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Clóvis Dias 
Orientadora: Profa. Dra. Edja Trigueiro 
Coorientador: Prof. Dr. Lucas Figueiredo 
 
 
ainda está perto do Sanhauá 
 
 
 
A FORÇA DA FORMA : entre o rio e o mar, 
o Centro de João Pessoa ainda perto do Sanhauá. 
 
 
 
Universidade Federal da Bahia/dezembro de 2013 
1 
 
 
 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA - UFBA 
FACULDADE DE ARQUITETURA 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO 
 
 
 
 
 
 
 
 
CLÓVIS DIAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A FORÇA DA FORMA: entre o rio e o mar o Centro de João Pessoa ainda 
perto do Sanhauá 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Salvador 
2013 
1 
 
CLÓVIS DIAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A FORÇA DA FORMA: entre o rio e o mar o Centro de João Pessoa ainda 
perto do Sanhauá 
 
 
 
 
 
 
Tese submetida ao Programa de Pós- 
Graduação em Arquitetura e Urbanismo do 
Doutorado Interinstitucional – DINTER 
promovido pelas Universidades Federal da 
Bahia – UFBA e Federal da Paraíba – UFPB, 
como requisito parcial para obtenção do título 
de Doutor em Arquitetura e Urbanismo. 
 
 
Orientadora: Prof
a
. Dr
a
. Edja Bezerra Faria 
Trigueiro. 
 
Coorientador: Prof. Dr. Lucas Figueiredo de 
Medeiros. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Salvador 
2013 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 D541f Dias, Clóvis. 
 A força da forma: entre o rio e o mar o Centro de 
João Pessoa ainda perto do Sanhauá / Clóvis Dias.- 
Salvador, 2013. 
 261f. : il. 
 Orientadora: Edja Bezerra Faria Trigueiro 
 Coorientador: Lucas Figueiredo de Medeiros 
 Tese (Doutorado) - UFBA-UFPB 
 1. Arquitetura e urbanismo. 2. Morfologia urbana. 
3.Sintaxe do espaço. 4. Centralidade. 5. Centro antigo - 
João Pessoa-PB. 
 
 
 UFPB/BC CDU: 72+711(043) 
 
 
 
2 
 
 
 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Este trabalho eu dedico a minha mãe, Celina e a meu pai, Severino. 
4 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Meus agradecimentos sinceros à professora Edja Trigueiro, minha cara orientadora; 
e aos professores membros da banca examinadora, Lucas Figueiredo, Nelci Tinem, Francisco 
Costa e Rubenilson Teixeira; 
à professora Betta Romano, condutora do programa DINTER UFBA/UFPB; 
aos estimados colegas do DINTER; 
à Mercilia, Romildo, Diego e Eudes Raoni, partícipes em diversas etapas deste estudo; 
às instituições PPGAU/UFRN, NDHIR/UFPB, IPHAEP, IPHAN, Instituto Histórico e 
Geográfico Paraibano, FUNESC e IBGE. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
RESUMO 
 
Este trabalho, inserindo-se no campo disciplinar da morfologia urbana, investiga as 
transformações do Centro Antigo da cidade de João Pessoa a partir das transformações da 
cidade como um todo. A perspectiva de relações entre forma e usos do espaço é premissa 
central do estudo, daí decorrendo a utilização de conceitos, métodos e técnicas da Teoria da 
Lógica Social do Espaço (ou Sintaxe do Espaço), acompanhados de pesquisa de campo e do 
aporte da historiografia, de dados estatísticos, e de documentos cuja variedade vai da 
cartografia e iconografia histórica a peças de caráter publicitário e catálogos telefônicos. A 
análise sincrônica e diacrônica da configuração espacial delineou alterações na acessibilidade 
topológica da malha viária subjacente ao surgimento de novas centralidades e revelou a força 
integradora dos antigos caminhos que estiveram desde sua origem na construção da forma da 
cidade. No interior deste Centro Antigo quinze vias foram escrutinadas in loco com a 
finalidade de se identificar nexos entre configuração espacial, estado de 
conservação/preservação dos seus edifícios, seus usos original e atual. O panorama que daí 
emergiu sobre a dinâmica de transformação das relações forma/usos deu suporte à constatação 
da resistência do Centro Antigo de João Pessoa como seu núcleo integrador, tanto na escala 
municipal quanto na escala metropolitana. O Centro Antigo de João Pessoa permanece 
inserido na área de maior acessibilidade, com seus usos expressando a prevalência de um 
terciário de natureza popular. Entre o rio e o mar, o resiliente Centro da capital da Paraíba 
ainda está perto do Sanhauá. 
 
Palavras-chave: Morfologia urbana. Sintaxe do espaço. Centralidade. Centro antigo. João 
Pessoa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
ABSTRACT 
 
 
This study, pertaining to the field of urban morphology, investigates the transformations of 
the Old Centre of the city of João Pessoa, from the perspective of the city’s overall 
transformations. The relation between form and space use is the central premise of the study, 
which was examined in the light of concepts, methods and techniques pertaining to the Social 
Logic of Space (or Space Syntax), and by field research, added by information from 
statistical, historiographical and iconographical records that included items ranging from 
historical cartography to advertisements pieces and telephone directories. The synchronic and 
diachronic analyses of the spatial configuration demonstrated alterations in the topological 
accessibility of the street grid, which underpinned the formation of new centralities, and 
revealed the integrating power of the old ways that have acted, since their origins, in the 
building of the city form. Fifteen routes within the Old Centre were scrutinized in loco, with 
the aim to identify nexus concerning spatial configuration, state of conservation/preservation 
of building shells and their original and present uses. The resulting framework of the 
form/uses transformation dynamics delineates the Old Centre of João Pessoa as an integrating 
core, both in municipal and metropolitan scales, that remains embedded in the most accessible 
area, where prevails a down-market tertiary sector. Located between the river and the ocean, 
the resilient Centre of the capital city of Paraíba still stands by the Sanhauá River banks. 
 
 
Key-words: Urban morphology. Space syntax. Centrality. Old city centre. João Pessoa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
RÉSUMÉ 
 
 
Ce travail analyse les transformations du Centre Ancien de la ville de João Pessoa à partir des 
mutations de la ville dans son ensemble. Il s’inscrit ainsi dans le domaine d’études de la 
morphologie urbaine. La probabilité d’un lien entre forme et usages de l’espace constitue la 
premisse centrale de l’étude, d’où l’utilisation de concepts, méthodes et techniques de la 
Théorie de la Logique Sociale de l’Espace (ou Syntaxe de l’Espace), ainsi que la réalisation 
d’une recherche sur le terrain et l’apport de l’historiographie, de données statistiques, et de 
documents dont la variété va de l’iconographie et de la cartographie historique à des pièces de 
publicités et à des annuaires téléphoniques. L’analyse synchronique et diachronique de la 
configuration spatiale a révélé non seulement des changements dans l’accessibilité 
topologique de la maille viaire sous-jacente à l’apparition de nouvelles centralités, mais aussi 
la force intégratrice des anciens chemins ayant contribué à la construction de la forme de la 
ville depuis son origine. À l’intérieur de ce Centre Ancien, quinze voies ont été examinées in 
loco dans le but d’identifier des liens entre configuration spatiale, état de 
conservation/préservation des immeubles et leurs usages originaux et acutels. Le résultat decette analyse sur la dynamique de transformation de la relation forme/usages a soutenu la 
constatation à propos de la resistance du Centre Ancien de João Pessoa en tant que noyau 
d’intégration aussi bien à l’échelle municipale qu’à l’échelle métropolitaine. Le Centre 
Ancien de João Pessoa reste situé dans une zone de grande accessibilité, ses usages indiquant 
la prédominance du tertiaire populaire. Entre la rivière et la mer, le résilient Centre de la 
capitale de Paraíba reste toujours près du Sanhauá. 
 
