Buscar

metodologia_do_ensino_de_arte

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 142 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 142 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 142 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

METODOLOGIA
DO ENSINO
DE ARTE
PAULA CAROLINE DE SOUZA
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6487-8
9 7 8 8 5 3 8 7 6 4 8 7 8
Código Logístico
58624
M
ETO
D
O
LO
G
IA D
O
 EN
SIN
O
 D
E A
R
TE
PA
U
LA
 C
A
R
O
LIN
E D
E SO
U
ZA
Metodologia do ensino 
de Arte
IESDE
2019
Paula Caroline de Souza
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
© 2019 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor 
dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: sirtravelalot/Poznyakov/ivSky/Shutterstock
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
S717m
Souza, Paula Caroline de
Metodologia do ensino de Arte / Paula Caroline de Souza. - 1. ed. - Curitiba [PR] : 
IESDE Brasil, 2019. 
138 p. 
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6487-8
1. Arte - Estudo e ensino. 2. Ensino - Metodologia. I. Título.
19-57159 CDD: 707
CDU: 7
Paula Caroline de Souza
Mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialista em 
Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Universidade Positivo (UP). Graduada em Educação 
Artística - Artes Plásticas pela UFPR. Atua como professora de Arte, produtora de material 
didático para pós-graduação em Educação e na formação de professores. Tem experiência na área 
de arte-educação e pesquisa a relação da afetividade com o desenvolvimento humano.
Sumário
Apresentação 7
1 Arte e ensino da Arte: primeiros conceitos 9
1.1 Linguagem e expressão 9
1.2 Arte desde quando? 10
1.3 Sobre o ensino da Arte: primeiras concepções 11
1.4 Modelos e teorias mais aceitos sobre o ensino da Arte na atualidade 14
2 Para que serve a arte? 19
2.1 Arte e vida humana: de mãos dadas 19
2.2 Aspectos sociais da arte 21
2.3 Aspectos subjetivos da arte 24
3 Arte no desenvolvimento humano: inteligência, cognição e afetividade 31
3.1 Arte e desenvolvimento humano 31
3.2 Arte, cognição e inteligência 33
3.3 Arte e afetividade 35
3.4 Arte e ludicidade 37
4 Manifestações e apresentações da arte: linguagens artísticas - parte 1 41
4.1 Artes visuais 42
4.2 Música 50
4.3 Dança 54
4.4 Teatro 57
5 Manifestações e apresentações da arte: linguagens artísticas - parte 2 65
5.1 Artes visuais na sala de aula 66
5.2 Música na sala de aula 71
5.3 Dança na sala de aula 76
5.4 Teatro na sala de aula 81
5.5 Projetos artísticos na escola 84
6 O currículo da Arte no Brasil: desafios e possibilidades 89
6.1 BNCC e o ensino da Arte: concepções fundamentais 89
6.2 A arte e a tecnologia: como a tecnologia pode ser a melhor aliada para ensinar 
Arte 104
6.3 Possibilidades de apreciação artística: aulas de campo (dentro e fora da 
escola) 107
6.4 Como avaliar em Arte? 109
7 Orientações didáticas 117
7.1 Desmistificação sobre avaliação e projetos de Arte 117
7.2 Contação de histórias como forma de apreciação  120
7.3 Como incentivar a pesquisa em Arte 125
7.4 Conselhos finais para quem ensina Arte 128
Gabarito 133
Apresentação
As diversas linguagens e os meios de expressão simbólicos, como a arte, estão presentes 
no nosso cotidiano desde o início de nossas vidas e são de extrema importância para nosso 
desenvolvimento. 
A arte tem como instrumentos e meios norteadores o universo lúdico, a imaginação e a 
criatividade. Por meio dela, interagimos simbólica e simultaneamente conosco e com o mundo, 
comunicando e expressando ideias, sentimentos, pensamentos e reflexões tanto individuais quanto 
do meio social e cultural em que estamos inseridos. Como aprendemos por meio da interação e da 
imitação, as manifestações artísticas podem e devem ser experienciadas e oportunizadas pela 
educação.
Esta obra se divide em sete capítulos. No Capítulo 1, apresentamos um estudo sobre linguagem 
e expressão, refletindo sobre o que é arte, qual é a sua finalidade, como ela é abordada no ensino básico 
e qual é a sua importância na educação e no desenvolvimento humano. 
No Capítulo 2 vemos como a arte representa a humanidade e o quanto ela está presente 
na nossa vida e, no Capítulo 3, abordamos a relação da arte com a inteligência, a cognição e a 
afetividade. 
Abordamos, no Capítulo 4, cada uma das principais manifestações artísticas – artes visuais, 
música, dança e teatro –, pois consideramos importante que todas as esferas da arte estejam 
presentes no dia a dia dos nossos alunos e sejam trabalhadas em toda sua dimensão. 
No Capítulo 5, apresentamos orientações didáticas de como trabalhar cada linguagem 
artística, por meio de uma sequência de planos de aula com sugestões de atividades. Já no Capítulo 
6, tratamos dos desafios e possibilidades do currículo da disciplina Arte no Brasil. E por fim, no 
Capítulo 7, trazemos orientações didáticas, com o intuito de refletirmos sobre o percurso de criação 
artística pessoal e subjetivo dos alunos.
Esperamos que esta obra estabeleça uma visão mais abrangente da importância da arte para 
nós, seres humanos, ampliando as diversas possibilidades de trabalhar essa disciplina em sala de 
aula. Este é o intuito deste livro: preparar você, estudante e futuro professor, para o ensino de 
Arte em seu aspecto mais profundo.
Boa leitura e uma excelente reflexão!
1
 Arte e ensino da Arte: primeiros conceitos
Você já parou para pensar sobre o que difere o homem dos outros animais? Talvez você 
pense que é a racionalidade, o pensamento ou a inteligência. Pode ser que não tenha pensado nos 
aspectos cognitivos, mas nos físicos: o homem é bípede, seu corpo tem uma estrutura diferenciada. 
Mas há quem pense que o que nos diferencia dos outros animais é a capacidade de comunicação. 
Se você pensou isso, quase acertou. A questão é que essa diferenciação não abrange a comunicação 
de forma tão simplista, pois, se pararmos para pensar, os animais também se comunicam. Ocorre 
que a comunicação humana conta com vários instrumentos e elementos, como a escrita, a fala, 
os gestos, as expressões etc., que a tornam muito mais complexa. Porém, podemos apresentar um 
exemplo da genialidade da natureza em relação à comunicação animal: a dança das abelhas. Você 
já ouviu falar sobre isso? Veremos na seção a seguir como ocorre esse fenômeno.
Neste capítulo, estudaremos um pouco sobre linguagem e expressão, refletindo sobre o que é 
arte, qual é a sua finalidade na vida humana, como se dá a abordagem desse campo do conhecimento 
no ensino básico e qual é a sua importância na educação e no desenvolvimento humano.
1.1 Linguagem e expressão
Conforme vimos anteriormente, as abelhas se comunicam por meio de 
uma espécie de dança. Imagine, então, que uma abelha operária saiu em busca 
de alimento e, não muito longe da sua colmeia, encontrou uma flor com bastante 
néctar. Como há muito néctar nessa flor, é interessante que outras abelhas da 
colmeia a encontrem e desfrutem desse benefício, no entanto a lógica das abelhas 
não é simplesmente “voltar” para buscar as outras abelhas e levá-las em direção à flor, porque não 
há tempo e nem energia a serem desperdiçados. Então a solução de comunicação das abelhas é a 
“linguagem da dança”. Mas como? Será possível comunicar a localização de uma flor, mesmo em 
um lugar com muitos obstáculos, por meio de... uma dança? Acredite, sim, é possível, pois a dança 
é uma linguagem, e toda linguagem é comunicação. Ocorre que a comunicação das abelhas, apesar 
de cumprir com eficiência seu objetivo, difere da linguagem humana. Você sabe dizer o porquê? E 
mais: o que isso tem a ver com arte?
Contextualizar a importância da arte na vida humana e enfatizar a sua presença desde 
os tempos mais primitivos não é uma tarefa fácil. A arte está presente no cotidiano das pessoas 
desde o início do desenvolvimento da linguagem. Aprendemos por interação – e imitação –, e as 
diversas linguagens e os meios de expressão simbólicos fazem parte da vida humana.A arte tem 
como instrumento e meio norteador o universo lúdico, a imaginação e a criatividade. Talvez a 
ludicidade seja um elemento cada vez mais escasso em nossa sociedade, que está sempre em busca 
de praticidade, racionalidade e objetividade.
Vídeo
Metodologia do ensino de Arte10
Isso não quer dizer que a arte não é racional ou objetiva. Podemos posicioná-la como um 
fenômeno histórico e cultural da vida humana que permeia a emoção e a razão. Uma obra de arte 
não se limita apenas a uma pintura, uma canção ou um espetáculo de dança. Toda obra traz em 
si elementos históricos, sociais, culturais e subjetivos, pois não fala somente do artista e do seu 
universo interior, mas também da sociedade, da cultura e da época em que o artista está inserido. 
Saber ler e interpretar uma obra de arte exige um apanhado de conceitos e conhecimentos e, 
muitas vezes, a arte não é reconhecida justamente pela falta de compreensão dessas concepções. 
Considerando isso, reconhecer a importância da arte como um fenômeno humano e a magnitude 
de ensiná-la será o cerne desta disciplina.
1.2 Arte desde quando?
Talvez você nunca tenha parado para pensar, mas aqui vai uma provocação: 
há quanto tempo surgiu a arte? E por que ela surgiu?
Todos nós já ouvimos falar na relatividade do tempo, e, de fato, a percepção 
do tempo entre as pessoas é diferente. Independentemente se você pensa que 50 mil 
anos é muito ou pouco tempo, o que podemos afirmar é que os primeiros artefatos 
considerados artísticos pelos arqueólogos datam de um período denominado Paleolítico, cerca de 
50 mil anos atrás. Cheney (1995) explica que essa época foi marcada por grandes mudanças no 
comportamento do homem como espécie que conhecemos hoje, o homo sapiens sapiens. Entre 
essas mudanças estão: a construção de grandes embarcações, a produção de vestimentas, moradias 
e o desenvolvimento inicial da vida em sociedade. Foi também nesse período que o homem, além 
da capacidade de representar e se expressar por meio de símbolos e de criar objetos com diferentes 
tipos de materiais, deu os primeiros passos para construir sua própria cultura.
