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Julia Paris Malaco – ambulatório ginecologia Ambulatório – úlceras genitais Considera-se a úlcera genital como solução de continuidade da pele e/ou mucosas com perda de tecido, envolvendo epiderme, derme e hipoderme. As úlceras genitais podem ser causadas por uma série de condições e, por estarem frequentemente relacionadas às infecções de transmissão sexual (ITS), podem gerar ansiedade, principalmente quando presentes em crianças e adolescentes, sem história de contato sexual. Estabelecer o diagnóstico correto torna-se um grande desafio, sendo fundamental para a condução adequada da doença. As úlceras genitais femininas podem ser a primeira manifestação de muitas doenças, e decorrem da necrose dos tecidos devido à lesão celular causada por processos inflamatórios e isquêmicos focais intensos. Em diversos casos, o tecido da lesão (necrose) resulta de isquemia, de fenômenos autoimunes ou mesmo irritativos, e não simplesmente de infecções sexualmente transmissíveis. A literatura tem evidenciado que as úlceras genitais, principalmente as relacionadas com as doenças sexualmente transmissíveis (DST), podem aumentar o risco para a aquisição/transmissão do HIV em até 18 vezes em mulheres sexualmente ativas. O HIV se encontra na secreção cervicovaginal em frequência duas vezes maior entre mulheres com gonorreia, três vezes maior na presença de clamídia e quatro vezes maior se existir ulceração no colo do útero ou na vagina. Além disso, as úlceras genitais femininas podem desempenhar papel importante no diagnóstico de tumores malignos vulvares. Classificação e etiologia Didaticamente, e de acordo com a etiologia, tais lesões podem ser classificadas em úlceras infecciosas e não infecciosas. O primeiro grupo também pode ser dividido em: Úlceras infecciosas de causa sexualmente transmissível: cancro duro, cancro mole (cancroide), herpes, donovanose (granuloma inguinal), linfogranuloma venéreo Úlceras infecciosas de causa não sexualmente transmissível: salmonelose, citomegalovírus, Epstein-Barr, influenza A e tuberculose. Quanto ao segundo grupo, sua etiologia consiste em: Doença de Behçet, Doença de Crohn Úlceras de Lipschütz, Aftose bipolar de Newmann, Neoplasia intraepitelial vulvar, Neoplasia invasora, Líquen plano erosivo, Traumas, Reações a medicamentos (doença de Stevens-Johnson), Doenças vesiculobolhosas da pele, Síndrome de Reiter, Retocolite ulcerativa, Dermatose por IgA linear, Hidradenite supurativa, idiopáticas. Em geral, as DST são a causa mais frequente de úlceras em mulheres na menacma, com as exceções da população pediátrica e geriátrica, quando as úlceras podem ser causadas por outras infecções, doenças inflamatórias, autoimunes, neoplásicas ou ser idiopáticas. Úlceras infecciosas Sífilis A sífilis é uma doença infecciosa sistêmica causada pelo Treponema pallidum. Trata-se de bactéria espiroqueta que não se cora pela técnica de Gram nem cresce em meios de cultivo artificiais. É sensível ao calor, a detergentes e a antissépticos comuns, e dificilmente sobrevive em ambientes secos. Sua transmissão é sexual ou vertical na maioria dos casos, podendo ocorrer também pela transfusão de sangue contaminado. Afeta unicamente o ser humano e tem período de incubação de 1 semana a 3 meses após o primeiro contato. Julia Paris Malaco – ambulatório ginecologia É classificada em: Adquirida Recente (menos de 1 ano de evolução) o Primária o Secundária o Latente recente Tardia (mais de 1 ano de evolução) o Latente o Tardia o Terciária. Congênita Recente: casos diagnosticados até o 2o ano de vida Tardia: casos diagnosticados após o 2o ano de vida. Sífilis primária: Trata-se de lesão ulcerada (cancro duro) não dolorosa (ou pouco dolorosa), em geral única, com a base e as bordas endurecidas, lisa, brilhante, com secreção serosa (líquida, transparente) escassa. Na mulher, dificilmente é detectada nesta fase e, pela localização, pode passar despercebida. Quando evidente, é mais comumente observada nos pequenos e grandes lábios, nas paredes vaginais e no colo do útero. É concomitante a adenopatia regional não supurativa, móvel, indolor e múltipla, que, em geral, passa despercebida. São raras, porém ocorrem as lesões de inoculação em outras áreas que não as genitais. A lesão aparece entre 10 e 90 dias (média de 21 dias) após o contato sexual e é altamente infectante, sempre rica em treponemas que podem ser visualizados ao microscópio óptico com campo escuro. O cancro em geral desaparece em 3 a 4 semanas, sem deixar cicatrizes. Entre a 3a e a 6a semana do seu aparecimento, as reações sorológicas para sífilis tornam-se positivas. Sífilis secundária: Caracteriza-se pela disseminação da bactéria no organismo e ocorre de 6 a 8 semanas do aparecimento do cancro. As manifestações nesta fase são essencialmente dermatológicas e podem ser acompanhadas de micropoliadenopatia generalizada e, ocasionalmente, de artralgias, febrícula, cefaleia e adinamia. Mais raramente se observa comprometimento hepático e até ocular, como uveíte. Também são lesões ricas em treponemas, como o cancro duro, e as reações sorológicas estão francamente positivas em razão da