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EMPRESARIAL - A DUPLICATA ESCRITURAL

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A DUPLICATA ESCRITURAL
Revista de Direito Privado | vol. 6/2001 | p. 142 - 161 | Abr - Jun / 2001
Doutrinas Essenciais de Direito Empresarial | vol. 5 | p. 581 - 604 | Dez / 2010
DTR\2001\666
Marcos Alves Pintar
Professor Titular de Direito Comercial da Unesp.
Paulo Roberto Colombo Arnoldi
Bolsista da Fapesp.
Área do Direito: Comercial/Empresarial
Sumário:
1. Introdução - 2. As primeiras construções teóricas a respeito da utilização dos meios
informáticos em substituição à duplicata - 3. A duplicata escritural - 4. Análise crítica da
duplicata escritural - 5. Conseqüências jurídicas
1. Introdução
O direito comercial, como de resto todo o direito, não permanece estático no tempo. As
necessidades e práticas comerciais emergentes fazem com que novos institutos surjam,
alterando e substituindo os existentes.
Como se não bastasse, o surgimento e desenvolvimento da informática têm causado
modificações de vulto em todos os ramos do conhecimento humano, entre eles o direito
e particularmente os títulos de crédito.
Neste trabalho, teceremos algumas considerações em torno da chamada duplicata
escritural, instituto nascido da aplicação da técnica contábil informatizada aos títulos de
crédito, ainda muito pouco estudada e desconhecida por inúmeros juristas, mas de
grande repercussão prática.
2. As primeiras construções teóricas a respeito da utilização dos meios informáticos em
substituição à duplicata
Coube ao jurista Newton de Lucca, entre nós, as primeiras considerações teóricas a
respeito da utilização da informática em substituição à tirania do papel. Com base na
experiência francesa, o jurista construiu um sistema teórico de utilização da duplicata de
fatura pelos meios informáticos, que chamou de "duplicata-extrato", admitida a forma
papel (DEP) e fita magnética (DEFM), 1tendo como diferencial o fato desta última
dispensar qualquer emissão de papel.
Nunca esquecendo as célebres lições de Cesare Vivante, 2efetuando pesquisas de campo
pudemos constatar que o trabalho do comercialista foi extremamente frutífero, pois
atualmente funciona um sistema muito parecido com o idealizado por ele há quase duas
décadas, conforme descreveremos no próximo item. A partir de suas idéias, resumidas a
seguir, configuraremos o que se chama hoje "duplicata escritural".
Na duplicata-extrato, em vez de o emitente preencher um formulário tradicionalmente
utilizado para a duplicata, utilizaria um impresso acrescido de algumas modificações, no
caso da DEP, ou uma fita magnética por meio do computador, nas DEFM.
No sistema concebido por Newton de Lucca, o emissor da duplicata-extrato papel deveria
seguir um formalismo além do normalmente empregado na duplicata, pois deveria
indicar, além das informações presentes tradicionalmente, os dados para o
processamento eletrônico.
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Entregue o título ao banco, o documento é processado sendo os dados transmitidos aos
meios informáticos. No caso das DEFM, é entregue a fita magnética contendo as
informações, não sendo necessária a digitação. De lá é enviado para a compensação,
chegando finalmente ao banco do sacado. Este envia um boleto de cobrança ao devedor,
devendo uma das partes destacáveis ser devolvida dentro do prazo estabelecido,
descontando os valores de sua conta no dia do vencimento.
Quanto às obrigações cambiais, a previsão era de que o aceite não seria utilizado como
na duplicata. Haveria o envio de um extrato ao devedor, com as indicações dos títulos a
serem pagos. Na prática isso não representava nenhuma conseqüência, já que 90% das
duplicatas eram pagas sem serem aceitas, já naquela época. As enviadas ao sacado, na
maior parte das vezes não eram devolvidas.
Da mesma forma, não havia previsão de endossos sucessivos. A circulação se limitaria
ao sacador e instituição bancária. Naquela época, segundo o jurista que a concebeu, a
quase totalidade das duplicatas acabava chegando ao banco sem que qualquer outra
relação se estabelecesse anteriormente.
Em relação ao aval, entretanto, foi resguardada a sua utilização já que possui um
"significado especial entre nós". 3De fato, muitas pequenas empresas só têm, até hoje,
seus títulos aceitos pelos bancos se avalizados, pois o banqueiro não aceita correr riscos.
A própria Lei das Duplicas, em seu art. 12, previa expressamente a possibilidade de
aval.
Sob o ponto de vista prático, nenhum inconveniente ocorreria ao se utilizar a referida
declaração cambial na DEP, 4já que tal instrumento de garantia favorece o banco e,
como se sabe, pode ser feito até em documento apartado, valendo apenas entre as
partes participantes do negócio. Entregando o cliente a DEP avalizada, não há nenhuma
conseqüência ao funcionamento do sistema.
Não escapou ao jurista o problema relativo à prova de pagamento. A previsão foi de que
uma das partes do extrato enviado pelo banco, mais o extrato da conta corrente do
sacado contendo o débito, serviriam de prova. Como já ressaltamos em outro trabalho
tratando da duplicata, tal título não se prende a formalismos excessivos, desafiando
muitos dos princípios tradicionais dos títulos de crédito constantes da Lei Uniforme de
Genebra.
Assim, estabelece o art. art. 9.º, § 1.º, da Lei 5.474/68: "A prova do pagamento é o
recibo, passado pelo legítimo portador ou por seu representante com poderes especiais,
no verso do próprio título ou em documento, em separado, com referência expressa à
duplicata". Continua o § 2.º do mesmo artigo acrescentando que "constituirá,
igualmente, prova de pagamento, total ou parcial, da duplicata, a liquidação de cheque,
a favor do estabelecimento endossatário, no qual conste, no verso, que seu valor se
destina a amortização ou liquidação da duplicata nele caracterizada".
Parece estar com isso superada qualquer dificuldade referente à prova de pagamento da
DEP. Se mesmo os dados constantes no verso de um cheque podem ser suficientes para
desobrigar o devedor e servir de prova, o envio de um extrato pelo banco e o débito em
conta corrente são mais do que necessários para comprovar o pagamento.
O grande problema teórico que surge diz respeito à possibilidade do título continuar em
circulação. Como sabemos pelo requisito da autonomia das relações cartulares, àquele
que adquiriu um título de boa-fé não pode ser oposta a exceção de pagamento, se tal
fato não constar do título. O que aconteceria então se a duplicata continuasse
circulando, já que não é necessária sua devolução ao devedor?
Sem querer nos afastarmos muito das concepções de Newton de Lucca, já que o
presente item tem por escopo focalizar sua construção em torno da chamada
duplicata-extrato, poderíamos dizer, em primeiro lugar, que se a duplicata comporta
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outras formas de quitação a não ser a devolução do título ou o recibo passado no mesmo
sob as vistas do devedor, não seria um título de crédito, pois não é necessário ao
exercício do direito.
A letra de câmbio, tido como o título de crédito mais perfeito que existe, resguarda o
direito do devedor de ter o título entregue pela ocasião do pagamento (art. 39, da LUG).