Devido a tantas mudanças no comportamento da espécie no período Paleolítico Superior, 
ele passou a ser chamado pelos arqueólogos e historiadores de período do grande despertar cultural, 
ou big bang da cultura, pois é nessa época que aparecem os primeiros artefatos ornamentais e as 
primeiras formas de representação sofisticadas, além dos objetos fabricados para serem enterrados 
com os mortos. As pinturas rupestres encontradas em diversas cavernas na Europa datam desse 
período, mas as que são encontradas no Brasil – temos no país enormes sítios arqueológicos 
em diversas regiões – são de um período mais recente, denominado Paleolítico. A Figura 1, por 
exemplo, é uma fotografia de uma pintura rupestre localizada em um sítio arqueológico no Piauí, 
na Serra Nacional Parque da Capivara, no município de São Raimundo Nonato.
Vídeo
 Arte e ensino da Arte: primeiros conceitos 11
Figura 1 – Pintura rupestre
EV
EL
YN
 S
AM
PA
IO
/i
St
oc
k.
co
m
Sabe-se que o “despertar cultural” ocorreu em diferentes períodos e em diferentes lugares, 
como África e Europa, por exemplo. Não se sabe exatamente a origem desse fenômeno, mas Klein 
e Blake (2005) apresentam algumas hipóteses, como causas sociais, tecnológicas, demográficas 
ou biológicas. No pressuposto biológico, podemos inferir que o estímulo para sua ocorrência é o 
próprio avanço evolutivo da inteligência – e como consequência, o aumento da massa encefálica. E 
a inteligência só poderia avançar com novos estímulos e aprendizados.
O que se sabe é que a cultura não passou a existir assim que a espécie surgiu, mas 70 milhões 
de anos depois. Portanto podemos concluir que o homem, em algum momento, sentiu necessidade 
de produzir cultura e se expressar, de se comunicar. Anatomicamente, a evolução humana parecia 
ter se encerrado, porém sua mente continuou evoluindo e a produção artística e cultural continuou 
acompanhando a espécie humana ao longo de sua história até os dias de hoje. A cultura e a arte 
se moldam conforme as necessidades da sociedade e da época em que estão inseridas, ao longo 
dos tempos. Segundo Oliveira (2010, p. 15), “em cada fase do desenvolvimento das sociedades, 
bem como em cada fase do desenvolvimento do indivíduo, as impressões que o meio, inclusive a 
arte, suscita no ser humano diferem entre si”. Tal fato é evidenciado ao direcionarmos nosso olhar 
para a história da arte. Não podemos afirmar que a arte evoluiu, mas sim que ela se transformou 
e permanece em um contínuo fluxo de mudanças e acomodação: a arte acompanhou a espécie 
humana em seus mais diversos cenários históricos, culturais e sociais. Logo, é fácil perceber que é 
inerente ao ser humano. Já imaginou o que seria do mundo sem a arte?
Metodologia do ensino de Arte12
1.3 Sobre o ensino da Arte: primeiras concepções
Retomando a reflexão sobre o que diferencia a humanidade dos outros 
animais que habitam o planeta, o homem é o único animal que tem a capacidade de 
apreciar e produzir arte de forma intencional. Para Read (2001, p. 121), “a arte é o 
esforço da humanidade por atingir a integração com as formas básicas do universo 
físico e com os ritmos orgânicos da vida”. A arte engloba uma série de fatores que 
fazem com que os seres humanos questionem sua própria existência e sua história e expressem 
o seu mundo interno, suas paixões e seus medos, além de falar do mundo em que vivemos. É o 
conhecimento intrinsecamente humano que traz a reflexão de quem somos, onde estamos e para 
onde estamos indo. Um exemplo de manifestação artística e científica (em breve, estudaremos que 
tais esferas não são antagônicas) é o Museu do Amanhã1, localizado no Rio de Janeiro. A proposta 
da instituição é justamente questionar e promover respostas a respeito do nosso futuro como nação 
e a reflexão sobre os rumos da sociedade: para onde estamos indo, como e por quê. A arte tem 
como característica inerente a ela a reflexão.
Os demais animais da natureza podem fazer e construir coisas incríveis, mas não o fazem 
com a intenção de expressar e comunicar ideias, sentimentos e reflexões, muito menos de trazer a 
reflexão. A habilidade que a humanidade tem de se comunicar de várias formas foi adquirida ao 
longo da evolução da mente humana e da sua história. Tal habilidade é concernente ao ser humano.
A arte acompanha a humanidade desde os primórdios da sua existência e nos dá a 
oportunidade de expressar questões intrínsecas da vida humana sobre uma perspectiva afetiva2 por 
meio de conhecimentos específicos, como códigos visuais, coreografias e movimentos corporais, e 
por palavras e poemas, notas musicais e voz, encenações e o vasto mundo da imaginação. Diante 
disso, como não pensar que a arte é um campo do conhecimento humano extremamente relevante 
para a educação e para o ensino? Quais funções psicológicas e cognitivas são desenvolvidas por 
meio da arte?
Ao falar sobre desenvolvimento, é importante refletirmos sobre a função da educação. Você 
já parou para pensar nisso? O que significa educação? O que significa educar?
Pesquisando sobre a origem do verbo educar em um dicionário eletrônico de etimologia, 
temos o seguinte resultado:
Do latim: educare, educere, que significa literalmente “conduzir para fora” 
ou “direcionar para fora”. O termo latino educare é composto pela união do 
prefixo ex, que significa “fora”, e ducere, que quer dizer “conduzir” ou “levar”. 
O significado do termo (direcionar para fora) era empregado no sentido de 
preparar as pessoas para o mundo e viver em sociedade, ou seja, conduzi- 
-las para fora de si mesmas, mostrando as diferenças que existem no mundo. 
(EDUCAR, 2019)
1 “O Museu do Amanhã oferece uma narrativa sobre como poderemos viver e moldar os próximos 50 anos. Uma 
jornada rumo a futuros possíveis, a partir de grandes perguntas que a Humanidade sempre se fez. De onde viemos? 
Quem somos? Onde estamos? Para onde vamos? Comoqueremos ir?” (MUSEU, 2019).
2 A concepção sobre afetividade aqui colocada não se limita a afeto como sinônimo de carinho e afetuosidade, mas 
sim de um fenômeno próprio das interações, onde afetamos e somos afetados.
Vídeo
 Arte e ensino da Arte: primeiros conceitos 13
Analisando as informações constantes no dicionário, concluímos que educação significa 
fazer com que o ser possa emergir para o mundo externo, por meio de interações. A manifestação 
do indivíduo relaciona-se com o seu próprio desenvolvimento como sujeito autônomo que interage 
com o mundo e faz suas próprias escolhas, construindo suas habilidades e potencialidades da 
melhor forma possível para seu crescimento e sua evolução como cidadão.
Quando falamos de desenvolvimento humano, não estamos nos referindo apenas ao 
desenvolvimento biológico, como o crescimento e o envelhecimento, por exemplo. As fases nas quais 
o desenvolvimento biológico é notório são etapas da vida que proporcionam mais oportunidades de 
aprendizados que serão a base do desenvolvimento em outros aspectos, como o psicológico, o afetivo, 
o cognitivo, o motor, o lógico, o social, entre tantos outros. O processo saudável de desenvolvimento 
servirá para uma vida adulta mais feliz, concreta e satisfatória. São muitos os componentes que fazem 
parte dessa jornada, interferindo direta e indiretamente no desenvolvimento de cada indivíduo, mas 
podemos resumir todos eles em apenas uma palavra: interação.
Estamos em constante interação com o meio, com as pessoas, com a tecnologia, com o 
mundo e com o nosso próprio eu. Aprendemos apenas mediante interação: seja com um livro, 
um celular, uma pessoa diretamente – ninguém aprende e se desenvolve sozinho. Aprendizagem 
e interação são fenômenos interdependentes. A partir do momento em que a criança passa a 
frequentar a escola, esse local passa a ser mais um fator de apoio à humanização desse indivíduo e 
um dos principais condutores do desenvolvimento do jovem educando.
Atualmente, a escola brasileira enfrenta muitos problemas, e muitos deles são conhecidos 
pela população, por conta de a mídia estar sempre veiculando ocorrências tais como: bullying, 
corrupção, violência, descaso, entre outros. Duarte Jr. (1991) afirma que a educação, uma atividade 
fundamentada na interação e no diálogo, foi transformada em um aprendizado passivo por 
parte dos estudantes: percebemos um despejar de respostas prontas e questões concebidas como 
irrelevantes pelos alunos, exceto para passarem nos exames e tirarem boas notas. Parece que a 
escola perdeu seu significado e vive em um momento de obscuridade. Como resgatar os princípios 
de educar? Será que o ensino da Arte pode ser um caminho para esse processo?
A arte tem um valor muito grande para a educação, não apenas para ajudar a expressar 
sentimentos, como comumente é rotulada, mas porque, se bem trabalhada, tem a função de ser 
coadjuvante no desenvolvimento da inteligência e da cognição, do raciocínio lógico-matemático, da 
noção espacial, do entendimento do ser humano como um todo, da sua história e da sua cultura, bem 
como das suas diferentes visões de mundo. É uma disciplina que visa a possibilitar o desenvolvimento 
de senso crítico e do autoconhecimento. Se trabalhada em suas diferentes linguagens – artes visuais, 
dança, música e teatro –, sua função é ainda mais completa e ampliada. Como apresentado por Lelis 
(2004), o fazer artístico e a experiência criadora são recursos/instrumentos intrínsecos à arte como 
conhecimento para a expressão/explosão de ideias, percepções, pensamentos, emoções, sentimentos 
e conhecimentos a respeito de si mesmo e do mundo. A função da arte no desenvolvimento de 
um indivíduo deve situar-se no domínio/espaço da imaginação e da percepção. A experiência e a 
interação com instrumentos do campo da arte (e das suas diferentes linguagens) podem trazer à tona 
a assimilação a respeito de si mesmo, de sua autonomia, e até mesmo possibilitar o desenvolvimento 
Metodologia do ensino de Arte14
da resiliência. Esse processo ocorre em nível psíquico, fazendo com que uma pessoa se perceba 
como um ser dotado de habilidades criadoras que podem lhe ser úteis, inclusive em um momento 
crítico da sua vida, ajudando-o a se perceber mais resistente e capaz de superar as adversidades.
