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WB Última atualização app: 10/02/2021 Câncer de Endométrio Introdução: As mulheres têm um risco de 2,5% de desenvolver carcinoma endometrial ao longo da vida. Felizmente, a maioria dos casos são diagnosticados em um estágio inicial, quando a cirurgia por si só pode ser adequada para a cura. As taxas de sobrevivência de cinco anos para doença localizada, regional e metastática são de 96%, 67% e 17%, respectivamente. Histopatologia Tipo I: É o tipo de neoplasia endometrial mais frequente, compreendendo cerca de 80% dos casos, sendo o tipo endometrióide (grau 1 e 2) principal. Geralmente, acomete mulheres mais jovens, na perimenopausa, com história de exposição estrogênica sem oposição de progesterona. Possuem um prognóstico favorável, são estrogênio-responsivos e podem ser precedidos por uma neoplasia intraepitelial (hiperplasia endometrial atípica e/ou complexa). Tipo II: São responsáveis por 10-20% dos carcinomas de endométrio. Eles incluem tumores endometrióides de grau 3 (77%), bem como tumores de histologia não endometrióide, como células claras (2%), serosos (7%), mucinosos (1%), escamosos, células transicionais, mesonéfricos e indiferenciados. Acomete principalmente mulheres magras, mais velhas, na pós-menopausa. Origina-se a partir do endométrio atrófico e apresentam um pior prognóstico. Apresentação Clínica Anamnese Epidemiologia: Nos países desenvolvidos, é o câncer ginecológico mais comum, e em países em desenvolvimento, perde para câncer de colo uterino em incidência. Estima-se 60 mil novos casos com 10 mil mortes ao ano nos EUA. No Brasil, estima-se 6,34 casos a cada 100 mil mulheres. A idade mediana ao diagnóstico é de 62 anos, e mais de 90% dos casos ocorrem em mulheres maiores de 50 anos de idade. Quadro clínico: Sangramento uterino anormal (75-90% dos casos). Merecem investigação endometrial: ● Qualquer sangramento uterino na pós-menopausa (20% têm câncer de endométrio); ● 45 anos até a menopausa: qualquer sangramento uterino anormal; ● < 45 anos: sangramento uterino anormal persistente que ocorre em situação de estímulo estrogênico sem contraposição da progesterona (anovulação, obesidade) ou em mulheres com maior risco de carcinoma endometrial. Ao diagnóstico, 67% das mulheres se apresentam com doença confinada ao útero, 21% com disseminação locorregional e 8% com metástases à distância. Fatores de risco: ● Tipo I: Excesso de estrogênio endógeno como, por exemplo, terapia de reposição hormonal, obesidade, ciclos menstruais não ovulatórios, menarca precoce e menopausa tardia, tumores secretores de estrogênio (ex.: tumores de células granulosa de ovário), nuliparidade; ● Tipo II: Idade avançada, obesidade, multiparidade, raça negra, história pessoal de câncer de mama, presença de BRCA1 (para subtipo seroso). Exame Físico Deve ser realizado exame físico completo, incluindo exames ginecológico e retal. Tentar acessar tamanho e mobilidade do útero, qualquer tipo de massa extrauterina, presença de ascite, palpação de linfonodos. - Achados em citologia cervical: Adenocarcinoma, atipia de células glandulares e presença de células endometriais merecem investigação do endométrio. - Achados incidentais em imagem: Espessamento endometrial (> 4-5 mm em mulheres na pós-menopausa). - Achado incidental na histerectomia: Achado histopatológico de carcinoma após cirurgia por doença benigna. Abordagem Diagnóstica Normalmente, o primeiro exame solicitado é a USG TV. Com a US, é possível medir a espessura do endométrio (o normal é < 4 mm). Em caso de endométrio espessado, pólipos ou lesões suspeitas, deve-se proceder com histeroscopia. O diagnóstico vem com a biópsia da área suspeita. Sempre dosar o marcador CA 125 ao diagnóstico. Em casos de doença metastática, pode-se fazer biópsia do sítio de mais fácil acesso. Ao diagnóstico, é importante perguntar ativamente sobre história familiar, a fim de identificar pacientes de risco para síndromes hereditárias. O diagnóstico definitivo é histológico, podendo ser através de biópsia do endométrio, curetagem endometrial ou espécime de histerectomia. Rastreio Não existe screening na população geral, porém, em pacientes com síndrome de Lynch, deve-se realizar rastreio com USG TV e biópsias anuais a partir de 30-35 anos ou 5-10 anos antes do primeiro caso de câncer da família. Pacientes em uso de tamoxifeno não precisam de screening, mas devem ser rotineiramente questionados sobre sangramento uterino anormal. Estadiamento (Cirúrgico) ● TNM – Tumor primário (T): TX: Tumor primário não pôde ser avaliado; T0: Sem evidência de tumor primário; T1 (FIGO I): Tumor confinado ao corpo uterino, incluindo envolvimento glandular