Já a duplicata, como vimos, excluiu tal possibilidade. Este aparente absurdo ocorre
porque toda a construção teórica acerca da teoria geral dos títulos de crédito foi feita
tendo-se em vista a letra de câmbio, daí ser tida como o título de crédito mais perfeito.
Os outros títulos não devem seguir exatamente tudo o que é válido para a letra de
câmbio, sob pena de todos se transformarem em letra de câmbio. A duplicata acabou
adquirindo essa particularidade de comportar formas diferentes de quitação, o que não a
desnatura como título de crédito.
Na verdade, deve-se observar qual a conseqüência prática que a situação gera. Como
dissemos, é possível que o título continue circulando. Na prática isso não ocorre, e por
uma razão bastante simples: a duplicata circula por endosso, e facilmente se poderia
constatar a má-fé daquele que colocou o título em circulação indevidamente.
Com isso, resta claro que a devolução do título não é a única formasegura e eficiente de
extinguir o direito mencionado no título e fazer prova disso. Outras possibilidades
existem como mostra a prática, e atesta a própria Lei das Duplicatas.
As duas modalidades de duplicata-extrato eram protestáveis, segundo a concepção do
jurista, tanto por falta de pagamento como de aceite. Quanto ao protesto por falta de
devolução, como o título não é enviado ao sacado não há que se falar nessa modalidade.
Poder-se-ia levantar a questão da falta de devolução do extrato enviado pelo banco.
Neste caso, a falta de devolução equivaleria a recusa de aceite.
Quanto à natureza jurídica da DEP, Newton de Lucca afirma que "não há dúvida alguma,
para nós, de que a duplicata-extrato, na sua modalidade papel, é uma verdadeira
duplicata", 5tendo em vista a concepção teórica do jurista.
Como boa parte das considerações a respeito da natureza jurídica da duplicata-extrato
fita magnética são semelhantes às da chamada duplicata escritural utilizada atualmente,
julgamos conveniente desenvolver tal análise conjuntamente.
3. A duplicata escritural
Na maior parte dos trabalhos científicos é utilizado o método de se partir das situações
mais gerais, analisando conceitos amplos, para se chegar a situações particularizadas.
Tal metodologia prima pelo fato de trazer à apreciação do jurista conceitos já
sedimentados e características marcantes dos institutos, a fim de tornar mais segura a
apreciação do tema desenvolvido.
Neste trabalho, entretanto, em virtude do recente surgimento da duplicata escritural e
de ser pouco explorada pela doutrina, utilizaremos o raciocínio inverso. Pelo que
pudemos constatar em nossa trajetória no estudo da ciência jurídica, boa parte das
polêmicas e discussões doutrinárias se dão em função da terminologia utilizada para
definir um instituto, e da própria indefinição deste último.
Assim, muitos se debatem utilizando palavras diferentes para definir a mesma idéia.
Outros utilizam a mesma palavra para definir idéias diferentes.
A duplicata escritural surgiu a partir da construção teórica de Newton de Lucca, mas não
se cristalizou nela. Tem evoluído gradativamente, acompanhando a própria evolução da
informática. Com isso, ao abordá-la temos que ter em mente claramente como o
instituto funciona na prática, a fim de podermos traçar nossa análise com segurança.
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Com base nas pesquisas de campo por nós realizadas, desde já adiantando não terem
sido completas sob o ponto de vista do grau de certeza e amplitude que a ciência
jurídica exige para apontamentos definitivos, descreveremos em detalhes como a
duplicata e os meios eletrônicos em substituição a ela têm sido utilizados atualmente. Só
depois discutiremos sua natureza jurídica e outras implicações teóricas, contrariando ao
que se comumente faz.
3.1 A prática atual
Pelas entrevistas realizadas, 6podemos dizer que existem nos bancos atualmente seis
formas de circulação de duplicata e institutos análogos. Estas são as formas chamadas
de duplicata escritural. Como veremos oportunamente, não se trata propriamente de
verdadeiras duplicatas.
Também nos pareceu claro, diga-se de passagem, que a utilização de tal ou qual forma
leva em consideração o grau de confiança que o banqueiro tem em relação ao cliente e
sacado.
Em primeiro lugar temos a circulação da duplicata nos termos mais rigorosos da Lei
5.474/68: o título é sacado pelo vendedor e enviado ao devedor para colhimento do
aceite. Só depois disso é enviado ao banco para o desconto ou cobrança. Dependendo do
cliente ainda se exige um ou mais avalistas, se o título for apresentado para desconto.
Em segundo temos a entrega do título sem aceite para que o banco se encarregue de o
apresentar ao sacado para isso, ainda dentro da previsão da Lei das Duplicatas. No caso
do desconto, os valores em algumas situações só serão creditados na conta após o título
ter sido devolvido aceito ou o devedor haver confirmado expressamente o aceite e retido
o título. É possível que o banco exija o comprovante da entrega das mercadorias para o
negócio se concretizar e em raras situações se exige avalista. É incomum tal
procedimento no caso da cobrança.
Uma terceira forma ocorre quando o título é entregue para cobrança ou desconto sem
ter sido aceito e sem que seja futuramente enviado ao sacado para isso. Sendo o título
descontado em casos raros se exige o comprovante de entrega, ou se confirma o
negócio por telefone com o devedor, e o aval nunca é utilizado. A comunicação para
pagamento é feita normalmente através do envio de um boleto de cobrança.
Na quarta forma só em casos raros se admite o desconto, sendo em regra utilizada com
o fim de cobrança. O sacador preenche um formulário do banco (borderô), que muito se
assemelha a uma duplicata, indicando, além do que normalmente exige este último
título, os dados de sua conta bancária e do sacado, que pode ser ou não cliente do
banco. Leva o documento ao banco para ser cobrado, local onde é transferido para o
computador da instituição. A comunicação para o pagamento se opera como na forma
anterior. Nesta forma não temos mais uma duplicata nos moldes da Lei 5.474/68.
A quinta forma, como era de se esperar, é ainda mais inusitada: o sacador preenche os
dados constantes de um documento eletrônico previamente preparado pelo banco e o
envia a este através de disquetes, se assemelhando muito à duplicata-extrato fita
magnética. Só é utilizada para cobrança.
A sexta e última representa o que há de mais moderno em termos de cobrança bancária,
e foi tratada por poucos juristas. Nesta modalidade, o banco fornece ao cliente um
software para ser instalado em seu computador. Por meio deste equipamento, o
sacador, após preencher o formulário presente no software, conecta, via modem, a
central de compensação do banco enviando diretamente os dados para o computador da
compensação.
Interessa-nos de perto a terceira forma em diante já que as duas primeiras não
representam qualquer inovação. Vejamos as linhas gerais de funcionamento do sistema.
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3.1.1 A duplicata sem apresentação ao sacado
Cumpre ter em vista que estamos analisando, de forma conjunta, duas situações
distintas. Na primeira delas, correspondente à terceira forma descrita acima, a duplicata
é regularmente emitida e entregue ao banco. Na segunda, correspondente à quarta,
quinta e sexta formas acima descritas, não existe a duplicata nos moldes da Lei
5.474/68.
