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RESUMO - Direito das Obrigações - Hipóteses de Pagamento Indireto Não Satisfativo

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DIREITO CIVIL – DAS OBRIGAÇÕES 
 
- Hipóteses de Pagamento Indireto Não Satisfativo 
 
Compensação 
 
Conceito: Modo indireto de extinção de obrigações entre pessoas que são, ao mesmo 
tempo, credor e devedor uma da outra. 
 
Base Legal: Código Civil de 2002 
Art. 368 – “Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as 
duas obrigações extinguem-se, até onde se compensarem”. 
 
❑ Exemplo: Se João tem uma dívida de R$1000,00 com José e José também tem 
uma dívida de R$1000,00 com João, tais obrigações no plano ideal, seriam 
extintas sem problemas. Igualmente, se João tem uma dívida de R$1000,00 com 
José e José tem uma dívida de R$1500,00 com João, haveria extinção até o limite 
de R$1000,00, remanescendo saldo de R$500,00 em favor de João. 
 
 
Espécies 
A doutrina civilista aponta três espécies essenciais de compensação: 
1. Legal: na prática, é a espécie mais importante, e serve como regra geral para a 
compensação, independe da vontade das partes, exigindo para sua configuração, o 
antendimento de diversos requisitos legais para que seja válida; 
 
2. Convencional ou voluntária: decorre da autonomia e da vontade entre as partes, o que 
não é permitido na compensação legal; 
 
3. Judicial ou processual: realizada em juízo, mediante processo. 
 
• Compensação Legal: 
A compensação legal é aquela que decorre da lei, é automática e acontece de pleno 
direito, independendo da vontade das partes, basta apenas que preencha os requisitos 
legais, que são: 
 
1. Reciprocidade das obrigações, com a inversão do sujeito em cada polo da 
obrigação, excluindo-se obrigações de terceiros; 
- O terceiro não interessado,embora possa pagar em nome e por conta do 
devedor,não pode compensar a dívida com eventual crédito que tenha em face do 
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credor. A única exceção, na forma do art. 371,refere-se ao fiador que pode 
compensar a sua dívida própria com a se credor ao afiançado. 
 -Desta forma o devedor não pode usar o crédito do fiador para fazer compensação, 
mas o fiador pode compensar a sua dívida com credor para fazer a compensação com o 
devedor. Assim, a compensação só pode acontecer em que o fiador é chamado, no instante 
em que o credor se volta contra o fiador, em que este é cobrado, porque o devedor não 
pagou, é que deverá haver compensação. 
 
Base Legal: Código Civil de 2002 
 
Art. 371. O devedor somente pode compensar com o credor o que este lhe dever; 
mas o fiador pode compensar sua dívida com a de seu credor ao afiançado. 
 
Art. 376. Obrigando-se por terceiro uma pessoa, não pode compensar essa dívida 
com a que o credor dele lhe dever. 
❑ Exemplo: Se “A” é pai de “B” e tem uma dívida com “C”, que é credor de “B”, 
não poderá compensar o débito da filha. 
 
2. Liquidez, certeza e exigibilidade, ou seja, o crédito deve possuir valor econômico, 
ser certo de que será executado e ser imediatamente exigível após o seu 
vencimento; 
-Quanto á liquidez: Somente se compensa dívida cujo valor seja certo e 
determinado. Não pode o devedor de uma nota promissória opor compensação 
com base em crédito a ser futuramente apurado, se vencer ação de indenização 
que move contra o exequente. 
-Quanto á exigibilidade atual das prestações: É também requisito da lei vigente, 
para a compensação legal, o vencimento da dívida para sua imediata 
exigibilidade. Nas obrigações condicionais, só é permitida a compensação após 
o implemento da condição. E, nas obrigações a termo, somente depois do 
vencimento deste. Mas os prazos de favor, geralmente concedidos verbalmente, 
embora consagrados pelo uso geral, não impedem a compensação legal. 
 
Base Legal: Código Civil de 2002 
Art. 369. A compensação efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas 
fungíveis. 
Art. 372. Os prazos de favor, embora consagrados pelo uso geral, não obstam a 
compensação. 
 
