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1 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo Obrigações complexas As obrigações complexas são as que possuem mais de um sujeito em determinado polo obrigacional, também aquelas que possuem múltiplos objetos a serem escolhidos ou cumpridos para fins de satisfação obrigacional, ou seja, mais de uma conduta do devedor em prol do credor. Diferenciam-se da simples/comum, pois esta possui um único objeto. Existem as obrigações conjuntivas e as disjuntivas. Na primeira, a satisfação obrigacional se dá mediante o cumprimento de todas as condutas previamente constituídas entre os sujeitos obrigacionais. Já na segunda, a satisfação obrigacional se dá mediante o cumprimento de apenas um dos objetos dentre aqueles vários existentes. As obrigações alternativas e facultativas são disjuntivas. Obrigações alternativas A obrigação alternativa tem um ponto de origem, que é a constituição de uma obrigação, que irradia vários objetos nos quais somente um deles será escolhido para fins de satisfação da obrigação. Exemplo: Entregar um touro ou uma vaca. a) Concentração: Trata-se do ato de escolha da prestação a ser cumprida e, consequentemente, comunicação do sujeito obrigacional contrário acerca de tal ato. Assim como na obrigação de dar coisa incerta, há a concentração na obrigação alternativa (apenas nas duas). A diferença de conteúdo (objeto) dessas duas obrigações é que na de dar coisa incerta a concentração recai sobre o bem físico (concentra o objeto da conduta). Já na alternativa a concentração recai sobre o objeto prestacional da obrigação (a conduta). b) Titularidade: De acordo com a previsão existente no título obrigacional. Caso não haja, aplica-se a regra geral prevista no Código Civil que determina que o devedor seja o titular. É possível a pluralidade de optantes, mais de uma pessoa conta no título. Em caso de escolha entre os múltiplos optantes prevalece a regra da Obrigação comum/simples: Credor Devedor Obrigação alternativa: Credor Devedor A B C D 2 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo unanimidade (apenas com a maioria não traria harmonia). Caso não haja unanimidade, a escolha caberá ao juiz (art. 252). c) Prazo: É aquele previsto no título obrigacional. Caso não esteja no título, é de 15 dias após a citação. d) Penalidade pelo não exercício: Inverter o direito de escolha. Se o direito de escolha pertence a um terceiro escolhido pelos sujeitos obrigacionais e esse terceiro perde o prazo de exercício, o direito de escolha pertence ao devedor (regra geral). A regra do artigo 244 não se aplica nessa obrigação, pois não se pode aferir qualidade em conduta, sem a possibilidade de aferir a intermediária (comparar). A única possibilidade de aplicar essa regra entre condutas é aplicando o critério econômico. e) Fonte: Lei ou vontade. f) Finalidade: Para o devedor é de aumentar as chances de cumprimento obrigacional, cria um leque de possibilidades para fins de satisfação, múltiplos objetos se apresentam para ele cumprir a obrigação. Para o credor é de aumentar as chances de receber a obrigação. g) Objeto: Livre, ou seja, é permitir múltiplos objetos, desde que não sejam ilícitos. h) Requisitos: Pluralidade de objetos, que devem ser autônomos e independentes entre si. Deve ocorrer o fenômeno da concentração para a identificação do objeto a ser cumprido. A partir da concentração, a obrigação que era complexa passa a ser simples. É possível haver concentrações sucessivas, fruto de uma obrigação alternativa em caso de concentração em obrigação de dar coisa incerta em que será necessária nova concentração. Impossibilidade de cumprimento por vícios originários: A estrutura principal (núcleo) só existe por conta da existência da base (multiplicidade de objetos). Se um desses objetos é viciado por sua origem (ilícito) acontece uma contaminação dessa obrigação como um todo, ou seja, a obrigação inteira se torna viciada (ilícita). O que é considerado é a conduta ilícita, não o objeto físico. Concentração nas obrigações periódicas: Da mesma forma que os períodos autônomos independentes têm prazos prescricionais distintos, a escolha nesses períodos também são distintos e autônomos. Impossibilidade do cumprimento da obrigação por perecimento do objeto antes da escolha: Premissas: a) Se há culpa, há perdas e danos. b) Caso um dos objetos autônomos e independentes se perca, há concentração. 3 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo c) Caso o perecimento de um dos objetos tenha sido ocasionado por sujeitos obrigacionais diversos do titular do direito de escolha, tem-se a otimização deste direito, ou seja, se mantém o direito de escolher um dos objetos ainda que traduzido economicamente. Direito de escolha do devedor: a) Impossibilidade de cumprimento de uma das obrigações com ou sem culpa do devedor: Esse perecimento não é simultâneo, ou seja, há uma ordem cronológica entre os objetos. Se um objeto se perde primeiro, pelo fato de serem autônomos e independentes, há concentração ficta no subsistente. É ficta, pois se presume que teve a escolha do carro. Se sobrar um principal, é nele que recai. Exemplo: Touro se perde e a escolha recai sob o objeto subsistente. b) Impossibilidade de cumprimento de todas as obrigações por culpa do devedor: Esse perecimento não é simultâneo, ou seja, há uma ordem cronológica entre os objetos. Sendo assim, o primeiro se perde, seguido do segundo, ambos por culpa do devedor. Com a perda do primeiro, ocorre a concentração ficta no segundo. Se o segundo se perde com culpa, a responsabilidade se da pelo equivalente + perdas e danos. c) Perda da primeira sem culpa do devedor e da segunda com culpa deste: O perecimento não é simultâneo, ou seja, há uma relação cronológica entre os objetos. Ante o perecimento do primeiro, há concentração ficta no segundo. Ante a perda do segundo por culpa, equivalente + perdas e danos. d) Perda da primeira com culpa do devedor e da segunda sem culpa: O perecimento não é de forma simultânea, ou seja, há uma ordem cronológica entre os objetos. Se o primeiro se perdeu, há concentração ficta no segundo. Se o segundo se perdeu sem culpa, resolve a obrigação. Há uma corrente minoritária que defende que o credor possa exigir o equivalente + perdas e danos da primeira que se perdeu com culpa. e) Perda de todas as obrigações sem culpa do devedor: O pertencimento não é de forma simultânea, ou seja, há uma ordem cronológica entre os objetos. Se o primeiro se perdeu sem culpa, há concentração ficta no subsistente. Se o subsistente se perdeu sem culpa, resolve a obrigação. f) Perda simultânea das obrigações por culpa do devedor: Ambos os objetos se perdem ao mesmo tempo por culpa do devedor. Equivalente + perdas e danos de qualquer um dos objetos (já que não houve uma ordem). Touro Carro de luxo 4 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo g) Perecimento