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Aula 1 - Processo Saúde Doença e Determinantes Sociais de Saúde

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Gabrielle Assis dos Santos
Relatório Fisioterapia Preventiva e Saúde Coletiva
Processo Saúde e Doença e Determinantes Sociais de Saúde
O conceito de saúde reflete de forma individual a conjuntura social, econômica, política e cultural, ou seja, não representa a mesma coisa para todas as pessoas. Dependerá da época, lugar, classe social, valores individuais, concepções científicas, religiosas e filosóficas. O mesmo vale para as doenças. 
Pode-se entender a saúde de diversas maneiras, mas quando se deseja vê-la como res coletiva, a porta de entrada é mais ampla do que se costuma pensar, envolvendo o plano legal, o econômico, o administrativo, o biológico/epidemiológico, o factual/ informativo, o social, o histórico, o filosófico (1). 
A história do Conceito de Saúde, nem sempre foi a mesma. Atualmente baseia-se em evidências científicas, mas ao longo da história esse conhecimento passou por mudanças, já que na antiguidade a doença era vista por muitos como pecado, um castigo divino e como superstições. 
Antigamente, a definição mais utilizada para classificar o termo saúde era ‘ausência de doença’, uma visão restritiva, puramente biológica e médica. Segundo Boorse (1975), o conceito teórico de doença [...] se aplica indiferentemente a organismos de todas as espécies, [por isso] tal conceito deve ser analisado em termos biológicos mais do que em termos éticos (2). Doença seria, por conseguinte, o termo de referência pelo qual a saúde poderia ser negativamente definida, como um conceito teórico totalmente livre de valores. 
A doença, principalmente a transmissível, é um antigo acompanhante da espécie humana, como o revelam pesquisas paleontológicas. Assim, múmias egípcias apresentam sinais de doença, como a varíola do faraó Ramsés V. Desde muito cedo a Humanidade tem se empenhado em enfrentar essa ameaça, e de várias formas, baseadas em diferentes conceitos do que vem a ser a doença (e a saúde). Assim, a concepção mágico–religiosa partia, e parte, do princípio de que a doença resulta da ação de forças alheias ao organismo que neste se introduzem por causa do pecado ou de maldição (3). 
A Organização Mundial da Saúde, em 1946, definiu como não apenas ausência da doença, mas como à situação de perfeito bem estar físico, mental e social. Em concordância, acredito que saúde seja bem mais que apenas um corpo fisicamente saudável, mas sim, um equilíbrio desse com uma situação psicológica estável e socioambiental digna, num ambiente seguro, com um acesso a alimentação balanceada, ao laser, a pratica de atividade física e boas relações sociais, ou seja, um conjunto de fatores que levam a condição de saúde. 
Com o passar das décadas, e o aumento do conhecimento e das pesquisas, entende-se que as doenças ocorrem pelo tipo de germe ou do contágio, a fase microbiológica. Nesta etapa, se deu enfoque no viés biológico, deixando de lado o social e político. Assim, a doença passa a ser explicada pelo contágio com os microrganismo, o que leva ao Modelo Biomédico Unicausal, onde basta haver um agente e hospedeiro, que haveria um contágio. 
Entretanto, os danos à saúde não dependem apenas do indivíduo e do vetor, mas sim, que os danos podem ter múltiplas causas, passando a reconhecer características sociais ou relacionadas ao indivíduo, interferindo assim na forma de como se adoece e na repercussão da doença, passando então para o modelo Multicausal. Porém, esse não é suficiente para explicar o processo de adoecimento, pois embora se reconheça a existência de aspectos sociais envolvidos no processo saúde-doença, estes são subordinados aos aspectos biológicos. 
Reconhecemos que as condições ambientais, sociais e econômicas são determinantes no processo de saúde e doença. Cada pessoa desenvolve e envelhece de uma forma diferente, sendo impossível comparar aqueles com oportunidades diversas, e aqueles que não tem as mesmas condições. Assim, a relação saúde e doença passa a ser predominante entendida como um processo social, devido as desigualdades sociais, e os determinantes comportamentais e sociais. 
Fazendo um paralelo com a pandemia, sabemos que parte da população não possui recursos suficientes para se proteger ou evitar um possível contágio, pois muitos precisam fazer o uso do transporte coletivo, ou seja, aglomerados de pessoas que infelizmente não tem outros meios de se locomover, além do tipo de emprego que o indivíduo tem, ao acesso a materiais de higienização e ao conhecimento amplo de como prevenir a contaminação. 
Tratar do avanço das desigualdades no contexto brasileiro é falar sobre o recrudescimento da pobreza no país, tornando mais evidentes as diferenças de renda, gênero, raça/etnia, bem como as diferenças regionais. O Brasil é considerado como um dos países que mais concentra renda no topo da pirâmide social. Num país com mais de 200 milhões de pessoas, os 10% mais ricos estão entre aqueles que ganham mais de dez salários mínimos (4).
Tomando como referência uma perspectiva ampliada de saúde, o SUS enfatiza as repercussões do contexto social e histórico na saúde da população. Ao determinar a saúde como “direito de todos e dever do Estado”, a Constituição de 1988 explicita a conquista da saúde por meio dos fatores determinantes e condicionantes, como mediante a necessidade de garantir “às pessoas e à coletividade condições de bem-estar físico, mental e social” (5).
Outro ponto para darmos atenção são as doenças negligenciadas, aquelas causadas por agente infecciosos ou parasitas, consideradas endêmicas em populações de baixa renda. Essas apresentam indicadores inaceitáveis e investimentos reduzidos em pesquisas, produção de medicamento e em seu controle. As medidas preventivas e o tratamento para algumas dessas moléstias são conhecidos, mas não são disponíveis universalmente nas áreas pobres do mundo, e em alguns casos, o tratamento é relativamente barato. As doenças negligenciadas clássicas no Brasil são chagas, dengue, malária, leishmaniose, febre amarela, tuberculose e hanseníase, todas geralmente relacionadas a pobreza e condições precárias do ambiente. 
O surto do vírus da zika no Brasil em 2016, revelou uma profunda desigualdade quando se trata de quem arca com a maior parte do fardo de viver entre os insetos. O Brasil fez avanços significativos no combate à desigualdade na última década, retirando cerca de 40 milhões de pessoas da pobreza. Mas décadas de urbanização rápida e caótica no deixaram muitas áreas pobres sem saneamento básico, expondo os pobres a um risco maior de contrair doenças. Cerca de 35 milhões de brasileiros não têm água encanada, mais de 100 milhões não têm acesso a esgoto e mais de 8 milhões de habitantes de cidades vivem em áreas sem coleta de lixo regular, de acordo com o censo mais recente, de 2010(4). Assim podemos concluir que por mais que a doença atinja pobres e ricos, aqueles que tem menos acesso a saneamento, informações e recursos para tratamento, são os que mais sofrem com as ondas de doenças no Brasil, e no mundo. 
Referências
(1) LEFRÈVE, Fernando. A Saúde como fato coletivo. São Paulo. 1999. 
(2) Boorse C 1975. On the distinction between disease and illness. Philosophy and Public Affairs 5:49-68.
(3) SCLIAR, Moacyr. História do conceito de saúde. Physis , Rio de Janeiro, v. 17, n. 1, pág. 29-41, abril de 2007. 
(4) Oxfam Brasil. País estagnado:um retrato das desigualdades brasileiras São Paulo: Oxfam Brasil; 2018.
(5) Reuters. Desigualdade em infraestrutura é catalisadora do surto de zika no Brasil. Portal G1 Notícias.16 Mar. 2016.
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