Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 - 1 28.04.21 Cirrose e encefalopatias DEFINIÇÃO Processo hepático difuso, caracterizado por alteração estrutural do fígado, com formação de nódulos envoltos por fibrose. Fígado normal Fígado reduzido de tamanho, aumento do lobo caudado, presença visível dos nódulos Palpação: bordas rombas, hipertrofia do lobo caudado Normalmente não fazemos biopsia, já que por vezes os sintomas são muito claros. Fígado normal: sempre apresenta processo inflamatório, porém é auto- limitado. PROCESSO DA CIRROSE Iniciação Inicia com a célula estelada que é ativada pela injúria, mas logo depois sofre apoptose. Em paciente com hepatopatia crônica, célula continua ativada, ocorre então, proliferação de células (morte demora mais para Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 - 2 acontecer), contratilidade, fribroneogênese. Como as células da medula óssea e hepatócitos se transformam em miofibroblastos que levam a uma cadeia inflamatória (situações fibróticas e inflamatórias), processos inflamatórios - fígado torna-se cirrótico). O FIGADO CIRRÓTICO • Capilarização dos sinusóides hepáticos o Aumento do colágeno o Formação de membrana basal (prejudica a troca celular) o Trocas metabólicas comprometidas • Redução no fluxo sanguíneo efetivo • Retenção de bile e colestase • Aumento na resistência intra-hepática: hipertensão portal Ocorre então, falência hepática (células param de funcionar adequadamente) e hipertensão portal que ocorre por aumento na resistência intra-hepática. FISIOPATOLOGIA Devido a fibrose há uma retenção sanguínea nos hepatócitos, gerando uma hipertensão portal com formação de circulação colateral, gerando aumento do débito cardíaco na tentativa de manter o fluxo sanguíneo normal Ocorre vaso dilatação esplânica (aumento do fluxo de sangue para órgãos abdominais Há formação de anastomoses arteriovenosas intrapulmonares e portopulmonares, levando à diminuição da pO2 no sangue arterial e da afinidade de hemoglobina por O2. A circulação pode estar alterada, reduzindo o fluxo sanguíneo para o córtex renal, reduzindo a TFG, levando à azotemia (elevação dos compostos nitrogenados no sangue) e retenção de sódio, culminando com a síndrome hepatorrenal A menor produção de albumina leva a ascite A incapacidade de produção hepática leva à não conversão de amônia em uréia, gerando hiperamonemia. O aumento da pressão venosa central e a redução do volume plasmático efetivo (pouca albumina, hipertensão portal, shunt portossistêmico e vasodilatação arterial esplancnica) levam à ativação do SRAA. A diminuição do volume plasmático efetivo também ativa os receptores de volume, que aumentam atividade simpática bem como fatores natriuréticos. CLASSIFICAÇÕES • Morfológica • Etiológica • Clínica ETIOLOGICA • Viral o B o C o D (para ter a D, tem que ter a B) • Álcool (Ingesta excessiva > 80 g por dia, os doentes podem evoluir com lesões necróticas, inflamação, acúmulo de proteínas celulares, esteatose, fibrose e regeneração micro nodular (mais comum) • Metabólica o Hemocromatose (aumenta a deposição de ferro principalmente no fígado, pâncreas, coração e glândulas endócrinas. Paciente evolui com hepatomegalia, pele bronzeada, dores articulares, diabetes) o Wilson (defeito na excreção biliar de cobre com acúmulo no fígado, cérebro e córnea. É mais comum em jovens de 20-30 anos que evoluem com deterioração intelectual, tremor, anemia hemolítica, hematúria. Um dos sinais patognomônicos é o anel de Kaiser Fletcher no olho. Geralmente com problemas neuropsiquiátricos) o Deficiencia de alfa1-antitripsina (é uma enzima produzida no fígado que atua no pulmão e tem como função hidrolisar e inibir várias enzimas, como a tripsina, a elastase neutrofílica e a protease-3. Sua maior ação é sobre a elastase neutrofílica, produzida pelos neutrófilos, evitando assim