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MEDIDAS DE FREQUÊNCIA A epidemiologia é frequentemente utilizada para descrever o estado de saúde de grupos populacionais. O conhecimento da carga de doenças que subsiste na população é essencial para as autoridades em saúde, respondendo a perguntas como: O que produz doenças? O que provoca óbitos? O que se pode evitar com prevenção? Promoção? Conhecer os fatores é fundamental para se estabelecerem políticas públicas (nortearem ações no sistema de saúde) para melhorarem os índices de qualidade de vida, pois estes podem ser utilizados como indicativos de saúde. Ou seja, é importante saber a ocorrência de doenças, quais são e qual é a distribuição, por quais fatores ocorrem. Sendo assim, podem ser melhor formuladas as políticas públicas para direcionamento de ações que elevem a qualidade de vida. Esse conhecimento permite melhor utilização de recursos através da identificação de programas curativos e preventivos prioritários à população. Em algumas áreas especializadas, tais como na epidemiologia ocupacional (amianto ou asbesto e sílica, agrotóxicos, voltadas à profissão, ambiências do trabalho) e ambiental (ar, alimento, clima, espaço urbano, implicações e ambiências que trazem à saúde perigos, por exemplo naqueles que consomem e manipulam), a ênfase está no estudo de populações com exposições muito particulares. Sobre as doenças, é importante considerar que elas estão distribuídas em aspectos como lugar (cidade, região, estado, país, planeta), tempo (frequências diferentes, estações, décadas, anos) e pessoa (sexo, etnia, condição corporal, grupos populacionais, idade, buscando identificar subgrupos mais vulneráveis). Exemplo: Se por um lado o confinamento realizado para conter a pandemia do novo coronavírus ajudou a evitar maior propagação da covid-19 no Brasil, por outro, trouxe como consequência o aumento da violência doméstica. A alta do feminicídio comprova que essa pode ser considerada como mais uma grave sequela da quarentena para o País. No entanto, o perigo nem sempre assume faces perceptíveis, como a agressão física ou o assassinato de mulheres. “Violências invisíveis” se intensificam nesse período e abrem precedentes para a subnotificação dos casos. Diversas medidas são utilizadas para caracterizar a saúde das populações. É frequente que se produzam informações sobre doenças e agravos, usando indicadores de ocorrência de doença e/ou morte, ou seja, de ausência de saúde, para a análise da situação sanitária de uma população. Há dados e informações sobre morbidade e mortalidade divulgados eletronicamente e na forma impressa pelos órgãos de governo e organizações sociais que atuam na área da saúde, embora alguns sejam parciais e contenham imprecisões, sendo grande desafio para interpretação dos epidemiologistas. Medidas de Frequência As medidas de frequência são definidas fundamentalmente por dois conceitos – a incidência e a prevalência – e podem ser expressas como frequências absolutas ou relativas, sendo as últimas mais comuns (mesmo em estudos descritivos) por possibilitarem a comparação entre populações distintas. Frequência Absoluta Número total (de casos, de elementos...), representa a forma mais simples de expressar um resultado; bastante utilizada pela imprensa leiga; limitação: não permite um maior conhecimento da situação. Exemplo: em Porto Alegre foram registrados 5 casos de tuberculose durante o ano de 1996. Frequência Relativa Quociente entre a frequência absoluta e o número total; facilita comparações e a interpretação dos resultados; os resultados podem ser expressos de três maneiras: “coeficiente” ou “taxa”; “proporção” e “razão”. O n representa a frequência absoluta, o número de pessoas que apresenta as características segundo as categorias das variáveis (o que acaba por não permitir muitas comparações). Já a % representa a frequência relativa, o número de pessoas em relação ao total que apresenta as características (há um melhor entendimento das comparações). Por exemplo, ao se comparar o número de casos de uma doença em duas regiões diferentes, no mesmo intervalo de tempo, não é possível inferir qual está em estado de maior calamidade. O motivo é que não houve dados relativos ao total da população presente em cada região. A distribuição das doenças pode ser medida em taxa ou coeficiente ou em proporção. A taxa ou coeficiente mostra com que rapidez a doença está ocorrendo na população. As proporções mostram qual fração da população é afetada. *Proporção* • É uma fração na qual o numerador está contido no denominador. Refere-se a uma fração da população que está afetada pelo evento. Pode ser expressa na forma decimal, fração ou