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Saúde coletiva: PERCEPÇÃO SOBRE A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA

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Caroline Nascimento Fernandes
Para falar da percepção sobre a Estratégia de Saúde da Família (ESF), é necessário
pensar a respeito dos conceitos que estão interligados a ela. Desse modo, a partir do
poema/canção “SAÚDE DA FAMÍLIA EM CANTO” sugerido, vários tópicos serão
apresentados para que se obtenha uma maior compreensão do sistema de saúde brasileiro.
Nesse sentido, o sucesso na Atenção Primária à Saúde (APS) diz respeito à coordenação
efetiva do cuidado e ao fluxo do cidadão na rede, nos diversos pontos de atenção, com
base nas suas necessidades, entendendo o contexto micro e macrorregional.
A priori, é válido pontuar que o modelo de organização de saúde nacional segue a
classificação da Organização Mundial da Saúde, que define três níveis de atenção à saúde,
cada um com suas características e diferentes locais de atuação. No nível de atenção
primária, existe o contato inicial para prevenção e redução de riscos de doenças, sendo
presente no processo de diagnóstico, tratamento e profilaxia. Sabe-se que um bom
atendimento neste nível pode ser capaz de evitar gastos posteriores com procedimentos
complexos, os locais onde predominam este tipo de atenção são as Unidades Básicas de
Saúde. Na atenção secundária, os serviços possuem uma especialização maior, como
ocorre em Unidades de Pronto Atendimento. No último nível, se localizam atendimentos
altamente complexos, que garantem, nos grandes hospitais, a realização de procedimentos
para manter os sinais vitais do paciente.
Inicialmente, deve-se lembrar que a ESF se localiza na atenção primária e objetiva
reorganizar a atenção básica nacional, seguindo os preceitos estabelecidos pelo Sistema
Único de Saúde (SUS), utilizando uma equipe multiprofissional (equipe de Saúde da Família
– eSF) composta por, no mínimo: (I) médico generalista, ou especialista em Saúde da
Família, ou médico de Família e Comunidade; (II) enfermeiro generalista ou especialista em
Saúde da Família; (III) auxiliar ou técnico de enfermagem; e (IV) agentes comunitários de
saúde, podendo ser acrescentados a essa composição os profissionais de Saúde Bucal.
Cada equipe de Saúde da Família (eSF) deve ser responsável por, no máximo, 4.000
pessoas, sendo a média recomendada de 3.000 pessoas, respeitando critérios de equidade
para essa definição. Recomenda-se que o número de pessoas por equipe considere o grau
de vulnerabilidade das famílias daquele território.
Logo no início da música, ao longo da primeira estrofe, é citada a influência da
saúde cubana para o modelo que originaria a ESF brasileira. O sistema de saúde em Cuba
passou por profundas mudanças, desde a revolução em 1959, quando a saúde foi
reconhecida como um direito do povo e um dever e responsabilidade do Estado, obtendo,
atualmente, taxas que se igualam aos países desenvolvidos.
Caroline Nascimento Fernandes
O Sistema Nacional de Saúde (SNS) de Cuba é único, descentralizado, com
financiamento totalmente público e orientado por princípios como, por exemplo, os de:
caráter social da medicina, orientação profilática, integralidade e participação da população.
Relacionando as experiências históricas, as necessidades do país -como o enfoque dado a
doenças infectoparasitárias- e os fundamentos baseados nas desigualdades sociais, é
possível entender a correlação feita na canção para referir a inspiração do Brasil para com
políticas de bem estar social como a que rege a ilha caribenha.
Contudo, é imprescindível levar em consideração que a construção da APS se
utilizou de diversas outras influências até chegar no sistema de organização atual. Deve-se
ter em conta o fato de que a concepção moderna de APS surgiu no Reino Unido, a partir do
relatório Dawson, e de que a conferência de Alma-Ata institucionalizou a atenção primária
em escala planetária. No Brasil, diversos ciclos de desenvolvimento ocorreram utilizando
experiências de outros países, sendo alguns da Europa e da América do Norte, entretanto,
o Programa de Agentes Comunitários de Saúde do Ceará foi empregado de maneira mais
forte, contando com a incorporação de médicos e enfermeiros.