a destruição de tecidos sadios. Causa doença pulmonar por falta e doença hepática por excesso quando a doença for causada por mutação que cursa com polimerização. Ocorre acúmulo intracelular com lesão hepática) o Glicogênese tipo IV Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 - 3 o Galactosemia (deficiência enzimática, leva a intolerância de galactose da dieta) o Tirosina congênita o Esteatohepatite não-álcoolica (Pacientes com alterações metabólicas (síndrome metabólica) como obesidade, diabetes, dislipidemia, hipertensão, HDL baixo) o Bypass intestinal • Colestase prolongada o Cirrose biliar primária (mulheres de meia-idade portadoras do anticorpo anti-mitocôndria, causa muito prurido) o Cirrose biliar secundária (calculo no colédoco, e sem a retirada devido a pressão continua leva a hepatite) o Colangite esclerosantes primária (causa desconhecida, ocorre inflamação do ducto biliar e fibrose.) o Síndromes ductopênicas da infância e adulto • Auto-imune (Inflamação do fígado de causa desconhecida, mais comum entre mulheres, com pico aos 18 anos e outro aos 50 anos de idade. Diagnóstico feito por eletroforese e dosagem de auto-anticorpos como FAN, anti músculo liso) • Cirrose infantil da Índia • Obstrução do fluxo venoso hepático o Doença veno-oclusiva (ocorre obstrução das vênulas hepáticas com aumento na pressão porta, levando a uma síndrome caracterizada por icterícia, hepatomegalia e ascite. É uma condição mais rara, geralmente acomete pacientes pós-quimioterapia ou transplante de medula óssea) o Budd-Chiari (obstrução ao fluxo sanguíneo causada por trombose em nível de veia hepática ou VCI. É mais comum em situações de hipercoagulabilidade, mulheres em uso de anticoncepcional, durante ou após a gestação, presença de anticorpos anticardiolipina. Ocorre hepatomegalia, ascite e outros sinais de hipertensão portal. É o mesmo mecanismo da ICC direita) o Pericardite constritiva • Drogas o Metotrexate → observar AST e ALT o Amiodaona o Metildopa o Propiltiouracil o Isoniazida Sempre que administrar medicação, precisamos conhecer os efeitos colaterais. CLÍNICA • Compensada (paciente sem sintomas, encontrado ao acaso) • Descompensada (qualquer sintoma caracteriza a descompensação (ascite, hemorragia digestiva, encefalopatia e colestase) o Falência hepática (hepatócitos não tem mais uma função adequada) o Hipertensão portal (deposição do colágeno gerando aumento da pressão no sistema porta) o Sinais de descompensação ▪ Ascite (sinal de mau prognóstico) ▪ Hemorragia digestiva ▪ Encefalopatia ▪ Colestase Sempre fazer sorologias para hepatite B e C Paciente clássico com cirrose: presença de edemas inferiores, equimoses, pode ter atrofia testicular, alteração na pilificação pubiana, ascite (sinal de mal prognóstico), ginecomastia, rarefação de pelo, spikes, eritema palmar, icterícia. O cirrótico é desnutrido então se consegue ver bem suas veias DIAGNÓSTICO Anátomo-patológico: Biópsia que enxerga nódulos envoltos com fibrose. Entretanto, na maioria das vezes, não se pede biópsia. O diagnóstico é feito por outros meios, uma vez que muitas vezes não precisa – desnecessário, ou se é um grande risco, caso ele esteja em risco). É feito biópsia apenas quando tem DÚVIDA. Clínico-laboratorial: Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 - 4 • Icterícia, ascite, aranhas vasculares, hepatomegalia • Varizes esofágicas • Hipoalbuminemia, hipergamaglobulineoa • USG, TC, RNM • Laparoscopia, cirurgia aberta Ressonância. Fígado diminuído, já tem contorno mais nodulado, presença ascite. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS circulação colateral, não apenas visualizar. • Fatores precipitastes: hepatite alcóolica, hemólise, infecção bacteriana, drogas • Normalmente se vai atrás deuma causa • Pacientes haptopatas crônicos que agudizam devido a hábitos alimentares exagerados • Aumentando a chance do mesmo ser levado a óbito nos próximos 30 dias • Outras causas (hepatocelulares / colestáticas • Falência hepatocelular • Infecção (ITU, PBE, empiema, meningite, sinusite) – pode evoluir para um quadro de peritonite bacteriana. • Inflamação (citocinas). O processo inflamatório em si leva a febre. • Hepatocarcinoma (primeira manifestação é febre) • Pancreatite • Redução na secreção de sais biliares • Redução da ingesta (grande consumo de calorias vazias) • Aumento do metabolismo basal (aumento do gasto) • Ascite • Idade avançada • Uso de IBP ou bloqueadores H2 (pode haver quadro intestinal de gases e diarreia e também deficiência de B12 por consumo bacteriano.) • 70% assintomático • H. pylori • Cálculos pigmentares • Menor incidencia de doença coronariana • Aumento no DC e FC • Diminuição na RVP e PA Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 - 5 • Vasodilatação esplâncnica e disautonomia • Hidrotórax (consequência da ascite, pode levar a dispneia) • Síndrome Hepato-pulmonar (hipoxemia) Hidrotórax • Tem uma diminuição da resistência vascular periférica por causa da vasodilatação esplânica. Vai ter menos sangue sistêmico. Essa redução do volume arterial leva ativação de mecanismos para aumentar o volume. Essa ativação leva a vasoconstrição arterial e uma reabsorção de água tubular. Primeiro uma reabsorção de água livre, que leva a um quadro de hiponatremia (hiponatremia dilucional) • Hiperesplenismo (baço funciona mais do que deveria e retira leucócitos da circulação; pancitopenia: anemia, leucopenia e plaquetopenia) • Deficiencia de vitamina B12, ácido fólico • Coagulopatia (não responsiva à vitamina K). O TAP é um exame que mostra a diminuição da função do fígado. O TAP altera porque há vários fatores de coagulação que são produzidos no fígado, então, a via extrínseca tem 4 fatores. Se tenho um fígado que não funciona, há uma alteração da via extrínseca, e o TAP mostra essa via extrínseca da coagulação. E é não responsiva a vitamina K, pois para o fígado produzir os fatores de coagulação ele necessita de vitamina K, se há uma deficiência de vitamina K, o TAP vai estar alargado. Mas, no caso do cirrótico, não é problema com a vitamina K, mas sim com o fígado em si. • Síndrome hepato-renal: leva a uma falência renal por causa do fígado. A vasodilatação esplânica vai levar a ativação de vários fatores. Essa ativação leva a uma vasoconstrição renal moderada (falência renal moderada, não aguda). Se há uma disfunção renal não aguda, há uma isquemia renal porque há um aumento grande dos vasoconstritores e diminuição dos vasodilatadores. o Tipo I: Mortalidade de 100% em uma semana. Se junto com a disfunção hepática ocorrer descompensação hemodinâmica aguda, principalmente devido peritonite bacteriana aguda espontânea (pior das situações), pode haver isquemia renal. Disfunção circulatória severa e hipoperfusão renal levam à isquemia renal. Isso faz vasoconstrição aguda, sendo muito fatal, levando a alterações hemodinâmicas. o Tipo II: Mortalidade de 90% em meses, mais crônica. Alteração hemodinâmica do paciente ativa vários sistemas, que em excesso levam a vasoconstrição renal crônica e perda da função a longo prazo. Doença hepática severa e hipertensão portal causam vasodilatação esplâncnica e disfunção cardíaca (aumento da FC para tentar manter débito). Isso ativa SNS, SRAA e ADH, com o mesmo objetivo, fazendo vasoconstrição periférica, inclusive renal • Todo paciente tem chance de ter hepatocarcinoma – deve-se percebido precocemente já que se o tumor for muito grande não tem o que fazer • Deve ter cirrose para gerar hepatocarcinoma (não é necessário para hepatite B) • Cirrose • USG, TC, RNM • alfa-fetoproteína >400ng/ml • Aparece juntamente com os tumores • Com todos esses três sintomas não se precisa fazer biopsia (se não tiver os três deve-se realizar a