 
Mots-clés: Morphologie urbaine. Syntaxe de l’espace. Centralité. Centre ancien. João Pessoa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
LISTA DE SIGLAS 
 
 
AN Arquivo Nacional 
AEP Arquivo Histórico do Estado da Paraíba/Funesc 
BN Biblioteca Nacional 
CCH Comissão do Centro Histórico de João Pessoa 
CIAM Congrès Internationaux d’Architecture Moderne 
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
IHGP Instituto Histórico e Geográfico Paraibano 
IPHAEP Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba 
IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional 
NDHIR Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional 
OEJP Oficina Escola de João Pessoa 
PMJP Prefeitura Municipal de João Pessoa 
SSS Space Syntax Symposium 
UCL University College London 
UFPB Universidade Federal da Paraíba 
UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
 
 
Figura 1 - Alegoria do Bom Governo, afresco da Sala dei Nove, Palazzo 
Pubblico, Siena, Itália........................................................................................................ 35 
 
Figura 2 - Veneza............................................................................................................. 38 
 
Figura 3 - Modelo das zonas concêntricas........................................................................ 43 
 
Figura 4 - Modelo dos setores........................................................................................... 45 
 
Figura 5 - Quadro de Tomás Santa Rosa: Rua Alegre - Um espaço aberto não 
convexo ou vários espaços convexos................................................................................. 49 
 
Figura 6 - Procedimentos e exemplo de construção de mapa de axialidade..................... 50 
 
Figura 7 - O sítio: a cidade da Paraíba, implantada em acrópole Detalhe do quadro 
Casas de lavradores no rio Paraiba, de Frans Post............................................................. 57 
 
Figura 8 - Carta holandesa da cidade da Paraíba de 1647................................................ 61 
 
Figura 9 - Estradas e Caminhos sobre a planta da cidade de 1858................................... 69 
 
Figura 10 - A rede de estradas de rodagem e a capital da Paraíba 
(em detalhe) - ano de 1858................................................................................................. 69 
 
Figura 11 - Evolução do percentual População Urbana (%) do Brasil............................. 76 
 
Figura 12 - Evolução em porcentagem das Populações Urbana e Rural no Brasil........... 77 
 
Figura 13 - Evolução da População Urbana (%) – Nordeste............................................ 77 
 
Figura 14 - Plano Urbanístico de Saturnino de Brito para a Cidade 
da Paraíba: Anos 191......................................................................................................... 79 
 
Figura 15 - Os antigos caminhos na malha urbana de João Pessoa – 1923...................... 84 
 
Figura 16 - Carta da cidade de João Pessoa em 1975....................................................... 89 
 
Figura 17 - Mancha urbana da conurbação de João Pessoa.............................................. 92 
 
Figura 18 - Carta de 1647................................................................................................. 94 
 
Figura 19 - Mapa de axialidade........................................................................................ 94 
 
Figura 20 - Cidade de 1647 - Mapa de linha de continuidade - Integração 
global (RN).......................................................................................................................... 94 
 
10 
 
Figura 21 - Croqui de 1692............................................................................................... 95 
 
Figura 22 - Mapa de axialidade........................................................................................ 95 
 
Figura 23 - Cidade de 1692 - Mapa de linha de continuidade - Integração global (RN)... 95 
 
Figura 24 - Planta de 1858................................................................................................ 96 
 
Figura 25 - Mapa de axialidade........................................................................................ 96 
 
Figura 26 - Cidade de 1858- Mapa de linha de continuidade - Integração global (RN).... 96 
 
Figura 27 - Planta da Cidade da Paraíba levantada no ano de 1923................................. 97 
 
Figura 28 - Mapa de axialidade para 1923........................................................................ 97 
 
Figura 29 - 1923 - Mapa de linha de continuidade – Integração global (RN)................... 98 
 
Figura 30 - Carta da Cidade de João Pessoa que integra o Plano 
de Desenvolvimento Urbano de 1976................................................................................ 101 
 
Figura 31 - Mapa de axialidade para o ano de 1975......................................................... 101 
 
Figura 32 - Mapa de linha de continuidade – Integração global (RN) – João 
Pessoa – 1975..................................................................................................................... 102 
 
Figura 33 - Mapa de linha de continuidade - Acessibilidade Global (10%) 
– João Pessoa – 1975.......................................................................................................... 103 
 
Figura 34 - Mapa de linha de continuidade - Acessibilidade RR=5 (10%) – João 
Pessoa – 1975..................................................................................................................... 103 
 
Figura 35 - Mapa de linha de continuidade – Integração global (RN) – João 
Pessoa – 2005..................................................................................................................... 104 
 
Figura 36 - Mapa de linha de continuidade - Acessibilidade Global (10%) 
– João Pessoa – 2005.......................................................................................................... 105 
 
Figura 37 - Mapa de linha de continuidade - Acessibilidade RR=7 (10%) 
– João Pessoa – 2005.......................................................................................................... 105 
 
Figura 38 - Mapas de linhas das cidades de Santa Rita (a), Bayeux(b) e Cabedelo(c)...... 106 
 
Figura 39 - Conurbação de João Pessoa: Mapa de linha 
de continuidade - Integração Global................................................................................... 107 
 
Figura 40 - Mapa de linha de continuidade - Acessibilidade 
Global (10%) – Conurbação............................................................................................... 108 
 
 
11 
 
Figura 41 - Mapa de linha de continuidade - Acessibilidade RR-7 
(10%) – Conurbação........................................................................................................... 108 
 
Figura 42 - Centros Geométrico, Demográfico e Morfológico de João Pessoa................ 112 
 
Figura 43 - Centros Morfológicos da cidade de João Pessoa em três momentos...................... 113 
Figura 44 - Centro Morfológico da conurbação de João Pessoa....................................... 114Figura 45 - Área da cidade de João Pessoa tombada pelo IPHAEP.................................. 118 
 
Figura 46 - Área da Cidade de João Pessoa tombada pelo IPHAN.................................. 119 
 
Figura 47 - Os principais bairros contidos na área do IPHAEP........................................ 119 
 
Figura 48 - Os principais bairros contidos sobre a carta de 1923..................................... 120 
 
Figura 49 - O Centro da cidade no Plano Diretor João Pessoa 1976................................ 123 
 
Figura 50 - Localização das agencias bancárias em João Pessoa – 1920......................... 127 
 
Figura 51 - Localização das agencias bancárias em João Pessoa – 1940......................... 128 
 
Figura 52 - Localização das agencias bancárias em João Pessoa – 1960......................... 129 
 
Figura 53 - Localização das agencias bancárias em João Pessoa – 1980......................... 130 
 
Figura 54 - Localização das agencias bancárias em João Pessoa – 2000......................... 133 
 
Figura 55 - Distribuição das agências bancárias sobre Mapa Axial 
de Acessibilidade RR (7) – 2010....................................................................................... 134 
 
Figura 56 - Distribuição das agências bancárias sobre Mapa Axial 
de Acessibilidade global.................................................................................................... 135 
 
Figura 57- Vias selecionadas para estudo......................................................................... 138 
 
Figura 58 - Detalhe do mapa de segmentos destacando-se as ruas estudadas................. 141 
 
Figura 59 - Usos no conjunto de vias estudadas............................................................... 144 
 
Figura 60 - Localização da Rua General Osório............................................................... 151 
 
Figura 61 - Altimetria da Rua General Osório.................................................................. 151 
 
Figura 62 - Usos Edilícios da Rua General Osório........................................................... 155 
 
Figura 63 - Mudança de usos: Rua General Osório.......................................................... 157 
 
Figura 64 - Localização da Rua Duque de Caxias............................................................ 158 
12 
 
Figura 65 - Altimetria da Rua Duque de Caxias.............................................................. 158 
 
Figura 66 - Usos edilícios da Praça Vidal de Negreiros.................................................. 162 
 
Figura 67 - Vazios nos andares superiores....................................................................... 163 
 
Figura 68 - Detalhe do mapa de segmento (ano 1975) com foco sobre a Rua 
Duque de Caxias................................................................................................................ 164 
 
Figura 69 - Usos edilícios da Rua Duque de Caxias........................................................ 165 
 
Figura 70 - Mudança de Usos: Rua Duque de Caxias...................................................... 167 
 
Figura 71 - Localização da Rua Visconde de Pelotas/Praça 1817................................... 168 
 
Figura 72 - Altimetria da Rua Visconde de Pelotas/Praça 1817...................................... 168 
 
Figura 73 - Usos edilícios da Rua Visconde de Pelotas................................................... 171 
 
Figura 74 - Localização da Rua Treze de Maio............................................................... 174 
 
Figura 75 - Altimetria da Rua Treze de Maio.................................................................. 174 
 
Figura 76 - Usos edilícios da Rua Treze de Maio............................................................ 175 
 
Figura 77 - Mudança de usos: Rua 13 de maio................................................................ 177 
 
Figura 78 - Localização da Rua da República.................................................................. 178 
 
Figura 79 - Altimetria da Rua da República..................................................................... 179 
 
Figura 80 - Usos edilícios da Rua da República............................................................... 183 
 
Figura 81 - Mudança de usos na Rua da República.......................................................... 184 
 
Figura 82 - Detalhe do mapa de segmento choice: Rua da República.............................. 185 
 
Figura 83 - Detalhe do mapa de segmento com foco sobre 
a Rua da República e correspondência dos atuais usos edilícios.................................... 185 
 
Figura 84 - Localização da Rua Maciel Pinheiro............................................................. 188 
 
