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Márcio Abraham Ricardo Bonacorci São Paulo 2011 Copyright© 2011 por Setec Editora Todos os direitos dessa edição são reservados à Setec Qualitas Consulto- ria e Editora Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio, desta obra, sem a prévia autorização da edi- tora. A violação dos direitos da editora (lei número 9.610/98) é crime es- tabelecido pelo artigo 184 do Código Penal. Depósito legal na Biblioteca Nacional conforme decreto 1.825, de 20 de dezembro de 1907. Produção Editorial: Setec Editora Direção Editorial: Jeannette Galbinski Assistente Editorial: Iris Pereira de Morais Revisão: Patrícia Sanchez, Mariana Zambon e Sandra Scapin Capa: Adilson Ap. Barbosa Projeto Gráfico e Diagramação: Kaeru Comunicação 2ª edição: 2011 Abraham, Márcio & Bonacorci, Ricardo. Explosão da Inovação: Aprenda e Inove de Forma Explosiva / Márcio Abraham e Ricardo Bonacorci – São Paulo: Setec Editora, 2011. 194 p.: il. ISBN: 978-85-63093-17-2 1. Inovação 2. Administração 3. Criatividade 4. Gestão Empresarial. I. Abraham, Márcio II. Bonacorci, Ricardo III. Título IV. Título: Aprenda e Inove de Forma Explosiva 2011 Impresso no Brasil/ Printed in Brazil Todos os direitos reservados à Setec Qualitas Consultoria e Editora Ltda. Avenida Lavandisca, 741 – conjunto 45 – Moema São Paulo, SP – CEP: 04515-011 Site: www.setecnet.com.br E-mail: setec@setecnet.com.br AgrAdecimento Escrever um livro com coautores é um excelente exercício de interação e trabalho em equipe. Foram inúmeras reuniões, pesquisas, reflexões, discussões, apresentações e revisões até a conclusão deste trabalho, também fruto de nossas crenças e de nossa experiência. Contudo, não nos enganamos em acreditar que os méritos são apenas dos dois autores. O livro Explosão da Inovação contou com a preciosa contribuição e o incansável apoio de várias organizações e de seus profissionais, decisivos para a conclusão dessa obra. Agradecemos primeiramente à equipe do Departamento Nacional da Unidade de Inovação e Tecnologia do SENAI, em especial ao seu Gerente Executivo, Orlando Clapp Filho, e ao Gerente de Inovação Tecnológica, Marcelo Oliveira Gaspar de Carvalho, que nos concederam o patrocínio para a realização da primeira edição do livro. Foi um prazer ter compartilhado com vocês nossos estudos e nossas ideias. Sentimos muito or- gulho de ter participado, a convite do SENAI, dos vários even- tos de divulgação dessa obra, em diversas regiões do Brasil. Um agradecimento especial à Gerdau, que nos apoiou nesta segunda edição do livro, permitindo que o modelo seja difundido ainda mais pelo país. Esperamos que todos os seus colaboradores incorporem e apliquem os conceitos do Explo- são da Inovação, contribuindo ainda mais para o futuro dessa empresa centenária e inovadora. Agradecemos também à Editora EPSE, nossa parceira em uma infinidade de projetos realizados nos últimos quinze anos, que contribuiu diretamente para a publicação da primei- ra edição do livro. Fernando Banas e Marisa Bernal, o nosso muito obrigado pela recomendação e pela confiança que depo- sitaram em nós. Não podemos nos esquecer dos profissionais do Setec Consulting Group, que também contribuíram significativamen- te para a validação do modelo e para o desenvolvimento do livro. Foram dezenas de pessoas que colaboraram em todos os sentidos, contando sempre com o apoio da Diretora Jeannette Galbinski. Também enviamos um obrigado especial aos clientes do Setec Consulting Group pelas experiências compartilhadas nos projetos de consultoria e a todas as empresas inovadoras que nos serviram de inspiração para os exemplos práticos co- mentados nesta obra. Por fim, agradecemos carinhosamente às pessoas queri- das, que compreenderam nossa ausência e nos deram suporte para que pudéssemos escrever este livro. Márcio Abraham e Ricardo Bonacorci PreFÁcio Uma das maiores discussões acerca da Inovação trata de como as pessoas encaram e compreendem o tema. Muitas ve- zes, o verbo inovar é utilizado no dia a dia para retratar uma nova ideia colocada em prática. Alguns chegam a usar até mes- mo o termo “patente” de maneira informal. Há alguns anos, resolvemos fazer um piquenique com ex- colegas de escola. Uma amiga trouxe uma sacola e disse com essas palavras: “Tive uma ideia inovadora! Vejam essa patente que eu criei! Antes de sair de casa, aqueci essa bolsa térmi- ca no forno micro-ondas e coloquei na sacola. Com isso, pude manter a comida aquecida por muito mais tempo. Gostaram da ideia?”. Lembrei-me imediatamente da “bolsa térmica para tratamento quimioterápico”, produto que desenvolvi no curso de Engenharia de Produção da POLI-USP, no ano de 1986, e que me fez ganhar na época o “Prêmio Trol de Melhor Projeto do Produto”, no curso ministrado pelo Prof. Floriano Conrado do Amaral Gurgel. O objetivo da bolsa era prevenir a queda de cabelo gerada pela aplicação do tratamento de quimioterapia, utilizado no combate ao câncer. Sinceramente, eu nunca tinha visto uma aplicação como aquela proposta pela minha amiga para uma bolsa térmica. Não sei se outras pessoas tiveram essa ideia antes ou se ela já havia visto alguma aplicação similar. O fato é que ela estava feliz com sua ideia colocada em prática e com os bons resul- tados obtidos. Contudo, um amigo meu naquele momento riu bastante da situação e arrematou: “Não torture o conceito de Inovação com uma ideia medíocre! Inovar é muito mais do que isso!”. O que eu realmente me lembro é de que tivemos com- bustível suficiente para discutir o conceito de Inovação e sua abrangência até o final do piquenique. O curioso é que aquele dia me deixou com uma grande sensação de que, em termos de Inovação, sua aplicação era muito mais relevante do que a própria discussão. Passados alguns anos, resolvi retornar ao Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica, dessa vez como aluno de doutoramento e como Professor da discipli- na de Projeto do Produto, dividindo a turma com o Professor Floriano. Naquele momento o prêmio já havia sido extinto e criamos um novo prêmio com o apoio de outro patrocinador. Dessa vez passaria a se chamar “Prêmio Procter & Gamble de Projeto do Produto”. Dessa forma, centenas de alunos foram desafiados a criar e a desenvolver o seu potencial empreen- dedor, passando a entender a dimensão da Inovação. O que procurávamos reforçar é que uma grande ideia pode vir de um problema simples, mas temos que estar sempre atentos para aquelas demandas que não são atendidas em sua totalidade e para o fato de que, infelizmente, algumas visões mais puristas sobre o que é inovar podem tolher a criatividade e, consequen- temente, a própria Inovação. Márcio Abraham SUmÁrio Capítulo 1 | A Inovação e as Necessidades Mutáveis . . . . . . 11 1.1 A Satisfação do Cliente como Peça Fundamental da Inovação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 1.2 Uma Proposta Realmente Inovadora . . . . . . . . . . . . . . 16 1.3 Definições Teóricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 1.4 Exemplos e Benefícios da Inovação . . . . . . . . . . . . . . . 24 Capítulo 2 | Modelo da Explosão da Inovação . . . . . . . . . . . . 29 2.1 Iniciação ao Modelo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 2.2 Modelo da Explosão da Inovação . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 Capítulo 3 | O Ambiente Externo como Comburente da Inovação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 3.1 O Ambiente Externo como Base da Inovação . . . . . . 39 3.2 O Papel do Ambiente Externo na Explosão da Inovação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 3.3 Tipos de Ambientes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 3.4 Os Elementos do Ambiente Externo – CRIARE . . . 52 3.4.1 Competição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . 55 3.4.2 Recursos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 3.4.3 Instabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 3.4.4 Acesso à Informação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68 3.4.5 Ruptura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72 3.4.6 Evolução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76 3.5 Relação entre os Elementos e os Tipos de Ambiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81 Capítulo 4 | A Capacidade Interna como Combustível da Inovação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85 4.1 A Capacidade Interna como Motor da Inovação . . . . 87 4.2 O Papel da Capacidade Interna na Explosão da Inovação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 4.3 Tipos de Empresas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93 4.4 Os Elementos da Capacidade Interna – MACCS . . . 100 4.4.1 Motivação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103 4.4.2 Autonomia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108 4.4.3 Conhecimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114 4.4.4 Capital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121 4.4.5 Sistema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125 4.5 Relação entre os Elementos e os Tipos de Empresas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131 Capítulo 5 | A Ideia Criativa como Faísca da Inovação . . . 135 5.1 A Ideia Criativa como Geradora da Inovação . . . . . . 137 5.2 O Papel da Ideia Criativa na Explosão da Inovação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141 5.3 Tipos de Ideias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143 5.4 Os Elementos da Ideia Criativa – SETEC . . . . . . . . . 147 5.4.1 Sentidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150 5.4.2 Equipe . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155 5.4.3 Transpiração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159 5.4.4 Estalo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163 5.4.5 Confiança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167 5.5 Relação entre os Elementos e os Tipos de Ideias . . . 