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DEFINIÇÃO Identificação dos instrumentos úteis ao desenvolvimento da pesquisa. Características dos trabalhos acadêmicos mais recorrentemente utilizados. Estruturação e componentes do artigo científico. Características específicas dos trabalhos de conclusão: monografias, dissertações e teses. PROPÓSITO Compreender os diferentes tipos de trabalhos acadêmicos, com suas características comuns e nuances, bem como quando se espera que cada um seja utilizado no decorrer de uma pesquisa, algo fundamental para o desenvolvimento do pesquisador. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar os conceitos e as funções do fichamento, do resumo e das resenhas acadêmicas MÓDULO 2 Reconhecer os artigos científicos por meio de sua estrutura e de seus conteúdos MÓDULO 3 Identificar as expectativas com relação às monografias, dissertações e teses com base em suas definições INTRODUÇÃO O mundo acadêmico pode ser caracterizado pela produção de conhecimento, mas não qualquer um: o saber elaborado neste meio demanda metodologias, regras e critérios bem definidos. Chamamos tal saber de conhecimento científico e podemos apontar, pelo menos, duas aplicações para ele. Por um lado, o conhecimento científico contribui para o desenvolvimento da sociedade como um todo, seja na esfera social, seja nas esferas econômica, cultural etc. Assim, sua contribuição vai desde a análise dos problemas que afetam a sociedade até o desenvolvimento de produtos que possam melhorar a qualidade de vida da população, como as vacinas, por exemplo. Por outro lado, o conhecimento científico serve de base para sua própria renovação dentro da comunidade acadêmica, o que, por sua vez, levará à reprodução do processo de criação de novos conhecimentos. É para esta segunda aplicação que voltaremos nossas atenções a partir de agora. NO ENTANTO, DE QUE MANEIRA PODEMOS ATESTAR A CONFIABILIDADE DO CONHECIMENTO GERADO A PARTIR DA EXECUÇÃO DE UMA PESQUISA? De acordo com Mueller (2000), essa confiança provém da divulgação dos resultados obtidos e de sua aprovação por outros acadêmicos da área, ou seja, os chamados “pares”. Somente assim, determinado estudo passa a usufruir do status de saber confiável. O processo pelo qual as conclusões de uma pesquisa passam até serem consideradas aceitáveis pela comunidade acadêmica é chamado de sistema de comunicação científica. A capacidade de redigir trabalhos acadêmicos segundo esse sistema é uma das competências que se espera do pesquisador. Porém, como veremos a seguir, os trabalhos não são iguais. Não são produzidos da mesma maneira, nem com as mesmas finalidades, embora seja comum se inter-relacionarem. MÓDULO 1 Identificar os conceitos e as funções do fichamento, do resumo e das resenhas acadêmicas Autor: fizkes / Fonte: Shutterstock FICHAMENTO Múltiplo e bastante diversificado, o fichamento pode ser de várias modalidades. É possível que esteja voltado à reunião apenas de citações presentes em um texto ou ser redigido exclusivamente para reunir comentários realizados pelo pesquisador, por exemplo. Igualmente, o pesquisador é capaz de produzir fichas temáticas. Assim, é possível juntar, em somente um documento, as posições de diversos autores sobre determinado tema. Contudo, voltaremos nossas atenções para o tipo mais comumente utilizado, conhecido como fichamento de leitura. O fichamento é um instrumento de grande valia para o desenvolvimento de uma pesquisa. Ele é ainda mais útil quando se tem por objetivo produzir um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC): monografia, dissertação ou tese. Afinal, a pesquisa, seja ela da área do conhecimento que for, demanda do investigador o conhecimento sobre a bibliografia produzida acerca do assunto estudado. Todo trabalho acadêmico conta, em algum momento, com uma revisão bibliográfica. É um item obrigatório por demonstrar, em linhas gerais, o que já foi produzido sobre determinado assunto, destacando, assim, que a pesquisa desenvolvida é necessária. Apenas com conhecimento do que já foi produzido, dá para perceber lacunas e realizar uma investigação com perspectiva original. Porém, a contribuição do fichamento não termina aí. Ele também auxilia com os referenciais teóricos e as metodologias. Enfim, praticamente tudo o que é lido e útil para o trabalho a ser realizado pode ser fichado. A necessidade de se elaborar fichas vem, por um lado, da quantidade