Prévia do material em texto
Bruna Argolo OSTEOPOROSE • Doença esquelética silenciosa caracterizada por resistência óssea comprometida, predispondo um risco aumentado de fraturas. • Resistencia óssea reflete a integração de dois fatores: densidade óssea (g/cm³) e qualidade óssea. • Nem sempre ter uma boa densidade óssea significa ter uma boa qualidade óssea. • É fator de risco para fraturas. Ao tratar a osteoporose, o maior objetivo é prevenir fratura, e esse tratamento deve englobar qualidade e densidade óssea. • É a desordem esquelética mais comum, caracterizada pelo comprometimento da resistência óssea, predispondo fraturas. • Regiões mais precocemente atingidas: ossos trabeculares – vértebras dorsais e lombares – região distal do rádio (Colles). - Osso trabecular é um osso mais poroso, mais metabolicamente ativo, enquanto o osso cortical é mais endurecido e com menor metabolização. - Vale lembrar que o osso é um tecido muito ativo, tendo, em média, 20% do osso sendo renovado anualmente. • As mulheres são mais propensas, principalmente após a menopausa (devido a relação com o estrogênio). • Alta morbidade, redução da independência. • Mortalidade de 20% após fratura de quadril. TECIDO ÓSSEO: • Tecido especializado em constante renovação/remodelação. • Pico massa óssea – nascimento até 3ª década de vida. - Em um momento da vida todo mundo começa a perder osso, e o risco de desenvolver osteoporose relaciona- se a quanto de massa óssea a gente ganhou no período de ganho (pico de massa óssea até a 3ª década de vida). Então, é importante se cuidar nesse período, evitando, por exemplo, dietas muito restritivas, que podem levar a um pico de massa óssea menor, levando a uma maior chance de desenvolver osteoporose. • Fatores que influenciam: raciais, genéticos, nutricionais, hormonais, atividade física. FISIOLOGIA: • Osso cortical: camada externa. • Osso esponjoso ou trabecular: camada interna – interior dos ossos longos e esqueleto axial. • Por que a mulher desenvolve osteoporose mais cedo? Porque um dos fatores de risco para desenvolver a osteoporose é a queda do estrogênio. A falta de estrogênio vai inicialmente atuar no osso trabecular e posteriormente também no cortical. • Osteoblastos: células responsáveis pela formação do osso. • Osteoclastos: células responsáveis pela destruição do osso. • A renovação do osso começa com a ação do osteoclasto, que destrói a massa óssea e estimula o osteoblasto a formar o osso. Bruna Argolo • A densidade é uma das coisas responsáveis pela força óssea, mas temos que pensar também na qualidade óssea, que envolve a microarquitetura, o turnover ósseo, a mineralização e a celularidade. • Para a fisiopatologia do osso, é necessária uma ação sincrônica entre osteoblastos e osteoclastos. Os níveis de cálcio e de vitamina D também são essenciais nesse processo. CAUSAS DE OSTEOPOROSE: • Primária: - Tipo I: pós menopausa –> alta reabsorção óssea. - Tipo II: senil –> diminuição da atividade osteoblastica. • Secundária: - Medicamentos: corticoides, heparina, lítio, antirretrovirais, antivirais, diuréticos, L tiroxina (em excesso). OBS: Lembrando que o aumento do risco de osteoporose com o uso desses medicamentos se relaciona ao uso crônico, e não ao uso agudo. - Endócrinas: hipertireoidismo, síndrome de Cushing (aumento da produção do corticoide endógeno), hiperparatireoidismo (aumento do hormônio da paratireoide – PTH), hipogonadismo. OBS: O PTH (paratormônio) tem como uma de suas funções tirar o cálcio do osso, normalizando a calcemia. Então, o hiperparatireoidismo faz com que o cálcio do osso esteja sendo removido em excesso, não tendo cálcio para formar osso e manter a renovação. O hiperparatireoidismo pode ser por tumor de paratireoide ou por hipertrofia da glândula. OBS: A cirurgia bariátrica é um fator de risco para a osteoporose, porque como no geral ela é desabsortiva, não absorve adequadamente o cálcio, fazendo com que a paratireoide libere mais PTH, o que pode favorecer esse desenvolvimento da osteoporose. - Metástases ósseas de câncer. • As causas primarias são a maioria em osteoporose. • Geralmente, quando a osteoporose acontece antes dos 50 anos, isso é resultado de uma causa secundária. • Uma das principais caudas de osteoporose secundaria é o uso de corticoides. PICO DE MASSA ÓSSEA: • Todos nós temos um ganho de massa óssea até um pico e, posteriormente, essa massa óssea começa a cair. Bruna Argolo • Se por uma síndrome desabsortiva, por uma dieta inadequada, ou por algum outro motivo, a pessoa chega aos 30 anos sem formar uma boa quantidade de massa óssea, o risco de ter osteoporose vai ser maior e mais precoce. OBS: Hoje em dia temos pacientes que fazem bariátrica