de uma das prestações por culpa do credor: O direito de escolha pertence ao devedor, mas o perecimento de uma das prestações ocorre por culpa do credor. Não se fala de concentração ficta, pois o interesse nesse caso é do devedor. A perda de um dos objetos por culpa de sujeito obrigacional diverso do titular do direito de escolha devedor. Se o devedor escolher o primeiro objeto que se perdeu por culpa do credor, ele considera a obrigação cumprida. É possível que o devedor escolha cumprir o segundo objeto e exigir o equivalente + perdas e danos do que se perdeu. Exemplo: Touro se perdeu. O devedor mantem o direito de escolha em relação a ambos os objetos. Se para ele for economicamente vantajoso, ele pode cumprir a obrigação do carro, e, por estar cumprindo mais do que deveria já que o credor perdeu o touro, ele pode exigir o equivalente +perdas e danos do touro para equilibrar economicamente. h) Perecimento de todas as prestações por culpa do credor: Há perda de ambos os objetos de forma cronológica. Ocorre que mediante a otimização do direito de escolha, ambos os objetos se mantem para fins de cumprimento obrigacional. Sendo assim, o devedor pode exigir o equivalente + perdas e danos de qualquer um. i) Perda de primeira por culpa do devedor e da segunda por culpa do credor: As culpas se anulam, razão pela qual há a extinção da obrigação. A obrigação não resolve, ela se extingue. Direito de escolha do credor: a) Impossibilidade de cumprimento de uma das obrigações sem culpa do devedor: Ante a perda do primeiro objeto sem culpa, ausência de responsabilidade e ausência de otimização do direito do credor, há concentração ficta no objeto subsistente. b) Impossibilidade de cumprimento de uma das obrigações com culpa do devedor: Ante a perda do primeiro objeto com culpa (passa a ser traduzido economicamente). Como a perda se deu por sujeito obrigacional diverso do titular do direito de escolha, o credor precisa ter seu direito otimizado. O credor pode escolher o subsistente (concentração ficta) ou exigir o equivalente +perdas e danos do que se perdeu. Exemplo: Ou escolhe o carro ou o dinheiro do touro que se perdeu. c) Impossibilidade de todas as prestações por culpa do devedor: Como o direito de escolha do credor não pode ser violado, ele pode exigir o equivalente + perdas e danos de qualquer um dos objetos que seja mais vantajoso para ele. d) Impossibilidade de todas as obrigações sem culpa do devedor (impossibilidade inocente): Resolve a obrigação. e) Perecimento de uma das prestações por culpa do credor: O credor que não pode ter o seu direito de escolha violado. Ele pode considerar a obrigação satisfeita ou exigir o cumprimento do objeto subsistente e indenizar o equivalente + perdas e danos do objeto que deu causa ao 5 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo devedor (se não indenizasse estaria impondo ao devedor um ônus maior do que a situação pecuniária da obrigação). Obrigações facultativas Na obrigação facultativa há múltiplos objetos, havendo um principal e outro subsidiário, existindo este apenas na ótica do devedor. Ele só será cumprido caso o principal não seja possível (ordem de preferência), e somente quem tem a faculdade de exigi-lo é o devedor, pois este é feito em prol dele. O direito de escolher o subsidiário para fins de cumprimento obrigacional é único e exclusivo do devedor. Exemplo: Contrato de aluguel se define a conduta de contratar um seguro de incêndio. O objeto principal trata-se da entrega em dinheiro. Subsidiariamente permite-se a contratação através de seguradora. Hipóteses de responsabilidade por ato do devedor: a) Perda com culpa do objeto principal: Ante o perecimento do principal, cabe ao devedor cumprir ou não o subsidiário para evitar o inadimplemento. Uma corrente minoritária defende que o credor pode escolher o equivalente do principal + perdas e danos. b) Perda sem culpa do objeto principal: Resolve a obrigação. Não tem lógica abdicar da resolução da obrigação para cumprir o objeto subsidiário. Se escolhesse cumprir o subsidiário, estaria cumprindo ambos os objetos. c) Perda do objeto subsidiário com ou sem culpa: Pouco importa o que acontece com o objeto subsidiário, pois tal fato não influencia no objeto principal. O credor nem sabia da existência dele, apenas prejudica o devedor, pois ele perde uma das chances. Ele continua com a responsabilidade de satisfazer o principal. Conceito Características Alternativa Trata-se da obrigação em que o devedor satisfaz um dentre os múltiplos objetos ao credor para cumprimento obrigacional. Os múltiplos objetos são autônomos e independentes, ou seja, qualquer um pode ser escolhido para fins de satisfação obrigacional. Facultativa Trata-se da obrigação em que o devedor pode satisfazer a obrigação mediante o cumprimento do objeto principal ou do subsidiário no caso de perda do anterior. Os múltiplos objetos tem uma relação de preferência, causalidade. Ou seja, somente se cumpre o subsidiário em caso de impossibilidade do principal. Obrigação facultativa: Credor Devedor 6 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo Exercícios 1. João contraiu obrigação com José para entregar uma saca de café ou alternativamente um touro, ambos de sua propriedade. A saca de café se perdeu em razão de um incêndio que atingiu sua fazenda. João pode ainda cumprir a obrigação? E se a obrigação fosse facultativa, qual seria a solução? Ante a perda de um dos objetos (o primeiro) dentre aqueles dois que são principais, autônomos e independentes, não interessa se teve culpa ou não, a concentração fica no subsistente (touro), exigindo-o para fins de cumprimento obrigacional. Se a obrigação fosse facultativa, o touro seria subsidiário, poderia ser cumprido para fins de satisfação obrigacional, mas como o objeto principal se perdeu sem culpa é mais vantajoso para o devedor que ele ao invés de escolher o subsidiário para fins de cumprimento, ele resolva. 2. Explique sobre a impossibilidade do cumprimento da obrigação por ilicitude originária do objeto. No caso de impossibilidade do cumprimento da obrigação por ilicitude originária, existe um vício na constituição da obrigação, o qual produz efeitos na obrigação em si. À vista disso, se um dos objetos obrigacionais possui vício em sua origem, a relação obrigacional será prejudicada como um todo, de modo que a obrigação será nula. 3. Acerca das obrigações assinale a opção correta: a) Na obrigação de dar coisa incerta, o bem é definido pela qualidade e quantidade. b) A concentração é instituto aplicável as obrigações de dar coisa incerta, alternativa e facultativa. c) As obrigações disjuntivas são aquelas que exigem o cumprimento conjunto de ambas as obrigações existentes para a satisfação da obrigação. d) A única obrigação cujo direito de escolha pertence somente ao devedor é a facultativa. 