O maior problema que um professor de Arte enfrenta atualmente é justamente estar ciente 
de todos esses benefícios da disciplina para o desenvolvimento de seus alunos, em contrapartida ao 
pouquíssimo tempo semanal por turma para trabalhar, além dos rótulos e preconceitos impostos à 
disciplina. Ele deve se perguntar: qual é o tempo disposto para a abordagem do conteúdo? Qual é 
o acesso que os alunos têm à arte, além da sala de aula? Para que serve a arte?
A sociedade parece cada vez mais alienada e distanciada dos conceitos de humanização, 
desenvolvimento humano, cultura, subjetividade e cidadania. Desenvolvendo indivíduos mais 
capacitados, conhecedores de suas próprias habilidades e potencialidades, mais autônomos, criativos 
e humanos, estaremos investindo na construção de uma sociedade mais justa, mais evoluída e 
humanizada. E isso não é exercer a nossa própria cidadania? Pense no significado dessa palavra.
1.4 Modelos e teorias mais aceitos sobre o ensino 
da Arte na atualidade
O ensino da Arte é muito importante para o desenvolvimento afetivo e 
cognitivo dos alunos, não devendo ser apenas uma disciplina a mais no currículo, 
tratada como um momento de recreação e relaxamento. É evidente que, por diversos 
fatores, o fazer artístico pode causar relaxamento e sensação de leveza, mas isso não 
significa que esse seja o propósito do ensino.
Vivemos hoje em uma sociedade com um caráter mais utilitarista e materialista, em que 
se encontra na razão o valor máximo da vida e não há um lugar legítimo para as emoções e para 
a subjetividade. Por isso, a escola de hoje é um ambiente racionalista. Tal fato possivelmente seja 
um vestígio do que ocorreu no século XIX, com a Revolução Industrial, quando houve a troca do 
trabalho humano pela máquina e a necessidade de mais tecnologia obrigou o homem a tomar uma 
postura mais racional e objetiva diante da vida, para se adaptar melhor às mudanças, deixando 
de lado a sua subjetividade. Hoje, espera-se das pessoas uma postura mais produtiva, focada em 
cumprimento de tarefas, objetividade e praticidade. Tais quesitos não são negativos, porém, talvez 
o viés pelo qual eles têm sido considerados esteja afastando cada vez mais o homem de sua própria 
humanidade.
A separação que a própria sociedade faz entre razão e emoção tem sido projetada na educação, 
que vem tratando a emoção como algo que pode atrapalhar em algum nível a produtividade e a 
fluidez do processo de aprendizagem e de interação. A razão tem sido valorizada como verdade 
absoluta, fazendo com que uma aprendizagem mais significativa não esteja sendo bem elaborada, 
pois é apenas a partir das vivências afetivas que o pensamento racional pode fluir. “O pensamento 
busca sempre transformar as experiências em palavras, em símbolos que as signifiquem e 
representem. A razão é uma operação posterior à vivência (aos sentimentos). Vivenciar (sentir) e 
pensar estão indissoluvelmente ligados” (DUARTE JR., 1991, p. 31).
Vídeo
 Arte e ensino da Arte: primeiros conceitos 15
Osinski (2001) explica que, ao longo da trajetória do ensino da Arte, existiram vários 
momentos de questionamento e análise por grandes teóricos do assunto, principalmente Herbert 
Read (1893-1986) e Viktor Lowenfeld (1903-1960), entre as décadas de 30 e 40, na Inglaterra 
e nos Estados Unidos. O primeiro, autor de A educação pela arte (1943), foi influenciado pela 
psicologia, primeiro pela psicanálise de Freud e, mais tarde, pela teoria do inconsciente coletivo 
de Carl Jung. Read era um crítico conceituado em vários campos e estava profundamente ligado 
às questões pedagógicas, integrado em um movimento da educação pela arte. Para ele, não havia 
sentido em separar o conhecimento em disciplinase tratava isso como um grande erro do sistema 
educacional, pois tornava o conhecimento separado por rígidas fronteiras. “Propunha, por meio da 
educação pela arte, a preservação da totalidade orgânica do homem e de suas faculdades mentais, 
respeitadas as diversas fases do desenvolvimento humano” (OSINSKI, 2001, p. 91). Para dissolver 
essas barreiras, Read acreditava que a integração de todo o conhecimento por meio da arte seria 
uma saída e propunha uma educação estética e artística “que consistia na educação dos sentidos em 
que se baseiam a consciência, o raciocínio e a inteligência do indivíduo humano” (OSINSKI, 2001, 
p. 92). Sua crença era de que, a partir desses sentidos e de sua relação com o mundo exterior do 
educando, a integração seria possível. Por isso, em sua visão, a arte deveria ser a base da educação.
O objetivo da arte na educação, que deveria ser idêntico ao propósito da própria 
educação, é desenvolver na criança um modo integrado de experiência, com sua 
correspondente disposição física “sintônica”, em que o “pensamento” sempre 
tem seu correlato na visualização concreta – em que a percepção e o sentimento 
se movimentam num ritmo orgânico, numa sístole e diástole, em direção a uma 
apreensão mais completa e mais livre da realidade. [...] A arte e o intelecto são as 
duas asas da mesma criatura viva, que, juntas, asseguram o processo do espírito 
humano em direção à mais elevada esfera da consciência. (READ, 2001, p. 116)
Ana Mae Barbosa (1936-), arte-educadora brasileira, criou um modelo de ensino denominado 
proposta triangular – também conhecido como abordagem triangular. Hoje o modelo de ensino da 
Arte que Barbosa constituiu influencia e continua sendo bastante utilizado entre arte-educadores. 
A proposta triangular consiste em três abordagens que visam a construir conhecimentos em arte:
• Apreciação artística: saber ler uma obra de arte dentro do seu 
contexto histórico, social e cultural. Perceber e analisar detalhes, 
questionar e levantar hipóteses sobre a elaboração da obra, entender 
seu contexto geral.
• Fazer artístico: fazer arte.
• Contextualização histórica: conhecer o contexto histórico e social 
da obra, como o local e o período em que foi produzida, o movimento 
artístico em que ela está inserida ou aspectos da história de vida do 
artista que a produziu, de forma aprofundada, relacionando-os a 
outros cenários que cercavam tal episódio.
Metodologia do ensino de Arte16
Barros (2006) afirma que a autora muitas vezes é criticada por rever constantemente suas 
próprias propostas/abordagens. Apesar disso, Barbosa nos apresenta um modelo importante sobre o 
ensino da Arte. A sociedade está em constante mudança e, com isso, a arte muda, as necessidades de 
cada sociedade mudam e a própria educação muda. Talvez as mudanças tão rápidas que nossa sociedade 
impõe aos mais jovens sejam os grandes desafios contemporâneos para os futuros professores, mas 
as nossas práticas devem sempre moldar-se às necessidades dos grupos e/ou comunidades discentes. 
Segundo Cortella (2014, p. 33), “mudar é uma situação em que precisamos transbordar, isto é, ir além 
do nosso limite, alterar a nossa possibilidade de ser de um único e exclusivo modo”.
A proposta triangular mostra-se como um caminho metodológico bastante útil ao abordar o 
ensino da Arte na esfera das artes visuais. Silva e Lampert (2017, p. 90) descrevem que à abordagem 
triangular atribui-se a melhoria do ensino de Arte, “tendo por base um trabalho pedagógico 
integrador, em que o fazer artístico, a análise ou leitura de imagens (compreendendo o campo de 
sentido da arte) e a contextualização interagem ao desenvolvimento crítico, reflexivo e dialógico do 
estudante em uma dinâmica contextual sociocultural”.
Considerações finais
A arte tem caráter humanizador. O que isso significa? Petrauski e Diaz (2006, p. 14) definem 
que “a Arte é fonte de humanização, pois possibilita ao homem tornar-se consciente de sua existência 
individual e social, questionando, interpretando o mundo e a si mesmo”. A presença desse campo 
do conhecimento e sua utilização no âmbito educacional garantem a formação de cidadãos mais 
empáticos e preparados para instituir melhores interações, apropriando-se de autoconhecimento e 
assumindo sua individualidade e, assim, sabendo reconhecer e respeitar as diferenças entre as pessoas.
A arte é o que nos diferencia e nos torna cada vez mais humanos, dotados e conscientes das 
nossas possibilidades e sempre criando novas. Assim avançamos como indivíduos e como espécie.
Ampliando seus conhecimentos
• BRASIL. Câmara Setorial da Apicultura. Conheça a dança das abelhas. 26 nov. 2018. 
Disponível em: http://apicultura.to.gov.br/?p=374. Acesso em: 4 abr. 2019.
Para quem ficou curioso sobre a dança das abelhas, sugerimos a leitura desse artigo da 
Câmara Setorial da Apicultura, que apresenta uma explicação científica sobre o fenômeno, 
complementada por dois vídeos que demonstram como ele ocorre na natureza e qual é o 
significado dessa dança.
• MUSEU do Amanhã. Disponível em: https://museudoamanha.org.br/pt-br. Acesso em: 
4 abr. 2019.
No site oficial do Museu do Amanhã, você poderá encontrar informações sobre o local e 
seu acervo, bem como sobre as exposições em exibição e as diversas formas de interação 
com o espaço e as obras.
 Arte e ensino da Arte: primeiros conceitos 17
• RODA Viva. Ana Mae Barbosa – 12/10/2018. 11 ago. 2015. Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=WL9KbV4ifA8. Acesso em: 4 abr. 2019.
Assista a uma entrevista na íntegra com a educadora Ana Mae Barbosa, na qual ela comenta 
sobre o ensino da Arte no Brasil e a influência da arte nos indivíduos e na sociedade.
Atividades
1. Qual é a diferença entre a dança das abelhas e os diversos tipos de danças que conhecemos 
em âmbito humano?
2. Qual é o valor fundamental da arte no contexto educacional?
3. Como você definiria desenvolvimento humano? Justifique.
Referências
BARROS, A. R. S. Abordagem Triangular no ensino das artes e culturas visuais: uma breve revisão. In: XXVI 
CONFAEB, Boa Vista, 2006. Anais... Boa Vista, 2006. Disponível em: http://ufrr.br/confaeb/index.php/anais/
category/4-artes-visuais?download=22:barros-angelo. Acesso em: 2 fev. 2019.