❑ Exemplos: 
1. Se “A” tem uma dívida com “B” de R$1500,0, e “B” foi condenando 
judicialmente ao pagamento de perdas e danos em relação a “A”, se ainda 
não foi verificado o valor exato dessa condenação, não há possibilidade de 
saber quanto alcançam para ser compensadas. 
 
2. Se “A” tem uma dívida vencida de R$1500,00 com “B”, que tem uma 
dívida ainda a vencer, não existirá a possibilidade de compensação. Porém 
se “B” lhe concede um prazo maior para paga-la, nada impede que “B” 
possa compensar tal crédito com outra dívida vencida que tem em relação 
a “A”. 
 
Obs: Obrigação Natural, por faltar o requisito da exigibilidade, não poder ser 
compensada. 
 
3. Homogeneidade ou fungibilidade das prestações, isto é, as dívidas devem ser da 
mesma natureza. 
 -Quanto á fungibilidade dos débitos: Exige-se,para a compensação legal, que as 
dívidas sejam de coisas fungíveis entre si,ou seja, da mesma natureza,concretamente 
homogêneas. 
Base Legal: Código Civil de 2002 
Art. 370. Embora sejam do mesmo gênero as coisas fungíveis, objeto das duas 
prestações, não se compensarão, verificando-se que diferem na qualidade, quando 
especificada no contrato. 
❑ Exemplos: Se João tem uma dívida de R$1000,00 com José e José lhe deve um 
Iphone, ainda que no valor de R$1000,00, a João não é possível a compensação 
legal, pois embora os bens sejam fungíveis, não o são entre si, pois ninguém é 
obrigado a receber prestação diversa da pactuada. 
Se for do mesmo gênero é possível: 5 sacas de feijão por 3 sacas de feijão 
Não se poderá compensar coisas fungíveis do mesmo gênero, se diferem na 
qualidade, quando especificada no contrato: 5 sacas de feijão preto por 3 sacas de 
feijão branco. 
 
• Compensação Convencional: 
Acontece quando há um acordo de vontades, mesmo quando os requisitos legais não estão 
presentes, se as partes convencionarem poderá haver a compensação. Situa-se a 
compensação convencional no âmbito de exercício da autonomia privada. 
No entanto, a compensação legal não é, todavia ilimitada, o poder de exercitar a 
autonomia privada é limitado pela ordem pública e pela função social do contrato. 
 
Base Legal: Código Civil de 2002 
Art. 375. Não haverá compensação quando as partes, por mútuo acordo, a excluírem, ou 
no caso de renúncia prévia de uma delas. 
❑ Exemplo: 
1. Se as partes assim o quiserem é possível compensar uma obrigação de 
dar(carro, computador, casa) que “A” tenha em relação a “B” por uma 
obrigação de fazer(pintar uma casa, construir um muro, dar uma aula), que 
“B” tenha em relação a “A”. 
 
2. Se “A” deve uma importância de R$1000,00 a “B”(obrigação pecuniária) e 
“B” deve a entrega de um animal para “A”(obrigação de dar), as dividas 
podem ser compensadas por acordo diferente da via legal. 
 
• Compensação judicial: 
Conceito: Para Pablo Stolze, “aquela realizada em juízo, por autorização de norma 
processual, independente de provocação expressa das partes nesse sentido”. 
Cuidado! A compensação judicial não recebe esse nome apenas por ser pronunciada por 
juiz. A compensação convencional e legal também podem ser pronunciadas por juiz. 
Ocorre que nesses casos (convencional e legal) o juiz apenas declara a compensação, 
enquanto que na compensação judicial o juiz a constitui, mesmo não havendo a liquidez 
dos créditos envolvidos. 
 
Hipóteses: Segundo Carlos Roberto Gonçalves, ocorre principalmente em hipóteses de 
procedência da ação e também da reconvenção (é ação do réu contra o autor). 
❑ Exemplos: 
 
1. “O art. 21 do Código de Processo Civil também determina que, se cada litigante 
for em parte vencedor e vencido, sejam compensados entre eles os honorários 
advocatícios e as despesas”. “Em casos de sucumbência recíproca, admite-se, por 
conseguinte, a compensação”. (STJ-2ªSeção, REsp 155.135-MG, rel. Min. Nilson Naves, 
DJU, 8-10-2001, p. 159) 
 
2. A cobrança de crédito recíprocos, por meio da via reconvencional ou, em função 
do fenômeno processual da conexão,em que há reunião dos processos para 
julgamento único. 
 
