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Caso clínico

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1. Identificação: F.G.H., feminino, natural e proveniente de Guarapuava, hoje com 40 anos de idade, 
casada. 
2. Antecedentes familiares:, pai, de origem síria, a avó paterna, então com 52 e uma tia com 38 anos, 
faleceram em uma instituição psiquiátrica, dois primos, também do lado paterno, tem problemas 
mentais. A irmã do pai diz que é “uma maldição lá da Síria que passa de família em família” 
3. Histórico: 
Aos 5 anos de idade: por ser uma menina que tinha crises nervosas: gritava e batia nas pessoas, foi 
levada pela mãe a uma consulta com um neurologista. O clínico receitou Gardenal®, mas o tratamento 
não foi iniciado porque a mãe dizia que F.G.H. não era “louca”. 
Aos 10 anos de idade: F.G.H. começou a ver fantasmas, eram pessoas mortas, ou bonecas que falavam, 
gente que gritava, vários ruídos estranhos eram ouvidos apenas pela menina. Isso não acontecia o 
tempo todo, havia fases quando o problema era maior. Nessa época, F.G.H começou a escrever um 
diário, hábito que perdurou até os 18 anos. Um trecho escrito em 1989: “...quero muito espíritos bons, 
que eles me deixem em paz”, mais adiante dizia: “... mês que vem eles aparecem de novo”. Naquela 
época, F.G.H. começou a imaginar que aqueles fenômenos seriam coisas do demônio, pois havia 
momentos em que a jovem quebrava até as janelas, era muito brava e mal humorada. 
Um dia, a sua mãe a levou a uma igreja evangélica, apesar de a família ser católica. O pastor disse que o 
problema da menina era devido ao demônio e que ele faria um exorcismo e ela ficaria boa. Mas não 
adiantou. 
Início da puberdade: tinha meses que F.G.H. chorava muito, ouvia coisas, sentia uma tristeza muito 
grande, em outros momentos falava alto, “queria aparecer”, mas pensava que estes sintomas eram 
devidos a sua personalidade, a mãe cogitava a hipótese de ser TPM. 
Aos 15 anos de idade: a menina decidiu ser freira e entrou para um convento em uma outra cidade, 
onde permaneceu até os 17 anos. Neste período, talvez pela distância da família, experiência nova ou 
vivendo num ambiente calmo, F.G.H. sentiu-se muito bem. Saiu do convento porque percebeu que não 
era exatamente aquilo que ela queria. 
Ao sair do convento conheceu um rapaz e começou a namorar. O jovem era bastante calmo e 
agüentava o mal-humor de F.G.H.. Nesta época começou um curso de auxiliar de enfermagem. 
Aos 20 anos de idade: tinha altos e baixos, não estava indo bem nos estudos por falta de concentração, 
faltava-lhe “paciência” para ficar sentada ouvindo o professor falar, além de ver um contorno luminoso 
em volta do professor, tipo uma aura., sofria de insônia e quando conseguia dormir tinha pesadelos 
horríveis, acordava transpirando muito e com muito medo. As amigas não a compreendiam e falavam 
para ela: “um dia você está alegre, conversa conosco, brinca, faz piada e ri; no outro, ta brava, só dá 
patada e é muito irritada”. Brigava muito com os irmãos. Se auto flagelava: passava gilete no rosto 
todo, cortava os braços, não muito fundo, mas até sangrar, batia o braço na parede, contava para os 
amigos e parentes que um gato que possuía era o responsável pelas escoriações. Também teve alguns 
desmaios que aconteciam em situações de estresse: no dentista, dentro de trem ou ônibus lotado. 
Consultou um médico que encaminhou F.G.H. para terapia com uma psicóloga e lhe receitou 
Tegretol®. 
Na época em que fazia terapia com uma psicóloga, ela acreditava que esta era a sua salvação, mas ela, 
nas palavras de F.G.H. “apenas mostrava os caminhos por onde eu poderia seguir, mas percebi que 
ela me induzia a tomar certas decisões”. 
F.G.H. sofria altos e baixos, achava que parte do problema seria devido a TPM., parecia fraca, 
facilmente pegava gripe, sofria de cefaléia, nesta época realizou, segundo ela, mais de 200 exames., o 
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ 
ESCOLA DE CIÊNCIAS DA VIDA 
CURSO DE PSICOLOGIA 
PSICOFARMACOLOGIA 
CASO CLÍNICO 
médico solicitou exames para toxoplasmose, de função reumática, diabetes, raios-X, mas todos os 
exames deram negativos, o clínico achava que era hipocondríaca. Foi lhe receitado Diempax® e 
Amplictil®. 
