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Princípios básicos dos direitos humanos Licensed to Lucas Machado - lucasaspm@gmail.com - 059.719.149-28 SST Zolotar, Márcia Princípios básicos dos direitos humanos / Márcia Zolotar Ano: 2020 nº de p.: 12 Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. Licensed to Lucas Machado - lucasaspm@gmail.com - 059.719.149-28 3 Princípios básicos dos direitos humanos Apresentação Habitualmente, os direitos humanos são reconhecidos pela grande maioria das pessoas como direitos que são próprios dos seres humanos. Em uma primeira aproximação, podemos dizer que os direitos humanos são aqueles que possibilitam a fruição de todos os direitos independente de cor, raça, sexo, religião, condição social, entre outros aspectos. Assim, para garantir esta fruição, as leis estabelecem quais são os direitos para proteger os indivíduos das possiveis afrontas a direitos humanos fundamentais, além de visar garantir um dos fundamentos da República Federativa do Brasil: a dignidade da pessoa humana, previsto no art. 1º da Constituição Federal de 1988. Veremos, a seguir, como os princípios ajudam a garantir esses direitos. Princípios dos direitos humanos Agora, vamos falar dos princípios dos direitos humanos à luz da Declaração Universal de 1948. Esse documento foi aprovado pela Assembleia das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1048, sendo aprovada por 48 estados com oito abstenções. Em termos meramente técnicos, a Declaração é uma “recomendação” e, por conseguinte, não teria força vinculante. Porém, Fabio Konder Comparato entende de forma diversa (2015, p. 239): Esse entendimento, porém, peca por excesso de formalismo. Reconhece- se hoje, em toda parte, que a vigência dos direitos humanos independe de sua declaração em constituições, leis e tratados internacionais, exatamente porque se está diante de exigências de respeito à dignidade humana, exercidas contra todos os poderes estabelecidos, oficiais ou não. Aliada a esse entendimento, declara Flavia Piovesan (2015, p. 226): Com efeito, a Declaração se impõe como um Código de atuação e conduta para os Estados integrantes da comunidade internacional. Seu principal Licensed to Lucas Machado - lucasaspm@gmail.com - 059.719.149-28 4 significado é consagrar o reconhecimento universal dos direitos humanos pelos Estados, consolidando um parâmetro internacional para a proteção desses direitos. Passaremos a analisar os princípios contidos no citado documento. Vamos lá? Princípio da igualdade A Declaração de 1948 determina em seu art. 1º: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade”. A figura a seguir ilustra o princípio, a partir do qual se consagra, assim, a igualdade a todos, independentemente de raça, religião, cor, opinião política etc., conforme a redação do art. 2º desse mesmo diploma Princípios da igualdade Fonte: Deduca, 2020 A medida foi adotada face aos horrores cometidos durante a Segunda Guerra Mundial em nome de uma superioridade racial ou pelo desrespeito a minorias religiosas. Contudo, devemos lembrar que desrespeitos ao principio da igualdade não se resumiram às duas guerras mundiais – na Revolução Comunista, estabeleceu-se um regime totalitário e de extermínio de todos aqueles que se opusessem às ideias defendidas pela revolução. Licensed to Lucas Machado - lucasaspm@gmail.com - 059.719.149-28 5 Para saber um pouco mais sobre crimes contra a humanidade cometidos pela União Soviética, acesse: https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/17-crimes- contra-a-humanidade-cometidos-pela-uniao-sovietica- 72k8knzyrinebrvkcngrxya1u/. Saiba mais Uma das mais impressionantes perseguições perpetradas foi a chamada Holomodor (1932-1933), que significa em ucraniano “matar pela fome”. A questão principal – que persiste em certo grau até hoje – era a aceitação da Ucrânia como país independente da URSS (antiga União Soviética). Tal prática consistia na retirada gradual de alimentos à população ucraniana de modo a enfraquecer qualquer revolta ao poder central. Além da Declaração de 1948, a Organização das Nações Unidas aprovou duas convenções internacionais destinadas a confirmar o princípio da igual dignidade de todos os seres humanos: • Convenção sobre os Direitos Políticos da Mulher (1952). • Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (1965). Princípio da liberdade Este princípio, na Declaração de 1948, vem consagrado em suas duas dimensões: dimensão política e dimensão individual. A dimensão política vem expressamente declarada no art. XXI da Declaração, in verbis: “Todo ser humano tem o direito de fazer parte no governo de seu país diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos”. A dimensão individual, por sua vez, está prevista nos arts. VII a XII e XVI a XX. Citamos alguns deles para ilustrar: Art. VII. Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, à igual proteção da lei. Todos têm direito à igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. Licensed to Lucas Machado - lucasaspm@gmail.com - 059.719.149-28 6 Art. XIX. Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras. Veja uma importante ressalva feita por Comparato em relação a essas duas dimensões (2015, p. 242): Reconhece-se com isso que ambas essas dimensões são complemen- tares e interdependentes. A liberdade política, sem as liberdades in- dividuais, não passa de engodo demagógico de Estados autoritários ou totalitários. E o reconhecimento das liberdades individuais, sem efetiva participação política do povo no governo, mal esconde a do- minação oligárquica dos mais ricos. Em relação ao princípio da liberdade, devemos citar a Convenção Suplementar sobre a Abolição da Escravatura e de Situações Similares à Escravidão, bem como o Tráfico de Escravos, aprovada pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas em 7 de setembro de 1956. Princípio da fraternidade ou solidariedade Este princípio se encontra nos arts. XXII a XXVI da Declaração de 1948. São, por assim dizer, a base dos direitos econômicos e sociais. Art. XXIII. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. Art. XXV. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe, e a sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle. Os direitos sociais e econômicos têm como objetivo garantir aos indivíduos o acesso às necessidades básicas, como moradia, saúde, educação, lazer, dentre outras. Um dos mecanismos para que essas e outras condições se façam presentes é o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, cujo intuito era tornar juridicamente vinculantes os dispositivos da Declaração Internacional dos Licensed to Lucas Machado - lucasaspm@gmail.com - 059.719.149-28 7 Direitos Humanos, determinando a responsabilização internacional dos Estados- partes pela violação dos direitos enumerados. O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos foi adotado pela Resolução n. 2.200-A (XXI), da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 19 de dezembro de 1966. Entrou em vigor em 1976, quando foi atingido o número mínimo de adesões (35 Estados). Segundo Piovesan (2013), até 2011 o pacto contava com a adesão de 160 Estados-membros. Após a Declaração de 1948,outros direitos humanos surgiram diante de um mundo mais complexo e mais globalizado que passaram a clamar por proteção de forma universal. Podemos citar, dentre eles: • Convenção para a proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural (1972). • Convenção da ONU sobre Mudança no Clima (1992). • Declaração Universal sobre o Genoma Humano e os Direitos Humanos (1997). • Acordo de Paris (2015). Para saber mais sobre o impacto desses acordos para o Brasil, consulte A Entrada de Vigor do Acordo de Paris para o Brasil: o que mude para o Brasil?, disponível em: https://www2.senado.leg. br/bdsf/handle/id/528873. Saiba mais Grandes são os desafios enfrentados pelos defensores dos direitos humanos, tanto na prática quanto na positivação deles em nível nacional e internacional. Nesse sentido, Comparato (2015, p. 570) destaca: Constitui efetivamente um opróbio verificar que, no momento histórico em que parecemos nos tronar, enfim, senhores e possuidores definitivos da natureza, como anunciara Descartes, as condições de vida de três quartos da humanidade representem a negação objetiva desse direito, proclamado na abertura da Declaração de Independência dos Estados Unidos como inerente à condição humana. Licensed to Lucas Machado - lucasaspm@gmail.com - 059.719.149-28 https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/528873 https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/528873 8 Gerações de Direitos Partimos, agora, a uma breve análise sobre as gerações de direitos. Essa classificação surgiu exatamente da renovação e do desenvolvimento dos direitos humanos durante o curso da humanidade. Conforme nos orienta André de Carvalho Ramos (2015, p. 125): Tal teoria foi lançada pelo jurista francês de origem tcheca KAREL VASAK que, em Conferência Jurídica proferida no Instituto Interna- cional de Direitos Humanos no ano de 1979, classificou os direitos humanos em três gerações, cada uma com características próprias. 1. Direitos de 1ª geração: São os direitos individuais com caráter negativo por exigirem 7diretamente uma abstenção ou ação do Estado, seu principal destinatário. Alguns exemplos desses direitos são: o direito à vida, à liberdade, à propriedade, à liberdade de expressão, à participação política e religiosa, à inviolabilidade de domicílio, à liberdade de reunião, entre outros. 2. Direitos de 2ª geração: Diferente dos direitos de primeira geração, em que o Estado não deve intervir, aqui o Estado passa a ter responsabilidade para a concretização de um ideal de vida digno na sociedade. Ligados ao valor de igualdade, esses direitos são os sociais, econômicos e culturais. Para serem garantidos, necessitam, além da intervenção do Estado, de que ele disponha de recursos financeiros, sem os quais tais direitos não são exequíveis no mundo real. 3. Direitos de 3ª geração: Emergiram após a Segunda Guerra Mundial e, ligados aos valores de fraternidade ou solidariedade, são os relacionados ao desenvolvimento ou progresso, ao meio ambiente, à autodeterminação dos povos, bem como ao direito de propriedade sobre o patrimônio comum da humanidade e ao direito de comunicação. Licensed to Lucas Machado - lucasaspm@gmail.com - 059.719.149-28 9 São direitos transindividuais, em rol exemplificativo, destinados à proteção do gênero humano. Outros autores entendem que, modernamente, adiciona-se uma 4ª e uma 5ª geração de direitos. 