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1 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A 2 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A 3 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A 3 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V ANúcleo de Educação a Distância R. Maria Matos, nº 345 - Loja 05 Centro, Cel. Fabriciano - MG, 35170-111 www.graduacao.faculdadeunica.com.br | 0800 724 2300 GRUPO PROMINAS DE EDUCAÇÃO. Material Didático: Ayeska Machado Processo Criativo: Pedro Henrique Coelho Fernandes Diagramação: Ayrton Nícolas Bardales Neves PRESIDENTE: Valdir Valério, Diretor Executivo: Dr. Willian Ferreira, Gerente Geral: Riane Lopes, Gerente de Expansão: Ribana Reis, Gerente Comercial e Marketing: João Victor Nogueira O Grupo Educacional Prominas é uma referência no cenário educacional e com ações voltadas para a formação de profi ssionais capazes de se destacar no mercado de trabalho. O Grupo Prominas investe em tecnologia, inovação e conhecimento. Tudo isso é responsável por fomentar a expansão e consolidar a responsabilidade de promover a aprendizagem. 4 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A 4 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A Prezado(a) Pós-Graduando(a), Seja muito bem-vindo(a) ao nosso Grupo Educacional! Inicialmente, gostaríamos de agradecê-lo(a) pela confi ança em nós depositada. Temos a convicção absoluta que você não irá se decepcionar pela sua escolha, pois nos comprometemos a superar as suas expectativas. A educação deve ser sempre o pilar para consolidação de uma nação soberana, democrática, crítica, refl exiva, acolhedora e integra- dora. Além disso, a educação é a maneira mais nobre de promover a ascensão social e econômica da população de um país. Durante o seu curso de graduação você teve a oportunida- de de conhecer e estudar uma grande diversidade de conteúdos. Foi um momento de consolidação e amadurecimento de suas escolhas pessoais e profi ssionais. Agora, na Pós-Graduação, as expectativas e objetivos são outros. É o momento de você complementar a sua formação acadêmi- ca, se atualizar, incorporar novas competências e técnicas, desenvolver um novo perfi l profi ssional, objetivando o aprimoramento para sua atua- ção no concorrido mercado do trabalho. E, certamente, será um passo importante para quem deseja ingressar como docente no ensino supe- rior e se qualifi car ainda mais para o magistério nos demais níveis de ensino. E o propósito do nosso Grupo Educacional é ajudá-lo(a) nessa jornada! Conte conosco, pois nós acreditamos em seu potencial. Vamos juntos nessa maravilhosa viagem que é a construção de novos conhecimentos. Um abraço, Grupo Prominas - Educação e Tecnologia Olá, acadêmico(a) do ensino a distância do Grupo Prominas! . É um prazer tê-lo em nossa instituição! Saiba que sua escolha é sinal de prestígio e consideração. Quero lhe parabenizar pela dispo- sição ao aprendizado e autodesenvolvimento. No ensino a distância é você quem administra o tempo de estudo. Por isso, ele exige perseve- rança, disciplina e organização. Este material, bem como as outras ferramentas do curso (como as aulas em vídeo, atividades, fóruns, etc.), foi projetado visando a sua preparação nessa jornada rumo ao sucesso profi ssional. Todo conteúdo foi elaborado para auxiliá-lo nessa tarefa, proporcionado um estudo de qualidade e com foco nas exigências do mercado de trabalho. Estude bastante e um grande abraço! Professora: Priscila Barbosa O texto abaixo das tags são informações de apoio para você ao longo dos seus estudos. Cada conteúdo é preprarado focando em téc- nicas de aprendizagem que contribuem no seu processo de busca pela conhecimento. Cada uma dessas tags, é focada especifi cadamente em partes importantes dos materiais aqui apresentados. Lembre-se que, cada in- formação obtida atráves do seu curso, será o ponto de partida rumo ao seu sucesso profi sisional. A nutrição desempenha um papel importante na manutenção da saúde geral de um indivíduo. Os sistemas biológicos requerem vá- rios nutrientes para diferentes funções, e o desequilíbrio nutricional pode levar a doenças. A fi siologia da nutrição lida com o estudo de nutrientes e seu papel no crescimento, saúde e doença de uma pessoa. O estudo inclui consumo de alimentos, absorção e metabolismo. O corpo humano é feito de compostos químicos, como carboidratos, proteínas, lipídios e ácidos nucléicos. Todos os compostos químicos ocorrem em dife- rentes formas, tais como hormônios, vitaminas, minerais, fosfolipídios, etc. Esses componentes químicos estão sendo constantemente usados e devem ser regularmente fornecidos na forma de nutrientes, para o crescimento contínuo e a sobrevivência de um ser humano. Todos os nutrientes se enquadram em duas grandes classes: macronutrientes e micronutrientes. Os macronutrientes são necessários em grandes quan- tidades e os micronutrientes são necessários em quantidades mínimas. Minerais e vitaminas são classifi cados como micronutrientes, enquanto o resto do que comemos é classifi cado em macronutrientes. Todos os nutrientes são importantes para o funcionamento ótimo do corpo e de- sempenham papel fundamental durante a prática de atividade física. O exercício provoca mudanças em diferentes sistemas, que realizam suas funções, de forma orquestrada, graças a uma nutrição adequada e diversifi cada. Fisiologia do Exercício; Fisiologia da Nutrição; Macronutrientes; Micronutrientes; Nutrição Esportiva. 9 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A 9 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A CAPÍTULO 01 FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO Apresentação do módulo ______________________________________ 11 13 CAPÍTULO 02 OS MACRONUTRIENTES' Estômago _____________________________________________________ Camadas do Trato Gastrointestinal _____________________________ 16 CAPÍTULO 03 OS MICRONUTRIENTES 14Regulação do Trato Gastrointestinal ______________________________ Recapitulando _________________________________________________ 47 15Boca __________________________________________________________ 15Esôfago _______________________________________________________ 31Carboidratos ___________________________________________________ 37Lipídeos _______________________________________________________ 41Proteínas ______________________________________________________ Vitaminas _____________________________________________________ 51 Sais Minerais __________________________________________________ 58 Recapitulando _________________________________________________ 65 Órgãos Acessórios _____________________________________________ 21 18Intestino Delgado ______________________________________________ 20Intestino Grosso _______________________________________________ Recapitulando _________________________________________________ 27 10 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A 10 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A CAPÍTULO 04 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO 84Recapitulando _________________________________________________ 89Fechando Unidade ____________________________________________ 93Referências ____________________________________________________ 11 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A A nutrição exerce um papel chave no desempenho físico. Favorece o catabolismo e anabolismo, sendo responsável pela restituição ou extração da energiaarmazenada nas células, para o trabalho fi siológico, através de reações químicas. A nutrição também é a fonte de elementos essenciais e de blocos construtores, para preservar a massa corporal magra, sintetizar novos teci- dos, otimizar a estrutura esquelética, reparar as células existentes, maximi- zar o transporte e a utilização de oxigênio, manter um equilíbrio hidroeletrolí- tico ótimo é necessário para regular todos os processos metabólicos. A boa nutrição engloba muito mais que simples prevenção ou cura de defi ciências nutricionais. O reconhecimento das necessidades individuais e das tolerân- cias de nutrientes específi cos também está incluído, assim como o papel da herança genética sobre esses fatores. As defi ciências limítrofes de nutrientes (isto é, menos que a quantidade necessária para causar manifestações clíni- cas de doença) podem exercer um impacto signifi cativo sobre a estrutura e a função orgânicas. Outrossim, os nutrientes provenientes dos alimentos pro- porcionam energia e regulam os processos fi siológicos associados ao exer- cício. Assim sendo, não é de surpreender que, desde a época das antigas Olimpíadas até a atualidade, quase todas as práticas dietéticas concebíveis tenham sido utilizadas para aprimorar o desempenho nos exercícios. Atualmente, grande atenção tem se dado aos exercícios físicos. O mundo como um todo está envelhecendo, como resultado, há uma pande- mia de doenças associadas aos processos naturais do envelhecimento, es- pecialmente no que se refere às funções cardiovascular e metabólica. Altos níveis de atividade física habitual e exercícios físicos são notavelmente pro- tetores. Nos últimos 10 anos, uma ideia importante que surgiu é que contrair músculos esqueléticos liberam substâncias (miocinas) que têm uma série de efeitos positivos nas funções metabólica e cardiovascular. Grande parte das descobertas atuais evidenciam o papel do exercício físico, operando a partir do nível de expressão gênica e de vias de sinalização. O Brasil apresenta grande número de profi ssionais atuantes na área esportista, muitas pesquisas vêm sendo realizadas, mas ainda há mui- tos questionamentos que precisam ser elucidados. Apesar do grande inte- resse por parte dos profi ssionais de saúde, a nutrição esportiva ainda apre- senta algumas limitações e cada vez mais tem se tornado o foco de diversos profi ssionais. Nesta unidade abordaremos inicialmente aspectos da fi siologia da nutrição, de que forma o corpo digere e absorve os nutrientes; aspectos re- lacionados à composição química dos macronutrientes e micronutrientes; e, por fi m, discutiremos sobre fi siologia do exercício e as mudanças provoca- das pela prática da atividade física sobre o corpo. 