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TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO Ligia Maria Fonseca Teoria clássica da administração Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer os princípios gerais na visão de Fayol. Relacionar as funções da administração com o papel dos gerentes. Analisar as críticas à teoria clássica da administração. Introdução Henry Fayol é um dos estudiosos mais influentes da teoria e da prática administrativa na sociedade global. Foi ele quem criou o conceito de administração que se estuda hoje. Sua importância ultrapassa a sistema- tização do processo administrativo, uma vez que todos os estudos sobre administração possuem como base as suas ideias. Neste capítulo, você vai estudar os princípios gerais da administração na visão de Fayol. Também vai conhecer as funções administrativas e o papel dos gerentes com relação a elas. Por fim, vai ver as críticas à teoria clássica da administração. Princípios de Fayol O crescimento das indústrias, impulsionado pela Revolução Industrial, tornou os processos organizacionais complexos, exigindo a adoção de técnicas capazes de solucionar os problemas cotidianos. Era preciso entender as organizações e os seus sistemas produtivos para fazê-los funcionar de acordo com a realidade daquela época. Foi assim que surgiram os estudos sobre a administração, que, estruturados e organizados, formaram as teorias da administração (MAXI- MIANO, 2012). Os estudiosos que realizaram as primeiras experiências, criaram as pri- meiras soluções, escreveram e sistematizaram os primeiros conceitos funda- mentais da administração, na transição para o século XX, são chamados de clássicos. Nesse grupo, Frederick Winslow Taylor foi o pioneiro, buscando combater o desperdício; Henry Ford foi o responsável pelo desenvolvimento e pela implantação da linha de montagem; Max Weber iniciou os estudos sobre as organizações e a burocracia; e Henry Fayol buscou explicar o papel dos gerentes e o processo de administrar. Dessa forma, tudo o que você sabe sobre a administração e tudo o que é praticado nas organizações resulta do trabalho dessas pessoas. A esse trabalho deu-se o nome de escola clássica. Veja, no Quadro 1, as principais ideias desses teóricos clássicos. Fonte: Adaptado de Maximiano (2012). Estudioso Principais ideias Taylor Movimento da administração científica; eficiência; combate ao desperdício; tempos e movimentos; racionalização do trabalho; melhor modo de fazer as atividades. Ford Linha de montagem; padronização de produtos, peças e trabalhadores; processo produtivo eficiente. Fayol Administração como processo, com identidade e papel específicos dentro das funções da organização; papel dos gerentes e da direção; diretrizes sobre como administrar. Weber Burocracia como instrumento de autoridade; eficiência da burocracia; tipo ideal de burocracia; organização como máquina burocrática. Quadro 1. Principais ideias dos integrantes da escola clássica Veja que os principais conceitos que embasam a escola clássica são a efici- ência, a organização e os processos produtivos. Essa corrente se desenvolveu na época em que as indústrias modernas estavam surgindo e os fornecedores de produtos como automóveis, energia, iluminação e telefones ainda eram escassos. Com o desenvolvimento e a evolução da sociedade industrial, a demanda aumentou e, consequentemente, a concorrência também. Isso fez com que os administradores buscassem meios para enfrentá-la. Esse período foi chamado por alguns autores de escola neoclássica, marcada pela transição da ênfase na eficiência para a ênfase na competitividade. Teoria clássica da administração2 Fayol é visto como a figura mais importante da perspectiva clássica e é possível encontrar seus estudos em todos os textos universitários sobre administração adotados pelas universidades de grande parte do mundo. Para ele, seu êxito era consequência dos métodos que utilizava e nada mais. Nos últimos anos de sua vida, Fayol trabalhou para mostrar que os bons resulta- dos são decorrentes de planejamento e de métodos adequados de gerência (SOUZA, 2015). Fayol é considerado o pai da administração moderna e seus estudos têm 80% mais aplicação nos dias atuais do que os de Taylor, apesar de ambos serem da mesma época (SILVA, 2013). Foi Fayol quem definiu os princípios gerais da administração. Esses prin- cípios são universais e flexíveis, ou seja, se adaptam a qualquer tempo, lugar ou circunstância, sendo considerados úteis na prática administrativa contem- porânea. A seguir, você pode ver os 14 princípios básicos de Fayol, escritos em 1916 (SILVA, 2013; SOUZA, 2015). Divisão do trabalho: o trabalho deve ser dividido