biopsia). CHILD-MUCH Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 - 6 • Estágio A: inicial (paciente compensado) • Estágio B e C: mais avançado - transplante hepático (descompensado) Pacientes Child B ou C são indicados para transplante hepático. Salvo pacientes maiores de 70 anos ou etilistas (mínimo de 6 meses sem bebida) A partir do B o transplante é indicado TERAPÊUTICA ANTI-FIBRÓTICA • Cura da doença primária • Reduzir a inflamação e resposta imune • Aumentar a degradação da fibrose CASO CLÍNICO LMJ, 20 anos, feminina, estudante, natural e procedente de Navegantes- SC Há 4 meses notando quadro de fadiga progressiva, atualmente impedindo determinadas atividades domésticas. Refere edema de MMII associado. • Hipotireoidismo, em uso de Puran T4 • Mãe com vitiligo • Nega etilismo ou tabagismo. • BEG, corada, hidratada. Presença de aranhas vasculares. • PA: 110 x 70 mmHg Hipotensão FC: 84 bpm • AC e AP sem alterações • Abd: RHA+. Fígado palpável a 3 cm do RCD, com bordas irregulares. Traube ocupado. Esplenomegalia. • MMII: edema de MMII +/4+ ** quadro de uma hepatopatia crônica descompensada. • HB:12,5 g/dL • Ht: 38% • Leucócitos 3400/mm3 (<4000) • Plaquetas: 116000 (baixo) • TSH, T4 livre, glicose normais • AST: 176 U/l • ALT: 184 U/l (hepatocelular) • Fosfatase Alcalina: 80 U/l • ggt: 47 U/l • BT: 1,1 • BD: 0,7 • BI: 0,4 • TAP: 16s; (normal é 12s) • Albumina: 2,9 mg/dl (baixo) ** Child 7 (B) Pensar em hepatite auto-imune por causa do histórico familiar de doença auto-imune. • USG: hepatopatia crônica, esplenomegalia • Sorologia: HBsAg –, AntiHBc –, Anti-HBs +, Anti-HCV (Vacinada) • Eletroforese de proteínas: aumento na fração gama (indicativo de hepatite autoimune) • FAN:1/640 – positivo para doença autoimue • Ferritina: 88 μg/ml • Saturação de transferrina: 25% - Exame para doença de Wilson • Ceruloplasmina: 30 mg/dl • Anticorpo anti-musculo liso: 1/80 • Anticorpo anti-LKM1: reagente DIAGNÓSTICO: Hepatite Auto-imune; Primeiro se inicia o tratamento e dependendo da continuidade se indica transplante ou não. ENCEFALOPATIA HEPÁTICA • Espectro de anormalidade neuro- psiquiátricas em pacientes com doença hepática após exclusão de outras causas de doença neurológica. Paciente com alteração psicológica mas sem fator de relação neurológica Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 - 7 Os principais componentes da encefalopatia hepática. Principalmente devido a infecção e hemorragia gastro intestinal Ciclo da amônia • Excesso de amônia leva a encefalopatia hepática • A mesma vem do intestino, então pode ocorrer devido a constipação • As bactérias do colón produzem amônia, por isso usamos laxantes para expulsar essas bactérias A hiperamonemia leva à uma síntese elevada de glutamina. Essa glutamina entra nas células e aumenta a osmolaridade intracelular, puxando água para si, gerando edema cerebral (inchaço dos astrócitos). A hiponatremia, por sua vez, diminui a osmolaridade extracelular, também gerando edema cerebral (inchaço dos astrócitos). Esses astrócitos inchados ficam afuncionais, gerando encefalopatia. >>Um dos produtos da catabolização do musculo é a amônia Há um aumento da osmolaridade intracelular devido a grande concentração de amônia, fazendo com que a agua vá do extracelular para o intracelular Gerando um edema dos astrocitos, levando a disfunção e a clinica de encéfalopatia hepática FISIOPATOLOGIA O fígado normal metaboliza substâncias protéicas neurotóxicas. Com a redução da função hepática essas substâncias passam a acumular e circular livremente. A principal é a amônia, que pode vir do catabolismo muscular, rim e intestino (produçãopela flora bacteriana). Ela pode levar a disfunção do astrócito, aumentando stress oxidativo causando edema e encefalopatia hepática. Também é capaz de ativar GABA, inibindo a transmissão cerebral normal Hiponatremia diminui