 
3. João cobra de José, por meio de ação de cobrança, importância de R$100.000,00 
e José na reconvenção, cobra R$110.000,00, ambas são julgadas procedentes. Juiz 
pode neste caso apenas condenar o autor da ação de cobrança, João, a pagar 
R$10.000,00, fazendo deste modo a compensação. 
 
 
• Hipóteses de Impossibilidade de Compensação 
 
Base Legal: Código Civil de 2002 
Art. 373 e 375, CC- 02. 
 
Há algumas hipóteses em que não se admite a utilização da via compensatória para 
extinguir a relação obrigacional. Esse afastamento pode ser convencional (exclusão 
bilateral), ou legal como denomina Carlos Roberto Gonçalves seguindo as regras do art. 
375, CC- 02. 
 
Admite-se, também, a renúncia unilateral, onde não há compensação havendo “renúncia 
prévia” de uma das partes. Ou seja, quando uma das partes resolve abrir mão do direito 
de arguir compensação. Essa renúncia tem que ser depois de admitido o crédito, e quando 
os requisitos para compensação ainda não existirem. 
 
Tais acordos ou renúncias podem configurar abuso de direito, como, por exemplo, a 
imposição prévia de renúncia ao direito de compensar imposta pelo fornecedor ao 
consumidor em um contrato de consumo. 
A liberdade nesse acordo ou renúncia deve ser analisada no caso concreto, prevalecendo 
apenas se não trouxer consigo violações aos princípios da boa-fé, da função social do 
contrato ou dano a terceiros. 
A exclusão legal decorre, em alguns casos, da causa de uma das dívidas, e, em outros, da 
qualidade de um dos devedores. Em regra, a razão pela qual foi constituído o débito não 
impede a compensação da dívida, entretanto, há exceções que veremos a seguir 
. (Art. 373, CC- 02) 
 
Hipóteses: 
 
- dívidas provenientes de esbulho ( quando uma pessoa perde a posse de um bem que tem 
consigo por ato de terceiro), furto ou roubo: devido a ilicitude do fato gerador da dívida, 
este não é passível de cobrança, muito menos de compensação. 
 
- se uma das dívidas se originar de comodato, depósito ou alimentos: por serem objetos 
de contratos com corpo certo e determinado, inexiste, assim, a fungibilidade entre si 
necessária à compensação. Quanto aos alimentos, por serem dirigidos á subsistência do 
indivíduo, admitir a sua compensação seria negar a sua função alimentar. 
❑ Exemplo: 
 Se “A” deve R$ 1.000,00, a título de alimentos, a “B”, mesmo que este lhe deva uma 
importância maior, não poderá fazer a compensação, pois a verba se destina à subsistência 
de “B”; 
 
- se uma das dívidas for de coisa não suscetível de penhora: a impenhorabilidade de 
determinados bens se justifica por sua relevância. Como a importância de tais bens( 
salários) afasta até mesmo o poder estatal da constrição judicial, não seria legal lógico 
que a sua entrega pudesse ser negada, do ponto de vista fático, pela utilização da 
compensação. 
❑ Exemplo: Jurisprudência 
 DANO MORAL. RETENÇÃO. SALÁRIO. BANCO. 
É cabível a indenização por danos morais contra instituição bancária pela retenção 
integral de salário do correntista para cobrir saldo devedor da conta- corrente, mormente 
por ser confiado o salário ao banco em depósito pelo empregador, já que o pagamento de 
dívida de empréstimo obtém-se via ação judicial (CPC, art. 649, IV). 
Carlos Eduardo Rosa ajuizou uma ação indenizatória contra o Banco do Brasil S.A., pela 
retenção indevida de sua aposentadoria, mensalmente depositada em sua conta-corrente. 
Esse exercício arbitrário das próprias razões teria início no fato do Autor ter solicitado 
vários empréstimos com 
esse banco, quitado tardiamente e não ter conseguido pagar os juros e a multa.Ocorre que, 
ao invés de interpor ação de cobrança, o banco procurou saldo na conta-corrente, mas por 
não encontrar saldo suficiente em conta, reteve, indevidamente, o valor de toda sua 
aposentadoria. Desta feita, requereu que o Banco do Brasil S.A. lhe restituísse os salários 
retidos indevidamente, bem como lhe indenizasse pelos danos morais sofridos. 
O juiz de primeira instância julgou procedente a demanda, condenando o banco a restituí-
lo dos vencimentos indevidamente retidos, bem como indenizar pelos danos morais. 
(...) 
 