em tarefas especia- lizadas, e as responsabilidades, destinadas a indivíduos específicos. A ideia é garantir atenção e esforço em partes especiais das tarefas. Para Fayol, a especialização do trabalho é a melhor forma de se utilizarem os recursos humanos da organização. Autoridade e responsabilidade: ambas andam juntas e devem estar em equilíbrio, ou seja, quem possui autoridade possui responsabilidade. Para Fayol, autoridade significa o direito de dar ordens e de ser obede- cido; e responsabilidade significa ser confiável, o que é consequência da autoridade. Disciplina: está ligada à obediência, ao esforço, ao comprometimento, ao comportamento e ao respeito às regras. Para Fayol, as punições devem ser aplicadas criteriosamente com a intenção de encorajar o esforço comum. 3Teoria clássica da administração Unidade de comando: os empregados devem receber ordens de apenas um gerente, para evitar mal entendidos, conflitos e contraordens. É o princípio da autoridade única. Unidade de direção: todos os empregados devem trabalhar para o alcance dos objetivos organizacionais, ou seja, todos na organização devem se mover em direção a um objetivo comum. Subordinação do interesse individual ao interesse geral: o interesse geral deve prevalecer em detrimento dos interesses particulares das pessoas. Remuneração: o pagamento aos empregados deve ser justo e o bom desempenho deve ser recompensado, considerando várias formas de pagamento, como tempo, trabalho, nível de produção, etc. Para Fayol, as recompensas não financeiras também devem ser adotadas. Centralização: a importância dos papéis de supervisor e subordinado é relativa. Para Fayol, a centralização diminui a importância do papel dos empregados e a descentralização eleva tal importância. Dessa forma, a adoção do nível de centralização e descentralização depende da cultura de cada organização em que o gerente trabalha. Hierarquia ou cadeia escalar: chamada por Fayol de “linha de autori- dade”, significa a quantidade de autoridade em cada posição hierárquica e também a obrigação do escalão mais baixo de manter os níveis mais altos informados sobre suas atividades, ou seja, de manter a comunicação na cadeia de comando. Ordem: existe um lugar para cada coisa e cada coisa deve estar em seu lugar. Para manter a eficiência e a coordenação, pessoas e materiais devem estar ordenados na mesma localidade, de forma geral na orga- nização. Ou seja, deve haver ordem material e humana. Equidade: o equilíbrio entre disciplina e ordem melhora o comprometi- mento dos empregados. O tratamento igualitário a todos os empregados, a amabilidade e a justiça são essenciais para se conquistar a lealdade das pessoas. Estabilidade e manutenção do empregado no cargo: é necessário manter as pessoas na organização por meio da lealdade, pois a rota- tividade de empregados prejudica a eficiência da organização. Para Fayol, quanto mais tempo os empregados permanecem em seus cargos, melhor é para a empresa. Além disso, reter os mais produtivos deve ser prioridade máxima da administração. Teoria clássica da administração4 Iniciativa: a iniciativa dos empregados deve ser encorajada pelos ad- ministradores, auxiliando a direção da organização. Dessa forma,a iniciativa do trabalhador significa uma atividade nova ou adicional, empreendida por vontade própria. Espírito de equipe: a harmonia, a boa vontade, a união e o espírito de colaboração devem ser estimulados pelos administradores como grandes forças para a organização. Para Fayol, os princípios eram necessários para garantir o bom andamento da organização. No entanto, deveriam ser aplicados de modo condescendente e flexível. Afinal, quando se fala em problemas da administração, nada é rígido ou absoluto. Esses princípios integrariam o modelo ideal de administração de Fayol. Funções da administração e o papel dos gerentes Os estudos de Taylor contribuíram signifi cativamente para o aumento da efi ciência dos processos produtivos no chamado “chão de fábrica”. Suas téc- nicas, métodos e princípios tinham a atenção voltada para a racionalização da produção. Ou seja, Taylor deseja produzir mais, em menor tempo e com menores custos. Frederick W. Taylor é considerado o pai da administração científica. Ele aplicou métodos científicos para solucionar os problemas administrativos da época com a intenção de combater o desperdício nas indústrias e aumentar os níveis de produtividade (MAXIMIANO, 2012; SILVA, 2013). No entanto, para Fayol isso não era suficiente. Então, ele resolveu analisar a administração de forma mais ampla, não se limitando às práticas e aos métodos de trabalho. Ou seja, deixou de lado o foco na eficiência produtiva para focar em