CHENEY, S. História da arte. Tradução de Sérgio Milliet. São Paulo: Rideel, 1995.
CORTELLA, M. S. Educação, escola e docência: novos tempos, novas atitudes. São Paulo: Cortez, 2014.
DUARTE JÚNIOR, J. F. Por que arte-educação? Campinas: Papirus, 1991.
EDUCAR. Dicionário etimológico: etimologia e origem das palavras. Disponível em: https://www.
dicionarioetimologico.com.br/educar/. Acesso em: 3 fev. 2019.
KLEIN, R. G.; BLAKE, E. O despertar da cultura: a polêmica teoria sobre a origem da criatividade humana. 
Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
LELIS, S. C.C. Poéticas visuais em construção: o fazer artístico e a educação (do) sensível no contexto escolar. 
227 f. Dissertação (Mestrado em Artes). Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências 
Humanas. Campinas, São Paulo, 2004. Disponível em: http://repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/
REPOSIP/284835/1/Lelis_SoraiaCristinaCardoso_M.pdf. Acesso em: 4 abr. 2019.
MUSEU do Amanhã. Sobre o Museu. Disponível em: https://museudoamanha.org.br/pt-br/sobre-o-museu. 
Acesso em: 3 abr. 2019.
OLIVEIRA, M. E. Teatro na escola e caminhos de desenvolvimento humano: processos afetivos-cognitivos de 
adolescentes. 265 f. Dissertação (Mestrado em Educação), Universidade Federal do Paraná, 2010. Disponível 
em: http://www.ppge.ufpr.br/teses/teses/M10_Maria%20Eunice%20de%20Oliveira.pdf. Acesso em: 4 abr. 
2019.
OSINSKI, D. Arte, história e ensino: uma trajetória. São Paulo: Cortez, 2001.
PETRAUSKI, J. M; DIAZ, M. O lúdico como recurso metodológico para o ensino de arte. Disponível em: http://
www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1659-8.pdf. Acesso em: 3 fev. 2019.
READ, H. A educação pela arte. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
SILVA, T. G. da; LAMPERT, J. Reflexões sobre a abordagemtriangular no ensino básico de Artes Visuais no 
contexto brasileiro. Revista Matéria-Prima, n. 1, v. 5, p. 88-95, 2007. Disponível em: http://repositorio.ul.pt/
bitstream/10451/28262/2/ULFBA_MatPrima_V5N1_p.88-95.pdf. Acesso em: 4 abr. 2019.
http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/28262/2/ULFBA_MatPrima_V5N1_p.88-95.pdf
http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/28262/2/ULFBA_MatPrima_V5N1_p.88-95.pdf
2
Para que serve a arte?
O processo criativo é um fenômeno que precisa, necessariamente, das emoções e da 
subjetividade do artista, mas também da sua razão, da lógica e do seu intelecto. Todos esses eventos 
são moldados conforme a sociedade e o contexto cultural em que o artista está inserido. Neste 
capítulo, estudaremos como a arte fala da humanidade e da vida humana e o quanto ela está mais 
ligada a nossa vida do que imaginamos.
2.1 Arte e vida humana: de mãos dadas
A arte é um fenômeno presente na vida humana desde a Pré-História, o que 
significa que faz parte do cotidiano dos seres humanos antes mesmo da criação da 
escrita. Hoje, reconhecemos a escrita como uma das formas mais efetivas e acessíveis de 
comunicação: o domínio de um sistema alfabético de escrita possibilita-nos uma série 
de coisas, e cada vez mais tem sido um prerrequisito de comunicação com o avanço da 
tecnologia. Para ler sobre os acontecimentos ao redor do mundo, saber notícias de pessoas com as quais 
não conversamos mais, por meio das redes sociais, e nos comunicarmos com quem quisermos, basta 
termos o domínio de um conjunto de símbolos e códigos de um determinado idioma. Um sistema de 
escrita é um tipo de comunicação estabelecido por um meio de conjunto de símbolos que representam 
sons – chamados também de caracteres, grafemas ou letras. Esses símbolos são usados para registrar 
visualmente e graficamente uma língua falada, com o propósito de comunicação.
Mas na Pré-História a forma mais tangível de comunicação e expressão, além da verbal, era 
por meio de desenhos e pinturas. Com a evolução humana e o aumento das capacidades cognitivas, 
o homem pré-histórico passou a dominar a linguagem do desenho e começou a traçar seus desejos, 
anseios, seu cotidiano e sua forma de vida em registros gráficos nas paredes das cavernas. Hoje, 
essa arte é conhecida como arte rupestre, observe um exemplo na figura a seguir.
Figura 1 – Arte rupestre
Ja
nn
ar
on
g/
Sh
ut
te
rs
to
ck
Figuras humanas representando adultos e 
crianças, além de uma figura de um animal e 
instrumentos de caça.
Fonte: Pintura pré-histórica [ca. 2.000 a.C.], Nakhonratchasima, Tailândia.
Vídeo
Metodologia do ensino de Arte20
As imagens das pinturas pré-históricas são os documentos a que temos acesso sobre o estilo 
de vida das civilizações daquele período, além de objetos e fósseis encontrados em escavações 
em sítios arqueológicos. É por meio da arte produzida naquele tempo que hoje, no século XXI, 
podemos conhecer um pouco sobre como foi a vida dos homens e mulheres que viveram nesse 
período.
Um dos primeiros sistemas de escrita advém de representações gráficas que se assemelham 
muito a desenhos. Esses “desenhos” são chamados hieróglifos e eram símbolos que representavam 
ideias expressas de forma escrita. Com o tempo, esse sistema de escrita de origem egípcia passou 
por diversas transformações, ficando cada vez mais simples, mas as imagens e os desenhos 
continuaram com sua função de comunicação e continuam presentes na vida humana. Uma 
criança não alfabetizada se expressa por meio de desenhos e garatujas; uma fotografia, uma pintura 
ou uma ilustração também comunicam ou expressam ideias, reflexões e sentimentos. Uma imagem 
pode ter diversas funções, seja descritiva, ilustrativa ou, simplesmente, uma expressão gráfica. De 
qualquer forma, uma imagem é um tipo de comunicação.
Figura 2 – Sistema de escrita egípcio: hieróglifos
ni
m
og
ra
f/
Sh
ut
te
rs
to
ck
Além das ideias e interações verbalizadas, não nos comunicamos apenas por meio de letras 
e imagens. Existem outras formas de expressão; os sons, os gestos e as ações podem, muitas vezes, 
expor muito mais do que palavras e imagens.
O ser humano não vive sem a arte. Ela não é apenas uma forma de comunicação e expressão, 
também não é apenas a manifestação da beleza, nem somente se constitui de técnica. A arte expressa 
a vida humana, fala de cada ser humano, de sua subjetividade e de seu contexto interacional, social 
e cultural. A arte tem como ferramenta a criatividade, a imaginação e a fantasia.
Hoje, quem vive sem música, por exemplo? Ou quem nunca fez um desenho, ou dançou uma 
canção, mesmo quando criança? E existe alguém que consegue viver sem história? Muitas crianças 
gostam de ouvi-las, e até mesmo os adultos adoram saber de histórias alheias, sejam de pessoas 
próximas, desconhecidas, de livros de aventura ou mitologia, ou até mesmo uma história de novela 
na televisão. Maria Eunice de Oliveira (2010, p. 13) afirma que “o ser humano não sobrevive sem 
um mínimo de fantasia diária, sem qualquer objeto que transcenda seus afazeres cotidianos e que 
Para que serve a arte? 21
lhe desperte emoções e pensamentos”. As pessoas não vivem sem o belo e o buscam em objetos de 
consumo e em si mesmas. A ludicidade faz parte da constituição humana.
De acordo com Maria Eunice de Oliveira (2010), a arte, nas suas diversas formas, fala a 
respeito dos fenômenos do mundo e da existência humana: exprime aspirações, conflitos, buscas 
e relações do ser humano com o que está à sua volta. A forma como esse fenômeno é elaborado 
ocorre também por meio da criatividade. Ostrower (2013) argumenta que o homem sempre foi, 
naturalmente, um grande formador, pois estabelece relações entre os inúmeros eventos que ocorrem 
dentro e fora dele. Se pararmos para refletir, de fato, o tempo todo as pessoas estão tentando criar 
relações ou encontrar ligações entre fatos e fenômenos.
Maria Eunice de Oliveira (2010, p. 84) expõe que algumas teorias contemporâneas sobre a 
criatividade a concebem como um fenômeno social e cultural, “apontando uma rede complexa de 
interações das variáveis do indivíduo com as da sociedade para a expressão criativa e a possibilidade 
de desenvolver o potencial criativo inerente a todas as pessoas, embora varie em tipo e grau, 
independentemente da idade, sexo ou condição social”.
Ostrower (2013) considera a criatividade um potencial inerente ao homem, e a realização desse 
potencial seria uma necessidade intrinsecamente humana. A criatividade é uma aptidão que todos os 
seres humanos apresentam, podendo ser explorada e desenvolvida ou reprimida, e isso depende de 
muitos fatores, inclusive ambientais, culturais e sociais. Brito, Vanzin e Ulbricht (2009) conceituam a 
criatividade como um conjunto de competências que permite a uma pessoa comportar-se de modos 
novos e adaptativos em certos contextos. Segundo os autores, a criatividade é também a capacidade 
de criar uma solução que é ao mesmo tempo inovadora e apropriada a um problema.
É importante destacar que a arte não é o único campo do conhecimento com que a criatividade 
trabalha diretamente. A arte e suas diferentes linguagens, de fato, podem ser consideradas campos 
privilegiados do ato de criar, mas não são as únicas. Gardner (1997) pontua que uma das semelhanças 
entre o processo artístico e o processo científico é que a ciência também é uma forma de comunicação 
e usa a criatividade como ferramenta para a solução de problemas. O autor afirma que o artista 
se preocupa em comunicar seu entendimento e sentimento em relação ao mundo, e o cientista 
quer transmitir sua investigação a respeito do mundo. De qualquer forma, podemos concluir que 
o desenvolvimento da criatividade não se restringe apenas às artes, essa é uma habilidade que está 
presente em muitas outras esferas da vida humana, desde a Pré-História.