12 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO A fi siologia da nutrição aborda o equilíbrio alimentar e o valor energético dos alimentos, bem como a importância nutricional de cada nutriente. O foco do estudo dessa área envolve o sistema digestivo, a digestão e a absorção de nutrientes e o controle endócrino e neural. No interior do lúmen do trato gastrintestinal, grandes molécu- las alimentares são hidrolisadas em seus monômeros (subunidades). Esses monômeros passam através da camada interna (ou mucosa) do intestino delgado, para entrar no sangue ou na linfa, num processo de- nominado absorção. A digestão e a absorção são auxiliadas por espe- cializações da mucosa e por movimentos característicos causados por contrações das camadas musculares do trato gastrintestinal. O sistema digestivo é uma série de órgãos ocos unidos em um longo tubo de torção da boca até o ânus. Dentro deste tubo é um reves- timento de membrana fi na e macia do tecido epitelial chamado muco- sa. Na boca, estômago e intestino delgado, a mucosa contém peque- nas glândulas que produzem sucos para ajudar a digerir os alimentos. Há também dois órgãos digestivos sólidos, o fígado e o pâncreas, que produzem sucos que chegam ao intestino através de pequenos tubos. Além disso, partes de outros sistemas de órgãos (nervos e sangue) de- F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A 13 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A sempenham um papel importante no sistema digestivo. A digestão envolve a mistura de alimentos, o seu movimento através do trato digestivo e a quebra química das grandes moléculas de alimentos em moléculas menores. A digestão começa na boca, quando mastigamos e engolimos, e é completada no intestino delgado. O pro- cesso químico varia um pouco para diferentes tipos de alimentos, e va- mos abordar sobre cada um desses componentes no próximo capítulo. Os grandes órgãos ocos do sistema digestivo contêm músculos que permitem que suas paredes se movam. O movimento das paredes dos órgãos pode impulsionar alimentos e líquidos e também pode mis- turar o conteúdo dentro de cada órgão. Movimento típico do esôfago, estômago e intestino é chamado peristaltismo. A ação do peristaltismo parece uma onda do oceano se movendo através do músculo. O mús- culo do órgão produz um estreitamento e, então, impulsiona a porção estreita até o comprimento do órgão. Essas ondas de estreitamento em- purram a comida e o fl uido na frente deles através de cada órgão oco. CAMADAS DO TRATO GASTROINTESTINAL O trato gastrointestinal (GI), do esôfago ao canal anal, é com- posto por quatro camadas (ou túnicas). Cada túnica contém um tipo de tecido dominante que desempenha funções específi cas no processo digestivo. As quatro túnicas do trato GI, da interna para a externa, são a mucosa, a submucosa, a muscular e a serosa (MARIEB, HOEHN, 2007). Mucosa A mucosa, que reveste o lúmen do trato GI, é a principal ca- mada secretora e de absorção. Ela consiste em um epitélio simples colunar suportado pela lâmina própria, uma camada fi na de tecido con- juntivo areolar contendo numerosos linfonodos, que são importantes na proteção contra doença. Externa à lâmina própria existe uma camada fi na de músculo liso, denominada muscular da mucosa. Ela é a camada muscular responsável pelas numerosas pequenas pregas em determi- nadas porções do trato GI. Essas pregas aumentam enormemente a área superfi cial. Células caliciformes especializadas da mucosa secre- tam muco ao longo da maior parte do trato GI. Submucosa A relativamente espessa submucosa é uma camada de tecido conjuntivo altamente vascularizado que está a serviço da mucosa. Mo- léculas absorvidas que passam através das células epiteliais colunares da mucosa entram nos vasos sanguíneos e linfáticos da submucosa. Além dos vasos sanguíneos, a submucosa contém glândulas e plexos 14 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A nervosos. O plexo submucoso (plexo de Meissner) provê um suprimen- to nervoso autônomo à muscular da mucosa. Muscular A muscular (também denominada muscular externa) é respon- sável pelas contrações segmentares e pelo movimento peristáltico ao longo do trato GI. A muscular possui uma camada circular interna e uma camada longitudinal externa de músculo liso. Contrações dessas camadas movem o alimento ao longo do trato, e pulverizam e misturam o alimento com enzimas digestivas. O plexo mioenté rico (plexo de Auer- bach), localizado entre as duas camadas musculares, provê o principal suprimento nervoso ao trato GI. Ele inclui fi bras e gânglios, tanto da divi- são simpática, como da parassimpática do sistema nervoso autônomo. Serosa A serosa, camada mais externa, completa a parede do trato GI. Ela é uma camada de união e de proteção constituída por tecido conjun- tivo areolar recoberto por uma camada de epitélio simples pavimentoso. REGULAÇÃO DOTRATO GASTROINTESTINAL O trato gastrointestinal é inervado pelas divisões simpática e parassimpática do sistema nervoso autônomo. Os nervos parassimpáti- cos geralmente estimulam a motilidade e as secreções do trato gastrin- testinal. O nervo vago é a fonte da atividade parassimpática do esôfago, do estômago, do pâncreas, da vesícula biliar, do intestino delgado e da porção superior do intestino grosso. A porção inferior do intestino grosso recebe inervação parassimpática de nervos espinais da região sacral. Os plexos submucosos e miontérico são os locais onde fi bras parassim- páticas pré -ganglionares formam sinapses com neurônios pós-ganglio- nares que inervam o músculo liso do trato GI (MARIEB, HOEHN, 2007). Fibras simpáticas pó s-ganglionares passam através dos plexos submucoso e mioenté rico e inervam o trato GI. Os efeitos dos nervos simpáticos reduzem o peristaltismo e a atividade secretora e estimulam a contração dos músculos esfi ncterianos ao longo do trato GI. Por essa razão, eles são antagônicos aos efeitos da estimulação nervosa paras- simpática (MARIEB, HOEHN, 2007). A regulação autônoma, que é “extrínseca” ao trato gastrointes- tinal, é superposta aos modos “intrínsecos” de regulação. O trato gas- trintestinal contém neurônios sensitivos intrínsecos, que possuem seus próprios corpos celulares no interior da parede intestinal e não fazem parte do sistema autônomo. Eles auxiliam na regulação local do trato digestório, através de uma rede neural complexa, localizada na parede intestinal, denominada sistema nervoso entérico, ou cé falo-enté rico. A 15 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A regulação pelo sistema nervoso entérico complementa a regulação pa- rácrina por moléculas que atuam localmente nos tecidos do trato GI, as- sim como a regulação hormonal por hormônios secretados pela mucosa (MARIEB, HOEHN, 2007). Em resumo, o sistema digestório é regulado extrinsecamente pelo sistema nervoso autônomo e pelo sistema endócrino e, intrinseca- mente, pelo sistema nervoso entérico e vários reguladores parácrinos. Os detalhes dessa regulação serão descritos nas seções subsequentes. BOCA A boca é o começo do sistema digestivo e, de fato, a digestão começa na cavidade bucal antes mesmo de ocorrer a primeira mordida de uma refeição. O cheiro da comida ativa as glândulas salivares (su- blingual, submaxilar e parótida), que são órgãos produtores de saliva, causando água na boca (MARIEB, HOEHN, 2007). Uma vez que o processo de mastigação é iniciado, a quebra da comida se inicia e outros mecanismos entram em jogo. Mas saliva é produzida. A saliva contém uma enzima do tipo amilase, chamada ptiali- na, que age sobre o amido e o transforma em maltose, uma variedade de açúcar formada pela união de duas moléculas de glicose. A ptialina age no pH neutro da boca, mas é inibida ao chegar no estômago, por causa da acidez do suco gástrico (PEDERSEN et al., 2018). A saliva tem como função lubrifi car e diluir o alimento (facilitando a mastigação, a gustação e a deglutição), além de proteger contra bactérias e umedecer a boca. A saliva é composta por ar (por isso o aspecto espumoso), água (99,5%), ptialina, nitrogênio, enxofre, potássio, sódio, cloro, cálcio, magnésio, ácido úrico e ácido cítrico. Possui também proteínas enzimáticas, estruturais e imunológicas. A saliva contém uma substância chamada de imunoglobulina secretória A (IgA), que tem a função de proteger o organismo contra vírus que in- vadem o trato respiratório e digestivo. A saliva também possui um efeito microbiano, que controla o crescimento de bactérias, por isso, quando não há saliva, há maiores chances de aparecerem cáries dentárias (KA- GAMI, WANG, HAI, 2008) ESÔFAGO O esôfago é o órgão no qual o alimento ingerido é empurrado. Em sua parede superior, ele se comunica com a faringe; em sua parte inferior, comunica-se com o estômago. O esôfago é um tubo muscular que se estende desde a faringe e atrás da traqueia até o estômago. A 16 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A comida é empurrada através do esôfago e para o estômago por meio de uma série de contrações chamada peristaltismo (MARIEB, HOEHN, 2007). Na junção do esôfago e estômago há uma válvula em forma de anel, que fecha a