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Júlia Figueirêdo – PINESC IV SAÚDE DA MULHER: CÂNCER DE MAMA: ASPECTOS SOBRE A MAMA FEMININA: A mama feminina é formada por um conjunto de glândulas apoiado na parede torácica, sendo envolto por fáscia e recoberto pela pele, esse agrupamento se estende até a região da axila (prolongamento axilar). No centro da mama encontra-se a aréola, região cutânea modificada de onde emerge a papila, constituindo assim o complexo areolopapilar. O corpo glandular é formado por dois sistemas, o ductal, composto por ductos que iniciam na papila e possuem várias ramificações, e o sistema lobular, composto por lóbulos, localizados nas extremidades das ramificações ductais. Os lóbulos são responsáveis pela formação de leite, que é transportado por meio dos ductos até sua exteriorização na papila. Ambos os sistemas são sustentados por tecido conjuntivo e gordura, por onde passam nervos, vasos sanguíneos e linfáticos. A drenagem da linfa é encaminhada principalmente para os linfonodos das cadeias axilar e mamária interna. O assoalho muscular é composto principalmente pelos músculos peitoral maior, peitoral menor e serrátil anterior, que se relacionam com a face profunda da mama, isolando-a do gradil costal. Para facilitar o exame clínico, é possível dividir as mamas em quadrantes superiores, inferiores, laterais e mediais, organização que permite a descrição acurada de possíveis achados durante a execução de exames de imagem ou do exame de palpação das mamas. As mamas normalmente não apresentam o mesmo tamanho, havendo uma pequena assimetria entre elas. O formato dessas estruturas é variável, dependendo intrinsecamente da idade da mulher, do período do ciclo menstrual no qual se encontra, da presença de obesidade ou da lactação ou gestação em curso. O CÂNCER DE MAMA: O câncer de mama é o produto da proliferação descontrolada de células anormais que se desenvolvem devido a alterações genéticas, que podem ser hereditárias ou adquiridas pela exposição a algum agente nocivo. Essas mudanças podem provocar distúrbios no mecanismo de replicação ou apoptose celular, formando assim um tumor. Essa entidade representa um problema de saúde pública, englobando um conjunto de doenças com manifestações variadas, evidentes nos diversos achados no exame clínico, na “assinatura genética” celular e na Júlia Figueirêdo – PINESC IV morfologia dessa tumoração, o que implica em múltiplas respostas terapêuticas. A carcinogênese é um evento lento, que pode se estender por anos até que uma massa minimamente palpável seja formada, apresentando os seguintes estágios: iniciação (momento da interação entre os genes e os fatores cancerígenos), promoção (ação de agentes oncopromotores em células já alteradas), e progressão (etapa de multiplicação exacerbada das células). As lesões precursoras do carcinoma mamário como a hiperplasia ductal atípica, a neoplasia lobular e carcinoma ductal in situ apresentam alterações genéticas comuns aos carcinomas. As neoplasias lobulares são lesões não invasivas, localizadas ou extensas, que comprometem a unidade lobular e podem disseminar-se para os ductos, tendendo a ser bilaterais e multicêntricas. O carcinoma ductal in situ representa uma proliferação epitelial neoplásica na porção interna dessas estruturas, não se expandindo para além da membrana basal. Podem ser classificados como de baixo e alto grau (referindo-se à agressividade da lesão), de acordo com o volume nuclear, a distribuição da cromatina e as características dos nucléolos. O carcinoma invasivo de mama, por sua vez, é formado por um conjunto de tumores epiteliais que atravessam a membrana basal dos ductos terminais de forma a invadir o estroma, a partir de onde apresenta intenso poder metastático. O tipo mais prevalente dessa forma de tumoração é o carcinoma ductal infiltrante, que pode apresentar prognóstico positivo (ex.: estruturas medulares, tubulares e mucinosas). Algumas outras neoplasias mais agressivas, como linfomas, sarcomas e mielomas, também podem aparecer no tecido mamário, mesmo que raramente. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o câncer de mama é a neoplasia de maior incidência e mortalidade em mulheres, correspondendo também à 5ª causa de morte dentre todos os tipos de câncer. No Brasil à exceção dos tumores de pele não- melanoma, o CA de mama é também o mais incidente em pessoas do sexo feminino (49 casos a cada cem mil pessoas), menos na direção Norte, na qual o câncer de colo de útero atinge a primeira colocação. Na distribuição proporcional do total de mortes por câncer no período de 2005 a 2009, os óbitos por câncer de mama ocupam o primeiro lugar no País, com 15,7%. O sudeste conta com a maior taxa de mortalidade proporcional, com 17%, ao passo que o nordeste apresenta índice de 14,4%. Nota-se que tanto a incidência quanto a mortalidade pelo carcinoma de mama aumentam com a idade. Júlia Figueirêdo – PINESC IV HISTÓRIA NATURAL DO CARCINOMA DE MAMA: O câncer de mama apresenta, em sua história natural, uma fase pré-clínica, que se estende desde o aparecimento de uma célula maligna até o desenvolvimento do tumor identificável, e fase clínica, deflagrada a partir de então. A sequência de eventos primários do desenvolvimento de um carcinoma de mama ainda é incerta. Inicialmente, supunha-se que essas tumorações se iniciavam como massas ductais in situ, respeitando as delimitações da membrana basal até o ponto de desenvolvimento de formas infiltrativas ou invasoras. Atualmente, no entanto, se acredita que nem toda lesão tenha que passar por uma fase inicialmente ductal, podendo tanto manter-se fixa à mama por um período de tempo como também disseminar-se por meio de vasos linfáticos ou sanguíneos, sendo os primeiros os principais responsáveis pela permeabilidade de células anômalas em direção ao linfonodo sentinela. Essa estrutura então se torna um segundo foco de propagação celular, que irá estender seu percurso rumo às cadeias de drenagem axilar. Graças a essa capacidade de movimentação por fluidos linfáticos e hematológicos, é possível observar a formação de implantes tumorais metastáticos ao longo do organismo, principalmente nos ossos, pulmões/pleura e fígado. Geralmente o câncer da mama cresce lentamente, porém eventualmente apresenta crescimento rápido e maior possibilidade de disseminação. Esse comportamento heterogêneo está relacionado a características próprias do tumor, tais como grau de diferenciação histológica e presença de receptores moleculares, que determinam sua velocidade de crescimento e potencial de originar metástases, podendo ainda ser influenciado por outros fatores, como a exposição a estímulos hormonais, resposta imune e estado nutricional. FATORES DE RISCO: Os fatores que mais favorecem o desenvolvimento do câncer de mama são: Idade: cerca de 80% desses carcinomas são identificados em mulheres com mais de 50 anos; Aspectos endócrinos: a exposição estrogênica (seja ela de origem endógena ou exógena) aumenta o risco para o desenvolvimento de tumorações de forma proporcional ao tempo de apresentação ao estímulo. Nesse grupo destacam-se as mulheres com menarca precoce (antes dos 12 anos), menopausa tardia (após os 50 anos), com primeira gestação após os 30 anos de idade, mulheres nulíparas e que fazem terapia de reposição hormonal pós-menopausa (principalmente se o tratamento se estender por cinco anos ou mais); o Ainda existem controvérsias sobre o impacto do uso de contraceptivos orais para o desenvolvimento desse quadro. Predisposição genética: diagnóstico com idade menor que 50 anos acompanhado por história familiar de carcinoma de mama indicam a possibilidade de mutaçõesnum determinado gene. O câncer de origem hereditário, no entanto, só corresponde a cerca de 5 a 10% do número total de casos. Exposição à radiação ionizante antes dos 40 anos; Consumo regular de bebidas alcoólicas (mesmo que em quantidade moderada); Júlia Figueirêdo – PINESC IV A obesidade (com destaque para o ganho de peso pós-menopausa); Sedentarismo (a prática de exercícios é um fator protetor). O “Documento de Consenso do Câncer de Mama” de 2004 pontua como grupos com risco muito elevado para o desenvolvimento desse carcinoma as mulheres com: História familiar de ao menos um parente de 1º grau com diagnóstico de câncer de mama antes dos 50 anos; História familiar de ao menos um parente de primeiro grau com câncer de mama bilateral ou câncer de ovário em qualquer grupo etário; História de câncer de mama masculino na família; Diagnóstico histopatológico que aponte para lesões proliferativas atípicas ou neoplasias tubulares in situ. Essa categoria, mesmo que contemple um contingente