Figura 85 - Altimetreia da Rua Maciel Pinheiro.............................................................. 188 
 
Figura 86 - Usos edilícios da Rua Maciel Pinheiro.......................................................... 191 
 
Figura 87 - Localização da Rua Amaro Coutinho............................................................ 195 
 
Figura 88 - Altimetria da Rua Amaro Coutinho............................................................... 195 
 
13 
 
Figura 89 - Usos edilícios da Rua Amaro Coutinho........................................................ 196 
 
Figura 90 - Mudança de usos na Rua Amaro Coutinho................................................... 198 
 
Figura 91 - Localização da Rua Beaurepaire Rohan........................................................ 201 
 
Figura 92 - Altimetria da Rua Beaurepaire Rohan........................................................... 201 
 
Figura 93 - Usos edilícios da Rua Beaurepaire Rohan..................................................... 202 
 
Figura 94 - Detalhe do mapa de segmento com foco sobre a Rua 
Beaurepaire Rohan e correspondência dos atuais usos edilícios.................................... 203 
 
Figura 95 - Localização da Rua Barão do Triunfo........................................................... 204 
 
Figura 96 - Altimetria da Rua Barão do Triunfo.............................................................. 204 
 
Figura 97 - Usos edilícios da Rua Barão do Triunfo........................................................ 205 
 
Figura 98 - Planta do loteamento da Rua Barão do Triunfo após alargamento 
da calha viária (UNI, fev/1930)......................................................................................... 207 
 
Figura 99 - Localização da Avenida Guedes Pereira........................................................ 210 
 
Figura 100 - Altimetria da Rua Guedes Pereira............................................................... 210 
 
Figura 101 - Usos edilícios da Rua Guedes Pereira......................................................... 212 
 
Figura 102 - Localização da Rua Gama e Melo............................................................... 214 
 
Figura 103 - Altimetria da Rua Gama e Melo.................................................................. 215 
 
Figura 104 - Usos edilícios da Rua Gama e Melo............................................................ 216 
 
Figura 105 - Localização da Rua da Areia....................................................................... 219 
 
Figura 106 - Altimetria da Rua da Areia.......................................................................... 219 
 
Figura 107 - Usos edilícios da Rua da Areia.................................................................... 221 
 
Figura 108 - Mudança de usos na Rua da Areia............................................................... 223 
 
Figura 109 - Localização da Avenida João Machado....................................................... 225 
 
Figura 110 - Altimetria da Avenida João Machado.......................................................... 225 
 
Figura 111 - Usos edilíciosda Avenida João Machado.................................................... 228 
 
Figura 112 - Mudança de Usos: Av. João Machado......................................................... 229 
 
14 
 
Figura 113 - Detalhe do mapa de segmento com foco sobre a Avenida 
João Machado e correspondência de usos......................................................................... 230 
 
Figura 114 - Localização da Rua das Trincheiras............................................................. 232 
 
Figura 115 - Altimetria da Rua das Trincheiras............................................................... 232 
 
Figura 116 - Usos edilícios da Rua das Trincheiras.......................................................... 234 
 
Figura 117 - Detalhe do mapa de segmento com foco sobre o eixo 
Duque de Caxias-Trincheiras e correspondência dos atuais usos edilícios...................... 236 
 
Figura 118 - Mudança de Usos: Rua das Trincheiras....................................................... 237 
 
Figura 119 - Localização do Eixo de Tambiá................................................................... 240 
 
Figura 120- Altimetria do Eixo do Tambiá...................................................................... 240 
 
Figura 121- Usos edilícios no Eixo do Tambiá................................................................ 241 
 
Figura 122 - Mudança de Usos: Eixo de Tambiá (Ruas Odon Bezerra 
e Monsenhor Walfredo Leal)............................................................................................ 243 
 
 
 
Painel 1 - Da pregnância da forma urbana: camelôs e cartazes......................................... 54 
 
Painel 2 - Espaços Ordenados do Religioso...................................................................... 60 
 
Painel 3 - Croqui (e cópia) de parte da Cidade da Paraíba feito 
por M. F. Grangeiro em 1692 (CD).................................................................................... 62 
 
Painel 4 - Ladeiras no Núcleo Matriz vencendo a encosta 1/2- Ladeira de São 
Frei Pedro Gonçalves (CD) 3- Ladeira do Goes, ligando a Rua General Osório 
a Rua da Areia (CD) 6- Ladeira da Misericórdia / Rua Peregrino de Carvalho (CD)........ 63 
 
Painel 5 - A Cidade Alta: a Igreja e o Estado.................................................................... 64 
 
Painel 6 - Na apertada singradura, é de verde a dimensão; o trem penetra 
no porto, o navio, na estação.............................................................................................. 65 
 
Painel 7 - O Largo do Erário (Praça Rio Branco), um espaço do Século XVII................ 67 
 
Painel 8 - Na encosta, a consolidação de um espaço laico no século XIX: Campo 
do Diogo............................................................................................................................. 70 
 
Painel 9 - A Cidade da Paraíba em fotos do final do Século XIX e início do XX............ 73 
 
Painel 10 - Registros fotográficos raros: a cidade fora do foco......................................... 74 
 
15 
 
Painel 11 - A demolições de igrejas para a modernização da cidade................................ 81 
 
Painel 12 - Ponto de Cem Reis: espacialidades de um mesmo lugar 
e uma repristinação.............................................................................................................. 82 
 
Painel 13 - A modernização da cidade............................................................................... 85 
 
Painel 14 - Plano urbanístico de Nestor de Figueiredo: Anos 1930.................................. 86 
 
Painel 15 - Agencias Centrais do Banco do Brasil............................................................ 131 
 
Painel 16 - Antigas agências bancárias.............................................................................. 132 
 
Painel 17 - Antigas residências: repertório de estilos........................................................ 148 
 
Painel 18 - Características exteriores de residências......................................................... 149 
 
Painel 19 - Antigas residências com novos usos............................................................... 149 
 
Painel 20 - Edifícios com novos usos................................................................................ 150 
 
Painel 21 - Rua General Osório......................................................................................... 152 
 
Painel 22 - Rua General Osório......................................................................................... 154 
 
Painel 23 - Rua Duque de Caxias antiga Rua Direita........................................................ 160 
 
Painel 24 - O Ponto de Cem Reis, Praça Vidal de Negreiros............................................ 162 
 
Painel 25 - Do Largo do Carmo ao das Mercês................................................................. 170 
 
Painel 26 - Rua Treze de Maio, uma rua de trás................................................................ 173 
 
Painel 27 - Rua da República............................................................................................. 181 
 
Painel 28 - Rua Maciel Pinheiro........................................................................................ 189 
 
Painel 29 - Rua Maciel Pinheiro, Rua do Comércio (EN, GC, GP).................................. 190 
 
Painel 30 - Rua Amaro Coutinho (Google)....................................................................... 194 
 
Painel 31 - Rua Beaurepaire Rohan.................................................................................. 200 
 
Painel 32 - Rua Barão do Triunfo...................................................................................... 208 
 
Painel 33 - Rua Guedes Pereira......................................................................................... 211 
 
Painel 34 - Rua Gama e Melo............................................................................................ 215 
 
Painel 35 - Rua da Areia.................................................................................................... 220 
2 
4 
16 
 
Painel 36 - Avenida João Machado.................................................................................... 226 
 
Painel 37 - Rua das Trincheiras.......................................................................................... 233 
 
Painel 38 - Eixo do Tambiá................................................................................................ 239 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
LISTA DE TABELAS 
 
 
Tabela 1 - Crescimento relativo da População Urbana (%) – Brasil................................ 76 
 
Tabela 2 - Crescimento relativo da População Urbana (%) – NORDESTE..................... 77 
 
Tabela 3 - População da Capital........................................................................................ 79 
 
Tabela 4 - Expansão Demográfica da cidade de João Pessoa: 1940 – 1970..................... 87 
 
Tabela 5 - Conurbação de João Pessoa: Expansão Demográfica (n° de habitantes)......... 91 
 
Tabela 6 - Medidas da Sintaxe Espacial da Capital da Paraíba......................................... 99 
 
Tabela 7 - Medidas da Sintaxe Espacial da Cidade de João Pessoa.................................. 100 
 
Tabela 8 - População dos Bairros Centrais de João Pessoa.............................................. 121 
 
Tabela 9 - Categorias de usos edilícios............................................................................. 124 
 
Tabela 10 - Critérios de eleição das vias........................................................................... 137 
 
Tabela 11 - Força Integradora das 15 vias eleitas.............................................................140 
 
Tabela 12 - Distribuição de usos no conjunto de vias eleitas........................................... 145 
 
Tabela 13 - Usos da Rua General Osório.......................................................................... 156 
 