passagem entre os dois órgãos, chamado esfínc- ter esofágico inferior (EEI). Este esfíncter se abre para permitir que o alimento passe para o estômago e se fecha para mantê-lo ali. Se o EEI não funcionar corretamente, o indivíduo pode sofrer de uma condição chamada de refl uxo, que causa azia e regurgitação (a sensação de que os alimentos voltam) (MARIEB, HOEHN, 2007). MOVIMENTOS PERISTÁLTICOS A deglutição é um movimento voluntário, isto é, executamos conscientemente o ato de engolir. A partir daí, os movimentos peristálti- cos conduzem o bolo alimentar pelo tubo digestório. Esses movimentos são involuntários, isto é, independem da nossa vontade. São contra- ções dos músculos situados no esôfago, no estômago e nos intestinos, onde são mais intensos. Além de empurrar o alimento ao longo do tubo digestório, promovem a sua mistura. Os movimentos peristálticos par- ticipam da digestão mecânica, fazendo com que o bolo alimentar seja empurrado do esôfago para o estômago. ESTÔMAGO O estômago é um órgão parecido com um saco, com paredes musculares fortes. O estômago apresenta diferentes funções mecâni- cas: além de armazenar alimentos, serve como misturador e moedor de alimentos. Primeiro, o estômago deve armazenar o alimento e o líquido engolidos. Isso requer que o músculo da parte superior do estômago relaxe e aceite grandes volumes de material ingerido. O volume do es- tômago é em média de aproximadamente 1,5 l; entretanto, pode conter um volume que varia de 50 ml quando está quase “vazio” a aproximada- mente 6,0 l quando plenamente distendido, após uma refeição excessi- vamente abundante (MARIEB, HOEHN, 2007). O segundo trabalho é misturar o alimento, líquido e suco diges- tivo produzido pelo estômago. As células parietais das glândulas gás- tricas secretam ácido clorídrico e os poderosos sucos digestivos que contêm enzimas e degradam continuamente os nutrientes. O muco, se- 17 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A cretado pelas células mucosas do colo, protege o revestimento mucoso do tecido gástrico. As células principais produzem pepsinogênio, a for- ma inativa da enzima pepsina, responsável pela digestão das proteínas. Os açúcares simples são os nutrientes mais fáceis de digerir, seguidos por proteínas e lipídeos (RAMSAY, CARR, 2011). A terceira tarefa do estômago é esvaziar seu conteúdo lenta- mente no intestino delgado. Após uma refeição, o estômago leva habi- tualmente de 1 a 4 horas para se esvaziar, dependendo da concentra- ção relativa de cada nutriente e do volume – uma maior quantidade de alimentos leva mais tempo para deixar o estômago, que uma refeição menor. Além disso, o alimento em uma forma mais liquefeita e os líqui- dos deixam o estômago mais rapidamente, enquanto os sólidos sofrem uma fase de liquefação. O sistema nervoso, através da regulação hor- monal, controla em grande parte o ritmo e o tempo de esvaziamento gástrico, através da ação das ondas peristálticas, que se dirigem do estômago à abertura do intestino delgado. Ocorre também um controle por feedback autorregulador entre o estômago e o intestino delgado, através do esfíncter pilórico. Esta válvula presente no fi m do estôma- go e na entrada intestinal controla a passagem do quimo; quando o estômago fi ca excessivamente distendido, em virtude de sobrecarga volêmica, são enviados sinais que promovem a abertura do esfíncter; inversamente, a distensão da primeira porção do intestino delgado ou a presença de quantidades excessivas de proteínas, lipídeos ou soluções altamente concentradasou ácidas retarda refl examente o esvaziamen- to gástrico (MARIEB, HOEHN, 2007; RAMSAY, CARR, 2011; HSU, LUI, 2018). A superfície interna do estômago possui longas dobras de- nominadas pregas, que podem ser vistas a olho nu. O exame micros- cópico da mucosa gástrica mostra que ela também é pregueada. As aberturas dessas pregas para o lúmen gástrico são denominadas os- setas gástricas. As células que revestem as pregas mais profundas da mucosa secretam vários produtos para o interior do estômago. Essas células formam as glândulas gástricas exócrinas. As glândulas gástricas contém vários tipos de células que se- cretam diferentes produtos: Células caliciformes, que secretam muco; Células parietais, que secretam ácido clorídrico (HCl); Células principais (ou zimogênicas), que secretam pepsinogê - nio, uma forma inativa da enzima digestiva de proteínas pepsina; Células similares às enterocromafi ns, encontradas no estôma- go e no intestino, que secretam histamina e 5- hidroxitriptamina (tam- bém denominada serotonina) como reguladores parácrinos do trato GI; 18 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A Células G, que secretam o hormônio gastrina para a corrente sanguínea; e Células D, que secretam o hormônio somatostatina. Além desses produtos, a mucosa gástrica (provavelmente as células parietais) secreta um polipeptídio necessário para a absorção intestinal de vitamina B12 denominado fator intrínseco. INTESTINO DELGADO Composto de três segmentos - o duodeno, jejuno e íleo. Tem uma média de aproximadamente 6m de comprimento, estendendo-se desde o esfíncter pilórico do estômago até a válvula ileocecal que sepa- ra o íleo do ceco. O intestino delgado é comprimido em numerosas do- bras e ocupa uma grande proporção da cavidade abdominal. O duode- no age com a função de mistura, pois, combina as secreções digestivas do pâncreas e do fígado com os conteúdos expelidos do estômago. O início do jejuno é marcado por uma curva acentuada, a fl exura duodeno jejunal. É no jejuno onde ocorre a maior parte da digestão e absorção. A porção fi nal, o íleo, é o segmento mais longo e deságua no ceco na junção ileocecal (MARIEB, HOEHN, 2007). O intestino delgado é o “cavalo de trabalho” da digestão, pois, é onde ocorre a maior parte da digestão dos nutrientes, bem como a sua absorção, ou seja, a assimilação das substâncias nutritivas. O alimento parcialmente digerido do estômago é posteriormente decomposto por enzimas do pâncreas e sais biliares do fígado e da vesícula biliar, atra- vés do peristaltismo, que realiza o processo de movimentação e mistura da comida as secreções. Depois de mais digestão, os constituintes dos alimentos, como proteínas, gorduras e carboidratos, são decompostos em pequenos blocos de construção e absorvidos pela corrente sanguí- nea do corpo (VOLK, LACY, 2017). A absorção ocorre através de milhões de estruturas proemi- nentes especializadas da mucosa intestinal. Essas protrusões são de- nominadas vilosidades (dobras de mucosa) e cada vilo é coberto por epitélio com microvilosidades projetadas (borda em escova). Essas vilosidades aumentam a superfície absortiva do intestino em até 600 vezes, em comparação com um tubo de superfície plana com as mes- mas dimensões. Além disso, a mucosa do intestino delgado contém vá- rias células especializadas; algumas células como os enterócitos são responsáveis pela absorção dos nutrientes, enquanto outras como as células enteroendócrinas e calciformes secretam enzimas digestivas e mucosas para proteger o revestimento intestinal das ações digestivas (MARIEB, HOEHN, 2007; VOLK, LACY, 2017). 19 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A Em geral, para o trato gastrointestinal eliminar o alimento in- gerido leva de 1 a 3 dias. O movimento do quimo através do intestino delgado leva de 3 a 10 horas. A contração e o relaxamento oscilantes e intermitentes do músculo liso circular da parede intestinal, aprimoram a mistura mecânica do quimo intestinal com a bile, o suco pancreático e o suco intestinal. Dessa forma, em vez de impulsionar o alimento direta- mente para a frente, como ocorre na peristalse, em verdade o alimento se desloca ligeiramente para trás antes de avançar. Os sucos digestivos dispõem de mais tempo para se misturarem com a massa alimentar an- tes desta alcançar o intestino grosso. Os movimentos propulsivos das contrações de segmentação continuam amassando e misturando o qui- mo antes de passar pela válvula ileocecal e penetrar no intestino grosso (VOLK, LACY, 2017). Vilosidades e Microvilosidades Cada vilosidade é uma prega de mucosa digitiforme, que se projeta em direção ao lúmen intestinal. As vilosidades são cobertas por células epiteliais colunares, entre as quais se encontram dispersas células caliciformes que secretam muco. A lâmina própria, que forma o núcleo de tecido conjuntivo de cada vilosidade, contém numerosos linfócitos, capilares sanguíneos e um vaso linfático denominado lácteo central. Os monossacarídeos e os aminoácidos absorvidos são secre- tados para a corrente sanguínea. A gordura absorvida entra nos lácteos centrais. As células epiteliais das pontas das vilosidades são continua- mente esfoliadas (despregadas) e são substituídas por células que são empurradas das bases das vilosidades. Em vários pontos, o epitélio da base das vilosidades invagina para baixo, para formar bolsas estreitas que, através de poros, se abrem para o lúmen intestinal. Essas estrutu- ras são denominadas criptas intestinais ou criptas de Lieberkü hn. As microvilosidades são formadas por pregueamentos da su- perfície apical de cada membrana celular epitelial. Essas projeções minúsculas podem ser claramente observadas apenas ao microscópio eletrônico. Num microscópio ótico, as microvilosidades produzem uma borda em escova um pouco vaga sobre as bordas das células epiteliais colunares. Os termos borda em escova e microvilosidade são por essa razão utilizados de forma intercambiável na descrição do intestino del- gado. Enzimas intestinais Além de prover uma grande área superfi cial de absorção, as membranas (verifi car) celulares das