4. Explique a diferença entre as multiplicidades de objetos das obrigações facultativas e alternativas quanto a escolha para o cumprimento. A obrigação facultativa é um instituto que se caracteriza por um objeto sendo o principal, e o outro, subsidiário; desta forma, este somente é cumprido em caso de impossibilidade de cumprimento daquele. Ademais, os sujeitos obrigacionais apresentam características diferentes: enquanto o devedor possui esse objeto subsidiário como opção, o credor não o apresenta e nem lhe pode exigir, ou seja, fica a critério exclusivamente do devedor o cumprimento da obrigação subsidiária. Já na obrigação alternativa, os múltiplos objetos existem para ambos os sujeitos e são autônomos e independentes, de forma que o indivíduo detentor de direito de escolha pode selecionar qualquer um desses objetos presentes na obrigação. 5. Sobre as obrigações facultativas e obrigações alternativas, é correto afirmar: a) Nas obrigações alternativas, assim como nas facultativas, sempre será o devedor que irá escolher a coisa a ser entregue. 7 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo b) Enquanto nas obrigações alternativas sempre será o devedor que escolhe qual coisa será entregue, nas facultativas a escolha que em regra deveria ser feita pelo devedor, poderá ser feita pelo credor se assim ficar estabelecido. c) Nas obrigações alternativas e facultativas sempre será o credor que irá escolher a coisa a ser entregue. d) Tanto nas obrigações alternativas, como nas facultativas, apesar da escolha da coisa a ser entregue, em regra, caber ao devedor, poderá ficar estabelecido que a opção deverá ser feita pelo credor, em consonância com o princípio da autonomia da vontade. e) Enquanto nas obrigações alternativas a escolha, emregra, cabe ao devedor, podendo ficar definido que tal opção deverá ser feita pelo credor, nas facultativas caberá sempre ao devedor escolher, sendo que a coisa somente poderá ser substituída por aquela prevista no título. 6. Nas obrigações alternativas, quando a obrigação for de prestações anuais e cabendo a escolha ao devedor, o direito de ação poderá ser exercido: a) Somente no primeiro ano. b) Em todos os anos, até o término do contrato. c) Somente nos anos em que houver a concordância expressa do credor. d) Em anos alternados, sendo um ano para o credor, outro ano para o devedor. 7. No dia 2 de agosto de 2014, Teresa celebrou contrato de compra e venda com Carla, com quem se obrigou a entregar 50 computadores ou 50 impressoras, no dia 20 de setembro de 2015. O contrato foi silente sobre quem deveria realizar a escolha do bem a ser entregue. Sobre os fatos narrados, assinale a afirmativa correta. a) Trata-se de obrigação facultativa, uma vez que Carla tem a faculdade de escolher qual das prestações entregará a Teresa. b) Como se trata de obrigação alternativa, Teresa pode se liberar da obrigação entregando 50 computadores ou 50 impressoras, à sua escolha, uma vez que o contrato não atribuiu a escolha ao credor. c) Se a escolha da prestação a ser entregue cabe a Teresa, ela poderá optar por entregar a Carla 25 computadores e 25 impressoras. d) Se, por culpa de Teresa, não se puder cumprir nenhuma das prestações, não competindo a Carla a escolha, ficará aquela obrigada a pagar somente os lucros cessantes. Obrigação divisível e indivisível Sua principal característica é a existência de múltiplos sujeitos, seja no polo ativo ou passivo. Obrigação divisível é divisível em relação ao bem físico e a conduta. Ela é dividida entre os múltiplos sujeitos obrigacionais. Entre um credor e devedor específico, há um único vinculo jurídico específico que produz efeitos, em regra, somente a estes credores e devedores. A quantidade de vínculos é a mesma que a quantidade de sujeitos obrigacionais. 8 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo Exemplo: Rateio de churrasco, 400 reais. Múltiplos vínculos, cada um com correspondência econômica de 100 reais: 1. Credor A e Devedor A. 2. Credor A e Devedor B. 3. Credor B e Devedor A. 4. Credor B e Devedor B. Criam-se múltiplos vínculos autônomos e independentes tantos quanto forem os sujeitos obrigacionais. Pelo fato de serem autônomos, o que ocorre em um vinculo não vai produzir efeitos para os demais (somente naquela relação direta). Obrigação indivisível é representada por um único vinculo por ficção jurídica. Os credores são considerados juridicamente como um só, assim como os devedores. O fracionamento cria múltiplos vínculos diretos, autônomos e independentes, entre os sujeitos obrigacionais. Exemplo: Compra de um computador de 2000 reais. O que acontece entre o credor A e o devedor A afeta eventualmente o credor B e o devedor B, diferentemente da obrigação divisível. Como a obrigação é indivisível, o bem não comporta fracionamento. Se o devedor A cumpre a obrigação, o devedor B não vai precisar cumprir também, já que há apenas um objeto. O devedor A encerra o vinculo e faz o ajuste interno com o B, cobrando deste 1000 reais para equilibrar a obrigação dentro do polo dele. Da mesma forma o credor A recebe 2000 e deve dar ao credor B a metade. É possível que haja mais de um credor e apenas um devedor, diferentemente da obrigação divisível que exige mais de um em cada polo. Existe um único vinculo por ficção jurídica entre os vários sujeitos obrigacionais (considerados como um só), razão pela qual o que ocorre entre um credor e um devedor vai afetar os demais sujeitos. Credor A Devedor A Credor B Devedor B Credor A Devedor A Credor B Devedor B 9 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo O credor só pode perdoar a cota parte (uma parte) para um credor específico, não podendo perdoar a obrigação como um todo. O objeto, por ser indivisível, impõe a necessidade de cumprimento integral de obrigação. Após o ajuste externo (realizado entre o polo ativo e o polo passivo) se procede ao ajuste interno (dentro do próprio polo). O devedor que cumpre a obrigação, no ajuste interno, se transforma em credor. O credor que recebe a obrigação, no ajuste interno, se transforma em devedor. Considerando que o devedor B satisfez a obrigação, o ajuste interno dará: No polo passivo haverá o credor B (devedor B que satisfez a obrigação) e o devedor A, e no polo ativo o devedor A e o credor B. Enquanto o ajuste externo é realizado pelas regras de indivisibilidade, o ajuste interno é realizado pelas regras de divisibilidade (cota parte). Para a lei é necessário para a identificação do credor legítimo e do pagamento ser considerado válido a chamada caução de ratificação. Trata-se do documento idôneo para atestar: a) Credor legítimo. Aquele habilitado a receber a prestação em nome dos demais. b) Anuência dos demais credores quanto ao recebimento da prestação por um credor específico. c) Garantia ao devedor que está satisfazendo a obrigação para o credor legítimo e não será demandado pelos demais para fins de cumprimento obrigacional. Para que seja cumprida a obrigação indivisível