Obs: Também não se admite, na forma do art. 380 do CC- 02, a compensação em prejuízo 
de terceiros. 
Em se tratando de dívidas pagáveis em locais diferentes, há uma restrição à compensação, 
devendo para esta ser feita a dedução das despesas necessárias à operação, como previsto 
no art. 378 do CC-02. 
• Regras Peculiares 
O art. 377 do Código Civil trata da compensação na cessão de crédito prescrevendo: 
“O devedor que, notificado, nada opõe à cessão que o credor faz a terceiros dos seus 
direitos, não pode opor ao cessionário a compensação, que antes da cessão teria podido 
opor ao cedente. Se, porém, a cessão lhe não tiver sido notificada, poderá opor ao 
cessionário, compensação do crédito que antes tinha contra o cedente”. 
 
Por sua vez, o art. 379 determina a aplicação das normas fixadas para a “imputação do 
pagamento”, quando houver pluralidade de débitos suscetíveis de compensação. Desse 
modo, ao arguir a compensação, o devedor indicará a dívida que pretende seja 
compensada. Se não fizer a indicação, a escolha far-se-á pelo credor, que declarará na 
quitação a dívida pela qual optou. 
Não tendo o devedor feito a indicação e silenciando o credor ao fornecer a quitação, far-
se-á a imputação com observância do disposto no art. 355 do Código Civil: nas dívidas 
líquidas e vencidas em primeiro lugar; se as dívidas forem todas líquidas e vencidas ao 
mesmo tempo, na mais onerosa. 
 
➢ Jurisprudência sobre Compensação 
Ementa: DIREITO CIVIL. COMPENSAÇÃO. DÍVIDA VENCIDA. EMBARGOS DE 
TERCEIRO. PENHORA DE DIREITO DE CRÉDITO. DÍVIDA QUITADA POR 
COMPENSAÇÃOINICIADA ANTES DA PENHORA. 
1. O escopo do art. 1.024 do CC/1916 (atual art. 380) é coibir a utilização da compensação 
como forma de esvaziar penhora preexistente. 2. No caso dos autos, havia dívida vencida 
e operava-se a compensação há tempos, quando foi ajuizada a execução e determinada a 
penhora dos créditos decorrentes do arrendamento. Não houve o prejuízo a direito de 
terceiro que o art. 1024 do Código de 1916busca preservar. 3. Dissídio não demonstrado. 
4. Agravo regimental a que se nega provimento. 
Acórdão 
A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos do 
voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Antonio Carlos Ferreira, Luis Felipe 
Salomão (Presidente) e Raul Araújo votaram com a Sra. Ministra Relatora. Ausente, 
justificadamente, o Sr. Ministro Março Buzzi. 
(STJ - AgRg no REsp: 402972 DF 2002/0002414-5, Relator: Ministra MARIA ISABEL 
GALLOTTI, Data de Julgamento: 27/03/2012, T4 - QUARTA TURMA, Data de 
Publicação: DJe 10/04/2012) 
 
 
Confusão 
 
Conceito: O instituto da Confusão ocorre quando um sujeito comporta-se como credor e 
devedor dentro da mesma relação obrigacional, tornando a obrigação impossível. 
 
Base Legal: Código Civil de 2002 
Art. 381 – “Extingue-se a obrigação, desde que na mesma pessoa se confundam as 
qualidades de credor e devedor”. 
 
Espécies 
Pode se verificar confusão de toda dívida ou de apenas parte dela. 
 
