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Aula 02 – Farmacotécnica I Operações de Unir • Operações farmacêuticas de Unir Significa juntar substâncias no estado e forma desejados em um ou mais sistemas homogêneos ou heterogêneos. Sendo estas: misturar, dissolver, suspender, emulsionar, misturar por fusão, amassar e inchar. 1) Misturar: É dividir uniformemente duas ou mais substâncias entre si por meio de processos físicos, podendo as substâncias ou partículas serem sólidas, líquidas ou gasosas. É importante destacar que parece que a mistura seja efetiva, é necessário a similaridade entre os estados, por exemplo, sólido se mistura com sólido, líquido com líquido. É um processo que leva a distribuição ao acaso das diferentes partículas do sistema, distinguindo- se de um sistema ordenado no qual as partículas estão dispostas de acordo com uma interação qualquer, formando um padrão repetitivo. Exemplos de aplicação no campo farmacêutico: Mistura-se apenas líquidos que interagem entre si. - Misturar líquidos miscíveis: Água + glicerina Água + álcool Álcool etílico + propilenoglicol Álcool + glicerina Propilenoglicol + glicerina - Misturar gases: dois ou mais gases - Misturar sólidos: mistura de pó para formulação de pó composto, como a mistura de óxido de zinco com óxido de ferro, descrita como a loção de calamina. Pós para enchimento de cápsula, como um diluente e um deslizante, para produzir comprimidos que precisam ser homogeneizados – então estes são misturados para depois serem formados – para produção de granulado, que se necessita do uso de aglutinantes durante a manipulação de maneira a fornecer a forma farmacêutica da maneira desejada. - Equipamentos: Gral e pistilo ou moinho de bolas No caso do moinho de bolas, as bolas que podem ser de porcelana ou aço inoxidável permanecem em constante movimento vertical e horizontal, de maneira que ao passo que as substâncias descem, tem-se a mistura efetiva delas por meio da indução do contato com as bolas. Em nível industrial, tem-se como equipamentos o misturador em “V” e o misturador duplo cone, como abaixo. É importante destacar que existem versão menores destes misturadores e que são utilizadas até mesmo em bancadas de manipulação. Além destes, tem-se o misturador cilíndrico, misturador em cubo ou agitador magnético, também conhecido como o peixinho. Outros equipamentos que podem ser citados são: o misturador de bancada, agitador de hélice com tanque simples e agitador de hélice com tanque encamisado, no caso deste último, tem-se seu funcionamento com o adicional de que além de misturar, ele possui sistema parecido com um banho maria e são utilizados principalmente para misturar emulsões. Seguem fotos de agitadores de bancada e agitador de tanque encamisado: Os dois primeiros são utilizados para preparo de emulsões em bancada, podendo serem utilizados na produção de álcool gel – por meio do uso do carbopol e o natrosol (derivado de celulose), podendo produzir veículos para preparações orais onde se usam gomas e derivados semissintéticos de celulose, evitando a formação de grumos de difícil dispersão. O agitador pitch blade atua no preparo de soluções, assim como o tripé. Já o tanque encamisado com agitador âncora é utilizado largamente para preparo de emulsões como loções, cremes semissólidos. Os impelidores mostrados abaixo, são definidos com base na quantidade, viscosidade, o tipo de forma farmacêutica, observando as especificações dos fabricantes de impelidores que descrevem como utilizá-lo. Modelo de misturador exemplo: modelo de misturador da fisaton para pequenos volumes. 2) Operações de dissolver: É unir substâncias sólidas, líquidas ou gasosas com um líquido, obtendo uma dispersão molecular do soluto no solvente. Para compreender, é necessário visualizar a interação soluto + solvente e formação de uma solução, em geral, o soluto é sólido e o solvente é líquido, podendo formar uma dispersão molecular (solução verdadeira) ou uma dispersão coloidal (carmelose, incha ao captar água). São formadas soluções de uso tópico, oral etc. Antes de dissolver, pode ser necessário triturar para que o tamanho das partículas seja menor e a dissolução se processe mais fácil e rapidamente, porque se tem uma facilitação da solução. Pode-se também dissolver a quente ou a frio, conforme exija o sistema a ser preparado, dependendo do sistema a ser preparado, polímeros que exigem baixas temperaturas ou emulsões que precisam de temperaturas um pouco mais elevadas. Depois de dissolvido, pode ser necessário realizar uma clarificação, ou seja, retirada de impurezas, recorrendo a técnica diversas, entre as quais predomina a filtração. Portanto, em uma solução a operação principal é a dissolução, mas no caso de preparar uma suspensão, mas antes, se faz necessário uma dissolução, neste caso, a dissolução é uma preparação secundária, ou seja, auxiliar. 