percentual. Por exemplo, temos a proporção de cura da tuberculose. Exemplo: proporção de cura de tuberculose. Método de cálculo. Numerador: número de casos de tuberculose encerrados por cura por data de diagnóstico. Denominador: número de casos de tuberculose notificados por data de diagnóstico X 100. *Coeficiente ou taxa* • São as medidas básicas da ocorrência das doenças em uma determinada população e período, indica como a doença está ocorrendo na população. Para o cálculo considera-se que o número de casos está relacionado ao tamanho da população que lhes deu origem. O numerador refere-se ao número de casos detectados que se quer estudar (por exemplo: mortes, doenças, fatores de risco etc.), e o denominador refere-se a toda população capaz de sofrer aquele evento - é a chamada população em risco. A taxa tem três componentes básicos: • um numerador, que corresponde ao número de indivíduos que experimentam o evento de interesse (por exemplo, óbito, doença, nascimento, internação hospitalar); • um denominador, que corresponde ao número total de indivíduos na população de expostos ou em risco de apresentar o evento; e, • um período de tempo específico, durante o qual foi observada a frequência do evento de interesse e a população que ficou exposta efetivamente. Exemplos: taxa de incidência e taxa de prevalência. O numerador contém o número de sujeitos que sofreram algum tipo de evento (desfecho, doença) em determinado período. O denominador, por sua vez, representa o total do grupo de referência (usualmente uma população em risco), dentro da qual os desfechos podem ou não ocorrer, no mesmo período. Há, por fim, uma multiplicação por uma constante (múltiplos de 10, que podem ser 100, porcentagem, 1000, 10000). *Razão* • Uma medida matemática básica. Divisão entre duas quantidades. O numerador não está contido no denominador. Exemplo: razão de mortalidade materna. N° de óbitos de mulheres residentes, por causas e condições tidas como morte materna. Número de nascidos vivos de mães residentes. Essa operação deve ser, em seguida, multiplicada por uma constante 100.000. *Incidência* É a frequência de casos novos de uma determinada doença, ou problema de saúde, oriundos de uma população sob risco de adoecimento, ao longo de um determinado período de tempo. Casos novos por um determinado período sobre uma população total. Medida “dinâmica”, pois se refere à mudança de estado de saúde da população, sempre oscilando, variando. A incidência pode ser: Absoluta: Ex.: Entre 1980 e 2003 foram notificados 317.000 casos de Aids Brasil. Relativa: Ex.: A taxa de incidência de dengue no estado do RJ, em 2008, foi de 1242 casos por 100.000 mil habitantes (aqui se nota o uso da constante). A Incidência pode ser uma taxa de incidência ou incidência cumulativa ou acumulada. *Taxa de Incidência (densidade de incidência = taxa de incidência por pessoa - tempo) É a razão entre o número de casos novos de uma doença e a soma dos períodos durante os quais cada indivíduo componente da população esteve exposto ao risco de adoecer e foi observado (quantidade de pessoa-tempo de exposição). O que é pessoa-tempo (PT)? Refere-se ao período durante o qualo indivíduo esteve exposto ao risco de adoecer e, caso viesse a adoecer, seria considerado um caso novo ou incidente. Densidade de incidência = n° de casos novos de uma doença ocorrentes em determinada comunidade em certo período de tempo. N° de pessoas-tempo de exposição ao risco de adquirir a doença no referido período. TI= 4 casos/95,5 pessoa-ano = 0,04 casos por pessoa-ano ou 4 casos por 100 pessoas- ano. Caso: Uma pequena população rural, inicialmente, com 200 habitantes foi seguida durante dois anos para detecção de novos casos de dengue. Na metade do período, 50 novos habitantes passaram a viver na localidade, enquanto 30 migraram para outras regiões. Portanto: - 170 ficaram durante 2 anos - 30 ficaram durante 1 ano - 50 ficaram durante 1 ano Do total de participantes do estudo, 250 pessoas, 30 desenvolveram dengue até o final do período de seguimento. Assim, aplicando a fórmula, temos: - 170 x 2 anos = 340 pessoas-ano - 30 x 1 ano = 30 pessoas-ano - 50 x 1 ano = 50 pessoas-ano Total de pessoas-ano = 420 pessoas-ano 30 casos/420 pessoas-ano x 100 = 7,1 casos para cada 100 pessoas-ano Interpretação: A cada ano, para cada grupo de 100 habitantes, aproximadamente, 7 desenvolveram dengue. *Incidência acumulada ou cumulativa (proporção de incidência = risco) * • É uma proporção que representa uma estimativa do risco de desenvolvimento de uma doença ou agravo em uma população, durante um intervalo de tempo determinado. Incidência Acumulada (t0, t) = I/N0 x K. Onde: I é o número de casos novos no