para um dos credores é necessário que eles portem esse documento escrito. Se não houver a caução de ratificação o pagamento não pode ser realizado, e caso seja, não é válido, devendo o polo passivo cumpri-lo novamente (quem paga mal, paga duas vezes). Se os credores se apresentarem de forma conjunta para o recebimento da prestação: a) A primeira corrente acredita que não é necessária caução de ratificação, pois os credores estão na presença do devedor. b) A segunda corrente acredita que a obrigação é cumprida de forma integral por imposição do objeto, o cumprimento da obrigação ainda exigiria a entrega para um deles de forma específica, razão pela qual se exigiria a caução. Credor A Devedor A Credor B Devedor B 10 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo Fontes: a) Lei: O Código Civil determina a indivisibilidade da obrigação (conduta ou bem físico). Exemplo: Herança, propriedade não pode ser fracionada a menor que 126m². b) Vontade das partes: A indivisibilidade é imposta pela vontade das partes. Exemplo: Doação com cláusula de incomunicabilidade entre os cônjuges. c) Propriedade do bem físico: A própria substância do bem físico impõe a indivisibilidade. Exemplo: Computador, cavalo, relógio. d) Pela situação econômica: A indivisibilidade é imposta por razões econômicas, ou seja, o fracionamento ocasionará perda econômica no bem. Exemplo: Moedas fundidas por reações químicas em navios abandonados, não compensava economicamente fracionar. e) Razão determinante do negócio jurídico: A obrigação, fora do conjunto, seria divisível, mas pelas particularidades da razão determinante passa a ser indivisível. É a base fática para a ocorrência do negócio jurídico, ou seja, através de um determinado acontecimento fático, surge a intenção de praticar determinado negócio jurídico. Nesta modalidade de indivisibilidade, uma situação fática, determinante ao negócio jurídico, cria uma impossibilidade de fracionamento do objeto. Exemplo: Desejo de se tornar um agricultor. Pesquisa uma fazenda que possui irrigação. 11 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo Conceito Requisitos Vinculo jurídico Objeto físico Divisível Trata-se da obrigação em que se criam múltiplos vínculosautônomos e independentes (fracionamento do bem físico e da conduta) em relação aos vários sujeitos obrigacionais existentes. Existem 3: a) Possibilidade de fracionamento (conduta e bem físico); b) Que essas frações guardem homogeneidade em relação ao todo; c) Que as frações guardem proporcionalidade econômica em relação ao todo. Exemplo: Se dividira obrigação em 4 vínculos autônomos independentes, cada um deles precisa tem 25% do valor total. Ante a existência de múltiplos vínculos autônomos e independentes, o que ocorre em um vínculo produz efeitos somente entre o credor e o devedor específico dele, não produzindo efeitos para os demais. Duas possibilidades: a) Bem divisível cria obrigação divisível, desde que haja múltiplos sujeito; b) Bem indivisível cria obrigação divisível, desde que existam em, pelo menos, igual quantidade dos vínculos existentes. Exemplo: Quatro computadores. Indivisível Trata-se da obrigação em que há um único vínculo (ficção jurídica) entre os vários sujeitos obrigacionais existentes (que são considerados como um só). O critério é o da exclusão, ou seja, toda obrigação que não for divisível, será indivisível. Se não conseguir fracionar é indivisível. Ante a existência de um único vínculo jurídico (por ficção) entre os vários sujeitos obrigacionais (que também são considerados como um só) o que acontece entre um credor e m devedor vai afetar a todos os demais sujeitos. Duas possibilidades: a) Bem indivisível cria obrigação indivisível; b) Bem divisível cria obrigação indivisível, desde que haja singularidade de sujeitos obrigacionais. 12 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo Efeitos da divisibilidade e indivisibilidade Perdas e danos Insolvência (quem suporta os prejuízos?) Remissão (perdão do crédito) Prescrição Divisível Caso haja prejuízo em determinado vínculo, pelo fato de serem autônomos e independentes, os efeitos são verificados entre os sujeitos (somente o culpado responde pelo prejuízo). Como os vínculos são autônomos e independentes, eventual insolvência de um dos devedores vai afetar tão somente o credor, que tem vínculo direto com ele. a) Cada credor pode perdoar somente o valor econômico de cada vínculo individualizado com determinado devedor. b) O benefício do perdão é aquele devedor que possui o vínculo direto com o credor. O perdão que acontece em um vínculo não influencia nos demais. Como os vínculos são autônomos e independentes, cada um deles tem um prazo prescricional diverso (igualmente independente). Indivisível Caso a obrigação seja convertida em pecúnia, a obrigação se transforma em divisível, razão pela qual somente o culpado responde pelos prejuízos. Como o vínculo é único entre credores e devedores e estes são considerados como um só, aquele devedor que cumprir a obrigação suportará o prejuízo da insolvência do outro devedor. Exemplo: Devedor A cumpriu a obrigação e cobra 1000 reais do devedor B. O devedor B é insolvente, portanto o A é quem suporta o prejuízo. a) Como são considerados como um só (unidade de vínculo) o perdão feito a um dos devedores não afeta a obrigação principal; b) O benefício do perdão pode ser um devedor específico ou dado de forma geral, no entanto, não afetará a obrigação; c) O devedor que cumprir a obrigação deve reclamar o valor do perdão. Como o vínculo é único entre credores e devedores e estes são considerados como um só, o prazo prescricional é único para todos eles. 13 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo Exercícios 1. A e B são credores de C, D e E na quantia de 60 mil reais. Pergunta-se: a) A pode exigir a integralidade da dívida do devedor C? Não, pois por se tratar de obrigação divisível, A pode cobrar somente o valor representado pelo vinculo direto de 10mil reais. C possui dividas com A e com B, e deve paga-las de maneira separada em cada vinculo. b) B pode perdoar metade da dívida (30 mil) em favor de D? Não, na obrigação divisível deve haver proporcionalidade econômica das frações em relação ao todo. Por esse motivo, a dívida de cada devedor é de 20 mil reais, sendo de 10 mil em cada vínculo para cada credor. Estes podem perdoar somente o valor econômico de cada vínculo individualizado, sem influenciar nos demais. Perdoar metade da dívida em favor de D influenciaria no valor dos demais vínculos. Portanto, B pode perdoar somente o valor representado pelo vinculo direto de 10mil reais. c) Qual a solução jurídica para eventual insolvência de D em relação aos credores? Como os vínculos são autônomos e independentes, a eventual insolvência de D vai afetar tão somente os credores A e B que tem vínculo direto com ele, de modo a suportar o valor econômico do vinculo (10 mil). 