Tabela 14 - Usos da Rua Duque de Caxias....................................................................... 166 
 
Tabela 15 - Usos da Rua Visconde de Pelotas.................................................................. 172 
 
Tabela 16 - Usos da Rua Treze de Maio............................................................................ 176 
 
Tabela 17 - Usos da Rua da República............................................................................. 182 
 
Tabela 18 - Usos da Rua Maciel Pinheiro......................................................................... 192 
Tabela 19 - Usos da Rua Amaro Coutinho....................................................................... 197 
Tabela 20 - Usos da Rua Beaurepaire Rohan................................................................... 203 
 
Tabela 21 - Usos da Rua Barão do Triunfo...................................................................... 206 
 
Tabela 22 - Usos da Rua Guedes Pereira......................................................................... 213 
 
Tabela 23 - Usos da Rua Gama e Melo............................................................................ 217 
 
18 
 
Tabela 24 - Usos da Rua da Areia.................................................................................... 222 
 
Tabela 25 - Usos da Avenida João Machado................................................................... 227 
 
Tabela 26 - Usos da Rua das Trincheiras......................................................................... 235 
 
Tabela 27 - Usos do Eixo Tambiá.................................................................................... 242 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
LISTA DE GRÁFICOS 
 
Gráfico 1 - Valores de Integração global das vias estudadas........................................... 139 
 
Gráfico 2 - Valores normalizados da posição das vias estudadas na hierarquia 
da integração global.......................................................................................................... 140 
 
Gráfico 3 - Usos no conjunto de vias............................................................................... 145 
 
Gráfico 4 - Distribuição percentual dos usos da Rua General Osório.............................. 156 
 
Gráfico 5 - Diacronia da hierarquia de acessibilidade global na escala 100.................... 156 
 
Gráfico 6 - Distribuição percentual dos usos da Rua Duque de Caxias........................... 166 
 
Gráfico 7 - Diacronia da acessibilidade global na escala 100.......................................... 166 
 
Gráfico 8 - Distribuição percentual dos usos da Rua Visconde de Pelotas...................... 172 
 
Gráfico 9 - Diacronia da acessibilidade global normalizada na escala 100..................... 172 
 
Gráfico 10 - Distribuição percentual dos usos da Rua Treze de Maio............................. 176 
 
Gráfico 11 - Diacronia da acessibilidade global na escala 100........................................ 176 
 
Gráfico 12 - Diacronia da acessibilidade global na escala 100........................................ 182 
 
Gráfico 13 - Distribuição percentual da Rua da República.............................................. 182 
 
Gráfico 14 - Distribuição percentual dos usos da Rua Maciel Pinheiro........................... 192 
 
Gráfico 15 - Diacronia da acessibilidade global na escala 100........................................ 192 
 
Gráfico 16 - Diacronia da acessibilidade global na escala 100........................................ 195 
 
Gráfico 17 - Distribuição percentual da Rua Amaro Coutinho........................................ 197 
 
Gráfico 18 - Diacronia da acessibilidade global na escala 100........................................ 200 
 
Gráfico 19 - Distribuição percentual dos usos da Rua Beaurepaire Rohan..................... 203 
 
Gráfico 20 - Distribuição percentual dos usos da Rua Barão do Triunfo......................... 206 
 
Gráfico 21 - Diacronia da acessibilidade global na escala 100........................................ 207 
 
Gráfico 22 - Distribuição percentual dos usos da Rua Guedes Pereira............................. 213 
 
Gráfico 23 - Diacronia da hierarquia de acessibilidade global na escala 100................... 213 
 
20 
 
Gráfico 24 - Distribuição percentual dos usos da Rua Gama e Melo............................... 217 
 
Gráfico 25 - Diacronia da acessibilidade global na escala 100........................................ 217 
 
Gráfico 26 - Distribuição percentual dos usos da Rua da Areia....................................... 222 
 
Gráfico 27 - Diacronia da acessibilidade global na escala 100........................................ 222 
 
Gráfico 28 - Diacronia da acessibilidade global na escala 100........................................ 227 
 
Gráfico 29 - Distribuição percentual dos usos da Avenida João Machado...................... 227 
 
Gráfico 30 - Distribuição percentual dos usos da Rua das Trincheiras............................ 235 
 
Gráfico 31 - Diacronia da acessibilidade global na escala 100......................................... 236 
 
Gráfico 32 - Distribuição percentual dos usos no Eixo do Tambiá.................................. 242 
 
Gráfico 33 - Diacronia da acessibilidade global na escala 100......................................... 242 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO................................................................................................................ 25 
CAPÍTULO 1: FUNDAMENTOS E MÉTODOS......................................................... 32 
1.1 O Espaço e o Lugar.................................................................................................... 32 
1.2 A Cidade: pensamentos, palavras e obras............................................................... 34 
1.3 O Centro de Cidade................................................................................................... 37 
1.3.1 Ir ao centro................................................................................................................ 37 
1.3.2 O coração da cidade................................................................................................... 38 
1.3.3 Centralidades............................................................................................................. 40 
1.4 Os Modelos Comportados para um Artefato nem Tanto...................................... 42 
1.5 A Teoria da Sintaxe do Espaço.................................................................................. 45 
1.5.1 O movimento natural................................................................................................. 47 
1.5.2 Barreiras e permeabilidades....................................................................................... 48 
1.5.3 Mapa de axialidade e mapa axial............................................................................... 49 
1.5.4 Mapa axial.................................................................................................................. 51 
1.5.5 Mapa de linha de continuidade: para revelar as sinuosidades de um caminho.......... 51 
1.5.6 Medidas sintáticas...................................................................................................... 51 
1.5.7 Mapa de segmento..................................................................................................... 54 
CAPÍTULO 2: A CONSTRUÇÃO DA CAPITAL DA PARAÍBA.............................. 56 
2.1 As circunstâncias........................................................................................................56 
2.2 Séculos XVII – XVIII................................................................................................. 58 
2.1.1 A Igreja risca o chão.................................................................................................. 58 
2.1.2 Uma centralidade no meio do caminho..................................................................... 60 
2.1.3 Os caminhos surgem.................................................................................................. 61 
2.1.4 A estagnação.............................................................................................................. 66 
2.3 Séculos XIX................................................................................................................. 67 
2.3.1 Os caminhos costuram............................................................................................... 68 
2.3.2 Rurbanidade............................................................................................................... 71 
2.3.3 No Varadouro............................................................................................................ 72 
2.4 Século XX.................................................................................................................... 73 
2.4.1 Aspectos da demografia urbana................................................................................. 75 
22 
 
2.4.2 As cirurgias da modernidade..................................................................................... 78 
2.4.3 Um desenho planejado para a expansão cidade........................................................ 78 
2.4.4 As igrejas tombam.................................................................................................... 80 
2.4.5 Os antigos caminhos continuam costurando............................................................. 83 
2.4.6 Clareiras e incisões: mais urbanismo cirúrgico........................................................ 84 
2.4.7 Um novo ensaio de urbanismo.................................................................................. 85 
2.4.8 Espraiamento............................................................................................................. 86 
2.4.9 Assimetrias e informalidades na produção do espaço da cidade............................... 88 
2.4.10 A cidade feita em pedaços....................................................................................... 89 
2.5 Análise Sintática da Cidade de João Pessoa: leitura de uma nova cartografia... 93 
2.5.1 Sobre pontos centrais e excentricidades.................................................................... 109 
2.5.2 O Centro não se desloca............................................................................................ 111 
CAPÍTULO 3: O CENTRO DA CIDADE DE JOÃO PESSOA................................. 116 
3.1 Definição do Centro Antigo para o estudo.............................................................. 117 
3.1.1 As questões sobre o patrimônio edificado................................................................ 121 
3.2 Expressões da transformação do Centro Antigo.................................................... 123 
3.2.1 Categorias de uso..................................................................................................... 123 
3.2.2 Tempos da vida urbana: evasão de serviços centrais............................................... 125 
3.2.3 Quinzes vias selecionadas........................................................................................ 136 
3.2.4 Análise sintática do conjunto de vias eleitas............................................................ 139 
3.2.5 Categorias de uso..................................................................................................... 141 
3.2.6 A vida espacial no conjunto de vias eleitas............................................................. 141 
3.2.7 Apreciação do acervo edilício: as residências......................................................... 146 
3.2.8 Rua General Osório.................................................................................................. 151 
3.2.9 Rua Duque de Caxias............................................................................................... 158 
3.2.10 Eixo Visconde Pelotas – Praça 1817...................................................................... 168 
3.2.11 Rua 13 de maio....................................................................................................... 173 
3.2.12 Rua da República.................................................................................................... 178 
3.2.13 Rua Maciel Pinheiro............................................................................................... 186 
3.2.14 Rua Amaro Coutinho.............................................................................................. 193 
3.2.15 Rua Beaurepaire Rohan.......................................................................................... 199 
3.2.16 Rua Barão do Triunfo............................................................................................. 204 
3.2.17 Avenida Guedes Pereira......................................................................................... 208 
23 
 