2.2 Aspectos sociais da arte
A arte de cada indivíduo traz consigo a cultura, a época e a sociedade em que 
ele está inserido. O contexto social em que cada pessoa nasce, cresce e interageé o 
molde que faz com que se manifestem e se desenvolvam – ou não – determinadas 
características que definem o sujeito. Cada indivíduo é único e é claro que os fatores 
biológicos, genéticos, psicológicos e ambientais interferem nessa constituição, mas 
aqui gostaríamos de destacar a relevância da cultura, da sociedade e da época em que cada sujeito vive 
ou viveu. Imagine se você tivesse nascido 20 anos antes da data original do seu nascimento, em uma 
cidade localizada em outra região do país. Você, possivelmente, seria uma pessoa muito diferente de 
Vídeo
Metodologia do ensino de Arte22
quem é hoje, pois seus gostos, sua maneira, seus valores de vida, sua bagagem de experiências e toda a 
sua história seriam completamente moldados a essa realidade hipotética. E assim, da mesma forma, a 
arte criada pelos artistas é um produto dessas pessoas, que foram moldadas à cultura em que estavam 
inseridas.
A capacidade criadora do homem é elaborada no seu contexto cultural. Retomando o 
argumento de Maria Eunice de Oliveira (2010), algumas teorias recentes sobre a criatividade a 
concebem como um fenômeno social e cultural, pois a rede de interações de um sujeito, com a sua 
cultura e seu contexto social, possibilita desenvolver seu potencial criativo. Ostrower (2013, p. 5) 
alega que “todo indivíduo se desenvolve em uma realidade social, em cujas necessidades e valorações 
culturais moldam os próprios valores da vida”.
Para essa ideia ficar mais clara, observe os exemplos a seguir, que trazem uma comparação 
simples sobre como o aspecto social e cultural interfere no processo criativo e artístico e no resultado 
final de uma obra de arte. Os exemplos devem ser analisados sob a percepção da representação da 
figura humana.
Figura 3 – Retrato de Leonardo da Vinci (1452-1519)
Fonte: DA VINCI, L. Retrato. 1786. Tinta aguada e gravura: 20 x 16 cm. Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque, EUA.
Para que serve a arte? 23
Figura 4 – Autorretrato de Vincent van Gogh (1853-1890)
Ev
er
et
t -
 A
rt
/S
hu
tt
er
st
oc
k
Fonte: VAN GOGH, V. Autorretrato. 1889. Óleo sobre tela.
Após a análise das imagens, podemos pontuar dois aspectos relevantes:
1. Da Vinci viveu em Florença, na Itália, entre a segunda metade do século XV e a primeira 
metade do século XVI.
2. Vincent Van Gogh viveu na Holanda e na França, na segunda metade do século XIX.
O contexto histórico, social e cultural em que Da Vinci estava inserido foi o Renascimento. 
Nesse momento, havia uma cultura estabelecida sobre a valorização da razão, da ciência e de tudo o 
que de fato poderia ser comprovado como palpável e concreto. Portanto, quando visualizamos nos 
desenhos do artista a riqueza de detalhes anatômicos, a preocupação de representar a realidade e 
a riqueza da técnica de representar volume e profundidade, percebemos a ligação com o contexto 
cultural renascentista. No período do Renascimento, havia uma preocupação entre os artistas de 
que a arte fosse a imitação da natureza, até mesmo porque nessa época as ideias gregas estavam 
renascendo e um dos paradigmas dos filósofos gregos era que a verdadeira arte deveria imitar a 
natureza. O cenário renascentista contribuiu com a formação e a visão de mundo de Leonardo da 
Vinci não somente como artista e inventor, mas também como ser humano.
Já no caso de Van Gogh, o final do século XIX na Europa ainda vivia, na arte, uma certa 
“crise”, na qual a pintura tinha a sua função de registro questionada, pois já existia a fotografia. 
Portanto a pintura deveria, de certa forma, reinventar-se para se manter viva, pois sua função inicial 
já não fazia mais sentido na época. Percebemos na obra de Van Gogh que, ao se autorrepresentar, 
ele não teve as mesmas preocupações técnicas que o artista renascentista. Van Gogh fez parte de 
um movimento chamado pós-impressionismo, em que as questões que discutiam o uso da cor, 
texturas, formas e volumes construídos por camadas de cores e efeitos de luzes eram as demandas 
da classe artística.
Metodologia do ensino de Arte24
Portanto, podemos perceber que, sim, o meio social influencia as nossas vidas, e não seria 
diferente com os artistas. Maria Eunice de Oliveira (2010, p. 16) defende, baseada em Vygotsky 
(1966) e Pareyson (1982), que o artista não cria uma obra sozinho, pois é no seio da sociedade, “a 
mesma sociedade que nele gera inquietações, anseios, dúvidas, alegrias ou medos; é na interação 
com o mundo, que ele cria e se expressa em sua arte”. O homem é um ser social, que se desenvolve 
em sociedade. A criatividade também é moldada de acordo com seu contexto social e sua rede 
de interações e, por isso, é impossível que alguém crie algo “do nada”. Nenhuma pessoa pode se 
desenvolver ou criar alguma coisa além do que o seu ambiente oferece. Por isso, toda forma de 
criação humana traz consigo o cenário coletivo do período em que está inserida.
2.3 Aspectos subjetivos da arte
O que entendemos por subjetividade? A definição dessa palavra, segundo 
o dicionário Michaelis (SUBJETIVIDADE, 2015), é a seguinte: “1. Caráter ou 
qualidade de subjetivo. 2. Aquilo que se relaciona unicamente a um indivíduo, 
sendo inacessível a outrem. 3. Característica de todos os fenômenos psíquicos que 
se relacionam ao próprio indivíduo e considerados por ele como seus”.
Gostaríamos de destacar as definições 2 e 3 anteriormente descritas. Na descrição número 
2, em uma definição filosófica, tudo o que se relaciona apenas com um sujeito, não permitindo que 
nenhum outro possa vir a ter acesso a essa relação, é algo subjetivo. Um exemplo disso são os nossos 
pensamentos: apenas os donos de cada pensamento formulado têm acesso a eles. Outro exemplo 
muito interessante são as memórias: por mais que uma pessoa possa compartilhar memórias com 
outra, cada um elabora e retém a memória de uma forma única e nunca saberemos como a outra 
pessoa se recorda de tal informação. Claro que existem vários outros exemplos, como os nossos 
sentimentos, traumas, medos, angústias, sonhos, crenças etc., e esses eventos se relacionam com 
a explicação número 3, que versa a respeito de fenômenos psíquicos que se relacionam com o 
indivíduo e que ele atribui a si mesmo. Logo, tudo o que faz parte da esfera mental e psicológica do 
sujeito, tudo o que faz parte do seu “mundo interior”, constitui sua subjetividade.
E o que mais pode constituir a subjetividade de uma pessoa? Podemos pontuar mais alguns 
elementos, como: sua história de vida, suas interações, suas experiências, suas memórias, suas visões 
de mundo e de si mesmo... todos os fatores subjetivos são moldados pela cultura do indivíduo, mas 
continuam sendo elementos únicos e abstratos a que só o próprio sujeito tem acesso.
A subjetividade é como uma impressão digital: cada um tem a sua. Por mais que um par de 
irmãos gêmeos univitelinos, por exemplo, more na mesma casa, tenha a mesma família, estude na 
mesma sala, tenha os mesmos amigos e professores, frequente os mesmos lugares e com as mesmas 
pessoas, invariavelmente, cada um terá a sua forma de ver o mundo, a sua personalidade, os seus 
gostos e suas próprias características subjetivas. Nesse exemplo, pode acontecer de existirem 
semelhanças bastante significativas, mas nunca uma pessoa será idêntica à outra, tratando-se da 
esfera subjetiva.
Quando queremos colocar em pauta as questões subjetivas de um artista e de suas obras, 
um dos itens mais interessantes é a sua biografia. Já comentamos neste capítulo um pouco sobre 
Vídeo
Para que serve a arte? 25
Leonardo da Vinci; para analisarmos um pouco sobre as questões da arte e da subjetividade, 
faremos uma comparação entre ele e outro artista de sua época: Michelangelo Buonarroti (1475-
1564). Observe as imagens a seguir.
Figura 5 – Obra de Michelangelo
W
ik
iA
rt
Fonte: BUONARROTI, M. A criação de Adão. 1510. Afresco: 280 x 570 cm. Capela Sistina, Vaticano.
Figura 6 – Obra de Da Vinci
W
ik
iA
rt
Fonte: DA VINCI, L. La Gioconda. [c. 1503-1519]. Tinta a óleo: 77 x 53 cm. Museu do Louvre, Paris,França.
Metodologia do ensino de Arte26
Michelangelo e Leonardo foram artistas que viveram na mesma época, na mesma cidade, e 
cresceram dentro da mesma cultura. No período do Renascimento, as questões sobre a valorização 
da razão e de colocar a racionalidade humana como o centro de todas as coisas – o chamado 
antropocentrismo –, a valorização da ciência, do concreto, do palpável e de tudo o que era comprovável 
eram o cerne da posição dos intelectuais, artistas e cientistas do período. Questionava-se a religião 
e a posição da Igreja e buscava-se mais autonomia e liberdade de pensamento. Da Vinci era quase 
23 anos mais velho do que Michelangelo, mas este, desde menino, destacou-se no campo das artes. 
Nessa época, havia uma certa divergência entre pintores e escultores e questionamentos sobre qual 
seria a arte mais valiosa cercavam o meio artístico. Michelangelo era escultor, e Leonardo, pintor, e 
ambos eram bastante conhecidos em Florença, cidade onde viviam, e em outras cidades da Itália.
Leonardo é descrito como um homem reservado, de poucas palavras, bastante meticuloso 
e obstinado com as coisas. Michelangelo, ao contrário, é definido como um homem intenso, 
valente, determinado a mostrar o seu valor e suas habilidades, sempre buscando o seu melhor, 
além de ser muitas vezes irritadiço e competitivo. Cada um deles com grande talento, porém com 
personalidades opostas e histórias de vida muito diferentes.
Gombrich (1999) relata em seu livro alguns aspectos relevantes da personalidade de 
Da Vinci e Michelangelo e sobre as obras exemplificadas anteriormente. Sobre a obra La Gioconda 
– mais conhecida como Mona Lisa –, de Da Vinci, o autor argumenta que se procurarmos esquecer 
o que sabemos da obra, buscarmos apreciá-la como se fosse a primeira vez em que a vimos, o que 
impressionaria qualquer espectador é o fato de a personagem parecer estar viva.
