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Trabalho direito civil

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ
(PUC-PR)
CURSO DE DIREITO
TRABALHO DISCENTE EFETIVO
IRDR e Assunção de Competência 
LONDRINA
2017
Sumário
1. Questões:	1 à 27
2. Julgado:	28
1. Questões:
27. É possível se falar em dano moral no tocante a relações de consumo? Se possível, qual a teoria adotada pelo código de defesa do consumidor? No que consiste o chamado risco do desenvolvimento nas relações de consumo?
R: De acordo com o Código do Consumidor, o dano moral está diretamente vinculado a teoria da responsabilidade objetiva, já que o ônus da prova é invertido devido à dificuldade de o consumidor provar os defeitos e falhas inerentes ao produto, passando a ser um dever do fornecedor da mercadoria.
Se tratando do risco do desenvolvimento, essa é uma teoria aplicada no Código do Consumidor, cujo o argumento estabelece que os produtos que, em razão de sua antiga implantação no mercado, se tornaram ultrapassados, tendo por consequência, uma tecnologia mais recente identificando algum risco inerente ao produto.
No entanto, é considerado uma excludente de responsabilidade, uma vez que ao tempo em que o produto foi inserido no mercado, não existia um recurso suficiente para prever o prejuízo.
28. Em relação aos profissionais liberais, qual é a teoria do dever de indenizar adotada pelo código de defesa do consumidor. Justifique
R: A teoria que o Código de Defesa do Consumidor adota, em relação aos profissionais liberais, é a teoria da responsabilidade subjetiva. De acordo com o artigo 14, §4º do Código de Defesa do Consumidor: “A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa”, sendo assim, quando se faz necessário a comprovação de culpa, estamos tratando de responsabilidade subjetiva.
29.  Discorra sobre a responsabilidade civil do médico e do advogado, indicando, inclusive, se tais obrigações são de meio ou de resultado.
R: A responsabilidade civil do médico está prevista no Código de Ética Médica, trazendo em seu artigo 1º que: “A Medicina é uma profissão a serviço da saúde do ser humano e da coletividade e será exercida sem discriminação de nenhuma natureza”
Se tratando da atividade do advogado, esta é determinada pelo Estatuto da Advocacia e da OAB no artigo 32 da Lei nº8.906/94: “O advogado é responsável pelos atos que, no exercício profissional, praticar com dolo ou culpa”. O artigo 33, ainda determina que: “’O advogado obriga-se a cumprir rigorosamente os deveres consignados no Código de Ética e Disciplina‘. Além disso, a responsabilidade do advogado está sujeita a Constituição Federal em seu artigo 133 e ao Código Civil em seu artigo 927 e 186. Não bastando, o advogado também é fornecedor de serviços, dessa maneira também se sujeita ao Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 14, §4º se tratando da responsabilidade pessoal do profissional liberal.
       	Desta forma, de acordo com o CDC, as responsabilidades pessoais dos profissionais liberais serão apuradas mediante a verificação de culpa, já que ambas as profissões fazem parte de serviços cuja obrigação é considerada de meio e não de resultado.
30. Discorra sobre a solidariedade na obrigação de indenizar, inclusive com exemplos ilustrativos.
R: De acordo com o artigo 265 do Código Civil, a solidariedade não se presume, esta resulta da lei ou da vontade das partes, sendo assim, é necessário que seja analisado se tal pessoa é solidária ou não para que se concorra com a indenização do dano.
TRF-4 - APELAÇÃO CIVEL AC 7075 RS 2005.71.08.007075-0 (TRF-4)
Data de publicação: 15/03/2010
Ementa: DANO MORAL. DUPLICATA FALSA. NEGLIGÊNCIA. DANO PRESUMIDO. SOLIDARIEDADE NA OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR O DANO. Responde solidariamente a instituição bancária por eventuais prejuízos causados ao autor/sacado, que teve protestado indevidamente um título cambial.Pela impossibilidade de retorno ao status quo ante, a reparação do dano moral deve ter cunho compensatório e, ainda, para desestimular novas condutas danosas, pedagógico, sempre tendo por base o princípio da razoabilidade, a fim de evitar o enriquecimento sem causa.
31.  Discorra sobre a responsabilidade civil do incapaz, abordando, inclusive com exemplos a questão em torno da emancipação. Em outros termos, pergunta-se um emancipado pode responder a uma ação indenizatória ou se referida medida deve ser suportada por seus pais.
R: De acordo com o Código Civil, em seu artigo 932, “são também responsáveis pela reparação civil: I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia”; o artigo 933, vai dizer: “Às pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos”. E por fim, o artigo 928 vai falar a respeito do incapaz, “O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes. Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser equitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem”.
Desta forma a responsabilidade no caso é objetiva. Com base no entendimento do STJ, a emancipação legal tem o “poder” de excluir a responsabilidade civil dos pais pelos atos praticados pelos filhos menores, contudo quando se tratar de emancipação voluntária, esta não exclui a responsabilidade dos pais.
32. Discorra sobre a responsabilidade pressuposta.
R: A responsabilidade pressuposta é uma teoria inovadora no ramo da responsabilidade civil proposta pela Professora Giselda Maria Fernandes em sua tese a respeito de livre-docência da USP. Em sua teoria, é retirado o elemento culpa para a concretização da responsabilidade. Segundo a professora “as vítimas deveriam ser ressarcidas antes mesmo que fosse feita uma análise da procedência da culpa”.
Essa teoria vai trazer como prioridade o dano, ou seja, o dano ocuparia o papel principal ao se verificar a responsabilidade, desta forma, um indivíduo ao sofrer um dano, este primeiro seria ressarcido e somente depois se pensaria em localizar o culpado ou o causador do dano.
A teoria abordada pelo Professora Giselda abre um novo horizonte para a responsabilidade civil, mostrando que a análise de culpa não é tão importante se comparado ao ressarcimento do dano a vítima, tendo em vista que muitos danos não são reparados pela demora na hora de localizar o culpado, gerando muitas vezes o aumento do dano, podendo evoluir para uma situação irreparável.
33. Discorra sobre a teoria da socialização dos riscos. Está relacionado a teoria objetiva ou subjetiva em torno do dever de indenizar?
R:		 É fato que, toda atividade realizada pode resultar um risco danoso, acarretando consequências no ordenamento para aquelas pessoas responsáveis pela execução. Sendo assim, seria uma maneira de afastar a responsabilidade ligada a culpa e a ampliação da responsabilidade sem culpa. 
Uma teoria que “explica” essa ampliação é a teoria do risco. De acordo com essa teoria, toda pessoa que exerce alguma atividade cria um risco de dano a outrem, sendo obrigado a reparar ainda que a conduta do agente esteja isenta de culpa.
Levando em conta a socialização de riscos, uma situação em que não é possível presumir culpa ou que não exista a responsabilidade individual de indenizar, a socialização dos riscos resguarda a indenização, uma vez que as situações de riscos tendem a aumentar, já a possibilidade de ressarcir tende a diminuir. Dessa forma, um instrumento muito eficaz para a garantia da reparação do dano seria, por exemplo, a solidariedade.
34- Discorra sobre os direitos e deveres dos condôminos, a responsabilidade do condômino nocivo e a sanção de expulsão. Explique, também, se é possível o condomínio ser responsabilizado quando ocorrem furtos nas garagens dos prédios. Pode esse mesmo condomínio, por igual, ser responsabilizado por objetos que caem das sacadas dos apartamentos localizados nos andares superiores? Qual a justificativapara tanto?
R: Se tratando dos direitos e deveres dos condôminos, de acordo com os artigos 1.335 e 1.336 do Código Civil, os direitos e deveres dos condôminos buscam uma convivência pacífica e justa no condomínio.
Art. 1.335. São direitos do condômino:
I - usar, fruir e livremente dispor das suas unidades;
II - usar das partes comuns, conforme a sua destinação, e contanto que não exclua a utilização dos demais compossuidores;
III - votar nas deliberações da assembleia e delas participar, estando quite.
Art. 1.336. São deveres do condômino: 
I - contribuir para as despesas do condomínio na proporção das suas frações ideais, salvo disposição em contrário na convenção; (Redação dada pela Lei nº 10.931, de 2004)
II - não realizar obras que comprometam a segurança da edificação;
III - não alterar a forma e a cor da fachada, das partes e esquadrias externas;
IV - dar às suas partes a mesma destinação que tem a edificação, e não as utilizar de maneira prejudicial ao sossego, salubridade e segurança dos possuidores, ou aos bons costumes. 
Se tratando da Responsabilidade do condômino nocivo, muitas vezes algumas situações excepcionais acabam acontecendo entre um vizinho e um condomínio, acarretando intermináveis conflitos na esfera judiciária. Logo, alguns questionamentos surgem, como por exemplo a expulsão do condômino pois, este não possui um comportamento compatível com a vivência social. O artigo 1.377, parágrafo único, traz em seu texto uma imposição aos condôminos antissociais o pagamento correspondente ao décuplo do valor das contribuições mensais, após a votação de três quartos dos condôminos restantes, independente das perdas e danos que se apurem. Desta forma, quando se trata da responsabilidade civil, o condômino terá que pagar a multa, além de restituir a perda e danos causados por sua atitude incompatível.