3.2.18 Rua Gama e Melo.................................................................................................. 214 
3.2.19 Rua da Areia.......................................................................................................... 218 
3.2.20 Avenida João Machado......................................................................................... 224 
3.2.21 Rua das Trincheiras............................................................................................... 231 
3.2.21 Eixo do Tambiá...................................................................................................... 238 
CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................... 245 
REFERÊNCIAS.............................................................................................................. 248 
APÊNDICE...................................................................................................................... 257 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
 
 
As relações entre os períodos históricos e a organização espacial nos revelarão uma sucessão de 
sistemas espaciais na qual o valor relativo de cada lugar está sempre mudando no correr da história. 
Milton Santos 
Introdução 
 
25 
 
INTRODUÇÃO 
 
Compreender a cidade como uma situação relacional permite compreender o papel que 
desempenha seu espaço em sua vida social. A estrutura físico-espacial das cidades é resultado 
de processos sociais e/ou econômicos de transformação que, de forma incremental, vai se 
efetivando ao longo do tempo, produzindo, assim, um artefato configuracional e funcional 
complexo. As características da morfologia de uma cidade consistem num determinante 
fundamental na identificação das ocupações de seu espaço. 
O crescimento da cidade deu-se de uma maneira territorialmente extensiva, fenômeno 
que se processou mais intensamente nos anos 70 do século XX. A expansão da mancha 
urbana e o surgimento de novos centros suscitaram, a partir de então, abordagens analíticas, 
com o objetivo de se buscar identificar quais são essas novas áreas com atributos de 
centralidade e onde elas se localizam face às novas configurações que assumem o espaço 
urbano em função daquele processo de expansão
1
 (TOURINHO, 2004, p. 15-16). 
Da cidade brasileira, particularmente, o que se vê, ao longo da produção de seu espaço 
urbano, é que ela é o reflexo das desigualdades e contradições inerentes a nossa sociedade 
(MARICATO,2011, p. 170, in ARANTES, 2001), configurando-se fragmentada, 
“desmontada” em sua forma, no dizer de Ana Fernandes. Sua expansão e o consequente 
surgimento de outros centros vêm provocando uma nova valoração de algumas áreas da 
cidade, mais marcadamente seu Centro Antigo, com relação ao conjunto urbano. 
Daí decorre um processo de transformação em suas funções econômicas e 
administrativas, implicando em redução de seu contingente demográfico, de redução de 
algumas atividades ordenadoras, o que se traduz pela degradação, deterioração ou depredação 
do patrimônio edificado, não raro, de significativo valor estético ou histórico. Em face dessa 
realidade, Paul Virilio (1993, p. 22) observa que: 
 
Atualmente, a abolição das distâncias de tempo operada pelos diversos 
meios de comunicação e telecomunicação resultou em uma confusão cujos 
efeitos (diretos e indiretos) são sofridos pela imagem da cidade, efeitos de 
torção e distorção iconológicas cujas referências mais fundamentais 
desapareceram uma após as outras: referências simbólicas e históricas, com 
 
1
Além do mais, propostas surgiam com o objetivo de dotar outras áreas da cidade, que não seu centro antigo, de 
atributos que as potencializassem, pelo menos funcionalmente, como novos centros. Ações nesse sentido 
implicavam elevados custos de infraestruturação, quando as áreas já consolidadas podiam ainda dispor de 
estoque de vazios para serem ocupados. 
26 
 
o declínio da centralidade, da axialidade urbana; referências arquitetônicas, 
com a perda de significado dos equipamentos industriais, dos monumentos, 
mas, sobretudo, referências geométricas, com a desvalorização do antigo 
recorte, da antiga repartição das dimensões físicas. 
 
A centralidade urbana percebida como fato social permite entender como os centros 
adaptam-se face às transformações políticas, sociais e culturais que surgem no decorrer de 
sucessivas épocas. 
Lefebvre (2000, p. 383) reconhece que “cada época, cada modo de produção, cada 
sociedade particular engendrou sua centralidade”, para, mais adiante, concluir que a 
centralidade desloca-se, o que implica uma complexa relação entre o espaço da cidade e “os 
tempos da vida urbana”. 
O estudo que ora se apresenta vem se somar a outros que abordam as transformações 
nas áreas centrais das cidades. O foco desses estudos é a forma do espaço da cidade e sua 
relação com os usos dela. Neste espaço, um lugar, seu Centro, é especificamente analisado 
através de seus usos correlacionados a seus atributos sintáticos, como a acessibilidade, obtidos 
a partir dos conceitos e métodos da Teoria da Lógica Social do Espaço (ou Teoria da Sintaxe 
do Espaço). 
Os denominados Centros Históricos, por distintos de seus respectivos espaços urbanos 
onde estão inseridos, foram assim definidos a partir da ocasião em que se processava sua 
decadência, por ocasião do surgimento de outras áreas portando centralidade e que passaram a 
fazer concorrência a esta área matriz
2
. A partir daí, ocorreu de se questionar acerca das 
características deste Centro e da essência do papel por ele desempenhado. 
Observa-se, desde as últimas décadas do século XX, uma subtração gradativa da 
centralidade do Centro Antigo de João Pessoa, na medida em que ele não consegue mais 
continuar desempenhando o comando de um sistema cada vez mais complexo da vida urbana, 
passando, dessa forma, a competir com outras áreas da cidade. 
Inclusive, Centro Histórico é denominação que vem suscitando questionamentos de 
muitos estudiosos que consideram todo centro como histórico. Ana Fernandes, por exemplo, 
aceita como mais adequada, a denominação Centro Antigo, mesmo reconhecendo algumas 
dificuldades em distinguir o Centro Antigo em espaços urbanos onde o centro já esteve 
situado em outros subespaços, não sendo o caso da cidade de João Pessoa. 
 
2
 Expressão apresentada por Carrión (2000, p.28), para denominar o centro urbano inicial. 
27 
 
De uma forma geral, as discussões sobre o tema adquiriram uma dimensão mais ampla 
na medida em que elas se voltaram para a “funcionalidade operativa” dos centros urbanos 
congestionados. Assim, tais áreas passaram, de forma disseminada mundo afora, a ser objeto 
de atenção de programas de revitalização ou refuncionalização. Esses programas estão 
inseridos em contextos transformadores bem mais amplos – em escalas nacional e global – 
tanto sob o aspecto econômico quanto sob o aspecto socioespacial e são provocadores de 
acesos debates acadêmicos (TOURINHO apud GITAHY; LIRA, 2007, p.14). Sobre o tema, 
Argan já enfatizava que: “Deve-se levar em conta que a condição de sobrevivência dos 
núcleos antigos remanescentes é determinada pela solução urbanística geral” (ARGAN, 2005, 
p.77). 
Na verdade, o que expressa Argan corresponde a uma visão relacional da cidade, que 
se traduz em análise configuracional da estrutura urbana, vendo nessa estrutura um sistema, 
cujos elementos mantêm uma relação de interdependência (HILLIER apud MEDEIROS, 
HOLANDA; TRIGUEIRO, 2008). 
As mudanças morfológicas da cidade, decorrentes dos sucessivos incrementos da área 
urbana, têm forte correlação com o processo de formação de centralidades novas e das 
transformações a que o núcleo antigo é submetido. 
Neste sentido, para Santos (1978, p.207): “As relações entre os períodos históricos e a 
organização espacial (...) nos revelarão uma sucessão de sistemas espaciais na qual o valor 
relativo de cada lugar está sempre mudando no correr da história”. 
A cidade compreendida como artefato de produção social, o que ela é, significa 
compreender a sociedade em seus passados. É este o caminho que percorre este trabalho, 
como se verá adiante, quando procura ligar a construção da capital da Paraíba, a configuração 
de seu espaço, de seus aportes, às circunstâncias em que ela se inseriu, política, econômica ou 
socialmente, em suma, às circunstâncias de sua história; a história aqui assumida como 
“processo social de conhecimento”, como distinguiu Fernandes (1999, p. 40-42). 
No âmbito nacional, tem sido ampliada a bibliografia voltada para estudos sobre 
cidades capitais, como Brasília, Belém, Natal, Recife, Aracaju, Curitiba, Porto Alegre, o que 
tem contribuído para consolidar a Teoria da Sintaxe do Espaço com um corpus científico 
aplicado à análise do espaço urbano construído. 
Um acervo significativo de estudos neste campo vem se constituindo desde os anos 
1990, quando Frederico de Holanda, usando a Teoria da Sintaxe do Espaço, analisa a 
28 
 
