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TÍTULO IV – DA PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA O tempo é um fato jurídico natural de extrema importância para o direito, é através dele que adquirimos e extinguimos direitos e obrigações. Por esse motivo, o estudo da prescrição e decadência é de extrema importância, pois esses dois institutos marcam os prazos de perda de direito e da exigência de uma pretensão. PRESCRIÇÃO: A prescrição é a extinção de uma pretensão (direito subjetivo de exigir, de forma coercitiva, o cumprimento de uma obrigação através da ação), em virtude da inércia de seu titular durante um certo período de tempo determinado por lei. Ou seja, a prescrição define o prazo em que determinada pessoa poderá satisfazer sua pretensão. Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206. Direito subjetivo = São os poderes conferidos pela ordem jurídica a alguém, de agir e/ou exigir de outrem determinado comportamento. É importante destacar, que com a prescrição não há a extinção do direito. O titular dessa pretensão, decorrido o prazo, não terá mais a faculdade de poder exigir o cumprimento do seu direito violado, mas ele ainda existirá. Para facilitar, vejamos o seguinte exemplo: Júlia é credora de Maria, que por sua vez é devedora de Júlia, ocorre que, Maria não pagou sua dívida no prazo estipulado, surgindo assim uma pretensão para Júlia de exigir o pagamento. Entretanto, Júlia não fez isso e correu o prazo prescricional fazendo com que ela não pudesse mais exigir o pagamento por meio de uma ação, mas, após a prescrição, Júlia espontaneamente pagou a dívida à Maria. Sendo assim, se o pagamento foi feito mesmo com a dívida prescrita, Júlia não poderá exigir o valor de volta por isso, é o que diz o art. Art. 882. Não se pode repetir o que se pagou para solver dívida prescrita. Ou seja, o que se afetou com a prescrição foi a PRETENSÃO e não o direito da pessoa. DISPOSIÇÕES GERAIS DA PRESCRIÇÃO: Uma pessoa não pode usar um direito prescrito como defesa: Art. 190. A exceção prescreve no mesmo prazo em que a pretensão. A renúncia da prescrição (desistir de alegar a prescrição da pretensão para seu benefício) não pode ser uma renúncia antecipada, devendo a desistência ser apenas após a consumação da prescrição. Essa renúncia pode ser feita expressamente ou tácita (comportamento da pessoa que indique a renúncia – o pagamento da dívida é um exemplo): Art. 191. A renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita, e só valerá, sendo feita, sem prejuízo de terceiro, depois que a prescrição se consumar; tácita é a renúncia quando se presume de fatos do interessado, incompatíveis com a prescrição. Os prazos prescricionais são estabelecidos APENAS PELA LEI, não podendo as partes estabelecerem ou alterarem entre si: Art. 192. Os prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo das partes. Pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição, não necessariamente com a petição inicial: Art. 193. A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição, pela parte a quem aproveita. Aqueles que são relativamente incapazes e as pessoas jurídicas as quais tiverem obrigações a serem cumpridas que estão correndo prazo, e seus assistentes ou representantes legais derem causa à consumação da prescrição ou não a alegarem quando necessário, os representados/ assistidos têm ação contra os assistentes e representantes que deram causa a isso: Art. 195. Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação contra os seus assistentes ou representantes legais, que derem causa à prescrição, ou não a alegarem oportunamente. A prescrição que foi iniciada o prazo contra elas (aquele deve exercer a pretensão no prazo), continua a contagem com seu sucesso (a exemplo dos herdeiros): Art. 196. A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a correr contra o seu sucessor. CAUSAS QUE IMPEDEM OU SUSPENDEM A PRESCRIÇÃO: A prescrição pode ser IMPEDIDA (não ocorrer prescrição) ou pode ser SUSPENSA (iniciar a contagem do prazo, interromper por causa suspensiva e voltar a contar de onde parou após o fim da suspensão). a) Não ocorre prescrição entre os cônjuges durante o casamento, ou seja, se os cônjuges forem devedores e credores um do outro, não irá correr o prazo prescricional até que essa união de dissolva, dando início a contagem do prazo. I - Entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal; OBSERVAÇÃO: se eram credores e devedores antes do casamento o prazo prescricional será SUSPENSO (será uma causa suspensiva e não impeditiva), pois, o prazo embora tenha iniciado, com o advento do casamento, ele é SUSPENSO e