quantidade de anticorpos circulantes. O risco de contágio nesta fase é muito alto. Sífilis latente: A sífilis latente (recente e tardia) é a forma da sífilis adquirida na qual não se observam sinais e sintomas clínicos da doença. Seu diagnóstico é realizado exclusivamente por meio de testes sorológicos, com menos anticorpos do que na fase secundária. Sua duração é variável e seu curso poderá ser interrompido por sinais e sintomas da forma secundária ou terciária. Sífilis terciária: A sífilis tardia pode ter sinais e sintomas após 3 a 12 anos de infecção, principalmente lesões cutaneomucosas (tubérculos ou gomas), neurológicas (tabes dorsalis, demência), cardiovasculares (aneurisma aórtico) e articulares (artropatia de Charcot). Na maioria das vezes, entretanto, é assintomática. Não se observam treponemas nas lesões, e as reações sorológicas têm anticorpos baixos. Diagnostico Pesquisa direta por microscopia em campo escuro Testes sorológicos não treponêmicos: Esse tipo de prova detecta anticorpos inespecíficos (cardiolipídicos ou reaginas) no soro e torna possíveis testes qua-litativos (reagente/não reagente) e quantitativos (titulações). São importantes o diagnóstico precoce e o acompanhamento pós-terapêutico. Os anticorpos surgem habitualmente 3 a 5 semanas após o aparecimento do protossifiloma. Instituído o tratamento correto, tendem a negativar-se em 6 a 12 meses, podendo, no entanto, permanecer com títulos baixos (menores ou iguais a 1/16) por longos períodos de tempo ou até por toda a vida; é o que se denomina “memória” ou “cicatriz” sorológica. Testes sorológicos treponêmicos: São testes específicos e qualitativos, importantes para a confirmação da infecção, pois utilizam o T. pallidum como antígeno. São confirmatórios, úteis para exclusão de falso-positivos à sorologia não treponêmica. Em geral, tornam- se reativos a partir do 15o dia da infecção. Tratamento A penicilina G, administrada por via parenteral, é o fármaco preferido para o tratamento de todas as fases da sífilis. A preparação utilizada (benzatina, procaína aquosa ou aquosa cristalina), a dosagem e a duração do tratamento Julia Paris Malaco – ambulatório ginecologia dependem do estágio e das manifestações clínicas da doença. Cancro mole ou cancroide O agente etiológico é o Haemophilus ducreyi, um microrganismo gram-negativo. Esse microrganismopode ser encontrado em mucosas oral e genital normais. É transmitido exclusivamente pela relação sexual desprotegida com pessoa contaminada (vaginal, anal ou oral). O período de incubação é geralmente de 3 a 5 dias, podendo estender-se por até 2 semanas. O risco de infecção é de 80%. Quadro clínico Depois de o agente penetrar o organismo por uma solução de continuidade no epitélio, uma ou mais pápulas se desenvolvem após a exposição, e estas progridem rapidamente para uma ou mais lesões pustulares, que se rompem e formam úlceras rasas, com cerca de 3 a 50 milímetros, dolorosas, purulentas, com base granulomatosa que facilmente sangra ao toque. Suas bordas são irregulares, avermelhadas, mas bem definidas contra a pele normal. A base apresenta material amarelado- esverdeado purulento. Essas feridas são muito contagiosas, autoinoculáveis e frequentemente múltiplas. Na mulher, as localizações mais frequentes são na fúrcula e face interna dos pequenos e grandes lábios. Em 30 a 50% dos pacientes, o bacilo atinge os linfonodos inguinocrurais (bubão), sendo unilaterais em 2/3 dos casos, observados quase que exclusivamente no sexo masculino pelas características anatômicas da drenagem linfática. No início, ocorre tumefação sólida e dolorosa, evoluindo para liquefação e fistulização em 50% dos casos, tipicamente por orifício único. Diagnóstico O diagnóstico pode ser confirmado pelo exame direto das lesões, no qual a coloração por Gram ou Giemsa da secreção da lesão evidencia cocobacilos curtos, gram-negativos, com disposição em “cardume de peixe”, em “impressão digital”, em paliçada ou mesmo em cadeias isoladas. Coleta-se material das bordas, evitando-se o pus superficial. Pode também ser feito esfregaço da secreção obtida pela aspiração dos linfonodos comprometidos. A cultura é de difícil execução, com sensibilidade menor que 80%. O ideal é semear imediatamente após a coleta. O PCR multiplex (M-PCR) é o exame de maior sensibilidade e especificidade, porém não está comercialmente disponível. A biopsia não é recomendada, pois não confirma a doença. A combinação de úlcera genital dolorosa e adenopatia inguinal supurativa sugere o diagnóstico de cancro mole. Um provável diagnóstico de cancro mole, tanto para fins clínicos como para vigilância, pode ser estabelecido se os critérios a seguir forem acolhidos: Uma ou mais lesões ulceradas Sem evidência do Treponema pallidum pelo exame em campo escuro ou por um teste sorológico para sífilis realizados pelo menos 7 dias após o aparecimento de úlceras Aspecto de lesão ulcerada e linfadenopatia regional característicos do cancroid Teste negativo para herpes-vírus na lesão ulcerada. Tratamento As opções terapêuticas são: Azitromicina, 1 g VO, dose única Ciprofloxacino, 500 mg VO, a cada 12 h, durante 3 dias Eritromicina esterato, 500 mg VO, a cada 