Em relação a Sanção de Expulsão, é tema muito discutido ainda hoje acerca da licitude do condômino que se comporta de maneira antissocial. Uma parte da doutrina entende que a medida de expulsão não é correta/cabível, já que o Código Civil não prevê em nenhum artigo tal medida. Contudo, por outro lado, há quem defenda a medida de expulsão, tendo como fundamento que os condôminos possuem uma tutela específica para quando ocorrer a insuportabilidade da convivência que foi causada devido a violação de comportamentos e valores mínimos exigidos para a vida em condomínios, não merecendo que estes fiquem desprotegidos juridicamente.
Por fim, temos a responsabilidade de furtos em garagens de prédios, de início um condomínio não tem a obrigação de guardar os bens de seus moradores, entretanto, é necessário distinguir se o condômino possui função destinadas a zelar pela guarda desses bens, como no caso de vigias, dispositivos de segurança, seguranças, entre outros. Caso este possua essa função, a responsabilidade pelo furto do veículo ou objetos pertencentes ao veículo, poderão ser cobrada, pois tinham prepostos contratados para cuidar desses bens, que negligenciaram e permitiram a consumação do furto.
Já a responsabilidade por queda de objetos dos apartamentos que se encontram nos andares superiores, o artigo 938 do Código Civil, impõe a responsabilidade objetiva pelos objetos lançados de seu apartamento. Esta responsabilidade tem como base o princípio da guarda, ou seja, se presume que o proprietário do apartamento é o guardião da coisa. Caso não for possível identificar de qual apartamento o objeto adveio, a responsabilidade será de todo condomínio, visando a impossibilidade da vítima sofrer o dano sem que tenha restituição.
35. É possível haver condenação do município se algum automóvel for subtraído em “zona azul”, por exemplo? Aliás, pode o município sofrer dano moral?
R: Os estacionamentos rotativos, também chamados de “zona azul”, são aqueles constituídos pelos municípios, com a justificativa de que a cobrança estimula a rotatividade, estabelecendo tarifas em conformidade com o tempo em que o veículo fica estacionado e caso sejam violadas serão aplicadas sanções administrativas por esse “órgão”.
E aí surge a discussão, será possível indenização o motorista que tem seu carro furtado em “zona azul”? Primeiramente, é importante lembrar que mesmo a empresa geradora de tal “zona azul” seja priva, esta não perde a natureza de serviço público, pois, a administração pública é detentora do direito de exploração ou repasse, não deixando assim, que tal serviço perca o caráter público.
Muitos afirmam que é possível que exista a indenização na modalidade da responsabilidade objetiva, já que o Estado tem o “dever de guarda” que o responsabiliza pelos danos sofridos em tal veículo, assim como acontece em estacionamentos privados.
Contudo, quando se trata de “zona azul” temos uma ausência de relação de consumo, entre o usuário e o serviço público, não existindo assim o dever de guarda e conservação, não podendo ser atribuído responsabilidade civil perante o Município. Além disso, não há que se falar em responsabilidade objetiva, já que o exame que seria imposto é da responsabilidade subjetiva, devendo o condutor provar a ocorrência de omissão pelo ente público.
Com isso, mesmo que a “zona azul” envolva o pagamento de uma “taxa”, não se tem o dever de indenizar por parte do estado em caso de furto, roubo ou danos em veículos estacionados em tais áreas, tendo como justificativa a ausência do nexo que ligue o fato com a culpa do agente administrativo. Sendo a administração pública, só responsável por danos que sejam provados que, decorrente de sua omissão ou atuação falha, foi decorrente para que ocorresse tal evento.
Se tratando de a possibilidade do Município sofrer dano moral, vale destacar que a matéria a ser discutida se impõe bastante controvertida na doutrina e também na prática. De acordo com o entendimento do STJ, firmado pelo Recurso especial 1.258.389 do STJ, traz o entendimento de que as pessoas jurídicas de direito público não sofrem danos morais. Foi decidido por ele que as pessoas jurídicas de direito público não possuem o direito a indenização por danos morais relacionados a honra ou imagem em litígio em desfavor do particular. Além disso afirmou um dos relatores que “os eventuais ataques ilegítimos a pessoas jurídicas de direito público podem e devem ser solucionados pelas vias legais expressamente consagradas no ordenamento, notadamente por sanções administrativas ou mesmo penais; soluções que aliás, se harmonizam muito mais”.
Concluímos então que os danos morais estão totalmente vinculados aos direitos da personalidade, desta forma, afasta a indenização moral em favor da fazendo pública, por ser típico de pessoas naturais e não de pessoas jurídicas de direito público.
36. Pode o Estado ser responsabilizado por prisão ilegal? Pode o Estado ser condenado a indenizar presos em razão das condições subumanas nos presídios brasileiros? A lesão ao direito dos presos refere-se a direito difuso, coletivo ou individual homogêneo? Como deve o Poder Judiciário enfrentar essa questão? O preso tem dignidade? 
R: De acordo com a Constituição Federal de 1988, art. 5º, LXXV: “o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença‘’.
Portanto, o Estado pode ser responsabilizado por prisão ilegal em decorrência de erro judiciário. Também irá responder se o erro estiver desde o começo evidenciado, sem motivo aparente; se houver excesso de prazo, omissão, prisão sem as formalidades legais, etc. 
A dignidade da pessoa humana é um dos fundamentos da república previsto no artigo 1 da CF, além disso,  é um direito fundamental expresso no artigo 5 da CF. Desse modo, esse pressuposto deve ser garantido a todos sem qualquer tipo de preconceito ou exceção. 
Por isso, mesmo que preso esteja recluso da sociedade, as suas garantias e direitos não podem ser deixados de lado ou esquecidos, pelo contrário, a sua dignidade deve ser mantida, assim como as condições mínimas de vivência que deve ser garantido pelo estado. E tudo que acontecer com o preso dentro dapenitenciária é responsabilidade do Estado.
Além disso, o  direito do preso é considerado um direito individual, pois é coletivo típico, ou seja, trata-se de um direito coletivo onde os sujeitos são mais de um e determinados. Desse modo, objetivando-se unir várias demandas individuais em uma única coletiva, por razões de facilitação do acesso à justiça e priorização da eficiência e da economia processuais.
37. Pode o Estado responder se o policial militar, à paisana e fora do horário de serviço, atinge terceira pessoa ao utilizar arma de fogo?
R: O policial militar na prestação de seu exercício, ‘’longa manus’’, quando sua função consiste em trabalhar para o Estado em prol da segurança pública, age como agente estatal. Todavia, o mesmo não ocorre quando está fora de seu horário de serviço e à paisana, dessa forma o ato ilícito deve ser atribuído unicamente ao agente, na condição de cidadão comum.
38. Qual a posição da doutrina e jurisprudência a respeito da conduta omissiva perpetrada por pessoas jurídicas de direito público quando da ocorrência de um dano? Exemplo: os pais de uma criança movem ação de indenização em desfavor do Município de Londrina alegando que seu filho veio a óbito em decorrência de ausência de manutenção de determinado brinquedo instalado em parque municipal que, por estar quebrado, caiu sobre a cabeça da criança, levando-a óbito. Nesse caso, adota-se a teoria objetiva ou subjetiva do dever de indenizar?
R: A responsabilidade civil do Estado por atos omissivos é um tema divergente. Isso ocorre, pois, a introdução da teoria da responsabilidade objetiva do Estado no ordenamento jurídico brasileiro despertou a controvérsia acerca de sua aplicação. Controvérsia está pautada na interpretação do art. 37, § 6º da CF/88, a expressão “causarem a terceiros” traz a ideia de que “causar” remete somente a uma ação positiva, e não a uma omissão.
    Hely Lopes Meirelles, ao abordar tal tema é adepto da teoria da responsabilidade objetiva para ações e omissões do Poder Público, conforme a explicação: “Nessa substituição da responsabilidade individual do servidor pela responsabilidade genérica do Poder Público, cobrindo o risco de sua ação omissão, é que assenta a teoria da responsabilidade objetiva da Administração, vale dizer, da responsabilidade sem culpa, pela só ocorrência da falta anônima do serviço, porque esta falta está, precisamente na área dos riscos assumidos pela Administração para a consecução de seus fins”.
  Contudo, Oswaldo Aranha Bandeira de Mello, entende que a responsabilidade fundada na teoria do risco pressupõe uma ação positiva do Estado, jamais uma omissão, já que essa só poderá ocorrer na hipótese da culpa anônima da administração.
  Dessa forma, complementando tal pensamento Celso Antônio Bandeira de Mello explica: “Deveras, caso o Poder Público não estivesse obrigado a impedir o acontecimento danoso, faltaria razão para impor-lhe o encargo de suportar patrimonialmente as consequências da lesão. Logo, a responsabilidade estatal por ato omissivo é sempre responsabilidade por comportamento ilícito. E, sendo responsabilidade por ilícito, é necessariamente responsabilidade subjetiva, pois não há conduta ilícita do Estado (embora do particular possa haver) que não seja proveniente de negligência, imprudência ou imperícia (culpa) ou, então, deliberado propósito de violar a norma que o constituía em dada obrigação (dolo). Culpa e dolo são justamente as modalidades de responsabilidade subjetiva”.