1. Confusão Total: Ocorre quando à extinção de toda a dívida. 
 
2. Confusão Parcial: Ocorre quando à extinção de parte da dívida. 
 
3. Confusão Imprópria: Ocorre quando se reúnem na mesma pessoa as 
condições de Sujeito da obrigação e a de Garante. 
 
Base Legal: Código Civil de 2002 
Art. 382. “A confusão pode verificar-se a respeito de toda a dívida, ou só de parte dela”. 
❑ Exemplos: 
 
1. Filho que é devedor o pai e é sucesso deste, Morto o credor, o crédito transfere-se 
ao filho, que é exatamente o devedor. 
2. Os sucessores do credor são dois filhos e o valor da quota recebida pelo 
descendente devedor é menor do que o de sua dívida. 
3. Quando se reúnem as qualidades de fiador edevedor (sujeito passivo), ou de dono 
da coisa hipotecada e credor (sujeito ativo). 
Requisitos 
1. Unidade da relação obrigacional. 
2. Ausência de separação dos patrimônios. 
3. União das qualidades de credor e devedor na mesma pessoa. 
Efeitos 
- Na Solidariedade 
Os efeitos da confusão são limitados a uma única pessoa. Os demais credores e devedores 
solidários não são comunicados dos efeitos da confusão. 
Base Legal: Código Civil de 2002 
 
Art. 383. A confusão operada na pessoa do credor ou devedor solidário só extingue a 
obrigação até a concorrência da respectiva parte no crédito, ou na dívida, subsistindo 
quanto ao mais a solidariedade. 
- Cessação da Confusão 
A confusão não extingue a obrigação efetivamente, somente a paralisa ou neutraliza, até 
que um fato novo venha a ser estabelecido. 
Base Legal: Código Civil de 2002 
 
Art. 384. Cessando a confusão, para logo se restabelece, com todos os seus acessórios, a 
obrigação anterior. 
❑ Exemplos: 
 
1. Pero, João e José são devedores solidários de R$300,00 para Paulo que é por sua 
vez pai de Pedro. Paulo vem a morre e Pero passa então a ser credor e devedor, 
opera-se confusão. Fica a dívida extinta até a quota de Pedro, logo passa de 
R$300,00 para R$200,00. 
2. “A” é considerado ausente e por isso procede-se a sucessão provisória (ante sua 
morte resumida – desaparecimento em um desastre aviatório), de modo que 
acontece a confusão já que “B”, seu herdeiro era também o seu devedor. No 
entanto, tempos depois, “A” aparece vivo e desaparecendo assim a causa da 
confusão. 
 
➢ Jurisprudência sobre Confusão 
Ementa: DIREITO À VIDA E À SAÚDE. EXAME MÉDICO. FORNECIMENTO DE 
MEDICAMENTOS. VERBA HONORÁRIA. DEFENSORIA 
PÚBLICA. PAGAMENTO DE CUSTAS. 
1. Descabe a condenação do Estado ao pagamento de honorários advocatícios em 
demanda judicial proposta pela Defensoria Pública, porquanto há confusão entre credor 
e devedor. Aplicação do art. 1049 do CC/1916, e art. 381 do CC/2002. Precedentes 
deste Tribunal e do STJ. 
2. Quando a parte autora for beneficiária da AJG, o pagamento de custas pela Fazenda 
Pública é devido por metade, na forma do art. 11, alínea ‘a’, do Regimento de Custas. 
Não obstante, tratando-se de Cartório privatizado descabe a isenção de tal ônus. 
RECURSO PROVIDO EM PARTE. UNÂNIME. 
Comentário: 
A Apelação Cível de nº 70018600429 trata sobre um caso aonde o sujeito ativo, 
defendido pela Defensoria Pública, veio pleitear contra o Estado para que este arcasse 
com o custo de um determinado medicamento, por ser o autor portador de doença 
pulmonar e não possuir condições financeiras para arcar com o custo do remédio. 
Em primeira instância o réu foi condenado a pagar não só os medicamentos, como 
também as custas processuais e os honorários advocatícios. Diante de tal sentença, a 
Fazenda Pública decidiu apelar e com isto a decisão foi revista. 
No que diz respeito ao tema do trabalho, nesse caso a confusão entre credor e devedor, 
foi reformada a sentença no que tange ao pagamento dos honorários advocatícios. Isto 
aconteceu pelo fato da Defensoria Pública ser órgão do próprio Estado e não possuir 
personalidade jurídica própria. 
Desta maneira, configura-se a confusão entre credor e devedor, pois, no caso em 
evidência, a Fazenda Pública seria devedora de si mesmo na questão dos honorários 
advocatícios. E conforme estabelece o Código Civil vigente, no seu artigo381, a 
obrigação extingue-se quando na mesma pessoa se confundem as qualidades de credor e 
devedor. 
(AC 70018600429, 2º C.C. TJRS, Desembargador Roque Joaquim Volkweiss, 
07/03/2007.). 
 