172 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177 Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 186 11 Capítulo 1 A Inovação e as Necessidades Mutáveis Explosão da Inovação 12 O conceito de Inovação é amplo e possui muitas defi- nições. O objetivo deste capítulo é discutir esse conceito sob duas óticas principais. A primeira delas está focada na dinâ- mica entre necessidades mutáveis dos clientes, satisfação dos clientes, diferenciais competitivos e Inovação. A segunda traz as dimensões da Inovação subdivididas em quatro quadran- tes relacionados ao nível de mudança esperado pela Inovação (incremental ou radical) e ao grau de impacto de quem será afetado diretamente (cliente interno ou cliente externo). Por fim, são tratados os diversos benefícios da Inovação e alguns exemplos práticos de casos associados à Inovação. 1.1 A Satisfação do Cliente como Peça Fundamental da Inovação O ambiente de negócios enfrentado pelas empresas vem se modificando a uma velocidade jamais vista. Novos produ- tos surgem, associados a novas demandas que se modificam de forma frenética. A busca permanente pela satisfação e pelo encantamento dos clientes pode se resumir em uma simples e interessante equação: Equação da Satisfação do Cliente Se o resultado dessa equação for igual a 1, significa que os clientes estarão satisfeitos porque oferecemos exatamente aquilo que eles esperavam. Se o resultado da divisão for me- nor do que 1, demonstra que não atendemos exatamente suas expectativas. Por fim, se o número obtido for superior a 1, te- satisfação do cliente = o que oferecemos o que o cliente espera a Inovação E as nEcEssIdadEs MutávEIs 13 remos uma rara situação em que as expectativas dos clientes foram superadas, gerando algum tipo de encantamento. O grande problema dessa equação está na velocidade com que numerador (o que oferecemos) e denominador (o que o cliente espera) se modificam. Se, em algum momento, ofere- cemos, mais do que o cliente espera, essa razão pode ser supe- rior a 1. Porém, imediatamente após esse momento, o denomi- nador se altera e aquele diferencial passa a se tornar uma nova expectativa. Vamos a um exemplo prático. Um casal de jovens está muito empolgado com o início do namoro. Digamos que am- bos estejam, de fato, apaixonados. Com o intuito de surpreen- der a namorada ao final do primeiro mês, o namorado decide comprar-lhe um presente. Sai do trabalho e dirige-se imedia- tamente ao shopping center mais próximo. Vagando ansio- samente entre as lojas, depara com aquele que seria, em sua opinião, o presente ideal para aquela ocasião. Um lindo colar de diamantes o atrai de forma sedutora para uma das vitrines. Num impulso, adentra a loja de forma determinada e decide adquirir o objeto, que seria a comprovação da dimensão de seu encantamento pela moça. Parcela o pagamento do produto em 12 vezes e sai da loja triunfante, com a certeza de ter feito a escolha certa para a sua querida paixão. No momento da entre- ga, ela abre a embalagem e sorri, ao mesmo tempo assustada e radiante, diante daquela joia. Voltemos à nossa análise. Certamente, nessa situação, a qualidade percebida pelo cliente (no caso, a namorada) foi mui- to superior à sua expectativa, gerando encantamento. Sob o ponto de vista matemático, o resultado da fórmula apresentada seria muito superior a 1. Contudo, o problema está na mudan- ça dos valores. A partir daquele momento, o denominador (o que o cliente espera) subiu radicalmente; afinal, a expectativa para os próximos presentes será alta. De forma até inconscien- Explosão da Inovação 14 te, a jovem garota deve ter pensado: “Se eu ganhei um presente desses com um mês de namoro, o que posso esperar quando comemorarmos o primeiro ano?”. Como dificilmente o jovem conseguirá manter esse nível de presentes, em algum momento ele gerará frustração em sua namorada, não conseguindo aten- der às suas expectativas básicas, as quais ele mesmo alimentou. Dessa história podemos tirar duas lições importantes. A primeira está relacionada à dinâmica das expectativas. A ten- dência do denominador é sempre aumentar! Isso faz com que tenhamos que melhorar continuamente. A metáfora mais na- tural seria considerar que estamos subindo uma escada rolante que desce: se não nos mexermos, desceremos com a escada. A segunda lição demonstra que aquilo que oferecemos aos nos- sos clientes deve ser necessariamente sustentável. Em outras palavras, não adianta superar significativamente a expectativa dos nossos clientes se isso não puder ser mantido com o tempo. Uma forma diferente de compreender o conceito de Ino- vação é entender que temos que melhorar permanentemente para satisfazer as demandas crescentes de nossos clientes, e isso requer Inovação. Afinal, para melhorar temos que fazer algo novo e melhor do que fazíamos. O numerador depende es- sencialmente de nós, porque é aquilo que oferecemos. Em con- trapartida, o denominador pode depender tanto de nós quanto de nossos concorrentes. A questão é que não somos os únicos a oferecer um diferencial. A mesma linha de raciocínio se apli- caria ao nosso negócio se os nossos concorrentes estivessem oferecendo algoa mais. Em resumo, aquilo que oferecermos não será sempre suficiente. Pense nisso! Vivemos num ambien- te em constante mutação. O sucesso de hoje não garante o bom resultado de amanhã. Se os seus concorrentes não puderem oferecer o mesmo que você oferece, de forma sustentável, naturalmente a satisfa- ção dos clientes quanto aos produtos e serviços oferecidos por a Inovação E as nEcEssIdadEs MutávEIs 15 eles será menor. Para isso, eles também terão que inovar siste- maticamente. Certamente, devemos analisar Inovação sob essa ótica. O que fazemos de diferente que fará com que, num de- terminado instante, nosso cliente receba algo melhor e mude sua expectativa? Vamos discutir esses conceitos à luz de um novo exemplo prático. Roberto, um homem de aproximadamente 40 anos, de- cide presentear o seu filho de 10 anos com um violão. Afinal, ele sempre acreditou que conhecer música e saber tocar um instrumento poderia ajudar muito no desenvolvimento social e artístico do menino Ronaldo. Consideremos dois cenários: Cenário 1 - Roberto entra em duas lojas parecidas que lhe oferecem exatamente o mesmo produto. Ambos os vende- dores o tratam bem, apresentam exatamente o mesmo preço e dizem que se houver uma proposta melhor no mercado eles certamente vão cobrir, porque não são de perder negócio. Cenário 2 - Roberto entra na primeira loja com as ca- racterísticas acima. Depois, entra em outra loja em que o ven- dedor, além de oferecer o produto nas mesmas condições da outra loja, também lhe oferece um mês de aulas gratuitas de violão. No primeiro cenário, Roberto terá que optar por uma loja com base em algum critério subjetivo. Por exemplo, pode ter gostado mais do primeiro vendedor, ou pelo fato de já estar na segunda loja, comprar o produto naquele momento, evitando retornar à primeira. Por fim, poderia tentar negociar algum desconto que justificasse a sua decisão. No segundo cenário, pelo mesmo preço, uma loja lhe ofereceu algo a mais. Em ter- mos da fórmula da satisfação do cliente, a segunda loja ofereceu mais que a primeira e, com esse diferencial, deveria incentivar uma decisão de compra em seu favor. De forma prática, no momento em que a segunda loja apresenta a promoção que inclui as aulas de violão, a expec- Explosão da Inovação 16 tativa dos clientes do mercado aumenta e a primeira loja terá como consequência um decréscimo da sua qualidade. Para compensar esse desequilíbrio, poderá acompanhar a mesma ideia que foi criada pela segunda loja ou terá que gerar outro tipo de diferencial. Em suma, as empresas, o cliente e o produto são os mes- mos, mas os valores atribuídos ao numerador (o que oferece- mos) e ao denominador (o que o cliente espera) possuem uma dinâmica própria e são alterados sistematicamente. Podemos até mesmo dizer que a segunda empresa teve uma ideia inova- dora e que a primeira terá que mudar algo caso queira compe- tir e conquistar a satisfação do cliente. Basicamente, essa primeira empresa terá dois caminhos a seguir: copiar ou inovar. Se decidir fazer exatamente o que a outra fez, estará modificando o que é oferecido por ela, mas não de forma inovadora. Se buscar uma nova alternativa que supere a expectativa do cliente num primeiro momento para que, depois, esta seja modificada permanentemente, estará efe- tivamente inovando. Mudando novamente a perspectiva, a cópia será uma al- ternativa viável em curto prazo somente se aquilo que foi ofe- recido pelo concorrente for possível e fácil de copiar, o que pode dar uma noção da dimensão das inovações que podem ser desenvolvidas. 1.2 Uma Proposta Realmente Inovadora Cham Kim e Mauborgne, especialistas do Insead de Fon- tainebleau, propuseram uma análise interessante em seu livro A Estratégia do Oceano Azul. Para eles, um mercado pode ser formado por dois tipos de oceano: um azul e outro vermelho. O oceano vermelho oferece uma competição tão acirrada que a Inovação E as nEcEssIdadEs MutávEIs 17 as águas se tornam sangrentas, reduzindo, consequentemente, as expectativas de melhores resultados às empresas que nele navegam. A principal referência é o próprio concorrente. O oceano azul, em contrapartida, é constituído por mercados in- tocados e por oportunidades de crescimento altamente ren- táveis. As águas são amplas, profundas e inexploradas. Neste caso, é preciso criar demanda, em vez de disputá-la com a con- corrência. Criar um diferencial competitivo pode significar oferecer ao cliente algo que ele jamais imaginou ou que estava procuran- do há tempos, sem encontrar. Quando uma empresa inova, ofe- recendo soluções inéditas aos clientes, ela muda completamente a dinâmica das relações de expectativa e satisfação, ingressa de- finitivamente num oceano azul e, sabendo trabalhar adequada- mente, poderá colher muitos benefícios desse processo. Vejamos o próprio exemplo deste livro. O que ele possui de inovador? Se tivermos que considerar que todos os livros que são lançados possuem um novo conteúdo, este, a princípio, não possui nenhum grande diferencial. É verdade que os au- tores que aqui escrevem podem retrucar: “Epa! Mas e o con- ceito de Inovação que estamos apresentando? Ele é, sim, ino- vador. Esse conceito é fruto de nossas pesquisas e estudos de vários anos e não possui nenhuma metodologia parecida com ela em nenhum lugar do mundo!”