Na segunda estrofe, a música faz alusão ao fato de que a ESF se adequou às
necessidades da população, que antes nunca tivera possuído tamanho acesso. Uma
análise relativa à consolidação do SUS suscita, entre outros aspectos, discussões acerca
das condições prévias da saúde no Brasil, especialmente levando em consideração às
robustas proporções geográficas e socioculturais do país, bem como à natureza das
doenças de maior prevalência em território nacional.
Historicamente, na década de 70, apenas 1% do orçamento da União era destinado
à saúde, e os cortes orçamentários resultaram na intensificação de agravos como dengue,
meningite e malária. Para reverter a situação, o governo criou o Instituto Nacional de
Previdência Social (INPS), unindo todos os órgãos previdenciários que funcionavam desde
1930 e melhorando o atendimento médico. Mais tarde, o Conselho Consultivo de
Administração da Saúde Previdenciária (Conasp), o Conselho Nacional dos Secretários
Estaduais de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional dos Secretários Municipais de Saúde
(Conasems) ajudaram na criação do SUS. A partir da década de 80, a Reforma Sanitária
realizou uma ampla transformação no sistema de saúde e contribuiu de maneira decisiva
para a reformular políticas de saúde brasileiras. Tal processo culminou com a Constituição
Federal de 1988, que estabeleceu o SUS, legitimado por meio da Lei nº 8.080/90, e que
reafirmou a "saúde como direito de todos e dever do Estado".
Acerca do Sistema Único de Saúde, cabe pontuar a importância da Lei 8.080 para
discorrer sobre o que é citado na terceira estrofe da música. Nessa mesma parte, também
existe referência para com a integralidade do atendimento, visto que em: “Olhando a água,
o lixo e o pó/ E tudo que causa doença” é visível a alusão à territorialização e ao seu papel
no meio ambiente e no saneamento daquela comunidade.
É fato que a Atenção Básica se caracteriza por reunir ações de saúde individuais,
familiares e coletivas envolvendo promoção, proteção, prevenção e vigilância em saúde,
além do diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos, cuidados paliativos, por
meio de práticas de cuidado integrado e gestão qualificada -ações estas explicitadas na
quinta estrofe da música: “Tem ação curativa pro doente de agora/ Promove a saúde, a
doença evita/ E aos que o mal debilita/ A recuperação se faz sem demora”. Esse trabalho é
realizado com equipe multiprofissional e dirigido à população em território definido, onde
equipes assumem responsabilidade e fortalecem os princípios da APS em um Sistema
Universal de Saúde, como é o SUS, por meio dos princípios apresentados na imagem
abaixo e explicitados a seguir.
Caroline Nascimento Fernandes
Esquema aponta princípios de: Universalidade; Acessibilidade; Continuidade/Coordenação;
Vínculo; Integração; Responsabilidade; Humanização; Equidade; Participação social
O primeiro princípio, citado na letra da canção quando se fala que “Atende a todos
sem diferença” e nos outros primeiros versos da terceira estrofe, engloba o fato de que a
Atenção Básica é responsável por possibilitar o acesso universal aos serviços de saúde,
caracterizados como a porta de entrada para acolher os usuários e promover a vinculação e
corresponsabilização pela atenção às suas necessidades de saúde.
O segundo princípio é essencial porque, se a população não acessa os serviços do
primeiro nível, não são obtidos benefícios dos outros atributos dessa modalidade de
atenção.
O terceiro princípio, diz respeito à capacidade de garantir a continuidade da atenção,
dado que, através da equipe de saúde deve existir o reconhecimento dos problemas que
requerem seguimento e de se articular com a função de centro de comunicação.
O vínculo, apresentado no quarto princípio, também é primordial na medida que,
através da ligação entre o profissional e o cidadão, se constroem relações de confiança
entre o usuário e o trabalhador da saúde, permitindo o aprofundamentodo processo de
responsabilização entre as equipes para com a população e a realização de um processo
mais contínuo, que é o quinto princípio citado, encarregado da efetividade do cuidado.