6 h, durante 7 dias Doxiciclina, 100 mg VO, de 12 em 12 h, ou 200 mg, 1 vez/ dia, durante 7 dias Tianfenicol granulado, 5 g (2 envelopes de 2,5 g) VO, dose única Tianfenicol, 500 mg VO, a cada 8 h, durante 7 dias Ceftriaxona, 250 mg IM, dose única. O tratamento dos parceiros até 10 dias antes do contato sexual está recomendado mesmo que a doença clínica não esteja evidente, pela possibilidade de existirem portadores assintomáticos, principalmente entre mulheres. Deve-se realizar teste para HIV e sífilis em todas as pacientes, repetindo-se 3 meses após os resultados negativos. As pacientes portadoras de HIV devem ser monitoradas rigorosamente, e pode ser necessário terapia mais prolongada. Para a gestante, prescreve-se eritromicina esterato, 500 mg VO, a cada 8 h, durante 7 dias, ou ceftriaxona, 250 mg IM, dose única. O ciprofloxacino é contraindicado, e a eficácia da azitromicina em gestantes ou lactantes ainda não foi confirmada. Herpes-vírus simples O herpes-vírus simples tipo 2 (HSV-2) é o vírus que causa a maior parte das infecções herpéticas Julia Paris Malaco – ambulatório ginecologia genitais, sendo as restantes causadas pelo herpes- vírus simples tipo 1 (HSV-1), essencialmente associado ao herpes orolabial. O período de incubação varia de 2 a 26 dias, com média de 7 dias. Tais infecções genitais primárias podem ser graves e durar cerca de 3 semanas. Localizam-se mais frequentemente nos pequenos lábios, clitóris, grandes lábios, fúrcula e colo do útero. As lesões são inicialmente pápulas eritematosas de 2 a 3 mm, seguindo-se por vesículas agrupadas com conteúdo citrino, que se rompem, dando origem a ulcerações. A adenopatia inguinal dolorosa bilateral pode ocorrer em 50% dos casos. As lesões cervicais (cervicite herpética), frequentes na primoinfecção, podem estar associadas a corrimento vaginal aquoso. Podem ocorrer sintomas gerais, como febre e mal-estar. Com ou sem sintomatologia, após a infecção primária, o HSV ascende pelos nervos periféricos sensoriais, penetra nos núcleos das células ganglionares e entra em latência. HSV-1: latência nos gânglios do nervo trigêmeo; HSV-2: latência nos gânglios sacrais, próximo à coluna. As manifestações surgem predominantemente na genitália externa, apresentando-se classicamente como vesículas e ulcerações acompanhadas de desconforto, ardência local e adenopatia inguinal. As lesões surgem, em média, 6 dias após o contato inicial. Poucos dias mais tarde rompem-se espontaneamente, confluindo em úlceras. É comum também a infecção local secundária por agentes oportunistas. No espectro clínico da doença também podem existir erupções cutâneas atípicas, fissuras, escoriações e desconforto na área anogenital, disestesia ou neuralgia nas nádegas e pernas, além de mal-estar com febre. As lesões herpéticas cervicais ocorrem a cada três casos de vulvite herpética, mas raramente o colo é o único local atingido. O diagnóstico das lesões na cérvice nem sempre é realizado em decorrência de dor vulvar intensa que impede a colocação do espéculo, podendo evoluir, em alguns casos, para cervicite necrosante aguda. A reepitelização costuma acontecer em 2 semanas, sem deixar sequelas A infecção por HSV representa uma das infecções oportunistas da AIDS (atingindo mais de 90% dos indivíduos HIV-positivos), podendo produzir infecções mucocutâneas primárias e recorrentes, entre as quais, infecções orolabiais, genitais e queratoconjuntivite. A taxa de reativação do HSV-2 é influenciada por contagem dos níveis de CD4 e pela carga viral. A terapia antirretroviral altamente ativa (HAART, do inglês highly active antiretroviral therapy) praticamente não influencia as taxas de reativação do HSV-2. Episódios recorrentes: O quadro clínico nas recorrências costuma ser de menor duração e intensidade, com sintomas mais localizados do que na infecção primária. As lesões ocorrem de preferência nos mesmos locais e são geralmente unilaterais em cada episódio. Em alguns indivíduos, os sinais clínicos do herpes genital recorrente são típicos, com a apresentação clássica de lesões vesiculares e outros sintomas locais e sistêmicos. Entretanto, o herpes genital atípico, com manifestações diferentes como fissuras vulvares e lesões perianais, é frequente e costuma ser erroneamente diagnosticado como outra patologia. A infecção por um tipo de HSV em determinado local não protege da aquisição em outro, mas os sinais e sintomas são menos graves. A infecção pelo tipo I não confere proteção total contra o tipo 2, mas reduz a gravidade dos sinais e sintomas em um novo local da mucosa. A resposta imune ao HSV-2 envolve tanto a imunidade inata como adaptativa, ajudando no controle e clearance do patógeno. No entanto, os mecanismos envolvidos na geração de imunidade protetoraou de progressão da doença não são muito conhecidos Diagnóstico Clinico Papanicolau Cultura viral: O isolamento do vírus em cultura de células é considerado padrão-ouro para diagnóstico PCR Testes de imunofluorescência direta ou ensaio imunoenzimático: O ensaio imunoenzimático tem desempenho satisfatório em pacientes sintomáticos, porém, trata-se de uma alternativa diagnóstica rápida em locais com limitação