. Isso é verdade. Mas a razão de existência de um livro de negócios é exatamente transmitir novos conceitos. Onde está a Inovação, portanto? No entanto, agora, os autores, com um sorrisinho no can- to da boca, esclarecem: “Mas esse não é um livro isolado. Junto com essa obra é possível adquirir o Jogo Explosão da Inovação. Com ele, você poderá exercitar os conceitos aprendidos e pro- pagá-los de forma mais divertida e prática para outras pessoas”. Agora o cenário mudou radicalmente. Um livro que vem acompanhado de um jogo? Que história é essa? Isso eu nunca Explosão da Inovação 18 tinha visto. Na verdade, nem tinha imaginado que era possí- vel. Se eu gostar do conceito de Inovação aqui proposto, posso apresentar ao meu chefe esse modelo através da dinâmica do jogo. Além disso, para treinar minha equipe não farei um trei- namento com velhas técnicas e com uso do PowerPoint. Pos- so, em vez disso, simplesmente jogar com eles. Provavelmente, permanecerão atentos por mais tempo e assimilarão mais con- ceitos do que em um treinamento convencional. Hummm, gos- tei disso... Quando o cliente ou o consumidor pensam assim, é sinal de que a Inovação aconteceu. 1.3 Definições Teóricas Para melhor compreender os diversos significados que o termo Inovação assume, convém analisar, inicialmente, sua etimologia a partir da origem no latim: innovatio, que significa “renovação”. O prefixo in assume valor de ingresso, movimen- to de introduzir algo, que, no termo innovatio significa intro- duzir novidade, fazer algo novo, fazer algo como não era feito antes. Um ponto importante para esclarecimento é a análise da diferença entre “Inovação” e “invenção”. Invenção está associa- da a pioneirismo e se caracteriza como a primeira ocorrência de uma ideia de um novo produto ou processo. Inovação é a aplicação prática de uma invenção, seja com objetivo social ou financeiro. Se um produto foi criado, até mesmo patenteado, significa que houve uma invenção. Um exemplo bastante interessante é o uso da fibra de coco na indústria automotiva brasileira. Apesar de ainda cus- tar mais caro do que as espumas de poliuretano, por ter um processo artesanal, há várias vantagens em seu uso: não gera impacto ambiental, pode ser mais confortável e ocupa menos a Inovação E as nEcEssIdadEs MutávEIs 19 espaço. Como o futuro da indústria automotiva está associado a carros menores, menos poluentes e mais confortáveis, po- derá ser uma excelente matéria-prima alternativa. Contudo, a invenção tornou-se efetivamente Inovação em 1994, quando a Mercedez-Benz do Brasil utilizou a fibra de coco nos encostos de cabeça de seus caminhões.Não fosse a aplicação prática, o seu uso teria se limitado apenas à invenção. Como os custos ainda terão que ser reduzidos para que essa fibra natural seja competitiva, certamente as inovações incrementais farão a di- ferença entre o sucesso e o fracasso dessa matéria-prima no futuro. Quando pedimos exemplos sobre Inovação, muitas pes- soas lembram imediatamente do iPod, objeto de desejo de mui- tas crianças e adultos. O que tem esse produto de tão especial, se antes dele já havia vários tocadores de MP3 no mercado? O que tornou o iPod uma referência em Inovação não foi apenas o seu uso, mas uma combinação de design diferenciado, elegân- cia, ergonomia, facilidade de uso e a criação das lojas virtuais iTunes e Apps Store, que vendem músicas, filmes e diversos aplicativos on-line, com alguns simples toques de dedo. O caso do iPod ilustra objetivamente que para inovar é importante considerar uma combinação de produtos e proces- sos que permitam o sucesso de uma nova ideia e seu impacto na sociedade. Essa discussão nos remete a outra reflexão. Al- guns profissionais defendem o uso da Inovação somente para mudanças radicais, enquanto outros consideram pertinente a extensão do uso para mudanças incrementais. Entendemos que, apesar dos focos, abordagens e resultados serem distin- tos em cada situação, o conceito de Inovação pode ser aplicado aos dois casos. Aliás, a abordagem seletiva e purista, focada apenas nas mudanças radicais, pode trazer danos irreversí- veis para aqueles que não conseguiram enxergar o poder e o potencial das mudanças residuais. A somatória de várias pe- Explosão da Inovação 20 quenas mudanças residuais pode se transformar numa mudan- ça radical para um negócio. Portanto, os gestores não devem esperar que a Inovação seja imposta, mas devem desenvolver um portfólio de possibilidades inovadoras, da incremental à mais radical. Quando tratamos de satisfação dos clientes, precisamos avaliar quem são eles. Toda organização possui clientes ex- ternos e internos. Os clientes e os consumidores externos são impactados diretamente tanto pelos produtos entregues pela empresa quanto por alguns processos, e os clientes internos são impactados somente pelos processos da empresa. Sob o ponto de vista de gestão de processos, aqueles que afetam os clientes externos são considerados COP (do inglês, Customer Oriented Processes – processos orientados ao cliente) e me- recem atenção especial. Processos COP impactam o grau de satisfação do cliente externo com os serviços e os produtos que resultam de suas transformações. Os clientes internos acabam representando, de uma forma ou de outra, a visão do próprio negócio. Afinal, se o processo de produção é impactado positivamente pelo processo de compras, essa melhoria trará benefícios para o negócio. Essa análise pode, até mesmo, ser estendida ao processo de gestão empresarial, que determinará o planejamento estratégico da empresa, gerando impactos em todos os demais processos da organização. Os níveis de mudanças e os impactos gerados determi- nam dois importantes aspectos da Inovação e podem ser ava- liados na matriz das Dimensões da Inovação, apresentada a se- guir, com exemplos para cada situação. a Inovação E as nEcEssIdadEs MutávEIs 21 Dimensões da Inovação Fonte: PADOVANI & ABRAHAM (abril de 2007) No primeiro quadrante, vemos a interface entre impacto nos negócios e mudança incremental. Em geral, essas melho- rias estão relacionadas à otimização dos processos internos de uma organização, focando redução de desperdícios, redução de custos e melhoria de qualidade. O fato de ser residual e ter um foco interno não quer dizer que não possa haver Inovação. Tanto é verdade que conhecemos várias empresas em que há a figura clássica do funcionário “Professor Pardal”, aquele su- jeito da manutenção ou do processo produtivo que encontra soluções inovadoras para tudo. Estamos certos de que existem milhares de soluções brilhantes escondidas nos corredores das empresas brasileiras e que, infelizmente, ficam restritas ao am- biente de trabalho. Incremental n os n eg óc io s n os c lie nt es E xt er no s Radical Melhoria contínua dos processos internos Instalação de um processo de manufatura com tecnologia inovadora desenvolvimento de um novo produto para uma linha existente lançamento de um produto revolucionário e inexistente no mercado MUDANÇA IM PA CT O Explosão da Inovação 22 No segundo quadrante (linha superior, à direita), apresen- tamos a interface entre mudança radical e impacto nos negó- cios, sem afetar de forma direta os clientes externos. Quem já participou da implementação de novas tecnologias de processo em uma empresa pode dimensionar a relevância dessa Inovação. Não necessariamente a nova tecnologia implementada é pionei- ra no mundo, mas para uma empresa implantar uma grande mudança sem ter referências anteriores é extremamente desa- fiante. Um caso comum dessa situação são os muitos inventores que tentam vender suas ideias para as empresas, a fim de que possam se tornar Inovação de fato. Dependendo da relevância da mudança para a empresa, chamamos de “CONTROL-ALT- DEL”, aquelas três teclas do computador que quando pressio- nadas em conjunto, fazem com que a máquina seja reiniciada. Algumas empresas são obrigadas a mudar toda a sua estrutura organizacional em virtude de tais inovações. O terceiro quadrante (linha inferior, à esquerda) está mais focado nos produtos fornecidos pela empresa, já que tem impacto direto nos clientes externos. Se tais inovações não fossem tão relevantes, não veríamos tantos modelos e versões gerados para um mesmo produto ou para uma linha de produ- tos. Há centenas de exemplos de inovações que ocorrem nos produtos eletroeletrônicos e nos automóveis, mas que repre- sentam uma parcela pequena do produto em si. Em muitos ca- sos, novos produtos acabam gerando novas necessidades para outros produtos. Se hoje há veículos com conexão Bluetooth ou com acesso a tocadores de MP3 é porque essas demandas surgiram. Apesar de relevantes, tais inovações são considera- das apenas incrementais, mas a somatória de pequenos incre- mentos pode gerar uma mudança significativa na percepção dos clientes. Quando um aparelho de telefone celular apresen- ta várias pequenas inovações, a percepção dos clientes é de que estamos falando de um produto inovador. a Inovação E