   O posicionamento jurisprudencial na responsabilidade civil do Estado por conduta omissiva, especificamente o STF, é possível concluir que permanece a dissensão doutrinária a respeito da responsabilidade civil do Estado por atos omissivos. Por fim, é válida a citação de Sílvio de Salvo Venosa, que argumenta que à primeira vista parece que a responsabilidade objetiva do Estado foi também ampliada para suas omissões: “Aduz, porém, a necessidade de serem ponderados os argumentos em contrário, sob o risco de se estender em demasia a responsabilidade do Estado e inviabilizar, na prática, a Administração. Destarte, caberá à jurisprudência e aos estudos de direito administrativo estabelecer os limites e pressupostos desse aparente alargamento”.
 	No exemplo dos pais de uma criança que moveram uma ação de indenização em desfavor do Município de Londrina, é possível a fundamentação no dever subjetivo de indenizar. Conforme o pensamento de Oswaldo Aranha Bandeira de Mello, a responsabilidade do Estado pressupõe uma ação positiva, jamais uma omissão, portanto, para que a indenização seja devida deverá os pais provar a culpa do Estado no caso apresentado.
39. Pode o Estado ser responsabilizado por ato praticado por tabelião ou registrador de imóvel? Isto é, em caso de falha do tabelião ou do registrador, quem deverá responder: o oficial do registro (ou o tabelião) ou o Estado? Podem responder de forma solidária? É possível ação de regresso?
R: Em relação à extensão da responsabilidade civil dos atos notariais e de registro, pode ser definido que mesmo depois da edição da Lei 9.935/94, que regulamenta o Art. 236 da CF/88, essa matéria em questão é responsável por gerar muitas discussões e debates doutrinários juntamente com questões jurisprudenciais, com a finalidade de estabelecer qual tipo de responsabilidade seria mais apropriada ao caso, ou seja, se seria mais adequada à objetiva ou a subjetiva.
    Diante do exposto é de suma importância definir que a função dos notários e oficias de registro decorrem exclusivamente da lei. Por isso, se tratando da natureza dos serviços prestados é certamente contratual, dando aos notários, tabeliães e escreventes a obrigação de resultado, acrescenta Maria Helena Diniz, razão pela qual respondem perante terceiros sobre os atos praticados em desacordo com os seus deveres legais.
  Na jurisprudência e doutrina há uma relevante discussão a respeito da responsabilidade civil de atos praticados por tabeliães e notários, essa discussão claramente provém da ambiguidade da norma existente. Portanto, podem agrupar os posicionamentos em três correntes principais:
  A primeira corrente é a majoritária, tendo aceitação pelo Supremo Tribunal Federal, e defende a responsabilidade direta e objetiva do Estado, sob o argumento de que os cargos notariais e de registro são criados por lei, providos por concurso público, e os atos destes agentes são sujeitos à fiscalização estatal e dotados de fé pública, prerrogativas inerentes à ideia de poder delegado do Estado.
   Posteriormente temos a segunda corrente que entendem que a responsabilidade é direta e pessoal do notário e do registrador, e a tal decorrendo do art. 22 da Lei 8.935/94, prescreve que o responsável responderia de forma objetiva.
  Por fim, temos a terceira corrente que entende, assim como a segunda, que a responsabilidade é direta e pessoal, entretanto, baseada na teoria do dolo ou da culpa o responsável responderia de forma subjetiva.
   A solidariedade na responsabilidade civil dos tabeliães ou registradores de imóveis, de forma excepcional, quando se é adotado da responsabilidade direta e pessoal do notário e do registrador pelos atos praticados durante o seu ofício, poderá ocorrer casos de responsabilidade solidário do Estado.
   O doutrinador Luís Paulo Aliende Ribeiro apresenta duas destas situações: A primeira, diz respeito à ocorrência de falha na fiscalização e controle da atividade e dos delegados pelo Poder Público outorgante. A segunda, na situação de vacância, ocasião em que o Estado designa uma pessoa para, provisória e precariamente, responder pelo expediente da unidade vaga até seu provimento mediante realização de concurso público.
    A ação de regresso na teoria da responsabilidade direta e pessoal do notário e do registrador, conforme o art. 22 da Lei 8.935/94 é ordenado à ação de regresso: “os notários e oficiais de registro responderão pelos danos que eles e seus prepostos causem a terceiros, na prática de atos da própria serventia, assegurado aos primeiros o direito de regressoem caso de dolo ou culpa dos prepostos”, dispositivo este que, por sua vez, parecendo indicar um critério de aferição de responsabilidade direto e objetivo.
   Todavia, há o art. 38 da Lei 9.492/97, que estabelece a responsabilidade civil dos tabeliães de protesto, nestes termos: “os tabeliães de protesto de título são civilmente responsáveis por todos os prejuízos que causarem, por culpa ou dolo, pessoalmente, pelos substitutos que designarem ou escreventes que autorizarem, assegurado o direito de regresso”, e prescreve, claramente, para os tabeliães de protesto, um critério de aferição de responsabilidade direto e subjetivo.
40. O inadimplemento contratual pode gerar o dever de indenizar a título de danos morais em relação ao devedor da obrigação que tem seu nome enviado para os cadastros de maus pagadores ou inadimplentes?
R: É possível considerar que o credor ao exigir que o pagamento seja realizado pelo inadimplente, está agindo em conformidade com chamado exercício regular do direito. Ou seja, o credor está dentro dos seus direitos e agindo de acordo com estes. Além disso, juntamente com o Art.188 do CC/02:
“Não constituem atos ilícitos: I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido”.
   Em suma, solicitar o pagamento é exercer uma atividade permitida pelo ordenamento jurídico, porém, é importante ressaltar que quando um titular do direito supera os limites impostos pelo seu fim social ou econômico, confrontando a boa-fé ou os bons costumes, resulta na conduta denominada abuso de direito (Art. 187 CC/02).
41. É possível falar em responsabilidade civil pré e pós-contratual? Como se dá a responsabilidade pela ruptura de negociações preliminares?
R: O Código Civil de 2002 dedicou o instituto de responsabilidade civil pré-contratual, que se destaca em preservar os danos que aconteceram no período que precede a formalidade contratual.  Em seu artigo 422, está presente uma disposição a respeito desse conceito: Art. 422 - “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”. Desse modo, para o doutrinador Sérgio Cavalieri, a responsabilidade pré-contratual demanda a lealdade e a sinceridade. Esses princípios devem estar em conformidade com o princípio da boa-fé objetiva a começar do início da celebração do contrato realizado pelas partes, resultando em um elemento ligado à relação contratual, podendo ocasionar direitos e obrigações.
  Diferentemente da responsabilidade pós-contratual, que se origina da cláusula geral da boa-fé (Art. 422 do CC/02), esse tipo de responsabilidade é determinada pelo dever de responsabilização pelos danos decorrentes posteriormente ao término do contrato, independente do adimplemento da obrigação. Sendo assim, os deveres de proteção, informação e lealdade devem ser preservados neste tipo de decisão. E caso esses deveres não forem respeitados, irá acarretar uma ação de indenização que pretende restaurar os danos morais e patrimoniais, que derivam do descumprimento do princípio da boa-fé objetiva.
   A responsabilidade pela ruptura de negociações preliminares, segundo o conceito do estudioso Sérgio Cavalieri, ocorre com o rompimento descuidado e casual pode proporcionar uma eventual obrigação de indenizar, “... Não por inadimplemento, posto que ainda não haja contrato, mas pela quebra da confiança, pelo descumprimento dos deveres de lealdade, de transparência, de informação, de cooperação, que regem todos os atos negociais mesmo os decorrentes de contato social”.
42. No que consistem basicamente a chamada tutela externa do crédito? Relaciona-se à função social do contrato? Pode o terceiro cúmplice ser responsabilizado? Em que termos?
R: A chamada tutela externa do crédito consiste, basicamente, em verificar se um terceiro que não faz parte do contrato pode ser responsabilizado civilmente, em relação a um credor por ao lesionar o crédito deste, por meio de uma intervenção lícita na relação obrigacional contratual. Esse tipo de tutela tem como finalidade segurar o credor, que não pode ter sua relação jurídica afetada por investidas de terceiros.
  De acordo com a doutrina clássica dos contratos, não era viável o terceiro que interfere no crédito alheio responder por tal interferência, pois os clássicos utilizavam uma vedação lógico-jurídica de um estranho à avença de intervir sobre uma relação jurídica creditícia, em razão de sua natureza relativa, ou seja, o terceiro alheio à relação não poderia causar interferência, portanto não poderia ser responsabilizado.
   Tratando-se da relação entre a tutela externa de crédito e a função social dos contratos, pode-se afirmar de acordo com a nova doutrina, a manifestação da vontade deve ser pautada no princípio da função social do contrato, desse modo fica determinado os moldes da sociabilidade e da eticidade baseadas na boa-fé objetiva. Por isso, é afirmado que o crédito deixa de ser uma relação apenas entre os sujeitos envolvidos no ajuste, divergindo assim, de um terceiro que teria o dever de não ocasionar a ruptura do acordo, assim como a coletividade que deve agir de modo negativo.