3) Operação de inchar ou intumescer: É unir um sólido com um líquido, tendo como consequência, a captação do líquido pelo sólido, induzindo seu aumento. A aplicação é voltada para a produção de géis, veículos para suspensões, fase aquosa gel-creme ou emulgel – aumentando a viscosidade de uma fase aquosa da emulsão, deixando a emulsão menos gordurosa, e até mesmo no processo de formação de mucilagem, magma ou gel, por meio da associação de polímeros com líquidos. 4) Operações de Suspender: É dispersar um sólido num líquido sem que seja obtida uma solução, ou seja, sem realizar o processo de dissolver. Essa mistura pode ser desfeita pelo efeito da gravidade ou da força centrífuga. Como exemplos de aplicação, tem-se o preparo de suspensões de uso tópico, oral, parenteral etc. Atuando também para a junção de sólidos com determinados veículos, em que por meio da não dissolução, tem-se como resultado a suspensão. Esta também pode atuar quando se deseja dispersar pós insolúveis em uma base semissólida, como exemplo das pastas e no caso de pomadas, em que se tem baixas quantidades de princípio ativo que não se dissolve no veículo empregado. Antes de suspender o princípio ativo ou pó, é necessário triturar e/ou tamisar, para homogeneizar o tamanho do princípio ativo ou pó. Depois de suspender, deve-se evitar troca de calor porque isso é motivo de instabilidade além disso, deve-se submeter a suspensão a uma moagem para destruir qualquer aglomerado de partículas (grumos) que esteja presenta na preparação, e para isto, usa-se por exemplo, um moinho coloidal. Contudo, é necessário que compreendamos que nem toda suspensão passou por uma operação farmacêutica de suspender, como é o exemplo da loção branca, também chamada de loção alba, que é preparada a partir da dissolução de sulfato de zinco após este ser reduzido a pó fino em cerca de 45 mL de água, e em seguida, se tem a filtração. Após isso, deve-se reduzir o sulfeto de potássio, outro princípio ativo da preparação em cerca de 45 mL de água e em seguida, filtra-se. Em recipiente adequado, deve-se misturar sob agitação o sulfeto de potássio e o sulfato de zinco e posteriormente, completa-se o volume com água. 5) Operações de emulsionar: Unir dois líquidos imiscíveis entre si dividindo um líquido no outro na forma de pequenas gotas, chamadas de micelas. É a junção de líquido aquoso e um líquido de base essencialmente oleosa, gerando uma emulsão. Como exemplos de aplicação, tem-se preparações de uso tópico – muito utilizada na área dermatológica, oral, parenteral – para produzir a nutrição parenteral, emulsões do tipo óleo em água para possibilitar a aplicação de tal forma farmacêutica em veias etc. As emulsões podem ser do tipo água em óleo, óleo em água, ou óleo em água contida em óleo, ou vice-versa. Antes de emulsionar substâncias sólidas ou semissólidas (como ceras, álcoois graxos superiores, vaselina, álcoois graxos, lanolina etc.) é necessárioaquecer para que ocorra a fusão delas, além disso, é necessário aquecer a mesma temperatura a fase aquosa, visto que, se isso não for feito, a emulsão se rompe imediatamente. Se os líquidos a emulsionar estiverem em temperatura superior à do ambiente, depois de emulsionados é necessário resfriar a emulsão formada, sob agitação até que ela chegue até temperatura ambiente, às vezes forma a cremeação, quando a nata se forma acima da fase aquosa, que pode ser associado novamente e formar a emulsão. 