de artigos, livros, trabalhos de conclusão etc. reunidos em um levantamento bibliográfico que o estudioso se vê compelido a ler. Nesse sentido, o fichamento acaba sendo uma consequência que preserva o tempo do estudioso (MEDEIROS, 2006), uma vez que não precisa ficar retornando ao texto completo a todo momento. Por outro lado, o fichamento surge da corriqueira demanda pela consulta a obras guardadas em bibliotecas ou arquivos. Eco (2007) afirma que o cenário ideal seria aquele onde teríamos todas as obras que precisássemos ao longo do desenvolvimento de um trabalho dentro de casa, mas esta não é a realidade. Em alguns casos – ou mesmo em muitos, dependendo da investigação realizada –, javascript:void(0) as obras sequer podem ser emprestadas. Em tais circunstâncias, o fichamento funciona como uma espécie de substituto para o texto cujo acesso não é tão fácil. De maneira sucinta, essa ferramenta pode ser compreendida como uma compilação dos tópicos importantes de determinado texto. Os benefícios decorrentes de sua prática são vários. Ao fichar um trabalho acadêmico, o pesquisador consegue reunir em um único documento – cujo tamanho é sensivelmente menor que o original – informações que, espera-se, serão úteis a ele ao longo de toda a pesquisa. Além de identificar a obra fichada e sintetizar seu conteúdo, esses dados podem englobar citações, análises, comentários ou críticas, por exemplo (GIL, 2002; MARCONI; LAKATOS, 2017). Assim, segundo Lima (2015), os efeitos práticos de tal iniciativa são: evitar releituras de textos já lidos – e fichados –, bem como facilitar a subsequente utilização das informações em um trabalho escrito. Por essas razões, Eco (2007) considera a prática do fichamento indispensável ao ofício da investigação acadêmica. A construção – “como fazer” –, porém, é diversificada. Isso é assim porque não há uma maneira única de elaborar um fichamento. O que podemos constatar é que alguns componentes são mais mencionados pelos autores que se ocuparam do assunto e, por isso, podem ser tratados como itens obrigatórios. LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO Material reunido pelo investigador que serve de base para o estudo que está sendo realizado Nesse sentido, Hühne (1995 apud LIMA, 2015) propõe um modelo “compacto” de fichamento, composto por cinco itens básicos: 01 02 03 04 05 01 Referência bibliográfica do texto a ser fichado. 02 Resumo indicativo. 03 Citações consideradas mais importantes para a pesquisa. 04 Comentários ou críticas. 05 Ideias ou problemas deixados em aberto no texto. Desses cinco quesitos, os três primeiros precisam, necessariamente, estar presentes: referência bibliográfica, resumo e citações. A ausência de algum desses elementos acarretaria a descaracterização do fichamento. Cabe, portanto, algumas palavras sobre tais itens. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA A referência bibliográfica é o primeiro ponto a ser registrado no fichamento. Ela tem uma dupla serventia: por um lado, identifica a ficha (a que obra ela se dedica); por outro, antecipa a necessidade futura que o pesquisador terá de produzir a listagem com as referências utilizadas em seus trabalhos acadêmicos. Por isso, como enfatiza Hühne (1995 apud LIMA, 2015), as referências devem ser feitas de acordo com a norma NBR 6023 (ABNT, 2018). RESUMO O segundo tópico obrigatório é o resumo. Apesar de Hühne (1995 apud LIMA, 2015) apontar o tipo indicativo, Lima (2015) defende que o quesito seja uma escolha de quem está fichando. Como veremos no próximo item, o resumo (indicativo ou informativo) deve apresentar concisamente: As ideias do autor daobra. O objeto. A metodologia. Os critérios. As conclusões alcançadas. O pesquisador decidirá como cada aspecto será tratado. Não podemos esquecer que o fichamento é um instrumento auxiliar da pesquisa. Portanto, é de uso eminentemente pessoal. CITAÇÃO O terceiro elemento que não pode faltar, segundo Lima (2015), é a citação, que deve ser produzida de acordo com a norma NBR 10520 (ABNT, 2002). Neste momento, transcrevemos para o fichamento aqueles trechos que julgamos ser fundamentais para a compreensão das ideias do autor apresentadas em um texto acadêmico. RESUMO O resumo é, provavelmente, a modalidade mais disseminada dentre aquelas que compõem o gênero textual acadêmico. Ele se faz presente desde o começo da trajetória do pesquisador e nunca mais o abandona. O resumo pode ser realizado para: 01 A apresentação de uma comunicação em algum congresso – as inscrições costumam, quase em sua totalidade, cobrar um resumo do que será apresentado. 