Apesar disso, após os dados serem enviados à câmara de compensação, ambas as
formas tem funcionamento único, apenas diferindo se houver ausência de pagamento.
Vejamos como o sistema funciona.
Emitido o título, o credor o apresenta ao banco. Em qualquer situação, a instituição
financeira só realiza o negócio com seu cliente depois das partes concluírem previamente
um contrato, tendo em vista regulamentar o desconto ou a cobrança pretendida. Através
do contrato é estabelecido o preço das operações, taxa de juros, no caso do desconto,
além de outras despesas acessórias.
Entregue o título ao banco, um funcionário analisa os requisitos formais do documento.
Tal operação em regra é feita de forma muito mais cuidadosa no caso do desconto.
Nesta última situação, é feita ainda uma checagem quanto ao bom nome do emitente e
sacado, utilizando-se um dos sistemas existentes para tal fim, 7senão vários deles. A
situação negativa de qualquer das partes nos sistemas de seleção de clientes não implica
na recusa imediata do título. Nem o título é aceito para desconto simplesmente porque o
nome das partes não consta nos cadastros de devedores.
Geralmente, a má fama do sacado é que acaba determinando a recusa do título. Sendo o
descrédito em relação ao sacador, geralmente é exigido o comprovante de entrega das
mercadorias, ou a operação é confirmada com o devedor por telefone pelo funcionário.
Tais situações só acontecem em casos raros.
Pelo que pudemos perceber através de entrevistas, o gerente e o funcionário
encarregado do setor de desconto e cobrança, operam dezenas, as vezescentenas de
títulos do mesmo sacador num espaço de tempo de, digamos, um mês. Acabam assim
conhecendo de perto a situação de cada um deles, bem como da maioria dos sacados.
Só o fato de o banco receber em desconto títulos sem haver previsão de os enviar para
aceite implica num grau de confiança relativamente grande em relação ao cliente.
Somente no caso de qualquer dúvida é que se procede às cautelas descritas acima, já
que uma empresa pode entrar em situação de crise econômica de uma hora para outra.
Assim, entregue o título ao banco, é feito o processamento eletrônico do mesmo. Os
dados são transpostos para um formulário informático presente num software utilizado
pelo banco e enviados à compensação. Tomando como exemplo o Banco do Brasil S.A.,
na região do nordeste do Estado de São Paulo, a câmara de compensação se situa na
cidade de Ribeirão Preto, para onde são enviados os dados. De lá são remetidos para a
agência bancária da cidade do sacado, tudo através dos meios informáticos, sem
emissão de qualquer papel. A duplicata permanece imobilizada na agência do sacador.
Recebendo os dados, a agência do sacado se encarrega de enviar um boleto, via correio,
ao devedor. Tal documento é emitido em duas vias destacáveis, devendo uma delas ser
devolvida ao banco dentro de certo prazo. Vencido, os valores são descontados em conta
ou pagos pelo devedor no sistema bancário.
A partir do vencimento do título poderá ocorrer duas situações, uma normal e outra
excepcional: o devedor paga o título; o devedor não paga o título. Ocorrendo a primeira
os valores são enviados à agência do sacador para ser debitado em sua conta se para
cobrança, ou a crédito do próprio banco se para desconto.
Não havendo pagamento, entretanto, a situação se complica e são distintos os
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procedimentos, quer se trate de desconto ou cobrança. Neste último caso, o título é
transmitido ao banco por meio do endosso-mandato, modalidade prevista no art. 18, da
Lei Uniforme de Genebra, aplicável às duplicatas por força do art. 25, da Lei 5.474/68.
Assim, como o banco foi encarregado de apenas cobrar os valores, o procedimento vai
variar em função dos limites do mandato.
O citado art. 25, da LUG, diz que no caso do endosso-mandato o "portador 'pode'
exercer todos os direitos emergentes da letra, mas só pode endossá-la na qualidade de
procurador". Não está, com isso a instituição financeira obrigada a tomar todas as
medidas cabíveis, como se fosse o sacador. O contrato de cobrança bancária celebrado
entre banco e sacador é que irá dizer o limite do mandato, que geralmente habilita o
banco a protestar o título por uma razão prática e outra jurídica.
Como se sabe, a duplicata é apresentada a protesto na praça de pagamento constante
do título, conforme dispõe o art. 13, § 3.º, da Lei 5.474/68. Muitas vezes sacado e
sacador situam-se em comarcas diversas e longínquas, inviabilizando deslocamentos. O
banco assim, na condição de mandatário, acaba fazendo o protesto e devolvendo o título
ao seu cliente, juntamente com a certidão do ato notarial, para que o mesmo tome as
medidas cabíveis. A forma como é feito esse protesto será analisada logo mais.
A questão de ordem jurídica pode ser assim explicada: o banco, como mandatário, é
responsável pela conservação e defesa do direito emergente do título, cabendo a ele
executar todos os atos necessários. Poderá ocorrer, por exemplo, que o sacado se torne
insolvente, ou seja decretada sua falência ou concordata. O protesto será, assim, a única
forma do banco comprovar que efetuou dentro do tempo convencionado a cobrança do
título, precavendo-se de qualquer inconveniente posterior.
Ocorrendo o endosso-traslatício (art. 8.º, do Dec. 2.044/08), ou seja, sendo o título
transmitido ao banco para desconto, a primeira providência tomada é o protesto da
duplicata por falta de pagamento, aqui não como mandatário, mas como possuidor do
próprio título.
Como se sabe, no desconto bancário o cliente se responsabiliza pelo pagamento do
título. Havendo a recusa, o banco volta-se contra ele, geralmente debitando os valores
adiantados diretamente na sua conta corrente. Em raras situações o banco se encarrega
ele mesmo de mover a ação executiva, sem qualquer repercussão na esfera de seu
cliente.
De qualquer forma, o protesto se faz necessário por uma razão bastante simples: deve
ser tirado para se garantir o direito de regresso contra os endossantes e avalistas,
conforme dispõe o art. 13, § 4.º, da Lei 5.474/68: "o portador que não tirar o protesto
da duplicata, em forma regular e dentro do prazo de 30 (trinta) dias, contados da data
de seu vencimento, perderá o direito de regresso contra os endossantes e respectivos
avalistas". E o chamado protesto necessário.
Assim, na maior parte das vezes título e certidão de protesto são devolvidos ao cliente
endossante, debitando-se de sua conta todas as despesas. O banco só moverá ele
mesmo a ação executiva caso assim estiver convencionado ou o endossante se recuse a
aceitar de volta o título e o débito em conta, quando a ação será movida contra o próprio
sacador-endossante.
Vejamos como se opera o protesto da duplicata nos casos acima.
3.1.1.1 O protesto da duplicata sem os originais dos títulos - Da forma como estamos
descrevendo o sistema, percebe-se que a duplicata nunca é enviada ao sacado para
aceite, ou sequer é emitida. Estando a duplicata imobilizada no banco do sacador
quando de sua entrega, sendo os dados transpostos para o formulário eletrônico, de que
forma o título pode ser protestado, em comarcas distantes, sem os originais dos títulos e
sem ter sido enviado ao sacado? Da mesma forma, como é possível o protesto sem a
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duplicata ser emitida? A resposta a este questionamento é que traz para o mundo
jurídico a figura da duplicata escritural.