Remissão de Dívidas 
 
Conceito: Segundo Carlos Roberto Gonçalves, remissão é a liberalidade efetuada pelo 
credor, consiste em exonerar o devedor do cumprimento da obrigação. Remissão, 
portanto, é o perdão da dívida. 
Para que tenha valor jurídico a remissão tem que ser aceita pelo devedor, tácita ou 
expressamente, pois se a ela se opuser nada poderá impedi-lo de realizar o pagamento. 
Ademais, a remissão somente pode operar-se inter partes, não sendo admitida quando 
houver prejuízo de terceiros. 
 
Base Legal: Código Civil de 2002 
Art. 385. A remissão da dívida, aceita pelo devedor, extingue a obrigação, mas sem 
prejuízo de terceiro. 
 
Para que a remissão se torne eficaz é necessário que o remitente seja capaz de alienar e o 
remitido capaz de adquirir. Por se tratar de uma disposição de direitos, exige, portanto, 
não somente a capacidade jurídica, mas a legitimação para dispor do referido crédito, 
como requisito de validade de todo e qualquer negócio jurídico. 
 
Base Legal: Código Civil de 2002 
Art. 386. A devolução voluntária do título da obrigação, quando por escrito particular, 
prova desoneração do devedor e seus coobrigados, se o credor for capaz de alienar, e o 
devedor capaz de adquirir. 
 
Todos os créditos, seja qual for a sua natureza, são suscetíveis de remissão, desde que só 
visem o interesse privado do credor e a remissão não contrarie o interesse público ou o 
de terceiro. Em suma, só poderá haver perdão de dívidas patrimoniais de caráter privado. 
 
Espécies de Remissão 
 
A remissão pode ser total ou parcial, no tocante ao seu objeto. Pode ser ainda, expressa 
ou tácita. 
➢ Remissão total: é quando o credor perdoa a dívida por inteiro. Já a remissão 
➢ Remissão parcial: é quando ele a perdoa parcialmente, persistindo ainda 
um débito não remitido a ser pago. 
➢ Remissão expressa: pode ocorrer tanto de forma escrita quanto verbal, 
quando o credor declara expressamente não querer mais receber a dívida. 
➢ Remissão tácita decorre do comportamento do credor, incompatível com 
sua qualidade de credor por traduzir, inequivocadamente, intenção liberatória. 
 
A remissão é presumida quando deriva de expressa previsão legal, como no caso dos arts. 
386 e 387. A remissão é presumida pela lei em dois casos: a) pela entrega voluntária do 
título da obrigação por escrito particular (CC, art. 386); e b) pela entrega do objeto 
empenhado (CC, art. 387). 
A devolução da garantia (penhor, hipoteca) não significa perdão da dívida: 
 
Art. 387. A restituição voluntária do objeto empenhado prova a renúncia do credor à 
garantia real, não a extinção da dívida. 
 
Exige-se, pois, tal como no dispositivo anterior, “restituição” pelo próprio credor ou por 
quem o represente e não meramente a “entrega”. A voluntariedade, por outro lado, é 
igualmente traço essencial à caracterização da presunção. 
 
❑ Exemplo: 
 
1. “A”, credo de “B”, pratica ato incompatível com tal possibilidade (Devolução 
voluntária do título da obrigação). 
 
2. “A” deve a “B” a quantia de R$1000,00, mas “B” declara (por meio de documento 
particular) sem oposição de “A”, que somente irá executar quantia de 
RS500,00(perdoando o restante do débito). 
 