populacional mínimo, deve ser monitorada atentamente, com indicação para rastreamentos anuais. QUADRO CLÍNICO: O surgimento de uma nodulação, comumente dura, irregular e indolor, é o sintoma mais comum para o câncer de mama (90%), porém é necessário pontuar que, devido às diversas naturezas neoplásicas, alguns deles podem apresentar-se com características totalmente opostas. Outros possíveis sinais de câncer de mama incluem: Saída de secreção pelo mamilo (necessária atenção especialmente quando é transparente ou avermelhada, unilateral e espontânea); Pele da mama avermelhada; Edema cutâneo semelhante à casca de laranja; Retração cutânea na mama; Dor, descamação, ulceração ou inversão no mamilo; Linfonodos axilares palpáveis. PREVENÇÃO PRIMÁRIA EM CÂNCER DE MAMA: A prevenção primária tem como finalidade controlar os fatores de risco reconhecidos para o desenvolvimento do carcinoma de mama, atuando em todos os níveis de atenção à saúde, com destaque para a Atenção Básica. Os direcionamentos devem, principalmente, orientar para o controle do peso e a prática de atividade física. Mesmo sendo impossível controlar aspectos hereditários e reprodutivos, fatores relacionados ao estilo de vida feminino, como o sedentarismo, o consumo elevado de bebidas alcoólicas, a obesidade pós- Júlia Figueirêdo – PINESC IV menopausa, o aleitamento materno e a terapia de reposição hormonal podem ser abordados de forma a induzir mudanças comportamentais capazes de diminuir, mesmo que parcialmente, o risco de ocorrência dessa doença. Medicamentos quimioprofiláticos (tamoxifeno e raloxifeno, que se associam aos receptores de estrogênio, alterando sua estrutura e incentivando a interrupção da replicação celular desses ligantes) estão sendo analisados, não devendo ser indicados para mulheres assintomáticas de baixo ou médio risco, uma vez que apresentam um aumento na probabilidade de desenvolver câncer endometrial, quadros tromboembólicos ou de AVC. A realização da mastectomia profilática também tem sido estudada como forma de prevenir o desenvolvimento de câncer de mama em mulheres com risco muito elevado para seu desenvolvimento, porém ainda não há evidências suficientes para comprovar a efetividade desse método. MECANISMOS DE DETECÇÃO E DIAGNÓSTICO PRECOCES: A detecção do câncer de mama em estágios inicial de seu desenvolvimento (quando as tumorações apresentam manos de 2 cm de diâmetro) é preditora de bons prognósticos, sendo assim necessário implementar medidas que favoreçam a identificação da doença de forma precoce. O down-staging, é uma estratégia de diagnóstico precoce que incentiva a redução do estágio de apresentação do carcinoma, sendo fundamental assegurar a educação da mulher e dos profissionais de saúde acerca do reconhecimento dos sinais e sintomas iniciais desse quadro, além de promover o acesso com facilidade e agilidade aos serviços de saúde. Para que os efeitos dessa metodologia sejam potencializados, é necessário incorporar a mulher ao processo de prevenção de forma ativa, por meio da palpação do tecido mamário. A partir da década de 1990, momento no qual o autoexame das mamas teve seus resultados inicialmente comprovados, diversos países adotaram tal técnica como parte da política de alerta à saúde das mamas. Nos anos 2000, entretanto, novos estudos apontaram que o autoexame poderia causar mais possíveis malefícios que benefícios (ex.: aumento no número de punções e mastectomias desnecessárias), passando a ser desestimulado como medida de rastreamento. Os profissionais de saúde devem estimular que a palpação das mamas pela mulher seja feita sempre que ela se sentir confortável, não havendo mais a obrigatoriedade de realização mensal, sem qualquer técnica necessária, valorizando assim achados casuais de pequenas alterações. Essa medida pode aumentar a demanda de unidades de saúde, que devem estar preparadas para acolher as mulheres, esclarecendo as suas dúvidas e encaminhando-as para os exames diagnósticos adequados. Os cinco sinais de alerta que devem chamar a atenção da mulher durante a palpação são: Júlia Figueirêdo – PINESC IV Presença de nódulos ou espessamentos que aparentem ser diferentes do tecido do restante da mama: Alterações no contorno das mamas; Dor ou desconforto contínuo em seio unilateral; Mudanças na posição e aspecto dos mamilos; Presença de secreção