Aos 22 anos de idade: F.G.H. resolveu ir para Curitiba, sofreu bastante no início porque chegou sem 
dinheiro e veio sozinha. Mas em 10 dias já estava trabalhando como auxiliar de enfermagem em um 
hospital da cidade. O proprietário do hospital, médico, disse para F.G.H. que a depressão era devido a 
fadiga crônica. Na época, este médico disse para F.G.H. se tratar com digoxina. Durante dois meses 
tomou 1 comprimido ao dia, sentiu-se melhor, mas não acreditava que a droga funcionasse para o seu 
problema e parou de tomar, fato que omitiu de seu patrão. O hospital onde trabalhava fechou e 
procurou emprego em outras instituições até ser admitida em um grande pronto-socorro de Curitiba. 
Neste novo emprego fez um plano de saúde e procurou atendimento médico, passando por alguns 
psiquiatras. 
O primeiro receitou Rivotril® e Rohypnol®. F.G.H. relatou que nesta oportunidade ficava alucinada, 
parecia que acordava, mas continuava sonhando, era horrível. Nesta época vivia num quarto e ficou 
muito feliz quando conseguiu comprar sua primeira geladeira e uma cama. Viveu sozinha um ano, 
então encontrou uma amiga para dividir um apartamento. 
Procurou então um segundo médico que conversou muito com F.G.H. que a encaminhou para um 
segundo psiquiatra. Este receitou Remeron® e nada de melhora. Desistiu por enquanto de buscar 
auxílio médico. 
F.G.H. queria muito estudar, fazer uma faculdade, e passou no vestibular para o curso de Farmácia 
numa universidade particular onde conseguiu uma bolsa de estudos. 
Na faculdade ia de mal a pior. Sentia angústia, tristeza, ansiedade, desânimo, dificuldade de sentir 
prazer na vida, incluindo sexo. Havia momentos em que era “rápida” e momentos que era “lenta”, a 
memória falhava e o raciocínio inexistente. Era pessimista, tinha idéias negativas, insegurança, medo 
infundado, solidão profunda, auto- estima em baixa, sentia-se gorda e feia, horrível. Nada parecia fazer 
sentido. Ouvia vozes que gritavam: “morre, morre” e ela tomou 10 comprimidos de Valium®, sabia que 
não morreria, mas que iria dormir um bom tempo: 2 dias e uma noite, acordou numa segunda-feira, 
cedo, perdeu a hora para ir trabalhar. 
Estava entregue, não tomou banho, sentia-se mal, sentia dores, um desespero. Uma amiga foi em sua 
casa a noite para ver o que aconteceu e no outro dia levou-a ao médico. Ficou afastada do trabalho por 
14 dias. 
F.G.H. consultou mais um psiquiatra, que começou o tratamento com Prozac® e mais dois 
medicamentos de que não consegue recordar. Em torno da 6a consulta, F.G.H. conseguiu finalmente 
contar toda a sua história, e o clínico receitou Carbolitium (300 mg 4 vezes ao dia) com a observação de 
fazer monitoramento terapêutico a cada 15 dias nos primeiros meses, foi feita a introdução do 
Amplictil®, um comprimido de 25 mg a noite, além da manutenção do Prozac®. O regime posológico 
ficou sendo: 2 comprimidos de Carbolitium® de manhã e a noite e um de Prozac® de manhã e um 
comprimido de Amplictil® a noite. O médico lhe disse que a sua doença era como o diabetes, não tem 
cura, tem de tomar remédio por toda a vida, coisa que F.G.H. não consegue aceitar. 
Parou, por conta, com a fluoxetina após 4 meses de terapia, mas manteve o Carbolitium e o Amplictil 
por mais 3 anos quando parou, novamente por conta própria, de usar a medicação. 
Aos 25 anos de idade começou tudo de novo, foram 2 dias terríveis: no trabalho mudou a medicação 
dos pacientes, brigou com todos (residia com o noivo e um colega da faculdade com quem dividia as 
despesas do apartamento)... e depois disso não se tem mais notícias de F.G.H

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