4. Direitos de 4ª geração: Relacionam-se à democracia, à informação e ao pluralismo, versando sobre o futuro da cidadania e a proteção da vida a partir da abordagem genética e suas atuais decorrências. 5. Direitos de 5ª geração: Segundo alguns doutrinadores, estes direitos estariam relacionados à evolução da cibernética e de tecnologias, como a realidade virtual e a internet. Outros, no entanto, os vinculam ao ideal da paz, como ideal supremo da humanidade. Devido à sua relevância, eles entendem que esses direitos devem ser tratado em dimensão autônoma, desvinculada da 3ª geração de direitos, na qual costuma ser inserido. Análise dos impactos dos Direitos Humanos na construção da democracia Em um Estado democrático, impera o respeito às leis e à subordinação do poder ao Direito, havendo independência dos poderes constituídos. Os direitos humanos e a democracia caminham lado a lado, e a igualdade no exercício de direitos civis, políticos, sociais, econômicos e culturais é garantida a todos – o poder é do povo e para o povo. Com a Declaração Universal de 1948, surge a ideia de universalidade e indivisibilidade dos direitos humanos, tão cara à democracia. Assim, iniciou-se o movimento de “globalização” e “internacionalização” dos direitos humanos. Nesse cenário, fortalece-se a ideia de que a proteção dos direitos humanos não deve se restringir ao domínio reservado do Estado, tendo em vista ele ter se mostrado em muitas ocasiões: (i) incapaz de proteger seus próprios nacionais e (ii) violador de direitos humanos básicos. Dessa concepção, surgiram duas importantes consequências: Licensed to Lucas Machado - lucasaspm@gmail.com - 059.719.149-28 10 1. Releitura da noção tradicional de soberania absoluta do Estado, consideran- do que passam a ser admitidas intervenções a favor do nacional e da prote- ção dos direitos humanos. 2. A aceitação de que indivíduo possui direitos protegidos na esfera internacio- nal, na condição de sujeito de Direito. Assim, o tema de direitos humanos passou a ser global, influenciando diversos países a fortalecerem seus compromissos com os parâmetros consagrados pela Declaração de 1948. O próprio controle e monitoramento externo em relação à proteção aos direitos humanos passaram gradativamente a serem aceitos e constituíram uma forte ferramenta na consolidação da democracia em diversos países. Uma vez considerados os direitos humanos como universais (entendido o ser humano como um ser essencialmente moral, dotado de unicidade existencial e dignidade, esta com valor intrínseco à condição humana) e indivisíveis (garantia dos direitos civis e políticos é condição para a observância dos direitos sociais, econômicos e culturais e vice-versa), somente em um regime democrático os direitos humanos, em toda a sua amplitude e complexidade, poderão ter condições mínimas para serem respeitados e implementados. Sem direitos humanos reconhecidos e protegidos, não há democracia. Atenção Dessa forma, somente pela democracia e implantação de um sistema internacional de proteção de direitos humanos, aliado a sistemas regionais de proteção desses direitos e à implementação efetiva da democracia, poderiam evitar futuros conflitos e novas violações de direitos humanos. Licensed to Lucas Machado - lucasaspm@gmail.com - 059.719.149-28 11 Conclusão A efetivação dos direitos humanos se dá pelas leis, principios e, principalmente, pelos tratados internacionais de direitos humanos, que a partir de 1945 surgiram para a efetivação dos direitos humanos. O nascimento das Nações Unidas contribuiu para o desenvolvimento e a adoção das regras internacionais. O Brasil, como demais países, adotou em sua Constituição leis que protegem formalmente os direitos humanos básicos utilizando, muitas vezes, as regras desenvolvidas nos tratados internacionais levando ao seu grande comprometimento na efetivação de tais direitos. Licensed to Lucas Machado - lucasaspm@gmail.com - 059.719.149-28 12 Referências COMPARATO, F. K. A afirmação histórica dos direitos humanos. 3. ed. rev. amp. São Paulo: Saraiva, 2003. DECLARAÇÃO Universal dos Direitos Humanos. 1948. Disponível em: https:// declaracao1948.com.br/declaracao-universal/declaracao-direitos-humanos/?gclid =EAIaIQobChMIgqean6L66wIVhYiRCh02pAa0EAAYASAAEgK2h_D_BwE. Acesso em: 21 set. 2020. PIOVESAN, F. Direitos Humanos e Justiça Internacional: um estudo comparativo dos sistemas regionais europei, interamericano e africano. São Paulo: Saraiva Educação, 2015. PIOVESAN, F. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 14. ed., rev. e atual.São Paulo: Saraiva, 2013. Licensed to Lucas Machado - lucasaspm@gmail.com - 059.719.149-28 https://declaracao1948.com.br/declaracao-universal/declaracao-direitos-humanos/?gclid=EAIaIQobChMIgqean6L66wIVhYiRCh02pAa0EAAYASAAEgK2h_D_BwE https://declaracao1948.com.br/declaracao-universal/declaracao-direitos-humanos/?gclid=EAIaIQobChMIgqean6L66wIVhYiRCh02pAa0EAAYASAAEgK2h_D_BwE https://declaracao1948.com.br/declaracao-universal/declaracao-direitos-humanos/?gclid=EAIaIQobChMIgqean6L66wIVhYiRCh02pAa0EAAYASAAEgK2h_D_BwE