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Responsabilidade Civil - Caderno 2021.1

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PARTE GERAL -----________________________________________---
RESPONSABILIDADE CIVIL
1. Evolução histórica da responsabilidade civil
"Honeste vivere, alterum non laedere, suum cuique tribuere". Trata-se de uma oração em latim, que versa sobre os
pressupostos fundamentais da responsabilidade civil, onde se lê:
● viver honestamente: evitaremos problemas não só para nós, como para nossos semelhantes. Ocorre
que nem sempre agimos assim e, quando isso ocorre, a responsabilidade civil está presente no
ordenamento jurídico para nos embasar a adotar as providências devidas.
● não gerar lesão para o outro: agir de acordo com os limites dos nossos direitos (art. 186 e 187 do
CC/02). Não podemos exercer as normas do ordenamento jurídico.
● dar a cada um o que lhe é devido: a responsabilidade civil mostra como agir para a salvaguarda de
interesses.
1.1. Na história mundial
O doutrinador Andre Castaldi apresenta a responsabilidade nas épocas mais primitivas da humanidade. Desde
que o homem existe, todas as vezes que o seu semelhante lhe gerava algo que era desagradável, havia uma reação,
que era a chamada vindita, ou vingança privada. Isto é, a lesão era revidada.
A Lei das Doze Tábuas estabelecia a Lei do Talião ("olho por olho, dente por dente"). Se a lesão era X, a vítima
teria o direito de fazer X pessoalmente em relação ao agressor e aos seus familiares.
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Direito das Obrigações II – Profa. Joseane Suzart – Semestre 2021.1
Por Beatriz Gonzalez Folly de Mendonça – beatrizgfolly@gmail.com
Os Códigos de Manu e de Hamurabi, tem-se o início da possibilidade de ao invés de agirmos de forma estrita e
tão violenta como outrora, passa-se a inserir uma espécie de recomposição pecuniária – embora não houvesse
moeda ainda, mas havia recursos da natureza transacionados.
Foi na primeira etapa do Direito Romano em que se teve o surgimento da responsabilidade civil em uma
tentativa de se separar o que era uma infração penal e uma infração civil. O Poder Público da época começa a se
posicionar diante de circunstâncias da escravidão, uma vez que os sujeitos que não conseguiam pagar as suas
dívidas eram escravizados.
Com a segunda etapa do Direito Romano, através das Institutas de Gaio e do Corpus Iuris Civilis, tem-se a
presença do Imperador Justiniano. Aqui, surge a necessidade de exame dos pressupostos da responsabilidade
civil de uma forma diferenciada – responsabilidade aquiliana.
No ano 326 d. C. tem a chamada Lex Poetelia-Papiria, criada por senadores Caio Petélio e Lúcio Papilios. Eles
buscam parâmetros mínimos para resolver problemas do campo social, tanto diante do descumprimento do
negócio jurídico, quanto de outras situações ilícitas.
Na terceira etapa do Direito Romano, inicia-se a separação da esfera penal da esfera cível na responsabilidade
civil. No entanto, quando um crime ocorre, muitas vezes, existem resultados sob a ótica cível também. Ex.:
Crime de dano com a nossa residência pode resultar na punição do sujeito sob a ótica criminal, bem como a
indenização pelos danos causados.
Com a queda do Império Romano, dá-se início à Idade Média, marcada pela presença de Santo Agostinho e São
Tomás de Aquino. Ambos trabalham com a noção de culpa (agir imprudência, negligência e imperícia). Ainda,
temos a presença de dois glosadores, os juristas que escreviam as Institutas, Bartolo e Arcúcio, além das
Incursões, a grande contribuição de Labeão. Isto é, ocorre aqui a subjetivação da responsabilidade civil.
Com o Renascimento, entra em cena a valorização do homem.
Posteriormente, com a progressão causada pela Revolução Industrial, a responsabilidade pautada somente na
análise subjetiva (da culpa) torna-se insatisfatória, uma vez que as crianças que morriam nas fábricas, os
trabalhadores que sofriam acidentes, causando mortes e lesões, estavam no contexto da Revolução Industrial e,
para a punição dos empregadores, não seria admissível que �cássemos retidos à investigação da presença de culpa.
Assim, a responsabilidade civil passa pela objetivação. Isto é, se o empregador agiu de forma omissa, negligente,
imprudente etc., independente de querer causar o dano ou não, haveria a sua responsabilização.
Portanto, a evolução da responsabilidade civil é paripasso observada com o desenvolvimento da jurisprudência.
Não tivemos leis a priori versando sobre a temática, mas as decisões foram evoluindo ao observar a necessidade de
superar o elemento subjetivo para se ter a objetivação. Obs.: Não quer dizer que a responsabilidade civil subjetiva
foi eliminada, mas foi preciso objetivá-la em determinados casos.
Raymond Salleilles, Louis Josserand e Georges Ripert são doutrinadores que sedimentaram a parte inicial da
responsabilidade civil.
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Direito das Obrigações II – Profa. Joseane Suzart – Semestre 2021.1
Por Beatriz Gonzalez Folly de Mendonça – beatrizgfolly@gmail.com
Com a Segunda Guerra Mundial, tivemos o recrudescimento da responsabilidade civil, uma vez que a produção
era excedente e o consumo não dava conta, sendo preciso escoar esta produção. Com a presença dos meios de
comunicação, foi necessária a incrementação da sociedade de consumo. O sociólogo português Boaventura de
Souza Santos mostra como a proteção ao trabalhador não foi uma benesse, mas era interesse em mantê-los vivos
para que continuassem produzindo e os ganhos auferidos com a mão de obra explorada servia tanto para compor
a sociedade de consumo com produtos e serviços, quanto para disponibilizar recursos �nanceiros de modo que
pudessem comprar os produtos excedentes.
No que tange à proteção do meio ambiente, a Europa cria a normativa nº 85/374, que versa sobre a
responsabilidade civil em diversas searas da vida humana. Aqui, surge a proteção a partir de problemas no
mundo, como elementos químicos e bombas. A partir da objetivação da responsabilidade civil, tornou-se mais
rápida a responsabilização de pessoas (principalmente jurídicas) que lidavam com atividades perigosas e que
comprometiam a natureza.
1.2. No Brasil
No período colonial, tem-se as ordenações �lipinas (1595). Não havia regras separando a responsabilidade civil e
criminal, mas havendo a mistura entre essas normas e pautadas na subjetividade.
Com um Alvará de 1686, inicia-se uma tentativa de organização dessas regras de responsabilização.
Com a Constituição de 1824, art. 179, surge uma normativa voltada para a responsabilidade de natureza
subjetiva, mas ainda não havia uma de�nição precisa, como se tem no Código Civil.
Então, em 1867, Augusto Teixeira de Freitas elaborou o esboço do Código Civil, praticamente utilizado por
Clóvis Beviláqua, em 1916, com a edição do nosso primeiro Código. Em seu bojo, havia somente três artigos que
versavam sobre responsabilidade civil.
2. Visão crítica sobre a responsabilidade civil
O país adota não somente uma responsabilidade de natureza subjetiva (arts. 186, 187 e 927 do CC), como
também a vertente objetiva (arts. 931 e parágrafo único do 927).
Situações que envolvam risco pressupõem uma responsabilidade objetiva.
A responsabilidade civil objetiva é aquela que, havendo um determinado efeito danoso, não se investiga se o
autor da ação ou omissão a desejava/almejava ou não.
Ex.: Um trabalhador se machuca no exercício de sua pro�ssão. Não se analisa se a empresa queria o efeito
danoso, mas em situações excepcionais (como a de ter um gerente cuja função é a de �scalizar a segurança dos
empregados), a empresa pode exercer a chamada ação regressiva contra esse gerente para sua responsabilização.
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Direito das Obrigações II – Profa. Joseane Suzart – Semestre 2021.1
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Ex. 2: Uma festa no estabelecimento comercial com limite para 20 pessoas e chegam 40 pessoas. A
responsabilidade é do estabelecimento, tendo o direito de propor ação regressiva contra o funcionário que
descumpriu as regras que regulam a quantidade de pessoas no estabelecimento.
Obs.: Depois da Boate Kiss, houve a alteração da Lei 8.078/90 e do Código Civil para se exigir que todos aqueles
que realizematividades em espaços abertos para o público, a título gratuito ou oneroso, devem ter
responsabilidade para não aceitarem um número de pessoas, colocando em risco a integridade física, psíquica e
econômica dos frequentadores.
2.1. Evolução das normas brasileiras sobre responsabilidade civil
O Decreto 2681 de 1912 foi o primeiro diploma normativo versando sobre responsabilidade civil objetiva, dado
o contexto em que os trabalhadores estavam morrendo nas estradas férreas. Isto é, no Brasil, a objetivação da
responsabilidade civil dá-se com a triste condição de trabalhadores expostos ao perigo.
Na década de 80, destaca-se a questão ambiental: Lei 6.938/81 (Política Nacional de Proteção ao Meio
Ambiente).
Em 1988, com a CF, tem-se a responsabilidade objetiva inclusive do Poder Público. Art. 37, § 6º da CF. Ex.: Há
responsabilidade civil do Poder Público perante a situação, em razão da pandemia.
Ainda, a CF estabelece como direito fundamental a proteção do trabalhador, do consumidor, da família, da
infância e da juventude.