Ela realmente parece olhar para nós e possuir um espírito próprio. Como um 
ser vivo, parece mudar ante os nossos olhos e estar um pouco diferente toda 
vez que voltamos a olhá-la. [...] Com muita frequência, esse é o efeito gerado 
por toda grande obra de arte. Contudo, Leonardo certamente sabia como obter 
esse efeito e por que meios. O grande observador da natureza sabia mais sobre 
o modo como usamos os nossos olhos do que qualquer pessoa do seu tempo 
ou antes dele. [...] Leonardo podia ser tão laborioso na paciente observação 
da natureza quanto qualquer dos seus precursores. [...] Leonardo, o grande 
cientista, convertera em realidade alguns dos sonhos e temores dos primeiros 
fazedores de imagens. Ele conhecia a fórmula mágica que infundia vida nas 
cores espalhadas pelo seu sortílego pincel. (GOMBRICH, 1999, p. 300-303)
A técnica e o talento de Da Vinci com certeza foram aprimorados conforme a sua cultura, 
mas grande parte das suas características como artista advinham dele mesmo e da sua subjetividade. 
Possivelmente, o fato de ser uma pessoa observadora, curiosa e meticulosa o ajudou a ter um olhar 
diferenciado para as suas produções artísticas e de como ele as executaria.
Michelangelo foi convidado pelo Papa Julio ll para pintar o teto da Capela Sistina, em 
Roma, e teve grande resistência para cumprir tal chamado. Mesmo após se sentir, de certa forma, 
ofendido, pois era escultor, e não pintor, resolveu fazer o trabalho e dedicou quatro anos de sua 
vida à conclusão de sua obra. Uma das imagens que compõe essa grandiosa obra é A criação de 
Adão. Sobre ela, Gombrich (1999, p. 312-313) relata que:
Para que serve a arte? 27
Talvez a mais célebre e a mais impressionante obra seja a visão do ato de criação 
de Adão em um dos grandes campos. Artistas antes de Michelangelo já tinham 
pintado Adão deitado no chão e sendo chamado à vida por um simples toque da 
mão de Deus, mas nenhum deles se aproximara sequer de expressar a grandeza 
do mistério da criação com tamanha simplicidade e força. Não há nada na 
imagem que desvie a atenção do tema principal. [...] é um dos milagres da Arte o 
modo como Michelangelo logrou fazer o toque da mão divina o centro e o foco 
da imagem e como revelou a ideia de onipotência com a desenvoltura e a força 
deste gesto de criação. [...] Se alguém pensasse que, após a tremendo esforço 
na capela, a imaginação de Michelangelo secara, cedo se daria conta do seu 
engano, pois quando voltou ao seu amado material (mármore), seus poderes 
pareciam maiores do que nunca. [...] Michelangelo não era só admirado, mas 
também temido por seu temperamento irascível, que não perdoava superiores 
nem inferiores.
Ao lermos esses trechos sobre as obras mencionadas e seus autores, percebemos o quanto 
cada uma delas traz consigo a personalidade e a subjetividade dos artistas. Jamais uma imagem 
será completamente igual a outra, se forem realizadas por pessoas diferentes, assim como qualquer 
outro objeto ou forma de criação humana. Em sala de aula, é possível perceber isso por meio de 
uma atividade muito simples: a releitura de uma imagem. Uma releitura não é uma cópia, mas, 
após a leitura da imagem, dos seus aspectos e elementos, do seu contexto social e cultural e da 
história do seu autor, propõe-se que seja criado algo a partir do que já existe e foi analisado. Não 
importa quantos alunos participem da proposta com o real entendimento de uma releitura e nem 
se haverá um ou outro que “copiará” o desenho do colega, mas nunca haverá um desenho igual ao 
outro. Esse fato revela o quanto de nós mesmos está impregnado em tudo o que nos propomos a 
fazer e/ou criar.
Considerações finais
Maria Eunice de Oliveira (2010, p. 51) considera que “a arte é uma forma que traz consigo 
a condição de qualquer pessoa poder se expressar criativamente, recombinando elementos que a 
compõem”. Quando uma pessoa tem a oportunidade de criar em diferentes linguagens artísticas, ela 
não desenvolve sua criatividade apenas na esfera da arte, mas em vários outros campos. A atividade 
artística libera aprendizagem para a solução de problemas. Cognitivamente falando, estamos aqui 
nos referindo à inteligência. A arte desenvolve a inteligência, pois a criação aumenta a capacidade de 
assimilar informações.
“O criador ou o artista é um indivíduo que obteve suficiente habilidade no uso de um 
meio para ser capaz de comunicar através da criação de um objeto simbólico” (GARDNER, 
1999, p. 49). Criar, sejam pinturas, desenhos ou esculturas, seja música, dança ou teatro, cada 
uma das vertentes das diferentes linguagens desenvolve percepções e habilidades diferentes 
cognitivamente falando. Agora, para fechar o capítulo, faremos uma reflexão trazida por Maria 
Eunice de Oliveira (2010, p. 51): “Na escola, ouve-se música; mas cria-se música? Vê-se ou fala-
-se de pinturas, mas criam-se quadros?”.
Metodologia do ensino de Arte28
Sabemos que, muitas vezes, o cenário da escola não possibilita tantas oportunidades de 
desenvolvimento da criatividade por meio da arte, pois raramente se dispõe do material necessário. 
Contudo, às vezes, com pouco (ou o que julgamos ser pouco) conseguimos atingir e incentivar essa 
habilidade de forma muito mais efetiva do que se tivéssemos um ateliê à nossa disposição. Muitas 
vezes, a forma de nos comunicarmos, de motivarmos e de falarmos sobre arte é o suficiente para 
despertar um interesse genuíno.
Ampliando seus conhecimentos
• AGONIA e êxtase. Direção: Carol Reed. EUA, 1965. (2h 18 min.).
Esse filme conta a trajetória artística de Michelangelo, quando foi convidado pelo Papa 
Julio ll para pintar a Capela Sistina. O longa-metragem mostra todas as suas resistências, 
limitações e crises emocionais com esse imenso trabalho e a sua dedicação para chegar à 
conclusão. Vale a pena assistir! Trata-se de um filme antigo, mas de ótima qualidade e que 
conta uma emocionante história.
• COM AMOR, Van Gogh. Direção: Dorota Kobiela e Hugh Welchman. Reino Unido, 
Polônia, 2018. (1h 35 min.).
O filme representa a trajetória artística de Van Gogh e seus momentos finais. Narrado 
na perspectiva das experiênciasdo filho de um carteiro amigo de Van Gogh, o longa-
-metragem é produzido com animações baseadas nas pinturas do artista, por meio de 
computação gráfica. Trata-se de uma bela e emocionante obra cinematográfica.
Atividades
1. Reflita sobre como seria a sua vida se você nascesse 25 anos após a data original do seu 
nascimento. Que criança teria sido? Como seria seu comportamento? Seus gostos seriam os 
mesmos? Em seguida, transfira essas respostas para o papel.
2. Faça uma pesquisa mais aprofundada sobre dois diferentes artistas de uma mesma época e 
período e escreva uma análise evidenciando quais são as semelhanças e as diferenças entre 
a arte dos dois.
3. Exercite a sua criatividade e lance um desafio pessoal de, em uma semana, criar e produzir 
algo em uma linguagem artística. Proponha-se a pintar um quadro, a produzir um desenho 
com lápis de cor, a fazer uma escultura de argila, a criar uma canção ou uma coreografia de 
dança. Essa atividade serve apenas para exercitar a sua criatividade e conduzi-lo a se expressar 
de uma forma diferente. Relate para si mesmo(a) como foi a sua experiência, descrevendo-a 
por meio da escrita. Como foi seu processo criativo? Você se sentiu bloqueado(a) ou as 
ideias fluíram? Por que você acha que isso aconteceu?
Para que serve a arte? 29
Referências
BRITO, R. F. de; VANZIN, T.; ULBRICHT, V. Reflexões sobre o conceito de criatividade: sua relação com a 
biologia do conhecer. Ciênc. cogn., Rio de Janeiro, v. 14, n. 3, p. 204-213, nov. 2009. Disponível em: http://
pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-58212009000300017&lng=pt&nrm=iso. 
Acesso em: 2 mar. 2019.
GARDNER, H. As artes e o desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
GOMBRICH, E. H. A história da arte. 16. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1999.
OLIVEIRA, M. E. Teatro na escola e caminhos de desenvolvimento humano: processos afetivos-cognitivos de 
adolescentes. 265 f. Dissertação (Mestrado em Educação), Universidade Federal do Paraná, 2010. Disponível 
em: http://www.ppge.ufpr.br/teses/teses/M10_Maria%20Eunice%20de%20Oliveira.pdf. Acesso em: 4 abr. 2019.
OLIVEIRA, Z. M. F. Fatores influentes no desenvolvimento do potencial criativo. Estudos de psicologia, 
n. 1, v. 27, p. 83-92, Campinas, 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/estpsi/v27n1/v27n1a10. 
Acesso em: 4 abr. 2019.
OSTROWER, F. Criatividade e processos de criação. Petrópolis: Vozes, 2013.
SUBJETIVIDADE. Michaelis: Dicionário brasileiro da Língua Portuguesa. 2015. Disponível em: https://
michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/subjetividade/. Acesso em: 27 fev. 2019.
3
Arte no desenvolvimento humano: 
inteligência, cognição e afetividade
Neste capítulo, trataremos da relação da arte com o desenvolvimento humano, em todas as 
suas facetas, e de como a arte trabalha todas as esferas da inteligência, da cognição e da afetividade. 
Vamos aprender que a disciplina não é somente um passatempo nas escolas, tampouco um 
momento apenas para desestressar e estimular a criatividade dos alunos. A criatividade é, de fato, 
o meio em que a arte se manifesta e amplia as possibilidades das quais se configura; entretanto, 
a imaginação e a criatividade não estão presentes somente na arte, mas também na ciência e em 
diversas ordens e domínios da vida humana, como veremos a seguir.
3.1 Arte e desenvolvimento humano
Como desenvolvimento humano, entendemos o desenvolvimento integral de 
um indivíduo, desde o dia em que nasce até o seu último suspiro de vida. O tempo 
todo estamos nos desenvolvendo. A literatura psicológica costuma afirmar que o 
desenvolvimento humano abrange os processos de transformações que ocorrem 
ao longo do ciclo de vida das pessoas. Papalia e Feldman (2013) revelam que os 
estudiosos e cientistas do desenvolvimento humano o reconhecem como um processo que dura a 
vida toda e o nomeiam como desenvolvimento do ciclo de vida. Seus estudos baseiam-se nos processos 
de mudança e estabilidade em todos os domínios da vida, durante todos os períodos desse ciclo. 