02 A redação de um artigo científico – a maioria dos periódicos científicos exige do autor um resumo sobre o texto encaminhado. 03 A produção de um trabalho de conclusão – em que o resumo também é um componente obrigatório. A presença praticamente universal do resumo, em consequência da demanda por seu emprego, encontra explicação naquele que é seu objetivo final: proporcionar, em poucas palavras, uma visão ampla e suficientemente informativa sobre o conteúdo da obra resumida. Há duas formas de se alcançar esse objetivo nos seguintes textos: TEXTO DE PRÓPRIA AUTORIA Nestes casos, somos impelidos a sintetizar as informações que são mais comumente exigidas em um trabalho acadêmico. Em outras palavras, tratando-se do resumo de um texto pertencente ao gênero acadêmico, espera-se que ele informe determinada gama de aspectos. Nesse sentido, Medeiros (2006) e Severino (2002) destacam alguns dos itens que costumeiramente são esperados, já mencionados antes, como: objeto tratado, objetivo(s), metodologia(s), critérios adotados e conclusões alcançadas. O resumo precisa ser capaz de proporcionar ao leitor subsídios para que este decida se vale a pena ou não ler o texto completo. TEXTO DE AUTORIA ALHEIA Aqui, embora o objetivo final seja o mesmo, o resumo é, primordialmente, um esforço de leitura e interpretação feito sobre outro trabalho. Trata-se da “apresentação concisa e, frequentemente, seletiva do texto, destacando-se os elementos de maior interesse e importância, isto é, as principais ideias do autor da obra” (MARCONI; LAKATOS, 2017, p. 74). Severino (2002, p. 131) afirma que o “resumo do texto é, na realidade, uma síntese das ideias, e não das palavras do texto”. Em outros termos, resumir é fazer uma exposição concisa e seletiva das ideias presentes em determinado texto. Assim, para além daqueles itens destacados anteriormente, Medeiros (2006) acrescenta a necessidade de o resumo também apresentar a articulação de ideias, isto é, como elas são dispostas e conectadas dentro do texto. Esse tipo de resumo é mais comum de ser feito quando produzimos uma resenha, como veremos no próximo tópico. Podemos perceber, portanto, que a redação de um resumo não é tarefa das mais fáceis. Visando facilitar esse procedimento, várias iniciativas foram e vêm sendo adotadas. Estas visam, sobretudo, padronizar a maneira de redigir um resumo. Nesse sentido, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) elaborou, em 2003, uma norma voltada exclusivamente para o resumo: a NBR 6028. Em linhas gerais, essa norma define resumo como “apresentação concisa dos pontos relevantes de um documento” (ABNT, 2003b, p. 1) e o classifica em três tipos: indicativo, informativo e crítico. Cada um deles representa um grau de aprofundamento. Além disso, a referida norma ocupa-se, ainda, em indicar algumas orientações – chamadas de regras gerais de apresentação – sobre a construção do resumo. Por fim, determina os tamanhos: 01 02 01 Resumos de artigos científicos – de 100 a 250 palavras. 02 Resumos de trabalhos de conclusão e de relatórios técnico-científicos – de 150 a 500 palavras Essa norma tem servido de base para as reflexões de diversos autores interessados na temática. Por exemplo, Marconi e Lakatos (2017) apontam que os resumos chamados de indicativos são aqueles que se referem apenas às partes principais do texto, descrevendo sua natureza, forma e finalidade. Esses resumos não dispensam a consulta ao texto completo. Outra maneira de mencionar esse tipo é intitulando-o resumo descritivo. Com relação ao resumo informativo, Pereira (2013) pondera que sua aparência lembra a de um pequeno trabalho, e que sua apresentação pode ser estruturada ou não estruturada. Ambas possuem o mesmo conteúdo, variando apenas na forma. Autor: Dmitry Dorodniy / Fonte: Shutterstock No primeiro caso (apresentação estruturada), o resumo é constituído de partes precedidas por subtítulos, que costumam ser designados, de modo padronizado, pelo veículo de publicação – os periódicos científicos são os mais comuns – e remetem, quase sempre, àqueles aspectos esperados de um resumo de texto do gênero acadêmico: objetivo(s), metodologia(s), conclusões etc. No segundo caso (apresentação não estruturada), todas as informações são dispostas em texto corrido.