as nEcEssIdadEs MutávEIs 23 Já tratamos anteriormente da possibilidade que os con- correntes têm de copiar um produto, em vez de inovar. Certa- mente, quanto mais radical for a Inovação, menor será a pro- babilidade de um concorrente copiá-la. Em certos casos, anos de investimento em pesquisa e desenvolvimento são necessá- rios para que uma empresa recupere o terreno perdido como consequência de ideias inovadoras de seus concorrentes. Nas situações mais graves, algumas nem chegam a se recuperar e acabam sucumbindo às inovações do mercado. Um exemplo de empresa brasileira que quebrou por cau- sa da Inovação dos concorrentes é a Brosol. Líder de mercado na venda de carburadores, a Brosol não conseguiu combater o ataque do novo produto concorrente, a injeção eletrônica. Quando se deu conta de que o fim dos carburadores estava próximo, já era tarde demais. Numa tentativa de se manter no mercado fornecedor da indústria automobilística, comprou outras empresas, com o objetivo de mudar o foco do negócio para mecanismos de portas, mas isso não foi suficiente para evitar a falência. Por fim, o quarto quadrante é aquele que gera menos dú- vidas conceituais. Não há questionamentos sobre as inovações radicais que impactam diretamente os clientes externos de uma empresa. Há empresas centenárias que vivem de uma grande Inovação original. Xerox e Coca-Cola são ótimos exemplos de empresas que nasceram com produtos que são sua referência até hoje. Um ponto que merece destaque é que a Inovação não necessariamente está restrita ao produto em si. O caso dasHavaianas é interessante, porque o produto original, básico e orientado para a classe C, sofreu algumas modificações concei- tuais de cores e estampas, porém sua estratégia de marketing que buscou atingir as camadas mais ricas da população e alçou o produto ao mercado internacional acabou sendo o grande caso de Inovação. Explosão da Inovação 24 1.4 Exemplos e Benefícios da Inovação Um caso interessante de Inovação de produto é o da Red Bull, bebida energética criada pelo austríaco Dietrich Mates- chitz. O curioso foi o processo de Inovação do produto, que ocorreu na década de 1980. Ex-executivo de uma multinacio- nal alemã na Tailândia, Mateschitz viajava frequentemente entre a Europa e a Ásia e sofria dos problemas de jet lag. Esse problema fisiológico ocorre como consequência de viagens através de vários fusos horários, o que se tornou comum com os voos a jato, e daí o nome em inglês (jet, jato; lag, diferença de horário). Desta forma, após uma viagem que passe por vários fusos horários a pessoa se sente como se o seu relógio bioló- gico não estivesse no mesmo do horário do local, o que gera alterações no ritmo cardíaco e problemas de insônia. Em uma dessas viagens, Mateschitz foi aconselhado a tomar um tônico chamado Krating Daeng, produzido na própria Tailândia. Não gostou do sabor, mas ficou entusiasmado com o poder revigo- rante da bebida. Após algumas adaptações, Mateschitz lançou um novo produto chamado de Red Bull, que foi um fracasso no início, mas que depois mostrou seu poder de mercado, com bilhões de unidades vendidas anualmente. Há vários casos de empresas que são referências em Ino- vação. A 3M é considerada uma das empresas mais inovadoras do mundo. Foram centenas de invenções como o Post-it, a fita adesiva Scotch, o protetor de tecido Scotchgard e as esponjas de cozinha Scotch-Brite. Essa imagem de empresa inovadora é tão forte que a 3M oferece seminários de Inovação orien- tados para empresários, executivos, professores, estudantes e consumidores, com o objetivo de compartilhar conhecimento e experiências. Outro caso de empresa focada em Inovação é a Procter & Gamble, reconhecida por deter marcas globais poderosas a Inovação E as nEcEssIdadEs MutávEIs 25 como Gillette, Duracell e Hipoglós, e que tem exemplos de produtos inovadores, como as batatas Pringles. Na Procter & Gamble, a forma de inovar não se restringe apenas ao lança- mento de novos produtos, mas estende-se à melhoria de seus processos. Um exemplo de Inovação no marketing é o uso da tecnologia LVA (layered voice analysis - análise de voz em ca- madas), desenvolvida pela empresa israelense Nemesysco, que permite analisar o tom emocional dos consumidores entrevis- tados em suas pesquisas. Essa iniciativa, porém, não se restringe a grandes or- ganizações. Na verdade, todas as empresas, independente de seu porte, devem inovar. Em geral, esse é o caminho natural para que as empresas cresçam. Um dos maiores provedores de serviços de comércio eletrônico no Brasil, o grupo Buscapé, nasceu em 1999 com poucos recursos e uma grande ideia. No início, teve que superar a desconfiança dos consumidores com relação à publicidade pela Internet e, para atrair clientes no primeiro ano, a taxa de clique não era cobrada. Em setembro de 2009, a Naspers Limited adquiriu mais de 90% das ações do grupo BuscaPé por US$ 342 milhões. Um excelente resultado para quem inovou e teve visão, persistência e gestão. Os casos mais difundidos são o de pequenas empresas cujo princípio de criação fundamentou-se em algum tipo de Inovação. Se, por exemplo, uma grande ideia for gerada por uma pessoa ou um grupo de pessoas e demandar algum tipo de investimento ou conhecimento de mercado, associar-se a uma incubadora pode ser uma boa opção. Uma incubadora de empresas é uma entidade que oferece condições e facilidades necessárias para que uma nova empresa sobreviva, cresça e se desenvolva, principalmente nos três primeiros anos de vida, período em que se observa o maior número de fechamentos e falências de novos negócios. As incubadoras oferecem infra- estrutura física e serviços compartilhados para micros e pe- Explosão da Inovação 26 quenas empresas em sua fase inicial, além de orientação na gestão empresarial, considerando aspectos técnicos, contábeis e comerciais. A Inovação pode ser entendida como um processo. Para que uma empresa possa tratá-la como estratégia empresarial e obter dela os ganhos desejados, a alta direção deve entender sua relevância e estar altamente comprometida. Pelas mudan- ças e incertezas associadas a esse processo, sempre há riscos envolvidos e a empresa precisa estar disposta a assumi-los. Independente do quadrante do qual estivermos tratando, o essencial é lembrar que a Inovação está associada à aplicação bem-sucedida de uma nova ideia, podendo ser de processos, de produtos, tecnológica, de negócios, de estratégia, entre outras formas. Não podemos nos esquecer de que a Inovação deverá sempre gerar algum impacto significativo nos negócios ou nos clientes. São muitos os benefícios gerados pelas inovações. Elas são essenciais porque permitem que as empresas, oferecendo diferenciais para os seus clientes, aumentem a receita, reduzam custos, atuem em novos mercados, desenvolvam novas parce- rias, gerem plataformas para outras inovações e aumentem o valor de suas marcas. Não raro se observam situações em que os impactos gerados se estende a outros níveis, chegando aos próprios parceiros ou até mesmo às regiões onde as inovações foram geradas. As parcerias realizam papel essencial na Inovação. O de- senvolvimento de um novo produto se faz, por exemplo, com a participação de fornecedores, distribuidores, laboratórios, institutos de pesquisa e várias outras entidades que precisam acompanhar esse movimento e acreditar nele. Numa pesquisa realizada pela empresa de consultoria Monitor com especialis- tas em Inovação sobre as grandes ideias lançadas por empre- sas nacionais nos últimos anos, o Ecosport foi um dos eleitos, a Inovação E as nEcEssIdadEs MutávEIs 27 acompanhado de outros produtos, como as aeronaves 170/190 da Embraer, o sistema bicombustível lançado pela Volkswa- gen e a água de coco em caixinha desenvolvida pela One, en- tre outros produtos. A principal justificativa para a escolha do Ecosport foi o fato de ter sido o primeiro carro no estilo off-road lançado no país com preço mais acessível que o dos modelos importados. Sem dúvida, é uma boa explicação para sua escolha, mas não teria sido o sucesso de vendas que foi sem a implantação muito bem-sucedida do condomínio industrial da Ford em Camaçari, um caso de sucesso que teve de contar com vários fornecedores que apostaram no projeto Amazon, liderado por Luc de Ferran. 29 Capítulo 2 Modelo da Explosão da Inovação Explosão da Inovação 30 Recentemente surgiram muitas definições de Inovação e explicações de como ela ocorre. Porém, ela é normalmente citada como sendo um tipo de estratégia que as companhias utilizam para agregar valor ao seu produto, marca, processo ou negócio. No capítulo anterior foi apresentada a matriz das Dimensões da Inovação. Mas, afinal, por que uma Inovação acontece? Por que al- gumas empresas conseguem ser mais inovadoras do que ou- tras? O que faz determinada organização desenvolver mais produtos revolucionários do que suas concorrentes? São essas e outras perguntas que se pretende responder a partir desse capítulo. Elas serão respondidas por meio da apresentação de um modelo desenvolvido segundo a experiên- cia, o trabalho e os estudos dos autores desta obra na área de Inovação. Esse modelo se chama Explosão da Inovação e ex- plica os mecanismos que permitem o surgimento de produtos, serviços, modelos de negócios e processos inovadores. 2.1 Iniciação ao Modelo A Inovação sempre ocorre a partir da geração de uma boa ideia, e há várias associações possíveis para esse fato. Um caso clássico que podemos mencionaré o grito de “Eureka” do sábio grego Arquimedes, um dos primeiros casos de insight re- gistrados na história ou do momento da geração de uma ideia. Conta-se que o rei de Siracusa encomendou a um ourives uma coroa de ouro maciço. Desconfiado de que o ourives pudesse estar enganando-o, ele pediu a Arquimedes que descobrisse se a coroa era somente de ouro. Então de acordo com a lenda, Arquimedes estava em sua banheira entretido com o problema, quando, de repente, em razão de um lampejo súbito, passou a correr nu pela cidade gritando “Eureka, Eureka!”, que, em gre- ModElo da Explosão da Inovação 31 go, significa “Descobri, Descobri!”