2. A e B são credores de C, D e E em relação a um cavalo Manga Larga marchador que possui valor de mercado em 120 mil reais. Pergunta-se: a) A pode exigir a integralidade da dívida do devedor C? Sim, pois se trata de obrigação indivisível e, pela indivisibilidade do objeto, a obrigação precisa ser cumprida de forma integral. b) Qual a solução jurídica para eventual insolvência de D em relação aos credores? Como o vínculo é único entre credores e devedores, os credores continuam com o direito de exigir a integralidade da obrigação de qualquer devedor, pois o bem não comporta fracionamento. O devedor que cumpre a obrigação vai suportar a cota parte do insolvente. c) B pode perdoar metade da dívida (60 mil) em favor de D? Não, pois D não tem metade da divida de cota parte. B pode perdoar somente o que ele teria de vinculo com D (20 mil). Caso o exercício pedisse “B pode perdoar metade da dívida (60 mil) em favor dos devedores?”, poderia ocorrer, já que ele é titular da metade. - O que aconteceria se após o perdão, D fica insolvente? O que os credores poderiam exigir dos devedores, e como ficaria o ajuste interno? Os credores continuam com o direito de exigir a integralidade da obrigação, no entanto, deverão indenizar a cota parte perdoada. Caso B pretenda receber de C a obrigação integral, C entregará o cavalo para ele e receberá 20 mil. B deverá indenizar integralmente o devedor A com 60 mil no ajuste interno. Caso A pretenda receber de C a obrigação integral, C entregará o cavalo para ele e receberá 20 mil. A deverá transferir 40 mil para B no ajuste interno. - O que aconteceria se após o perdão, D fica insolvente e A tivesse perdoado sua cota parte por condição pessoal a E? Caso A pretende receber de C a obrigação integral, C entregará o cavalo para ele e receberá 40 mil (perdão 14 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo dado para D e para E). A deverá indenizar o credor B em 40 mil no ajuste interno, que é a cota parte dele. O credor C reterá o 40 mil, cobrará 20 mil restante do E e suportará o prejuízo da insolvência do devedor D. 3. A, B e C são credores de D, E e F em relação a um valor pecuniário de 90 mil reais. Pergunta-se: a) A pode exigir a integralidade da dívida do devedor F? Não, pois por se tratar de obrigação divisível, A pode cobrar somente o valor representado pelo vinculo direto de 10mil reais. F possui dividas com A, B e C e deve paga-las de maneira separada em cada vinculo. b) Qual a solução jurídica para eventual insolvência de D em relação aos credores? Como os vínculos são autônomos e independentes, a eventual insolvência de D vai afetar tão somente os credores A, B e C que tem vínculo direto com ele, de modo a suportar o valor econômico do vinculo (10 mil). c) B pode perdoar metade da dívida (45 mil) em favor de D? Não, na obrigação divisíveldeve haver proporcionalidade econômica das frações em relação ao todo. Por esse motivo, a dívida de cada devedor é de 30 mil reais, sendo de 10 mil em cada vínculo para cada credor. Estes podem perdoar somente o valor econômico de cada vínculo individualizado, sem influenciar nos demais. Perdoar metade da dívida em favor de D influenciaria no valor dos demais vínculos. Portanto, B pode perdoar somente o valor representado pelo vinculo direto de 10mil reais. - O que aconteceria se após o perdão, D fica insolvente? O que os credores poderiam exigir dos devedores, e como ficaria o ajuste interno? Como os vínculos são autônomos e independentes, a eventual insolvência de D vai afetar tão somente os credores A, B e C que tem vínculo direto com ele, de modo a suportar o valor econômico do vinculo (10 mil). Não há ajuste interno na obrigação divisível. - O que aconteceria se após o perdão, D fica insolvente, A tivesse perdoado sua cota parte por condição pessoal a E, e F tivesse falecido deixando dois herdeiros? O que cada credor poderia exigir de cada devedor e como ficaria o ajuste interno? Como os vínculos são autônomos e independentes, a eventual insolvência de D vai afetar tão somente os credores A e C, considerando que B já havia perdoado sua parte com D (10 mil). Se A tivesse perdoado sua cota parte a E, este continuaria tendo a obrigação de pagar 10 mil para B e C separadamente. Se F tivesse falecido, sua obrigação de pagar passa a ser dos dois herdeiros, que devem 5 mil reais cada para cada credor. 15 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo Obrigação solidária e in solidum Obrigação solidária Obrigação in solidum Conceito Trata-se da obrigação em que cada um dos credores pode exigir a integralidade do objeto em relação a cada um dos devedores. Cada credor é detentor de todo o direito do polo ativo. Um credor pode perdoar a totalidade da obrigação, pois ele é titular de todo o direito do polo ativo (no ajuste externo “pode tudo”), devendo fazer as indenizações de cota parte no ajuste interno. Pode perdoar além de sua cota parte. Trata-se da obrigação em que cada um dos credores pode exigir a integralidade do objeto em relação a cada um dos devedores. Os devedores, em regra, possuem qualidades jurídicas distintas, ou seja, há um devedor principal (direto) e um responsável (indireto). É possível que os devedores tenham uma diferença de cota parte de acordo com a sua qualidade (principal ou responsável) em relação à extensão econômica dos seus deveres. Fundamento Decorre de lei ou de acordo entre as partes (contrato, título obrigacional). Não existe por presunção ou interpretação. Deve ser expressa. Fato ocorrido na sociedade. Fenômeno de direito material no ajuste interno Sub-rogação, troca de qualificação jurídica de credor para devedor e vice-versa. O devedor principal que cumpre a obrigação se sub- roga nos direitos do credor em relação aos obrigados (outros devedores principais). Não há a extinção da obrigação. Direito de regresso. Há a extinção da obrigação e cria uma nova relação jurídica entre o responsável e o devedor principal. Não acompanha garantia pois o vinculo se extingue. Instrumento processual Chamamento ao processo para cumprir a obrigação que eles se vincularam. Já está definida a responsabilidade de quem deve cumprir e receber. Denunciação à lide, não está definida a responsabilidade de quem deve cumprir e receber. Um suposto devedor que está sendo demandado para ser criada uma obrigação contra ele, denuncia possíveis devedores à lide, para que a partir do momento em que eles integrarem o processo, o juiz consiga definir qual é a responsabilidade de cada um quanto à obrigação que será criada. 