muito jovens, com 16/18 anos, então eles ainda não atingiram o pico de massa óssea e deve-se ter muita atenção com esse paciente na reposição de cálcio e vitamina D, para que esse pico não seja prejudicado. • Então, ter um pico de massa óssea adequado é essencial para evitar a osteoporose. FATORES DE RISCO: • Não modificáveis: - Idade - Sexo (feminino é mais susceptível) - Genética - Etnia (brancos são mais susceptíveis) • Modificáveis: - Sedentarismo - Nutricionais - Hábitos de vida - Hipogonadismo - Imobilização OBS: Apesar do sedentarismo ser um fator de risco, a obesidade acaba sendo um fator de proteção, porque devido ao peso ocorre a ativação da remodelação óssea e acaba aumentando a parte muscular ao redor do osso, para evitar fraturas. OBS: Álcool, tabagismo e café aumentam o risco de osteoporose. AVALIAÇÃO CLÍNICA: • Paciente assintomático • Cifose e perda estatural • Dor ou deformidade – associadas às fraturas • Anamnese – história reprodutiva (menarca, gestações, ciclos menstruais e idade da menopausa) • Padrão nutricional – ingestão de cálcio • Exposição ao sol • Tabagismo • Ingestão de álcool • Antecedentes mórbidos – hipertireoidismo, diarreia crônica, uso de corticoides e outras medicações AVALIAÇÃO LABORATORIAL: • Identificar causas secundarias de osteoporose • Cálcio, hemograma, 25 hidroxi vitamina D, PTH, fosforo • Marcadores bioquímicos de remodelação óssea – osteocalcina, fosfatase alcalina (total ou ósseo específica), pró peptídeos do colágeno tipo 1, C-telopeptídeo OBS: Esses marcadores bioquímicos de remodelação óssea são mais pedidos após o início do tratamento. A osteocalcina e a fosfatase alcalina elevadas significam formação óssea, enquanto o CDX1, o NTX1 e RANKL já seriam mais marcadores de reabsorção óssea. Bruna Argolo OBS: O tratamento da osteoporose pode ter como ferramenta o uso de antirreabsortivo ósseo, e ai nesse caso a gente dosa esses marcadores e depois de uns 3 meses de tratamento a gente dosa novamente para ver se o tratamento está tendo efeito. OBS: O estrogênio nem sempre precisa ser pedido de rotina, porque se é uma paciente que está na menopausa, já sabemos que o estrogênio está baixo. Seria o caso de pedir dosagem desse estrogênio em paciente que tem hipogonadismo, por exemplo, mas não na rotina de toda paciente. DIAGNÓSTICO: • O diagnóstico é feito através da densitometria óssea, que tem como objetivo determinar a densidade mineral óssea. • É um aparelho que emite ondas de raio X (baixa radioatividade). • De quais locais pedimos a densitometria e porquê? - Coluna lombar (L1-L4) –> para avaliar ossos mais trabeculares - Fêmur total –> para avaliar o osso mais cortrical - Colo do fêmur e antebraço (rádio distal ou 33%) também podem ser pedidos OBS: Pedindo coluna lombar e fêmur total já dá para fazer uma avaliação mais global desse paciente. OBS: Para pacientes pós cirurgia bariátrica, que tem maior risco de perda óssea, é importante pedir uma densitometria antes da cirurgia para poder acompanhar a perda óssea após a cirurgia.Entretanto, a maioria dos aparelhos de densitometria suportam apenas até 150 kg, enquanto grande parte dos pacientes de cirurgia bariátrica pesam mais que isso, então para esse paciente pode pedir a densitometria óssea de antebraço. • A densitometria dá o resultado em 2 scores: - Z score: compara a densidade óssea da pessoa com a densidade óssea de indivíduos da mesma idade; por exemplo, um paciente de 50 anos faz a densitometria e o Z score dele vai ser a comparação do resultado dele com a média das pessoas da mesma idade. - T score: compara a densidade óssea à de adultos jovens (20 a 30 anos); então esse mesmo paciente de 50 anos teria a sua densidade óssea sendo comparada à de adultos jovens. • O que de fato define se o paciente tem osteoporose ou não é o T score, que avalia se esse paciente tem maior ou menor risco de fratura. • Algumas doenças como artrose e fraturas previas podem elevar falsamente a densitometria, então é importante estar atento. • O Z score tem um uso maior para a avaliação de osteoporose secundaria; por exemplo, mulher de 35 anos que usa corticoide, vamos usar o Z score para avaliar a situação dela. • Esse gráfico mostra a distribuição normal de densidade mineral óssea do fêmur total em mulheres. • Vamos trabalhar com desvio padrão: - Até -1 DP está normal - Entre -1 e -2,5 é considerado osteopenia (massa óssea que não é normal, mas que também não apresenta grande risco para fratura) - Menos do que -2,5 é osteoporose Bruna Argolo • Esse é um laudo de densitometria óssea. • No que vamos focar? No T score. O T score é -2,3. O T score já mostra a osteopenia. • Já o Z score está normal (-1). Porque o Z score está