morfologia de assentamentos humanos, “olhando para a sociedade espacialmente”, na 
tentativa de estabelecer uma taxonomia polarizada entre a formalidade e a urbanidade. 
Em seu estudo, Holanda estende sua atenção para diferentes sociedades e 
assentamentos, tais como os pré-colombianos, os pré-coloniais na África, os feudais na 
Europa e o assentamento modernista da capital brasileira. Neste percurso, em uma mesma 
linha de compreensão, relativamente à cidade de Brasília, faz-nos ver antecedências, extraídas 
de aspectos morfológicos (HOLANDA, 2002). 
Olhando para a configuração e atenta à conservação e à substituição do patrimônio 
arquitetural, Trigueiro, com seus estudos, vem construindo, com Holanda e Amorim, para 
citar alguns pioneiros, um consistente acervo de trabalhos acadêmicos. A contribuição de 
Trigueiro está voltada notadamente para estudar os efeitos de mudança nos padrões de uso do 
solo na área central da cidade de Natal e seus efeitos sobre a preservação de seu patrimônio 
edificado, ligando tais efeitos às transformações configuracionais da cidade. Com a mesma 
preocupação com o patrimônio construído, Holanda, voltando-se para a Brasília modernista 
do Plano Piloto, faz estudo da configuração urbana da cidade, ensinando com os pés
3
 e com 
surpreendente tompoético. 
Estudos para Porto Alegre (Decio Rigatti), Belém do Pará (José Julio Lima), além de 
Aracaju, Curitiba, Florianópolis, entre outras capitais, repercutem a utilização da TSE na 
produção de conhecimentos sobre o espaço urbano no Brasil. 
É, portanto, neste contexto de estudos sobre o ambiente urbano que está inserido este 
trabalho referente ao Centro Antigo da Cidade de João Pessoa, lugar em que são verificadas 
com intensidade expressões que vão da depreciação física do edificado à degradação de usos. 
 
Objeto e Objetivo 
 
As evidências mostram não ser válido descrever o artefato cidade em termos de seus 
usos temporários, atribuídos a partir de um contexto externo ao mesmo. Mas parece ser 
adequado estudar uma possível relação entre a forma deste artefato e os usos que nele se 
localizam até mesmo por sua temporalidade. Muitos estudos vêm se debruçando sobre o tema, 
 
3
 Da expressão “apreender com os pés” de Frederico de Holanda em Brasília, cidade moderna, cidade eterna. 
29 
 
sendo positivamente observadas as correlações entre propriedades advindas da forma urbana 
apresentadas por seus eixos constituintes e os usos. 
Para a cidade de João Pessoa, a relação entre a forma da cidade e a função 
desempenhada pelo seu Centro será o objeto que estará sob o enfoque deste que tem como 
objetivo observar a correlação entre tais propriedades ditas sintáticas e os usos que se pode, 
diacronicamente, observar. O objetivo específico que vai balizar o percurso metodológico a 
ser seguido pelo estudo é: 
- o registro de expressões da transformação do Centro Antigo de João Pessoa, quais 
sejam, os vazios esvaziados
4
, a evasão de serviços bancários e cartoriais, juntamente com as 
mudanças de usos edilícios no Centro Antigo de João Pessoa. 
 
Premissa 
 
A forma da cidade, traduzida pela configuração de suas vias, o espaço aberto da 
cidade, oferecendo-se ao olhar e ao caminhar de seus habitantes, é um determinante potencial 
dos movimentos nessas vias. A morfologia da cidade e, decorrente dela, a acessibilidade na 
forma conceitual e metodológica da Teoria da Sintaxe do Espaço podem determinar a 
formação de centralidades e as mudanças de usos edilícios. 
Concernente ao aspecto metodológico do estudo, no âmbito da pesquisa bibliográfica, 
percorreram-se três caminhos: o primeiro, de conceitos preambulares sobre cidade; o segundo, 
o conhecimento do referencial teórico e metodológico no campo da TSE. Estes dois primeiros 
percursos justapõem-se no propósito de contextualizar a teoria adotada neste estudo. O 
terceiro caminho, a pesquisa bibliográfica, foi percorrido no sentido de estabelecer o discurso 
do conhecimento da construção da cidade de João Pessoa, de modo a possibilitar uma 
identificação dos marcos temporais e espaciais que substantivassem as análises. 
A forma do espaço urbano, em correspondência a marcos temporais estabelecidos, 
propiciará a análise da dinâmica das transformações nele ocorridas, a partir de determinadas 
expressões, como a ocorrência de vazios, as mudanças de usos e a evasão de serviços 
“centrais”. 
 
4
 Vazios esvaziados é uma expressão usada por Andrea Borde em sua tese Vazios urbanos: perspectivas 
contemporâneas, referindo-se aos vazios urbanos não preexistentes. 
30 
 
O estudo está estruturado em três capítulos. O capítulo primeiro apresenta 
pensamentos diversos sobre cidade, no que tange principalmente a seus aspectos 
morfológicos, em uma sequência até a Teoria da Sintaxe Espacial. 
Da Teoria da Sintaxe do Espaço, particularmente, são apresentadas as premissas 
teóricas que lhe dão sustentação e os aspectos metodológicos que dão constituição às medidas 
sintáticas a serem utilizadas no estudo. A elaboração de mapas axiais, procedimento de 
análise mais utilizado em estudos da TSE, é feita a partir da modelagem da representação 
linear dos espaços abertos universalmente acessíveis – vias e logradouros públicos – com a 
inserção do menor conjunto das mais longas linhas que se pode inserir entre barreiras 
(quadras, edifícios, mobiliário urbano, obstáculos naturais). 
Como várias linhas axiais representam um caminho urbano em razão de sua 
sinuosidade, utilizou-se, para este estudo, o conceito de eixo de continuidade, que agrega 
essas várias linhas axiais em sua máxima extensão, respeitando uma sinuosidade máxima pré-
definida. Dessa forma, o efeito de centralidade em mapas de integração é reduzido, 
expressando mais claramente o caráter distribuído da acessibilidade e destacando a 
importância de caminhos curvos ou sinuosos (FIGUEIREDO, 2005, p.164). 
O capítulo segundo apresenta o processo de formação do espaço urbano da cidade de 
João Pessoa; a descrição da formação da cidade com suas delimitações marcadas 
temporalmente em função de sua cartografia histórica está acoplada às suas características 
sintáticas, gerando uma cartografia que será utilizada para análise diacrônica do objeto do 
estudo. Nesta parte do estudo, por meio dos mapas de linha de continuidade, desvenda-se a 
importância, permanente no decorrer do tempo, dos antigos caminhos da nascente povoação. 
Vê-se que, estendida a análise para a escala metropolitana, esta assertiva vem a se consolidar. 
No terceiro capítulo, a escala de análise é o Centro Antigo. A posição relativa, sob a 
Sintaxe Espacial, desta área da cidade com relação à cidade em seu todo é expressa e vista por 
meio de quinze vias selecionadas. O processo de transformação do Centro Antigo é expresso a 
partir das análises destas quinze vias selecionadas que foram objeto de pesquisa de campo, 
com o objetivo de identificar os usos segundo categorias estabelecidas no estudo. 
 
 
 
31 
 
 
A cidade mais bem cortada que vi, Sevilha; cidade que veste o homem sob medida. Ao corpo do 
sevilhano toda se ajusta e ao raio de ação do corpo, ou sua aventura. Sempre a medida do corpo 
pequeno ou pouco: ao teto baixo do míope, aos pés do coxo. Nunca tem panos sobrando nem bairros 
longe; sempre ao alcance do pé que não tem bonde. Com intimidade ele usa ruas e praças; com 
intimidade de quarto mais que de casa. E mais que intimidade, até com amor, como um corpo que se 
usa pelo interior. 
João Cabral de Melo Neto 
Capítulo 1 
32 
 