apenas voltará a contar após a dissolução da união conjugal. (ESSA É A CAUSA SUSPENSIVA DA PRESCRIÇÃO) b) Não ocorre entre ascendentes e descendentes durante o poder familiar (aqui aplica-se a mesma regra dos cônjuges) c) Não ocorre entre tutelados e curatelados e seus tutores e curadores, durante a tutela ou curatela (mesma regra acima) d) Não ocorre o prazo prescricional entre os absolutamente incapazes; e) Não ocorre contra os que estão fora do país à serviço público f) Não ocorre para aqueles que estão servindo nas forças armadas, em tempo de guerra g) Quando o cumprimento da obrigação está sob a realização de uma condição suspensiva, começando a contar apenas após a realização desta: I - Pendendo condição suspensiva; h) Não ocorre o prazo enquanto o cumprimento da obrigação não esteja vencido; i) Não ocorre o prazo no caso de haver ação de evicção em curso (quando houve venda de algo que a pessoa não tinha a titularidade para a alienação e a verdadeira titular da coisa aciona o judiciário para reaver a coisa vendida), pois é necessário a definir quem é o verdadeiro titular, não devendo iniciar o prazo prescricional. CAUSAS QUE INTERROMPEM A PRESCRIÇÃO A interrupção da prescrição é a paralização da contagem do prazo, sendo reiniciada (do zero) após cessar a causa interruptiva e apenas poderá ocorrer UMA VEZ, a prescrição pode ser interrompida por QUALQUER INTERESSADO. a) I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual; Nesse caso, a contagem do prazo é interrompida, pois o titular da pretensão propôs a ação, sendo assim, o despacho do juiz que ordena a citação da parte contrária, paralisa o prazo (ainda que a ação tenha sido proposta próximo ao prazo de prescrição, pois o despacho do juiz retroage, contando do dia que deu início à ação pela parte interessada) b) II - por protesto, nas condições do inciso antecedente; O protesto é o instrumento usado quando o credor não é pago por uma dívida que já foi judicialmente determinada e ele exige através do protesto, que interrompe a contagem do prazo prescricional. c) IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores; d) V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; e) VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor. QUANDO HÁ MAIS DE UM DEVEDOR/CREDOR: i. Quando há a interrupção da prescrição por parte de apenas um dos credores, os outros não se aproveitam dessa interrupção, contando o prazo normalmente para eles ii. Quando há mais de um devedor, e para um deles ocorre a interrupção do prazo, os outros devedores não são prejudicados por isso, correndo normalmente para eles Art. 204. A interrupção da prescrição por um credor não aproveita aos outros; semelhantemente, a interrupção operada contra o co-devedor, ou seu herdeiro, não prejudica aos demais coobrigados. iii. Quando os credores são solidários (todos os credores podem exigir a dívida integralmente e repassar para os outros), e o prazo é interrompido para um deles, os outros devedores aproveitam, interrompendo para todosiv. Quando os devedores são solidários (todos os devedores podem ser cobrados pela dívida integral), a interrupção do prazo para um deles, interrompe para todos os outros § 1 o A interrupção por um dos credores solidários aproveita aos outros; assim como a interrupção efetuada contra o devedor solidário envolve os demais e seus herdeiros. v. A interrupção do prazo para um dos herdeiros do devedor solidário, não prejudica os outros herdeiros, correndo o prazo normalmente para eles (exceto se o objeto da dívida não for divisível) § 2 o A interrupção operada contra um dos herdeiros do devedor solidário não prejudica os outros herdeiros ou devedores, senão quando se trate de obrigações e direitos indivisíveis. PRAZOS PRESCRICIONAIS ESTABELECIDOS POR LEI: Todos os prazos prescricionais que não forem fixados de outra forma pela lei, a prescrição ocorrerá em 10 ANOS. Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor. OUTROS PRAZOS ESTABELECIDOS POR LEI: Art. 206. Prescreve: § 1 o Em um ano: a) I - a pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de víveres destinados a consumo no próprio estabelecimento, para o pagamento da hospedagem ou dos alimentos; b) II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado o prazo: a. para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data em que é citado para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro prejudicado, ou da data que a este indeniza, com a anuência do segurador; b. quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão; c) III - a pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça, serventuários judiciais, árbitros e