microvilosidades contêm enzimas digestivas, que hidrolisam dissacarídeos, polipeptídios e outros subs- tratos. Essas enzimas da borda em escova não são secretadas para o 20 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A interior do lúmen, mas em vez disso, permanecem ligadas à membrana celular com seus sítios ativos expostos ao quimo. Uma enzima da bor- da em escova, a enterocinase, é necessária para a ativação da enzima digestiva de proteínas tripsina, que entra no intestino delgado no suco pancreático. INTESTINO GROSSO Após a digestão no intestino delgado, o que resta do quimo chega ao intestino grosso. Este absorve a água e os sais minerais ainda presen- tes nos resíduos alimentares, levando-os então, à circulação sanguínea (MARIEB, HOEHN, 2007). O intestino grosso (cólon) é um tubo muscular de aproximada- mente 1,5 me uma largura de 7,5 cm de comprimento. É constituído pelo ceco, o cólon ascendente (direito), o cólon transverso (transversal), o cólon descendente (esquerdo) e o cólon sigmoide, que se conecta ao reto. O apêndice é um pequeno tubo ligado ao cólon ascendente. O intestino gros- so é um órgão altamente especializado, que é responsável pelo proces- samento de resíduos, de modo que a defecação (excreção de resíduos) é fácil e conveniente. As fezes, ou resíduos que sobraram do processo digestivo, passam através do cólon por meio do peristaltismo, primeiro em estado líquido e, por fi m, em forma sólida. Como as fezes passam através do cólon, qualquer água restante é absorvida. As fezes são armazenadas no cólon sigmoide (em forma de S) até que um “movimento de massa” o esvazie no reto, geralmente uma ou duas vezes ao dia (AZZOUZ,SHAR- MA, 2018). Normalmente, leva cerca de 36 horas para as fezes passarem pelo cólon. As fezes em si são principalmente restos de comida e bactérias. Essas bactérias desempenham várias funções úteis, como sintetizar várias vitaminas, processar produtos residuais e partículas de alimentos e prote- ger contra bactérias nocivas. Quando o cólon descendente fi ca cheio de fezes, esvazia seu conteúdo no reto para iniciar o processo de eliminação (AZZOUZ, SHARMA, 2018). A mucosa do intestino grosso não apresenta vilosidades no intes- tino delgado. A superfície da mucosa é plana com várias glândulas intesti- nais profundas. Numerosas células caliciformes revestem as glândulas que secretam muco para lubrifi car a matéria fecal à medida que esta se solidifi - ca. As funções do intestino grosso podem ser resumidas como: a) acumu- lação de material não absorvido para formar fezes; b) alguma digestão por bactérias - as bactérias são responsáveis pela formação do gás intestinal; c) reabsorção de água, sais, açúcar e vitaminas (MARIEB, HOEHN, 2007; SOMMER et al., 2017; AZZOUZ, SHARMA, 2018). 21 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A Concluídas todas as etapas da digestão, os nutrientes que chegam à circulação sanguínea são distribuídos a todas as células e, assim, são utilizados pelo organismo. Microbioma intestinal Várias colônias de bactérias prosperam nas condições adver- sas do intestino e estão fortemente envolvidas na manutenção de uma nutrição saudável, metabolismo normal e função imunológica adequa- da. Estas bactérias comensais ajudam: 1) na digestão de carboidratos não digeríveis, 2) a metabolizar ácidos biliares e drogas, e 3) sintetizam aminoácidos e muitas vitaminas. Além de contribuir na digestão, esses micróbios também protegem contra bactérias patogênicas, secretando substâncias antimicrobianas que impedem a proliferação de bactérias prejudiciais no intestino. Cada pessoa tem uma composição única da fl ora intestinal e alterações na sua composição têm sido associadas ao desenvolvimento de doenças gastrointestinais e metabólicas. Para saber mais acesse: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28626231 ÓRGÃOS ACESSÓRIOS – SISTEMA DIGESTIVO A digestão química no intestino delgado depende das ativida- des de três órgãos digestivos acessórios: fígado, pâncreas e vesícula biliar. O papel digestivo do fígado é produzir bile e exportá-lo para o duo- deno. A vesícula biliar basicamente armazena, concentra e libera bile. O pâncreas produz suco pancreático, que contém enzimas digestivas e íons de bicarbonato, e o entrega no duodeno. Fígado O fígado é um grande órgão marrom avermelhado situado no quadrante superior direito do abdômen. É dividido em quatro lobos: os lobos direito, esquerdo, caudado e quadrado (MARIEB, HOEHN, 2007). Embora o fígado seja o maior órgão interno, ele possui, num sentido, uma espessura de apenas duas células. Isso se deve ao fato de as célu- las hepáticas (ou hepatócitos) formarem placas hepáticas que possuem uma espessura de duas células. As placas são separadas entre si por grandes espaços capilares denominados sinusó ides. Os sinusó ides possuem poros extremamente grandes (deno- minados fenestras) e, ao contrário dos outros capilares, não possuem uma lâmina basal. Isso faz com que eles sejam muito mais permeáveis 22 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A que os outros capilares, permitindo mesmo a passagem de proteínas plasmáticas com moléculas não polares ligadas a proteínas (como gor- duras e colesterol). Os sinusó ides também possuem células de Kupff er fagocitarias, que fazem parte do sistema reticulo endotelial. As fenes- tras, a ausência de lâmina basal e a estrutura em placa do fígado pro- vem um contato íntimo entre os hepatócitos e o conteúdo do sangue. Sistema Porta Hepático Os produtos da digestão que são absorvidos pelos capilares sanguíneos do intestino não entram diretamente na circulação geral. Em vez disso, esse sangue é liberado primeiramente ao fígado. Os capila- res do sistema digestório drenam na veia porta do fígado que transporta o sangue, aos capilares hepáticos. Somente após o sangue ter passado através desse leito capilar secundário é que ele entra na circulação ge- ral, através da veia hepática que drena o fígado. O termo sistema porta é utilizado para descrever esse padrão único de circulação: capilares � veia � capilares � veia. Além de receber sangue venoso do intestino, o fígado recebe sangue arterial através da artéria hepática própria. O fígado tem várias funções importantes, ele atua como um fi ltro mecânico, fi ltrando o sangue que viaja do sistema intestinal; desin- toxica vários metabólitos, incluindo a quebra de bilirrubina e estrogênio. Além disso, o fígado tem funções sintéticas, produzindo albumina e fa- tores de coagulação sanguínea. No entanto, seus principais papéis na digestão são a produção da bile e o metabolismo de nutrientes. Todos os nutrientes absorvidos pelos intestinos passam pelo fígado e são pro- cessados antes de viajar para o resto do corpo. A bile produzida pelas células do fígado, entra no duodeno. Aqui, os sais biliares quebram os lipídios em partículas menores, de modo que há uma área de superfí- cie maior para que as enzimas digestivas atuem (OGOBUIRO, TUMA, 2018). Vesícula biliar A vesícula biliar é um órgão oco em forma de pera, que fi ca em depressão na superfície posterior do lobo direito do fígado. Consiste em um fundo, corpo e pescoço (MARIEB, HOEHN, 2007). As principais fun- ções da vesícula biliar são o armazenamento e a concentração da bile. A bile é um fl uido espesso que contém enzimas para ajudar a dissolver a gordura nos intestinos. A bile é produzida pelo fígado, mas armaze- nada na vesícula biliar até que seja necessária. A bile é liberada da vesícula biliar pela contração de suas paredes musculares em resposta a sinais hormonais do duodeno na presença de alimentos (OGOBUIRO, TUMA, 2018). Durante a digestão, a bile, aprimora a solubilidade e a diges- tibilidade das gotículas lipídicas através da emulsifi cação. O conteúdo 23 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A lipídico do quimo intestinal estimula a liberação pulsátil pela vesícula biliar da bile para dentro do duodeno. De uma maneira semelhante à ação de muitos detergentes caseiros, os sais biliares fracionam a gor- dura em numerosas gotículas menores que não coalescem. Isso torna os produtos terminais dos ácidos graxos insolúveis na água, para que o intestino delgado possa absorvê-los. Apesar dos componentes da bile serem excretados nas fezes, a mucosa intestinal reabsorve a maior par- te dos sais biliares. Eles retornam no sangue hepatoportal e chegam o fígado, onde passam a ser componentes da ressíntese de uma nova bile (MARIEB, HOEHN, 2007; OGOBUIRO, TUMA, 2018). Pâncreas Finalmente, o pâncreas é um órgão lobular cinza rosado, que fi ca atrás do estômago. Sua cabeça se comunica com o duodeno e sua cauda se estende ao baço. O órgão tem aproximadamente 15 cm de comprimento e um corpo longo e delgado conectando os segmentos da cabeça e da cauda (MARIEB, HOEHN, 2007). O pâncreas tem funções exócrinas e endócrinas. Endócrino refere-se à produção de hormônios que ocorre nas ilhotas de Langerhans. As ilhotas produzem insulina, glucagon e outras substâncias e estas são as áreas danifi cadas no dia- betes mellitus. A porção exócrina (secretor) constitui 80-85% do pân- creas e é a área relevante para o trato gastrointestinal. É composto de numerosos ácinos (pequenas glândulas) que secretam conteúdos em ductos que eventualmente levam ao duodeno. O pâncreas secreta fl uido rico em carboidratos e enzimas inativas. A secreção é desencadeada pelos hormônios liberados pelo duodeno na presença de alimentos. As enzimas pancreáticas incluem carboidrases,lipases, nucleases e enzimas proteolíticas que podem degradar diferen- tes componentes dos alimentos. Estes são secretados em uma forma inativa para impedir a digestão do próprio