osmolaridade extracelular, levando a uma troca maior de água do astrócito, acarretando edema no mesmo. A amônia aumenta osmolaridade intracelular, levando ao acúmulo de água no astrócito Os astrócitos também sofrem edema e stress oxidativo em outras situações, como excesso de proteínas (pós-churrasco), infecções, uso de sedativos e diuréticos, acidose, sangramento intestinal. Esses quadros aumentam produção de amônia, benzodiazepínicos endógenos, citocinas inflamatórias, hiponetramia. O stress oxidativo é consequência da baixa oferta de glicose devido alterações na glicogenólise e gliconeogênese. SUBTIPOS A: associada a insuficiencia hepática aguda B: associado a bypass cirúrgico, sem doença hepática de base C: associado a doença hepática crônica ASSOCIADA A CIRROSE Episódica: • Com fator precipitante • Sem fator precipitante • Recorrente Persistente: • Leve • Severa • Tratamento-dependente Mínima Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 - 8 Graduação em encefalopatia hepática Grau I: alteração no ciclo sono vigília – dorme o dia inteiro e fica acordado durante a noite; esquecimento e confusão leve. Pequenos tremores (flapping) • A sonolência vai aumentando, levando a letargia • Aparecimento de anamnese DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Metabólico: • Hipoglicemia • Distúrbio eletrolítico • Hipóxia • Narcose • Uremia • Cetoacidose Tóxica: • Drogas psicotrópicas • Silicatos • Metais pesados • Álcool o Intoxicação aguda o Abstinência – quer quebrar tudo (paciente com encefalopatia é mais devagar) o Síndrome Wernicke-Korsakoff (ocorre em paciente alcoolizado que recebe glicose, mas tem deficiência de vitamina B12, gera quadro de demência irreversível. Por isso quando chegar um paciente alcoolizado no PS dar primeiro vitamina B12, depois glicose) Lesões intra-cranianas: • Hemorragia intra-craniana: mais comum, devido a quedas frequentes • Infarto cerebral • Abcesso cerebral • Tumor cerebral • Meningite • Encefalite • Epilepsia ou encefalopatia pós-epilepsia Distúrbios neuro-psiquiátricos: Doença de Wilson causa movimentos coreatetóides, sem flapping. Ocorre em jovens, com história familiar resultante do distúrbio do metabolismo do cobre em SNC. Outros distúrbios são paranóia e depressão. FATORES PRECIPITANTES Aumento na produção de amônia • Excesso de proteína na dieta • Constipação • Hemorragia gastrointestinal • Infecções • Transfusão de sangue • Uremia • Hipocalemia • Metabolismo reduzido de toxinas (difusão facilitada - hipóxia hepática) • Hipoxemia • Hipotensão arterial • Anemia • Desidratação • Restrição de líquidos • Diuréticos • Paracentese abdominal • Diarréia • Alcalose metabólica (difusão facilitada de amônia na barreira hemato-encefálica) • Uso de benzodiazepínicos (ativação GABA associada a não metabolização hepática e consequente ação prolongada • Shunts porto-sistêmicos (cirúrgico, TIPS, espontâneo) • A função de filtro do fígado deixa de ocorrer, pacientes apresentam encefalopatia. O melhor hoje é um shunt entre veia esplênica e veia renal, as chances de EH são menores. • Falência hepato-celular • Hepatocarcinoma • OBS : Acumulo de manganês nos núcleos da base vistos na RNM. RNM Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 - 9 TRATAMENTO Medidas gerais: identificar e combater fatores desencadeantes. Monitorização hidroeletrolítica e ácido-básica, reposição de albumina e vitaminas, correção de distúrbios da coagulação e suporte nutricional com glicose. Corrigir hiperglicemia com 1 U de insulina para 10 g de açúcar, com a progressiva melhora deve-se iniciar ingesta oral, cuidando com oferta protéica. Bloqueio do eixo intestino-cérebro: ingesta de aminoácidos de cadeia ramificada associada a esterilização do cólon através de antibióticos (neomicina, metronidazol, vancomicina - com isso a flora bacteriana diminui, diminuindo produção de