Em primeiro lugar há de se considerar que a própria Lei 5.474/68 já previa a
possibilidade do protesto sem os originais dos títulos. É o que ocorre com o protesto da
duplicata enviada para aceite e não devolvida, o chamado protesto por indicações: "o
protesto será tirado, conforme o caso, mediante apresentação da duplicata, da triplicata,
ou, ainda, por simples indicações do portador, na falta de devolução do título" (art. 13, §
1.º, da Lei das Duplicatas).
A certidão de protesto por indicações acompanhada do comprovante de entrega das
mercadorias ou da prestação do serviço e da fatura tornam possível o ajuizamento de
ação executiva. Trata-se, como já vimos, do suprimento do aceite, já bastante
assentado na doutrina e jurisprudência.
Num primeiro momento poderíamos supor que os institutos eletrônicos assemelhados à
duplicata não poderiam ser assim protestados, pois esse último documento não é
enviado ao sacado. Na prática, entretanto, "emitida a nota fiscal fatura e não pago o
débito no vencimento aprazado, o credor, ou o banco encarregado da cobrança,
comparece ao cartório de protesto - ou mesmo envia simples comunicação eletrônica
como permite a nova Lei de Protestos - fornecendo os dados da nota fiscal fatura e do
comprador, alegando que o título foi remetido para aceite ou pagamento, não tendo sido
aceito, pago ou devolvido". 8
De fato, a Lei 9.492/97, que trata da regulamentação dos serviços concernentes ao
protesto de títulos e outros documentos, estabelece no par. ún. do seu art. 8.º:
"poderão ser recepcionadas as indicações a protestos das Duplicatas Mercantis e de
Prestação de Serviços, por meio magnético ou de gravação eletrônica de dados, sendo
de inteira responsabilidade do apresentante os dados fornecidos, ficando a cargo dos
Tabelionatos a mera instrumentalização das mesmas".
Como vimos anteriormente, no protesto por indicações, o protestante comparece ao
cartório e indica que um título foi enviado para aceite e não foi devolvido no prazo legal,
informando o número da fatura, número da duplicata, valor, prazo de vencimento etc. A
nova lei de protesto de títulos passou apenas a autorizar os cartórios a aceitarem as
indicações contidas nummeio magnético, facilitando a vida de tabeliães e usuários.
Isso não significa que a lei passou a aceitar o protesto de duplicatas que não foram
enviadas a aceite, ou não foram sequer emitidas. Na verdade, teve em vista apenas
facilitar o trabalho através da introdução dos meios informáticos no protesto. Na
concepção da lei, enviada a duplicata ao sacado e não havendo a devolução é que o
título pode ser protestado, podendo as indicações serem feitas através do meio
magnético, e não nos casos em que a duplicata nunca foi emitida, repita-se.
Como observa Celso Barbi Filho, "diante da abertura dada pela lei, evidenciou-se na
rotina das empresas uma constatação, desvirtuada, de que a emissão da duplicata
propriamente dita poderia constituir desperdício de tempo e papel, na medida em que o
título original poderia ser suprido de forma simples e amparada na lei". 9Continua ainda
o comercialista: "Com isso, os empresários passaram a não emitir as duplicatas,
encaminhando borderôs aos bancos, com os números dos supostos títulos,
correspondentes aos das respectivas notas fiscais fatura, seus valores e vencimentos,
juntamente com a identificação dos sacados. Os bancos, por sua vez, emitem boletos de
cobrança com os dados recebidos dos sacadores, encaminhando-os pelo correio aos
sacados para pagamento na rede bancária. Se determinado boleto não é pago, os
bancos utilizam sua primeira via como instrumento que contém as informações
necessárias para se requerer o protesto por indicações do portador (art. 13, § 1.º, Lei de
Duplicatas). Tirado o protesto, a certidão deste juntamente com o comprovante de
entrega da mercadoria ou da prestação do serviço presta-se adequadamente à execução
ou ao pedido de falência na forma do art. 15, II, e § 2.º, da Lei 5.474/68". 10
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Trata-se, na verdade, de uma abertura dada pela lei assimilada pela prática comercial,
que não deixou de ser criticada por inúmeros doutrinadores. Lidia Tieko Hadano Tanaka
afirma que "o protesto por indicações só pode ser feito nos moldes do § 3.º do art. 21
em situação excepcional quando ausente o título, por ter o sacado retido a duplicata,
que foi enviada para aceite, e não foi devolvida no prazo legal. Admitir-se utilização
apenas de meios eletrônicos na emissão de duplicatas, representadas fisicamente por
boletos, seria negar todos os princípios e garantias que regem os títulos de crédito". 11
A mesma indignação é partilhada por Ermínio Amarildo Darold quando afirma que "os
famigerados boletos bancários, que prosseguem sem qualquer status de títulos de
créditos ou de documentos representativos de dívida, não podem, de forma alguma,
serem admitidos a protesto". 12
De fato, a crítica dos autores acima não deixa de ter certa consistência. A lei não prevê a
possibilidade do protesto das duplicatas escriturais, nem de boletos, mas de títulos que
foram enviados ao sacado e não foram devolvidos. Apesar disso, mesmo reconhecendo a
falta de amparo legal, julgamos que a utilização da "brecha" legislativa não constitui um
ilícito, e nem trás conseqüências nefastas ao sacado quando todas as partes estiverem
de boa-fé.
Como mostra Celso Barbi Filho, a prática teve origem com duas espécies de omissões: a
primeira dos cartórios de protestos, não exigindo dos apresentantes a comprovação da
remessa e entrega da duplicata ao sacado; a segunda dos próprios sacados, pois quando
são acionados judicialmente não argúem a falta de emissão e envio dos títulos.
A lei de protestos cambiais não determinou que sejam apresentados a fatura e o
comprovante de entrega das mercadorias ou da prestação do serviço para o protesto,
mesmo por indicações. Limitou-se a dizer, no § 3.º do art. 21, que "o protesto poderá
ser baseado na segunda via da letra de câmbio ou nas indicações da duplicata, que se
limitarão a conter os mesmo requisitos lançados pelo sacador ao tempo da emissão da
duplicata, vedada a exigência de qualquer formalidade não prevista na Lei que regula a
emissão e circulação das duplicatas".
A Lei 5.474/68, entretanto, não traz qualquer menção em relação à exigência do
comprovante de entrega e da fatura. Como se sabe, cabe às Corregedorias de Justiça
Estaduais efetuar a fiscalização e exercer normas de fiscalização em relação aos
cartórios extrajudiciais, entre eles incluído os cartórios de protesto de títulos e
documentos.