pâncreas. As enzimas fi cam ativas quando atingem o duodeno (OGOBUIRO, TUMA, 2018). O pâncreas secreta entre 1,2 e 1,6 l de suco de conteúdo al- calino (enzimas digestivas em uma forma inativa mais bicarbonato de sódio) para ajudar a tamponar o ácido clorídrico do estômago que per- manece no quimo intestinal. Com um pH mais alto, as enzimas pan- creáticas, liberadas por mecanismos neurais e hormonais, degradam os nutrientes maiores das proteínas, dos carboidratos e dos lipídeos e os transformam em subunidades menores para digestão e absorção adicionais. O revestimento intestinal não consegue suportar os sucos gástricos altamente ácidos proeminentes do estomago. Consequente- mente, a neutralização desse ácido proporciona uma proteção crucial contra o dano duodenal, que na forma extrema desencadeia a ulcera- ção tecidual ou as chamadas úlceras (MARIEB, HOEHN, 2007; OGO- 24 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A BUIRO, TUMA, 2018). A tabela a seguir, serve para fi xar a ação das principais enzi- mas e as etapas de digestão. Tabela 1: Enzimas, locais de produção e principais ações CONTROLE HORMONAL Uma característica fascinante do sistema digestivo é que ele contém seus próprios reguladores. Os principais hormônios que contro- lam as funções do sistema digestivo são produzidos e liberados pelas células da mucosa do estômago e do intestino delgado. Esses hormô- nios são liberados no sangue do trato digestivo, viajam de volta ao co- ração e pelas artérias e retornam ao sistema digestivo, onde estimulam os sucos digestivos e causam o movimento dos órgãos (PARIKH, THE- VENIN, 2018). Os hormônios que controlam a digestão são gastrina, secretina e colecistocinina (CCK). 25 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A Gastrina A gastrina é um hormônio produzido pelas células “G” no re- vestimento do estômago e do intestino delgado superior. Durante uma refeição, a gastrina estimula o estômago a liberar ácido gástrico. Isso permite que o estômago destrua proteínas ingeridas como alimento e absorva certas vitaminas. Este hormônio também age como um desin- fetante e mata a maioria das bactérias que entram no estômago com alimentos, minimizando o risco de infecção no intestino. Além disso, a gastrina pode estimular a vesícula biliar a esvaziar a reserva de bile e o pâncreas a secretar enzimas. As enzimas biliares e pancreáticas aju- dam a absorver os alimentos no intestino delgado. A gastrina também estimula o crescimento do revestimento do estômago e aumenta as contrações musculares do intestino para ajudar na digestão (PARIKH, THEVENIN, 2018). Antes de uma refeição, a antecipação de comer estimula os nervos dentro do cérebro, que sinaliza para o estômago e estimula a liberação de gastrina. A liberação da gastrina também é estimulada pelo alongamento das paredes do estômago durante uma refeição, pela a presença de certos alimentos (particularmente proteínas) dentro da ca- vidade do estômago e por um aumento nos níveis de pH do estômago (PARIKH, THEVENIN, 2018). Secretina A secretina é sintetizada como um pré-hormônio, depois pro- cessada proteoliticamente para produzir um único peptídeo de 27 ami- noácidos. A secretina é secretada em resposta a um estímulo conhecido como acidifi cação do duodeno, que ocorre mais comumente quando o conteúdo liquefeito do estômago é liberado no intestino delgado (PA- RIKH, THEVENIN, 2018). O principal alvo da secretina é o pâncreas, que responde pela secreção de um fl uido rico em bicarbonato, que fl ui para a primeira parte do intestino através do ducto pancreático. O íon bicarbonato é uma base e serve para neutralizar o ácido, evitando queimaduras ácidas e estabe- lecendo um pH propício à ação de outras enzimas digestivas. Uma res- posta similar, mas quantitativamente menos importante da secretina é desencadeada pelas células do ducto biliar, resultando na liberação de bicarbonato adicional no intestino delgado (PARIKH, THEVENIN, 2018). Colescitocina (CCK) A colecistocinina (CCK) é produzida pelas células I no revesti- mento do duodeno e também é liberada por alguns neurônios no cére- bro. Atua em dois tipos de receptores encontrados em todo o intestino e no sistema nervoso central (MARIEB, HOEHN, 2007). As funções mais reconhecidas desse hormônio são a digestão 26 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A e o apetite. Melhora a digestão retardando o esvaziamento de alimentos do estômago e estimulando a produção de bile no fígado, bem como a sua libertação da vesícula biliar. A bile age como um detergente, tor- nando as gotículas de gordura menores, de modo que as enzimas po- dem quebrá-las mais facilmente. A CCK também aumenta a liberação de líquidos e enzimas do pâncreas para quebrar gorduras, proteínas e carboidratos (PARIKH, THEVENIN, 2018). A CCK parece estar envolvida no apetite, aumentando a sen- sação de saciedade a curto prazo, ou seja, durante uma refeição e não entre as refeições. Isso pode afetar os centros de apetite no cérebro, além de retardar o esvaziamento do estômago. No entanto, mais pes- quisas são necessárias para confi rmar este achado. Gordura e proteína no estômago causam a liberação de CCK. Níveis sanguíneos aumentados de CCK podem ser encontrados 15 mi- nutos após o início de uma refeição e os níveis permanecem elevados por três horas depois (MARIEB, HOEHN, 2007). É importante lembrar que a digestão ocorre quase inteiramente sob controle involuntário, em harmonia com uma magistral regulação neural e hormonal, para ajudar a manter uma constância relativa no ambiente interno do corpo. O sistema nervoso autônomo controla todo o trato gastrointestinal: o sistema parassimpático em geral exacerba a atividade intestinal, enquanto o sistema simpático exerce um efeito ini- bitório. Os nervos extrínsecos (externos) chegam aos órgãos diges- tivos a partir da parte inconsciente do cérebro ou da medula espinhal. Eles liberam uma substância química chamada acetilcolina e outra cha- mada adrenalina. A acetilcolina faz com que o músculo dos órgãos di- gestivos se contraia com mais força e aumenta o “empurrão” de comida e suco pelo trato digestivo. A acetilcolina também faz com que o estô- mago e o pâncreas produzam mais suco digestivo. A adrenalina relaxa o músculo do estômago e do intestino e diminui o fl uxo de sangue para esses órgãos (MARIEB, HOEHN, 2007). Ainda mais importante, porém, são os nervos intrínsecos (inter- nos), que formam uma rede muito densa, embutida nas paredes do esô- fago, estômago, intestino delgado e cólon. Os nervos intrínsecos são acionados para agir quando as paredes dos órgãos ocos são esticadas pela comida. Eles liberam muitas substâncias diferentes que aceleram ou atrasam o movimento de alimentos e a produção de sucos pelos ór- gãos digestivos (MARIEB, HOEHN, 2007; PARIKH, THEVENIN, 2018). 27 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A QUESTÕES DE CONCURSO QUESTÃO 1 Ano: 2018 Banca: NUCEPE Órgão: SEDUC-PI Cargo: Professor temporário Os estudos da fi siologia humana são fundamentais para enten- dermos como “funciona” o nosso corpo e, dessa forma, permitir que possam ser mais bem conhecidas as doenças e, consequen- temente, mais e melhores tratamentos possam ser desenvolvidos. No processo de digestão dos alimentos possuímos um conjunto diversifi cado de enzimas que atuam quebrando as moléculas pre- sentes nos alimentos, de modo que possam, então, ser assimila- das. Sobre as reações que ocorrem na digestão, assinale a alterna- tiva que associa incorretamente a enzima ao seu substrato: a) Ptialina – sacarose b)Pepsina – proteínas c) Lipase – óleos e gorduras d) Quimiotripsina – proteínas e) Nuclease – ácidos nucléicos QUESTÃO 2 Ano: 2018 Banca: QUADRIX Órgão: SEDUCE-GO Cargo: Professor de Nível III Após sua permanência no estômago, o alimento é transformado em uma massa pastosa denominada de quimo e deslocado para o intestino. No intestino, é realizada a principal parte da digestão e da absorção do alimento pelo organismo. Quando entra em conta- to com a parede intestinal, o quimo estimula a secreção de um hor- mônio, que é responsável por estimular a secreção de bicarbonato de sódio (NaHCO3) pelo pâncreas para neutralizar sua acidez. Com base nessas informações, assinale a alternativa que apresenta o hormônio responsável pela produção de NaHCO3 no intestino. a) colecistocinina b) tripsinogênio c) secretina d) amilase pancreática e) quimiotripsinogênio QUESTÃO 3 Ano: 2017 Banca: IBFC Órgão: Polícia Científi ca- PR Prova: Perito Criminal 28 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A Os nutrientes que o corpo utiliza para construir suas estruturas e alimentar suas funções provêm do alimento que ingerimos. O sistema corporal que converte o alimento que ingerimos nas uni- dades que o nosso corpo consegue absorver e utilizar é o sistema digestório. Vários órgãos e processos atuam no sistema digestó- rio. Sobre o intestino delgado assinale a alternativa incorreta. a) O intestino delgado tem como principal função a absorção dos nu- trientes. Seus segmentos são duodeno, jejuno e íleo b) Durante a digestão, o intestino delgado passa por movimentos de segmentação ativa, misturando o quimo para frente e para trás e, assim, maximizando seu contato com a mucosa que absorve nutrientes c) Secreta hormônios intestinais, como a secretina, que tem ação no pâncreas d) As enzimas lançadas no intestino delgado estão na forma inativa e são dependentes de ativação, como a da enteropeptidase, presente nas microvilosidades intestinais e) A partir dos enterócitos os ácidos graxos são transportados exclusi- vamente via circulação sanguínea QUESTÃO 4 Ano: 2016 Banca: CONSULPLAN