. Realmente, naquele mo- mento o sábio havia descoberto a Lei de Arquimedes: “Todo o corpo mergulhado num líquido está sujeito a uma força de direção vertical (impulsão), de sentido de baixo para cima, e cuja grandeza é igual ao peso do volume de líquido deslocado”. Com essa conclusão, poderia avaliar se a coroa do rei fora feita de ouro maciço ou não. E, por fim, concluiu que o rei havia sido enganado. Essa antiga história ajuda a reforçar a importância do lam- pejo criativo. Além da palavra “Eureka”, outra representação comumente associada à geração de uma boa ideia é uma lâm- pada acesa. Essa associação se deve ao fato de que novas ideias iluminam, trazem luz para as pessoas ou para os negócios. Entende-se que a Inovação acontece a partir da geração de uma boa ideia. A solução encontrada é, assim, apenas uma parte da Inovação. Na verdade, é a primeira etapa, o pontapé inicial. Para se criar algo inovador é necessário trabalhar essa ideia até conseguir chegar à condição de Inovação de fato. Na analogia com a luz, se uma boa ideia é representa- da pela lâmpada, a Inovação deve ser descrita como um vul- cão. Todo vulcão em erupção apresenta grande quantidade de magma e provoca muito barulho e trepidação nos arredores. O poder da Inovação é muito similar. Se ela ocorrer, terá a in- tensidade e a magnitude de uma erupção. Mas se não ocorrer, será simplesmente um vulcão adormecido com o potencial de, quem sabe um dia, provocar uma explosão. Esse paralelo entre Inovação e vulcão nos remete ime- diatamente ao conceito de explosão. Nela, a luz por si só é importante e necessária, mas não suficiente. A combustão, uma reação química exotérmica (que libera calor), é a geradora da explosão. Essa reação se dá pela combinação de três compo- nentes que agem de forma complementar: comburente, com- bustível e calor. Explosão da Inovação 32 Os Componentes de uma Explosão Uma explosão só é possível pela combinação desses três elementos: • O combustível é o que fornece a energia para a queima e é o elemento que entra, de fato, em combustão; pode ser ga- solina, madeira, papel, pano, tinta ou alguns metais. • O comburente é todo elemento que, associado quimica- mente ao combustível, pode fazê-lo entrar em combustão; em outras palavras, é a substância que reage quimicamente com o combustível, sendo o oxigênio o mais comum dos comburen- tes. A clássica experiência escolar em que se coloca um copo com a boca para baixo sobre uma vela mostra a importância do comburente, porque, depois de algum tempo, a vela se apaga por falta de oxigênio. Outros possíveis comburentes são o clo- ro, o bromo ou o enxofre. • O calor é o elemento necessário para iniciar a reação entre combustível e comburente; pode ser uma faísca ou uma chama, sempre associadas à temperatura de ignição, ou seja, Combustível Comburente Calor ModElo da Explosão da Inovação 33 aquela acima da qual um combustível pode queimar. Esses três elementos combinados (combustível, combu- rente e calor) são chamados de O Triângulo do Fogo. Fórmula da Explosão E o que isso tem a ver com Inovação? Para ocorrer um processo inovador são necessários também três elementos: ambiente inovador, que age como o comburente, alimentando e permitindo que a Inovação ocorra; capacidade interna da empre- sa, que age como o combustível, propagando a reação; e ideia inovadora que age como a faísca, dando início ao processo. 2.2 Modelo da Explosão da Inovação Nesse modelo, a Inovação acontece de forma similar à combustão. Ela possui três elementos que precisam estar jun- tos para que a reação aconteça: o Ambiente Externo, a Capa- cidade Interna e a Ideia Criativa. Na ausência de um deles, o processo não se inicia ou é encerrado no momento em que o elemento necessário à sua continuidade não está presente. A intensidade e o impacto do processo também estão estritamen- te ligados à quantidade de cada um dos componentes presentes na reação. Explosão da Inovação 34 Três Elementos da Explosão da Inovação Por causa da grande semelhança entre o processo de Inovação e o da explosão/combustão, o nome do modelo foi estabelecido como Explosão da Inovação. Esse nome ajuda a reforçar o conceito e a nortear o seu embasamento teórico. O primeiro componente do modelo é o Ambiente Exter- no, o qual tem um papel parecido com o comburente na com- bustão. Afinal, sua função é alimentar e permitir que a Inova- ção ocorra, assim como o comburente alimenta o fogo aceso permite a explosão e alimenta o fogo aceso. O Ambiente esti- mula a Inovação por meio das influências externas e das mu- danças ocasionadas nele. Quando essas mudanças impactam diretamente a vida e a condição das pessoas e das empresas, es- tas são instigadas a mudar. Quando o ambiente se torna hostil, perigoso e problemático, os agentes que vivem nele passam a procurar formas alternativas de viver dentro dele, e é essa bus- ca que força o aparecimento de novidades. Assim, é a influência do meio externo que possibilita o surgimento da Inovação. Capacidade Interna Combustível ambiente Inovador Comburente Ideia Criativa Calor ModElo da Explosão da Inovação 35 O segundo elemento é a Capacidade Interna. Ela faz o papel do combustível na reação explosiva, pois age como pro- pagadora da reação. É o combustível que fornece a energia ne- cessária e que, de fato, é queimado durante a combustão. Em outras palavras, a Capacidade Interna é a energia que o indivi- duo ou a instituição necessita despender para que a Inovação ocorra. Além disso, o esforço, o envolvimento, a dedicação e a competência presentes internamente é que serão usados para desenvolver a solução proposta para resolver os problemas im- postos pelo Ambiente Externo. Assim, pode-se concluir que é a capacidade das pessoas e das organizações que promovem as condições necessárias para a superação das limitações e dos desafios a elas impostos. O terceiro e último componente do modelo da Explosão da Inovação é a Ideia Criativa, que atua como o calor da com- bustão, dando início à reação através de uma faísca ou de uma fagulha. A ideia é a solução inusitada e não convencional para solucionar determinado problema. Por possuir características conceituais e abstratas (afinal é apenas uma ideia), ela precisa ser desenvolvida e trabalhada (pela capacidade interna) para se tornar de fato uma Inovação. Em resumo, segundo o modelo da Explosão da Inovação, a ideia criativa surge como reação natural de uma pessoa ou empresa diante de determinada dificuldade ou da hostilidade imposta pelo ambiente externo. A partir dessa ideia, a capaci- dade interna fornecerá a energia para a propagação da solução, transformando-a em algo concreto e viável. A força e a inten- sidade desse processo são diretamente proporcionais à quan- tidade e intensidade dos três elementos do conjunto. Assim, quanto mais criativa for a ideia, mais adverso for o ambiente e maior for a capacidade inovadora da instituição, maiores serão as chances do surgimento da Inovação. Explosão da Inovação 36 Os próximos três capítulos apresentarão de forma de- talhada cada um dos elementos da Explosão da Inovação. O Capítulo 3 trata das influências dos fatores ambientais no estímulo à Inovação e é intitulado “Ambiente Externo como Comburente da Inovação”. O Capítulo 4 abordaa capacida- de organizacional de promover as mudanças necessárias e se chama “Capacidade Interna como Combustível da Inovação”. O Capítulo 5, “Ideia Criativa como Faísca da Inovação”, fecha a explicação da metodologia ao tratar da geração de soluções inusitadas e não convencionais. 37 Capítulo 3 O Ambiente Externo como Comburente da Inovação Explosão da Inovação 38 Quando se fala em Inovação, em capacidade de gerar, de- senvolver e promover produtos e serviços inovadores, primei- ramente pensa-se quase que apenas, no poder e na capacidade de as empresas ou instituições se reinventarem no poder cria- tivo de seus funcionários e na genialidade de um profissional para “ver o que ninguém viu”. Os méritos da Inovação são qua- se que exclusivos da empresa, da unidade de negócio, do em- presário, do executivo ou da equipe que a concebeu. Segundo essa linha de pensamento, a geração da Inovação deve-se tão somente a criatividade humana, à ideia genial ou ao poder de pesquisa e desenvolvimento de uma equipe de profissionais. Mas será mesmo que esses pressupostos são válidos? A Inovação surge a partir do homem, do seu poder criativo e da sua capacidade transformadora? Uma empresa é mais inova- dora do que outra simplesmente pela sua superior capacidade cultural (cultura organizacional), técnica (habilidade profissio- nal dos seus funcionários), mercadológica (de vendas e marke- ting) ou de previsão do mercado (compreensão das necessida- des e desejos dos clientes)? A resposta tradicional para todas essas perguntas é “sim”. Esse é o senso comum. De acordo com essa concep- ção, as empresas e os indivíduos são os únicos responsáveis pela geração da Inovação. Essa ideia está tão disseminada que o modelo mais utilizado pelas empresas para a promoção da Inovação é totalmente fundamentado nessa crença. Segundo o modelo de Hansen & Birkinshaw, também conhecido como Fu- nil da Inovação, as empresas precisam gerar o maior número de ideias possíveis, depois devem selecionar as melhores e, por fim, desenvolver as mais pertinentes. Segundo o modelo, quem tiver maior capacidade para filtrar, selecionar e desenvolver as ideias inovadoras é quem inova mais. Porém, considerando esse pressuposto como verdadeiro, por que, então, algumas pessoas inovam mais em determina- o aMBIEnTE ExTERno CoMo CoMBUREnTE da Inovação 39 dos momentos do que em outros? Por que pequenas empresas, recém-chegadas ao mercado, sem qualquer experiência e co- nhecimento, conseguem superar grandes e experientes empre- sas no quesito Inovação? Será mesmo que tudo na Inovação pode ser explicado apenas pela capacidade dos participantes do processo criativo? 