6) Misturar por fusão: é unir componentes sólidos ou semissólidos que primeiro são levados ao estado líquido, para poderem ser misturadas, geralmente, essas substâncias são fundidas juntas, como por exemplo em um tanque encamisado, como exemplo de aplicação, tem- se o preparo de pomadas, supositórios, cremes e batons, da fase oleosa de um creme ou emulsão. A intensão é juntar substâncias que são usadas para aumentar a consistência, viscosidade ou dureza de preparações sólidas ou semissólidas; 7) Operação de amassar: é unir componentes sólidos com líquidos ou componentes semissólidos em massas plásticas, principalmente por ação de forças de cisalhamento – consistem em cortar ou causar deformação numa superfície a partir de uma tensão provocada. Como exemplo de aplicação, tem-se o umedecimento de massa sólida para produção de grânulos (princípio ativo, diluente, aglutinante, o líquido de granulação, então se molha a massa que fica pronta para ser granuladas, caracterizada como uma massa plástica, que passa pelo tamis para ser homogeneizada e formar o grânulo, que é levado para estufa para secar), pílulas, glóbulos, pellets etc. para enchimento de cápsulas, como abaixo. Podem ser utilizadas misturadoras amassadeiras e funciona a velocidades controladas pelo motor no qual ele está acoplado. Exemplos da aula prática: Operações de Unir 1) Preparação de sais de reidratação oral: Os insumos utilizados são: Cloreto de sódio, cloreto de potássio, citrato de sódio e glicose que se apresenta como pó fino, e os outros componentes são sais, eles se apresentam em formas sólidas também. Portanto, é necessário triturar os componentes que estão em tamanho maior, como os sais, para que todos os insumos que compõem a preparação possam estar em tamanhos equivalentes (operações de dar forma), facilitando a mistura posteriormente e garantindo que se tem as quantidades equivalente de princípio ativo. Já com a glicose, é necessário observar o insumo, caso tenha grumos, é necessário tamisar ou triturar (operações de dar forma), caso não, a glicose pode ser apenas misturada com os sais citados acima através de uma operação de misturar (preparação principal). 2) Preparação de xarope simples Como já sabemos, o xarope é descrito como uma solução, e, portanto, todos os componentes devem se encontrar solubilizados no meio que constitui um veículo líquido. É obtido pelo processo de dissolução da sacarose em água, sendo necessário talvez, o aquecimento para facilitar a dissolução, visto que em grandes concentrações, a dissolução é facilitada por meio do aquecimento da água, contudo, este aquecimento é uma operação auxiliar, sendo a operação farmacêutica principal o de dissolver. Após a dissolução, tem-se a necessidade de filtrar a solução para remover prováveis impurezas encontradas na sacarose e que agora estão dispostas na solução, constituindo um processo de separar (operação farmacêutica auxiliar). 3) Preparação de solução de Lugol Como insumos, tem-se o Iodo, o iodeto de potássio e a água (quantidade suficiente para dissolver). Então, o iodeto de potássio, que é um sal e, portanto, se encontra na forma de cristais atua como um agente complexante, permitindo assim, que o iodo seja dissolvido em água, então, para fazê-lo é necessário misturar intimamente o iodo (resublimado se encontra na forma de bolinhas metálicas) com o sal denominado iodeto de potássio (na forma de cristais), constituindo um processo de mistura (operações de unir), mas misturar não é suficiente, então tem-se o processo posterior como o de triturar, porque se reduz o tamanho de ambos, facilitando o processo de unir (operação de dar forma). Quando o iodo e o iodeto de potássio estão homogeneizados, se torna possível o processo de dissolução, caracterizado como operação farmacêutica de unir. Tanto para misturar como para triturar, podem ser usados pistilos de vidro ou uso de cálice e bastão de vidro. Como uma segunda técnica, é possível dissolver o iodeto de potássio (cristais) em água, já que por ser um sal, essa dissolução é viável, constituindo uma operação de unir. Depois que essa solução concentrada estiver obtida, adiciona-se o iodo e então, tem-se uma segunda dissolução (operação de unir). Proporções – 2 de iodeto de potássio para 1 de iodo. 4) Preparação do linimento óleo-calcáreo Para compor a preparação, tem-se como insumos óleo vegetal (precisa ser composto de triacilgliceróis, que com a água de cal, fornece o tensoativo necessário para formar uma emulsão, que é um