Na década de 90, tivemos a edição do Código de Defesa do Consumidor, que preconiza a responsabilidade
objetiva em regra. Ainda, a Lei 8.069/90 (ECA), também trazendo regras sobre a responsabilidade objetiva.
Em 2003, tivemos a Lei 10.741 (Estatuto de Proteção dos Idosos), também com regras nesse sentido. Em 2015, a
Lei 13.146/15, que protege as pessoas que apresentam certo grau de de�ciência.
Portanto, conclui-se que a evolução da responsabilidade civil no Brasil foi paulatina.
2.2. No Direito Público X Direito Privado
Em que pese a disciplina da responsabilidade civil seja, em tese, do Direito Privado, é notória a presença do Poder
Público nesse contexto.
O doutrinador alemão Ludwig Raiser a�rmava que a divisão entre público e privado restou superada em razão
da presença dos sujeitos no âmbito social e do constante intercâmbio com seus semelhantes e com a
Administração Pública.
Assim, denota-se uma grande conexão com o Direito Constitucional, Penal, Administrativo, Empresarial...
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Direito das Obrigações II – Profa. Joseane Suzart – Semestre 2021.1
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Por mais que seja importante a responsabilidade civil, ela também possui limitações, a exemplo do art. 935 do
CC, que aduz que a responsabilidade civil independe da penal:
Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais
sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem
decididas no juízo criminal.
Se já de�nido o problema da autoria ou materialidade no âmbito criminal (se a decisão transitou em julgado),
não se discutirá na esfera cível autoria e materialidade, mas apenas o quantum indenizatório. Logo, se alguém
comete um crime e este causa consequências negativas sob o aspecto cível, se buscará a reparação necessária no
âmbito cível.
Muitas vezes, teremos situações em que o crime estará passando pelo crivo de um processo. Então, não se pode
"cruzar os braços" na esfera cível. Ex.: Crimes de pirâmides �nanceiras sobre criptomoedas estão sendo objeto de
ações civis públicas, independentemente de se ter o resultado das investigações criminais que tramitam na Polícia
Federal, pois não se pode esperar que haja o reconhecimento das pessoas físicas na esfera criminal.
De igual modo, o Código Penal estabelece o seguinte:
Art. 91 - São efeitos da condenação:
I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime; [...]
A responsabilidade de natureza criminal será sempre subjetiva. A ratio legis do Código Penal é a harmonia e paz
social. Ademais, a responsabilidade penal não é transmitida com a herança.
Ainda que adotemos a função social do contrato e a cláusula geral da boa-fé objetiva, deve-se resolver as situações
inter partes, pois não estamos tratando da sociedade como um todo – apesar de que nas ações coletivas podemos
buscar a tutela dos interesses transindividuais.
Ademais, conforme o art. 943 do CC/02, a responsabilidade de natureza cível transmite-se com a herança.
Assim, se alguém cometeu um ato ilícito e está devendo um valor da indenização, o inventariante será
responsável pelo pagamento da indenização devida no processo do inventário.
3. Funções da responsabilidade civil
3.1. Função reparatória, ressarcitória ou compensatória
Ex.: Sujeito compra de um livro e este não chega. Requer a responsabilidade civil da fornecedora e deseja
indenização.
A indenização é a observação dos prejuízos sofridos pelo sujeito, seja pessoa física, seja pessoa jurídica. Tais
prejuízos podem ser materiais ou morais.
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Direito das Obrigações II – Profa. Joseane Suzart – Semestre 2021.1
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O art. 947 determina que, se não for possível retomar ao status quo ante, anterior à prática que gerou
consequências negativas, será buscada a indenização em pecúnia. Ex.: Prática arbitrária quanto ao meio
ambiente.
Art. 947. Se o devedor não puder cumprir a prestação na espécie ajustada, substituir-se-á pelo seu
valor, em moeda corrente.
Nem sempre vai ser possível resgatar a situação anterior, mas a função reparatória é a mais conhecida e buscada
pelos sujeitos lesados.
3.2. Função sancionatória ou punitiva
3.2.1. Histórico da f unção sancionatória
Em 1904, Louis Hugueney já apresentava sua tese a favor da pena privada com a obra intitulada "L'idée de peine
privée en droit contemporain".
Em 1947, Boris Starck apresentou a sua tese "Essai d'une théorie générale de la responsabilité civile, considerée en
sa doublé fonction de garantie et de peine privée", sobre a teoria geral da responsabilidade civil e a sua dupla
função, não somente de reparação, mas de garantia da pena privada
No sistema norte-americano, tem-se os punitive damages (danos punitivos). No Brasil, tem-se o doutrinador
José de Aguiar Dias que primeiro trouxe premissas sobre a temática.
3.2.2. Conceito
A função sancionatória é aquela em que se pugna ao Poder Judiciário não somente pela nossa reparação, mas
também por um valor que �zesse com que o sujeito causador do dano fosse punido, isto é, sentir de fato o peso
da responsabilidade civil, de modo que não voltasse a cometer o ato indevido.
Alguns autores entendem que essa função é possível (Anderson Schreiber), porém há o questionamento quanto
à possibilidade de utilizar essa função em demandas individuais.
No que tange às ações coletivas (Ações Civis Públicas), não restam dúvidas de que esta função, vinculada com o
aspecto preventivo ou dissuasório, está presente. Isto porque: (i) não é apenas uma pessoa que propõe a medida e
(ii) só se admite a propositura das ACPs através de pessoas jurídicas (Lei Federal nº 7.347/85 – o art 5º dispõe do
rol de sujeitos: MP, Defensoria Pública, OAB, Sindicatos, Conselhos Regionais pro�ssionais, associações,
fundações).
Ao ser proposta a ACP, tem-se, em seu bojo, a defesa de interesses difusos ou coletivos, além de direitos
individuais homogêneos.
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Ex.: Proposta a ação de natureza coletiva envolvendo a tragédia de Brumadinho, envolvendo o MPF, tem-se
aspectos de natureza:
i) Dif usa: pugnou-se que tenha mais cuidado não só com essa barragem, mas com outras barragens,
aspecto bené�co para toda a população brasileira;
ii) Coletiva: protegendo os trabalhadores daquela região; e
iii) Individuais homogêneos: os familiares dos falecidos e os sobreviventes da tragédia devem ser
indenizados.
Logo, quando se pede, em uma ACP, indenização para os lesados, esses valores vão depois da depuração para os
lesados. Entretanto, através de ACP, podemos e devemos também pedir ao Poder Judiciário um valor a título de
dano moral difuso e daí vem a sanção sancionatória ou punitiva, bem como preventiva ou dissuasória da
responsabilidade civil, uma vez que, além de pagar os valores que serão destinados aos lesados efetivamente, um
altovalor deve ser convertido em prol do dano dif uso ou coletivo.
Esse valor é encaminhado para um fundo federal, estadual ou municipal. Nesse caso de Mariana, trata-se de um
fundo ambiental, mas existem diversos fundos (do trabalhador, consumidor, crianças e adolescentes, idosos etc.).
3.3. Função preventiva ou dissuasória
Através do dano moral difuso ou coletivo, tem-se a função preventiva, pois o pagamento de altos valores faz com
que os agentes causadores dos danos sejam dissuadidos, sob o aspecto pedagógico, para não repetir aquela
conduta.
Isto é notado a partir de demandas individuais, que têm indenizações �xadas em valores baixos e não causa danos
signi�cativos às empresas, enquanto nas indenizações maiores, em demandas coletivas, a tendência é que as
empresas não repitam os atos lesivos.
4. Posição da responsabilidade civil e sistema jurídico contemporâneo
4.1. Responsabilidade civil
4.2. Responsabilidade penal
4.3. Responsabilidade administrativa e política
A Administração Pública, quando no exercício do poder de polícia, pode gerar consequências negativas para a
população – atuação extraneus, isto é um agir que venha a causar consequências negativas para fora da
Administração. Ex.: Um policial que, no exercício de sua função, exerce uma conduta danosa a terceiros – há que
se responsabilizar a Administração Pública.
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Há também situações intraneus, isto é, no âmbito da própria Administração e que não causarão problemas à
população, sendo resolvidas com base no Direito Administrativo.
Assim, tem-se a responsabilidade civil do Estado (não somente o Poder Executivo, mas todos os poderes da
Administração Pública).
5. Responsabilidade civil em face do cometimento de ato pelo próprio agente ou outrem
A responsabilidade civil contratual ou negocial decorre de quando se tem um negócio jurídico desrespeitado.
A responsabilidade civil extracontratual ou aquiliana dá-se em situações que não envolvem a existência de um
negócio jurídico. Ex.: Um sujeito ultrapassa o sinal vermelho e causa o acidente.
5.1. Responsabilidade civil por ato próprio
A responsabilidade civil pode ser vista por ato próprio, quando nós cometemos e somos responsabilizados e
também por ato de outrem.
5.2. Responsabilidade civil por fato de outrem
Ex.: Filhos menores que cometem atos prejudiciais e os pais são responsabilizados (art. 932).
5.3. Responsabilidade civil pelo fato da coisa
Em decorrência da coisa ou de animais. Ex.: Uma residência em que não é feita a reparação necessária e um
pedaço da varanda cai, responsabiliza-se o sujeito. Ex. 2: Se nosso cachorro causa consequências para outrem
6. Distinção do regime de responsabilidade pelo conteúdo do dever violado
O doutrinador Bruno Miragem realiza esta separação e a�rma que a responsabilidade civil é vista, sob a ótica do
dever violado. Assim, há o dever de não causar danos, de agir de acordo com a segurança necessária e o dever de
proteção para com o outro.