3.1 O Ambiente Externo como Base da Inovação Na verdade, o processo de Inovação começa pela influência externa e não pela capacidade interna da indústria em desen- volver algo inovador. A Inovação surge a partir de uma reação natural de uma empresa, de uma instituição ou de uma pessoa a fatores ambientais. Ninguém inova porque quer ou porque gos- ta, mas porque é preciso ou é levado a isso. É uma reação natural a um fato ou a uma ocorrência do ambiente externo. Assim, em um primeiro momento, a Inovação está mais ligada ao poder de reação aos fatores ambientais do que à criatividade ou à ideia inspiradora do indivíduo ou da organização. O que levou, afinal, os europeus, no final da Idade Média, a se aventurarem em grandes expedições marítimas? A curio- sidade, o apreço pela aventura, ou a necessidade de provar novas teorias em relação ao mundo físico? Nenhuma dessas alternativas. Os europeus se lançaram ao mar para encontrar uma nova rota para o comércio com as Índias. Os turcos, no final do século XV, tomaram a cidade de Constantinopla, blo- queando a rota terrestre que servia para a intermediação do comércio, deixando os europeus sem opção. Ou encontravam outra rota ou teriam que pagar elevados tributos aos turcos, o que inviabilizaria o comércio de especiarias com o Oriente. A solução foi se aventurar pelos mares para encontrar uma rota marítima. Para isso, desenvolveram grandes naus e aprimo- Explosão da Inovação 40 raram os instrumentos de navegação. Assim, a Inovação (rota marítima, navios e modelo de navegação) surgiu a partir de uma reação a um fator ambiental: o fechamento da rota terres- tre pelos turcos. A mesma explicação pode ser dada para a Revolução Francesa. Por que no final do século XVIII os franceses se opu- seram ao poder real? Para promover a liberdade, a igualdade e a fraternidade? Para promover a divisão do poder que estava nas mãos de um único homem? É curioso perceber que pou- co mais de um ano após o início da Revolução, a França era governada pela ditadura de Napoleão Bonaparte (onde estão a liberdade e a divisão de poderes?), lançava-se em guerras con- tra os vizinhos (onde está a fraternidade?) e a divisão de classes continuava tão acentuada como antes (onde está a igualdade?). A principal explicação para a revolta dos camponeses em 1789 foi a situação econômica em que o país se encontrava. Nova- mente, o ambiente suscitou os acontecimentos humanos. Os anos precedentes à Revolução foram marcados por inundações e secas que afetaram a produção de alimentos nas fazendas. Naquela época, dos 26 milhões de franceses, 20 milhões viviam no campo em condições de vida extremamente precárias. Parte dos camponeses ainda estava sob o regime de servidão. Com a destruição da lavoura, os preços dos alimentos subiram ex- cessivamente (somente os nobres poderiam comprá-los), mui- tos proprietários rurais foram à falência e, como conseqüência, os camponeses invadiram os castelos, executando famílias in- teiras de nobres. Mais uma vez, fatores externos provocaram mudanças no comportamento humano que geraram inovações na sociedade, na política e na economia. Uma das maiores invenções humanas foi o modo de pro- duzir o fogo. Por que um ancestral nosso juntou um montinho de mato seco, friccionou dois pedaços de madeira que esquen- taram rapidamente, queimando-os com seu calor e produzindo o aMBIEnTE ExTERno CoMo CoMBUREnTE da Inovação 41 o fogo? Por que ele era muito inteligente e conseguiu prever os diferentes usos futuros para o fogo? Ou por que ficou pes- quisando várias técnicas para produzi-lo? O principal motivo é que o ambiente era extremamente hostil. O homem era, ao mesmo tempo, caça e caçador. À noite, no meio da escuridão, ele estava suscetível à investida dos seus predadores. Ao efe- tuar uma caça, era obrigado a consumir rapidamente a carne, se não ela apodrecia ou seu cheiro chamava a atenção de outros animais caçadores. E o frio limitava sua atuação. A descoberta de como gerar e manipular o fogo aconteceu como uma forma de auxiliar o homem em seu aquecimento, no cozer, na ilumi- nação e na sua proteção, dando-lhe uma importante vantagem sobre os outros animais. Se o ambiente não fosse tão hostil e o fogo não fosse uma ferramenta importante para solucionar muitas dessas dificuldades, possivelmente o homem não busca- ria formas para produzi-lo. A Inovação acontece pelas mãos do homem, mas é ori- ginada pelas causas naturais, situacionais ou ambientais. Não é muito bonito falar isso, afinal, todos nós gostamos de nos colocar como “centros geradores de uma ideia ou de uma Ino- vação”, mas estas surgem fundamentalmente como reações a fatos do ambiente. Quando o ambiente não pede nenhuma mu- dança de atitude, de comportamento ou de ferramenta, muito provavelmente a Inovação não acontecerá. Compreender a di- nâmica do ambiente, sua influência e suas consequências é o primeiro passo para entender o processo inovador. Não está sendo dito aqui que a capacidade interna da em- presa ou da instituição não seja importante para a produção da Inovação. Ela é e será tratada mais adiante no Capítulo 4 – “A Capacidade Interna como Combustível da Inovação”. O que se está dizendo é que a capacidade interna não é a única ex- plicação para oprocesso inovador, apesar de tradicionalmente acharmos que sim. E, além disso, não é ela que origina o pro- Explosão da Inovação 42 cesso de Inovação, mas sim os fatores ambientais. Aqui surge a primeira grande ruptura no processo de de- senvolvimento da Inovação trabalhado segundo o modelo da Explosão da Inovação apresentado neste livro. Enquanto no modelo tradicional a capacidade da organização ou do indiví- duo é que são a base para o surgimento da Inovação, no novo modelo é a influência do meio externo que possibilita o apare- cimento da Inovação. Segundo a crença anterior, quanto mais capacitada, com maior conhecimento e mais criativa for uma empresa, mais inovadora ela será. Nela, a Inovação acontece simplesmente pela capacidade da empresa ser criativa, ser inovadora e de- senvolver novos produtos e serviços que, até então, não exis- tiam. O estopim do processo acontece no indivíduo (empresa ou pessoa). Porém, no modelo da Explosão da Inovação, é a carac- terística do ambiente que forma a base para o surgimento da Inovação. Quanto mais hostil e desafiador for um ambiente, maior a chance de seus participantes recorrerem à Inovação para prosperar ou para simplesmente sobreviver. Esse tipo de ambiente costuma ser turbulento, escasso em recursos, com grande avanço tecnológico, de processos e ideias, com grandes rupturas, com elevada competitividade e com grande quanti- dade de informações disponíveis. A Inovação só acontece por- que o ambiente suscita seu aparecimento. É importante perceber que não se está dizendo que o am- biente por si só é capaz de promover a Inovação. Não é o ambien- te que gera a Inovação. Apenas pessoas, empresas, instituições, grupos de pessoas, organizações e governos são capazes de tal feito. Mas o pontapé inicial, a mola incentivadora, a origem do processo, assim como os motivos e as causas, vêm do ambien- te. É pela reação ao estímulo do ambiente que o homem age. A Inovação surge da junção do ambiente com seus problemas, o aMBIEnTE ExTERno CoMo CoMBUREnTE da Inovação 43 da ideia criativa para resolvê-los e da capacidade interna do homem em colocar essa ideia em prática. Só é possível desen- volver uma ideia criativa após ela ter sido gerada. E só é pos- sível conceber a ideia criativa se existir um problema em uma situação ou em um cenário. Veja o caso da Petrobras. Nele, é possível constatar que o ambiente no qual a empresa estava inserida foi determinante para a geração da Inovação. Em outubro de 1953, o presidente Getúlio Vargas fundava a Petróleo do Brasil S.A., a Petrobras. Uma estatal com a missão de desenvolver a atividade do setor de petróleo no Brasil. Ao longo de sua história, a empresa cres- ceu sistematicamente, tornando-se líder mundial na produção em águas profundas e uma das maiores empresas do mundo. Afinal, como a Petrobras se tornou uma das grandes em- presas do setor de petróleo e líder mundial na produção em águas profundas? Por que desenvolveu ao longo dos anos uma tecnologia que permite a coleta e a extração de petróleo em regiões marítimas com grande profundidade? Por que ela pes- quisou e desenvolveu essa competência antes de suas outras concorrentes, a maioria delas muito maiores e com elevado va- lor em investimento em pesquisa? Estudando um pouco a história da companhia, é possí- vel perceber o quanto o ambiente influenciou essa condição. Com a fundação da empresa, o sonho do governo brasileiro era torná-la uma grande produtora de petróleo (e, por consequên- cia, o país também o seria) para diminuir a importação desse produto. E, para conseguir isso, a empresa se lançou na busca de novas reservas pelo país. Porém, um estudo realizado em 1960 por um grupo de 14 geólogos estrangeiros apresentava dados pessimistas sobre as reservas petrolíferas brasileiras. As reservas em terra eram poucas e limitadas. Somente com elas seria impossível o país alcançar uma boa escala de produção. Era recomendado, portanto, buscar petróleo no mar. A reper- Explosão da Inovação 44 cussão do relatório foi tão negativa que o geólogo responsável pelo estudo foi acusado de estar a serviço das multinacionais estrangeiras. Porém, o