peritos, pela percepção de emolumentos, custas e honorários; d) IV - a pretensão contra os peritos, pela avaliação dos bens que entraram para a formação do capital de sociedade anônima, contado da publicação da ata da assembleia que aprovar o laudo; e) V - a pretensão dos credores não pagos contra os sócios ou acionistas e os liquidantes, contado o prazo da publicação da ata de encerramento da liquidação da sociedade. § 2 o Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se vencerem. § 3 o Em três anos: f) I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos; g) II - a pretensão para receber prestações vencidas de rendas temporárias ou vitalícias; h) III - a pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer prestações acessórias, pagáveis, em períodos não maiores de um ano, com capitalização ou sem ela; i) IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa; j) V - a pretensão de reparação civil; k) VI - a pretensão de restituição dos lucros ou dividendos recebidos de má-fé, correndo o prazo da data em que foi deliberada a distribuição; l) VII - a pretensão contra as pessoas em seguida indicadas por violação da lei ou do estatuto, contado o prazo: a. para os fundadores, da publicação dos atos constitutivos da sociedade anônima; b. para os administradores, ou fiscais, da apresentação, aos sócios, do balanço referente ao exercício em que a violação tenha sido praticada, ou da reunião ou assembleia geral que dela deva tomar conhecimento; c. para os liquidantes, da primeira assembleia semestral posterior à violação; m) VIII - a pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar do vencimento, ressalvadas as disposições de lei especial; n) IX - a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do terceiro prejudicado, no caso de seguro de responsabilidade civil obrigatório. § 4 o Em quatro anos, a pretensão relativa à tutela, a contar da data da aprovação das contas. § 5 o Em cinco anos: o) I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular; p) II - a pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais, curadores e professores pelos seus honorários, contado o prazo da conclusão dos serviços, da cessação dos respectivos contratos ou mandato; q) III - a pretensão do vencedor para haver do vencido o que despendeu em juízo. DECADÊNCIA: Diferentemente da prescrição, a decadência refere-se à perca do direito em si, ou seja: é a extinção do direito, em virtude de seu titular não o exercer no prazo estabelecido em lei ou no prazo combinado pelas partes. É importante destacar, que aqui não há um direito subjetivo característico da pretensão (agir ou exigir de outrem um determinado comportamento), mas sim um direito potestativo. Direito potestativo = Não há uma pretensão exigível pelo titular do direito violado, pois, seu direito é incontroverso devendo a outra parte apenas submeter-se ao seu exercício. Ex: revogação de um mandato. . REGRAS GERAIS DA DECADÊNCIA: 1. A Decadência não está sujeita a interrupção, suspensão ou impedimento, salvo disposição expressa em lei Art. 207. Salvo disposição legal em contrário, não se aplicam à decadência as normas que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição. 2. Assim como na prescrição, a decadência não ocorre contra os absolutamente incapazes e os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação contra seus representantes/assistentes se derem causa à prescrição ou não a alegarem no momento certo Art. 208. Aplica-se à decadência o disposto nos arts. 195 e 198, inciso I: Art. 195. Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação contra os seus assistentes ou representantes legais, que derem causa à prescrição, ou não a alegarem oportunamente. Art. 198. Também não corre a prescrição: I - contra os incapazes de que trata o art. 3 o 3. A decadência fixada por lei não pode ser renunciada 4. O juiz deve reconhecer de ofício (sem ser pedido) a decadência prevista em lei 5. Nos casos da decadência convencional (estabelecida pelas partes) as partes podem alega-la em qualquer grau de jurisdição, mas o juiz não pode alega-la de ofício Para uma melhor visualização do conteúdo, temos então: D IR EI TO SUBJETIVO DIREITO A UMA PRESTAÇÃO DESCUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO (VIOLAÇÃO DO DIREITO) SURGIMENTO DA PRETENSÃO EXTINGUE-SE PELA PRESCRIÇÃO POTESTATIVO AO OUTRO RESTA APENAS ACEITAR, SUBMETER-SE EXERCÍCIO DE PODER DECADÊNCIA Ações condenatórias, pois, pede para o réu fazer algo Ações constitutivas, pois, pede para o juiz constituir uma ação EX: cobrar uma dívida Ex: pedir a anulação de um contrato
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