Segundo as autoras, existem três domínios do desenvolvimento de cada um de nós que evoluem e 
se movimentam ao longo do ciclo de vida: o físico, o cognitivo e o psicossocial. Porém, um domínio 
não existe sem o outro, todos se desenvolvem simultaneamente, pois fazem parte de um mesmo 
indivíduo; portanto, essa separação em domínios existe apenas para fins didáticos.
Não existe separação entre desenvolvimento físico e cognitivo, assim como não existe 
separação entre razão e emoção, entre criatividade e pensamento lógico ou entre intelecto e intuição. 
Todas essas esferas fazem parte de um conjunto único no universo: o indivíduo. Somos sujeitos 
biopsicossociais, pois o homem não se desenvolve e não aprende sozinho, ele precisa apreender 
conceitos e fenômenos que existem e ocorrem fora de si, para então internalizá-los, filtrando-os, 
conforme sua experiência, e trazendo significado para cada nova vivência.
Ao longo do nosso desenvolvimento, vivenciamos algo que chamamos de humanização: 
nos tornamos humanos por meio das interações, sejam com outras pessoas, seres vivos, natureza 
ou com os próprios objetos existentes no mundo. A arte possibilita interagirmos simbolicamente 
conosco e com o mundo. Simultaneamente, comunica e expressa ideias, sentimentos, pensamentos, 
reflexões de um indivíduo e também do meio social e cultural em que está inserido.
Vídeo
Metodologia do ensino de Arte32
A arte é de extrema importância para o desenvolvimento humano dos indivíduos e pode e 
deve ser experienciada e oportunizada por meio da educação. Quando falamos sobre educação, 
estamos tratando do processo do desenvolvimento, do desabrochar, do florescer.
O objetivo da educação é o desenvolvimento humano. A escola é um lugar importante, onde 
construímos uma rede de interações que produzem constantes aprendizados. É na escola que, 
diariamente, aprendem-se e exercitam-se, por exemplo, rotinas, regras e combinados. Tais eventos 
contribuem para a internalização de conceitos que permitirão a elaboração de recursos para formação 
da cidadania e da possibilidade de se viver em sociedade, com respeito aos limites e com direitos e 
deveres bem formulados e esclarecidos.
A possibilidade e a experiência da educação por meio da arte e do fazer artístico viabilizam 
inúmeros progressos que beneficiam o sujeito integralmente e visam ao desenvolvimento de uma 
personalidade harmoniosa. A arte possibilita o encontro do ser consigo mesmo, de si com os outros 
(desenvolvendo empatia) e com a totalidade da realidade humana. A arte provoca capacidade de 
observação e senso crítico de ocorrências ao nosso redor, além de estimular a criatividade mediante a 
comunicação por meio de outras linguagens. Além disso, também oportuniza o desenvolvimento da 
percepção sensorial e da sensibilidade, conceito que muitas vezes é subestimado e tratado amplamente 
como fragilidade emocional.
Após uma breve análise das designações da palavra sensibilidade, segundo o dicionário 
Michaelis da língua portuguesa, selecionamos quatro das 15 definições desse conceito, que se 
aplicam ao presente contexto:
1. Qualidade de sensível. [...] 3. Faculdade de experimentar emoções e 
sentimentos, principalmente de sentir compaixão, piedade, ternura pelo 
próximo. [...] 5. Capacidade de sentir e captar o que existe no mundo e de 
expressá-lo criativamente. [...] 8. Capacidade de ser emocionalmente favorável 
e compreensível; solidariedade. (SENSIBILIDADE, 2015)
As definições de sensibilidade são constructos desenvolvidos com a vivência e com a prática 
artística. Salientamos que somente o “fazer por fazer” não desenvolve todas as habilidades que o 
indivíduo traz consigo no seu referencial de potencialidades. A prática artística deve ser orientada, 
planejada e refletida, sempre contextualizada e com seus propósitos esclarecidos, pois apenas assim 
o senso crítico e a capacidade de argumentação e explicação de propósitos são trabalhados.
A prática daarte deve permitir aos alunos não apenas criar produtos artísticos, mas também 
apreciá-los, examiná-los e avaliá-los, possibilitando a compreensão da importância da produção 
artística, superando a ideia de que, quando desenham, cantam, dançam ou encenam uma peça de 
teatro, estão se distraindo da seriedade de outras atividades escolares. A melhor maneira de tornar 
a Arte uma disciplina consistente como qualquer outra é indicar como as manifestações artísticas 
estão presentes no cotidiano, nas ruas, nas construções civis, nas vitrines, nas roupas, nos jogos, no 
design dos objetos, nas músicas que ouvimos, nos filmes e séries que assistimos, na tecnologia em 
geral etc. Os conceitos e habilidades desenvolvidos nas aulas de Arte são necessários para entender 
e usufruir do mundo que nos cerca.
Arte no desenvolvimento humano: inteligência, cognição e afetividade 33
Neves (2009) argumenta que a educação por meio da arte (ou o ensino da Arte) objetiva o 
desenvolvimento de capacidades e o conhecimento da arte em si, além de possibilitar a criação de 
recursos psicológicos internos que preparam os alunos para atuar como cidadãos inteligentes, 
sensíveis, estéticos, reflexivos, criativos e responsáveis, humanizando-os e ajudando-os a humanizar 
o mundo. Se desenvolvimento humano contempla o ser em sua totalidade, e não apenas sob uma das 
suas dimensões individuais ou sociais, a educação precisa focar no desenvolvimento da criatividade do 
educando, tornando-o apto para melhores formas de seu relacionamento com o outro e com o mundo.
Apesar das diversas linguagens artísticas – música, desenho, pintura, teatro... 
– serem veículos eficazes para a experimentação artística, a liberação da 
criatividade tem como principal objetivo o aprendizado e a expressão, pois mais 
importante que o desempenho do aluno numa dessas linguagens é o exercício 
de sua inteligência e a sensibilidade na busca do seu desenvolvimento integral. 
(NEVES, 2009, p. 64)
Inteligência, sensibilidade e criatividade são fenômenos interdependentes. A sensibilidade não 
pode ser vista como sinônimo de vulnerabilidade, mas sim como uma percepção mais abrangente e 
mais crítica sobre o mundo, a vida e tudo o que nos rodeia. A criatividade é estimulada pelas nossas 
percepções, criando sempre novos recursos de solução de problemas, em todas as esferas da vida 
humana. A criação não se limita apenas aos eventos artísticos, mas a qualquer âmbito da 
existência humana. Estamos sempre pensando, observando, analisando e criando hipóteses 
e possibilidades de vida. A inteligência se desenvolve conforme a criatividade trabalha, aumentando 
as informações que guardamos e levamos conosco em nossa memória.
3.2 Arte, cognição e inteligência
A arte tem como objetivo o aprimoramento e o desenvolvimento dos 
domínios cognitivo, intelectual e afetivo, pois cada uma dessas esferas é um único 
fenômeno que constitui o indivíduo.
Quando nos referimos à inteligência, o que vêm à sua mente? Você consegue 
definir o que é inteligência? E o que é cognição? Pense um pouco a respeito antes 
de pesquisar esses termos e de prosseguir com a leitura.
Inteligência e cognição são eventos diferentes, mas que fazem parte do mesmo domínio 
psíquico. Novamente, tomaremos as definições descritas pelo dicionário para ampliar nossa linha 
de raciocínio sobre esses conceitos. Iniciaremos com a descrição de inteligência:
1. Faculdade de entender, pensar, raciocinar e interpretar; entendimento, 
intelecto, percepção, quengo. 2. Habilidade de aproveitar a eficácia de uma 
situação e utilizá-la na prática de outra atividade. 3. Princípio espiritual e 
abstrato considerado a fonte de toda a intelectualidade. 4. Capacidade de 
resolver situações novas com rapidez e êxito, adaptando-se a elas por meio 
do conhecimento adquirido. 5. Conjunto de funções mentais que facilitam 
o entendimento das coisas e dos fatos. [...] 7. Compreensão recíproca. 
(INTELIGÊNCIA, 2015)
Vídeo
Metodologia do ensino de Arte34
Todas as definições podem trazer uma enorme discussão para conseguirmos delimitar o 
que é inteligência. Porém, destacaremos aqui uma que resume, basicamente, todas as expostas 
anteriormente: inteligência é a capacidade de resolver problemas.
Enfrentamos problemas diários de todas as ordens: desde aprender a andar, amarrar os 
cadarços dos tênis, ler, desenhar, aprender álgebra, a conviver com regras, manter relacionamentos 
saudáveis e também lidar com o fim de muitos deles, aprender a dirigir, aprender química, 
aprender a lidar com a vida financeira, com o sofrimento, com a doença e com o luto, aprender 
uma nova atividade ou um novo hobby e aprender a gerenciar nossas próprias vidas. Ao longo 
da vida, diariamente, lidamos com aprendizados, e eles são formulados a partir de experiências 
sensoriais e interações. Cada vez mais, tornamo-nos mais inteligentes e experientes, à medida que 
criamos soluções e estratégias para problemas de diversas ordens, sejam eles da vida cotidiana ou 
da esfera acadêmica e intelectual.
Em relação às crianças, Oliveira (2010) resgata Vygotsky (1989), que explica que as aprendizagens 
realizadas na escola são diferentes daquelas que a criança conquistou anteriormente no seu cotidiano, pois 
dizem respeito aos fundamentos do conhecimento científico, exigindo da criança o desenvolvimento 
de funções psicológicas novas e complexas que os adultos já têm fundamentadas. A autora ainda 
revela que “entende-se por funções psicológicas cognitivas os recursos internos (mentais) mobilizados 
pelo sujeito no conhecimento do mundo. Entre tais funções normalmente se aponta a memória, a 
atenção, o pensamento verbal, a percepção, a linguagem e a imaginação” (OLIVEIRA, 2010, p. 63).
A cognição permeia a inteligência, pois é por meio dela que o indivíduo resguarda sua 
identidade e sua história, armazena informações, dados e soluções, foca no que é necessário, 
articula a linguagem e a comunicação, interpreta símbolos e linguagens, percebe fenômenos à sua 
volta, faz relações entre as partes e o todo, constitui ideias e abstrai pensamentos e estratégias.