espontânea pelo mamilo (principalmente se unilateral). RASTREAMENTO DO CÂNCER DE MAMA: A mamografia é a estratégia de saúde pública empregada no Brasil, sendo capaz de identificar nódulos não palpáveis no seio. Esse método beneficia principalmente mulheres de 50 a 69 anos. O exame clínico das mamas pode também ser usado como ferramenta de rastreamento, tanto de forma isolada, em locais sem acesso ao aparelho, ou de forma combinada com a mamografia (há poucos estudos que comprovem esse benefício), havendo correlações positivas entre esse exame e a sobrevida das pacientes. A ressonância magnética tem sido usada em associação à mamografia em mulheres pertencentes a grupos de alto risco para esse carcinoma, como aquelas com mutações genômicas em BRCA1 e 2, história prévia de CA de mama em si ou em familiar próximo, com nodulações subclínicas e que fizeram radioterapia torácica antes dos 30 anos. De forma geral, as integrantes desse grupo são jovens, com mamas densas e parênquima sensível à radiação ionizante, situação em que a capacidade de detecção da mamografia é reduzida, justificando a sobreposição de métodos. Os benefícios do rastreamento para a redução da mortalidade e tratamentos menos agressivos devem ser sempre ponderados em relação aos malefícios e riscos relativos à adoção dessa estratégia. Ao oferecer exames de mamografia à população assintomática, os efeitos prejudiciais incluem a indução do câncer de mama por radiação, a taxa de resultados falso-positivos que implicam em exames complementares e maior ansiedade nas mulheres, o sobrediagnóstico e sobretratamento de lesões malignas de comportamento indolente que serão identificadas e tratadas sem a certeza de sua evolução. Júlia Figueirêdo – PINESC IV INVESTIGAÇÃO DO CÂNCER DE MAMA: EXAME CLÍNICO DAS MAMAS (ECM): O exame clínico das mamas é o procedimento realizado para avaliar sinais e sintomas referidos pelas pacientes a fim de realizar o diagnóstico diferencial entre achados suspeitos de câncer e aqueles relacionados a condições benignas. O ECM também representa o momento ideal para a orientação feminina acerca da importância do toque das mamas, indicando os sinais de alarme e as características fisiológicas dessa estrutura.O ECM deve contemplar tanto a inspeção estática quanto dinâmica das mamas, a palpação do tecido mamário e das cadeias ganglionares anexas (axilares e supraclaviculares). A inspeção estática visa identificar sinais visualmente indicativos de câncer, como alterações no traçado mamário, ulcerações cutâneas ou da região areolopapilar. A comparação entre os seios é fundamental, observando assimetrias, diferenças na cor da pele ou em sua textura, além do padrão do trajeto venoso. A paciente, nessa etapa, pode estar sentada com os braços ao lado do corpo ou levantados acima da cabeça. Na inspeção dinâmica, a mulher é solicitada a levantar e abaixar seus braços lentamente, contrair a musculatura peitoral, comprimindo a palma das mãos em frente ao tórax ou colocando as mãos sobre a cintura. A palpação das mamas deve avaliar todo o tecido da mama e os linfonodos que recebem drenagem dessa área. Na avaliação da cadeia axilar, a paciente deve encontrar-se sentada, com o braço ipsilateral ao exame relaxado e o antebraço repousando sobre o antebraço do examinador. Para avaliar os linfonodos supraclaviculares, a mulher deve inclinar-se delicadamente para o lado, com a cabeça em semiflexão. A palpação das mamas é feita com a paciente em decúbito dorsal, com a mão homolateral à mama em análise sendo colocada atrás da cabeça. Cada área Júlia Figueirêdo – PINESC IV examinada deve ser pressionada com três níveis distintos de pressão sendo aplicados em sequência, permitindo a interpretação de alterações cutâneas (leve), subcutânea (moderado) e da parede torácica (profunda). Movimentos circulares com a polpa dos dedos indicador, médio e anelar devem ser executadas de tal forma a simular o contorno de uma moeda. O complexo areolopapilar deve ser palpado, não comprimido. No exame de uma mulher mastectomizada é feita a palpação da pele, da parede do tórax e da cicatriz cirúrgica. Devem ser investigadas possíveis mudanças na temperatura da pele e a presença de nódulos, descritos conforme seu tamanho, consistência, delimitação, aspecto da superfície, mobilidade e localização (em quadrantes). Para