período t0 e t; N0 é o número de indivíduos sob risco no início do período (t0). Exemplo: Do total de 482 mulheres usuárias de contraceptivos orais, 27 desenvolveram bacteriúria entre 1973 e 1976. Isto resulta em uma incidência acumulada de bacteriúria de: 27/482 = 0,056 (valor entre 0 e 1). Multiplicando-se este valor por 100, temos 5,6%. Interpretação: De cada 100 mulheres usuárias de contraceptivos orais, aproximadamente, 6 foram diagnosticadas com bacteriúria. *Taxa de ataque* Na investigação de surtos e epidemias, logo no momento da eclosão e durante a sua evolução, a incidência recebe a denominação de taxa de ataque. Este deve ser entendido como uma taxa de incidência referida a uma população específica ou a um grupo bem definido de pessoas, limitado a um período de tempo de dias ou semanas e localizadas em uma área restrita. Tanto na taxa de ataque primário, quanto na taxa de ataque secundário, o tempo não entra como componente da fórmula. Para uma população definida (população sob risco), durante um intervalo de tempo limitado, podemos calcular a taxa de ataque da seguinte forma: (TA) = (número de casos novos de doença em uma população durante um determinado período de tempo) / (população sob risco no início do período). A taxa de ataque secundária (TAS), por sua vez, refere-se à medida de frequência de casos novos de uma doença entre contatos de casos conhecidos. Essa taxa é frequentemente calculada para contatos domiciliares. Pode ser calculada: (TAS) = (número de casos entre contatos de casos primários durante um intervalo de tempo) / (número total de contatos). Exemplo: Em uma fábrica com 200 trabalhadores do setor siderúrgico, no mês de abril de 2017, 20 tiveram uma infecção intestinal causada por rotavírus (casos primários). Os 20 trabalhadores infectados tiveram contato com outras 100 pessoas, entre amigos, conhecidos e parentes. Dessas 100 pessoas, 5 também foram infectadas com rotavírus (casos secundários). Calcule a taxa de ataque primária e secundária. Taxa de ataque primária foi de 20/200 x 100 = 10%, ou seja, de cada 100 trabalhadores, 10 contraíram a doença. A taxa de ataque secundária foi de 5/100 x 100 = 5%, ou seja, de cada 100 contatos dos casos primários, 5 desenvolveram a doença. *Letalidade* Mede a severidade de uma doença e é definida como a proporção de mortes dentre aqueles doentes por uma causa específica em um certo período de tempo. LETALIDADE (%) = número de mortes por determinada doença no período x 100 Número de casos da doença no período *Prevalência* • É definida como a frequência de casos existentes de uma determinada doença, em uma determinada população e em um dado momento. Somam-se os números de casos novos aos antigos (número de casos totais). • A prevalência possibilita realizar comparações e análises do quadro sanitário de diferentes populações. Prevalência = n° de casos conhecidos de uma dada doença x 10^n População Exemplo: em 31 de julho de um dado ano eram conhecidos 30 casos de determinada doença transmissível. No decorrer do mês de agosto, este contingente, por motivos diversos, sofreu baixa em cinco dos casos antigos e acréscimo de 10 casos novos diagnosticados. A prevalência dessa doença no último dia do mês será de ... 35 casos. A variação da frequência de pessoas doentes depende, por um lado, do número daqueles que são excluídos do contingente – curas, óbitos e doentes emigrados - e, por outro lado, do quantitativo dos que são aí incorporados, que inclui os casos novos eclodidos na comunidade e os imigrantes já doentes que aí chegam. *Tipos de Prevalência* Prevalência no ponto ou pontual – número de casos na população em um momento do tempo excluídos os óbitos, os que curaram e os que emigraram. Prevalência no período – soma dos casos pré-existentes em um determinado momento com os casos novos ocorridos no período considerado. Trata-se, portanto, da soma da prevalência de ponto com a incidência. Casos de Tuberculose na cidade X em 1o de Janeiro de 2006 = 90 casos • Ao longo de 2006 = 70 casos novos, 75 curas e 5 óbitos por TB • Casos de Tuberculose na cidade X em 31 de Dezembro de 2006 = ??? Considerando apenas a frequência absoluta: Prevalência pontual em 1o Janeiro = 90 casos. Prevalência pontual em 31 Dezembro = 80 casos. Prevalência no período no ano de 2006 = 160 casos (90 antigos + 70 novos) FATORES QUE INFLUEM NA MAGNITUDE DAS TAXAS DE PREVALÊNCIA Fatores que aumentam: introdução de fatores que prolongam a vida dos pacientes sem curá-los. Exemplo: introdução de terapêutica mais eficaz que, no entanto, na cura a doença, levando-a à cronicidade. Além disso, há aumento da incidência, aprimoramento das técnicas de diagnóstico e correntes migratórias