comparando essa pessoa de 60 anos com outra de 60. INTERPRETAÇÃO DA MASSA ÓSSEA E DO RISCO DE FRATURA: • Para homens com mais de 50 anos e mulheres na pós menopausa ou climatério usamos o T score: - Até -1: normal - De -1,01 até -2,49: osteopenia ou baixa massa óssea - Menor ou igual a -2,5: osteoporose OBS: Se possível, fazer o exame sempre na mesma máquina • Para homens com menos de 50 anos e mulheres que ainda não entraram na menopausa/climatério podemos usar o Z score. • Não tem sido difícil conseguir a densitometria óssea pelo SUS, mas no caso de ter qualquer problema na realização desse exame, podemos usar o FRAX. • O FRAX é um aplicativo em que colocamos vários dados do paciente e ele refere se o paciente tem alto ou baixo risco para fraturas, podendo “substituir” a densitometria em certas situações. Bruna Argolo TRIAGEM (DEXA): • Quando eu vou pedir uma densitometria óssea? - Mulheres acima de 65 anos - Homens acima de 70 anos - Mulheres e homens acima de 50 anos que apresentam perfil de risco ou que já apresentaram fratura osteoporótica OBS: É importante levar em conta a individualidade do paciente. Se eu tenho uma paciente de 40 anos que fez uma bariátrica aos 28, então tem um perfil de risco importante e deve ter uma densitometria previa, então por que não fazer essa avaliação para essa paciente? TRATAMENTO: • O objetivo do tratamento é diminuir o risco fratura. • Atividade física resistida = fortalecimento da musculatura que ajuda a prevenir fraturas. • É necessário ter atenção com o cálcio: - Ingestão adequada de cálcio? - 1 a 1,2 g de cálcio ao dia; - Preferir cálcio alimentar; - Suplementação: náuseas, obstipação intestinal, azia, litíase renal. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO: • Indicação: presença de fratura por fragilidade, independente do T score. • Indicação pelo T score: - T score menor ou igual a -2,5 (osteoporose) - T score entre -1,5 e -2,49 (osteopenia) com fatores de risco Bruna Argolo • Então existe tratamento para a osteopenia? O objetivo maior de tratar osteoporose é diminuir o risco de fratura. Na osteopenia ainda não há um risco tão alto, então o maior objetivo na osteopenia seria evitar a progressão para a osteoporose. Então o que seria feito para isso? Ver como estão os níveis de cálcio e vitamina D dessa pessoa, para uma possível reposição, muitas vezes já é suficiente. Porém, em caso de haver um paciente com osteopenia, e além da osteopenia, esse paciente tem muitos fatores de risco para osteoporose, podemos já lançar mão dos antirreabsortivos. Então a situação de tratamento para osteopenia é bem individualizada. • MEDICAMENTOS: - Estimuladores da formação óssea: Teriparatida OBS: A Teriparatida é como se fosse um PTH sintético; mas o PTH não tira o cálcio do osso? O PTH de forma continua tira o cálcio do osso, mas de forma intermitente não. Então esse medicamento é um PTH sintético usado subcutâneo para aumentar a formação óssea. É usado em casos mais graves, com risco de fratura muito grande, e é um medicamento bastante caro e de difícil acesso pelo SUS. - Inibidores da reabsorção óssea: bisfosfonatos (escolha), estrogênios, calcitonina, moduladores seletivos dos receptores de estrógeno (SERM), denosumab OBS: Estrogênios vão ser usados para reposição hormonal nas pacientes que precisam, o que não necessariamente é o tratamento para a osteoporose, mas acaba melhorando a reposição de massa óssea. OBS: A calcitonina quase não se usa. OBS: O denosumab é injetável, a cada 6 meses, e é um anticorpo monoclonal que inibe o RANKL, o que diminui a reabsorção óssea. OSTEOPOROSE NO HOMEM: • 30% das fraturas osteoporóticas ocorrem nos homens. • 15 a 25% das fraturas: deficiências androgênicas. • Mesmas causas secundarias: hipogonadismo, uso prévio de corticoide, abuso de álcool, passado de ressecção gástrica. • Pacientes trans: mantém a massa óssea com reposição hormonal. OSTEOPOROSE POR USO DE CORTICOIDE: • Causa mais comum de osteoporose secundária. • Endógenos (Síndrome de Cushing) ou exógenos. • Uso de glicocorticoide (5mg/dia de Predinisosa por > 3 meses) • Fraturas: 30 a 50% dos usuários crônicos de corticoide • Corticosteroides: - Supressão de atividade dos osteoblastos – redução na massa óssea e fragilidade para reagir a microlesões. - Inibição de absorção intestinal do cálcio. - Aumentam a produção de RANK promovendo atividade osteoclástica • Recomendações em usuários de corticoide: - Dosagem anual de 25 OH vitamina D, acompanhar estatura - Cessar tabagismo, reduzir ingestão de álcool e realizar atividade física - Reposição de cálcio e vitamina D - Mulheres pós menopausa e homens > 50 anos: avaliar introdução de bisfosfonato – tratar precocemente