6.1. Dever de não causar danos
6.2. Dever de segurança
6.3. Dever de proteção
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7. Responsabilidade civil nos três grandes modelos jurídicos
7.1. Modelo francês
Baseia-se no Código Napoleônico, que ainda está em vigor, de 1804, em que se encontra no art. 1382 a cláusula
geral da responsabilidade civil.
Ressalta-se o francês Portali que a�rma que não há responsabilidade civil sem falta, isto é, deve-se demonstrar a
ocorrência de uma ação ou omissão e de um dano.
7.2. Modelo alemão
Este modelo está lastrado na cláusula geral disposta no art. 823 do Código Civil alemão (BGB), segundo a qual
se deve valorizar bens essenciais (vida, saúde, segurança).
7.3. Modelo inglês
Baseia-se nos precedentes, conforme o sistema common law.
Obs.: O Brasil está muito atrelado à experiência francesa e italiana. Com o novo CPC, começamos a tangenciar a
utilização dos precedentes.
8. Princípios vetores da responsabilidade civil
8.1. Dignidade da pessoa humana
A nossa CF, no art. 1º, menciona a dignidade como princípio fundamental. Versa sobre respeitar o mínimo
existencial em todas as questões que envolvam a responsabilidade civil.
Em 1486, temos os estudos de Giovanni Pico de la Mirandola (italiano), que vem a tratar pela primeira vez na
história, do princípio da dignidade humana. Depois, foi mencionado na Constituição de Weimar de 1919,
seguidamente pela Lei Fundamental de Bonn de 1949, na Declaração de Direitos do Homem de 1948 e na
Declaração Universal de 1979.
8.2. Solidariedade
O princípio da solidariedade é crucial. Temos os ensinamentos de Miguel Reale, segundo o qual é preciso agir de
forma a resgatar a ética e buscando os instrumentos para respeitar o outro.
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8.3. Prevenção
Não se confunde com precaução. Prevenção é um conceito aplicável para toda e qualquer situação que não se
duvida que pode gerar consequências deletérias. Precaução é outro princípio, que versa sobre a necessidade de
cautela diante de situações que, ainda que não provadas cienti�camente que provocarão prejuízos, é possível que
eles ocorram. Ex.: Alimentos transgênicos, em que o direito à informação precisa ser respeitado.
A Lei Federal 6.453/77, que versa sobre danos nucleares, tem uma presença constante de prevenção. Ademais, o
art. 21, XXXII, c, da CF, trata da responsabilidade objetiva quanto aos danos nucleares.
8.4. Reparação integral
A obra do Min. Paulo de Tarso Severino trata da temática.
A reparação integral é dizer que todos os prejuízos deverão ser, de fato, reconhecidos não somente sob a ótica
material, mas também moral.
8.5. Cláusula geral da boa-fé objetiva
Para alguns autores, seria o princípio segundo o qual se deve observar os deveres anexos, colaterais e
complementares, bem como as funções de integração, interpretação e controle – como foi visto na Teoria Geral
dos Contratos.
PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL: A CONDUTA E O NEXO DE
IMPUTAÇÃO
1. Condições f undamentais da responsabilidade civil
Para termos a responsabilidade civil é preciso identi�car qual foi a conduta que enseja a avaliação, que pode ser
uma ação ou omissão.
1.1. Conduta
Quanto à conduta, é possível haver um descumprimento contratual (responsabilidade civil contratual ou
negocial), além de situações que, independentemente da existência de um vínculo jurídico, possam causar
consequências deletérias (atos ilícitos).
1.2. Dano ou resultado
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O dano pode estar con�gurado na ótica material (o sujeito deixa de receber algo) ou na ótica moral.
Nem sempre o dano será necessário para que possamos adotar as providências devidas diante do agente. Isso
porque os pressupostos clássicos da responsabilidade civil mudaram com o tempo e o dano deixou de se
con�gurar como um desses requisitos indispensáveis.
Com as transformações sociais e econômicas e o surgimento da sociedade de risco, não faz sentido esperar que os
problemas venham à tona para responsabilizar os agentes que possam evitá-los. Assim, o dano pode ser um dano
pressuposto e ensejar a responsabilidade civil mesmo assim.
Ex.: Hospitais privados que vêm realizando procedimentos estéticos eletivos, visando ao lucro, no período da
pandemia. Estabelecimentos comerciais desrespeitando regras sanitárias e de prevenção a incêndios.
1.3. Nexo de causalidade
Além da conduta, deve-se observar se o resultado obtido (ou o dano que possa vir) apresente uma liame entre a
conduta e ele.
1.4. Nexo de imputação
Além de observar a situação concreta, deve-se detectar se os agentes que serão responsabilizados apresentam uma
estrutura de consciênciado ilícito que está sendo questionado. Por isso, precisamos ver a capacidade dos sujeitos
para que tenhamos a condição de lhes atribuir ou não a responsabilidade civil.
2. Conduta (antijurídica)
2.1. Antijuridicidade e ato ilícito
A antijuridicidade implica em uma concepção mais ampla do que o ato ilícito (art. 186 e seguintes). Por outro
lado, o ato ilícito é antijurídico, mas às vezes temos situações que são também antijurídicas e nem sempre
correspondem a um ato ilícito.
Daí resulta o art. 188 do Código Civil, segundo o qual é possível ter situações que englobam legítima defesa,
estado de necessidade, exercício regular do direito, estrito cumprimento do dever legal etc. que não
correspondem à infrações, mas que podem gerar resultados que sejam contra o direito.
Conclusão: Todo ato ilícito é antijurídico, mas nem todo ato antijurídico é ilícito.
2.2. Antijuridicidade X Culpabilidade X Imputabilidade
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A antijuridicidade vai suscitar uma análise das condições subjetivas em termos de representatividade, de
consciência do ato cometido.
Disso decorre que a culpabilidade está atrelada à análise de uma situação dolosa ou culposa. Ao tratar da
culpabilidade sob o aspecto amplo, temos o dolo e a culpa. Contudo, o Brasil adota o sistema dual de
responsabilização. Há a responsabilidade subjetiva e a objetiva.
Para tanto, os arts. 927 e 931 do Código Civil estabelecem quando estamos diante de uma situação de
responsabilidade subjetiva ou objetiva.
Situações que envolvam risco (art. 927) e situações que digam respeito às atividades de empresários que estejam
no mercado, ofertando produtos ou serviços (art. 931), ensejam a responsabilidade objetiva. A atuação do
fornecedor no mercado e a do empregador ensejam a responsabilidade objetiva.
Obs.: Enfatiza-se a situação dos consumidores e trabalhadores porque estes, em regra, são sujeitos vulneráveis. A
professora aponta que, não obstante tenhamos consumidores e trabalhadores abastados, continua prevalecendo
a vulnerabilidade, que não pressupõe a pobreza, mas está pautada na di�culdade de o sujeito poder compreender
a relação jurídica pactuada por inteiro.
Quanto à imputabilidade, deve-se observar a capacidade de compreensão do sujeito sobre o ato praticado. Por
isso, aduz-se os arts. 3 e 4 do Código Civil sobre aqueles considerados incapazes.
2.3. Fontes da responsabilidade por ato ilícito
2.3.1. Ato ilícito (delito)
O doutrinador argentino Jorge Mosset Iturraspe a�rma que o ato ilícito pode apresentar uma con�guração
absoluta sob o aspecto formal, quando veri�camos que está assentado na lei, mas também devemos �car atentos
aos princípios gerais do direito, às cláusulas gerais e valores que emanam do ordenamento jurídico (boa-fé, bons
costumes, �ns econômicos ou sociais…).
Assim, há de se destacar o viés relativo desses atos ilícitos, uma vez que, mesmo que a lei não nos dê respostas ao
caso concreto, deve-se criá-las, pedindo ao Poder Judiciário para que tome providências. É preciso buscar do
operador do direito uma construção para além do que está na lei.
Conclusão: Absoluta → lei. Relativa → postura criativa do operador do direito orientado pelos princípios.
Nem sempre teremos um descumprimento contratual. Podemos ter condutas outras que, independente de um
vínculo prévio, ensejarão a responsabilidade civil.
2.3.2. Abuso de direito: limite ao exercício de prerrogativas jurídicas
O abuso do direito não está sempre jungido ao que preconiza a lei.
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Trata-se de uma discussão antiga, pois se questionava: como alguém podia ir além do que já está assegurado pelo
ordenamento jurídico? Não seria uma contradição ter um direito e não poder exercê-lo?
O direito subjetivo (do sujeito) precisa estar pautado no contexto objetivo estabelecido na lei, mas não pode ir
além, isto é, não pode atuar de forma desmedida diante daquilo que está sendo assegurado pelo negócio jurídico.
2.3.3. Fins econômicos ou sociais
Não quer dizer que haverá sempre interesse da coletividade. Podemos ter essa �nalidade social atrelada à ética e à
probidade em situações que envolvam dois sujeitos no direito privado. Ex.: No direito de família, quando o
ex-marido, dentro da distribuição dos bens, dilapida o patrimônio existe.