	O pensamento de Antunes Varela a respeito da eficácia externa do crédito: “O credor não pode, é certo, exigir a prestação devida, senão do obrigado. Mas todo o terceiro que tivesse conhecimento da relação creditória seria (juridicamente) obrigado a respeitá-la, não lhe sendo lícito induzir o devedor a faltar ao cumprimento, celebrar com ele negócio que o impedisse de cumprir, nem destruir ou danificar a coisa devida”.
   Sobre responsabilidade de terceiro cúmplice, é relevante ressaltar que no momento em que o terceiro tem ciência da existência do contrato, direciona-se dolosa ou culposamente atuando na esfera jurídica de outrem, passa a atuar de maneira contrária ao direito posto, ao ordenamento jurídico, violando todos os padrões resguardados pela boa-fé objetiva.
  Por tal interferência na esfera jurídica de outrem, o terceiro passa a substituir ou de outro modo impedir a legítima fruição do direito creditício da outra parte contratante. Assim, há de haver por parte de terceiro a celebração de contrato incompatível com a relação negocial primitiva, levando à sua violação. Nesse momento está caracterizada a figura do terceiro cúmplice.
  As palavras de Luis Renato Ferreira da Silva a respeito do tema: “Já tem sido aceito, há algum tempo, que o contrato possa produzir efeitos negativos nas esferas alheias, criando uma obrigação negativa consistente em não atentar contra os pactos alheios, ou ao menos, não incentivar o rompimento destes pactos. È o que a doutrina chama de oponibilidade do contrato a terceiros, uma forma de efeito reflexo na esfera alheia. [...] Nestas circunstâncias, o terceiro que tenha um interesse conflitante com os de algum contratante não pode instigar o rompimento contratual ou favorecer o tal agir, pois estará induzindo ao inadimplemento e, com isto, prejudicando a manutenção que é a função socialmente reconhecida. O terceiro, embora estranho à declaração de vontade daquele contrato, deve colaborar, no grau mínimo que é não atrapalhar, o desenvolvimento do contrato”.
  Sendo assim, a eficácia externa estabelecida ao contrato, incidirá em uma violação ao dever de conduta negativa, sempre que imotivadamente o terceiro dolosamente produzisse ato cujo escopo fosse a ruptura do vínculo. Não só o credor e o devedor estariam vinculados ao respeito e cumprimento do ajustado, mas esse ajuste seria oponível a toda coletividade que circunda o contrato e que teria o dever de respeitar o bem jurídico crédito alheio, sob pena de, ofendendo este bem jurídico creditício, responder por ato ilícito.
43. Quais as funções decorrentes da boa-fé objetiva? No que consistem, basicamente, as figuras da exceptio doli, venire contra factum proprium, supressio, surrectio e tu quoque? Em que medida se associam ao instituto da responsabilidade civil?
R: O Código Civil de 2002 está baseado em três novos princípios, que são:operabilidade, eticidade e socialidade. No aspecto da eticidade, há um destaque especial na boa-fé como princípio regulador das condutas entre os contratantes, em especial a acepção objetiva de tal princípio, que foi uma das significativas inovações do Código Civil vigente.
      Na lição de Pablo Stolze (2009, p.89) as funções decorrentes da boa-fé objetiva são:
Função interpretativa: diz que o contrato deve ser interpretado nos limites da boa-fé objetiva, conforme o art. 113 do CC/02 “os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração”. Portanto, é visado a aplicação das normas jurídicas nos contratos civis, atentando-se sempre para outros princípios, como a conduta ética das partes, assim como a probidade da relação jurídica convencionada entre as partes.
Função criadora de deveres jurídicos e anexos ou de proteção: a boa-fé objetiva tem como característica o fato de ser um princípio pragmático. Em decorrência, devido a essa aplicabilidade, essa cláusula geral acaba criando deveres que são colaterais a conduta ética e proba das partes.
Função limitadora de direitos subjetivos: atua por meio dos institutos da supressio e surrectio, espécies de venire contra factum proprium, tendo em vista o preceito constitucional da dignidade da pessoa humana. Atribuindo aos negócios jurídicos uma visão mais social, mais humana, combatendo a prevalência dos direitos subjetivos, que de certa forma acarreta a vulnerabilidade a uma das partes.
	Em suma, com o princípio da boa-fé objetiva a humanização das relações contratuais, sem perder o foco no desenvolvimento econômico e social.
       
As figuras parcelares da boa-fé objetiva são:
  Exceptio doli: advindo do direito romano, da tradição do direito comum, a exceptio doli, ou exceção de dolo, é outro desdobramento com conteúdo de controle sobre exercício de posições jurídicas inadmissíveis, os chamados “abusos de direito”.
É tratado como exceção, no direito substantivo, se refere ao poder de repelir uma pretensão se comprovado que o seu autor agiu de forma desleal.
	Nas palavras de Canaris: "o doloso provoca, na outra parte, a impressão de que o negócio é eficaz e assume, assim, a confiança desta: deve responder, pois, pela situação de confiança obtida".
   Venire contra factum proprium: traduzindo de forma literal do latim: “dirigir-se contra fato próprio”. Tal instituto traz a ideia da “vedação do comportamento contraditório”, representa tratamento típico do exercício de uma posição jurídica em contradição com o comportamento assumido anteriormente pelo exercente, ou seja, a ninguém é dado contrariar comportamento anteriormente adotado de forma habitual, desde que, evidentemente, este tenha uma função orientativa.
   Suppressio: se traduz no fenômeno da supressão de determinadas faculdades jurídicas em razão decorrer do tempo. Em linhas gerais, é encontrando esteio nas acepções da confiança legítima, ou “princípio da confiança”, a cessação do exercício de uma faculdade por lapso considerável implicaria a perda da aptidão jurídica de fazê-lo.
  Surrectio: de forma inversa da suppressio, constitui na criação de um direito (em virtude da posição jurídica) pelo decurso de tempo. Conforme explica Luciano de Camargo Penteado: “se, por exemplo, ocorre distribuição de lucros diversa da prevista no contrato social, por longo tempo, esta deve prevalecer em homenagem à tutela da boa-fé objetiva. Trata-se do surgimento do direito a esta distribuição – surrectio – por conta da sua existência na efetividade social. ”
   Tu quoque: traduzindo de forma literal significa “Tu também”, e traz como norte a máxima de que o indivíduo que viola uma norma jurídica não pode, depois, e sem abuso: - ou prevalecer-se da situação jurídica daí decorrente; - ou exercer a posição jurídica violada pelo próprio; - ou exigir a outrem o acatamento da situação já violada. Sendo assim, a parte não pode exigir algo que também foi por ela descumprido ou negligenciado.  Como exemplo, o art. 150 do CC/02 ”Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização. Sendo assim, a parte não pode exigir algo que também foi por ela descumprido ou negligenciado.  Como exemplo, o art. 150 do CC/02 ”Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização”
  
  A relação das figuras parcelares com a responsabilidade civil ao que concerne a possibilidade ser fonte autônoma de criação de direitos e deveres, que posteriormente poderão gerar um dever de indenizar, ou seja, a obrigação de reparar um dano causado.
 
44. É possível falar-se em responsabilidade civil decorrente de nascimento indesejado? É possível haver dano moral por abandono efetivo? E o dano psicológico, no que consiste? É dano autônomo ou parte integrante do dano moral?
R: O direito brasileiro mostra-se fértil em casos que abordam a temática de filhos indesejados, na maioria dos casos resultantes de métodos contraceptivos equivocadamente realizados, como a vasectomia e a laqueadura tubária.
 Vale lembrar, o lamentável episódio da distribuição de comprimidos anticoncepcionais adulterados (pílulas de farinha) por um grande laboratório farmacêutico, tal caso renovou e consolidou a discussão jurisprudencial sobre o tema, gerando um interesse pelo assunto até então não observado em nossos tribunais.
  Na doutrina norte-americana, autores como Kathleen Mahoney (2006, p. 775), em aprofundado artigo sobre a nomenclatura utilizada pela jurisprudência de seu país, relata a tendência majoritária de considerar que o wrongful conception (traduzido de forma livre como: concepção errada) normalmente envolve uma gravidez não planejada, falhas contraceptivas por parte dos médicos e o posterior nascimento de uma criança “saudável”.
    Assim, o grande objetivo dos autores da demanda, frustrado pelo erro médico, era ter evitado a gravidez – nota-se uma ligação evidente com os métodos contraceptivos considerados lícitos pelo ordenamento pátrio.
      Nos sete primeiros meses de 2012, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) julgou mais de quarenta casos que envolvem o nascimento de crianças indesejadas.
   	As causas da grande maioria das demandas apreciadas judicialmente foram: Falhas cometidas em procedimentos de laqueadura tubária (incluindo a falha no dever de informar); as falhas cometidas em procedimentos de vasectomia (incluindo a falha no dever de informar); e o uso de medicamentos contraceptivos sem eficácia, com destaque para o conhecido caso das “pílulas de farinha”, do medicamento Microvlar.
	Se tratando do dano moral por abandono efetivo, nas relações familiares o afeto é utilizado para o crescimento da personalidade da pessoa humana. É na família que se encontrará o esteio da vida, refletindo a concretização dos direitos fundamentais para o crescimento comum. Privar este direito subjetivo a um indivíduo, o impossibilitando da convivência, cerceando-o atenção e amor, configura o abuso de um direito.