Órgão: Prefeitura de Cascavel-PR Prova: Professor de Educação Infantil O suco pancreático é uma secreção produzida no pâncreas e se apresenta de forma aquosa, alcalina e contém diversas enzimas digestivas. Das enzimas descritas a seguir, assinale qual NÃO está presente no suco pancreático. a) Lipase b) Tripsina c) Maltase d) Amilopsina e) Quimotripsina QUESTÃO 5 Ano: 2017 Banca: CESPE Órgão: Prefeitura de São Luís – MA Pro- va: Técnico Municipal de nível superior A respeito do processo de digestão, absorção e transporte dos nu- trientes, assinale a opção correta a) A lipase pancreática secretada na luz intestinal hidrolisa os triacilgli- ceróis liberando ácidos graxos e glicerol b) Os carboidratos são absorvidos na forma de polissacarídeos pelo enterócito c) As moléculas de lipídeos são transportadas, no sangue, pelos quilo- 29 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A mícrons d) Na mastigação, fase inicial do processo de digestão dos carboidra- tos, ocorre a hidrólise de todo o amido e) No estômago ocorre a secreção do pepsinogênio, o qual é ativado na forma de pepsina e atua como agente lipolítico. QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE O que são refl exos gastrocólico e gastroileal? Descreva um exemplo prático de como esses refl exos ocorrem. TREINO INÉDITO O homem nutre-se essencialmente pela absorção de produtos assimi- láveis derivados da hidrólise dos alimentos, pela ação das enzimas do trato gastrointestinal. Em decorrência dessa afi rmativa, este processo particulariza um exemplo de: a) endocitose b) ingestão c) digestão intracelular d) digestão extracelular e) pinocitose reversa NA MÍDIA Por que o intestino é considerado nosso ‘2º cérebro’ e outros 5 fatos surpreendentes sobre o órgão Cada vez mais a ciência avança sobre as funções e importân- cias do intestino. Atualmente, também chamado pelos cientistas como sistema nervoso entérico, o intestino é capaz de muito mais que ape- nas digerir e absorver nutrientes. Equipado com seus próprios refl e- xos e sentidos, o intestino é capaz de controlar o trato gastrointestina- lin dependentemente do cérebro. Dessa forma, é possível dizer que o cérebro na cabeça não precisa sujar as mãos com o confuso e “sujo” processo da digestão, uma vez que essa função é delegada ao cérebro no intestino. No entanto, a complexidade do segundo cérebro prova- velmente não pode ser interpretada apenas por este processo. O se- gundo cérebro é capaz também de informar nosso estado de espírito de outras formas ainda desconhecidas. Parte das nossas emoções é possivelmente infl uenciada pelos nervos do nosso intestino. Borboletas no estômago - sinalizando no intestino como parte de nossa reação ao estresse fi siológico- são apenas um exemplo. Dadas as semelhanças 30 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A entre os dois cérebros, outros tratamentos de depressão que visam a mente podem, sem querer, afetar o intestino. Como os medicamentos antidepressivos chamados inibidores seletivos da recaptação da sero- tonina (ISRSs) aumentam os níveis de serotonina, não é de admirar que medicamentos destinados a causar alterações químicas na mente frequentemente provoquem problemas gastrointestinais como um efeito colateral. A síndrome do intestino irritável, também pode surgir em de- corrência de muita serotonina, e poderia talvez ser considerada como uma “doença mental” do segundo cérebro. Fonte: G1 – Ciência e Saúde Data: 27 set. 2018. Leia a notícia na íntegra: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2018/09/27/por-que-o-in- testino-e-considerado-nosso-2o-cerebro-e-outros-5-fatos-surpreenden- tes-sobre-o-orgao.ghtml NA PRÁTICA Os processos de congelamento, preservação, utilização de micro-on- das, assar e fritar os alimentos podem, em graus variados, alterar a solubilidade, contagem microbiana, estrutura e digestibilidade dos ali- mentos e até aumentar a formação de compostos potencialmente pre- judiciais. Vários nutrientes como o ácido ascórbico e o folato, podem ser destruídos com o cozimento prolongado. No entanto, quando esses alimentos são preparados, armazenados e cozidos de forma adequada, muitos tendem a ser mais seguros e mais digeríveis que o alimento cru. Por exemplo, o cozimento da carne afrouxa o seu tecido conjuntivo, fa- cilita a mastigação e torna a carne mais acessível aos sucos digestivos. O cozimento amacia a fi bra dietética, torna certas fi bras mais fermentá- veis e pode aumentar a disponibilidade de nutrientes digeríveis ligados à fi bra. Defende-se que frutas e vegetais deveriam ser consumidos crus por causa de suas inerentes enzimas que digerem carboidratos e pro- teínas, facilitando assim a digestão dos alimentos. O cozimento as des- truiria. As enzimas de umas poucas frutas e vegetais crus podem ainda apresentar alguma atividade no trato gastrointestinal, mas sua contribui- ção para a digestão dos alimentos é muito pequena e fraca comparada com as poderosas enzimas digestivas humanas. Durante o refi namen- to de grãos para pães e cereais, muitos dos nutrientes, fi toquímicos e materiais fi brosos são perdidos. O enriquecimento substitui vários dos nutrientes perdido, mas não as fi bras dietéticas ou fi toquímicos. 31 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A Os macronutrientes são necessários em maiores quantidades (em gramas). Eles normalmente incluem água, carboidratos, gordura e proteína. Os macronutrientes (exceto água) têm seus próprios papéis e funções específi cas no corpo e também são chamados de nutrientes que fornecem energia. A energiaé medida em calorias e é essencial para o corpo crescer, reparar e desenvolver novos tecidos, conduzir impulsos nervosos e regular o processo vital (PALERMO, 2014). Os alimentos que ingerimos geralmente são formados por uma mistura de carboidratos, lipídeos e proteínas. Iremos abordar nesse ca- pítulo, a função e o processo de digestão de cada um dos macronutrien- tes. CARBOIDRATOS Os carboidratos são alimentos que em geral têm função ener- gética no organismo, isto é, atuam como “combustíveis”, fornecendo a energia necessária às atividades das células. No corpo humano, os car- boidratos são armazenados na forma de glicogênio. O cérebro trabalha inteiramente apenas com glicose (PALERMO, 2014). A estrutura básica dos carboidratos é uma molécula de açú- car, e eles são classifi cados por quantas moléculas de açúcar contêm. MACRONUTRIENTES F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A 32 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A Existem quatro categorias de carboidratos: monossacarídeos, dissa- carídeos, oligossacarídeos e polissacarídeos (HORECKER, MEHLER, 1955). Um monossacarídeo é a forma mais básica de carboidrato. Os monossacarídeos podem ser combinados através de ligações glicosí- dicas para formar carboidratos maiores, conhecidos como oligossaca- rídeos ou polissacarídeos. Monossacarídeos com quatro, cinco, seis e sete átomos de carbono em seus esqueletos são chamados, respecti- vamente, de trioses, pentoses, hexoses e heptoses. Os açúcares tipo hexoses são os mais nutricionalmente importantes: glicose, frutose e galactose (NELSON, COX, 2011c; PALERMO, 2014). A glicose é um monossacarídeo importante na medida em que fornece energia e estrutura a muitos organismos. As moléculas de glico- se podem ser quebradas na glicólise, fornecendo energia e precursores para a respiração celular. Se uma célula não precisar de mais energia no momento, a glicose pode ser armazenada combinando-a com outros monossacarídeos. As plantas armazenam essas longas cadeias como amido, que podem ser desmontadas e usadas como energia mais tarde. Animais armazenam cadeias de glicose no glicogênio polissacarídeo, que pode armazenar muita energia (NELSON, COX, 2011c; PALERMO, 2014). A frutose, é o mais doce dos açúcares e pode ser encontrada nas frutas e no mol. Pode ser combinada com outros monossacarídeos para formar oligossacarídeos. Um dissacarídeo muito comum produzi- do pelas plantas é a sacarose. A sacarose é uma molécula de frutose ligada a uma molécula de glicose através de uma ligação glicosídica (NELSON, COX, 2011c; PALERMO, 2014). A galactose é um monossacarídeo produzido em muitos orga- nismos, especialmente mamíferos. Mamíferos usam galactose no leite, para dar energia aos seus descendentes. Galactose é combinada com glicose para formar a lactose dissacarídeo (NELSON, COX, 2011c; PA- LERMO, 2014). Dissacarídeos são quaisquer substâncias compostas de duas moléculas de açúcares simples (monossacarídeos) ligados uns aos ou- tros. Os dissacarídeos são compostos solúveis em água cristalinos. Os monossacarídeos dentro deles são ligados por uma ligação glicosídica (ou ligação glicosídica), cuja posição pode ser designada α- ou β- ou uma combinação dos dois (α-, β-). As ligações glicosídicas são clivadas por enzimas conhecidas como glicosidases. Os três principais dissa- carídeos são sacarose, lactose e maltose. A sacarose, que é formada após a fotossíntese em plantas verdes, consiste de uma molécula de glicose e uma de frutos. A lactose (açúcar do leite), encontrada no leite 33 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A de todos os mamíferos, consiste de glicose e galactose. A maltose, um produto da quebra de amidos durante a digestão, consiste em duas mo- léculas de glicose conectadas (NELSON, COX, 2011c). Quando mais de 20 monossacarídeos são combinados com ligações glicosídicas, um oligossacarídeo se torna um polissacarídeo. Alguns polissacarídeos, como a celulose, contêm milhares de monos- sacarídeos. O modo como as moléculas de glicose se ligam faz com que sejam digeríveis (amido) ou não