avaliar a descarga papilar, o examinador faz uma pressão unidigital e leve na região areolar, em movimentos radiais, contornando a papila. A saída da secreção pode ser provocada pela compressão de um nódulo ou área de espessamento, que pode estar em qualquer região da mama. A descrição dessa descarga deve informar se é uni ou bilateral, uni ou multiductal, espontânea ou provocada, sua coloração e relação com alguma alteração palpável. Caso haja resultados alterados ao longo do ECM, esses devem ser avaliados e, caso necessário, encaminhados para investigação em centros de referência para o câncer de mama. Os principais achados que devem ser endereçados a esses locais são: Nódulo mamário de consistência endurecida e fixo, independente da idade; Nódulo mamário persistente por mais de um ciclo menstrual em mulheres com mais de 30 anos ou presente depois da menopausa; Nódulo mamário em mulheres com história prévia de câncer de mama; Nódulo mamário em mulheres com alto risco para câncer de mama; Alteração unilateral na pele da mama, como eczema, edema cutâneo semelhante à casca de laranja, retração cutânea ou distorções do mamilo; Descarga papilar sanguinolenta unilateral e espontânea (averiguar também secreções transparentes ou rosadas); Homens com 50 anos ou mais com massa subareolar unilateral de consistência firme com ou sem distorção de mamilo ou associada a mudanças na pele. MÉTODOS DE IMAGEM: Os exames de imagem são empregados tanto no rastreamento como também para a definição do diagnóstico. Nessa primeira situação, tais procedimentos têm como finalidade detectar precocemente o câncer de mama, para permitir tratamento menos radical, melhorar a qualidade de vida, reduzir as taxas de mortalidade e morbidade e reduzir gastos no tratamento. Na segunda aplicação proposta, a utilização de imagens permite confirmar (ou não) a hipótese de câncer de mama inicialmente construída a partir de indícios clínicos. Os métodos mais utilizados são a mamografia, a ultrassonografia e a ressonância magnética. MAMOGRAFIA: Os resultados do exame mamográfico são classificados de acordo com o Breast Imaging Reporting and Data System (BI- RADS), sistema que utiliza categorias de 0 a Júlia Figueirêdo – PINESC IV 6 para descrever os achados e propor recomendações de conduta terapêutica. O esquema de classificação BI-RADS é também usado para classificar achados ultrassonográficos e de ressonância Para fins diagnósticos, a mamografia deve ser realizada nas mulheres com sinais ou sintomas de câncer de mama, não sendo recomendada para aquelas que referem mastalgia, uma vez que esse não é um sintoma-chave do carcinoma e não apresenta implicações em análises de imagem. Outras situações com indicação de mamografia são o controle radiológico de lesão categoria 3 BI-RADS e a avaliação de mama masculina. ULTRASSONOGRAFIA: A ultrassonografia tem como principais indicações de uso diagnóstico: Diagnóstico diferencial entre lesões sólidas e císticas; Lesões palpáveis ao ECM, mas com resultados mamográfico negativos ou inconclusivos; Em jovens com lesões palpáveis (mamas densas afetam a mamografia); Alterações no ECM durante o ciclo gravídico-puerperal; Em casos de doença inflamatória e abcessos; No diagnóstico de coleções de líquido. A complementação da mamografia com a ultrassonografia pode obrigatória e com grande benefício no diagnóstico quando há lesão palpável sem expressão na mamografia; nos nódulos regulares ou lobulados, que possam representar cisto; e nas lesões densificantes (assimetria difusa, área densa) que podem representar lesão sólida, cisto ou parênquima mamário. A complementação não está indicada nas lesões categoria 2, categoria 5, nas microcalcificações e na distorção focal da arquitetura, podendo ser dispensada nos pequenos nódulos de aspecto benigno em mamas adiposas. RESSONÂNCIA MAGNÉTICA: A ressonância magnética é usada em casos que não apresentaram resultados conclusivos nos métodos supracitados, na detecção de carcinomas ocultos, na formulação de estratégias terapêuticas, na avaliação de resultados quimioterápicos, para a investigação em casos de recidivas ou complicações pós-implantes. MÉTODOS INVASIVOS DE DIAGNÓSTICO: O diagnóstico final do câncer é feito por meio do achado histopatológico, que pode ser obtido a partir de diversos métodos, graças à localização favorável