2.3.4. Boa-fé
2.3.5. Bons costumes
2.4. Causas de justi�cação
Esse termo “causas de justi�cação” é adotado pelo jurista Bruno Miragem. Independentemente da
nomenclatura, não são atos ilícitos de acordo com o art. 188 do Código Civil.
Em que pese estes comportamentos não sejam ilícitos, ao exercê-los, é possível que sejam causados danos a
terceiros que não causaram as situações ensejadoras da utilização desses institutos.
Assim, o Código Civil diz que, se no exercício desses institutos, causarmos danos a terceiros que não estão
inseridos no contexto que gerou a aplicação destes, deverá haver responsabilização, à luz do art. 930:
Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra este
terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao lesado.
Parágrafo único. A mesma ação competirá contra aquele em defesa de quem se causou o dano
(art. 188, inciso I).
Ex.: A, na fuga de um animal perigoso, quebra a cerca da casa de B. Logo, B não pode ser responsabilizado pelo
ato de A, mesmo que tenha sido no exercício de um desses institutos. B pode propor uma ação contra A, que,
por conseguinte, poderá propor uma ação regressiva contra o proprietário do animal. Também é possível que B
ajuíze uma ação contra o proprietário do animal diretamente, ou até contra ambos.
Ademais, se houver desproporção, situações que ultrapassem a proporcionalidade, deve-se apurar no aspecto
cível.
Ex.: Um policial está no exercício legal do seu dever, mas interfere em direitos alheios, deve-se apurar essa
situação quanto à responsabilidade civil.
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2.4.1. Legítima defesa
Art. 23 do Código Penal.
2.4.2. Exercício regular de um direito
O exercício regular de um direito precisa ser sem abusos, pautado na proporcionalidade.
2.4.3. Remoção de perigo iminente (estado de necessidade)
3. Nexo de imputação
3.1. Culpa como critério de imputação de responsabilidade civil
É preciso observar, primeiro, qual tipo de responsabilidade civil será aplicada no caso concreto. Se for objetiva,
não é preciso examinar a questão da culpa (em lato sensu, abarcando o dolo: vontade de agir e obter o resultado).
Se for subjetiva, precisaremos examinar situações que ensejem a culpa.
3.1.1. Imprudência
O professor Carlos Roberto Gonçalves aponta que a imprudência estaria atrelada ao aspecto positivo, sendo
uma precipitação e que demonstra, sob o aspecto objetivo, uma ausência de atenção e cuidado.
Ex.: O sujeito que fura o sinal amarelo e causa um acidente. É uma conduta positiva (ação), mas não está
adotando uma cautela considerada necessária.
3.1.2. Negligência
A negligência está assentada em um aspecto negativo, pois o sujeito deixou de agir, não agindo de forma zelosa e
a levar em consideração aspectos necessários para evitar o dano. É uma omissão, um não fazer quanto a cuidados
essenciais.
Ex.: Empresa de alimentos que não informa no rótulo da embalagem a presença de glúten e um cuidador de
idosos que, desatento ao rótulo, fornece o alimento a um idoso alérgico.
3.1.3. Imperícia
Está vinculada a aspectos que dizem respeito ao exercício de uma atividade ou labor. No exercício das atividades
pro�ssionais, é preciso conhecer bem a atividade laboral.
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3.2. Dolo
O dolo podeser examinado dentro de uma ótica direta ou eventual.
3.3. Gradação da culpa
3.4. Presunção da culpa
A presunção da culpa não seria uma responsabilidade objetiva? Esta expressão tem sido utilizada pelo STJ,
sobretudo, com relação a questões envolvendo erros médicos.
Essa presunção de culpa está atrelada à inversão probatória em que, havendo um problema com um paciente, por
exemplo, essa expressão levaria à necessidade de um pro�ssional da área de saúde provar que agiu de forma devida
e satisfatória.
Até 2015, esse instituto não estava presente no nosso CPC. A partir de 2015, o Brasil passou a adotar a chamada
distribuição dinâmica do animus probandi.
Antes, a regra tradicional da prova estava assentada de modo que o autor deveria provar os fatos constitutivos do
seu direito, enquanto o réu deveria demonstrar os fatos impeditivos, extintivos ou modi�cativos. Todavia, nem
sempre o autor da ação consegue demonstrar os aspectos que estão sendo apresentados na inicial. Assim, o juiz
pode adotar a teoria da distribuição dinâmica e determinar que o réu demonstre que agiu de forma satisfatória
para evitar o dano.
Antes de 2015, tínhamos a adoção desse instituto (distribuição dinâmica do animus probandi) já no Código de
Defesa do Consumidor (art. 6º, VIII) e na área ambiental.
3.5. O risco como critério de imputação da responsabilidade civil
3.5.1. Objetivação da responsabilidade civil no direito positivo atual
3.5.2. Sistema dualista de responsabilidade civil e a socialização dos riscos
Como a�rmado, o Brasil adota um sistema dualista, havendo a responsabilidade objetiva e a subjetiva, devendo
identi�car no caso concreto qual será aplicada.
3.5.3. Espécies de risco como critério de imputação da responsabilidade
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Existem várias correntes doutrinárias sobre o que é o risco. Joseane destaca que o risco é, muitas vezes, inerente
ao próprio bem. Há atividades presumidamente arriscadas, portanto, são dotadas de risco inerente ao próprio
contexto examinado.
Por outro lado, temos situações outras que irão ensejar a aplicação de teorias especí�cas, destacando-se a
importância da teoria do risco proveito, quando se tem atividades remuneradas. Ex.: Uma empresa no mercado
que coloca itens e deles obtém lucro → deve ser aplicada a teoria do risco proveito.
Já nas situações em que não se tem o lucro, aplica-se a teoria do risco criado. Ex.: Pai e mãe que saem de casa e
deixam seus �lhos pequenos sozinhos.
Ainda, tem-se a questão do risco excepcional, considerado extremado. Ex.: Atividades nucleares, que
independentemente da empresa desenvolvendo, a responsabilidade é objetiva, pois qualquer problema que
ocorra, esta será responsabilizada.
Por �m, tem-se a teoria do risco integral, voltada à responsabilização de todos os danos sofridos (danos materiais,
morais, individuais, coletivos, estéticos…), mas se volta muito à questão ambiental.
3.6. Responsabilidade objetiva no Código Civil
3.6.1. Responsabilidade pelo risco da atividade (art. 927, parágrafo único)
Art. 927, Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa,
nos casos especi�cados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do
dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
3.6.2. Responsabilidade por danos causados por produtos (art. 931)
Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários individuais e as
empresas respondem independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos postos em
circulação.
3.7. Responsabilidade indireta por fato de terceiro (art. 932)
É possível que tenhamos a responsabilidade civil por atos praticados por terceiros, dispostos no art. 932:
Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:
I - os pais, pelos �lhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;
A responsabilidade será do genitor, que se encontra zelando e mantendo a guarda do seu descendente. Há um
questionamento sobre pais que estejam divorciados. Isto porque seria injusta a responsabilização apenas daquele
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que está acompanhando o �lho. Assim, a jurisprudência aponta para a responsabilização de ambos os pais, não
somente do que está na companhia. O Enunciado 449 das Jornadas de Direito Civil trata disso.
Enunciado 449: A indenização equitativa a que se refere o art. 928, parágrafo único, do Código
Civil não é necessariamente reduzida sem prejuízo do Enunciado n. 39 da I Jornada de Direito
Civil.
Ainda, o Enunciado 41 estabelece que os �lhos emancipados devem arcar com os valores referentes à
indenização.
Enunciado 41: A única hipótese em que poderá haver responsabilidade solidária do menor de 18
anos com seus pais é ter sido emancipado nos termos do art. 5º, parágrafo único, inc. I, do novo
Código Civil.
Contudo, questiona-se isso, porque o �lho emancipado pode não conseguir ter sustento próprio ainda. Com
isso, discute-se a possibilidade de ser inserido não somente os �lhos emancipados, mas também os pais.
Outro problema é quando o pai ou a mãe não detém recursos �nanceiros su�cientes. O art. 928 do Código Civil
determina que a indenização deve ser equilibrada e não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas
que dele dependem. Logo, se passar a privar os pais, deve-se recorrer a outros recursos (herança, patrimônio do
�lho dado por outro familiar etc.). Esta situação não é paci�cada.
II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições;
A tutela está disciplinada nos arts. 1740 e seguintes. É necessária a presença de um tutor nas situações que
envolvam o pátrio poder. Não é que o pai e a mãe exerçam o poder de forma arbitrária, mas os �lhos menores
precisam ter representação para o caso de menores de 16 anos e de assistência para os �lhos entre 16 e 18 anos.
Quando os pais não exercem esse patri poder de forma satisfatória, pode haver a perda desse poder e haver a
presença do tutor que cuidará dos menores.
Há situações em que, ao invés da perda do poder, poderá haver a suspensão para uma reavaliação, sendo o
instituto da tutela aplicado.
Já a curatela requer pessoas incapacitadas de forma permanente ou transitória para a expressão de seus desejos e
vontades, envolvendo nascituros, réus presos, pessoas ausentes, havendo a presença de alguém respondendo por
ações ou omissões por esse curatelado.
III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do
trabalho que lhes competir, ou em razão dele;
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Todo empregador será responsável por atos cometidos por seus empregados, prepostos, serviçais… Há a aplicação
da Teoria da Pressuposição de que o empregado atua em prol dos interesses do empregador, situação chamada de
longa manus.