laboratorial. O ensaio imunoenzimático não diferencia entre os tipos de HSV Testes sorológicos. Testes sorológicos não são recomendados de rotina em pacientes assintomáticos, mas são indicados nos seguintes grupos: Julia Paris Malaco – ambulatório ginecologia o História de doença genital atípica ou recorrente quando métodos de detecção direta do vírus forem negativos. o Primeiro episódio de herpes genital, quando a diferenciação entre infecção primária e estabelecida guiará o aconselhamento e a conduta. o Parceiros sexuais de indivíduos com herpes genital, quando existe preocupação sobre transmissão. Tratamento Tratamento com antivirais Todos os agentes virais contra as infecções por HSV bloqueiam a replicação do DNA viral. Medicamentos antivirais suprimem repercussões clínicas, reduzindo a gravidade e a duração dos episódios e também a replicação viral. Enquanto análogos dos nucleosídios, entre os quais aciclovir, valaciclovir e fanciclovir, permanecem como a principal opção de tratamento e profilaxia, a ocorrência de resistência a medicamentos tem estimulado a pesquisa de novos agentes antivirais. O controle efetivo das infecções por HSV resistentes é agora possível com potentes agentes antivirais análogos do pirofosfato (foscarnet) e do fosfonato (cidofovir). A maioria dos dados clínicos disponíveis de resistência a fármacos são relativos ao aciclovir, pois é o fármaco mais utilizado para tratar infecções por HSV. O valaciclovir e o fanciclovir são estritamente relacionados com o aciclovir. O espectro e a potência da atividade antiviral destes medicamentos são essencialmente os mesmos do aciclovir, mas estes profármacos foram desenvolvidos para superar a escassa biodisponibilidade do aciclovir VO. Aproximadamente 5% dos pacientes imunossuprimidos desenvolverão resistência ao aciclovir, geralmente após longa exposição ao medicamento. A resistência aos fármacos em pacientes imunocompetentes é ocasionalmente descrita. O tratamento deve ser iniciado assim que o diagnóstico clínico for suspeitado. A administração deve começar o mais cedo possível. Para episódios recorrentes de herpes simples, o ideal é que seja feita durante o período prodrômico ou imediatamente após aparecerem os primeiros sinais ou sintomas. A terapia é mais efetiva quando iniciada nas primeiras 48 h após o aparecimento dos sinais e sintomas da infecção primária ou nas primeiras 24 h após os episódios recorrentes. O tempo médio de cura em pacientes com herpes genital recorrente é de 4,8 dias com tratamento comparado a 5,9 dias sem tratamento. A escolha do medicamento dependerá basicamente do custo e da conveniência do esquema de tratamento (1, 2 ou 3 vezes/dia). A dose recomendada de aciclovir é de 5 a 10 mg/kg, de 8 em 8 h, por 5 a 7 dias ou até a resolução clínica. O uso tópico não apresenta bons resultados e não é recomendado. Terapia supressiva Na literatura, é consenso recomendar a terapia supressiva em pacientes com: Seis ou mais episódios de recorrências ao ano Complicações significativas, mesmo com menos de seis recorrências ao ano Qualidade de vida significativamente alterada Disfunção sexual e social Possibilidade de transmissão ao parceiro ou feto/recém-nascido, para diminuí-la. Gestantes Embora a segurança do aciclovir no início da gravidez não tenha sido completamente estabelecida, o uso criterioso deste agente para todo caso suspeito de episódio de primoinfecção é amplamente defendido. Apesar de nenhum dos medicamentos antivirais serem aprovados para uso na gestação, os registros populacionais mostram a segurança do uso do aciclovir no primeiro trimestre, não existindo aumento do risco de defeitos do nascimento acima da taxa de ocorrência natural esperada. Dados de segurança de aciclovir podem ser extrapolados para o valaciclovir no final da gestação, mas há menor experiência com o uso de valaciclovir. O fanciclovir deve ser evitado até o surgimento de maiores dados. A Academia Americana de Pediatria não restringe a amamentação em mulheres lactantes que estejam usando aciclovir, pois as concentrações no leite materno são mínimas e não estão relacionadas com efeitos adversos nos infantes. Em gestantes com primoinfecção de herpes genital no primeiro e segundo trimestres, deve-se realizar terapia supressiva diária com 400 mg, 2 vezes/dia, a partir de 36 semanas de gestação, para evitar lesões de HSV no termo, evitando também a necessidade de cesariana. As gestantes com herpes genital recorrente devem saber que o risco de herpes neonatal é baixo, que as recorrências sintomáticas no terceiro Julia Paris Malaco – ambulatório ginecologia trimestre serão breves e que o parto vaginal é apropriado, sempre que as lesões não estiverem presentes no momento do parto. Em gestantes HIV-positivas com infecção recorrente por HSV, é maior a probabilidade de transmissão da infecção pelo HIV, independentemente de outros fatores. Sendo assim, preconiza-se terapia supressiva com 400 mg de aciclovir, 2 vezes/dia, a partir de 32 semanas de gestação, para reduzir o risco de transmissão da infecção pelo HIV-1, especialmente quando o parto vaginal for planejado. A terapia deve ser iniciada mais precocemente que o usual devido à