digeríveis (fi bras) (NELSON, COX, 2011c). Polissacarídeos incluem o seguinte: O amido é uma série de longas cadeias de moléculas de gli- cose ligadas. É a forma de armazenamento de glicose para grãos, tu- bérculos e legumes e é usada durante o crescimento e a reprodução da planta. As fi bras também são longas cadeias de moléculas de glicose, mas estão ligadas de uma maneira que não podemos digerir. A absorção dos carboidratos é bastante rápida, sendo que a energia é colocada à disposição do corpo imediatamente após a inges- tão. De cada uma dessas fontes e outras, os carboidratos fornecem 4 kcal/grama. A função dos carboidratos no corpo humano são várias e incluem principalmente sua utilização como combustível. A glicose é o principal combustível para a maioria de suas células e é a energia prefe- rida para o cérebro e sistema nervoso, os glóbulos vermelhos, a placen- ta e o feto. Uma vez que a glicose entra na célula, uma série de reações metabólicas a converte em dióxido de carbono, água e ATP (adenosina tri-fosfato), a moeda de energia da célula. Se o indivíduo tem mais gli- cose disponível do que o corpo precisa para energia, o organismo arma- zenará glicose como glicogênio (glicogênese) no fígado e músculo es- quelético. Quando a glicose no sangue cai, como acontece quando se está dormindo ou em jejum, o fígado quebra o glicogênio (glicogenólise) e libera glicose no sangue. O glicogênio muscular alimenta a prática de atividade. O corpo pode armazenar apenas uma quantidade limitada de glicose, então, quando os estoques de glicogênio estão cheios, a glico- se extra é armazenada como gordura e pode ser usada como energia quando necessário (HORECKER, MEHLER, 1955; PALERMO, 2014). As unidades de monossacarídeos, glicose, galactose e frutose são transportadas através da parede do intestino delgado para a veia porta, que então as leva diretamente ao fígado. O modo de transporte varia entre os três monossacarídeos e é descrito em breve abaixo. Tan- to a glicose, quanto a frutose são absorvidas de forma relativamente rápida, dependendo de quais outros nutrientes são ingeridos ao mes- mo tempo. Por exemplo, uma refeição ou alimento contendo proteína e gordura faz com que os açúcares sejam absorvidos mais lentamente 34 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A do que quando consumidos por conta própria (NELSON, COX, 2011c). A glicose, em baixas concentrações, é transportada através do revestimento mucoso para as células epiteliais do intestino por transpor- te ativo, via um transportador dependente de sódio. Em concentrações mais altas, um segundo transportador facilitador é envolvido. A partir das células epiteliais, a glicose é movida para os capilares circunvizi- nhos, facilitando a difusão. A galactose é transportada da mesma forma que a glicose, utilizando os mesmos transportadores. Como a galactose não é encontrada como um monossacarídeo na natureza, a galactose absorvida vem principalmente da quebra da lactose. Frutose move-se inteiramente via difusão facilitada. O processo utiliza um transportador diferente da glicose ao entrar nos enterócitos, no entanto, tanto a fruto- se, quanto a glicose utilizam o mesmo transportador para sair do enteró- cito para os capilares. A absorção de frutose é muito mais lenta que a da glicose, e é quantitativamente limitada. O consumo de grandes quanti- dades de frutose foi mostrado para produzir um nível de mal absorção de frutose em quase todos os casos. A coingestão de glicose com fruto- se mostrou facilitar a absorção de frutose. Os mecanismos exatos para isso ainda são desconhecidos (NELSON, COX, 2011c). Uma vez no fígado, a galactosee a frutose são removidas do sangue e convertidas em outros metabólitos. Quando ingerida em quan- tidades moderadas, a maior parte da frutose é absorvida pelo fígado e convertida em glicose, glicogênio e lactato. Uma fração também pode ser oxidada ou convertida em ácidos graxos e ácido úrico. Apenas uma pequena quantidade de frutose atinge a corrente sanguínea, portanto, as concentrações de frutose no sangue são sempre baixas. A galactose é primeiramente convertida em glicose e armazenada como glicogênio (PALERMO, 2014). Por outro lado, a maior parte da glicose derivada dos alimen- tos é transportada pela corrente sanguínea para os tecidos periféricos, onde em circunstâncias normais, o hormônio insulina permite que seja absorvido pelas células e usado como fonte de energia através da via da glicólise. Como a glicose é a fonte de combustível mais importante para o corpo e, em particular, para o cérebro, o corpo tenta manter uma glicose no sangue basal em torno de 4-5mmol/l. Esse mecanismo de homeostase é predominantemente controlado pelas ações do glicogê- nio e da insulina (NELSON, COX, 2011c). O excesso de glicose é inicialmente armazenado como gli- cogênio no fígado ou nos músculos. O fígado pode armazenar apro- ximadamente 100g de glicogênio, que é usado para manter os níveis basais de glicose no sangue entre as refeições, enquanto os músculos normalmente armazenam 400-500g, frequentemente usados durante o 35 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A movimento. Uma vez que essas reservas estejam saturadas, o excesso de glicose é convertido em gordura para armazenamento a longo prazo (PALERMO, 2014). O corpo humano precisa de energia de carboidratos, gordu- ras e proteínas para o funcionamento normal. Consumir mais energia do que se precisa de qualquer uma dessas fontes resulta no armaze- namento de energia em excesso como gordura corporal. Por isso, é importante considerar a energia que se obtém de todas as fontes para alcançar uma dieta equilibrada. Fibras Evitar todos tipos de carboidratos ou restringir seriamente a ingestão deste macronutriente; é impossível atender às nossas neces- sidades de fi bras. Todos os alimentos ricos em fi bras naturais também são ricos em carboidratos. A ingestão recomendada de fi bras é de 38 g por dia para homens e 25 g por dia para mulheres (TRUMBO et al., 2002). Talvez mais conhecida por seu papel em manter a regulação da digestão, a fi bra tem mais funções do que se imagina. Indivíduos com altas ingestões de fi bras parecem ter menos riscos de doença corona- riana, acidente vascular cerebral, hipertensão, diabetes e obesidade. Alimentos ricos em fi bras são protetores contra o câncer colorretal, e o aumento da ingestão de fi bras melhora a doença do refl uxo gastroeso- fágico e hemorroidas, colesterol no sangue e níveis de glicose (KACZ- MARCZYK, MILLER, FREUND, 2012). Além disso, as fi bras são alimen- tos para as bactérias normais (saudáveis) que residem no seu intestino e fornecem nutrientes e outros benefícios para a saúde. Para aumentar o consumo de fi bras, coma frutas, verduras, grãos integrais e feijões com frequência. Existem 2 tipos diferentes de fi bras solúveis e insolúveis. Am- bos são importantes para a saúde, a digestão e a prevenção de doen- ças. Fibra solúvel atrai água e transforma-se em gel durante a digestão. Isso retarda a digestão. Fibra solúvel é encontrada em farelo de aveia, cevada, nozes, sementes, feijões, lentilhas, ervilhas e algumas frutas e legumes. A fi bra insolúvel é encontrada em alimentos como farelo de trigo, vegetais e grãos integrais. Adiciona volume às fezes e parece ajudar os alimentos a passar mais rapidamente pelo estômago e pelos intestinos (ANDERSON et al., 2009). Índice glicêmico Às vezes, as pessoas olham para o índice glicêmico (IG) para avaliar a saúde dos alimentos ricos em carboidratos, mas isso também simplifi ca demais a boa nutrição. O IG classifi ca os alimentos contendo carboidratos de 0 a 100. Essa pontuação indica o aumento da glicose 36 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A no sangue de um único alimento contendo 50 gramas de carboidrato em comparação com 50 gramas de glicose pura, que tem um escore gas- trintestinal de 100. Alimentos digeridos lentamente e absorvidos - como maçãs e alguns cereais de farelo - goteja glicose na corrente sanguínea e um baixo escore IG. Alimentos de alto IG, como pão branco e fl ocos de milho, são rapidamente digeridos e absorvidos, inundando o sangue com glicose. Pesquisa sobre o IG é mista, alguns estudos sugerem que as dietas baseadas em alimentos com baixo IG estão associadas a me- nores riscos de diabetes, obesidade e doenças cardíacas, mas outros estudos não mostram tal relação (ESFAHANI et al., 2009). Muitos fatores infl uenciam a pontuação IG de um alimento, incluindo: O grau de maturação de uma fruta (quanto mais madura a fru- ta, maior a pontuação); A quantidade e o tipo de processamento a que um alimento foi submetido; Se o alimento é comida na forma crua ou cozida; A presença de gordura, vinagre ou outros ácidos. Todos esses fatores complicam a utilidade do IG. Além disso, muitos alimentos com alto teor calórico e baixo teor de nutrientes, como algumas barras de chocolate e sorvetes, têm escores gastrointestinais desejáveis, enquanto alimentos mais nutritivos, como tâmaras e batatas assadas, têm pontuações mais altas. É importante reconhecer que a saúde de um alimento depende em grande parte de sua densidade nu- tricional, não de seu tipo de carboidrato ou de seu índice gastrintestinal (ESFAHANI et al., 2009). Digestão dos carboidratos A digestão dos carboidratos começa logo que o alimento pene- tra na boca. A enzima amilase salivar (ptialina) ataca o amido e o reduz a moléculas menores de glicose e à forma mais simples de dissacarídeo representada pela maltose. Quando a mistura alimento + saliva penetra no estomago mais ácido, ocorre algum fracionamento adicional do ami- go, porém, isso cessa rapidamente devido a característica de ação da amilase salivar, em pH mais altos (HALL, MERTENS, 2017). O alimento que adentra no ambiente alcalino do intestino des- ligado, encontra a amilase pancreática, uma poderosa enzima liberada pelo pâncreas. Essa enzima, em conjunto com outras enzimas, comple- ta a hidrólise do amido para cadeias menores de moléculas de glicose. A ação enzimática na superfície das células da borda em escova da luz intestinal, completa o estágio fi nal da digestão dos carboidratos para monossacarídeos. 