Assim, no Estado de São Paulo foi promulgado o Provimento 30/97, alterando o Tomo II
das Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça, tendo em vista tentar coibir "o
crescente número de duplicatas mercantis sem causa, depois utilizadas para garantir
operações de financiamento junto a instituições financeiras, voltadas à formação de
capital de giro, o que tem causado, no meio comercial, descrédito em relação à duplicata
mercantil, fato que dificulta a concessão de empréstimos bancários lastreados nesses
títulos, ao mesmo tempo em que contribui para o aumento da inadimplência". 13
De inovador o Provimento 30/97 da Corregedoria de Justiça, alterando o item 11 do
capítulo XV, do tomo II, traz entre outras importantes novidades a determinação de que
"as duplicatas, mercantis ou de prestação de serviços, não aceitas, somente poderão ser
recepcionadas, apontadas e protestadas, mediante a apresentação de documento que
comprove a venda e compra mercantil, ou a efetiva prestação do serviço e o vínculo
contratual que a autorizou, respectivamente, bem como, no caso da duplicata mercantil,
do comprovante da efetiva entrega e do recebimento da mercadoria que deu origem ao
saque da duplicata".
A intenção da Corregedoria ao instituir essa exigência é merecedora de aplausos, pois
visa impedir o protesto de títulos emitidos sem causa e o efeito nefasto que acaba
incidindo sobre a pessoa do sacado. Entretanto, a disposição é flagrantemente
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inconstitucional por estar em desacordo com a Lei 9.492/97, da mesma forma que várias
outras inovações. 14
Como já vimos, estabelece o art. 21, § 3.º, da Lei de Protestos de Títulos Cambiários
que "o protesto poderá ser baseado na segunda via da letra de câmbio ou nas indicações
da duplicata, que se limitarão a conter os mesmos requisitos lançados pelo sacador ao
tempo da emissão da duplicata, vedada a exigência de qualquer formalidade não
prevista na lei que regulamenta a emissão e circulação de duplicatas".
Ora, a Lei 5.474/68 não estabelece qualquer disposição referente a documentos
necessários para o protesto por indicação. Assim, qualquer exigência quanto a
documentos determinada pela legislação hierarquicamente inferior acaba sendo
inconstitucional, não podendo os tabeliães exigir formalidades não previstas na Lei
5.474/68. As referidas leis também não trazem qualquer referência à exigência de
documentos comprovando o envio e retenção da duplicata.
Com isso, apesar de julgarmos extremamente necessária a certeza quanto à existência
do negócio causal, na nossa singela opinião não parece ser inteiramente correto o
entendimento de Ermínio Amarildo Darold, com o devido respeito, ao afirmar que "para
que possa o requerente do ato moratório valer-se da hipótese excepcionalíssima do
protesto por indicação, tem de demonstrar que existe uma duplicata da qual é portador
e que ela não se encontra sobre sua posse porque, remetida ao sacado para aceite, não
obteve a devolução. Sem a prova de tais requisitos impossível o protesto por indicação".
15
Sob o ponto de vista moralizante o jurista parece estar mais do que correto. Entretanto,
a lei não exige a "demonstração" a que se refere, sendo todas as disposições emanadas
de normas inferiores à lei ordinária, se existirem, flagrantemente inconstitucionais, em
virtude da redação do art. 21, § 3.º, da Lei 9.492/97. A Norma de Serviço da
Corregedoria de Justiça do Estado de São Paulo, citada aqui como exemplo, já que não
podemos analisar as normas de todos os Estados-membros, não pode estabelecer tal
exigência.
Pelo visto, somente com a alteração do Capítulo IV da Lei 5.474/68 seria possível aos
tabeliãesexigirem a prova ou demonstração de que o título foi enviado a aceite e não foi
devolvido, evitando discussões intermináveis. A análise de tal problemática, apesar de
apaixonante, foge aos objetivos do presente trabalho.
Temos feito toda esta análise acima para chegar à conclusão de que na prática, talvez
em virtude dos impeditivos de ordem legal, os tabeliães não exigem qualquer documento
no ato de protesto por indicações.
Da mesma forma, os sacados na maior parte das vezes não argúem o fato do título não
ter sido enviado para aceite, mesmo nos casos em que negócio algum foi praticado,
como mostra a jurisprudência. 16Pelo que pudemos analisar, o fato é ainda desconhecido
pelos tribunais.
Com isso, bancos e comerciantes cada vez mais se utilizam dessa "brecha" legislativa
para protestar títulos que nunca existiram, apesar de haver a fatura e entrega da
mercadoria, ou que não foram enviados para o aceite. Como a lei permite o
apontamento para aceite através dos meios informáticos, a tendência é a duplicata
tradicional ter seu uso cada vez mais limitado.
Por último cumpre ressaltar que no direito comercial a prática sempre antecede a lei,
não podendo esta impedir, simplesmente, determinado uso. Como se sabe, os títulos de
crédito tiveram sua origem e evolução na necessidade de se encontrar formas mais
fáceis e seguras de circulação do crédito. A letra de câmbio só se tornou o que
conhecemos hoje por conseguir se desvencilhar das formalidades necessárias às
operações de câmbio e cessão de crédito exigidas na Idade Média. 17
A DUPLICATA ESCRITURAL
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O desenvolvimento da informática aliado à omissão da lei propiciou o surgimento de uma
forma de circulação de crédito nunca antes imaginada, em que é possível a existência de
um título executivo extrajudicial sem existir um título de crédito. Nem mesmo ocorre a
emissão de qualquer papel, a não ser a própria certidão de protesto e a fatura com o
comprovante de entrega das mercadorias, únicos documentos necessários à propositura
da ação de execução ou pedido de falência.
Cabe agora aos doutrinadores adaptar o novo instituto ao ordenamento jurídico, sem
desprezar a evolução que representa.
4. Análise crítica da duplicata escritural
Como nos propusemos neste trabalho a primeiro descrever o funcionamento da duplicata
escritural, feito isso passemos agora à análise crítica do instituto.
4.1 Natureza jurídica
A duplicata escritural nasceu em substituição à duplicata tradicional. É uma forma
encontrada por bancos e comerciantes de circulação do crédito sem a emissão, ou
emissão mínima de papel, poupando tempo e esforço físico. Como pode ser convertido
em um título executivo extrajudicial, pelo protesto, acabou tendo o mesmo status que
um título de crédito.
Entretanto, a duplicata escritural na verdade não é um título de crédito se seguirmos ao
pé da letra os apontamentos gerais da teoria geral dos títulos de crédito. Na definição de
Vivante, só os documentos necessários ao exercício do direito literal e autônomo neles
mencionados podem ser denominados títulos de crédito.
O primeiro óbice estaria na ausência de necessidade do documento ser apresentado ao
sacado para ser pago. Na duplicata escritural é enviado apenas um boleto com as
indicações dos valores e data de pagamento. O documento eletrônico permanece
imobilizado no banco.
O segundo estaria na incerteza quanto ao direito mencionado, ou seja, os documentos
eletrônicos, pelo menos da forma utilizados até agora, são inaptos para constituir uma
declaração de certeza quanto a seu emitente, valor etc. Poderia qualquer pessoa alterar
os campos, bem como o emitente se opor ao direito de regresso alegando que não
emitiu o documento.