 	Nesta linha, surgem doutrinadores discorrendo sobre a ordem de reparação pela falta de afetividade de um genitor. A discussão analisa a configuração de um ato ilícito, seja por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, quando violado direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral.
 	Ao se manipular tal assunto, o instituto da responsabilidade civil acaba adentrando-se no direito de família, para justamente impedir a impunidade frente aos atos considerados ilícitos, seja ele um abandono meramente afetivo, seja ele um abuso de um direito alheio, ainda que dentro do âmbito familiar. Trazendo a reparação, como forma de compensar o filho ofendido, tornando-se uma sanção para o genitor causador do dano.
  	Em nossa constituição de 1988, foi trazido a ideia da reparação, pautada no princípio constitucional da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da Constituição Federal de 1988).
   	De acordo com os dizeres do jurista Ruy Rosado de Aguiar Junior: “Utilizar o instituto dareparação no direito de família, não enaltece a subordinação das pessoas aos interesses da família, mas sim realça o valor da pessoa humana que participa da família, os cônjuges, companheiros, pais, filhos, parentes, ainda que isso possa afrouxar o laço familiar”.
  	Em suma, não se pode negar ao filho, atingido por comportamento ilícito praticado por seus pais, o direito à reparação do dano moral daí decorrente, não estando estes isentos da responsabilidade pela posição singular que ocupam, em função da qual lhes cabem, ao contrário, maior empenho na abstenção de condutas que possam violar os direitos próprios da personalidade de quem deles deve receber especial proteção.
	Portanto, para se postular uma indenização é necessário à comprovação da omissão do afeto, tendo a indenização nenhum propósito de compelir o restabelecimento do amor, mas o propósito de reparar a configurada omissão voluntária prejudicial à formação da estrutura da personalidade deste filho abandonado.
  	Conforme dispôs a magistrada Simone Navalho Novaes: “Se o pai não tem culpa por não amar o filho, a tem por negligenciá-lo. O pai deve arcar com a responsabilidade de tê-lo abandonado, por não ter cumprido com o seu dever de assistência moral, por não ter convivido com o filho, por não tê-lo educado, enfim, todos esses direitos impostos pela Lei”.
	Já o dano psicológico, também conhecido como dano à saúde mental, tem seus efeitos, como o próprio nome diz, na saúde mental da vítima, exige-se a identificação de tais danos por intermédio de perícia.
  No Direito Francês, desnecessária a caracterização da doença mental. Apenas que o dano seja certo e decorra da conduta alheia. Todavia, de modo evidentemente mais rígido, no Direito Alemão é necessária a caracterização da doença mental que se entenda como lesão à saúde.
  	Para ilustrar este dano, FACCHINI NETO discorre: “Antigo leading case inglês em caso de infliction of mental distress – abalo psicológico -, é representado pelo caso Wilkinson v. Downton, julgado em 1987, no qual um brincalhão de mau gosto para se divertir, telefonou para uma conhecida sua e lhe contou que seu marido fora atropelado e jazia sobre a pista pública, com ambas as pernas quebradas e outras lesões generalizadas. A mulher, com a falsa notícia, sofreu violento choque nervoso, que lhe acarretou sérias lesões psicológicas, com conseqüências físicas permanentes. A justiça inglesa condenou o ‘brincalhão’ a indenizar os danos causados”.
	A autonomia do dano psicológico em relação ao dano moral resumidamente, para se caracterizar a responsabilidade civil é necessário a presença de três elementos: atuação lesiva ou culposa (sentido amplo) do agente, dano patrimonial ou moral e nexo de causalidade necessária/adequada entre a conduta e o dano.
	Desses três elementos da responsabilidade civil, o dano, conforme observou Anderson Schreiber, no direito civil contemporâneo, deixou de ter papel coadjuvante e passou a ter papel principal, diante de uma constante preocupação com a vítima.
	A ampliação das categorias de dano resulta, como já foi dito, de uma maior preocupação com o polo da vítima, seja numa percepção individual, seja coletiva ou mesmo difusa.
	O fato é que o dano psicológico evoluiu nos últimos anos, apresentando hoje características e requisitos que o diferem completamente do dano moral. Portanto, o dano passou a ser autônomo em relação ao dano moral, sendo assim, o autor poderá pleitear os danos morais, mas os danos decorrentes do abalo psicológico (dano psicológico).
	No artigo, estudos e pesquisas em psicologia, UERJ - RJ, ano 5, n.2, 2° semestre de 2005 – pg. 123 –, vale a citação da opinião dos peritos judiciais a respeito do tema: “O dano psicológico é definido como sendo extrapatrimonial, mas não necessariamente de natureza moral. Nesse sentido, é possível dizer que o dano psicológico é perfeitamente caracterizável e avaliável, haja vista, que as consequências psicológicas são demonstráveis (ex: alterações perceptivas, depressão, fobias, tentativas de suicídio, dentre outros). O dano psicológico pode ser objeto de indenização, desde que fique caracterizado como uma incapacidade que importe uma lesão de tal entidade que implique alteração ou perturbação significativa do equilíbrio emocional da vítima, cujas consequências resultam em descompensação que afete gravemente sua integração ao meio social. ”
45. Em certos estabelecimentos comerciais, de ensino, bancários, shopping centers etc. consta, geralmente, uma placa com os seguintes dizeres: “este estabelecimento não se responsabiliza por roubos e furtos ocorridos em veículos neste estacionamento”. É válida tal afirmação? 
R: A afirmativa apresentada pelos estabelecimentos é inválida, a responsabilidade sem dúvida existe. O Estabelecimento responsável, seja ele supermercado, shopping, ou qualquer outro estabelecimento que forneça o serviço de guarda de veículos, terá o dever de reparação proporcional ao prejuízo que se consolide, bastando para tanto que se comprove o dano e o nexo de causalidade, tendo em vista a sumula 130 do STJ: “A empresa responde, perante do cliente, pela reparação de danos ou furto de veículo ocorridos em seu estacionamento”
Além dessa súmula do STJ que garante a reparação dos danos, é encontrado algumas jurisprudências, que tutelam este mesmo direito.
“EMENTA: INDENIZAÇÃO - DANO MATERIAL - ROUBO VEÍCULO - ESTACIONAMENTO SUPERMERCADO - DEVER DE INDENIZAR - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - REDUÇÃO - DESNECESSIDADE - SENTENÇA MANTIDA. 
O estabelecimento comercial tem o dever de guarda e vigilância sobre os veículos ali estacionados, respondendo, por indenização em caso de furto ou roubo. A instituição que oferece estacionamento a seus usuários, ainda que de forma gratuita, assume o dever de guarda sobre o veículo, devendo, pois, responder por eventual furto ou roubo ocasionado. Não se reduz o valor dos honorários advocatícios, se o mesmo não se revela excessivo. ” (Número do processo: 1.0024.06.089888-9/001(1) - Relator:  ANTÔNIO DE PÁDUA - Data da Publicação: 10/10/2008)
“EMENTA: ESTACIONAMENTO - SUPERMERCADO - ROUBO - RESPONSABILIDADE CIVIL. 
O supermercado responde por qualquer evento criminoso ocorrido nas suas dependências, obrigando-se a reparar os danos sofridos pelos clientes. ” (Número do processo: 1.0024.05.750083-7/001(1) - Relator:  FABIO MAIA VIANI - Data da Publicação:  24/11/2008)
Concluindo, são nulas as cláusulas que busquem afastar ou atenuar a responsabilidade do dono do estacionamento, em conformidade com o art. 25, CDC, “É vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de indenizar prevista nesta e nas seções anteriores”. 
46. É viável a propositura da ação judicial indenizatória em desfavor de shopping center se um automóvel é subtraído de seu estacionamento? Em caso afirmativo, qual ou quais os fundamentos a serem utilizados?
R: É viável a propositura de uma ação judicial a fim de reparar o dano causado se um automóvel for subtraído do estacionamento de um shopping center, devendo apenas atestar o dano e o nexo, exonerando o dever de demostrar a culpa, como traz o art. 14, CDC, “O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos”
Além deste artigo que tutela o direito do cliente, a jurisprudência traz uma ementa que guarda este direito:
“EMENTA: INDENIZAÇÃO - DANO MATERIAL - ROUBO VEÍCULO - ESTACIONAMENTO SUPERMERCADO - DEVER DE INDENIZAR - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - REDUÇÃO - DESNECESSIDADE - SENTENÇA MANTIDA. 
O estabelecimento comercial tem o dever de guarda e vigilância sobre os veículos ali estacionados, respondendo, por indenização em caso de furto ou roubo. A instituição que oferece estacionamento a seus usuários, ainda que de forma gratuita, assume o dever de guarda sobre o veículo, devendo, pois, responder por eventual furto ou roubo ocasionado. Nãose reduz o valor dos honorários advocatícios, se o mesmo não se revela excessivo. ” (Número do processo: 1.0024.06.089888-9/001(1) - Relator:  ANTÔNIO DE PÁDUA - Data da Publicação: 10/10/2008).
47. É possível o município ser responsabilizado se, por exemplo, em uma escola municipal um colega lança uma pedra e atinge o olho de outro aluno durante o período de aulas? É possível a responsabilidade civil decorrente de bullying na escola? Pode a escola ser obrigada, também, a reparar o dano? 