CAPÍTULO 1: FUNDAMENTOS E MÉTODOS 
 
1.1 O Espaço e o Lugar 
 
O espaço de que trata este estudo é o da cidade, o urbano, entendido como espaço 
geográfico, econômico e social, e não o espaço geométrico, intimamente relacionado com a 
arquitetura dentro de uma visão de cidade como entidade global, unitária e coerente, cedendo 
lugar à compreensão do espaço urbano como espaço geográfico, econômico e social 
(TOURINHO, 2004, p.16). 
As leituras de Santos, Massey, Lefebvre, Coutinho, entre outros, sobre o espaço tanto 
foram fundamentais quanto sintônicas com relação às premissas consideradas no estudo. 
Segundo Massey (2009, p.95-144), o espaço é o palco onde se produzem as relações 
sociais, que, por sua vez, decorrem de “práticas materiais efetivas e sempre em processo”. 
Assim, o espaço estará sempre aberto à imprevisibilidade, a “relações além, elementos 
potencias do acaso”. Ele se constitui através de inter-relações, sejam da escala mais restrita às 
mais amplas até a global. Ainda no espaço, compreende-se a possibilidade da pluralidade, 
como também a coexistência de trajetórias diversas. O espaço e a multiplicidade são 
“coconstitutivos”. 
De acordo ainda com Massey (2009, p.97), o espaço está sempre em construção, ele é 
“esfera da produção contínua e da reconfiguração da heterogeneidade, sob todas as suas 
formas – diversidade, subordinação, interesses conflitantes”. Precisamente porque o espaço, 
nesta interpretação, é um produto de relações-entre,relações que estão necessariamente 
embutidas em práticas materiais que devem ser efetivadas. Igual pensamento tem Santos 
(1978, p.150) com relação ao espaço nunca concluído, sempre se fazendo. 
A prática espacial de uma sociedade se descobre decifrando seu espaço (LEFEBVRE, 
2000, p. 48). Não há sociedade aespacial (SANTOS, 2002, p.201) daí a emergência da ideia 
do espaço praticado, construído do relacional, produzido através de práticas de envolvimento 
material (MASSEY, 2009, p. 97). 
Para Coutinho (1998, p. 108), o essencial da arquitetura é a interioridade de seus 
espaços; saindo dos limites das considerações no domínio da estética, a arquitetura, para ele, é 
33 
 
a realidade de seu espaço, capaz de criar e de condicionar vivências. E, na mesma tônica, ele 
elabora esta expressão: 
 
Na arquitetura, cristalizam-se não apenas afetos, conceitos, intuições 
sugeridas em acidentalidade, porém, sobretudo, determinações de ser e de 
estar; sendo sob esse prisma que o arquiteto vem a nomear-se demiurgo, 
criando um espaço que continua em seu controle, modelando o proceder dos 
entes que nele penetram (COUTINHO, 1998, p.170). 
 
Bem próxima está a observação de Massey (p.141), para quem o espaço “não é em si 
mesmo um tipo de forma espacial nua (distância, o grau de abertura, o número de 
interconexões, proximidade, etc.), mas o conteúdo relacional daquela forma espacial e, 
particularmente, a natureza das relações de poder aí embutidas”. 
Massey, na abertura de seu livro Pelo Espaço (2009, p.20), sublinha com justeza, 
afirmando que “o espaço é o produto de inter-relações”. Hillier (2007, p. 142) adianta, 
considerando que a forma do espaço é função da forma de solidariedade social. A ligação 
entre a sociedade e o espaço não pode ser limitada a questões de cultura e estilo de vida. 
Outras evidências sugerem que o espaço é ainda mais profundamente ligado com as maneiras 
em que as formações sociais constroem e se transformam (HILLIER, 2007, p. 27; 
HOLANDA, 2002, p. 147- 153). Consoante com esse pensamento é a observação de Santos 
(2002, p. 109), para quem o espaço é a síntese, sempre provisória, entre o conteúdo social e as 
formas espaciais. O presente estudo tem justo como um pressuposto de que a forma guarda, 
sim, leis entranhadas dessas “inter-relações” que balizam as transformações ou as 
permanências sociais. 
O espaço é uma forma durável que não se desfaz paralelamente à mudança de 
processos; ao contrário, alguns processos adaptam-se às formas preexistentes enquanto outros 
criam novas formas para se inserir nelas. 
No início do século XX, o urbanismo estava se reformulando na busca de bases 
científicas, em um processo de distanciamento de suas origens, quando se impunha o interesse 
pelo aspecto puramente formal. O que passa a se impor, a partir de então, é a apreensão e a 
análise da natureza dos fenômenos urbanos, das leis que lhes são determinantes. 
Na busca de cientificidade, o interesse pela natureza do fenômeno urbano, cujas leis 
podem ser desvendadas, impõe-se ao interesse pela forma (TOURINHO, 2004, p. 15 apud 
34 
 
GITAHY, 2007). Mas forma urbana e natureza do fenômeno urbano não se “estranham” de 
maneira excludente; antes, eles se entranham. 
Quanto ao conceito de lugar, ele é de menos abrangência relativamente ao conceito de 
espaço, vale dizer mais específico. O lugar é uma parte discreta do espaço. Lugar é um espaço 
físico delimitado (seus limites não são impermeáveis), possuidor de autenticidades próprias, 
espaço praticado, internamente gerado e definido por suas diferenças em relação a outros 
lugares. Isto em razão de agregar atributos que o distinguem em um subespaço demarcado 
física e simbolicamente. 
O lugar se define como funcionalização do mundo; é por ele que o mundo é percebido 
empiricamente (Santos). Os lugares colocam de forma particular a questão de nosso viver 
juntos. 
Para Giddens (1991, p. 27), lugar é o cenário físico geograficamente determinado, 
onde são praticadas as atividades sociais; desse modo, um reflexivo pertencimento gerado por 
orientações sociais o delimita. Esse pertencimento, diria mesmo acolhimento, Coutinho 
(1998, p.169) define como um atributo do lugar: 
 
Com efeito, o lugar se configura para certa índole de eventos, mas dir-se-ia 
melhor que ele se afeiçoa para acolhê-los com prioridade sobre outros que 
também lá terão abrigo; cabendo no conceito de lugar a conjuntura de este 
ser assim um elástico amplexo, no qual se contêm as naturalidades do estojo 
e as menores que, sem desajustes se intrometem nele. 
 
Santos apud Abreu (in SPOSITO et al., 2011, p.21) afirma que o lugar está hoje em 
todo lugar, mas essa tendência homogeneizadora de abolição do lugar como singularidade 
revigora o processo de guardar essa singularidade. Para essas sociedades, não seria estranho 
que, “vivendo” o presente, “desconfiando” do futuro, procurem “revalorizar” o que 
construíram no passado. 
 
1.2 A Cidade: pensamentos, palavras e obras 
 
Tanto quanto uma unidade geográfica e ecológica, a cidade é um artefato que, 
essencialmente, dispõe um mecanismo de estruturação espacial, que vai atuar na 
potencialização de interação entre seus habitantes ou usuários. E nela, qual um “mecanismo 
35 
 
psicofísico”, atuam os interesses coletivos e individuais, expressando-se a partir da estrutura 
material da cidade e também alterando essa estrutura (PARK apud VELHO, 1987, p.270). 
A palavra arquitetura é de natureza bissêmica, na medida em que ela é designativa de 
um produto, uma cidade, por exemplo, como também é designativa de um processo de 
produção. Segundo Argan (2005, p.75), “a cidade não é Gestalt mas Gestaltung”
5
, e adiantou, 
em uma referência ao afresco Alegoria do Bom Governo
6
, de Ambrogio Lorenzetti (Figura 1): 
 
Ambrogio, tido por seus contemporâneos como filósofo e sábio, não 
representou a cidade como construída, mas em construção, contrapondo, 
assim, não apenas a espacialidade diferente, como a diferente temporalidade 
a vida e do trabalho urbanos e da vida e do trabalho não-urbanos. 
 
 
Figura 1 - Alegoria do Bom Governo, afresco da Sala dei Nove, Palazzo Pubblico, 
Siena, Itália 
Fonte: <http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Ambrogio_Lorenzetti_Effects_ 
of_Good_Government_in_the_city_-_Google_Art_Project.jpg>. 
 