Tanto isto é verdade que mesmo os borderôs de desconto de duplicatas, que
corresponde a quarta forma de circulação por nós analisada linhas atrás, não são títulos
executivos extrajudiciais, como atesta a jurisprudência, 18mesmo se acompanhados do
comprovante de entrega das mercadorias, nem podem ser levados a protesto como
título de crédito. Tal fato se deve, obviamente, por não atenderem aos requisitos de
emissão das duplicatas.
A duplicata escritural correspondente a quinta e sexta forma por nós descrita, reveste-se
de um grau de certeza ainda menor que os borderôs. Diante disso, só em raríssimos
casos os bancos aceitam realizar operações de desconto com esses documentos.
Apesar dessas considerações, Newton de Lucca levanta questão das mais pertinentes.
Segundo ele, mostrou Ascarelli "que o conceito de título de crédito pode assumir duas
significações distintas. Num primeiro sentido, 'título de crédito' é uma expressão
doutrinária utilizada para indicar uma série de títulos sujeitos a uma disciplina em
comum em virtude das características semelhantes de tais documentos. É exatamente
nesse sentido que Vivante definiu o título de crédito como o documento necessário para
o exercício do direito literal e autônomo nele mencionado. Num segundo sentido, a
expressão 'título de crédito' é usada para indicar em quais casos deve ser aplicável uma
disciplina específica, tal como sucedeu com o título V do Livro IV do Código Civil
(LGL\2002\400) Italiano". 19
A DUPLICATA ESCRITURAL
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Em outras palavras, mesmo considerando ser inaplicável a qualificação de título de
crédito à duplicata escritural e aos boletos bancários, por fugir ao âmbito de aplicação da
teoria geral, seria possível aplicar a legislação referente à duplicata?
A questão traz a tona uma problemática um pouco esquecida atualmente, mas que
promete ressurgir com a promulgação do Novo Código Civil (LGL\2002\400) brasileiro: a
possibilidade de criação de títulos de crédito atípicos.
De acordo com a doutrina, esses últimos documentos nada mais são que títulos não
especificamente disciplinados por um modelo legal, ou seja, inexiste previsão legal a seu
respeito. Na expressão de Mauro Rodrigues Penteado, "o projeto instituiu uma categoria
intermediária de documentação de direitos creditícios, a meio caminho entre os
chamados 'créditos de direito não-cambiário' - oriundos de negócios jurídicos celebrados
por instrumento particular ou público - e os títulos de crédito típicos". 20
A grande vantagem apresentada pelos títulos inominados estaria na possibilidade legal
da prática de utilização do instituto anteceder a previsão legislativa. "Visou-se
desembaraçar a atuação e a criatividade do meio empresarial ('deixando assim aberta a
porta às necessidades econômicas e jurídicas do futuro', como diz o projetista), que está
nas raízes do próprio instituto, originário, como sabido, da praxe mercantil, consolidada
num primeiro momento nos estatutos corporativos, para, ao depois, receber a sanção do
direito estatal". 21
Embora não seja objetivo deste trabalho analisar a problemática em torno dos títulos de
crédito atípicos no Projeto de Código Civil (LGL\2002\400), julgamos que na prática,
apesar da boa intenção dos projetistas, a aceitação de tais documentos será restrita por
um motivo bastante claro: o uso indiscriminado dos embargos do devedor no processo
de execução assumiu dimensões excessivas, e aliada à demora presente nos nossos
tribunais fez com que os títulos de crédito deixassem de ter, na prática, a garantia de
certeza e liquidez presentes em sua concepção teórica.
Com isso, o credor de uma nota promissória formalmente perfeita, por exemplo, pode
demorar três anos ou mais para receber o seu crédito. Alegações infundadas aguardam
anos nos Tribunais para serem analisadas e finalmente rejeitadas, aproveitando-se os
devedores da situação. A questão é tão calamitosa que muitos advogados estão se
valendo da prática, errônea, de propor ação monitória mesmo nos casos de duplicata
aceita e protestada, tendo em vista minimizar a possibilidade de propositura de
embargos do devedor na execução, ao arrepio da lei e contando com o beneplácito de
muitos magistrados, que não indeferem o pedido.
Na concepção do projeto, apesar de poderem os títulos atípicos circularem por endosso,
não são aptos a serem levadosa protesto e nem podem embasar a ação executiva ou o
pedido de falência. Se os próprios títulos de crédito típicos hoje sofrem com inevitável
descrédito, o que se dirá em relação a títulos inominados, sem previsão legal?
Apesar de reconhecermos que a natureza jurídica da duplicata escritural se afasta da de
título de crédito é forçoso reconhecer sua adequação aos chamados títulos de crédito
atípicos ou inominados. Mas, como se sabe, nosso sistema não contempla ainda o
instituto, pois o Projeto de Código Civil (LGL\2002\400) ainda não foi promulgado.
4.2 A denominação
Nominar um instituto jurídico nunca foi coisa fácil e em regra as denominações não
correspondem ao que representa na prática. Assim, a letra de câmbio hoje não se
presta, por exemplo, a uma operação de câmbio, apesar do nome.
Como o instituto ora em análise veio em substituição à duplicata e a ela muito se
assemelha, logo recebeu a denominação de duplicata escritural. A primeira coisa que
devemos levar em consideração é a existência realmente de uma duplicata, no sentido
de ser o documento emitido com base na fatura. É uma duplicata da fatura.
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Página 11
Entretanto, não é propriamente a duplicata de fatura prevista na Lei 5.474/68, pois não
obedece a seus requisitos. Por isso se acrescentou o aditivo "escritural". De acordo com
o dicionário Aurélio, 22escritural é aquilo "relativo a escrituração", ou seja, refere-se ao
conjunto de caracteres utilizado pelos contabilistas para representar determinados
dados. Com isso se diz, por exemplo, moeda escritural significando que o valor
monetário existe apenas na escrituração contábil e não fisicamente.
Um outro exemplo pode tornar ainda mais clara a situação. Suponhamos alguém
fazendo uma transferência de valores entre contas correntes de diferentes bancos
através do caixa eletrônico. Dizemos que houve a transferência apenas escrituralmente,
pois não houve a troca efetiva de moedas ou cédulas entre os bancos.
Como se sabe a contabilidade das grandes e médias empresas hoje é feita de forma
escritural, ou seja, através dos meios informáticos. Geralmente, cabe ao setor contábil a
emissão e controle sobre duplicatas. Passando-se a substituir a emissão em papel desse
último documento pela emissão no computador, logo, foi o instituto nominado de
duplicata escritural.
Duas considerações são importantes. A primeira é que não temos verdadeiramente uma
duplicata, entendendo-se por tal o documento emitido segundo os requisitos do art. 2.º,
da Lei 5.474/68. A segunda significa dizer que o documento não é escritural, uma vez
que circula.
Apesar de não preencher os requisitos dos títulos de crédito, o instituto tem
semelhanças marcantes. Assim, quando é emitido, o crédito que se quer representar
deixa de existir em outro lugar, tal qual ocorre nos títulos de crédito. Passa a estar
presente no documento. Assim, é feito um lançamento escritural constando a emissão do
documento e o envio ao banco. Mas o documento em si não pode ser qualificado como
escritural, já que tem vida própria, independente da escrituração da empresa ou do
banco, mesmo constando como lançamento contábil.