R: Qualquer dano à honra sofrido por um aluno dentro do colégio gera indenização, e é o município quem responde pelos danos sofridos por se tratar de colégio municipal (art. 932, IV, CC, são também responsáveis pela reparação civil os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos) e (art. 933, CC, as pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos.) responsabilidade configurada.
48. Durante um cruzeiro marítimo, o casal João e Maria é surpreendido por um incêndio no gerador do navio, o que leva à interrupção da viagem antes da chegada ao destino. Trata o presente caso de fortuito interno ou externo? Aplica-se o Código de Defesa de Consumidor? Pode o casal ser indenizado pela frustração das férias? Como o direito italiano trata da questão em torno das férias arruinadas? 
R: O caso versa sobre um episódio de fortuito interno, fato imprevisível – relacionado à atividade desenvolvida – porém evitável, e por conta disso, não exclui o dever indenização. É aplicado o Código de Defesa do Consumidor, pois se trata de prestação de um serviço aos consumidores, art. 14, CDC: “O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos”
Já é possível o ingresso de uma ação por férias arruinadas no direito italiano, mas não no brasileiro, mesmo já se falando disso, o casal não poderia ingressar com uma ação de férias arruinadas, porém poderiam perfeitamente ingressar com uma ação de danos morais e/ou materiais, possibilitando o reembolso pelo valor pago pela viagem e uma reparação pela quebra de expectativa gerada em torno da viagem. 
49. É possível haver responsabilidade civil por ruptura dos deveres impostos a ambos os cônjuges (CC, art 1.566, inc V, por exemplo)? Caso haja uma ação de divórcio em trâmite perante a Vara de Família e um dos cônjuges venha a ofender verbalmente o outro, expondo-o a uma situação extremamente vexatória, eventual ação de indenização por danos morais deverá ser proposta perante a vara cível ou vara de família? Justifique. 
	R: Se observarmos o art. 1566, do Código Civil, veremos que ambos os cônjuges possuem deveres que devem ser cumpridos: 
“Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges:
I - fidelidade recíproca;
II - vida em comum, no domicílio conjugal;
III - mútua assistência;
IV - sustento, guarda e educação dos filhos;
IV - sustento, guarda e educação dos filhos;
V - respeito e consideração mútuos.
V - respeito e consideração mútuos. ”
Se esses deveres forem violados importará em responsabilidade civil, isso pode ser verificado segundo o doutrinador Carlos Roberto Gonçalves, “A infração a esse dever, imposto a ambos os cônjuges, configura o adultério, indicando a falência da moral familiar, além de agravar a honra do outro cônjuge. Se extrapolar a normalidade genérica pode ensejar indenização por dano moral.”
Tendo em vista, a Resolução n. 93 2013, artigo 6º, §1º, “A cumulação de pedido de caráter patrimonial não altera a competência estabelecida neste artigo”, sendo assim, caso haja uma ação de divórcio em trâmite perante a Vara de Família e um dos cônjuges venha a ofender verbalmente o outro, eventual ação de indenização por danos morais deverá ser proposta perante a vara cível, visto que não é competência da vara de família resolver esse tipo de conflito. 
50. O trânsito em julgado de uma sentença penal condenatória tem reflexos em uma ação de indenização proposta na área civil? E se a sentença penal for absolutória?
R: De acordo com o art. 935, CC/02, “A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal”, segundo o disposto podemos observar que há certa dependência do âmbito cível em relação ao criminal, pois a lei estabelece que não mais poderá se questionar a existência do fato ou a autoria quando já estiverem sido decididas na esfera penal. No entanto, na prática um acontecimento pode incidir em várias áreas do Direito. Dessa forma, um fato pode abranger tanto a jurisdição cível como a criminal – verbi gratia – quando a responsabilidade civil advém da prática do crime –.
Ademais, o artigo 63, CPP, prevê que, “transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros‘’. Ou seja, nos casos previstos na legislação, as duas áreas (civil e penal) exercem suas funções em conjunto. No caso da sentença penal for absolutória, o art. 66 do CPP determina que ‘’não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser proposta quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material do fato”. 
51. Como o ordenamento jurídico deve tratar danos decorrentes de prejuízos causados por multidões em protestos dos mais variados? Por outras palavras, como devem ser tratados os danos decorrentes de movimentos multitudinários: saques e depredações, por exemplo?
R: A teoria adotada no Brasil é a do risco administrativo, a responsabilidade dos atos comissivos estatais é de ordem objetiva. Dessa maneira o texto constitucional prevê em seu art. 37, §6º que “As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa”. 
Já no caso de omissão estatal a responsabilização seria de ordem subjetiva, Sonia Sterman (1992, p. 88), aborda a respeito: “A responsabilidade do Estado por movimentos multitudinários é um tipo de responsabilidade por fato (ilícito) de terceiros e, portanto, uma hipótese não coberta pelo risco administrativo no texto das Constituições de 1969 e 1988, pois estas só atribuíram a responsabilidade objetiva à Administração pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros”. Nota-se, portanto, que não faz parte da responsabilidade objetiva do Estado, devido ao fato dos danos terem sido causados por terceiros. Existe a possibilidade de responsabilização subjetiva ao Estado, pois é seu dever zelar pela segurança e ordem pública, ao particular cabe colaborar, segundo o art. 114 da Carta Política. 
52. É possível vislumbrar a responsabilidade civil como política pública?
R: Anderson Schreiber diz que “Exemplo emblemático desta artificial indiferença se tem na responsabilidade civil, até hoje descrita como técnica de solução de conflitos ocasionais, patológicos e de natureza puramente interindividual, mesmo que os tribunais, há muitos, decidam tais litígios em atenção a preocupações sociais bem mais abrangentes. Cria-se então este assustador descompasso: enquanto a imensa maioria dos manuais de direito civil continuam a descrever uma responsabilidade civil fundada nas bases individualistas do pensamento liberal, as cortes judiciais esticam antigos conceitos, relativizam noções clássicas, transformam cotidianamente o instituto a fim de obter resultados mais justos nos conflitos que lhe são submetidos. Diante da diferença da doutrina e do legislador,este direito vivente da reponsabilidade civil segue-se desenvolvendo de modo clandestino, pontual e verdadeiramente aleatório, não logrando por limites intrínsecos aos meios judiciais, oferecer solução efetiva à crescente produção de danos na ida social, questão do mais profundo interesse coletivo, que não pode ser encarada senão como o objeto urgente de uma tão necessária quanto adiada política pública” 
A responsabilidade civil do estado, após uma longa evolução chegou ao momento atual, derivado da irresponsabilidade estatal até alcançar a ideia de responsabilidade objetiva, fundamentada na teoria do risco administrativo. 
Dessa forma, a CF/88 consagra no art. 37, § 6º “as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa”.
Em suma, essa responsabilidade vislumbra os atos omissivos, nesse sentido o estado passa a ser responsável quando é omissivo em relação a efetivação das garantias constitucionais; como por exemplo, a implantação do direito fundamental à saúde. Essa função atribuída ao estado é realizada por meio de políticas públicas. Quando o estado não cumpre com sua função, deve ser responsabilizado pela sua omissão quando dela decorrem danos injustos.
53. Em uma ação civil pública por ato de improbidade administrativa, revela-se possível o Ministério Público requerer a condenação dos réus, por exemplo, por supostos danos difusos causados ao argumento de que o ato improbo lesa toda a sociedade? Aplica-se ao caso a Lei da Ação Civil Pública ou a Lei de Improbidade Administrativa? Quais os legitimados a propor uma ação civil pública? Quais as principais diferenças entre uma ação civil pública e uma ação popular?
R: Em uma ação civil pública por ato de improbidade administrativa, o Ministério Público pode requerer a indenização em relação aos danos difusos causados, sendo aplicada a Lei de Improbidade Administrativa. 
Os legitimados para propor uma Ação Civil Pública são:
· I - o Ministério Público;  
· II - a Defensoria Pública;  
· III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; 
· IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; 
· V - a associação que, concomitantemente
 			a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; 
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
	Em relação as diferenças entre a Ação Civil Pública e a Ação Popular, a primeira possui legitimados para a sua proposição (listados acima), enquanto a segunda pode ser proposta por qualquer eleitor com mais de 18 anos, havendo a necessidade de se demonstrar a lesividade ou ameaça ao direito provocada pelo ato da administração pública ou pela omissão desta.
	Na Ação Popular, só figura como réu a administração pública, enquanto na Ação Civil Pública pode figurar qualquer pessoa física ou jurídica que cause danos ao meio ambiente e aos consumidores em geral, além de bens valor, artístico, histórico e estético, entre outros.
2. Julgado: 
	O caso apresentado trata-se de um Recurso Extraordinário referente às condições do sistema penitenciário. No presente processo é discutido o direito dos presos submetidos a condições desumanas ou degradantes de encarceramento obterem a indenização do Poder Público a título de danos morais. Além disso, existem outras ações que tramitam nesta mesma Corte a respeito do sistema penitenciário brasileiro, sendo possível destacar três. O primeiro deles discute a possibilidade de autorização do cumprimeiro de pena em regime carcerário menos gravoso, diante da impossibilidade do Estado fornecer vagas para o cumprimento no regime estabelecido na condenação penal. O segundo caso discute se o Poder Judiciário pode determinar aos governos estaduais que ampliem ou construam novos presídios, de modo a garantir a observância dos direitos fundamentais dos detentos. E o terceiro caso a ser citado vai discutir a responsabilidade civil do Estado pelos danos morais causados aos detentos.