Em caso de situação “injusta”, quando a culpa foi exclusiva do empregado, é possível que o empregador
proponha ação regressiva contra o empregado.
A Súmula 341 do STJ trata da questão dos empregadores em face dos empregados:
SÚMULA 341 - A frequência a curso de ensino formal é causa de remição de parte do tempo de
execução de pena sob regime fechado ou semi-aberto.
IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro,
mesmo para �ns de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos;
Esses estabelecimentos que recebem pessoas mediante remuneração comete algo que venha a gerar danos para
outros que estejam ali dentro, esse estabelecimento é responsável.
Do mesmo modo, aqui também é possível que o hotel processado proponha ação regressiva contra o hóspede
que gerou o dano a outrem.
V - os que gratuitamente houverem participado nos produtosdo crime, até a concorrente
quantia.
É o caso de sujeitos que se aproveitam dos produtos do crime. Ex.: Uma pessoa que recebe o bem furtado, ainda
que de forma gratuita, pode ser responsabilidade no âmbito cível pelo sujeito lesado.
3.8. Responsabilidade pelo fato da coisa
A doutrina traz essa expressão, sobretudo do direito romano, para problemas envolvendo coisas.
3.8.1. Responsabilidade do dono do animal pelos danos por ele causados
Em 1869, na França, houve um caso de um sujeito que foi atingido por uma casa de abelhas. Assim, houve a
responsabilização pelo proprietário da fazenda em que havia a colmeia. É dizer: deve haver responsabilidade do
proprietário dos animais que causam dano.
Ressalte-se que, quando não é possível identi�car o proprietário do animal e não se sabe quem responsabilizar, a
depender do caso concreto (ex.: animal abandonado na estrada), é possível responsabilizar o Poder Público pela
ausência de �scalização ou até a concessionária responsável pelo trecho.
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Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa
da vítima ou força maior.
3.8.2. Responsabilidade pela ruína do edifício
Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se
esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta.
Deve-se responsabilizar donos de imóveis quanto à ausência de manutenção e restauração da estrutura que causa
algum dano.
3.8.3. Responsabilidade pelas coisas caídas do edifício
Deve-se responsabilizar o proprietário dos imóveis pelo que cai dos edifícios.
É possível que não se saiba de onde a coisa caiu (ex.: um hotel com vários quartos). Assim, é possível propor uma
ação contra o hotel ou contra o condomínio.
O Enunciado 447 das Jornadas de Direito Civil trata de objetos lançados em eventos esportivos. É possível
propor ação contra a agremiação.
Ressalte-se que a ação de regresso permite que o Réu em uma ação indenizatória busque o retorno do que teve
que pagar perante o verdadeiro causador do dano.
Quanto à cumulação dos danos, é possível ter danos diferentes reunidos (p. ex. materiais + morais), conforme
Enunciado 387 do STJ:
Súmula 387 - É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.
Antes da Constituição de 1988 tínhamos problemas quanto aos danos morais, tendo o Enunciado 37 paci�cado
estas situações:
Enunciado 37 - A responsabilidade civil decorrente do abuso do direito independe de culpa e
fundamenta-se somente no critério objetivo-�nalístico.
Por �m, o Enunciado 227 do STJ �rmou o entendimento de que pessoas jurídicas também podem sofrer danos
morais:
Súmula 227 - A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.
NEXO DE CAUSALIDADE NA RESPONSABILIDADE CIVIL
1. Conceito
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Para além de apresentar a conduta e os danos na propositura da ação ao Poder Judiciário, deve-se apresentar o
nexo de causalidade que liga a conduta e os danos. Atrelar o fato à consequência.
Desde a Filoso�a de Aristóteles, havia considerações sobre o liame que une a ocorrência com os efeitos
condizentes. Ele já a�rmava considerações sobre os aspectos materiais que poderiam gerar modi�cações da
realidade e de que forma esses aspectos geraram transformações, se de modo parcial ou total.
Ainda na Filoso�a, Tomás de Aquino aborda também. No campo da Economia, Stuart Mill trata do nexo de
vinculação entre ocorrências e efeitos.
2. Dupla f unção do nexo causal
Bruno Miragem aduz que o nexo causal apresenta uma dupla função: (i) de natureza preenchedora e (ii) de
natureza fundamentadora.
(i) A f unção preenchedora diz respeito ao dano e à sua extensão;
(ii) A f unção f undamentadora requer que detectemos o verdadeiro autor da situação.
3. Concausalidade ou concorrência de causas
Qual a diferença de causa e condição? Aristóteles a�rmava que a causa é o fator determinante da ocorrência de
uma situação concreta. As condições são eventos que antecedem e que permitem uma determinada
consequência.
A doutrina, sobretudo de José de Aguiar Dias e de Rui Stoco, fala da existência dessas três espécies a seguir.
Esse exame não é meramente teórico, mas deve perpassar pelos detalhes do caso concreto.
3.1. Causas complementares (concausas)
São aquelas que se complementam, se agregam, se reforçam para um resultado comum.
Ex. 1: Veículo sendo ocupado por 5 pessoas. Motorista em alta velocidade e bebendo. Ocorre um acidente e
alguns passageiros morrem e outros têm lesões, enquanto o motorista �ca vivo. O Juiz deve entender que o
motorista é responsável porque estava bebendo e em alta velocidade, mas os demais estavam sem o cinto de
segurança, uma causa complementar para os danos causados.
Ex. 2: Pessoa trafegando em seu veículo, em alta velocidade, há um acidente e o airbag não funciona. O
Magistrado precisará analisar a responsabilidade da fabricante.
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3.2. Causas cumulativas (concorrentes)
São aquelas que, ao invés de se agregarem, funcionam de forma apartada, independente, mas que concorrem
para um resultado comum.
Ex.: Ocorrência de um evento danoso ao meio ambiente, em que concorrem causas da própria natureza e ações
humanas. Nos acidentes de Mariana, não foi possível a identi�cação precisa de qual empresa atuou para causar
aquele desastre de maneira mais incisiva.
3.3. Causas alternativas
São aquelas que dizem respeito às situações em que podemos apontar uma ou outra para o Juiz. Ocorre muito
quando o sujeito não tem todas as informações necessárias (como a identi�cação do agente causador), mas a
legislação lhe permite propor uma ação contra um ou contra outro.
Ex.: Uma pessoa está andando na rua e recebe um objeto caído de um apartamento. Podemos propor uma ação
contra o condomínio e, se tivermos a identi�cação do apartamento, contra este. Podemos ter o condomínio só se
não localizarmos o apartamento.
4. Outros aspectos
4.1. Concausalidade ordinária, conjunta ou comum
É a mesma coisa que causas complementares ou concausas.
4.2. Concausalidade acumulativa
É a reunião de causas cumulativas ou concorrentes.
4.3. Concausalidade alternativa ou disjuntiva
É a mesma coisa que causas alternativas.
5. Tipos de concausas
5.1. Concausas preexistentes
A doutrina de�ne as concausas preexistentes como aspectos peculiares que já existiam antes do evento danoso
ocorrer e que vão contribuir para o seu agravamento.
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Ex.: O sujeito atropela um transeunte, que é hemofílico e vem a óbito. O Juiz deve levar em consideração a
informação apresentada de que a vítima tinha essa condição de saúde. Deve-se veri�car se a morte foi engendrada
pelo estado hemofílico ou se foi tão causada pelo atropelamento.
Ex. 2: Agressão física perpetrada diante de uma pessoa que tem problemas cardíacos.
5.2. Concausas supervenientes
Ex.: Uma mulher grávida que tem o seu parto feito de acordo com a diligência devida, mas tem depois um
aneurisma. O Juiz deve analisar se houve algum aspecto na conduta dos pro�ssionais que gerou essa condição
posterior ou não. O aneurisma é uma concausa superveniente à conduta do pro�ssional.
Ex. 2: Acidente de trânsito em que o próprio autor entra em contato com o órgão público pedindo socorro, este
não chega e a pessoa vem a óbito. Deve-se apreciar também a falta do atendimento por parte do Poder Público.
6. Teorias acerca do nexo causal ou da relação de causalidade
6.1. Teoria Generalizadora
A Teoria Generalizadora é denominada "Teoria da Equivalência das Causas ou dos Antecedentes", também
denominada de "Teoria de CondiçãoSine Qua Non", desenvolvida pelo alemão Von Buri, oriunda do Direito
Penal, mas aplicada na esfera cível.
De acordo com ela, todos os eventos que antecederam o resultado danoso são equivalentes.
Ex.: Acidente na Boate Kiss. São equivalentes: o proprietário do estabelecimento ter modi�cado as instalações
sem o aval do Poder Público; ausência de �scalização do Poder Público; ausência de plano de prevenção de
combate a incêndio etc.
É uma teoria que termina por alargar os aspectos vinculados ao caso concreto e não possibilitam ao magistrado
delimitar qual seria o fator determinante no caso concreto. Portanto, não é uma teoria adotada no Brasil.
6.2. Teorias Individualizadoras
6.2.1. Teoria da Causalidade Direta e Imediata (Pothier)
Desenvolvida por Pothier, na França, esta é a teoria adotada em nosso país, prevista no art. 403 do Código Civil:
Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os
prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto
na lei processual.