maior possibilidade de parto prematuro. Parto: Em caso de primoinfecção no terceiro trimestre, lesões recorrentes ou pródromos no momento do parto, a cesariana deve ser considerada. Quando o parto vaginal for inevitável, ruptura prolongada de membranas e procedimentos invasivos devem ser evitados. Deve ser considerado o uso de aciclovir IV intraparto para a mãe. A cultura para HSV de urina e fezes, da orofaringe, olhos e locais de superfície deve ser realizada para possibilitar a identificação precoce de crianças infectadas. Os benefícios e riscos potenciais de iniciar a administração de aciclovir IV, sem esperar pelos resultados destas culturas, devem ser avaliados pelo pediatra Donovanose ou granuloma inguinal Trata-se de úlcera genital causada pela Klebsiella granulomatis (antiga Calymmatobacterium granulomatis). Causa doença crônica progressiva que acomete preferencialmente pele e mucosas das regiões genitais, perianais e inguinais. É frequentemente associada à transmissão sexual, pelo contato direto com feridas ou úlceras, embora os mecanismos de transmissão não sejam bem conhecidos. Contagiosidade baixa. O período de incubação é relatado com variação de 1 a 360 dias, porém lesões induzidas em voluntários sugerem período em torno de 50 dias. Quadro clínico A maioria das pessoas infectadas desenvolve a doença em até 6 semanas após a exposição. Surgem lesões em regiões cutâneas e mucosas da genitália e nas regiões anal, perianal ou inguinal, iniciando-se como pequena pápula ou nódulo subcutâneo indolor, que aumentam de tamanho e necrosam, levam ao aparecimento de úlceras caracteristicamente indolores, de bordas planas ou hipertróficas, bem delimitadas, com fundo granuloso, de aspecto vermelho vivo e de sangramento fácil. A ulceração evolui lenta e progressivamente, podendo tornar-se vegetante ou ulcerovegetante. Por autoinoculação, surgem lesões-satélites que se unem alcançando grandes áreas. As lesões podem ser múltiplas, sendo frequente sua configuraçãoem “espelho”, em bordas cutâneas e/ou mucosas. Há predileção pelas regiões de dobras e pela região perianal. Diagnóstico Geralmente é considerado quando não há resposta ao tratamento a úlceras não vesiculares mais frequentes (sífilis e cancro mole), com lesões persistentes por mais de 4 semanas. O diagnóstico pode ser confirmado por: Citodiagnóstico: exame no qual o material deve ser coletado, preferencialmente, das áreas de granulação ativa e sem infecção secundária para a pesquisa dos corpúsculos de Donovan. K. granulomatis: é difícil de ser encontrada rotineiramente e, também, isolada em meios de cultura. Tratamento As opções terapêuticas são: Sulfametoxazol-trimetoprima, 160/800 mg, um comprimido VO, a cada 12 h, durante 21 dias (mínimo), ou até remissão das lesões Doxiciclina, 100 mg VO, a cada 12 h, ou 200 mg, 1 vez/dia, durante 21 dias (mínimo) ou até remissão completa das lesões Ciprofloxacino, 500 mg VO, a cada 12 h, durante 21 dias ou até remissão completa das lesões Eritromicina, 500 mg, a cada 6 h, durante 21 dias ou até remissão completa das lesões Tianfenicol granulado, 2,5 g VO, dose única no primeiro dia de tratamento; a partir do segundo dia, 500 mg VO, a cada 12 h, até a cura clínica Tetraciclina, 500 mg, a cada 6 h, durante 21 dias ou até remissão completa das lesões Azitromicina, 1 g VO por semana, durante 3 semanas ou até remissão completa das lesões. Alguns autores recomendam o uso adicional de um amino-glicosídio quando não há evidência de melhora clínica (gentamicina, 1 mg/kg IV, a cada 8 h). As sequelas da destruição tecidual ou obstrução linfática podem ser corrigidas por cirurgia. Julia Paris Malaco – ambulatório ginecologia Linfogranuloma venéreo O linfogranuloma venéreo (LGV) é uma doença infecciosa de transmissão exclusivamente sexual, caracterizada pelo bubão inguinal, também conhecida como doença de Nicolas- Favre, doença de Frei, linfadenopatia venérea, bubão climático, dentre outros nomes. Quadro clínico O LGV é eminentemente uma doença do tecido linfático que ocasiona processo de linfangite e eventual disseminação do processo inflamatório para o tecido adjacente. O período de incubação é de 4 a 30 dias (média de 7 dias). No curso clínico da doença podem ser identificados três estágios: Primário (lesões precoces), Secundário (acometimento dos linfonodos regionais, denominado síndrome inguinal) Terciário (formas tardias ou sequelas da doença, ou síndrome anogenital). A lesão de inoculação é indolor, transitória e muitas vezes imperceptível. Quatro tipos são classicamente descritos: pápula, pústula, exulceração ou erosão, e desaparecem sem deixar sequelas. A primeira lesão clínica é geralmente uma pápula ou pústula anogenital, que evolui para úlcera de pequenas dimensões, a qual pode passar despercebida ao doente, cicatrizando espontaneamente. Nesse estágio pode haver corrimento mucopurulento uretral ou cervical. Na mulher, localiza-se na parede vaginal posterior, no colo do útero, na fúrcula e em outras partes da genitália externa. Segue-se a disseminação linfática regional. Lesões extragenitais são também descritas. A manifestação clínica mais comum do LGV entre heterossexuais é a linfadenopatia