A cidade, de fato, é permanente modificação de forma, permanente potencialização 
para uma variedade de funções. Não é legítimo nem útil definir a forma cidade como um 
objeto, mas, sim, como uma situação relacional (HOLANDA et al.,2000, p.13). A cidade é a 
resultante da articulação estruturada de uma prática social a uma configuração espacial. 
Textos comentadores sobre as cidades foram escritos, buscando compreendê-las 
objetivamente. Esses escritos, com essa função objetivante, contribuíram “para fazer do 
espaço construído, um objeto conceitual e para aumentar o peso de suas denotações” 
(CHOAY, 2010, p.52,53). Mas é, segundo ainda Choay, no Quattrocento, que Leonardo Bruni 
 
5
 Gestalt = forma, aparência, produto. Gestaltung = concepção, formação, projeto. 
6
 Pintor e humanista do renascimento italiano, autor de um conjunto de afrescos do Palazzo Publico de Siena. 
36 
 
inaugura, com sua obra referente à Florença
7
, uma abordagem mais distanciada, iniciando por 
mostrar a cidade inserida em um contexto espacial, situando-a geograficamente e 
metodicamente ao descrever seu espaço construído. 
Mesmo marcadamente laudatória, a obra de Bruni foi, por longo tempo, considerada 
única, por seu aspecto objetivo, entre os retratos escritos de cidades. Ao considerar a cidade 
como um artefato, ele inicia um procedimento de estudo que, marcado pelo distanciamento e 
pela sistematização, teria sequência no Quattrocento. 
Mas foi Leon Battista Alberti
8
, distinto artista e humanista do Quattrocento, quem, 
através de suaobra, ofereceu uma concepção estritamente arquitetônica, à margem das artes 
plásticas e decorativas, delineando seu papel de arquiteto à concepção do conjunto. 
A Alberti interessava menos a utópica cidade ideal e mais a efetiva realidade da cidade 
(ARGAN, 2005, p. 123). Ele se ateve menos ao aspecto da forma e mais à gênese da cidade, 
reconhecendo nela, em sua estrutura formal, um reflexo da estrutura político-social 
(ALBERTI, 2012, p.123,138-166). 
Bem mais adiante no tempo, caminhando para os fins do Dezenove, Camilo Sitte, 
designando a cidade antiga sob o nome de “patrimonio urbano”, arrancou-a de sua aura de 
museu, reintegrando-a à vida contemporânea. Ele, identifica no tecido urbano da cidade do 
passado, em sua escala e suas regras de articulação, atributos que propiciam as funções de 
proximidade, que poderiam incitar invenções na produção das cidades do futuro. 
Para Daniel Wieczorek, tradutor francês de Der Städtebau, o limite aos problemas 
artísticos, estabelecido por Sitte no campo de suas investigações, é uma opção metodológica, 
não se traduzindo isto em redução do urbanismo ao aspecto artístico. Na verdade, Sitte produz 
uma análise morfológica a partir da cidade antiga. 
Choay (2010, p.300) destaca que seus levantamento in situ assinalam um enfoque 
científico a serviço de uma análise morfológica. Os pensamentos de Alberti e de Sitte sobre a 
forma estabelecem um campo de proximidade com a Teoria da Sintaxe do Espaço Construído. 
 
 
7
 A Laudatio florentinae urbis em 1403 (CHOAY, 2010, p.57). 
8
 Sua obra De Re Aedificatoria é, para Choay, um texto fundante da Arquitetura. Apesar de uma ruptura com a 
tradição, inicia-se por elogio aos antepassados e às suas realizações. Esta importância oferecida por Alberti ao 
passado não pode ser traduzida como um cunho de tradicionalismo, pois ela está marcada por uma visão 
prospectiva e inovadora, tratando-se antes de um procedimento da análise. 
37 
 
1.3 O Centro de Cidade 
 
Dizer cidade e espacialidade urbana é dizer também centro e centralidade. O termo 
centro urbano abarca, na realidade, uma extensa variedade de situações, cuja complexidade é 
função da dimensão da cidade, de seu sítio, do desenvolvimento socioeconômico, entre outros 
fatores. O centro é um elemento gerador da estrutura urbana. O centro urbano, lugar do poder 
organizador
9
, público e privado, espontâneo ou regulamentado, comanda as relações com as 
outras áreas da cidade (LEFEBVRE, 2000, p.121). 
Sob este aspecto, o centro constitui-se em uma verdadeira síntese, refletindo, ao 
mesmo tempo, as formas atuais da vida da cidade e seu passado, seja pela evolução histórica 
da cidade e da região, seja pelo sítio escolhido originalmente para instalar o assentamento 
urbano (SANTOS, 2012, p.28). É onde se condensam os meios de ação, os conhecimentos, a 
informação. É, notadamente, nas cidades de maior porte onde o centro urbano adquire sua 
originalidade, correspondendo a um subespaço diferenciado em razão da diversidade de 
funções ou dos registros das etapas sucessivas de seu crescimento urbano. 
 
1.3.1 Ir ao centro 
 
Os centros surgem na proporção em que se dá a expansão da área urbanizada. Em uma 
cidade bastante grande, não é incomum a existência de vários deles: um civil, um religioso, 
um ou mais centros comerciais, com as lojas e as sedes das associações mercantis. Esses 
lugares podem ser parcialmente sobrepostos. Veneza, um importante empório marítimo, ponte 
entre o Ocidente e o Oriente, era uma cidade de 150.000 habitantes na Idade Média, ocupando 
uma área de aproximadamente 600 hectares. E, nessa época, já se configuravam dois centros, 
San Marco, o administrativo, e San Polo (Rialto), o comercial. Desde o século XII (Figura 2), 
Veneza tem definido seu ambiente físico como hoje a conhecemos. Essas centralidades, sob o 
aspecto sintático, deveriam ser uma resposta a elevadas acessibilidades por elas apresentadas 
com relação ao todo de seu sistema urbano
10
. 
 
9
 Como poderes organizadores, compreende-se a administração pública, como também os bancos, os meios de 
difusão, as instituições universitárias, entre outros. 
10
 A “máquina funcionante”, como a Veneza se refere Le Corbusier, tem sua configuração urbana praticamente 
inalterada, como se pode observar através de sucessivas cartas da cidade desde o século XIV. Interessou-nos 
apresentá-la como exemplo por ser emblemática a permanência dessas centralidades medievais na atualidade, 
correlacionando-se positivamente com o mapa axial da cidade. 
38 
 
 
Figura 2 - Veneza 
Fonte: Benevolo (1983, p. 297). 
 
Nos meados do século XX, a discussão sobre o centro urbano esteve intensamente em 
foco, na medida em que se impunha a reconstrução de áreas centrais destruídas em cidades da 
Europa durante a Grande Guerra de 1939-1945. A este fato, acrescente-se o intenso 
crescimento demográfico das cidades que se expandiram pelas áreas periféricas. Essa 
conjugação de fatores resultaria em ampliar a compreensão do significado do Centro da 
cidade. 
 
1.3.2 O coração da cidade 
 
Não é gratuita a escolha do Centro da cidade (o coração da cidade) como tema do VIII 
CIAM
11
. É verdade que este Congresso fez ver o quanto era insuficiente o que preconizava a 
Carta de Atenas. Anteriormente, no Congresso de 1947, em Bridgwater, esteve como tema na 
pauta das discussões a deterioração do centro antigo das cidades, em um reconhecimento “das 
pré-existências e do caráter do lugar” (CC). 
Deixando explícitas certas inconsistências da Carta de Atenas, o VIII CIAM dirige seu 
foco para uma problemática cada vez mais forte na contemporaneidade: a recuperação das 
deterioradas áreas centrais da cidade. Com isso, de certo modo, estava sinalizando 
contrariamente a muitas das teses lecorbusianas sobre as intervenções demolidoras no casco 
antigo das cidades. Neste particular, o congresso de Hoddesdon foi uma inflexão quando 
 
11
 Evento que teve lugar em Hoddesdon, Inglaterra em 1951. 
39 
 
identificou as limitações das propostas modernistas, questionando seu teor doutrinário 
universalista e incluindo, nos discursos, temas tais, como comunidade, história, símbolos 
coletivos, etc. 
Efetivamente, na época, as discussões sobre o tema adquiriram uma dimensão mais 
ampla na medida em que se voltaram para além da “funcionalidade operativa” dos centros 
urbanos congestionados pelo crescente número de automóveis. Passou-se a questionar as 
características de um Centro e a essência do papel por ele desempenhado (TOURINHO apud 
GITAHY; LIRA, 2007, p. 13). 
Um interesse renovado pelas ideias provenientes da Escola de Chicago, 
particularmente pelo conceito de CBD, surgiu na literatura sobre o espaço urbano na segunda 
metade do século XX. Características distinguem o CBD, apoiadas na ideia de dominância: 
central em termos de acessibilidade traduzida por intenso tráfego de pedestres e veículos, 
preponderância de funções comerciais de compras não quotidianas e lugar de confluência dos 
recursos das atividades terciárias mais refinadas (TOURINHO, 2007). 
O preço do solo urbano do centro tem seu preço levado a altos valores de mercado, 
objeto de uma acirrada concorrência por parte das atividades muito lucrativas que têm 
necessidade de localizações particularmente acessíveis, resultando, por exemplo, na expulsão 
de residências. 
A partir dos anos 1960, novos ângulos de percepção chegaram às discussões 
concernentes a áreas centrais das cidades e, com isso, novos conceitos, como o de Centro 
Histórico, denominação atribuída ao núcleo-matriz da cidade. Esta noção de Centro Histórico 
– recente e solidária ao desenvolvimento dos estudos da arte e da história – é reiteradamente 
considerada ambígua e de sustentabilidade delicada,

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