da mama. A biópsia excisional (cirúrgica) é o padrão-ouro, porém procedimentos minimamente invasivos Júlia Figueirêdo – PINESC IV podem apresentar melhor custo-benefício em casos de carcinomas em estágio avançado. O tipo de procedimento de investigação diagnóstica complementar depende da lesão encontrada nos achados clínicos (lesões palpáveis ou não) e dos resultados radiológicos. Essa indicação compete ao especialista do serviço de referência, levando em conta a disponibilidade de procedimentos na região e as condições de saúde da usuária, além da classificação de BI-RADS, do tipo, localização e composição da lesão, bem como do tamanho da mama da paciente. Nas lesões não palpáveis da mama classificadas como categoria 4 e 5 e, eventualmente, nas lesões categoria 3, a obtenção de material para exame histopatológico pode ser feita por meio de biópsia cirúrgica e biópsia percutânea (agulha grossa e vácuo). A punção por agulha fina (PAAF) pode ser usada para lesões palpáveis e impalpáveis, de conteúdo cístico ou sólido. Biópsia cirúrgica: A biópsia cirúrgica, procedimento denominado biópsia exérese de nódulo de mama na tabelade procedimentos do SUS, é o método mais tradicional e com maior disponibilidade. Pode ser incisional, quando há retirada de parte da lesão, e excisional, quando ocorre retirada total da lesão. No caso de lesões não palpáveis, a biópsia deve ser orientada por marcação pré- cirúrgica, com a finalidade de marcar a lesão, proporcionando a retirada econômica de tecido mamário, importante parâmetro a ser considerado, principalmente se a lesão for de natureza benigna. Biópsia percutânea com agulha grossa (PAG): A punção por agulha grossa ou core biopsy, é um procedimento ambulatorial, realizado sob anestesia local, que retira fragmento de tecido mamário para o exame histopatológico por meio de dispositivo automático para biópsia (pistola). A introdução da PAG oferece uma opção minimamente invasiva para o diagnóstico das lesões da mama. Com desempenho semelhante à biópsia cirúrgica, esse procedimento tem menor custo; não necessita internação e raramente apresenta complicações; causa menor trauma local com mínimo de lesões cicatriciais; é um procedimento rápido e bem tolerado, com recuperação mais rápida e, portanto, menor afastamento das atividades do lar e do trabalho; e tem excelente resultado estético. Punção por agulha fina (PAAF): A punção por agulha fina é um procedimento ambulatorial, de simples realização e baixo custo. A PAAF pode ser utilizada tanto na abordagem das lesões palpáveis como de não palpáveis, sendo a única forma de abordagem para os cistos. O limite deste método é apenas fornecer material para estudo citopatológico e não fornecer diagnóstico de invasão tumoral. Biópsia percutânea a vácuo (mamotomia): Em comparação com a biópsia percutânea com agulha grossa, a biópsia a vácuo tem as vantagens de obter maior número de fragmentos, maiores e mais consistentes, com melhor desempenho nas microcalcificações, com uma única inserção da agulha, porém é um procedimento mais caro e menos disponível na prática cotidiana. CONDUTAS EM LESÕES PALPÁVEIS: Em mulheres com menos de 35 anos a ultrassonografia é o método de escolha para avaliação das lesões palpáveis. A partir dos Júlia Figueirêdo – PINESC IV 35 anos, recomenda-se a mamografia, que pode, em caso já mencionados, ser complementada pela ultrassonografia. Pacientes com achados benignos sem indicação cirúrgica devem permanecer em acompanhamento de rotina na unidade de atenção primária, enquanto aquelas com achados benignos com indicação cirúrgica (nódulos sólidos com mais de 3cm, descargas papilares profusas, abscesso subareolar recidivante) devem ser encaminhadas para uma unidade de referência na atenção secundária. Todas as mulheres com achados clínicos suspeitos, mesmo com exame de imagem negativo, devem ser submetidas à investigação PAAF, PAG ou Biópsia Cirúrgica, dependendo de sua disponibilidade e das características da lesão, sendo realizados em unidades ambulatoriais de referência. CONDUTAS EM LESÕES NÃO PALPÁVEIS: Mulheres com resultado BI-RADS 1 e 2 devem ser orientadas para acompanhamento de rotina, na unidade de atenção primária, com repetição do exame de acordo com a faixa etária. Por sua vez, pacientes com BI-RADS 3 devem permanecer em acompanhamento por três anos, com