femoral ou inguinal. Os linfonodos comprometidos aumentam de volume e abscessos necrosantes se desenvolvem. Estes, por sua vez, agrupam-se, sofrem ruptura e formam fístulas que drenam secreção purulenta. O acometimento inguinal é 10 vezes mais frequente no homem em decorrência do padrão de drenagem linfática. Na mulher, a localização da adenopatia depende de onde a lesão de inoculação está situada. A drenagem linfática do terço superior da vagina e cérvice ocorre para linfonodos localizados entre as artérias ilíacas; o terço médio drena para os linfonodos entre a artéria ilíaca interna e o reto; o terço inferior drena para linfonodos pélvicos e inguinais, e os da genitália externa, para os inguinais. Inicialmente os gânglios acometidos são firmes, dolorosos e móveis; rapidamente aderem à pele, configurando o bubão inguinal. A pele sobrejacente torna-se eritematoedematosa e descamativa, seguindo-se ruptura dos linfonodos em um terço dos casos, que geralmente se faz através de vários pontos de drenagem (linfonodos individualizados, parcialmente fundidos em uma grande massa). Duas adenomegalias separadas pelo ligamento de Poupart são características dessa doença. Exposição retal em mulheres ou em homens que fazem sexo com homens (MSM) pode resultar em proctocolite, incluindo secreção retal hemorrágica ou mucoide, dor anal, constipação intestinal, febre e/ou tenesmo. O LGV é uma infecção sistêmica e, se não for tratado precocemente, a proctocolite associada ao LGV pode causar fístulas colorretais crônicas e estenoses. Essa segunda fase da doença pode ser acompanhada de sintomas gerais inespecíficos: febre, mal-estar, anorexia, emagrecimento, cefaleia, vômitos, artralgia, sudorese noturna, hepatoesplenomegalia; meningoencefalite e meningismo já foram relatados. As sequelas ocorrem mais frequentemente na mulher e nos homossexuais do sexo masculino, devido ao acometimento do reto. A obstrução linfática crônica provoca elefantíase genital. Podem ocorrer fístulas retais, vaginais, vesicais e estenose retal. Diagnóstico O diagnóstico de LGV deve ser considerado em todos os casos de adenite inguinal, elefantíase genital, estenose uretral ou retal. Na maioria dos casos, o diagnóstico é feito em bases clínicas, não sendo rotineira a comprovação laboratorial. Atualmente, depende da sorologia ou da identificação da Chlamydia trachomatis em amostras clínicas apropriadas. Pode ser realizado por: Papanicolau PCR Teste de Frei, com inoculação intradérmica de microrganismos mortos. Sorologia (fixação do complemento Teste de microimunofluorescência (MIF) Julia Paris Malaco – ambulatório ginecologia Tratamento A opção terapêutica é doxiciclina 100 mg VO, a cada 12 h, durante 21 dias, ou 200 mg VO, 1 vez/dia, durante 21 dias. As opções terapêuticas alternativas são: Tetraciclina, 500 mg VO, a cada 6 h, durante 21 dias Tianfenicol, 500 mg VO, a cada 8 h, durante 21 dias Eritromicina, 500 mg VO, a cada 6 h, durante 21 dias Azitromicina, 1 g/semana VO, durante 3 semanas Sulfametoxazol 800 mg + trimetoprina 160 mg VO, a cada 12 h, durante 21 dias. As opções terapêuticas para gestantes são: Estearato de eritromicina, 500 mg VO, a cada 6 h, durante 21 dias Azitromicina, 1 g/sem VO, durante 3 semanas Amoxicilina, 500 mg VO, a cada 8 h, durante 21 dias. Os parceiros sexuais devem ser examinados e tratados se tiver havido contato sexual com o paciente nos 60 dias anteriores ao início dos sintomas. Úlceras não infecciosas Doença de behçet (DB) A doença de Behçet (DB) é um distúrbio inflamatório autoimune que acomete os pequenos vasos sanguíneos, sobretudo as vênulas. Raramente há envolvimento de artérias de médio e grande calibre. O quadro histopatológico da DB consiste em vasculite, encontrada em biopsias em torno das lesões mucocutâneas, bem como em vasa vasorum dos grandes vasos acometidos pela síndrome, superimposta a um estado de hipercoagulabilidade, também característico da DB, com formação de trombos venosos ou arteriais. As lesões ativas são infiltradas por neutrófilos, considerados hiper-reativos na DB, com quimiotaxia exacerbada e produção aumentada de diversas enzimas lisossômicas. Trata-se de uma doença de adultos jovens, com média etária de início entre 25 e 30 anos. No entanto, já foram relatados casos iniciando na oitava década de vida, bem como em neonatos.Hoje considerada um modelo singular de vasculite, a DB parece apresentar, implicados em sua origem, elementos de suscetibilidade genética (e deles se destaca a associação ao HLA-B51, que foi encontrado positivo em grande parte dos pacientes, sendo possivelmente um marcador para essa doença) em interação com fatores ambientais desencadeantes. A doença de Behçet é basicamente caracterizada por úlceras orais recorrentes, úlceras genitais, manifestações oculares (principalmente uveíte) e lesões cutâneas, além de múltiplas outras manifestações sistêmicas menos comuns (articulares, intestinais, pleurais, cardíacas e do trato geniturinário). Não se trata de doença com atividade inflamatória crônica e persistente, sendo mais comum a apresentação de ataques recorrentes de inflamação aguda. Embora a maior parte de suas manifestações seja