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O evento causador do dano é aquele que esteja de forma direta e imediata ligado ao resultado.
É uma teoria que recebe críticas, pois além do dano direto e imediato, há também os danos indiretos, também
denominado de dano por ricochete. Todavia, é a teoria que predomina em nosso país.
6.2.2. Teoria da Causa Próxima (Bacon)
Foi desenvolvida por Francis Bacon. Nem sempre se deve levar em consideração, como fator determinante do
resultado, aquilo que está mais próximo dele, sob o aspecto temporal.
No caso da Boate Kiss, tivemos, como algumas causas, a readequação do espaço e a falta de �scalização do Poder
Público. Se aplicássemos esta teoria, somente os proprietários do estabelecimento seriam punidos, porque a
reforma foi temporalmente mais próxima, e o Poder Público seria isentado – mesmo que tenha faltado o
exercício do poder de polícia necessário.
6.2.3. Teoria da Causa E�ciente (Von Birkmeyer)
Desenvolvida por Von Birkmeyer, assemelha-se à Teoria da Causalidade Direta e Imediata.
6.2.4. Teoria da Causalidade Adequada (Von Bar e Von Kries)
Desenvolvida por dois alemães, esta teoria também vem sendo aplicada no Brasil, principalmente quando se trata
dos danos indiretos. Ela apresenta uma formulação positiva e uma formulação negativa.
A formulação positiva diz respeito a observar qual seria a consequência normal que pode ser esperada de
determinada conduta. Ex.: Sujeito que dá a cassetada em outrem, espera-se uma lesão grave ou morte.
Já a formulação negativa, diz respeito a observar o que se espera do sujeito na sociedade. Ex.: Não se espera que o
sujeito agrida outrem. Qual a previsibilidade que este sujeito tem da conduta em face do seu semelhante? Pode
causar a morte do outro sujeito.
6.2.5. Teoria do Escopo da Norma Jurídica Violada (Rabel)
Teoria sem maior aplicabilidade. Não se pode, no campo da responsabilidade civil, �car adstrito tão somente à
norma. Muitas vezes, nem sequer há uma norma transgredida, mas temos princípios gerais do direito, a questão
do abuso do direito, do exercício regular do poder, da boa-fé etc.
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6.2.6. Teoria da Ação Humana (Soler)
Teoria sem maior aplicabilidade. É possível consequências negativas em decorrência da ação de um animal. Não
se pode a�rmar que os eventos danosos estarão sempre vinculados a uma conduta humana.
Ex.: Um veículo estacionado de forma adequada, mas, por um problema mecânico, causa um acidente.
6.2.7. Teoria do Equilíbrio (Biding)
Teoria similar à Teoria da Causalidade Direta e Imediata.
6.2.8. Teoria Last Clear Chance (perde du chance)
Teoria aplicada no Brasil. Muitas vezes, o dano, em si, não está visualizado de forma adequada, mas há um
obstáculo para que o sujeito tenha a possibilidade de galgar algo.
Ex.: Sujeito que não consegue chegar a outra cidade para realizar uma prova de concurso público em razão do
overbooking do avião.
7. Excludentes de causalidade
Há possibilidades de exclusão ou amenização da responsabilidade civil.
7.1. Culpa exclusiva da vítima
Ocorre quando a vítima é culpada exclusivamente, devendo o acionado provar que o lesado foi o próprio
responsável pela situação.
Ex.: O médico receita um medicamento ao paciente, que toma, ao invés de uma pílula, uma caixa completa.
7.2. Caso fortuito e força maior (art. 393)
Todo fato caracterizado como caso fortuito e força maior estão marcados pela necessariedade e pela
inevitabilidade.
Contudo, há doutrina que os distingue, dizendo que a força maior estaria marcada muito mais pela
irresistibilidade, sobretudo, com eventos da natureza, que seria difícil resistir ou se precaver. Quanto ao caso
fortuito, haveria a incidência da imprevisibilidade.
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Há também dois tipos de casos fortuitos: externo e interno. O caso fortuito externo é aquele que não havia
qualquer condição de se utilizar de qualquer meio para evitá-lo. Já o caso fortuito interno é algo que, apesar de
estar lidando com uma situação indesejada, poderia se utilizar dos cuidados necessários para que aquilo
acontecesse.
Ex.: Uma empresa que trabalha com fabricação de alimentos, tem a compreensão que a falta de energia pode
ocorrer. Se falta energia diante de uma tempestade, ela deverá ter mecanismos que mantenham a refrigeração
para conservação dos alimentos. Ex. 2: Hospital que mantém equipamentos de suporte de vida e falta energia.
7.3. Culpa exclusiva de terceiro
Um outro sujeito, que não vinculado diretamente à situação concreta, causou um resultado negativo.
Ex.: Um médico prescreve um medicamento para a vítima de forma adequada. Um enfermeiro administra o
medicamento de forma diversa.
Observação 1: É possível haver a culpa concorrente da vítima. Ex.: Uma pessoa é transportada na porta de um
ônibus e tem um acidente.
Observação 2: No direito do consumidor, o fornecedor pode provar que o produto não foi colocado no
mercado ou que não prestou o serviço, ou ainda, que o produto estava regular ou os serviços foram prestados de
maneira adequada – art. 12, § 3º; art. 14, § 3º.
Enunciado Sumular nº 187 do STF: Responsabilidade civil do transportador
Estabelece a sua responsabilidade de forma objetiva, mesmo que seja um fato gerado por terceiro.
(STF) Súmula 187: A responsabilidade contratual do transportador, pelo acidente com o
passageiro, não é elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva.
Ex.: Alguém está no transporte coletivo, alguém lança uma pedra. A responsabilidade será da empresa
transportadora e depois poderá propor uma ação regressiva contra quem lançou a pedra. Não identi�cando a
pessoa, pode propor uma ação contra o Poder Público, pois não �scalizou a atuação do sujeito que arremessou a
pedra (concausalidade alternativa).
Enunciado Sumular nº 479 do STJ: Caso fortuito interno nas instituições �nanceiras
Estabelece a responsabilidade civil objetiva das instituições �nanceiras por fraudes, não apenas no ambiente
virtual, mas também de forma física.
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(STJ) Súmula 479: As instituições �nanceiras respondem objetivamente pelos danos gerados por
fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações
bancárias.
ESPÉCIES DE DANOS E A NECESSÁRIA REPARAÇÃO
1. Aspectos gerais
O dano corresponde a uma lesão a interesses juridicamente protegidos.
Não se pode atrelar a responsabilidade civil apenas ao que se encontra previsto em lei. Os princípios gerais do
direito também enunciam regras diversas, mas se deve ter um cuidadoacerca dos valores e da necessidade de
construção no que concerne ao que se encontra no ordenamento jurídico. O Brasil não adota o sistema common
law, tendo regras escritas, mas, ainda assim, não iremos encontrar respostas para todas as questões na estrutura
jurídica vigente (normativa, doutrinária e jurisprudencial).
1.1. Dano injusto como dano indenizável
O dano evoluiu ao longo da história de modo gradual, sofrendo in�uências do direito romano, francês, italiano e
outros que nos in�uenciaram em termos de responsabilidade civil até chegar ao que é hoje.
José de Aguiar Dias, o papa da responsabilidade civil no Brasil, em 1977, na obra especí�ca sobre a reparação
civil, já falava da necessidade de analisarmos o dano não somente sob a ótica da ilicitude, mas também da
injustiça.
A�nal, muitas vezes não temos um ato considerado ilícito (legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal,
exercício regular de um direito), mas consequências advindas podem ensejar a necessidade de se buscar a
reparação, principalmente, para aqueles que não geraram essas situações. Há excessos que precisam ser punidos
sobre a ótica cível.
1.2. Certeza e atualidade: a perda da chance
Quanto à certeza, o dano precisa ser certo, ser delimitado.
Além disso, a conduta precisa ser exposta de acordo com a sua ocorrência de acordo com a conjuntura atual.
Contudo, é possível que o dano não ocorra de imediato, mas as consequências deletérias são detectadas mais
adiante.
Ex.: O trabalhador que vem suportando a carga laboral imposta pelo empregador e, em determinado momento,
pode apresentar fragilidades consequentes da situação.
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Já quanto à perda de uma chance, apesar de não estar positivado de forma expressa no Código Civil, tem-se a
possibilidade de questionar a sua ocorrência.
Os professores Rafael Pete� da Silva e Sérgio Savi aproveitam-se dos ensinamentos do doutrinador francês Henri
Lalou. Na França, surgiu a de�nição da perda de uma chance, que signi�ca uma lesão à possibilidade de o
indivíduo realizar determinada atividade (de ordem pessoal, pro�ssional, cultural, socioeconômica) e de,
eventualmente, obter resultados positivos.
Ex. 1: Sujeitos que não conseguem embarcar em voos e não conseguem cumprir um compromisso, de qualquer
ordem, e se sentem lesados. Ex. 2: O advogado que perde o prazo para realizar a defesa do cliente. Não se sabe se
o cliente teria êxito, mas quando o pro�ssional não cumpre o quanto estabelecido em sede contratual, ocorre o
impeditivo de o cliente ter acesso ao Poder Judiciário para ver satisfeito o seu direito.
2. Espécies de danos quanto ao seu conteúdo
Em nossa CF/88, art. 5º, os incisos V e X estabelecem o direito do sujeito ser devidamente protegido e obter a
reparação devida e necessária quanto aos danos materiais, morais e quanto à sua imagem.