endocervical: - T1a (FIGO IA): Tumor limitado ao endométrio ou que invade menos da metade do miométrio; - T1b (FIGO IB): Tumor invade a metade ou mais do miométrio; T2 (FIGO II): Tumor invade o tecido conjuntivo estromal do colo, mas não se estende através do útero, não havendo envolvimento glandular endocervical; T3 (FIGO III): Tumor envolve serosa, anexos, vagina ou paramétrio; T3a (IIIA): Tumor envolve serosa e/ou anexos (por extensão direta ou metástase); T3b (IIIB): Envolvimento de vagina (por extensão direta ou metástase) ou paramétrio; T4a (IVA): Tumor envolve a mucosa da bexiga e/ou do intestino. A presença de edema bolhoso não é suficiente para classificar um tumor como T4. ● TNM - Linfonodos regionais (N): Nx: Linfonodos regionais não podem ser avaliados; N0: Sem evidência de metástase em linfonodo regional, células tumorais isoladas em linfonodos regionais não são superiores a 0,2 mm; N1 (FIGO IIIC1): Metástase de linfonodo regional para linfonodo pélvico; N2 (FIGO IIIC2): Metástase de linfonodo regional para linfonodo para aórtico (com ou sem linfonodo pélvico). ● TNM – Metástases à distância (M): M0: Sem evidência de metástase à distância; M1: Presença de metástases à distância. ● FIGO IVB: Metástases à distância (incluindo doença intraperitoneal com metástase para linfonodo inguinal, ou pulmão, fígado ou osso). Abordagem Terapêutica A histerectomia extrafascial total com salpingo-ooforectomia bilateral e dissecção de linfonodos pélvicos e para-aórticos (laparotômica ou laparoscópica) é o procedimento padrão para o carcinoma endometrial. Citorredução muitas vezes é realizada quando as metástases são evidentes. O estadiamento é normalmente realizado através de uma via minimamente invasiva, como a laparoscopia robótica assistida ou laparoscopia convencional. Mulheres com carcinoma endometrial estágio IA grau 1 que desejam preservar a fertilidade podem optar por evitar a histerectomia e submeter-se à terapia com progesterona, mas a vigilância ideal dessas mulheres não é conhecida e elas estão sob risco de recidiva ou doença sincrônica. A recomendação é que essas mulheres se submetam à cirurgia após a conclusão da gravidez. Terapia Adjuvante Decisão baseada em fatores clí nico-patológicos (ex.: grau, tamanho do tumor e idade do paciente). Outros fatores também podem afetar a decisão (ex.: menor envolvimento segmento uterino, citologia peritoneal positiva). Risco baixo: EC IA confinado ao endométrio + graus 1 e 2 + histologia endometrioide. Risco intermediário: Subdivido entre maior ou menor risco: ● Maior risco: IA com invasão de miométrio, IB ou II; graus 2 ou 3; IAL + (avaliar idade; é alto risco se qualquer idade com 3 fatores de risco, 50-69 anos com 2 fatores de risco, > 70 anos com 1 fator de risco); ● Menor risco: todos casos que não maior risco. Risco alto: EC III ou IV, independente do grau ou histologias, seroso e células claras, independente do EC. Tumores de Baixo Risco Não há necessidade de linfadenectomia pélvica ou para-aórtica, nem de adjuvância. Tumores de Alto Risco Deve-se fazer linfadenectomia e adjuvância com QT e RDT. Normalmente, oferece-se seis ciclos de Carboplatina AUC 5 e Paclitaxel 175 mg/m² a cada 3 semanas, seguido de RDT externa (+/- braquiterapia). Não é comum fazer QRT, pois não há ganho em sobrevida e está associado a maior toxicidade. Tumores Metastáticos/ Irressecáveis Frente a uma doença avançada, devemos avaliar a extensão da doença, sintomas, tratamentos prévios e estudar no tumor a presença de receptores hormonais (estrogênio e progesterona) e instabilidade de microssatélites, entre outras alterações moleculares. No geral, o tratamento é feito com quimioterapia. Esquemas com poliquimioterapia estão associados a maiores taxas de resposta do que monoterapia. Normalmente, se a paciente tem performance suficiente para aguentar, é oferecido esquema com platina. O mais utilizado é Carboplatina e Paclitaxel. Quando há expressão de receptores, pode-se oferecer tratamento hormonal, como Acetato de megestrol (sequenciado ou não ao Tamoxifeno). Porém, a taxa de resposta é menor do que a da quimioterapia. Na segunda linha, diversos agentes se mostraram ativos, porém o prognóstico é ruim com uma sobrevida muitas vezes menor que um ano. Pode-se oferecer Doxorrubicina, Gencitabina, Ifosfamida, entre outros. A imunoterapia tem seu papel no tratamento de tumores com instabilidade de microssatélites. Altas taxas de respostas foram reportadas, inclusive com relatos de resposta completa e ganho em sobrevida em estudos fase II. Isso torna mandatória a pesquisa de instabilidade de microssatélites no cenário metastático.
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