A remissão em caso de solidariedade passiva 
 
Base Legal: Código Civil de 2002 
Art. 388. A remissão concedida a um dos codevedores extingue a dívida na parte a ele 
correspondente; de modo que, ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros, 
já lhes não pode cobrar o débito sem dedução da parte remitida. 
 
O credor só pode exigir dos demais codevedores o restante do crédito, deduzida a quota 
do remitido. Os consortes não beneficiados pela liberalidade só poderão ser demandados, 
não pela totalidade, mas com abatimento da quota relativa ao devedor beneficiado. 
 
❑ Exemplo: Joana, José e João são devedores solidários de Caros da quantia de 
R$300,00, Carlos, por sua vez, perdoa a dívida de Joana. Neste caso, subsistirá a 
solidariedade em face dos demais devedores, que estarão obrigados ao 
pagamento de R$200,00, uma vez que deverá ser abatida a quota-parte do 
devedor perdoada. 
 
 
➢ Jurisprudência sobre Remissão da dívida 
 Ementa: EXECUÇÃO FISCAL. EXTINÇÃO FACE A REMISSÃO DA DÍVIDA 
TRIBUTÁRIA. REVOGAÇÃO POR LEI POSTERIOR. IMPOSSIBILIDADE. 
Defeso se mostra ao município, umavez concedida a remissão da dívida fiscal, editar lei 
posterior, derrogando-a, sob pena de afronta ao princípio tributário da irretroatividade e 
a outros princípios constitucionais, como o ato jurídico perfeito e o direito adquirido, 
em verdadeiro abalo de situações já definitivamente consolidadas. A retroatividade da 
norma em direito tributário, como no direito penal, só se admite em situações 
especialíssimas e quando venha em benefício do réu e não para onerá-lo. Exegese da 
alínea “a”, do inc. III, do art. 150 da CF/88 e do art. 106, incisos e alíneas, do CTN. 
APELO IMPROVIDO. 
Comentário: 
O Acórdão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul trata de recurso de apelação 
apresentado pelo município de Bento Gonçalves em face de Marlene Rodrigues da 
Rosa, contra decisão de primeiro grau que julgou extinto o processo por perda de objeto 
na ação de execução. 
Alega o apelante que a remissão da dívida de IPTU dada por lei anterior vê-se revogado 
por lei nova, onde a lei posterior cria ultratividade para alcançar as dívidas já perdoadas 
pela lei antiga, sendo esse argumento improvido por maioria. 
O voto da desembargadora – relatora Teresinha de Oliveira Silva, foi fundado nos 
princípios da irretroatividade da lei tributária, também baseado na lei penal, onde a 
tributaria é de mesma aceitação, que a lei só retroagirá em beneficio do réu e não para 
onera-lo. No entendimento da eminente Dea. a remissão da dívida fiscal pelo apelante 
se deu de forma hígida e valida, onde a norma vigeu plenamente durante certo período 
de tempo e produziu eficácia, gerando atos jurídicos de remissão perfeitos. 
Então, da mesma forma, a nova norma não poderá ter eficácia nos casos onde a outra lei 
vigorou, retirando assim, do apelado direito adquirido. Nesse caso aconteceria o 
arrependimento posterior do município em conceder remissão legal de dividas 
tributarias. 
Se concedido o pedido do apelante poderia se instalar a insegurança jurídica, pois se 
estaria indo de encontro a normas constitucionais e deixar-se-ia os contribuintes do 
Estado como reféns do mesmo. Provocou também os princípios da boa fé objetiva e da 
presunção de legitimidade da administração publica. 
Houve um voto divergente em relação ao que postulou a relatora, este foi dado pela 
Dea. Maria Isabel de Azevedo Souza – Incentivada por norma do CTN, onde se declara 
que a remissão da divida deve-se dar por ato de autoridade administrativa fundada em 
autorização legal. No caso a lei anterior autoriza a remissão da divida, mas no 
entendimento da desembargadora só será admissível através de ato administrativo não 
podendo a lei municipal dispor de modo diferente. 
(AC 70002415511, 2ª C.C. TJRS, Desembaragadora Teresinha de Oliveira Silva, 
29/05/2002. )

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