questões mais abrangentes da gerência administrativa. Assim, a administração ganhou maior amplitude, tornando-se a principal função de 5Teoria clássica da administração qualquer empresa. Você deve notar ainda que os estudos de Fayol tiveram como base duas questões: como administrar uma empresa e o que seria, na realidade, administração. Seu desafio foi explicitar o campo de atuação e os princípios teóricos básicos da nova ciência da administração, não medindo esforços para descrever precisamente a função e os processos dessa área (SOUZA, 2015). Fayol acreditava que qualquer organização precisava ser administrada e que, além de habilidades técnicas, os administradores necessitavam de habilidades administrativas. Em seus primeiros escritos, já é possível per- ceber a importância dada às habilidades administrativas para o desempenho organizacional. No entanto, Fayol ficava incomodado com o fato de escolas e universidades negligenciarem as habilidades administrativas, focando o ensino apenas nas habilidades técnicas. Ao longo de sua experiência, ele percebeu que alguns administradores teorizavam muito, mas na prática a coisa era diferente: eram muitas as contradições e pouca a reflexão siste- mática (SILVA, 2013). A seguir, você pode ver as qualidades, conhecimentos e experiências necessárias aos administradores segundo Fayol (SILVA, 2013). Qualidades físicas: saúde, energia e bom comportamento. Qualidades mentais: capacidade de aprendizado e de entendimento, julgamento, disposição mental e capacidade de adaptação. Qualidades morais: energia, segurança, iniciativa, responsabilidade, lealdade, dignidade e sensatez. Conhecimento geral: domínio de assuntos gerais, além dos exigidos pela função desempenhada. Conhecimento especial: domínio de assuntos relacionados à função desempenhada — técnica, comercial, financeira, administrativa, etc. Experiência: conjunto de conhecimentos adquiridos no próprio trabalho. Dessa forma, ele deixou registrada a importância desses requisitos para o bom desempenho administrativo, separando em níveis as habilidades técnicas e as administrativas. A administração era considerada por Fayol uma atividade comum a todas as organizações, fossem elas comerciais, religiosas, indus- triais, políticas, etc. Cada uma delas demandava certo grau de planejamento, organização, comando, coordenação e controle. Por isso, ele achava que todos deveriam estudar administração. Assim, criou e divulgou sua própria teoria, iniciando pela divisão da empresa em seis atividades ou funções diferentes, como você pode ver a seguir (MAXIMIANO, 2012; SILVA, 2013). Teoria clássica da administração6 Técnica: relacionada com a transformação e a produção de produtos e serviços. Comercial: relacionada à compra, à venda e à troca. Financeira: relacionada à captação e à utilização eficiente do capital. Segurança: relacionada à proteção da empresa e das pessoas. Contabilidade: relacionada ao registro e ao controle de despesas orga- nizacionais (como inventários, balanços, custos e estatísticas). Administração: relacionada ao planejamento, à organização, ao co- mando, à coordenação e ao controle, integrando todas as operações da organização. Considerada por Fayol a função mais importante da administração. São as funções da administração que constituem o processo administrativo. Veja cada uma delas a seguir (MAXIMIANO, 2012; SILVA, 2013). Planejamento (previsão): avaliação do futuro por meio de um plano de ação e sua execução, a médio e longo prazos. Organização: integração de recursos humanos e materiais para executar o plano de ação. Comando: orientações para manter os empregados em atividade, em toda a empresa. Coordenação: reunião, unificação e harmonização de todas as atividades e esforços. Controle: verificação dos processos conforme o plano de ação. Você sabe o que é um plano de ação? É uma ferramenta de gestão muito utilizada pelas empresas para as funções de planejamento. Nele, são descritas as ações para o alcance do objetivo geral e para o controle da execução das atividades (MAXIMIANO, 2012). Para Fayol, a organização é um sistema racional baseado em regras e autoridade. Sua existência é justificada por fornecer produtos e serviços aos consumidores. Para ele, o trabalho do dirigente é fundamentalmente tomar decisões, estabelecer metas, definir diretrizes e atribuir responsabilidades aos 7Teoria clássica da administração empregados para que as atividades de planejamento, organização, comando, coordenação e controle sigam em sequência lógica. Depois de organizada, a empresa precisa dar ordens aos empregados para que eles saibam o que deve ser feito. As suas ações devem ser coordenadas e as suas atividades