caminho para o aumento da produção do petró- leo no país estava claro. Em 1964, a Petrobras contratou em- presas estrangeiras para estudos da extração em água. Quatro anos depois foi feita a primeira descoberta de petróleo no mar. O futuro da empresa estava no mar. A limitação proporcionada pelo ambiente uma vez que o combustível era escasso em terra, obrigou a empresa a orientar as suas pesquisas nessa direção. O Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (Cenpes), criado em 1963, focava seus estudos em prospecção, perfuração e ex- tração de petróleo no mar. O Cenpes se tornou, ao longo dos anos, o centro tecnológico que desenvolveu os processos de exploração e produção em águas profundas para a Petrobras. A produção marítima começou de fato em 1973. Em 1974, foi descoberto o primeiro campo na bacia de Campos, a mega- bacia que tem hoje aproximadamente 100 mil quilômetros e concentra a maior parte da produção brasileira. A produção de petróleo nessa bacia começou em 1977, com a tecnologia de- senvolvida pelos pesquisadores da Petrobras para a extração a 300 metros de profundidade. No final da década de 1970, 34% da produção da empresa já era feita no mar. Ao longo das décadas de 1980 e 1990 foram sendo des- cobertos novos campos na bacia de Campos, muitos em águas profundas. Em 1986, a empresa já conseguia perfurar poços a 1.200 metros de profundidade e em 2000 já produzia a 1.877 metros. Em 2003, a empresa passou a operar um campo de 2.691 metros de profundidade e em 2004 bateu o recorde bra- sileiro ao perfurar um poço de 6.915 metros além do fundo do mar. Atualmente, a produção no mar é responsável por apro- ximadamente 90% da produção nacional de petróleo. A pesqui- o aMBIEnTE ExTERno CoMo CoMBUREnTE da Inovação 45 sa e a produção da Petrobras em águas profundas não devem parar nos próximos anos. Entre 2007 e 2008, foram descober- tas novas reservas de petróleo em profundidades superiores a 7 mil metros. Trata-se de uma camada chamada de pré-sal que deve, no mínimo, dobrar a reserva de petróleo do país. Assim, a posição invejável que a Petrobras alcançou de ser a líder mundial em produção de petróleo em águas pro- fundas é fruto de uma reação da empresa a uma situação do ambiente. É claro que a posição alcançada também se deve ao trabalho, às pesquisas e à competência adquirida ao longo dos anos, mas esse esforço todo foi provocado por uma reação ao ambiente. Se não fossem os fatores externos (escassez de pe- tróleo em terra), a empresa, provavelmente, não teria atingido a posição de liderança em que se encontra hoje. 3.2 O Papel do Ambiente Externo na Explosão da Inovação O ambiente externo faz o papel do comburente na reação da Explosão da Inovação. Comburente é a substância que, em uma combustão, estando no meio externo, reage quimicamen- te com o combustível, fazendo o calor se propagar. Na natureza, o principal comburente é o oxigênio pre- sente no ar. Quanto maior a quantidade desse gás no meio, maior será a explosão provocada. Sua ausência, por consequ- ência, inviabiliza a combustão, mesmo quando existe grande quantidade de combustível presente e calor abundante. É comum ler em jornais e revistas que algumas flores- tas estão sofrendo com grandes queimadas. Apesar de muitos incêndios terem como causa a atividade humana, outros têm causas naturais. As florestas são áreas suscetíveis a queimadas pela grande quantidade de oxigênio presente em seu ar. Esse gás é proveniente da fotossíntese dos organismos vegetais, que Explosão da Inovação 46 consomem o gás carbônico do ambiente e expelem oxigênio para a atmosfera. Com o excesso do comburente, qualquer pe- quena faísca isolada pode dar origem a grandes incêndios. Por outro lado, na Lua é quase impossível os astronautas fazerem uma fogueirapara se aquecer, devido à baixa quanti- dade do gás oxigênio no ar lunar. Sem o comburente, o calor gerado por uma faísca não pode ser propagado. O ambiente externo tem para a Inovação o mesmo papel que o oxigênio tem para a combustão: ser o comburente da reação. O ambiente externo é quem cria as condições para que o processo da Explosão da Inovação aconteça. Assim como a presença ou a ausência do oxigênio permite ou evita a combus- tão, o ambiente externo pode estimular ou não o surgimento da Inovação. Por que o homem viajou para a Lua? Pelo espírito de aventura, para adquirir novas tecnologias a serem usadas mais tarde em nossa vida cotidiana ou para ganhar conhecimento do espaço? Na verdade, nenhuma dessas alternativas. Os nor- te-americanos desenvolveram o programa Apollo para levar o homem a Lua antes dos soviéticos como forma de propaganda política do capitalismo. Era uma maneira de mostrar que o ca- pitalismo americano era melhor do que o comunismo soviético. Esse era o período da Guerra Fria, onde as duas potências duelavam em relação a suas ideologias. E se não houvesse a Guerra Fria haveria viagem à Lua? Provavelmente, não. Ou se houvesse não seria em 1969. A viagem aconteceria déca- das depois. Do início do programa Apollo até a viagem à Lua se passaram apenas oito anos e foram consumidos cerca de US$25 bilhões, o equivalente a US$100 bilhões nos dias de hoje. Valores e prazos muito difíceis de serem aprovados se a missão não fosse prioritária para o país. Ao mesmo tempo em que o ambiente leva o homem a inovar, ele também pode influenciar o homem a não inovar. o aMBIEnTE ExTERno CoMo CoMBUREnTE da Inovação 47 Pode-se ter uma grande ideia criativa e ter toda a capacidade para desenvolvê-la em algo profundamente inovador, mas se o ambiente externo não fizer a sua parte, essa Inovação pode demorar muito tempo para se concretizar ou até mesmo nunca acontecer. Quem nunca teve uma ideia criativa, mas não a ti- rou do papel ou da mente? Quase todas as pessoas, em algum momento da vida, passam por isso. A transformação do pen- samento para o mundo real precisa sim da influência do am- biente. Porém, quando há pressão, exigência ou imposição do ambiente externo as chances de o indivíduo colocar suas ideias em prática são, com certeza, maiores. 3.3 Os Tipos de Ambientes Existem, metodologicamente, dois tipos de ambientes: aquele que estimula a Inovação e aquele não estimula a Inova- ção. O primeiro é chamado de Ambiente Inovador e o segundo de Ambiente Não Inovador. Tipos de Ambientes Ambiente Inovador é aquele que estimula os participan- tes ou agentes inseridos nele a mudar. Isso ocorre em função da existência de problemas ou dos desafios impostos. Aqui o cenário é de elevada hostilidade, o que força os participantes a encontrar soluções, geralmente por meio de novas ideias, para os problemas existentes. A mudança é algo latente, necessário ambiente Inovador ambiente não Inovador Estimula à Inovação não estimula à Inovação x Explosão da Inovação 48 e forçado. As inovações geradas são frutos do instinto de so- brevivência e são a maneira encontrada para a superação dos desafios impostos pelo cenário hostil. Veja o caso da 3M, em que o Ambiente Inovador influen- ciou e estimulou a empresa a inovar. A 3M é considerada uma das empresas mais inovadoras do mundo. Sua capacidade de criar, produzir e comercializar novos produtos é impressio- nante. A companhia tem uma meta de pelo menos 30% de sua receita ser gerada pelos novos produtos criados nos últimos cinco anos. Essa cultura de devoção à Inovação tem raízes his- tóricas. Fundada em 1902, na cidade de Crystak Bay em Minne- sota, nos Estados Unidos, a empresa nasceu a partir de uma mina. O plano de negócio era extrair coríndon como abrasivo para ser vendido aos fabricantes de rebolos de esmeril. Porém, o destino pregou uma peça nos cinco sócios da 3M: a péssima qualidade do produto que era retirado da mina inviabilizava sua venda. Não se encontrava comprador dispos- to a adquirir o produto. A empresa passou por sérias dificul- dades nos primeiros anos e esteve a ponto de falir. Contudo, para superar esse problema, seus proprietários e os funcioná- rios encontraram uma solução. A saída era ela mesma produzir alguns produtos a partir da matéria-prima extraída da mina. Escolheu-se a lixa e os rebolos de esmeril. Dessa forma, a 3M saiu da mineração e passou a ser uma empresa de materiais abrasivos. Foi a primeira grande mudança imposta (pelo am- biente) na companhia. A mudança feita naquele momento deu-se, portanto, mui- to mais por desespero da companhia e necessidade de resolução de uma situação limite do que por vontade própria ou gosto pela Inovação. Ou a empresa mudava ou morria. A situação imposta pelo ambiente (mina com matéria-prima de baixa qualidade e ausência de compradores) foi determinante para suas escolhas. o aMBIEnTE ExTERno CoMo CoMBUREnTE da Inovação 49 Após se transformar em uma empresa de materiais abra- sivos, os problemas persistiam. Já com quase dez anos de exis- tência, a 3M ainda sofria com a baixa qualidade de seus pro- dutos (afinal, o coríndon usado ainda era de baixa qualidade) e com a acirrada concorrência que jogava as margens dos pro- dutos para baixo. Não haveria saída se ela não investisse na melhoria da qualidade da matéria-prima extraída da sua mina. Por causa disso, a empresa criou seu primeiro laboratório para o estudo de novos materiais e da melhoria dos existentes. Per- ceba que, assim como no exemplo da Petrobras, a criação de um centro de pesquisa aconteceu para resolver um problema ou uma dificuldade imposta pelo ambiente à companhia norte- americana. Após meses de pesquisa com um mineral artificial, a 3M lançou seu primeiro produto com sucesso: um novo abrasivo de tela que trouxe, depois de mais de dez anos, o primeiro lu- cro para a empresa. O sucesso do novo produto permitiu que a empresa crescesse nos anos seguintes e se livrasse do risco de falência. Novos produtos de sucesso foram criados pelo