originárias de áreas que apresentam níveis endêmicos mais elevados. Fatores que diminuem: introdução de fatores que diminuam a vida dos pacientes; taxa elevada de letalidade da doença; diminuição da incidência; introdução de fatores que permitam o aumento da produção de curas de uma nova doença (por exemplo, introdução de nova terapêutica que permita a cura dos pacientes) e correntes migratórias originárias de áreas que apresentam níveis endêmicos mais baixos. Incidência e Prevalência (diferença): A incidência (dinâmica) reflete a dinâmica com que os casos aparecem no grupo. Ex: informa quantos entre os sadios se tornaram doente, como casos novos de sarampo durante o ano. A prevalência (estática) informa o número de indivíduos que não alteraram seu estado + os novos casos, como casos de sarampo hoje. A incidência traduz a intensidade com que os casos novos surgiam na população e a prevalência expressa o total de indivíduos doentes em um determinado período do tempo. O nível de prevalência em um dado momento resulta do “equilíbrio” entre a taxa de incidência, que força a prevalência para mais, e a “velocidade” de defecção (casos que “saem” da população), que o força para menos. Três situações distintas: • A incidência e a “velocidade” de defecção são iguais ou têm valores próximos, com oscilação em torno de um valor médio; neste caso o nível de prevalência permanecerá constante. • A “velocidade” de defecção é maior do que a incidência,fazendo com que o coeficiente de prevalência tenda a diminuir. • Incidência maior que a “velocidade” de defecção faz com que a prevalência tenda a valores altos. A duração da doença (D) também influencia nessa dinâmica e, em termos gerais, pode- se afirmar que em situação de equilíbrio, a prevalência (P) é o produto da incidência (I) pela duração da doença (P=IxD). Essa dinâmica entre incidência, prevalência e duração da doença tem importantes implicações para o controle de doenças na população. Por exemplo, em se tratando de uma doença crônica, a prevalência, com o decorrer do tempo, tende a aumentar cada vez mais. A situação descrita é típica das doenças agudas ou de curta duração e com variações na incidência e na duração média podem representar algumas condições: as doenças que têm baixa incidência e alta letalidade; as que têm baixo valor de incidência e alta taxa de cura; as de natureza epidêmica com alta letalidade (febre amarela); e doenças epidêmicas com alta taxa de cura (gripe). A figura ao lado representa as doenças endêmicas de baixa letalidade ou de baixo índice de cura, com altos ou baixos coeficientes de incidência, como a AIDS, a tuberculose e a hanseníase, que têm evolução crônica. Na figura abaixo, na década de 1990, a prevalência da hanseníase sofre uma intensa queda. Entretanto, a incidência (chamada taxa de detecção, em hanseníase, por se tratar de doença crônica quando o momento do diagnóstico provavelmente difere do início da doença) apresentou uma tendência crescente para o período. Nesta figura, pode haver a explicação de mais casos detectados (por conta de mais exames), além de um maior número de políticas públicas para tratamento de hanseníase. Ou seja, por mais que a incidência tenha aumentado pelos exames, a prevalência diminuiu pelos tratamentos. SURTO Acontece quando há um aumento inesperado do número de casos de determinada doença em uma região específica. Em algumas cidades, a dengue, por exemplo, é tratada como um surto e não como uma epidemia, pois acontece em regiões específicas (como um bairro). EPIDEMIA Uma epidemia irá acontecer quando existir a ocorrência de surtos em várias regiões. A epidemia em nível municipal é aquela que ocorre quando diversos bairros apresentam certa doença, em nível estadual ocorre quando diversas cidades registram casos e em nível nacional, quando a doença ocorre em diferentes regiões do país. Exemplo: Em fevereiro deste ano, vinte cidades haviam decretado epidemia de dengue. ENDEMIA A endemia não está relacionada a uma questão quantitativa. É uma doença que se manifesta com frequência e somente em determinada região, de causa local. A Febre Amarela, por exemplo, é considerada uma doença endêmica da região norte do Brasil. PANDEMIA A pandemia, em uma escala de gravidade, é o pior dos cenários. Ela acontece quando uma epidemia se estende a níveis mundiais, ou seja, se espalha por diversas regiões do planeta. Em 2009, a gripe A (ou gripe suína) passou de uma epidemia para uma pandemia quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) começou a registrar casos nos seis continentes do mundo. E em 11 de março de 2020 o COVID19 também passou de epidemia para uma.
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