devem ser controladas. Segundo Fayol, esse é o papel dos gerentes. Para que eles apresentem desempenho satisfatório, Fayol indicou 16 deveres, como você pode ver a seguir (MAXIMIANO, 2012). Garantir a preparação cuidadosa dos planos de ação e a sua rigorosa execução. Manter a organização humana e material coerente com o objetivo, os recursos e os requisitos da empresa. Estabelecer autoridade competente, enérgica, única e construtiva. Equilibrar e harmonizar atividades e coordenar esforços. Formular decisões de modo simples, claro e preciso. Organizar a seleção eficiente dos recursos humanos. Definir as obrigações de forma clara. Encorajar a iniciativa e o senso de responsabilidade. Recompensar os serviços prestados de forma justa e adequada. Punir erros e faltas. Manter a disciplina. Priorizar o interesse geral em detrimento de interesses pessoais. Manter a unidade de comando. Supervisionar a ordem humana e material. Manter tudo sob controle. Combater regulamentos, burocracia e papelada em excesso. Acesse o link a seguir para ler o artigo A contribuição de Henry Fayol para o desenvolvi- mento de estratégias organizacionais. Nesse texto, você vai ver as principais ideias de Fayol e entender como elas influenciam o gerenciamento contemporâneo. https://goo.gl/32qddq Teoria clássica da administração8 Críticas à teoria clássica da administração A teoria clássica, a partir de Fayol, contribuiu com conhecimentos para a formação das teorias posteriores, principalmente em relação aos seus aspectos mais estruturais. As ideias de Fayol representaram um avanço na forma de administrar e continuam viáveis e aplicáveis atualmente. Mesmo assim, a obra de Fayol não escapoudas críticas das teorias que a sucederam, que apontaram falhas, distorções e lacunas. A seguir, você pode ver as principais críticas recebidas por Fayol (SOUZA, 2015). Abordagem simplista da organização formal: a organização é conside- rada em termos lógicos, rígidos e abstratos. Seu conteúdo psicológico e social não recebe o destaque merecido. Ausência de trabalhos experimentais: a teoria clássica elaborou uma ciência da administração visando a estudá-la e tratá-la, deixando de lado o empirismo e a improvisação e adotando técnicas científicas. No entanto, os conceitos básicos dos autores clássicos têm fundamentos na observação e no senso comum. Extremo racionalismo na concepção da administração: as proposições são apresentadas de forma racional e lógica, o que inibe a clareza das ideias. Teoria da máquina: a organização é vista como uma máquina na qual determinadas ações ou causas são consequências de determinados efeitos. Abordagem incompleta da organização: há preocupação com a organi- zação formal, desconsiderando a organização informal. Ou seja, existe foco exagerado na forma e na ênfase da estrutura organizacional formal. Abordagem de sistema fechado: Fayol trata a organização como se fosse um sistema fechado, constituído por variáveis previsíveis e por alguns aspectos manipuláveis por meio dos princípios gerais e universais. Como você pode notar, os críticos apontam que, para a teoria clássica, as organizações não mantêm relações com o meio em que estão inseridas. Além disso, eles afirmam que os princípios desenvolvidos por essa teoria buscam explorar os trabalhadores e as chefias com obsessão pelo comando. O crítico mais ilustre de Fayol foi Lyndall Urwick. Ele acreditava que, para que o trabalho administrativo pudesse ser especializado, a organização deveria limitar seus estudos à própria estrutura, o que inclui órgãos e ativi- dades executadas, métodos de execução dessas atividades e sua interligação e inter-relacionamento (SILVA, 2013). 9Teoria clássica da administração Apesar de tantas críticas, Fayol ofereceu contribuições importantes para a administração. Ele construiu sua teoria administrativa, inovadora para a sua época, impulsionado pelo desejo de entender o que era a administração e como era preciso administrar. Suas ideias são estudadas até hoje em escolas e universidades do mundo todo. MAXIMIANO, A. C. A. Teoria geral da administração: da revolução urbana à revolução digital. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2012. SILVA, R. O. Teorias da administração. 3. ed. São Paulo: Pearson, 2013. SOUZA, H. Teoria geral da administração. Rio de Janeiro: SESES, 2015. Leitura recomendada SOUZA, E. M. A contribuição de Henri Fayol para o desenvolvimento de estratégias or- ganizacionais. 2009. 121 f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Faculdade de Ciências Empresariais, Universidade FUMEC, Belo Horizonte, 2009. Teoria clássica da administração10 Conteúdo:
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