Buscar

PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA - CC

Prévia do material em texto

Prescrição e Decadência 
A prescrição e a decadência são atos-fatos jurídicos e guardam elementos comuns 
entre si: 
CONDUTA OMISSIVA Comportamento humano que pode ser voluntário ou 
não. 
DECURSO DO TEMPO Fato da natureza 
NECESSIADE DE 
PACIFICAÇÃO SOCIAL: 
Para conceder segurança jurídica 
 
 
Para tratar de prescrição, faz-se necessário voltar ao conceito de DIREITO 
SUBJETIVO, que é a faculdade que tem uma pessoa, de agir conforme a manifestação 
da sua vontade, na busca pela satisfação de interesses próprios, respeitando, desse 
modo, os limites impostos pela lei. Para direito, existe um dever. Se um indivíduo 
passa a não cumprir com um dever, viola o direito subjetivo de outra parte, gerando 
para aquele que teve seu direito violado, o poder de exigibilidade (pretensão) relativo 
à prestação que não foi cumprida. 
A pretensão será levada ao Estado, através da jurisdição, exercido no direito 
processual de ação. Dessa forma, o Estado imporá a parte que violou o direito o dever 
de sanar o prejuízo, quase sempre através da constrição patrimonial. 
Por conta da segurança jurídica, o Estado estabeleceu prazos dentro dos quais a 
pretensão seja exercida, sob pena de extinção da pretensão, pelo decurso do tempo. 
A essa extinção pode decurso do tempo, dá-se o nome de PRESCRIÇÃO. 
 
Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a 
pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos 
prazos a que aludem os arts. 205 e 206. 
 
 
 
 
 
Quanto à DECADÊNCIA, deve-se regressar ao conceito de DIREITO POTESTATIVO. A 
lei ou um contrato podem conferir a um sujeito um poder para que este possa, 
unilateralmente, intervir na esfera jurídica de outrem, criando, modificando ou 
extinguindo direitos. A outra parte nada pode fazer a respeito dessa interferência, 
restando-lhe a sujeição a essa interferência. 
Para agir, esse indivíduo titular desse poder, não precisa esperar por nenhuma 
violação de seu direito. Não há prestação a ser cumprida, desse modo, o direito 
potestativo é inviolável, não cabendo falar de nascimento de pretensão. 
 
1. Prescrição 
O Estado estabelece um prazo legal para que o sujeito possa exercer sua pretensão, 
sob pena de extinção da mesma. A prescrição é a extinção do poder de exigibilidade 
de uma prestação (pretensão) pelo seu não exercício no prazo estipulado pela lei. 
 
Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a 
pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos 
prazos a que aludem os arts. 205 e 206. 
O direito subjetivo não se extingue, o que se extingue é a pretensão. O direito de ação 
não prescreve, pois trata-se de um direito público, abstrato e indisponível, o que 
prescreve é o poder que o indivíduo tem de exigir a prestação não cumprida. 
Diante de uma pretensão, é necessário observar se ela obedece a prazos especiais, 
que variam de um a cinco anos, conforme o art. 206 do código Civil 
Art. 206. Prescreve: 
§ 1 o Em um ano: 
I - a pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de 
víveres destinados a consumo no próprio 
Os prazos prescricionais 
sempre serão dados em 
anos! 
 
 
 