considerada benigna e autolimitada, ataques repetidos de inflamação ocular podem levar à cegueira, principal morbidade sequelar da doença. O acometimento do sistema nervoso central e de grandes vasos, manifestação menos comuns, pode ser agudamente grave ou progressiva, com importante letalidade. A apresentação clínica da DB não é uniforme. Diferentes manifestações são relatadas em populações diversas, surgindo classificações conforme seu tipo de acometimento preferencial. As úlceras aftosas orais representam a manifestação inicial da DB em 47 a 86% dos casos, em geral precedendo em alguns anos as demais manifestações da síndrome. As lesões típicas são dolorosas, com menos de 10 mm, e curam, sem deixar cicatrizes, em cerca de 10 dias. As úlceras genitais têm aspecto semelhante, mas são maiores e costumam deixar cicatriz, o que muitas vezes auxilia no diagnóstico. Dentre as manifestações cutâneas, o eritema nodoso e a pseudofoliculite/nódulos acneiformes são aproximadamente equivalentes em frequência. O primeiro, mais comum em mulheres, é doloroso e costuma curar deixando área hiperpigmentada, normalmente na face anterior das pernas. As tromboflebites superficiais também fazem parte do espectro de manifestações cutâneas Doença de Crohn A doença de Crohn (DC) é uma doença inflamatória crônica transmural e segmentar que pode alcançar qualquer parte do trato gastrintestinal, da boca ao ânus, com localização preferencial no nível do íleo terminal. Caracteriza- se pela formação de ulcerações, fístulas, estenoses e granulomas, e evolui caracteristicamente por períodos de agravamento e remissão. Abrange também espectro de manifestações extraintestinais, tais Julia Paris Malaco – ambulatório ginecologia como eritema nodoso e pioderma gangrenoso, podendo apresentar envolvimento vulvar e perineal pouco frequente. A DC pode ocorrer em qualquer idade, mas apresenta distribuição bimodal. O maior número de casos surge tipicamente na segunda e terceira décadas de vida, ocorrendo outro pico, embora menor, entre os 60 e 80 anos. Sua etiologia e patogênese permanecem desconhecidas. No entanto, várias hipóteses têm sido postuladas: considera-se que a doença resulte da combinação de predisposição genética com fatores ambientais, alterações na permeabilidade da parede intestinal, perda da tolerância aos antígenos comensais e diminuição da eliminação bacteriana, com a consequente gênese e perpetuação dos mecanismos inflamatórios. O envolvimento vulvar na DC pode ocorrer por contiguidade (como extensão direta do envolvimento intestinal) ou não contiguidade (metastática), na qual não há nenhuma ligação entre a vulva e o intestino. Em relação à vulva, as pacientes podem apresentar-se inicialmente com edema, eritema, prurido ou dor, e posteriormente desenvolver hipertrofia vulvar unilateral, massa vulvar, edema vulvar, seios de drenagem, ulceração ou formação de abscessos. As principais manifestações clínicas incluem ulcerações da vulva, com aspecto característico de “facada”, e que surgem nas dobras da vulva, ocorrendo entre os grandes lábios e a parte medial das coxas, ou entre os pequenos e os grandes lábios (lesões patognomônicas). A úlcera aftosa é outra apresentação morfológica geralmente encontrada. A dor limita a mobilidade da paciente e o coito. Está geralmente associada à doença inflamatória intestinal ou, raramente, pode anteceder a mesma. Pode haver infecção associada e tratos sinusais com drenagem de líquido aquoso semelhante ao conteúdo do intestino delgado. O diagnóstico subsidiário inclui biopsia e avaliação intestinal (radiográfica e endoscópica). O metronidazol, isoladamente ou em combinação com esteroides, tem sido o tratamento mais eficaz, com uma taxa de sucesso de 87,5%. A dose ideal recomendada de metronidazol é de 20 mg/kg/dia durante, pelo menos, 12 a 36 meses. Outros fármacos, como sulfassalazina, azatioprina, infliximabe e talidomida, têm sido utilizados com resposta variada. Casos avançados podem exigir vulvectomia, mas a excisão local tem mostrado recorrências da doença Líquen plano erosivo O líquen plano é doença mucocutânea inflamatória crônica de causa desconhecida. O prurido é sua principal manifestação. Caracteriza- se, na pele, por erupção com pápulas achatadas, poligonais, violáceas, brilhantes, que ocorrem na maioria dos casos entre os 30 e 60 anos de idade. No entanto, sua ocorrência em crianças tem sido cada vez mais observada. Pode também afetar as mucosas, particularmente a mucosa oral e genital e, muito raramente, a mucosa anal, do nariz, da laringe, da conjuntiva e da uretra. As lesões da mucosa oral ocorrem em 50 a 70% dos doentes com líquen plano, podendo ser exclusivas em 20 a 30% dos enfermos. Embora a etiologia não tenha sido claramente identificada, a patogênese é mais bem definida. O principal evento é o assalto linfocitário localizado aos queratinócitos da camada basal da mucosa. Os linfócitos T induzem apoptose e degeneração celular e perpetuam o processo ao liberarem quimiocinas no local inflamatório O comprometimento genital pode alcançar vulva, vagina, pregas genitocrurais e região perianal. As lesões vulvares evidenciadas caracterizam-se por pápulas