amônia) Laxativos: lactulose e manitol provocamlavagem no intestino e redução de amônia,porém podem causar hipernatremia. Diminuem o pH no cólon, o que leva a excreção de nitrogênio e reduz a amônia plasmática Aumento no metabolismo de amônia tecidual: drogas bloqueadoras do ciclo da uréia – acetato de zinco (impede produção de amônia). Substrato na conversão de amônia - única terapia endovenosa: aspartato → uréia, ornitina → glutamina (impede produção de amônia) Inibição dos receptores centrais do complexo benzodiazepínicos – GABA: flumazenil (em paciente em coma, bastante complicado). Anticorpos anti-TNF-alfa e antibioticoterapia: reduzem efeitos deletérios da sepse como aumento do debito cardíaco e da intensidade das anastomoses portossistêmicas, redução dos fluxos renal e cerebral (pois o aumento de citocinas e NO na sepse aumenta o afluxo de falsos neurotransmissores para dentro dos astrócitos, gerando afunção e EH). • Restrição protéica na dieta (20g) • Proteínas vegetais preferencialmente • Catárticos osmóticos, ↓ pH colônico: lactulose, lactitol • Antibióticos: neomicina, metronidazol • Mudar flora: Lactobacillus acidophillus • Erradicar H. pilory Substrato para reações enzimáticas no ciclo da uréia • Zinco Substrato na conversão de amônia • Aspartato → uréia • Ornitina → glutamina Redução no Número de Falso-Neurotransmissores Aminoácidos de cadeia ramificada • Leucina, isoleucina, valina Inibição de Receptores do Complexo Benzodiazepínico-Ácido Gama- Amino-Butírico • Flumazenil CASO CLINICO 2 MLC, 56 anos, natural e procedente de Itajaí, casada. Chamado para avaliar paciente internada com cirurgia torácica com quadro de hidrotórax a direita, com dreno funcionante (débito: 2000ml/d). A mesma apresenta diagnóstico de hepatite C há 3 meses, com múltiplas internações anteriores por ascite. Há 3 dias, durante a internação, a mesma passou a apresentar quadro de dor abdominal e rebaixamento do nível de consciência. Prescrição médica com dieta com 2g de sal, espironolactona 200mg/d e furosemida 120mg/di. Nega doenças prévias, uso de drogas e hemotransfusão. Uso de álcool ocasional, em fins de semana. • REG, hipocorado +/4, desidratado ++/4, ictérico ++/4. • AC: RCR 2T SS BNF • AP: MV abolido em HTD, com roncos difusos • ABD: RHA+. Baço palpável a 2cm de RCE. Macicez móvel presente. Ascite moderada. • MMII: sem particularidades • Presença de aranhas vasculares em tórax. • Flapping presente • Diurese: 2500ml/d : • Hb: 11,7 • Ht: 36% Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 - 10 • Leuco: 4000 • Plaquetas: 11500 • Albumina: 2,5 • BT: 8,1 o BD: 5,9 • TAP: 46% (normal até 70%) • Ureia: 121mg/dl • Creatinina: 3,2mg/dl • Na: 128mEq/L • K: 4,8mEq/L Dados importantes: rebaixamento do nível de consciência, perdendo 4,5L de líquido ao dia sem ingerir nada. Desidratação também leva a encefalopatia. A dor abdominal também é importante, podendo ser alguma infecção. Será que tem síndrome hepato-renal???? Será que a função renal está assim por causa da desidratação??? Nesse caso é feito uma prova de volume. É dado volume para a paciente, e vejo se a função renal melhora. • Retirada de 8 litros de liquido ascético • Reposto albumina para expandir o volume intravascular • Citometria total: 622 • PMN: 81% • Albumina: 0,5 • Proteína totais: 0,9 Sempre que o paciente tem ascite é preciso fazer paracentese. Para ter o diagnóstico de peritonite bacteriana espontânea é preciso ter 250 polimorfonucleares. Nesse caso, são 622 células, sendo 81% polimorfonucleares, ouseja, mais de 400. • Iniciado ceftriaxone 2g V 1x/d o Lactulose 30ml VO 8/8h o Dieta com 2g de sal e 30g de proteínas • Suspenso diurético (estava perdendo muito líquido) • Iniciado hidratação com coloide → piora a ascite, mas nesse momento precisamos tratar a insuficiência renal e encefalopatia porque podem levar à óbito.
Compartilhar