No inciso X encontramos o elenco dos direitos da personalidade, que versam sobre a vida privada, intimidade,
honra, imagem, nome e outros.
Ocorre a con�guração dos danos, subdividindo-se em danos patrimoniais e imateriais.
2.1. Danos patrimoniais
São danos envolvendo bens, mas nem sempre estão vinculados apenas às coisas. Por exemplo, é possível haver
danos patrimoniais vinculados ao patrimônio biológico do sujeito (saúde).
Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor
abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.
Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os
prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto
na lei processual.
2.1.1. Prejuízos econômicos (danos emergentes)
Ex.: Um veículo choca com outro, tem-se uma avaria que será avaliada para reparação.
OBS.: A reparação é um conceito considerado amplo no bojo do qual se tem a indenização.
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Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.
Quando não se tem condições de fazer a reparação do bem ao status quo ante, busca a indenização.
Às vezes, é possível fazer a reparação do carro e voltar à situação anterior. Contudo, na seara ambiental, nem
sempre é possível recuperar os seres vivos e vegetais que tenham sido afetados e, quando não há condições de
recuperar o estado anterior, busca-se a recuperação por meio da pecúnia → indenização.
2.1.2. Lucros cessantes
Sob a ótica material, deve-se observar o que deixou a vítima de auferir diante do dano causado.
No Brasil, adota-se a Teoria da Diferença: antes de ser submetido à conduta lesiva, o que o sujeito conseguia receber?
O que deixou de receber em comparação com o histórico dele?
Ex.: O taxista que tem um acidente com seu veículo. O pro�ssional liberal que não consegue exercer suas
atividades laborais em razão do dano à sua saúde.
Assim, apresenta-se a diferença do que o sujeito recebia antes e do que passou a receber depois.
2.2. Danos extrapatrimoniais
2.2.1. Aspectos gerais
Aqui, encontramos aqueles que dizem respeito às ofensas sob o aspecto moral e estritamente considerado,
gerando angústia, humilhação, constrangimento no sujeito, tanto no aspecto interno/subjetivo, quanto no
aspecto externo/objetivo. Até porque, no ambiente informatizado, a depender do que esteja registrado, as
pessoas sentem ofensas.
Ainda, vamos encontrar aspectos que se vinculam à vida, privacidade, intimidade, nome, imagem, honra etc.
Com isso, surgem diversas discussões na doutrina sobre questões mais recentes, p. ex. o desvio produtivo do
consumidor, se seria uma nova categoria de dano ou não. Joseane entende que não, pois seria uma espécie de
dano moral.
Há quem defenda a existência de danos existenciais, mais uma categoria incorporada da doutrina estrangeira
(Itália). O Código Civil Italiano estabelecia que os danos materiais são reconhecidos, mas os extrapatrimoniais
devem estar previstos expressamente na legislação. Assim, a partir da Sentença 233/2003 da Itália, houve a
necessidade de fazer uma interpretação mais ampla sobre os danos morais, surgindo, então, a questão dos danos
existenciais. Joseane pontua que se trata de uma espécie de dano moral.
No que tange aos danos estéticos, estes foram conhecidos sobre a ótica doutrinária e jurisprudencial como algo
que afeta o patrimônio físico e psíquico do sujeito e também traz constrangimento e humilhação. Ressalte-se
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que, para que o dano estético seja caracterizado, ele não precisa estar visível para os demais. Ele pode também não
ser permanente.
Ainda, os danos imateriais não estão ligados necessariamente à compreensão do sujeito. É possível ter danos
imateriais a crianças pequenas, pessoas falecidas, sujeitos ausentes, sujeitos com problemas cognitivos etc.
2.2.2. Proteção da personalidade
Em 1897, Otto Von Birk já começava a discutir a necessidade de tutela da personalidade. Em Portugal, Capelo de
Sousa. Na Itália, em 1947, Adriano De Cupis
2.2.3. Danos em face da pessoa jurídica
A pessoa jurídica também pode sofrer danos extrapatrimoniais. No STJ, tem-se o Enunciado 37 (cumuláveis as
indenizações por danos materiais e morais), 387 (mescla de reparações voltadas para os danos materiais,
imateriais e estéticos).
➔ Enunciados importantes:
- Enunciado 192: Cumulação de danos materiais, morais e estéticos;
- Enunciado 454: Transmissão da reparação por danos morais por herança;
- Enunciado 456: A questão dos danos sociais, que são os danos morais difusos ou coletivos. Através da
propositura de ações pelos legitimados (previstos no art. 82, Lei 8.078/90 e Lei 7.347/85), por meio de
uma medida judicial coletiva, pode-se pedir indenização às vítimas do evento, mas se deve buscara
reparação diante do dano moral coletivo difuso ou social. Este valor não será revertido para as vítimas (elas
já terão sua indenização), sendo repassado para um fundo, que dependerá da situação concreta. Visa
atender a função dissuasória ou pedagógica da responsabilidade civil.
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em
juízo individualmente, ou a título coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de
natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de
fato;
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II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais,
de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou
com a parte contrária por uma relação jurídica base; [...]
3. Classi�cações do dano
3.1. Direto X Indireto
O dano direto é sofrido diretamente pelo sujeito.
Já no dano indireto ou por ricochete, os sujeitos afetados não são aqueles vinculados diretamente ao dano. Ex.:
Falecimento de um sujeito e seus herdeiros �cam desamparados.
3.2. Certo X Eventual
Os danos precisam ser certos, não se admitindo a eventualidade.
3.3. Atual X Futuro
Os danos podem ser atuais e visivelmente identi�cados.
Já os danos futuros não são observados imediatamente, mas podem trazer consequências adiante. Ex.: Césio 137,
que causou danos à saúde das pessoas que lá estavam com o passar do tempo.
3.4. Individual X Coletivo
Os danos individuais são causados a sujeitos individualmente, enquanto que os danos coletivos são tutelados por
processos coletivos e abarcam um conjunto de indivíduos acometidos pela mesma situação.
4. Reparação do dano
4.1. Considerações gerais
A reparação do dano não diz respeito apenas à responsabilidade civil aquiliana ou extracontratual, mas também à
responsabilidade civil contratual. Por isso, nos arts. 939 e seguintes, há regras a respeito da cobrança. No campo
concreto, observamos cobranças arbitrárias vinculadas à questão contratual. Se houver cobrança antes do
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vencimento da dívida, aquele que a executa deverá arcar com custas em dobro. De igual modo, a cobrança de
dívida já paga culmina na devolução dúplice além das perdas e danos. Ainda, não se deve cobrar a mais.
4.2. Indenização pelo inadimplemento da obrigação
4.2.1. Juros devidos
Os juros moratórios estão no art. 406. Quando não estão estabelecidos no contrato, podemos utilizar a regra
referente aos créditos da Fazenda Pública, no art. 161 do CTN (normalmente, 1% ao mês).
Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa
estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, serão �xados segundo a taxa que estiver
em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional.
Quanto aos juros reais ou remuneratórios, no Brasil, não há limites. O art. 192, § 3º, da CF foi submetido a uma
modi�cação e seu conteúdo que limitava os juros a 1% ao mês foi totalmente modi�cado.
Os Enunciados Sumulares 43, 54 e 362 do STJ tratam dessa questão:
SÚMULA 43 - Incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir da data do efetivo
prejuízo.
SÚMULA 54 - Os juros moratórios �uem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade
extracontratual.
SÚMULA 362 - A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data
do arbitramento.
4.2.2. Correção monetária
➔ Enunciados importantes:
- (STF) Enunciado 490: Utilização do salário mínimo como referência para �xação dos juros.
- (STJ) Enunciado 313: Constituição de um capital ou de uma caução �dejussória, como se fosse um a
poupança para que valores �quem guardados com o objetivo de que a vítima efetivamente receba-os.
- Enunciados 46, 380 e 457: Caráter excepcional da redução da indenização, pois a regra é da reparação
total dos prejuízos sofridos.
- Enunciado 458: No momento de �xar a indenização, deve-se observar a conduta da vítima, o grau de
culpa do ofensor e dano. A conduta concorrente da vítima ajudou a chegar no resultado? Houve
participação de terceiro?
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5. Indenização em caso de homicídio
Começamos o problema da reparação com a morte da vítima, porque é possível que ela venha a acontecer.
Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações:
I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família;
II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração
provável da vida da vítima.
5.1. Despesas com o tratamento da vítima
Os tratamentos da pessoa (internação, procedimentos etc.) devem ser pagos pelo agente causador.
5.2. Gastos com o f uneral e o luto da família
O agente causador deve pagar pelo funeral e pelo luto da família, tais como despesas com hospedagem, com
transporte (parentes que moram longe), com a condição psicológica das pessoas.
5.3. Prestação de alimentos (art. 948, I e II, CC)
Com isso, surgem diversos questionamentos sobre até quando pagar.
O Enunciado 491 do STF diz que, ainda que tenha sido uma criança que tenha sua vida ceifada, os seus
ascendentes terão direito à indenização. Mesmo que a criança não trabalhasse, um dia ela trabalharia e a regra
adotada é de que se tem uma média entre 65 e 70 anos e que 2% dos valores auferidos por esse sujeito na
condição de trabalhador poderiam ser revertidos para a família.