Sendo assim, os argumentos expostos neste julgado vão lidar com o sistema carcerário como um todo, alcançando todas as situações citadas dos outros processo.
O presente recurso extraordinário vai discutir a existência de responsabilidade civil do Estado pelos danos morais causados aos presos em decorrência da superlotação e do encarceramento em condições desumanas e degradantes. 
O caso trata de uma ação ordinária de reparação de danos morais que foi ajuizada pela Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul, em favor do recorrente que foi condenado a 20 anos de reclusão e cumpria pena no estabelecimento penal de Corumbá. Foi alegado pela Defensoria que o preso teria direito a indenização, por o mesmo estar submetido a tratamento degradante por conta da excessiva população carcerária e de problemas estruturais do presídio, como condições precárias de habitabilidade, insalubridade e ausência de espaço físico mínimo das celas. Com base nisso, foi pleiteado a condenação do Estado ao pagamento de um salário mínimo mensal ao recorrente, enquanto perdurasse o tratamento degradante e a superlotação.
Na apelação, por maioria, o Tribunal de Justiça local condenou o Estado a pagar ao recorrente a quantia de R$ 2 mil a título de indenização por danos morais. A decisão foi recorrida com embargos de infringentes, o que afastou assim o dever de reparação. Embora reconhecido a superlotação carcerária e as precárias condições que os presos são submetidos, o Tribunal decidiu pela aplicação da reserva do possível.
Iniciando o julgamento, o Ministro Teori Zavascki, relator do caso, deu provimento ao recurso extraordinário. Determinou que o Estado do Mato Grosso do Sul indenizasse o preso o valor de R$ 2 mil.
Além disso, considerou, de início, que os fatos da causa e a configuração do dano moral são incontroversos. Entendeu também, que a discussão travada no recurso trata-se a respeito da existência ou não da obrigação do Estado de ressarcir os danos morais verificados em tais circunstâncias. Concluiu assim, que não se pode afastar a responsabilidade por conta de três fundamentos principais, o primeiro deles é que a responsabilidade civil do Estado, por conta das ausências mínimas de cumprimento da pena tem natureza objetiva, sendo assim basta que tenha ocorrido o dano e seja demonstrado o nexo causal com a atuação da administração pública ou de seus agente para que se configura o dever de indenizar. O segundo fundamento é que o princípio da reserva do possível não pode ser considerado no âmbito da responsabilidade civil do Estado. E por último, as violações a direitos dos presos não podem ser mantidas impunes, com o argumento de que a indenização não seria capaz de eliminar o grave problema prisional.
A partir desses fundamentos, o Ministro fixou a tese de repercussão geral que considerava ser dever do Estado manter em seus presídios os padrões mínimos de humanidade que são previstos no ordenamento, sendo se sua obrigação ressarcir os danos, inclusive os morais causados aos detentos em decorrência da falta ou insuficiência das condições legais de encarceramento.
O segundo relator adotou integralmente as premissas fixadas pelo Ministro relator. Afirmou ainda, que é dever do Estado indenizar os danos morais causados pelo encarceramento em condições atentatórias aos mínimos padrões de dignidade. Segundo ele, não seria possível invocar a teoria da reserva do possível para que fosse afastada a responsabilidade civil do Estado, nesta hipótese. afinal, seria legitimar uma concepção desigualitária a respeito da dignidade humana, que nega aos presos o seu valor intrínseco, como se não se tratasse de seres humanos. Considerou ainda, que a tesefixada na repercussão geral não confere a devida importância a um fator subjacente à responsabilização civil no caso. O descumprimento do dever estatal de garantir condições dignas de encarceramento, se encontra diretamente relacionado a uma deficiência crônica de políticas públicas prisionais adequadas. 
Além disso, no presente contexto, afirmou ser, a indenização pecuniária, uma resposta pouco efetiva aos danos morais por eles suportados, afinal, o dinheiro que lhe será entregue terá pouca serventia para minimizar as lesões existências sofridas. Sem contar que, esta solução, além de não eliminar ou minimizar as violações á dignidade humano dos presos, tende a agrava-las e perpetuá-las, já que recursos estatais, que poderiam estar sendo utilizados na melhoria do sistema, estariam sendo usados para as indenizações individuais.
Sem contar que, se tratando da indenização, não há sequer um linha a respeito dos parâmetros utilizados para a fixação do montante, tais como o tempo de encarceramento e a gravidade das violações suportadas. Como resultado, seria provável que os Estados sofram condenações mais vultuosas, aumento assim o impacto financeiro da decisão.
Antes de ser anunciada a solução, afirmou ser necessário analisar mais profundamente a natureza e a gravidade da situação carcerária no Brasil e alguns caminhos possíveis ser trilhados para que seja garantido condições adequadas de encarceramento.
Infelizmente, o encarceramento em celas superlotadas e em condições degradantes e desumanas não é uma atuação excepcional e isolada que afeta apenas o recorrente. Mas a superlotação e a precariedade das condições dos presídios correspondem a problemas estruturais e sistêmicos, de grande complexidade e magnitude, que tem como resultado deficiências crônicas do sistema prisional brasileiro. Tais problemas afetam de uma maneira significativa de presos no país.
Diversos dados estatísticos e documentos oficiais comprovam a natureza estrutural da questão carcerária. O novo diagnóstico de pessoas presas, divulgado em junho de 2014 pelo CNJ, apontou que déficit de vagas existentes, chega a 206.307. O número se torna ainda mais impressionante se for complementado com as pessoas em prisão domiciliar e o mandados de prisão aguardando cumprimento. O Brasil tem a quarta maior população carcerária do mundo, se computada sem o presos em domicílio.
Em grande parte dos presídios, há celas superlotadas, com pessoas amontoadas, dormindo em esquema de revezamento, em cima do vaso sanitário, no chão ou em redes afixadas nas paredes. E quando as celas não oferecem espaço suficiente, presos são alojados nos corredores, pátios e até mesmo em contêineres de aço, semelhantes a jaulas de animais.
Os mesmos relatórios mostram que a dura realidade do sistema prisional vai muito além da superlotação. Envolvendo, em primeiro lugar, a precariedade das estruturas e instalações prisionais. Além disso, existem graves deficiências na prestação das assistências que estão previstas na Lei de Execução Penal (LEP). Muitas vezes os presos não recebem ao menos uniformes, ficando seminus ou usando roupas levadas por seus familiares. Em várias unidades não tem o fornecimento de material de higiene básica, como escova de dentes, sabonetes. Sem contar que muitas mulheres nem sequer recebem absorventes íntimos.
A alimentação nos presídios é insuficiente e de péssima qualidade, sem contar que o fornecimento de água é muito limitado. Há constantes denúncias de que a comida servida está estragada ou contém cabelos, baratas ou objetos misturados.
Na assistência à saúde, faltam profissionais, atendimento médico e medicamentos. Os presos são obrigados a conviver com dores, doenças e feridas, muitas vezes, sem qualquer tratamento. As assistências educacional e laboral também são falhas, devido a falta de oportunidades.
A situação da população prisional é ainda mais triste. Rotineiramente, registram-se casos de violência física e sexual, homicídios, maus tratos, tortura e corrupção, praticados tanto pelos detentos, quanto pelos próprios agentes estatais. A inoperância do Estado também abre caminho para o crescimento do poder de facções criminosas, contribuindo para o agravamento da violência urbana e da insegurança social. 
Outro componente de caos carcerário é a desestruturação do sistema de justiça, com a falta de pessoal, graves deficiências de funcionamento nas varas de execução penal e carências no acesso a assistência jurídica pelos presos. Esses problemas dificultam o monitoramento do tempo para a obtenção de benefícios e favorecem a lentidão na tramitação de processos, promovendo atrasos significativos na concessão de benefícios penais, como a progressão de regime. Com isso, muitas vezes presos são mantidos nas cadeias além do prazo legal.
Ainda no âmbito do sistema de justiça, um dos principais fatores responsáveis pela superlotação é o uso excessivo e desproporcional de prisão provisória, afinal, muitas dessas prisões são indevidas. Segundo estudos, um terço dos réus que cumprem prisão provisória não são condenados a pena privativa de liberdade ao final do processo, mas absolvidos ou condenados a penas e medidas alternativas. Isso significa que o sistema prisional está sendo sobrecarregado com réus que simplesmente não deveriam estar presos.
Esse quadro constitui uma grave afronta a Constituição Federal, envolvendo a violação de diversos direito fundamentais dos presos, como por exemplo, a integridade física e moral degradante, a vedação à tortura e ao tratamento desumano ou degradante, entre outros. 
Diante dessa situação calamitosa, é evidente que, na maioria dos casos, mandar uma pessoa para o sistema prisional é submetê-la a uma pena mais grave do que a que lhe foi efetivamente aplicada, pois mais do que a privação da liberdade, se tem a perda de sua integridade, de aspectos essenciais a sua dignidade, assim como das perspectivas de reinserção da sociedade.