la- boratório de pesquisa e a 3M se consolidou no mercado de abrasivos. Porém, por mais criativo que o laboratório fosse, as possibilidades de uso para as lixas e os rebolos de esmeril fi- cavam cada vez mais limitadas. Não havia muito que crescer nesse mercado, e o crescimento da empresa, por consequência, começou a diminuir. Para evitar os apuros que marcaram o início da sua histó- ria, a 3M passou, no início dos anos 1920, a investir em produ- tos que não fossem lixas. Passou a produzir inicialmente ceras para carros e, depois, fitas adesivas. O sucesso da fita crepe, em 1924, fez com que a diversificação para fora do mercado de materiais abrasivos fosse instituída. Assim, a companhia foi, ao longo dos anos, diversificando cada vez mais seu portfólio de produtos. Mesmo mantendo essa força inovadora ao longo das Explosão da Inovação 50 décadas seguintes, é possível perceber que o que moveu a 3M para a mudança e para a busca constante pela Inovação foram as condições do ambiente. É um equívoco pensar que o Ambiente Inovador seja ca- paz de fazer “todo o serviço”, ou seja, levar as pessoas e em- presas a inovar. Este pensamento é muito equivocado. O que ocorre é que o cenário desafiador e problemático estimula seus agentes a mudar oferecendo duas possibilidades: ou a mudança ocorre ou passa-se o tempo todo sofrendo e tendo sua sobre- vivência ameaçada. É esse o ponto central deste capítulo. Não se está dizendo que o ambiente gera a Inovação. Quem gera a Inovação é a capacidade interna das empresas e das pessoas. A 3M não teria inovado se não fosse a capacidade e a compe- tência das pessoas que nela trabalharam e trabalham. Mas é o Ambiente Inovador que propicia, através da hostilidade e dos desafios impostos, o surgimento de motivos para empresas e pessoas se mobilizarem para a mudança. O Ambiente Inovador é aquele que apresenta os problemaspara serem solucionados. Se não houver problema, também não haverá, por consequên- cia, solução (Inovação). Nesse sentido, o Ambiente Não Inovador é aquele em que não há estímulos para que os agentes ou participantes mudem. Nele não há problemas ou desafios a serem superados. O cená- rio é extremamente amigável, não havendo nenhum incentivo à mudança. Há um maior esforço para se manter o ambiente amigável do que para transformá-lo. Se o ambiente não exige uma mudança de atitude, de comportamento, de regras, de produtos e serviços e de for- mas de trabalho, não há motivo para se buscar algo diferen- te do que existe. Para que gastar tempo, energia e recursos a fim de promover uma Inovação em um ambiente que não a faz prioritária nem necessária? Esse esforço, nesse caso, pode até ser completamente inútil. Afinal, quem garante que a Inova- o aMBIEnTE ExTERno CoMo CoMBUREnTE da Inovação 51 ção trazida nesse contexto é necessária e vai ser aplicada de fato? Se o ambiente não a requer, para que vamos utilizá-la? Pode-se até estar gastando energia e recursos que mais tarde seriam necessários para adequar-se a um novo ambiente que exija Inovação como forma de adequação aos novos cenários. Porém, deve-se tomar muito cuidado com as afirmações dos dois parágrafos anteriores. Ambientes Não Inovadores existem, mas são muito raros. Estes se tornam cada vez mais raros, a ponto de se poder dizer que se encontram em extin- ção. Afinal, qual é o ambiente que não apresenta nenhum tipo de hostilidade e desafios? Qual ambiente não sofre mudanças periodicamente? O mais comum é encontrar empresas e profissionais que estejam em tamanho estado de comodismo e paralisia que não percebem que o ambiente à sua volta está em constante mu- tação. Eles criam uma bolha ao seu redor para se proteger do que acontece do lado de fora, mas uma hora essa bolha poderá se romper e eles sofrerão intensamente com a hostilidade ex- terna. Não podemos confundir agentes ambientais que criam bolhas artificiais de proteção com Ambientes Não Inovadores. São coisas diferentes. Os Ambientes Não Inovadores não exi- gem qualquer tipo de Inovação dos seus participantes. Por ou- tro lado, os agentes que se escondem ou fogem dos Ambientes Inovadores, tentando recriar ambientes falsamente estáveis e amigáveis, terão sérios problemas em um futuro próximo. É equivocado, porém, imaginar que existam apenas esses dois tipos de ambientes: o Inovador e o Não Inovador. Perce- ba o que foi escrito na primeira linha desse tópico: “existem, metodologicamente, dois tipos de ambientes”. A metodologia é uma coisa, a vida real é outra. Na prática, há uma infinidade de cenários distintos, criados a partir desses dois universos, mas todos eles permeiam esses dois cenários teóricos. Explosão da Inovação 52 Tipos de Ambientes É quase impossível um ambiente ser 100% Inovador ou 100% Não Inovador. Normalmente, os ambientes são uma variação desses dois, estando em algum ponto à direita do Ambiente Não Inovador e à esquerda do Ambiente Inovador. Quanto mais perto de um deles, mais características deste e menos características do outro ele terá. O que faz um ambiente ser Inovador ou Não Inovador são determinados elementos que o compõem. No próximo tó- pico serão apresentados esses elementos. 3.4 Os Elementos do Ambiente Externo – CRIARE São seis os elementos que influenciam intimamente a característica do ambiente. Eles são chamados de CRIARE: Competição, Recursos, Instabilidade, Acesso à Informação, Ruptu- ra e Evolução. O conjunto e a combinação do CRIARE é que apontarão se um ambiente é mais propenso ao surgimento de inovações ou não. Cada um dos fatores é mostrado a seguir: ambiente Inovador Infinitos ambientes ambiente não Inovador Teoria Prática o aMBIEnTE ExTERno CoMo CoMBUREnTE da Inovação 53 Elementos do Ambiente Externo – CRIARE A Competição refere-se ao nível de rivalidade que deter- minado ambiente possui. Quando existem fortes competidores digladiando-se, temos um ambiente de Rivalidade. Do contrá- rio, quando não existem concorrentes ou eles são muito fracos, temos um ambiente de Isolamento. Os Recursos são os elementos usados pelas empresas ou pessoas para transformar produtos e efetuar transações co- merciais. Os ambientes com baixa quantidade de recursos são classificados como Escassos. E aqueles que apresentam grande quantidade de recursos são classificados como Abundantes. A Instabilidade refere-se ao grau de incerteza que as mu- danças provocam em determinado ambiente. Quando ocorrem muitas mudanças em um pequeno espaço de tempo, gerando elevada instabilidade, esse ambiente é Turbulento. Quando ocorrem poucas mudanças, sem afetar o ambiente, ele é consi- derado Estável. O Acesso à Informação, por sua vez, é a quantidade, a qualidade, a disponibilidade e a facilidade com que os dados presentes no ambiente são resgatados para uso. Quando um cenário possui grande quantidade de informações, de alta qua- lidade e de fácil acesso, o classificamos como um ambiente Ir- Competição Recursos Instabilidade Acesso à Informação Ruptura Evolução Explosão da Inovação 54 restrito. Mas, quando o ambiente possui pouca variedade de informações, estas são de baixa qualidade e, ainda por cima, de difícil acesso, dizemos que esse ambiente é Restrito. A Ruptura refere-se ao grau de intensidade das mudanças que um ambiente sofre. Quando ocorre uma mudança radical, séria e sensível, que altera as bases pelas quais determinadas empresas ou pessoas interagem, estamos falando de um am- biente de Revolução. Mas, quando as mudanças não provocam a ruptura das bases em que se opera, trata-se de um ambiente de Continuidade. E, por fim, a Evolução é o grau de progresso que um am- biente está sujeito a sofrer. Quando a tecnologia, os processos e os pensamentos e/ou ideias evoluem constantemente, o am- biente é de Progresso. Por outro lado, quando a tecnologia, os processos e os pensamentos e/ou ideias permanecem os mes- mos ao longo do tempo, sem sofrer uma evolução, o ambiente é de Estagnação. Neste ponto, pode-se ver que cada elemento, isoladamen- te, pode afetar o ambiente à sua maneira, formando assim ce- nários distintos pela sua presença ou ausência parcial ou total. Relação entre os Elementos do CRIARE Competição Recursos Instabilidade Acesso à Informação Ruptura Evolução Isolamento abundância Estabilidade Restrito Continuidade Estagnação Rivalidade Escassez Turbulência Irrestrito Revolução progresso o aMBIEnTE ExTERno CoMo CoMBUREnTE da Inovação 55 Antes de analisar a combinação entre esses elementos, é importante discutir cada um dos seis fatores individualmen- te. Esse detalhamento permitirá uma maior compreensão de como cada um deles interfere na constituição do ambiente. 3.4.1 Competição A Competição é o grau de disputa que existe em um am- biente. O confronto entre os competidores tem como finalida- de a obtenção dos recursos disponíveis, e vence o embate aque- le concorrente que conquistar mais recursos. A Competição torna os rivais mais fortes e preparados para os desafios que o futuro reserva. É curioso notar, mas a maioria dos clubes de futebol que foram campeões mundiais tem pelo menos um grande rival em sua cidade. Muitos de seus principais adversários munici- pais também conquistaram o título máximo do futebol, como no caso de Milan e Internazionale (Milão), Independiente e Racing Club (Avellaneda), Grêmio e Internacional (Porto Ale- gre), e Real Madrid e Atlético de Madrid (Madrid). Apenas Borussia Dortmund, Santos e Feyennord não possuem gran- des rivais na mesma cidade, tendo como principais adversários times de outros municípios. Com essa constatação, é visível que a Competição doméstica fortalece os envolvidos para as disputas internacionais. A intensidade da disputa entre os participantes está liga- da diretamente ao nível de Competição. Quando existem em- bates fortes e constantes
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