16 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo A obrigação solidária trata-se da obrigação em que cada credor pode exigir a integralidade da obrigação e que cada devedor tenha o dever de cumprir a integralidade da obrigação. Fundamento/fonte: Lei ou a vontade das partes. A lei diz que cada um dos credores tem a totalidade do direito do polo ativo, e que cada um dos devedores tem o dever de cumprir o débito do polo passivo. A solidariedade não se presume, resulta da lei ou da vontade entre as partes. A obrigação solidária não se cumpre de forma integral não pelo fato do bem não possuir fracionamento, mas sim, pois a lei define que o credor é o titular do direito do polo (por isso não é necessário caução de ratificação na solidariedade ativa, qualquer um dos credores pode exigir tudo). Pode existir uma solidariedade passiva sem que exista uma ativa, sendo necessária caução de ratificação, já ·que o credor não detém todo o direito do polo (pois a solidariedade não está no polo ativo). Cada um dos devedores vai ter que cumprir a obrigação de forma integral. Exemplo: O efeito da solidariedade ativa é que como os credores detêm todo o direito do polo, não é necessária a caução de ratificação. Finalidade: Facilitar o cumprimento e recebimento da obrigação, tendo em vista que não precisa de caução de ratificação ou formalidades para fins de cumprimento obrigacional. Vários credores podendo exigir tudo e vários devedores podendo cumprir tudo. Características: Externamente, por imposição da lei (ficção jurídica) todo credor/devedor possui o direito/débito integral do polo. Externamente, por ficção, há um único vínculo entre o polo ativo e polo passivo, e por essa razão se cumpre de forma integral. Coexiste com essa ficção de único vinculo relações diretas e autônomas entre credores e devedores (possibilidade de qualidade de vínculos distintos). O que ocorre nesses vínculos autônomos e independentes não afeta a solidariedade, esta sempre vai se manter, podendo ocorrer apenas um desfalque econômico. Corresponsabilidade entre os sujeitos obrigacionais, ou seja, tem-se o cumprimento integral no ajuste externo, no entanto, há o ajuste interno posterior pelas regras da divisibilidade. Exemplo: A, B e C estavam trafegando com seu veículo pela cidade. D, motorista de uma empresa E, controlada pela empresa F, colide no veículo ocasionando danos materiais e estéticos e em todos eles. Os credores Credores Devedores A D B E C F 17 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo demandam os devedores D, E e F que, por lei, são devedores solidários. 23/04/2020, prazo de 3 anos e danos de 90 mil reais. Qual a natureza do vinculo entre A, B e C e o devedor D? Responsabilidade cvil por ato ilícito (devedor principal). Qual a natureza do vinculo entre A, B e C e o devedor E e F? Responsabilidade por ato de terceiro, não foram elas que praticaram o ilícito de forma completa, mas elas vão ser chamadas a responder pelo dano ocasionado pelo devedor principal. Credor A notifica o devedor D no dia 23/05/2020. O prazo prescricional seria em 22/05/2023. Em regra a solidariedade não se desfaz, somente pode ocorrer um desfalque econômico na obrigação. Espécies: a) Ativa: A solidariedade é aquela entre os credores. Significa dizer que qualquer credor pode exigir a integralidade da obrigação, pois cada um deles, por imposição da lei, detém todo o direito do polo. A solidariedade ativa impõe um raciocínio de otimização dos direitos dos credores. A doutrina majoritária entende que não há hipótese de solidariedade ativa no ordenamento jurídico brasileiro. A doutrina minoritária entende que conta conjunta e a Lei 209/48, art. 12º são hipóteses de solidariedade ativa. b) Passiva:A solidariedade é aquele entre os devedores. Significa dizer que qualquer devedor será demandado para cumprimento integral da obrigação, pois cada um deles, por imposição da lei, detém todo o débito do polo. A solidariedade passiva impões uma otimização dos direitos dos devedores. Exemplo: Pais em relação aos atos dos filhos, empresa por atos do empregado. c) Mista: A solidariedade é verificada em ambos os polos. Existe um conflito entre regras de otimização. Efeitos: Não há previsão no Código quanto a questão da conversão em perdas e danos na solidariedade mista, mas há duas possíveis correntes. Prevalece a solidariedade ativa, pois o ordenamento protege o crédito, sendo assim, os credores, quanto a otimização de seu direito podem exigir a obrigação integral (principal + perdas e danos). Prevalece a solidariedade passiva, pois o ordenamento prestigia a menor onerosidade ao devedor e também por possuir regras que responsabilizam somente o culpado. 18 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo Remissão (ato de perdão pelo credor) Morte Conversão em perdas e danos Insolvência Ativa - É permitida a remissão total por qualquer um dos credores, já que ele detém todo o direito do polo. - Se o credor realizar perdão direto para um devedor em relação a sua cota parte específica, esse devedor sai da solidariedade, e a obrigação permanece em relação aos demais com o abatimento desta cota parte. Exemplo: Devedores devem 90 mil reais. Se A faz perdão de cota parte específica e pessoal ao devedor E de 30 mil reais, o devedor E é retirado da solidariedade e a obrigação é mantida em relação aos devedores D e F e os credores A, B e C, em relação a 60 mil reais. Em caso de morte do credor solidário, a solidariedade se mantém caso esteja na fase do espólio ou que, encerrado o espólio (formal de partilha), os herdeiros estejam atuando em conjunto. Se estiverem atuando separado, a solidariedade para estes herdeiros se desfaz e passa a ser regida pelas regras da divisibilidade ou indivisibilidade. Exemplo: Devedores devem 90 mil reais. Se C morre e deixa dois herdeiros e estes estiverem em espólio ou ainda que individualizados atuando em conjunto, eles se manterão na solidariedade como se fossem o C. Caso atuem separados, a obrigação se torna divisível, mas mantendo a solidariedade entre A e B e os demais credores. Caso haja conversão em perdas e danos, cada credor por possuir todo o direito do polo pode exigir de qualquer um dos devedores a totalidade da obrigação + perdas e danos, inclusive do inocente. Exemplo: Devedor E ocasiona descumprimento obrigacional e gerou perdas e danos de 25 mil. Qualquer um dos devedores pode exigir 115 mil (90 mil + 25 mil) de qualquer devedor, já que eles detém todo o direito do polo. Em caso de insolvência, o devedor que cumprir a integralidade da obrigação suportará o prejuízo da cota parte do insolvente. Exemplo: E fica insolvente. Os credores poderão exigir 90 mil de qualquer um dos devedores. D cumpriu a obrigação, satisfez o ajuste externo entregando 90 mil. No ajuste interno ele cobra 30 mil de cada um dos devedores e suporta o prejuízo de E sozinho. 