repetição do exame a cada seis meses no primeiro ano e anual nos dois anos seguintes. Devem ser acompanhadas pelo especialista, preferencialmente na unidade de atenção secundária. Quando for confirmada a estabilidade da lesão, as mulheres deverão retornar para o acompanhamento na unidade de atenção primária de acordo com a faixa etária. O estudo histopatológico nessa categoria é indicado quando houver dificuldade em manter o acompanhamento, quando a lesão for encontrada junto a outro achado suspeito homo ou contralateral, ou em mulheres com indicação para terapias de reposição hormonal. As mulheres com resultado BI-RADS 4 ou 5 deverão ser encaminhadas para a unidade de referência secundária para investigação por exame histopatológico da lesão, preferencialmente por meio de PAG orientada por método de imagem. Uma vez confirmada a malignidade, deverão ser encaminhadas para a unidade de referência terciária para início do tratamento. Se a PAG for inconclusiva, o encaminhamento deve ser feito para a biópsia cirúrgica, em unidade secundária ou terciária. Mulheres com BI-RADS 0 devem ser reavaliadas para realizar novos exames de imagem, moldando a conduta a partir dos novos resultados. Casos com BI-RADS 6 são raros na Atenção Básica, uma vez que essas pacientes com diagnóstico confirmado de câncer devem estar internadas para o tratamento. TRATAMENTO: O tratamento do câncer de mama, conforme prevê a Política Nacional de Atenção Oncológica, deve ser feito em Unidades de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) e Centros de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon), que fazem parte de hospitais de nível terciário. Tais instituições devem ser capacitadas para fazer o estadiamento do tumor, tratar e assegurar a qualidade da assistência oncológica à paciente. Júlia Figueirêdo – PINESC IV A doença deve ser tratada dentro de um contexto multidisciplinar, onde a cirurgia e a radioterapia têm papel fundamental no controle de tumorações locais, e a quimioterapia, a hormonioterapia e a terapia biológica no tratamento sistêmico. Dessa forma, o tratamento deve ser individualizado, e orientado não apenas pela extensão da doença, mas também por suas características biológicas, e condições da paciente O tratamento conservador atualmente consiste na retirada do segmento ou setor mamário onde se localiza o tumor com margens de tecido mamário microscopicamente sadio, associada à radioterapia complementar pós ou pré- operatória, obrigatória em qualquer tipo de cirurgia conservadora. Seu objetivo principal é eliminar lesões microscópicas eventualmente não extirpadas pela cirurgia, e reduzir o risco de recidiva local. Para indicação dessa modalidade terapêutica, deve-se levar em conta a possibilidade de controle da doença com bom resultado estético, devendo ser indicada em tumores pequenos, palpáveis ou não, sem evidência de multicentricidade, e sem metástases a distância. Do ponto de vista oncológico, está contraindicado no câncer da mama masculino e nos tumores extensos ou multicêntricos. Esteticamente, deve ser evitada quando a relação entre o tamanho do tumor e o tamanho da mama não permite uma ressecção adequada sem causar grande deformidade. O tratamento sistêmico será determinado de acordo com o risco de recorrência (depende da idade da paciente, do comprometimento linfonodal, tamanho tumoral, grau de diferenciação) e as características tumorais. Na doença localmente avançada, o tratamento deve ser inicialmente sistêmico, e o tratamento cirúrgico estará indicado após resposta adequada com redução do tumor. Havendo metástases a distância, o tratamento cirúrgico tem indicações restritas, sendo o tratamento sistêmico a principal opção, nesses casos é fundamental que a decisão terapêutica busque o equilíbrio entre a resposta tumoral e o possível prolongamento da sobrevida, levando-se em consideração os potenciais efeitos colaterais decorrentes do tratamento. Entre as possíveis complicações do tratamento, o edema linfático de membro superior (linfedema) pode ocorrer após esvaziamento axilar e configura-se como condição crônica e incapacitante, o que resulta em alterações físicas, psicológicas e sociais. O sintoma inicial é a sensação de peso no braço e o tratamento preconizado é a terapia física complexa.
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