estabelecimento, para o pagamento da 
hospedagem ou dos alimentos; 
II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou 
a deste contra aquele, contado o prazo: 
a) para o segurado, no caso de seguro de 
responsabilidade civil, da data em que é citado para 
responder à ação de indenização proposta pelo 
terceiro prejudicado, ou da data que a este 
indeniza, com a anuência do segurador; 
b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato 
gerador da pretensão; 
III - a pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça, 
serventuários judiciais, árbitros e peritos, pela 
percepção de emolumentos, custas e honorários; 
IV - a pretensão contra os peritos, pela avaliação 
dos bens que entraram para a formação do capital 
de sociedade anônima, contado da publicação da 
ata da assembléia que aprovar o laudo; 
V - a pretensão dos credores não pagos contra os 
sócios ou acionistas e os liquidantes, contado o 
prazo da publicação da ata de encerramento da 
liquidação da sociedade. 
§ 2 o Em dois anos, a pretensão para haver 
prestações alimentares, a partir da data em que se 
vencerem. 
§ 3 o Em três anos: 
I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios 
urbanos ou rústicos; 
II - a pretensão para receber prestações vencidas 
de rendas temporárias ou vitalícias; 
III - a pretensão para haver juros, dividendos ou 
quaisquer prestações acessórias, pagáveis, em 
períodos não maiores de um ano, com 
capitalização ou sem ela; 
IV - a pretensão de ressarcimento de 
enriquecimento sem causa; 
O art. 206 trata de prazos 
especiais, qualquer outro 
que não estiver nesse rol, ou 
não for prazo geral, é prazo 
decadencial!! 
Ex: prazo decadencial de 2 
a 4 anos para anulação de 
um negócio jurídico (art. 
178 e 179, cc). 
 
 
 
V - a pretensão de reparação civil; 
VI - a pretensão de restituição dos lucros ou 
dividendos recebidos de má-fé, correndo o prazo 
da data em que foi deliberada a distribuição; 
VII - a pretensão contra as pessoas em seguida 
indicadas por violação da lei ou do estatuto, 
contado o prazo: 
a) para os fundadores, da publicação dos atos 
constitutivos da sociedade anônima; 
b) para os administradores, ou fiscais, da 
apresentação, aos sócios, do balanço referente ao 
exercício em que a violação tenha sido praticada, 
ou da reunião ou assembléia geral que dela deva 
tomar conhecimento; 
c) para os liquidantes, da primeira assembléia 
semestral posterior à violação; 
VIII - a pretensão para haver o pagamento de título 
de crédito, a contar do vencimento, ressalvadas as 
disposições de lei especial; 
IX - a pretensão do beneficiário contra o segurador, 
e a do terceiro prejudicado, no caso de seguro de 
responsabilidade civil obrigatório. 
§ 4 o Em quatro anos, a pretensão relativa à tutela, 
a contar da data da aprovação das contas. 
§ 5 o Em cinco anos: 
I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas 
constantes de instrumento público ou particular; 
II - a pretensão dos profissionais liberais em geral, 
procuradores judiciais, curadores e professores 
pelos seus honorários, contado o prazo da 
conclusão dos serviços, da cessação dos 
respectivos contratos ou mandato; 
III - a pretensão do vencedor para haver do vencido 
o que despendeu em juízo. 
 
 
 
 
Caso contrário, a prescrição obedecerá a REGRA GERAL, que é de dez anos, conforme 
o art. 205: 
Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando 
a lei não lhe haja fixado prazo menor. 
 
 
 
 
 
 
 
Os prazos prescricionais serão sempre de ORDEM PÚBLICA, logo, não poderão ser 
alterados pelas partes, tendo em vista que a lei estabelece qual o período 
prescricional. Dessa forma, as partes só podem renunciar à prescrição que lhes 
beneficia, após o decurso do prazo legal previsto, sob pena de configurar alteração 
do prazo. 
Quanto à CONTAGEM DOS PRAZOS, os prazos começam a correr da DATA DA 
VIOLAÇÃO DO DIREITO SUBJETIVO, então, a prescrição começa a ser contada a partir 
do DIA SEGUINTE À VIOLAÇÃO DO DIREITO SBJETIVO (exclui-se o dia do início e 
conta-se o dia do final). 
 
 
 
Atenção!!! 
Nada impede de haver prazos prescricionais previstos em leis especiais. 
Ex: prazo de 5 anos, art. 27 do Código do Consumidor 
Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do 
produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo 
a partir do conhecimento do dano e de sua autoria. 
Não importa se é ação pessoal ou real. 
 
Ex: uma pessoa é atropelada no dia 
01/08/2017, sofrendo lesões corporais. 
O prazo prescricional (3 anos), de reparação civil, 
começa a contar no dia 02/08/2017. 
 