19 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo Remissão (ato de perdão pelo credor) Morte Conversão em perdas e danos Insolvência Passiva Como não há solidariedade ativa, cada credor somente pode perdoar a sua cota parte específica do vinculo, pois não detém todo o direito do polo. Não haverá retirada da solidariedade, no entanto, haverá abatimento da cota parte do valor integral daquele devedor específico. Em caso de morte do devedor solidário, a solidariedade se mantém caso esteja na fase do espólio ou que, encerrado o espólio (formal de partilha), os herdeiros estejam atuando em conjunto. Se estiverem atuando separado, a solidariedade para estes herdeiros se desfaz e passa a ser regida pelas regras da divisibilidade ou indivisibilidade. Exemplo: Devedores devem 90 mil reais. Se C morre e deixa dois herdeiros e estes estiverem em espólio ou ainda que individualizados atuando em conjunto, eles se manterão na solidariedade como se fossem o C. Caso atuem separados, a obrigação se torna divisível, mas mantendo a solidariedade entre A e B e os demais credores. Caso haja conversão em perdas e danos, ante as regras de proteção dos devedores, os credores podem exigir de qualquer um dos devedores a totalidade da obrigação, no entanto as perdas e danos somente do devedor culpado. Exemplo: Devedor E ocasiona descumprimento obrigacional e gerou prejuízo de 25 mil. Os credores podem exigir 90 mil de qualquer um dos devedores, mas os 25 mil reais de perdas e danos só podem ser cobrados do E. Em caso de insolvência, ante as regras de proteção dos devedores, após o ajuste externo, há rateio de cota parte do insolvente entre os devedores. Exemplo: E fica insolvente. Os credores poderão exigir 90 mil de qualquer um dos devedores. D cumpriu a obrigação, satisfez o ajuste externo entregando 90 mil. No ajuste interno ele cobra 30 mil de cada um dos devedores e divide o prejuízo de E com F, exigindo dele mais 15 mil (metade de 30 mil). Há o aumento da cota parte. 20 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo Outros efeitos da solidariedade ativa: Pagamento parcial do débito: Em regra a obrigação deve ser cumprida de forma integral, mas é possível que seja feito de forma parcial. Exemplo: Devedores devem 90 mil reais. Devedor D realiza o pagamento de 20 mil reais para o credor C. A solidariedade se mantém mesmo com o pagamento parcial? Sim, se mantém em relação aos três, mas somente em relação ao montante de 70 mil. Julgamento favorável ou contrário a um dos credores solidários (art. 274). Não atinge os demais devido à otimização do direito do polo, (um não pode ser prejudicado por ato do outro) e à independência dos vínculos. Exemplo: Devedores devem 90 mil reais. Devedor F ingressa com uma ação de reconhecimento de nulidade relativa por vício de consentimento contra o credor B. O juiz julga favorável no sentido de determinar que houve coação (F é retirado da solidariedade em relação a B). Esse julgamento desfavorável prejudica os demais credores (F deixa de ser devedor em relação aos demais credores)? Não, isso foi uma questão de vinculo direto. Como a solidariedade ativa se presta a otimizar os direitos do polo ativo, somente prejudica o credor que atuou com o vício. Segundo fundamentação independência dos vínculos. O julgamento favorável ou contrário a um dos credores solidários pode atingir os demais a menos que se funde em relação pessoal ao credor que o obteve. Exemplo: Credor A demanda o devedor E, que alega prescrição do direito de cobrança, pois já se passaram mais de 3 anos. O juiz reconhece que a obrigação não está prescrita pelo fato do credor ser incapaz, e não correr o prazo prescricional contra ele. Dentre os 3 credores apenas o A era incapaz e possuía o benefício. Esse benefício do julgamento pode ser aproveitado pelos demais? Não, pois só não aconteceu a prescrição por exceção pessoal. Caso fosse por questão comum poderia aproveitar. Outros efeitos da solidariedade passiva: Obrigação adicional pactuada: Exemplo: Devedores devem 90 mil. Devedor F realiza com o credor B uma obrigação adicional quanto à incidência de uma multa mais severa por descumprimento obrigacional. Os demais devedores estão vinculados a essa obrigação adicional? Não, pois as regras da obrigação da solidariedadepassiva são para proteção dos devedores. Ninguém deve ser punido por algo que não se vinculou. Seus direitos devem ser otimizados, exceto se concordaram. Além disso, multa é perdas e danos, portanto só responde aquele que fixou a obrigação adicional. Se fosse na obrigação da solidariedade ativa todos os devedores responderiam por ela. Exceções pessoais e comuns: Matérias de defesa que todos os devedores podem utilizar. As matérias de defesa comuns aproveitam a todos os devedores (se comunica) e são aquelas próprias da obrigação em si, e podem ser utilizadas por qualquer devedor para tentar desconfigurar a obrigação como um todo. Exemplo: Pagamento, prescrição, decadência. 21 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo As matérias de defesa personalíssimas somente um devedor tem como maneira de defesa, os demais não podem aproveitar, não se comunica. Renúncia da solidariedade: O que se está a renunciar é o regime jurídico da obrigação solidária, não a obrigação em si. Exemplo: O credor B realiza renúncia à solidariedade em relação aos devedores E e F (agora a obrigação é divisível por cota parte). D se mantém na solidariedade passiva em relação ao restante pela cota parte remanescente (abatimento de valor econômico para continuar com a solidariedade). Pagamento total por responsável: O devedor principal realiza o pagamento e no ajuste interno cobra a cota parte dos demais. Se um dos devedores é um responsável que não é o devedor principal, quando ele cumpre a obrigação ele se sub-roga no valor total, não em cota parte. No ajuste interno ele cobra tudo o que ele pagou. Exercícios 1. A, B e C são credores solidários de D, E e F devedores solidários (solidariedade mista) em relação a um valor pecuniário de 90.000 (noventa mil reais). Pergunta- se: a) A pode exigir a integralidade da dívida do devedor F? Sim, pois cada um dos credores, por imposição da lei, detém todo o direito do polo. O credor A detém todo o direito do polo e, portanto, pode exigir a integralidade da obrigação do devedor F. b) Qual a solução jurídica para eventual insolvência de D em relação aos credores? Aos credores não seriam afetados quanto ao cumprimento da obrigação ante a insolvência do devedor D, pois poderiam exigir a integralidade da obrigação de qualquer um dos demais devedores (E e F). Entre os devedores, no ajuste interno, haverá rateio de cota parte entre os demais devedores solventes, razão pela qual a cota parte de cada um passa a ser 45 mil reais. Os credores podem exigir o cumprimento da obrigação de qualquer um dos devedores solventes, suportando aquele que cumprir, a insolvência do devedor D. Os credores, podem exigir o cumprimento da obrigação de qualquer um dos devedores solventes. Neste caso, devedor que cumprir a obrigação pode exigir a metade da cota da parte do insolvente para o outro devedor (rateio de cota parte). c) B pode perdoar metade da dívida (45.000) em favor de D? Como se trata de perdão direto e pessoal, somente pode atingir o valor da cota parte, razão pela qual o montante do