37 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A Os monossacarídeos são absorvidos do intestino delgado e são lançados na corrente sanguínea e, a seguir, são transportados por capilares até a veia hepatoportal, que se dirige diretamente ao fígado. Este remove a maior porção de glicose e quase toda a frutose e ga- lactose absorvidas. Qualquer glicose sanguínea residua será absorvida (sob infl uência da insulina) pelos tecidos periféricos (HALL, MERTENS, 2017). LIPÍDEOS Os lipídeos mais conhecidos são representados pelos óleos e pelas gorduras e têm como principais funções: a fabricação de este- roides e hormônios, servem como solventes para hormônios e vitami- nas lipossolúveis, têm função estrutural (participam da constituição das membranas celulares) e desempenham papel energético, da mesma forma que os carboidratos. As gorduras têm o maior conteúdo calóri- co e fornecem a maior quantidade de energia quando queimadas. Os lipídeos fornecem cerca de 9 kcal/g, tornando-as duas vezes mais ri- cas em energia do que os carboidratos. Essa densidade calórica é um salva-vidas quando a comida é escassa e é importante para qualquer pessoa que não consiga consumir grandes quantidades de comida. Os idosos, os doentes e outros indivíduos com muito pouco apetitepodem se benefi ciar de alimentos ricos em gordura (NELSON, COX, 2011b). Os lipídeos podem ser classifi cados em três grandes grupos: lipídeos simples, complexos ou derivados de lipídeos. Um lipídio simples é um éster de ácido graxo de diferentes ál- coois e não contém outra substância. Os ácidos graxos consistem em cadeiras retas de hidrocarbonetos com apenas 4 átomos de carbono ou mais de 20 em sua cadeia. A presença ou ausência de ligações du- plas entre os átomos de carbono constitui a principal diferença entre os ácidos graxos saturados e insaturados. Todos os alimentos que contêm lipídeos consistem em uma mistura de proporções diferentes de ácidos graxos saturados e insaturados (PALERMO, 2014). Ácidos graxos saturados São ácidos graxos no qual todos os átomos de carbono na cadeia de hidrocarbonetos são unidos por ligações simples (NELSON, COX, 2011b). Eles existem principalmente como componentes de gor- duras (triglicérides) ou outros lipídios de origem animal. Alimentos ricos em ácidos graxos saturados incluem as carnes bovina, suína, vísceras, produtos lácteos integrais, manteiga, a maioria dos queijos e alguns produtos vegetais, como manteiga de cacau, óleo de coco e óleo de 38 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A palma (PALERMO, 2014). Ácidos graxos insaturados Ácidos graxos insaturados são aqueles que contêm uma ou mais ligações duplas, indicando que podem absorver átomos de hidrogênio adicionais. Ácidos graxos insaturados podem ocorrer na confi guração cis ou trans. Os ácidos graxos insaturados são ainda classifi cados como ácidos graxos monoinsaturados (MUFAs), porque eles têm apenas uma ligação dupla (por exemplo, gorduras ômega-7 e -9), ou ácidos graxos poli-insaturados (PUFAs), porque eles têm mais de uma ligação dupla (por exemplo, gorduras ômega-3 e -6). A nomenclatura de cada ácido graxo utiliza o número de ligações duplas, a posição da primeira ligação dupla e o número de átomos de carbono na cadeia. Por exemplo, o áci- do alfa-linolênico (ALA), uma gordura ômega 3, é identifi cado como 18: 3, n-3. O 18 refere-se ao número de átomos de carbono; o 3 refere-se a três ligações duplas; e n-3 identifi ca a localização da primeira ligação dupla na cadeia de carbono (NELSON, COX, 2011b). O comprimento da cadeia de carbono, o grau de saturação e a posição das ligações duplas afetam o papel que os ácidos graxos desempenham no corpo. As gorduras alimentares podem ser oxidadas como energia ou armazenadas como triglicerídeos. Além disso, as gor- duras dietéticas regulam a expressão gênica, modulam os canais iôni- cos, são incorporadas às membranas celulares onde afetam a fl uidez da membrana e muito mais (NELSON, COX, 2011b). Sem especifi car uma preferência por MUFAs ou PUFAs, o Guia Alimentar para a População Brasileira recomenda a substituição de al- gumas gorduras saturadas por gorduras insaturadas para reduzir os fa- tores de risco para doenças cardiovasculares. Os lipídeos compostos são ésteres de ácidos graxos, glicerol e possuem grupos adicionais que envolvem a presença de uma outra substância. Os mais importantes são os fosfolipídios, componentes das membranas celulares que, além do álcool e do ácido graxo, apresen- tam o radical fosfato na sua estrutura. Esses lipídeos são formados em todas as células, porém, o fígado sintetiza a maioria deles. Os fosfolipí- dios são responsáveis por manter a integridade estrutural da célula, de- sempenham um importante papel na coagulação sanguínea e garantem a integridade estrutural da bainha isolante ao redor das fi bras nervosas. Outros lipídeos compostos incluem os glicolipídios e as lipoproteínas hidrossolúveis (HDL, LDL e VLDL) (PALERMO, 2014). Lipídeos derivados são substâncias derivadas de lipídios sim- ples e compostos. Eles apresentam em sua composição anéis de hi- drocarbonetos, ao invés de longas cadeias de hidrocarbonetos. Nesta classe, se destacam os esteroides, dos quais o mais importante é o co- 39 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A lesterol, que é componente da membrana plasmática das células ani- mais e precursor dos hormônios corticoides das glândulas suprarrenais e sexuais, como a testosterona e a progesterona (PALERMO, 2014). Digestão dos lipídeos A digestão dos lipídeos começa na boca e no estômago pela ação da lípase lingual ácido estável, uma enzima secretada na boca. Essa enzima que funciona efetivamente no ambiente ácido do estôma- go, difere principalmente os ácidos graxos saturados de cadeia curta (4 a 6 carbonos), e de cadeia media (8 a 10 carbonos). A mastigação do alimento mistura a lípase e o alimento até o tamanho de particular, a fi m de aumentar a superfície de contato exposta para facilitar a ação dos sucos digestivos (CAREY, SMALL, BLISS, 1983). O estômago secreta a lípase gástrica, sua própria enzima responsável pela digestão de lipídeos, que trabalha com a lípase lingual para continuar hidrolisando uma pequena quantidade de ácidos graxos de cadeiras curtas e médias que contêm triglicerídeos. O maior fracio- namento dos lipídeos ocorre no intestino delgado, particularmente dos triglicerídeos que contêm ácidos graxos de cadeias longas (12 a 18 car- bonos). Quando o quimo deixa o estômago e penetra no intestino delga- do, a mistura mecânica e a bile atuam sobre os triglicerídeos existentes nos alimentos e os emulsifi cam em uma imersão delicada de gotículas oleosas em suspensão aquosa. Apesar de a bile não conter enzimas digestivas, a emulsifi cação reduz a tração entre as moléculas de triglice- rídeos, aumentando assim, a superfície de contato entre as moléculas lipídicas e a enzima hidrossolúvel lípase pancreática, a fi m de facilitar o fracionamento lipídico. A lípase pancreática exerce um efeito poderoso sobre a superfície da gordura, para degradar ainda mais moléculas de triglicerídeos para monoglicerideos e ácidos graxos (CAREY, SMALL, BLISS, 1983; NELSON, COX, 2011b). O hormônio CCK, liberado pela parede do duodeno, controla a liberação de enzimas para o estômago e o intestino. A CCK regula as funções gastrintestinais, incluindo a motilidade a secreção do estôma- go, a contração, o fl uxo e bile na vesícula biliar, e a secreção de enzimas pelo pâncreas. Em adição, o hormônio secretina liberado em resposto ao alto conteúdo de lipídeos no estômago, reduz a motilidade gástrica. Isso retém o quimo no estômago e explica porque uma refeição rica em gorduras prolonga a digestão e dá uma sensação de plenitude em com- paração com uma dieta de menor conteúdo lipídico (PALERMO, 2014). Quando o conteúdo do estômago entra no intestino delgado, o sistema digestivo se propõe a administrar um pequeno obstáculo, a saber, combinar as gorduras separadas com seus próprios fl uidos aquo- sos. A solução para esse obstáculo é a bile. A bile contém sais biliares, 40 F IS IO LO G IA E N U TR IE N TE S A P LI C A D O S À N U TR IÇ Ã O E SP O R TI V A lecitina e substâncias derivadas do colesterol, por isso, atua como um emulsifi cante. Atrai e retém a gordura, enquanto é simultaneamente atraída e retida pela água. A emulsifi cação aumenta a área de superfície dos lipídeos mais de mil vezes, tornando-os mais acessíveis às enzimas digestivas. Uma vez que o conteúdo estomacal tenha sido emulsifi cado, as enzimas de quebra de gordura atuam nas triglicérides e diglicerídeos para separar os ácidos graxos de suas bases de glicerol. À medida que a lípase pancreática entra no intestino delgado, ela decompõe as gorduras em ácidos graxos livres e monoglicerideos. Mais uma vez, ou- tro obstáculo se apresenta. Como as gorduras passarão pela camada aquosa de muco que reveste o revestimento absorvente do trato diges- tivo? Como antes, a resposta é bile. Os sais biliares envolvem os ácidos graxos e monoglicerideos para formar micelas. Micelas têm um núcleo de ácido graxo com
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