A integração, pontuada no sexto princípio, envolve o trabalho multiprofissional,
interdisciplinar e em equipe, para realizar a gestão do cuidado integral do usuário e
coordenando-o no conjunto da rede de atenção. Dessa forma, a eSF deve realizar um
conjunto de serviços que atendam às necessidades da população nas ações de saúde
individuais, familiares e coletivas já citadas como papel da Atenção Básica.
Os princípios de responsabilidade e de humanização estão correlacionados com o
papel dos profissionais, os quais devem procurar compreender a doença em seu contexto
pessoal, familiar e social, para cumprir com as atribuições postas no cuidado naquele
território.
Caroline Nascimento Fernandes
A equidade, penúltimo princípio apontado -referido na música no último versos da
terceira estrofe-, de acordo com a Política Nacional de Atenção Básica, a qual regulamenta
que todos cidadãos são iguais perante o SUS, sem privilégios de qualquer espécie,
devendo ser atendidos segundo as suas necessidades, sendo proibida qualquer distinção
baseada em idade, gênero, raça/cor, etnia, crença, nacionalidade, orientação sexual,
identidade de gênero, estado de saúde, condição socioeconômica, escolaridade, limitação
física, intelectual, funcional e outras, corroborando com o que é regulamentado pela
Constituição Federal de 1988.
A participação social, por fim, pode ser definida como gestão participativa popular
das políticas de saúde como forma de ampliar sua autonomia e sua capacidade na
construção do cuidado das coletividades do territórios, seguindo lógicas mais centradas no
usuário e no exercício do controle social. Pode ser resumida como múltiplas ações
realizadas para influenciar formulações, execuções, fiscalizações e avaliações das políticas
públicas e serviços básicos na área social, e inserindo-se no campo da promoção da saúde.
Acerca do último princípio, é válido ampliar a discussão dada a sua imensa
relevância, uma vez que assegura a inserção popular no processo de controle e formulação
das políticas públicas de saúde, culminando no importante papel da participação social para
a qualidade de vida da comunidade e no exercício prático da cidadania. Nessa conjuntura,
destaca-se a institucionalização de espaços de participação da comunidade no exercício
diário dos serviços de saúde como sendo crucial, diante da garantia da gestão ativa
populacional no planejamento para enfrentar os problemas priorizados, executar e avaliar
ações.
Em relação aos versos que dizem: “Resgata a honra, a dignidade, /A autoestima, o
ser cidadão/ Ajuda a pensar, a compreensão/ A lutar pela vida, viver de verdade”, é visto
que, além de estarem diretamente relacionados com a participação nos Conselhos Locais
de Saúde, de importância já previamente explicitada, é possível fazer o paralelismo com
outros dois conceitos: o de visitas domiciliares e o de Educação Popular em Saúde.
Relativo à visita domiciliar, é importante pontuar a relevância desse instrumento para
oferecer promoção, proteção e recuperação da saúde do indivíduo e da coletividade, em
seu espaço domiciliar, permitindo que os profissionais de saúde, assim, obtenham um
vínculo com a população e um conhecimento verdadeiro acerca dos seus problemas. O
suporte interdisciplinar e multiprofissional exercido propicia grande eficácia com baixo custo.
Com base na escala de risco, para definir a parcela mais vulnerável daquele território, o
Agente Comunitário e uma equipe irá promover acesso à assistência integral necessária.
A Educação em Saúde é definida pelo Ministério da Saúde como: “Conjunto de
práticas do setor que contribui para aumentar a autonomia das pessoas no seu cuidado e
no debate com os profissionais e os gestores a fim de alcançar uma atenção de saúde de
acordo com suas necessidades”. A Educação Popular em Saúde utiliza os saberes
populares e a análise crítica da própria comunidade, aproximando-a da prática de cidadania
tendo como base as reivindicações de quem conhece e vivencia os problemas que
precisam ser resolvidos.
Diante do exposto, a partir da análise da música, foi possível evidenciar a percepção
sobre a Estratégia de Saúde da Família assim como os principais conceitos interligados à
tal. Dessa forma, o estudo desse importante segmento do sistema de saúde público
brasileiro, pôde resultar numa visão completa e indispensável, mediante sua imensa
importância e necessidade de gestão eficiente.
Caroline Nascimento Fernandes
REFERÊNCIAS
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