perdão somente pode ser feito no valor de 30 mil reais. - O que aconteceria se após o perdão, D fica insolvente? O que os credores poderiam exigir dos devedores, e como ficaria o ajuste interno? Como o devedor D após o perdão se torna insolvente, ele é retirado da solidariedade e a obrigação se mantem para os demais com o abatimento do valor desse perdão, razão pela qual continuam obrigadas em solidariedade pelo valor de 60 mil reais. No ajuste interno, o devedor que cumpre a obrigação da integralidade 22 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo poderá exigir 30 mil reais do outro devedor (remanescente) referente à sua cota parte. No ajuste interno entre os credores, o credor B que realizou o perdão não obteria nenhum valor a título de cota parte. - O que aconteceria se após o perdão, D fica insolvente e A tivesse perdoado sua cota parte por condição pessoal a E e F tivesse falecido deixando dois herdeiros? O que cada credor poderia exigir de cada devedor e como ficaria o ajuste interno? Como o devedor D foi retirado da solidariedade e o credor A fez perdão pessoal para E, este também sai da solidariedade. Como F faleceu deixando dois herdeiros, tem-se: Se os herdeiros estão atuando como espólio, continuam devedores solidários no importe de 30 mil, e se os herdeiros estão atuando em separado, são devedores de obrigação divisível (5 mil por vínculo direto). 2. Luís e Jonathan são devedores solidários de Chico e José credores solidários na entrega de uma quantia em dinheiro no valor de R$ 800.000,00 (oitocentos mil reais). Pergunta-se: a) O que José pode exigir de Luís? Fundamente. Como há solidariedade ativa e cada credor é detentor de todo o direito do polo, José pode exigir integralidade de obrigação de Luís, ou seja, o valor de 800 mil reais. b) Considerando que Jonathan tenha dado causa ao descumprimento da obrigação e causado prejuízo a somente Chico no valor de R$ 100.000,00 reais, o que José pode exigir de Luís? Ante a prevalência das regras da solidariedade ativa, cada credor detém todo o direito do polo, que consiste em o valor da obrigação + perdas e danos, totalizando o valor de 900 mil reais. Sendo assim, José pode exigir de Luís o valor de 900 mil reais. Ante a prevalência da solidariedade passiva, somente responde pelas perdas e danos o devedor culpado, razão pela qual José somente poderá cobrar de Luís a própria obrigação de 800 mil reais. c) Considerando que Jonathan tenha dado causa ao descumprimento da obrigação e causado prejuízo a somente Chico no valor de R$ 100.000,00 reais, e que venha a falecer, deixando 2 herdeiros, o que Chico pode exigir de cada um deles? Caso os herdeiros estejam atuando em conjunto, mantem-se solidariedade e, ante a prevalência das regras da solidariedade ativa, cada credor detém todo o direito do polo que no caso consiste em obrigação + perdas e danos, totalizando o valor de 900 mil reais. Sendo assim, Chico pode exigir de cada herdeiro este valor. Caso os herdeiros estejam atuando em separado, a obrigação passa a ser regida pelas regras da divisibilidade, razão pela qual cada herdeiro tem vinculo direto com valor de 150 mil reais para com Chico. d) Considerando que Luís e Jonathan tenham dado causa ao descumprimento da obrigação e causado prejuízo a Chico e José no valor de R$ 100.000,00 reais e que Luís venha a falecer, deixando 2 herdeiros, e que José também venha a falecer deixando igualmente 2 herdeiros, o que cada herdeiro de José poderá exigir de cada herdeiro de Luís (discriminar em valores)? Qual será o ajuste interno da relação entre os devedores se Jonathan pagar tudo a Chico (discriminar em valores)? Se os herdeiros estiverem atuando em conjunto, a solidariedade se mantém, razão pela qual pode ser cobrado o valor integral da obrigação + perdas e danos, ou seja, o valor de 900 mil reais. Se os herdeiros estiverem em separado, a obrigação passa a ser regida pelas regras da divisibilidade, razão pela qual cada herdeiro de José pode exigir de cada herdeiro de Luís o valor de 56,25 mil reais. 23 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo 3. Explique a característica da independência dos vínculos na obrigação solidária e dê exemplos de como ela afeta a relação entre credores ou devedores. A independência dos vínculos na obrigação solidária se dá pelo ajuste interno, em que cada credor solidário recebe sua quota parte e cada devedor solidário paga sua quota parte, mesmo que haja a ficção jurídica da unidade dos vínculos pela solidariedade, pois o ajuste interno é regido pelas regras da divisibilidade, de forma que cada um é responsável pelo seu vínculo com os demais. Assim, por exemplo, no caso de prejuízo aos credores por parte de um dos devedores em uma obrigação solidária mista mesmo que qualquer dos credores possam exigir a integralidade da obrigação, eles somente poderão exigir o prejuízo daqueledevedor responsável por ele (por conta da proteção da menor onerosidade do devedor); ademais, caso um dos devedores assuma obrigação adicional posterior, somente dele poderá ser exigida pelos credores, pois se os outros devedores não concordarem, não terão obrigação nenhuma de se responsabilizar por tal ônus (já que é um fator adicional posterior ao firmamento da obrigação inicial). 4. Explique como se dá o ajuste externo da obrigação solidária e o ajuste interno nos polos considerando a situação da conversão da obrigação em perdas e danos. Em caso de solidariedade ativa, qualquer dos credores poderá cobrar o valor integral somado as perdas e danos de qualquer dos devedores, pois a lei confere direito total do polo a qualquer um dos credores. Na solidariedade passiva, por conta da proteção dos devedores pela solidariedade, somente o devedor culpado se responsabilizaria por essas perdas e danos, de forma que os demais devedores se responsabilizam somente pelo valor da obrigação. Por fim, na análise da solidariedade mista, tem-se duas correntes acerca da conversão em perdas e danos: uma, que preconiza a solidariedade passiva dentro da obrigação, fundamentada na proteção do crédito pelo ordenamento jurídico, confere o direito de qualquer credor cobrar de qualquer devedor o valor total da obrigação somado às perdas e danos; e a segunda, na qual prevalece a solidariedade passiva – seguindo o princípio da menor onerosidade do devedor –, os credores prejudicados poderiam cobrar o valor das perdas e danos somente do devedor culpado, pois os outros devedores não teriam responsabilidade sobre esse prejuízo – somente ao valor da obrigação. No ajuste interno se for o devedor culpado que pagou, ele só se sub-roga na cota parte; se for o devedor não culpado que pagou, ele se sub-roga na cota parte quanto no valor das perdas e danos. Já no ajuste interno dos credores, se o credor que não suportou o prejuízo que recebeu ele passa a cota parte + prejuízo do outro.
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