sal de cálcio – sendo o cálcio proveniente da a água de cal e a outra porção do sal, do óleo vegetal). Então após a junção desses componentes, tem-se como operação de unir, a realização da emulsão por meio de agitação mecânica e se necessário, intenso controle da temperatura para que a emulsão não se quebre, no caso desta preparação, não se faz necessário aquecimento. Para preparar a água de cal, tem-se os insumos descritos como o hidróxido de cálcio (hidróxido de um metal alcalino terroso, que possui baixa solubilidade em água, e durante a preparação, utiliza-se um excesso deste) e a água, portanto, tem-se um excesso que não se dissolve, obtendo uma suspensão (operação de unir) de hidróxido de cálcio em água de maneira homogênea, que apenas a pequena porção de hidróxido de cálcio possa se dissolver. O excesso é necessário para que quando for acontecer o uso, se torne possível a sedimentação (operação de separar) do excesso, possibilitando assim que o líquido possa decantar, gerando a captação do líquido sobrenadante, definido como água de cal (operação de separar). Trata-se de uma emulsão óleo em água. Operações de Transmitir calor 1) Preparar creme base Tem-se como componentes, a cera autoemulsionante (sólida) e o emoliente – sólidos ou líquidos (compondo a fase oleosa), a água e os conservantes (compondo a fase aquosa) e a essência como fase auxiliar/complementar, mas na verdade, os conservantes (edetato, solução conservante de parabenos, solução de midureia); A primeira operação será a de misturar uma cera autoemulsionante no estado sólido com um emoliente no estado líquido através de uma mistura por fusão (operação farmacêutica de unir), sob aquecimento em banho-maria ou através de agitador magnético com aquecimento da chapa, como é necessário aquecer a fase oleosa, é necessário aquecer os componentes da fase aquosa para não quebrar a emulsão ao misturar as fases. Portanto, é necessário aquecer (operação de transmitir calor) a água que compõe a fase aquosa. Como os conservantes não se encontram em fase aquosa ou em solução, mas sim, em forma sólida, se faz necessário dissolver (operação de unir) os conservantes na água que se encontra aquecida (a água deve ser aquecida pois caso os conservantes sejam colocados em contato com a água fria, nem todas as partes dos conservantes irão dissolver). Como agora as duas fases estão nos estados líquidos, e uma é de base oleosa e outra de base essencialmente aquosa, tem-se a realização do processo chamado emulsionar (operação farmacêutica de unir). Após a agitação mediante aquecimento (para que não haja o rompimento da emulsão), é necessário resfriar (operação de transmitir calor) visando a obtenção da formulação no estado de creme, visando perda de temperatura, então por último, se adiciona a essência, especificamente após o resfriamento para evitar a perdade essência do meio, então realiza-se uma dissolução da essência (quando sólida), mistura (quando líquida) e no caso de ser uma fase oleosa, uma emulsão (semelhante à dissolução). 2) Preparar supositório com um ativo insolúvel Quando se tem uma base de supositório pronta, é necessário fundi-la (operação de transmitir calor, transformando de sólido para líquido) e uma substância ativa (caso esteja em fase sólida, é necessário triturar – operação de dar forma, para permitir que ao ser posta em contato com a base do supositório, esta esteja em tamanho particularmente pequeno, possibilitando a interação e, portanto, uma mistura sem a ocorrência de sedimentação e quando for administrada ela tenha uma boa disponibilidade). Caso esteja na forma de pós finos, é necessário observar a existência de grânulos, caso não, não é necessário triturar. Quando a substância ativa já está em tamanho ótimo para manipulação, esta deve ser colocada em contato com a base do supositório de maneira a gerar uma suspensão, já que a substância ativa não é solúvel na base do supositório, portanto, realiza-se o processo de suspender (operação de unir), destacando que essa formulação se encontra aquecida. Após isso, é necessário moldar (operação de dar forma) e após o deposito da suspensão aquecida no molde, se realiza o processo de solidificar (operação de transmitir calor).
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