A imaginação e a criatividade são funções essenciais na vida humana. Muitas vezes, 
elas estão relacionadas a ideias de isenção de compromissos e liberdade absoluta, e tais ideias 
costumam atrelar-se, no senso comum, ao próprio fazer artístico. Porém, Ostrower (2013) ressalta 
que, nas diversas esferas onde há ação e pensamento do homem, verifica-se a mesma origem 
dos processos criativos regidos pela sensibilidade (e é claro, por todas as funções cognitivas): 
nas artes, nas ciências, na tecnologia, no cotidiano e em todos os comportamentos produtivos 
e atuantes do homem, a criatividade é um fenômeno constante. A autora complementa tal ideia 
salientando que em cada esfera material ou campo de atuação (como ciência, tecnologia etc.) 
existem possibilidades e impossibilidades de ação dentro da materialidade; porém, essas questões 
não podem ser vistas como limitadoras da criatividade e da imaginação (a autora utiliza o termo 
imaginação criativa), mas sim como orientadoras, originando caminhos e direções diferentes e 
ideias novas de condução de trabalho. Logo, não existem diversos tipos de imaginação criativa, 
pois se assim fosse, teríamos um tipo de imaginação para cada esfera da vida: imaginação científica, 
imaginação tecnológica, entre outras.
A criatividade e a imaginação são fenômenos que andam de mãos dadas com a inteligência, 
pois a criatividade permite que os indivíduos também possam criar, psiquicamente, recursos 
internos com dados e informações para a solução de problemas. Logo, a cada solução e a 
Arte no desenvolvimento humano: inteligência, cognição e afetividade 35
cada estratégia que criamos para nossos problemas, estamos exercitando e ampliando nossa 
inteligência, que é mediada pela cognição. O fazer artístico permite que a criatividade esteja 
sempre em constante atuação. Logo, a arte vai muito além de apenas pintar, brincar de teatro, 
dançar ou cantar: a arte desenvolvea inteligência.
3.3 Arte e afetividade
A inteligência que desenvolvemos ao longo das nossas vidas juntamente às 
funções cognitivas que a cercam são vias que permitem a um sujeito se constituir 
e se identificar como humano e conhecer e interpretar a realidade interna e 
externa. Porém, não é apenas com esses recursos que, como humanos, podemos 
contar. As funções cognitivas não são as únicas que permitem ao sujeito conhecer 
a realidade; a afetividade também é um meio que está intervindo o tempo todo em nosso processo 
de desenvolvimento. A afetividade não pode ser isolada das demais dimensões do ser, porque, na 
verdade, não existe separação entre cognição e afetividade.
Mas o que é afetividade? É importante destacarmos que ela, muitas vezes, é tratada como 
sinônimo de carinho, afeição ou ternura. E, é claro, não deixa de ser; entretanto, quando tratamos 
de afetividade no contexto do desenvolvimento humano e da educação, estamos nos referindo a 
um processo interacional.
Na interação do sujeito com o exterior, o indivíduo é constantemente afetado, porém está 
também constantemente afetando vários dos demais seres do mundo. Em toda interação ocorre 
esse fenômeno, como se fosse um movimento de ação e reação. Diante de tal interação, nascem 
diversas formas de ligação do indivíduo (interno) com o mundo (externo): analogias, afinidades, 
repulsas, enfim, conflitos1, que, “no sentido etimológico do termo, é algo que se dá a partir do 
encontro, do choque, do embate; do resultado desses ‘conflitos’ é que nasce a afetividade entre as 
possibilidades de existência” (SANT’ANA; LOOS; CEBULSKI, 2010, p. 115).
Diante de tal ideia, podemos considerar que somos um produto da afetividade. Tudo na 
vida é resultado da afetividade, pois estamos sendo afetados e afetando o tempo todo. A nossa 
cognição, nossa inteligência, identidade e personalidade também são frutos da afetividade, pois 
foram moldadas conforme cada impressão que vivenciamos ao longo das nossas vidas. Logo, 
conclui-se que inteligência, cognição e afetividade são um mesmo fenômeno. “Não há supremacia 
da cognição em detrimento da afetividade, por serem o mesmo fenômeno: o do entendimento 
da realidade; baseando-se nos afetos sentidos e percebidos pelo sujeito” (SANT’ANA; LOOS; 
CEBULSKI, 2010, p. 110). Não existe uma linha divisória de cada fenômeno psicológico que nos 
concebe como indivíduos únicos, pois:
a afetividade humana se constitui na relação com vários outros componentes 
psicológicos e intelectuais. Assim, para poder emocionar-se, o indivíduo 
1 Não entender o termo conflito de forma negativa. Aqui, os autores colocam esse conceito relacionando-o mais à 
ideia de abalo, baque ou, até mesmo, uma “impressão”. Na interação entre dois indivíduos, sempre haverá um processo 
dual de afetar e ser afetado. Esse movimento causa um desequilíbrio em nosso sistema psíquico (algo muito próximo 
ao que Piaget se referiu sobre o processo de equilibração, ao afirmar que a inteligência só cresce quando é confrontada 
com um novo aprendizado e busca novamente o seu equilíbrio, assimilando e acomodando novas informações).
Vídeo
Metodologia do ensino de Arte36
humano precisa ter também memória, pensamento, imaginação, planejamento, 
conhecimento, linguagem, conceitos, significados, sentidos, percepção, atenção. 
(LOOS; SANT’ANA, 2007, p. 15)
Destacamos aqui a ideia colocada pelos autores na citação anterior: “para emocionar- 
-se, o indivíduo humano precisa ter também memória, pensamento, imaginação, planejamento, 
conhecimento, linguagem, conceitos, significados, sentidos, percepção, atenção (funções psicológicas 
superiores)” (LOOS; SANT’ANA, 2007, p. 15). Tal ideia nos remete ao fato de que não há a divisão 
entre razão e emoção, emoções que costumeiramente percebemos no mundo. Nossa cultura baseia-se 
na dicotomia entre razão e emoção como fenômenos antagônicos e, inclusive, pressupõe que a razão 
é mais importante do que a emoção. Nas escolas, percebemos tal conjuntura no currículo brasileiro, 
no qual, por exemplo, constrói-se em uma carga horária maior de disciplinas mais “lógicas” e exatas 
em detrimento de disciplinas da área de humanas. Parece, muitas vezes, que disciplinas que valorizam 
a expressão do sujeito, seus sentimentos e emoções, sua individualidade e seu autoconhecimento são 
vistas como supérfluas ou como mera diversão, quando comparadas às que desenvolvem raciocínio 
lógico matemático e raciocínio abstrato, por exemplo. Efland (2005) discute sobre essa questão 
da compartimentalização do currículo educacional, como se de um lado estivesse a propriedade 
da cognição, da razão e da lógica e, do outro lado, a natureza corpórea, perceptual, emocional e 
imaginativa. Para o autor, “a educação deveria ter como propósito fundamental a capacidade cognitiva 
nos indivíduos pelo uso da imaginação, em todas as disciplinas, principalmente em arte” (EFLAND, 
2005, p. 343).
A arte é influenciada por muitos fenômenos e, por isso, diferencia-se tanto de uma sociedade 
para outra e de um período para outro. A arte carrega em si aspectos individuais que constituem 
a subjetividade do artista: sua história, suas experiências, suas percepções, suas memórias. Ao 
mesmo tempo, traz dentro de si o contexto social em que o artista vive, seus aspectos históricos, 
valores culturais e religiosos, leis, ética ou moral. A arte expressa uma “mistura de eventos” e é por 
isso que ela nunca se manifesta da mesma forma, será sempre expressa de diferentes maneiras, já 
que é influenciada por uma combinação de elementos moldados pelo tempo, pelo espaço e por 
cada indivíduo.
Read (2001) concorda com Vygotsky (2001) ao propor que, por meio da arte, o sujeito 
coordena o campo sentimental do seu psiquismo. Sentir é a origem do processo de criação e está 
ligado à afetividade humana; perceber é um processo de conhecer a si mesmo e como os fatos nos 
afetam, direta ou indiretamente.
A arte é importante no contexto educacional porque “equipa os indivíduos com relevantes 
ferramentas para desenhar seu mundo” (EFLAND, 2005, p. 343). Indivíduos que têm maior 
domínio de autopercepção passam também a ter uma melhor percepção da subjetividade do outro, 
desenvolvendo empatia e sensibilidade diante de outras realidades, exteriores à sua.
Os aspectos cognitivos, que muitas vezes são relacionados à razão e à ciência, também estão 
presentes na arte. A atenção, o planejamento, a combinação de elementos, a percepção, a memória 
e a linguagem também fazem parte da produção e do fazer artístico. Você consegue imaginar um 
Arte no desenvolvimento humano: inteligência, cognição e afetividade 37
compositor fazendo uma canção sem prestar atenção no que está fazendo? Ou um bailarino sem 
planejamento e sem percepção ao criar uma coreografia? Um ator que não memoriza seu texto 
e não percebe detalhes fundamentais na construção do seu personagem? Ou um pintor que não 
planeja a combinação dos elementos visuais (cores, texturas, formas e volumes) em sua obra?
Artistas e cientistas constroem repetindo uma técnica, teoria ou obra já feita, 
mas também intuem, imaginam, criam, e têm majestosos pensamentos. Por que 
nossos estudantes devem apenas repetir? Pensamos que há algo de objetivo no 
trabalho do artista, assim como há muito de subjetivo no trabalho do cientista, 
pois são seres humanos, não são seres vivos desprovidos de sentimentos (se 
existem seres vivos desprovidos de sentimentos, não sabemos); separar a vida 
emocional cotidiana, do trabalho, é uma utopia. (YAMAZAKI; YAMAZAKI; 
ZANON, 2008, p. 5)
Talvez, o aspecto em comum entre arte e ciência mais relevante que podemos pontuar é 
o caráter criativo desses dois campos do conhecimento. O envolvimento que um artista precisa 
apresentar com seu projeto artístico ou com sua obra é o mesmo que um cientista precisa ter em seu 
projeto científico ou com seu experimento. Ambos os campos exigem mais do que conhecimento 
teórico; exigem paixão e entrega, criação e intuição. Arte e ciência funcionam com testes de

Continue navegando