que prevê um risco de DCV em 10anos que excede 7,5% também devem tomar uma estatina. Dietas com restrição de gorduras saturadas (menos de 7% de calorias) e gordura trans (o menos possível) devem ser aplicadas de maneira agressiva. O colesterol na dieta também deve ser restrito. Se o colesterol continuar elevado, é necessária intervenção farmacológica. O tratamento com estatinas é a intervenção medicamentosa de primeira escolha. É preciso salientar que para cada duplicação da dose da estatina, o LDL-colesterol é reduzido ainda mais em apenas cerca de 6%. O ezetimibe reduz o LDL-colesterol em 15 a 20%. Os sequestradores de ácido biliar colestiramina, colestipol e colesevalam podem ser mais eficazes do que o ezetimibe, mas, pelo fato de poderem aumentar os níveis de triglicerídeos, devem ser usados com cautela em pacientes com síndrome metabólica. O ácido nicotínico tem modesta capacidade de redução do LDL colesterol (menos de 20%). Os fibratos são mais bem empregados para reduzir o LDL colesterol quando tanto o LDL- colesterol como os triglicerídeos estão elevados. O fenofibrato pode ser mais eficaz do que a genfibrozila nesse grupo. ➔ Triglicerídeos: recomenda-se um valor de triglicerídeo em jejum de menos de 150 mg/dl. Em geral, a resposta dos triglicerídeos de jejum está relacionada com a quantidade de redução de peso atingida: uma redução de peso de >10% é necessária para reduzir os níveis de triglicerídeos de jejum. Um fibrato é o fármaco de escolha para reduzir os triglicerídeos de jejum, que costumam atingir uma diminuição de 30 a 45%. Outros fármacos que reduzem os níveis de triglicerídeos são estatinas, ácido nicotínico e altas doses de ácidos graxos ômega 3. Para esse propósito, uma dose intermediária ou alta das estatinas “mais potentes” (atorvastatina, rosuvastatina) é necessária. Nos pacientes com a SM e diabetes, o ácido nicotínico pode aumentar os níveis da glicemia em jejum. ➔ HDL-colesterol: pouquíssimos compostos modificadores de lipídeos aumentam os níveis de HDL colesterol. Estatinas, fibratos e sequestradores de ácido biliar têm efeitos modestos (5 a 10%), enquanto ezetimibe e ácidos graxos de ômega 3 não têm qualquer efeito. O ácido nicotínico é o único fármaco atualmente disponível com propriedades de elevação do HDL- colesterol previsíveis. A resposta está relacionada com a dose, e o ácido nicotínico pode aumentar o HDL-colesterol em cerca de 30% acima da linha de base. ➔ Pressão arterial: em pacientes com a SM sem diabetes, a melhor escolha para o anti-hipertensivo inicial é um inibidor da enzima conversora da angiotensina (ECA) ou um bloqueador do receptor de angiotensina II (BRA), pois essas duas classes de fármacos parecem reduzir a incidência de diabetes tipo 2 de início recente. Em todos os pacientes com hipertensão, deve-se defender um padrão de dieta com restrição de sódio, rica em frutas e vegetais e laticínios com baixo teor de gordura. O monitoramento doméstico da pressão arterial pode ajudar a manter um bom controle da pressão arterial. ➔ Alteração da glicemia de jejum: em pacientes com SM e diabetes tipo 2, o controle glicêmico agressivo pode modificar, de maneira favorável, os níveis triglicerídeos de jejum e/ou HDL-colesterol. Nos pacientes com comprometimento da glicemia de jejum sem diagnóstico de diabetes, uma intervenção no estilo de vida que inclua redução do peso, restrição dietética de gordura e aumento da atividade física mostra reduzir a incidência de diabetes tipo 2. A metformina também reduz a incidência de diabetes, embora o efeito seja menor do que o observado com intervenção no estilo de vida. ➔ Resistência a insulina: várias classes de fármacos (biguanidas, tiazolidinedionas) aumentam a sensibilidade à insulina. Pelo fato de a resistência à insulina ser o mecanismo fisiopatológico primário para a síndrome metabólica, os fármacos representativos nessas classes reduzem sua prevalência. Tanto a metformina quanto as TZDs aumentam a ação da insulina no fígado e suprimem a produção endógena de glicose. As TZDs, mas não a metformina, também melhoram a captação de glicose mediada pela insulina no músculo e no tecido adiposo. Benefícios de ambos os fármacos foram observados em pacientes com doença do fígado gorduroso não alcoólica e síndrome do ovário policístico, e os fármacos mostraram reduzir os marcadores de inflamação. Fisiopatologia Os ácidos graxos livres (AGLs) são liberados em abundância da massa de tecido adiposo expandida. No fígado, determinam um aumento da produção de glicose e triglicerídeos e secreção das lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDLs). As anormalidades lipídicas/lipoprotéicas associadas consistem em reduções do colesterol da lipoproteína de alta densidade (HDL) e um aumento do número de partículas de colesterol da lipoproteína de baixa densidade (LDL). Os AGLs também reduzem a sensibilidade à insulina no músculo, inibindo a captação de glicose mediada pela insulina. Os defeitos associados consistem em redução da glicose a partir do glicogênio e aumento do acúmulo de lipídeos nos triglicerídeos (TGs). O aumento da glicose circulante e, até certo ponto, dos AGLs aumenta a secreção de insulina pancreática, resultando em hiperinsulinemia. A hiperinsulinemia pode resultar em aumento da reabsorção de sódio e aumento da atividade do sistema nervoso simpático (SNS) e contribui para a hipertensão, assim como os níveis mais altos de AGL circulante. O estado pró-inflamatório sobrepõe-se e contribui para a resistência à insulina produzida pelo excesso de AGL. O aumento da secreção de interleucina 6 (IL-6) e fator de necrose tumoral alfa (TNF-alfa) produzido por adipócitos e macrófagos derivados dos monócitos resulta em mais resistência à insulina e lipólise dos estoques de tecido adiposo em AGL circulante. A IL-6 e outras citocinas também aumentam a produção hepática de glicose, produção de VLDL pelo fígado, hipertensão e resistência à insulina no músculo. As citocinas e os AGLs aumentam ainda a produção hepática de fibrinogênio e a dos adipócitos do inibidor do ativador plasminogênio tipo1, resultando em um estado pró-trombótico. Níveis mais altos de citocinas circulantes estimulam a produção hepática de proteína C-reativa (PCR). A produção reduzida da citocina anti- inflamatória e citocina adiponectina sensível à insulina também está associada à síndrome metabólica.
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