O mesmo não podemos dizer em relação às ações escriturais. Estas sim são verdadeiros
documentos escriturais, pois só existem na contabilidade das empresas ou das
corretoras. Quando é feita a transferência da titularidade, geralmente por meio
eletrônico, ocorre somente uma alteração na escrituração contábil, alterando-se o nome
do proprietário das ações.
Qual seria então a melhor denominação para qualificar o instituto? Newton de Lucca, em
sua concepção teórica, o chamou de duplicata-extrato, tendo o mesmo inconveniente de
conter a palavra "duplicata". Entretanto, dificilmente encontraríamos uma denominação
precisa sem conter a palavra, uma vez que sempre estaríamos diante de uma duplicata
da fatura.
Com isso, não nos animamos a propor nenhum outro nome, adotando neste trabalho a
denominação "duplicata escritural", já de uso corrente nos meios empresariais e
bancários, apesar de reconhecermos a falta de coerência da expressão ao representar o
instituto.
5. Conseqüências jurídicas
5.1 As conseqüências para o sacador na utilização das duplicatas escriturais
A adoção do sistema das duplicatas escriturais não representa para o sacador maiores
inconvenientes. Pelo contrário, traz benefícios enormes. Há uma diminuição considerável
nos custos da contabilidade da empresa, uma vez que a emissão é feita de forma muito
mais descomplicada. Na última forma por nós descrita, quando os dados são enviados
diretamente do computador do sacado para a câmara de compensação do banco, os
custos acabam sendo quase insignificantes.
Apesar de não existir um título de crédito legalmente constituído, sempre haverá a
A DUPLICATA ESCRITURAL
Página 12
possibilidade, como vimos, de o sacador ter em mãos um título executivo extrajudicial
com o protesto, que também pode ser realizado pela transmissão de dados eletrônicos,
conforme faculta a Lei de Protesto de Títulos Cambiários.
A única conseqüência prejudicial é em relação à inaptidão da duplicata escritural para o
desconto bancário. Como vimos só em casos excepcionais o banco aceita praticar o
desconto de tais documentos, com clientes rigorosamente selecionados.
Ao menos deverá o sacador utilizar a quarta forma por nós descrita, emitindo um
borderô de duplicatas para realizar o desconto, pois só assim o banco terá garantias
para realizar o negócio.
Fazendo um breve exercício de futurologia, julgamos que não vai longe o dia em que
será possível a aplicação da assinatura eletrônica à duplicata escritural e aos títulos de
crédito numa forma geral.
5.2 As conseqüências para o "endossatário" na utilização das duplicatas escriturais
De forma geral somente os bancos são endossatários das duplicatas escriturais. Para
esses, a utilização do sistema representa uma economia de custos gritante em relação à
cobrança e desconto de duplicata emitida sobre papel.
Como vimos, mesmo nos casos em que o banco recebe a duplicata em desconto, nunca
o título é enviado para aceite. Apenas um boleto em duas vias destacáveis é enviado,
indicando os valores a serem pagos e a data de pagamento, bem como o número da
fatura e da duplicata. Esse sistema é utilizado qualquer que seja a forma de duplicata
escritural utilizada.
No caso de cobrança o inadimplemento não causa nenhuma conseqüência, já que o título
pertence ao sacador, podendo os poderes conferidos à instituição financeira abranger ou
não levar o título a cartório, que é sempre realizado da forma por nós descrita para o
protesto sem os originais dos títulos.
Já no desconto bancário surgem conseqüências merecedoras de uma melhor análise.
Como o banco geralmente tem direito de regresso contra o endossante, deve protestar o
título dentro de trinta dias (art. 13, § 4.º, da Lei 5.474/68) sob pena de desaparecer a
responsabilidade dos co-obrigados.
A questão passa a ser complexa quando se tem em mente a possibilidade de não haver
duplicata, mas sim um borderô de desconto. Tal documento não tem valor cambial, não
se podendo exercer o direito de regresso com base na legislação aplicável aos títulos de
crédito. Assim, protestada a duplicata por indicações, sem que nunca tenha existido,
como poderá o banco se voltar contra o sacador do borderô sem invocar as leis
cambiárias?
É obvio que o contrato de desconto bancário prevê a possibilidade de regresso.
Entretanto, não será possível a propositura da ação executiva de regresso, pois o
borderô não é título apto para isso. 23A única saída seria uma ação de conhecimento,
alegando a instituição enriquecimento ilícito do sacador ou inadimplemento contratual.
A ação de conhecimento, entretanto, só seria viável ao banco se o sacado realmente,
mesmo através da ação de execução, não efetuasse o pagamento, como nos casos de
falência ou insolvência civil. Talvez por isso os bancos não se sentem ainda seguros para
praticarem o desconto sem os originais das duplicatas, apesar de quase nunca enviarem
ostítulos ao sacado para aceite.
5.3 As conseqüências para o sacado na utilização das duplicatas escriturais - Bibliografia
Todos os inconvenientes do sistema da duplicata escritural, sob uma perspectiva teórica,
acabam recaindo, via de regra, sob a pessoa do sacado. Quando todas as partes estão
A DUPLICATA ESCRITURAL
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de boa-fé, nenhuma conseqüência danosa ocorre. Entretanto, havendo dolo do sacador
inevitavelmente ocorrerão efeitos nefastos para o sacado.
Sendo a emissão devida e correspondente à fatura, o sistema também só traz benefícios
ao devedor. Em vez de receber o título para aceite e ter de devolvê-lo,
sobrecarregando-se com as cautelas necessárias a fim de evitar o extravio,
simplesmente assina uma das vias destacáveis do boleto e entrega ao banco, pagando o
documento na data do vencimento.
Modernamente o pagamento pode ser feito em qualquer terminal bancário ou mesmo
pelo computador do próprio sacado via Internet, sendo possível até mesmo o
agendamento para desconto em conta corrente. O extrato bancário comprovando a
transferência serve de recibo, fato que não contraria muito o regime legal da duplicata,
como vimos, pois a Lei 5.474/68 admite até mesmo o cheque dado em pagamento como
recibo, desde que conste no verso ter sido emitido para saldar a duplicata e a indicação
do número da mesma (art. 9.º, § 2.º).
Caso endossatário e sacador queiram agir de má-fé fatalmente haverá prejuízo ao
sacado. A primeira situação ocorre quando a emissão é total ou parcialmente
fraudulenta, ou seja, não derivou de nenhum negócio jurídico subjacente ou não
corresponde ao valor exato do negócio. Neste caso é indiferente se a duplicata é emitida
nos moldes tradicionais ou pela forma escritural, pois o banco sempre envia o boleto, e
nunca o título.
Vencido o documento e não havendo pagamento, o banco fatalmente levará o título a
protesto, a não ser se for transmitido apenas para cobrança e não haja estipulação de
encaminhamento a protesto, pois deve garantir o direito de regresso contra o
sacador-endossante. Como dissemos, pouco importa se existiu ou não a duplicata. A
conseqüência para o sacado será sempre a mesma.