Devido a degradação que os presos são submetidos e a ausência de separação dos internos de acordo com sua periculosidade, os presídios são transformadas em verdadeiras “escolas do crime”. De lá, os presos de menor potencial ofensivo saem criminosos perigosos, integrando facções e cheio de novas conexões. Sendo assim, o sistema punitivo no Brasil não realiza adequadamente qualquer das funções próprias da pena criminal, não prevenindo e muito menos, ressocializando.
Sendo assim, fica evidente que o fenômeno do encarceramento em massa, com submissão dos presos a condições degradantes de detenção, não atende aos objetivos das políticas de segurança pública ou aos interesses da sociedade na redução da criminalidade. A população tem uma sensação difusa de impunidade e de insegurança, fazendo com que o país pune muito, fazendo com que o país prenda muito, mas prende mal.
Como se não bastasse, a política de encarceramento em massa é extremamente onerosa aos cofres públicos. Segundo informações do Depen, os Estados gastam em média cerca de R$ 2 mil por mês para a manutenção de cada detento. Dessa forma para zerar o atual déficit de vagas, seria necessário investir mais de R$ 10 bilhões somente para a construção de presídios.
Todos esses dados revelam a profundidade do problema prisional, nitidamente insustentável do ponto de vista humanitário, social e financeiro. É preciso urgentemente repensar a atual política de encarceramento e reestruturar inteiramente o sistema de justiça criminal.
A situação dos presídios brasileiros não é um fenômeno isolado e sem precedentes no cenário mundial. Diversos países enfrentam problemas de superlotação e graves deficiências em seus sistemas carcerários.
Vale ressaltar que, o caráter global da crise do sistema carcerário não deve servir de consolo ou desculpa para a manutenção da alarmante estrutura prisional brasileira. Pelo contrário, as experiências de alguns desses países no enfrentamento do problema nos fornecem exemplos de medidas e reformas capazes de produzir resultados efetivos na melhoria das condições carcerárias. Duas experiências bem interessantes,nesta mesma seara foi o caso da Corte Europeia de Direitos Humanos na qual firmou a possibilidade dos Estados repararem os danos morais causados aos presos nesses casos e entendeu que o tratamento degradante deve atingir um nível mínimo de gravidade para dar causa a indenização. O procedimento adotada pela CEDH é denominado de julgamento piloto e identifica as causas do problema estrutural e determina o Estado-réu a adoção de medidas para pôr fim às violações constatadas e para minimizar suas possíveis consequências.
Além disso, uma segunda experiência é trazida pela União Europeia, os Estados Unidos.
  Outro argumento relevante é o denominado “prison reform” que foi responsável em intervir nas condições dos presídios, reestruturar o sistema carcerário e o monitoramento das ações, tornando-se um dos maiores exemplos de formulações de políticas públicas pelo Poder Judiciário.  O caso mais emblemático dessa intervenção é o Holt v. Sarver, relativo ao sistema prisional do Arkansas 24. Onde o Judiciário norte-americano declarou a inconstitucionalidade de todo o sistema prisional de um Estado, por castigar cruel punição aos presos, em contraponto aos seus direitos constitucionais.
 Isso resultou em promover melhorias efetivas nas prisões estaduais, porém, quando as condições prisionais tornaram a se agravar, a Corte interveio novamente, dessa vez, com ordens ainda mais detalhadas ao departamento penitenciário estadual. De modo que, teria como exemplo, a limitação do número de presos que poderiam ser confinados em uma cela e a definição de um período máximo. Como no caso mais recente, em 2011, Brown v. Plata, relativo ao sistema carcerário da Califórnia.
  A Corte Constitucional da Colômbia, também produziu um mecanismo de intervenção jurisdicional para resolver falhas estruturais de políticas públicas que provoquem violações massivas e contínuas de direitos e que decorram de omissões das autoridades estatais. Trata-se da categoria do “estado de coisas inconstitucional”. Desse modo, ela reconhece e declara a existência de um estado de coisas contrário à Constituição, ela passa a atuar diretamente na formulação de políticas públicas.
  As situações apresentadas pelos países acima, evidenciam um fenômeno global e generalizado. Mais do que isso, elas demonstram um enfrentamento demanda uma atuação conjunta e coordenada de diversos poderes e órgãos estatais. E a necessidade de se conferir prioridade a soluções que atuem sobre as causas das situações que deram origem às demandas. Além de apontar os papéis que a jurisdição constitucional tem a desempenhar no processo. 
  A realidade prisional brasileira é o resultado da inobservância e omissões dos três poderes durante um longo período de tempo. E que para ter resultados eficazes é necessário implantar um conjunto complexo e planejado de medidas, articulado por todos os órgãos relativos ao sistema carcerário e esferas de poder. E ainda, priorizar soluções que atuem diretamente sobre as causas do problema prisional.
  As três principais causas da crise do sistema carcerário nacional são: a superlotação, a lógica do hiperencarceramento, e as deficiências na estruturação e funcionamento dos presídios.
   A superlotação é considerada pela CPI como “a mãe de todos os demais problemas do sistema carcerário”. Dessa forma, a ocupação dos presídios em número muito superior à sua capacidade prejudica severamente a manutenção de condições mínimas de higiene, privacidade e habitabilidade. Assim como a prestação das diversas assistências previstas na LEP e a garantia da ordem e segurança internas, com efeito direto sobre as condições de vida dos presos e sobre a segurança pública.
   Se tratando do hiperencarceramento, a sociedade é gerada pela ideia de que colocar pessoas atrás das grades é a única resposta para lidar com a criminalidade, independentemente do tipo e da gravidade do crime praticado. Mas esse pensamento em prática não tem contribuído para os objetivos das políticas de segurança pública e para a prevenção do crime, ao contrário, tem favorecido o aumento da prática delitiva.
   Não se pode negar que toda sociedade necessita de uma dose proporcional de repressão penal e punição, como pressuposto da vida civilizada e da proteção dos direitos humanos de todos. Por isso é necessário ser encontrado o ponto de equilíbrio, tornando o direito penal moderado e sério. Como exige a Constituição, a privação de liberdade deve ser medida de ultima ratio, 29 Em elaboração RE 580252 / MS aplicada apenas quando a gravidade da ofensa e a importância do bem jurídico tutelado tornarem todas as demais medidas nitidamente inadequadas.
  Por fim, é preciso suprir as graves deficiências na estruturação e funcionamento dos presídios. Por isso, qualquer projeto de reforma prisional deve envolver também respostas diretas e efetivas às condições desumanas e degradantes de detenção, dentre as quais destaco as que se seguem: melhoria da estrutura física dos estabelecimentos penais, aperfeiçoamento da estrutura de funcionamento dos presídios, melhoria das assistências material, laboral, educacional, à saúde, a mulher, e melhoria do monitoramento e da gestão dos presídios. 
  Muitas das propostas acima são caras, por isso para que seja possível sua realização é preciso ter recursos suficientes para garantir as condições mínimas de dignidade. Além de o sistema penitenciário contar com um fundo específico para financiar medidas de aprimoramento e modernização. Trata-se do Fundo Penitenciário Nacional - FUNPEN, instituído pela Lei Complementar nº 79/1994.
    Dessa forma, além das medidas acima, é preciso garantir que todos dos recursos com destinação para a questão carcerária seja efetivamente empregada na melhoria do sistema. Para isso, é preciso determinar o imediato livramento do Funpen, e promover estudo sobre as atuais exigências para que Estados sejam recompensados com transferências do fundo.
   Independentemente do que for considerado, para que uma mudança efetiva aconteça, é preciso, que cada um dos poderes e instituições envolvidos reconheça a gravidade da situação e suas responsabilidades, deixando de lado a inércia que caracteriza a política penitenciária. É de suma importância, que as instituições relacionadas ao sistema prisional assumam a sua parcela de responsabilidade e realize um esforço conjunto e cooperativo no sentido de garantir aos presos os direitos mais básicos que lhes são assegurados pela Carta Magna. 
   Por isso, a jurisdição constitucional não pode desempenhar o papel de mero expectador. Ao contrário, deve assumir uma postura ativa na construção de soluções para a crise prisional, impulsionando o processo de superação do atual estado de inconstitucionalidade que envolve a política prisional no país. 
   O recurso extraordinário em questão discute duas questões fundamentais: a existência de responsabilidade civil do Estado pelos danos morais causados aos presos em decorrência da superlotação e do encarceramento em condições desumanas ou degradantes, e a possibilidade de invocação da cláusula da reserva do possível para afastar a obrigação do Estado de indenizar os danos produzidos nessas circunstâncias.
   A responsabilidade civil tem sua fonte primária na Constituição Federal. Pautada na dignidade da pessoa humana, ela assegura a ampla indenização pelos danos materiais ou morais que derivam de uma violação aos interesses existenciais, como a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas (art. 5º, V e X, CF). 
   No caso, a violação à dignidade humana e os danos morais suportados pelo recorrente são indiscutíveis. Já que há um relatório da Vigilância Sanitária do Município (fls. 50/52), documento do Departamento Penitenciário Nacional (fls. 247/248) e Decreto editado pelo Governador do Estado de Mato Grosso do Sul (fls. 442/443) que comprovam a situação preocupante a que são submetidos o recorrente e outros detentos que cumprem pena no presídio de Corumbá, em condições mínimas de higiene e habitabilidade e de espaço nas celas.  
  A parcela considerável

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