E se fosse um sujeito que não trabalhasse? Ainda assim, haveria indenização, porque não obstante as di�culdades
laborais desse sujeito, ainda é uma vida que foi eliminada.
➔ Enunciados importantes:
- (STF) Enunciado 491: Morte de �lho menor que não exerça trabalho. Sobre esse assunto, a posição
ainda é variada no STJ.
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- (CJF) Enunciado 560: Dano ricochete e as hipóteses do art. 948/CC. Versa sobre as pessoas da família
que são lesadas indiretamente e têm direito à indenização.
6. Lesão ou ofensa à saúde
O agressor deverá arcar com o tratamento da vítima, com o que esta pessoa deixa de auferir em razão da situação
e outros prejuízos sofridos:
Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das despesas
do tratamento e dos lucros cessantes até ao �m da convalescença, além de algum outro prejuízo que
o ofendido prove haver sofrido.
6.1. Tratamento da vítima
6.2. Lucros cessantes
6.3. Outros prejuízos sofridos
➔ OBS.: Defeitos incapacitantes para o trabalho ou ofício
Pagamento da indenização em parcela única (art. 950/CC e Enunciados 48 e 341 CJF)
Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou
pro�ssão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas do
tratamento e lucros cessantes até ao �m da convalescença, incluirá pensão correspondente à
importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu.
Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja arbitrada e paga
de uma só vez.
Enunciado 48: O parágrafo único do art. 950 do novo Código Civil institui direito potestativo do
lesado para exigir pagamento da indenização de uma só vez, mediante arbitramento do valor pelo
juiz, atendidos os arts. 944 e 945 e a possibilidade econômica do ofensor.
Enunciado 341: Para os �ns do art. 1.696, a relação socioafetiva pode ser elementogerador de
obrigação alimentar.
7. Usurpação e esbulho
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É a tomada de um bem da propriedade de outrem de forma indevida.
(CJF) Enunciado 561 – No caso do art. 952 do Código Civil, se a coisa faltar, dever-se-á, além de
reembolsar o seu equivalente ao prejudicado, indenizar também os lucros cessantes.
Ex.: Um computador usado para o trabalho que é retirado de forma ilícita e abrupta. Deve-se apurar os lucros
cessantes e os danos emergentes causados ao bem, além dos aspectos de danos morais.
8. Crimes contra a honra
O nosso Código Civil abarca as situações de calúnia, difamação e injúria (arts. 138, 139 e 140 do Código Penal).
9. Indenização por ofensa à liberdade pessoal
9.1. Cárcere privado
Pessoas que �cam retidas em sua residência, porque têm doenças psíquicas, ou em relações familiares (violência
doméstica). O cárcere privado enseja reparação no âmbito cível.
9.2. Prisão por queixa ou denúncia falsa e de má-fé
A prisão por queixa ou denúncia falsa e de má-fé também enseja reparação. Ressalte-se a importância do MP ter
uma postura cuidadosa quanto ao início da persecutio criminis do processo penal.
9.3. Prisão ilegal
A prisão ilegal também enseja a reperação na esfera cível.
10. Causas de redução da indenização
10.1. Culpa concorrente da vítima (causalidade concorrente)
Deve ser observada a conduta da vítima, pois pode ter contribuído para o resultado por meio da culpa
concorrente:
Enunciado 459: A conduta da vítima pode ser fator atenuante do nexo de causalidade na
responsabilidade civil objetiva.
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10.2. Desproporção entre dano e culpa
Carlos Roberto Gonçalves menciona o seguinte exemplo: uma pessoa andando de bicicleta se esbarra em um
carro caro. Há um prejuízo para o proprietário do carro, mas, ao �xar a indenização, deve-se veri�car o dano e a
culpa, pois a responsabilidade não é objetiva, mas subjetiva do ciclista.
Assim, quando o sujeito age de forma descuidada, o contexto de sua conduta pode gerar uma apreciação quanto
à delimitação do valor a ser indenizado.
Art. 944. Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano,
poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização.
10.3. Limitação ou exclusão do dever de indenizar por cláusula contratual (dever de não
indenizar)
Essa cláusula de limitação ou exclusão do dever de indenizar é passível de utilização no direito empresarial ou no
direito civil. Contudo, não se admite em situações envolvendo proteção ao consumidor e ao trabalhador.
11. Pagamento da indenização
11.1. Devedor solvente
É o sujeito que tem condições de realizar o pagamento com tranquilidade.
11.2. Devedor insolvente (art. 955 a 965)
Muitas vezes, o agente causador do dano impõe óbices à efetivação do pagamento da indenização.
Há possibilidade de predominância em relação a créditos que deverão ser pagos em primeiro plano, havendo os
chamados privilégios e preferências.
Assim, deve-se veri�car qual é o contexto de outros sujeitos credores perante esse devedor insolvente. Havendo
créditos envolvendo direitos reais (ex.: hipoteca, penhor, anticrese), estes terão prioridade.
Ainda, há os privilégios, que podem ser especiais ou gerais. Predominam os privilégios especiais. Depois segue-se
a ordem dos privilégios gerais.
Os especiais são estabelecidos com base em determinados bens, estabelecidos no art. 964. Ex.: Valores vinculados
a alguém que tenha disponibilizado ao devedor sementes, o valor decorrente da plantação será direcionado ao
credor que ofereceu as sementes de maneira prioritária (privilégio especial).
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Quanto aos privilégios gerais, estão no art. 965.
Então, a ordem de pagamento a ser seguida é:
● Direito real;
● Privilégio especial (art. 964);
● Privilégio geral (art. 965).
RESPONSABILIDADE CIVIL EM ESPÉCIE -----___________________---
RESPONSABILIDADE CIVIL NA ÁREA CONSUMERISTA
1. Teoria da qualidade dos produtos e dos serviços
1.1. Aspectos introdutórios
A teoria �nalista aprofundada do STJ admite a aplicação do CDC para casos em que, diante da fragilidade
econômica da pessoa física ou jurídica, ela adquire um bem para depois revendê-lo. Por exemplo, uma
companhia agrícola que compra insumos não seria destinatária �nal, mas diante da fragilidade �nanceira, ela
poderia ser consumidora por essa teoria.
2. Produtos ou serviços que pressupõem riscos
Não se deve colocar no mercado produtos que envolvam risco, com o intuito de preservar e proteger a saúde do
consumidor. Contudo, há itens que por si próprios possuem um risco presumido, e não temos como inviabilizar
a inserção desse item no mercado.
Uma motoserra, por exemplo, tem uma alta periculosidade, mas é necessário para determinadas áreas. O dever do
fornecedor, nesse caso, é o de fornecer informações detalhadas. É necessário especi�car os itens que compõem o
produto, como higienizar. Por ser um dever quali�cado, é necessário detalhar diversos aspectos.
3. Atuação do Poder Público
Não se pode aguardar que os fornecedores cumpram essas regras por si só sem que haja qualquer �scalização.
Observando-se impropriedades, o Poder Público deve atuar frente ao fornecedor. É o que se denomina de
sistema de chamamento ou recall. O art. 10 do CDC fala sobre o sistema de chamamento, que não se restringe
aos veículos, mas todo e qualquer produto colocado no mercado. Caso o fornecedor não o faça, precisamos de
uma conduta ativa do Poder Público, através dos órgãos de defesa do consumidor, MP, no sentido de corrigir
eventuais vícios ou equívocos que estejam prejudicando o produto.
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São três documentos principais. Não é a empresa que escolhe a divulgação, mas é necessário apresentar um plano
de chamamento perante órgão de defesa do consumidor. É necessário também ter um plano de atendimento ao
consumidor. Além disso, é necessário fazer um relatório para o Poder Público, demonstrando quantos foram
atendidos e solucionados.
4. Proibição da colocação de produto ou serviço perigosos ou nocivos
A periculosidade pode ser caracterizada em três vertentes: inerente (motosserra, produtos químicos, remédios de
tarja preta), exagerada (brinquedos muito pequenos que não deveriam estar disponíveis para aquela idade de
bebês) e a adquirida (vai exigir o recall, porque o bem já está no mercado e precisa ser reestruturado).
5. Instituto do recall
A formalização não é verbal, mas tem que ser escrita atendendo a pressupostos e requisitos mencionados
anteriormente.
6. Vícios redibitórios X Vícios constantes no CDC
Encontram-se no CC e CDC. Os vícios redibitórios não se aplicam ao Direito do Consumidor. É preciso que
tenhamos a habilidade para separar o que é relação de consumo ou não.
Vícios redibitórios dizem respeito à impropriedade com relação a bens, mas não se confundem com os vícios
consumeristas. Os prazos são completamente distintos. O prazo do CDC, art. 26, dá 30 dias para produtos não
duráveis e 90 para produtos duráveis.
O que são produtos não duráveis? São aqueles que se esvaem com o uso, como os alimentos. Os demais teremos 90
dias para nos resignarmos.
Se nós temos um vício facilmente detectável, como quando compro uma água com inseto, conta-se o prazo a
partir daquele prazo. Tratando-se de vício oculto, contaremos o prazo de 30 ou 90 dias a partir do momento que
eles emergem. Porém, quando se tratar de vício oculto, é preciso também levar em conta a vida útil do bem. Se eu
compro um carro e daqui a 10 anos surge um ferrugem, não há vício oculto, pois se trata de desgaste natural.
O que seria a vida

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