 
 
Existem algumas EXCEÇÕES a esse início da contagem do prazo prescricional. Como 
forma de beneficiar o titular lesado, a lei e a jurisprudência poderão estabelecer 
outros termos iniciais para essa contagem. Osprazos são postergados para 
proteger as pessoas vulneráveis. São eles: 
 
a) SÚMULA 278 DO STJ: O termo inicial do prazo prescricional, na ação de indenização, 
é a data em que o segurado teve ciência inequívoca da incapacidade laboral. – Teoria 
denominada de actio nata. 
 
b) ART. 27 DO CÓGIDO DE DEFESA DO CONSUMIDOR: Art. 27. Prescreve em cinco anos 
a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço 
prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do 
conhecimento do dano e de sua autoria. - Teoria denominada de actio nata, 
enquanto não se souber quem é o responsável pelo dano ocasionado pelo acidente 
de consumo, não se inicia o prazo prescricional. 
 
c) STJ: afirma que se houver lesão inicial e se esta virar outra lesão mais grave, com o 
decurso do tempo, o prazo prescricional para o exercício da pretensão de 
reparação, começa a c/correr da data do segundo evento mais grave. Ex: uma 
pessoa é a atropelada no dia 01/08/2017, sofrendo lesões corporais e é hospitalizada. 
No dia 15/08/2017 ela morre, em decorrência dessas lesões. O prazo prescricional 
passa a correr a partir do dia da morte, que é o evento mais grave. 
 
Quanto à arguição da prescrição, em tese, ela deve ser suscitada pela parte quem ela 
aproveita. A partir da Lei n. 11.280/2006, existe a possibilidade de o juiz reconhecer a 
prescrição de ofício, tendo em vista que ela é matéria de ordem pública. Ele profere 
a decisão de mérito, mas deve ouvir as partes antes. 
 
2. Decadência (caducidade) 
 
 
 
Na decadência, o direito potestativo se submeterá (na maioria dos casos), a prazos 
legais ou contratuais, dependendo da origem, para ser exercido. Quando o titular 
desse direito não agir, dentro desses prazos, haverá a extinção desse poder. A essa 
extinção dá-se o nome de decadência ou caducidade. Portanto, a decadência é a 
extinção do direito potestativo pelo seu não exercício dentro dos prazos legais ou 
contratuais. 
Quanto aos prazos decadenciais, esses se iniciam a partir do momento em que nasce 
o próprio direito potestativo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Quando às causas IMPEDITIVAS, SUSPENSIVAS e INTERRUPTIVAS o Código Civil 
prevê que SOMENTE OS PRAZOS PRESCRICIONAIS SÃO ALCANÇADOS. São normas 
para a ocorrência do impedimento, suspensão e interrupção: 
Art. 197. Não corre a prescrição: 
I - Entre os cônjuges, na constância da sociedade 
conjugal; 
II - Entre ascendentes e descendentes, durante o 
poder familiar; 
III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores 
ou curadores, durante a tutela ou curatela. 
Art. 198. Também não corre a prescrição: 
I - contra os incapazes de que trata o art. 3 o ; 
Exceto: 
✓ No vício redibitório: prazo é contado da entrega da coisa ou na imissão da 
posse – art. 445, cc. 
. móvel: 30 dias 
. imóvel: 1 ano 
 
✓ Na coação, o prazo se inicia quando cessa a coação – art. 178, cc. 
Como os prazos 
prescricionais são 
dados em anos, por 
exclusão, os prazos 
decadenciais serão 
aqueles dados em dias, 
meses ou em 1 ano. 
 
 
 
II - Contra os ausentes do País em serviço público 
da União, dos Estados ou dos Municípios; 
III - contra os que se acharem servindo nas Forças 
Armadas, em tempo de guerra. 
Art. 199. Não corre igualmente a prescrição: 
I - pendendo condição suspensiva; 
II - não estando vencido o prazo; 
III - pendendo ação de evicção. 
Art. 200. Quando a ação se originar de fato que 
deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a 
prescrição antes da respectiva sentença definitiva. 
Art. 201. Suspensa a prescrição em favor de um dos 
credores solidários, só aproveitam os outros se a 
obrigação for indivisível. 
Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente 
poderá ocorrer uma vez, dar-se-á: 
I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que 
ordenar a citação, se o interessado a promover no 
prazo e na forma da lei processual; 
II - por protesto, nas condições do inciso 
antecedente; 
III - por protesto cambial; 
IV - pela apresentação do título de crédito em juízo 
de inventário ou em concurso de credores; 
V - por qualquer ato judicial que constitua em mora 
o devedor; 
VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que 
extrajudicial, que importe reconhecimento do 
direito pelo devedor. 
Parágrafo único. A prescrição interrompida 
recomeça a correr da data do ato que a 
interrompeu, ou do último ato do processo para a 
interromper. 
 