planas brancas/eritematosas de longa duração e, algumas vezes, lesões vasculares purpúreas distintas, podendo ser discretas ou unir-se para formar placas. Tendem a ser descamativas e eventualmente erosivas. Na forma erosiva, apresentam-se ulcerações dolorosas, que podem cursar com formação de sinéquias, levando a alterações da anatomia vulvar e até estenose vaginal. Nesta forma, ocupam com maior frequência a face interna dos lábios menores. Em cerca de 60% dos casos podem existir lesões orais (mais prevalentes), portanto a inspeção da mucosa oral pode levar a importantes pistas diagnósticas. Os casos típicos de líquen plano de mucosa genital apresentam eritema circundado por borda reticulada (estrias em rede), chamado fenômeno de Wickman, como visto no líquen plano de boca, sendo esta a melhor área para realizar a biopsia para confirmação diagnóstica. A vagina pode estar afetada e a descamação do epitélio vaginal pode levar a sangramento vaginal e fusões epiteliais locais. Isto pode ocorrer espontaneamente ou pelo toque, causando grande sensação de desconforto na paciente. Ao menos 50% das pacientes referem dispareunia. Julia Paris Malaco – ambulatório ginecologia Histologicamente, apresenta padrão citado como “dente serrado” de hiperplasia epidérmica e alteração vacuolar da camada basal da epiderme, juntamente com um infiltrado inflamatório dérmico superior intenso, composto predominantemente por células T. Corticoides tópicos potentes, como o propionato de clobetasol, propiciam remissão satisfatória em mais de 70% dos casos. A posologia sugerida são 2 vezes/dia, durante 3 meses, e doses de manutenção posteriores.Os corticoides sistêmicos são empregados nos casos extensos e na forma erosiva. Os imunossupressores tópicos (tacrolimo e pimecrolimo) ou sistêmicos podem ser utilizados em casos selecionados. Hidradenite supurativa Doença crônica que alcança áreas com glândulas sudoríparas apócrinas da pele, de etiologia desconhecida, mas parecendo haver tendência familiar. Tal condição pode surgir em qualquer idade, sempre após a puberdade. Em relação à sua fisiopatologia, ocorrem obstrução e inflamação das glândulas, com formação posterior de tratos sinusais e abscessos. Tem sido sugerida relação com os níveis androgênicos ou hipersensibilidade periférica aos mesmos. Os microrganismos mais frequentemente isolados no tecido afetado, provavelmente como infecção secundária, são os estafilococos, estreptococos e os anaeróbios. Na fase inicial, observa-se perifoliculite com inflamação aguda e crônica da derme. Nas fases mais avançadas, existe inflamação do tecido subcutâneo, com ulceração da epiderme e abscessos que se comunicam com os seios subcutâneos. Também fica evidente a fibrose e a cicatrização com perda dos anexos cutâneos. As úlceras, pouco dolorosas e recidivantes, cicatrizam espontaneamente, podendo apresentar eliminação de secreção amarelada. Pode haver formação de abscessos e lesões nodulares. A extensão é variável, de lesão única ao comprometimento de toda a vulva. Na fase inicial, as úlceras recidivam no mesmo local, mas ao longo do tempo tornam-se várias úlceras, nódulos e tratos sinusais. As áreas mais comumente afetadas são axila, vulva e períneo. O tratamento clínico inclui: antibioticoterapia local com clindamicina ou neomicina; terapia com contraceptivos orais combinados (cujo uso aumenta a globulina carreadora de hormônios esteroides, ou SHBG, que se ligará à testosterona, diminuindo sua quantidade livre na circulação); e antibioticoterapia sistêmica com tetraciclina 500 mg VO, de 6/6 h. Em casos de doença ativa persistente: isotretinoína, 1 mg/kg/dia. O tratamento cirúrgico fica reservado aos casos refratários à terapia clínica. Síndrome de Reiter A síndrome clínica caracterizada por artrite, conjuntivite e lesões mucocutâneas, comumente conhecida por artrite reativa ou doença de Reiter, é uma doença multissistêmica desencadeada por resposta imune do hospedeiro após exposição a um antígeno. Acomete, preferencialmente, indivíduos do sexo masculino (oito homens para cada mulher), geralmente adultos jovens (entre 20 e 40 anos), com história de infecção nas últimas 4 semanas (quadro infeccioso disentérico ou urogenital). A tríade clássica (artrite, uretrite e conjuntivite) ocorre apenas em um terço dos casos, e o quadro clínico acompanhado de sinais mucocutâneos é comum. Caracteriza-se por poliartrite periférica soronegativa, com duração superior a 1 mês. A doença pode se manifestar de maneira localizada e leve, mas também grave e multissistêmica, acompanhada de febre, mal- estar e perda de peso. O envolvimento articular varia de monoartrite transitória a poliartrite com acometimento axial. Em 30% dos casos, pode haver conjuntivite, que geralmente precede a artrite em poucos dias e tende a ser leve e bilateral. Complicações como episclerite, queratite, uveíte (irite) e úlcera de córnea são muito raras, mas exigem identificação e tratamento especializado urgente, pois podem evoluir para cegueira. Alterações cardíacas, neurológicas, pulmonares e renais podem estar presentes. A ocorrência do quadro em mulheres, principalmente com a presença de ulcerações vulvares, é rara.