Em todas as situações deverá o suposto sacado ingressar com ação cautelar de sustação
de protesto, tendo em vista impedir os efeitos nefastos que o ato notarial lhe causará
fatalmente. Como os prazos entre a notificação do devedor e a lavratura do protesto são
exíguos, se a empresa não estiver atenta terá um título protestado sem que haja dado
causa para isso.
A situação, entretanto, pode ocorrer da mesma forma mesmo se o título tiver sido
enviado e não devolvido, ou devolvido sem ter sido aceito. Lavrado o protesto, por
qualquer que seja o motivo, haverá sempre prejuízo ao sacado se a emissão for
fraudulenta.
Bibliografia
BARBI FILHO, Celso. "Execução judicial de duplicatas sem os originais dos títulos".
Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro 37/171-183, n. 115, São
Paulo, jul.-set. 1999.
DAROLD, Ermínio Amarildo. Protesto cambial. 2. ed. Curitiba : Juruá, 2001.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de
Janeiro : Nova Fronteira, 1977.s
LOBO, Jorge. "As 'dez regras de ouro' dos títulos cambiais", RT 777/159
(DTR\2000\415)-168, n. 89, São Paulo : RT, jul. 2000.
LUCCA, Newton de. A cambial-extrato. São Paulo : RT, 1985.
PENTEADO, Mauro Rodrigues. "Títulos de crédito no projeto de Código Civil
(LGL\2002\400)". Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro
34/24-48, n. 100, São Paulo, out.-dez. 1995.
A DUPLICATA ESCRITURAL
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TANAKA, Lidia Tieko Hadano. "A duplicata frente à informática". 1999. Dissertação
(mestrado em direito comercial), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São
Paulo, 1999.
(1) A respeito, Newton de Lucca. A cambial-extrato. São Paulo : RT, 1985.
(2) Dizia o grande mestre peninsular: "Não se aventurem nunca a qualquer investigação
jurídica se não conhecem a fundo a estrutura técnica e a função econômica do instituto
objeto dos vossos estudos. Recolham nas bolsas, nos bancos, nas agências, nas
sociedades comerciais, nas secretarias judiciais, o material necessário para compreender
aquela estrutura e aquelas funções. É uma deslealdade científica, é uma falta de
probidade falar de um instituto com o fim de determinar-lhe a disciplina jurídica sem o
conhecer na sua íntima realidade" (Cesare Vivante. Trattato di diritto commerciale.
Prefácio. p. XIII et seq., apud Jorge Lobo. "As 'dez regras de ouro' dos títulos cambiais".
RT 777/159 (DTR\2000\415)-168, n. 89, São Paulo : RT, jul. 2000. p. 160).
(3) Lucca, op. cit., p. 133, n. 1.
(4) Duplicata-extrato papel.
(5) Lucca, op. cit., p. 41, n. 1.
(6) Notadamente junto à gerência do Banco do Brasil, agência central da cidade de
Franca, SP.
(7) Atualmente vários sistemas existem, todos operacionalizáveis através da internet,
intranet, fax ou telefone.
(8) Celso Barbi Filho. "Execução judicial de duplicatas sem os originais dos títulos".
Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro 37/171-183, n. 115, São
Paulo, jul.-set. 1999. p. 177.
(9) Barbi Filho, op. cit., p. 178, n. 7.
(10) Ibidem, p. 178.
(11) Lidia Tieko Hadano Tanaka. "A duplicata frente à informática. 1999", p. 225.
Dissertação (mestrado em direito comercial), Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, São Paulo. 1999. p. 106.
(12) Ermínio Amarildo Darold. Protesto cambial. 2. ed., Curitiba : Juruá, 2001. p. 54.
(13) Exposição de Motivos do Provimento 30/97, de 19.12.1997, da Corregedoria Geral
da Justiça do Estado de São Paulo.
(14) A propósito, tivemos a satisfação de recebermos resposta de e-mail enviado à
Febrabam, em que o Sr. Geraldo de Camargo Vidigal afirma entender que os
Provimentos 30/97 e 14/98 representam "ofensa a princípios constitucionais
consagrados e a nornas de leis ordinárias", confiando em que venham a ser revogados.
(15) Darold, op. cit., p. 54, n. 11.
(16) Apesar dos poucos acórdãos sobre o assunto, merece transcrição decisão recente o
STJ: "Não se defere pedido cautelar de sustação de protesto de duplicata, se presentes,
através da prova reduzida, indícios suficientes da existência de efetiva transação
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mercantil entre os litigantes. A apresentação de alegações inverídicas e infundadas,
objetivando sustar protesto de duplicata sacada em razão de comprovado negócio
mercantil caracterizam litigância de má-fé. A recorrente aponta, além de dissídio,
violação aos arts. 6.º, 7.º, 8.º e 12, da Lei 5.474/68. Alega que a recorrida não cumpriu
as exigências dos dispositivos, ao deixar de provar o recebimento da mercadoria e que
remeteu a duplicata para aceite. Salienta que nem mesmo se apresentou o título em
discussão. O recurso não merece prosperar. O aresto afirma que os documentos trazidos
comprovam a existência do título e do negócio jurídico. Chegar à conclusão diversa
implica necessariamente reexame de provas, o que é vedado pela Súm. 07 desta Corte.
No que se refere à remessa da duplicada para aceite, não houve discussão sobre o tema,
pelo que carece do indispensável prequestionamento. Nego provimento ao agravo" (STJ.
AgIn em REsp 294.826-MG, rel. Min. Eduardo Ribeiro, 18.07.2000, DJ 10.08.2000).
(17) Não estamos querendo aqui nos manifestando no sentido de incentivar a prática da
não emissão de duplicatas, mas apenas alertando que as modificações legislativas,
extremamente necessárias no momento atual, devem levar em conta a evolução
experimentada pela prática comercial.
(18) Neste sentido pode ser citado o REsp 58075-SP do STJ, na qual a 4.ª T. decidiu
que: "Os 'borderôs de desconto de duplicatas' (relação de títulos que a emitente-cedente
leva ao banco para desconto), ainda que acompanhado dos protocolos de remessa dos
documentos para aceite, não constituem títulos de créditos hábeis a embasar o
ajuizamento da execução" (STJ, REsp 58075-SP, 4.ª T., rel. Min. Barros Monteiro,
19.05.1998, RSTJ 116/255). Note-se que o relator qualifica os borderôs comotítulos de
crédito.
(19) Lucca, op. cit., p. 142-143, n. 1.
(20) Mauro Rodrigues Penteado. "Títulos de crédito no projeto de Código Civil
(LGL\2002\400)". Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro
34/24-48, n. 100, São Paulo, out.-dez. 1995. p. 33.
(21) Ibidem, p. 34.
(22) Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de
Janeiro : Nova Fronteira, 1977. Verbete "escritural".
(23) A respeito os acórdãos dos Recursos Especiais 14.627-SP. 83.776-SP e 58.075-SP,
todos do STJ.
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