 
 
Art. 203. A prescrição pode ser interrompida por 
qualquer interessado. 
Art. 204. A interrupção da prescrição por um credor 
não aproveita aos outros; semelhantemente, a 
interrupção operada contra o co-devedor, ou seu 
herdeiro, não prejudica aos demais coobrigados. 
§ 1 o A interrupção por um dos credores solidários 
aproveita aos outros; assim como a interrupção 
efetuada contra o devedor solidário envolve os 
demais e seus herdeiros. 
§ 2 o A interrupção operada contra um dos 
herdeiros do devedor solidário não prejudica os 
outros herdeiros ou devedores, senão quando se 
trate de obrigações e direitos indivisíveis. 
§ 3 o A interrupção produzida contra o principal 
devedor prejudica o fiador. 
A REGRA GERAL é que, tanto a PRESCRIÇÃO quanto a DECADÊNCIA, uma vez tendo 
se iniciado o prazo, não há possibilidade de SUSPENSÃO OU INTERRUPÇÃO. 
• SUSPENSÃO: Quando o prazo começa a correr e ocorre algumas dessas causas (art. 
197 a 204), imediatamente suspende-se o prazo. O prazo é interrompido apenas uma 
vez. As causas que acarretam a suspensão, são praticamente subjetivas. 
EX: incapacidade, falta de outorga marital / uxória. 
• IMPEDIMENTO: o prazo nem começa a correr. O prazo só poderá ser interrompido 
uma única vez. As causas de interrupção traduzem um critério objetivo (prática de 
atos jurídicos). 
EX: despacho que ordena a citação, protesto, confissão de dívida. 
 
Atenção!!!! 
 
 
 
Via de regra, à decadência não se aplicam as causas impeditivas, interruptivas ou 
suspensivas da prescrição, EXCETO: 
• Art. 208: Aplica-se à decadência o disposto nos arts. 195 e 198, inciso I. Ou seja, não 
corre decadência contra absolutamente incapazes. Começa a correr a prescrição e a 
decadência quando eles fizerem 16 anos. 
 
 
 
 
 
 
 
• Art. 26, §2° e §3° do Código de defesa do consumidor: quando o consumidor reclama 
de um vício e fica aguardando a resposta do fornecedor, não correm os prazos de 30 
e 90 dias. 
 
 
 
 
 
 
 
Quanto à alegação da decadência, se o direito potestativo decorrer de lei, haverá a 
decadência legal, podendo ser reconhecida de ofício pelo juiz. Não há necessidade de 
citar a parte contrária, tendo em vista que o direito potestativo não exige prestação. 
A decadência legal é irrenunciável. 
Art. 195. Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação contra os seus 
assistentes ou representantes legais, que derem causa à prescrição, ou não a alegarem 
oportunamente. 
Art. 198. Também não corre a prescrição: 
I - contra os incapazes de que trata o art. 3 o ; 
 
Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em: 
 § 2° Obstam a decadência: 
 I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o 
fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser 
transmitida de forma inequívoca; 
 § 3° Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que 
ficar evidenciado o defeito. 
 
 
 
 
Quando a decadência convencional, poderá haver renúncia, não podendo ela ser 
reconhecida de ofício pelo juiz. Deve ser suscitada pela parte que a ela aproveita. A 
decadência convencional pode ser arguida em qualquer grau de jurisdição, assim 
como a prescrição, sempre pela parte a quem aproveita. 
A prescrição é matéria fática, uma vez que os prazos são contados. 
O STJ e o STF podem reconhecer a prescrição, desde que essa se 
encaixe no pré-questionamento. 
Entretanto,as instâncias inferiores precisam ter se manifestado de 
forma expressa a respeito dessas causas extintivas.

Continue navegando