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APOSTILA DE DIREITO CIVIL 2018-1

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DIREITO CIVIL
NOÇÕES INTRODUTÓRIAS AO DIREITO CIVIL 
CONCEITO DE DIREITO
O homem é um ser eminentemente social. Não vive isolado, mas em grupos. A convivência impõe uma certa ordem, determinada por regras de conduta. Essa ordenação pressupõe a existência de restrições que limitam a atividade dos indivíduos componentes dos diversos grupos sociais. O fim do direito é precisamente determinar regras que permitam aos homens a vida em sociedade.
Em todo tempo, por mais distante que se olhe no passado, em qualquer agrupamento social, por mais rudimentar que seja, sempre se encontrará presente o fenômeno jurídico, representado pela observância de um mínimo de condições existenciais da vida em sociedade. Seja na unidade tribal em estado primitivo, seja na unidade estatal, sempre houve e haverá uma norma, uma regra de conduta pautando a atuação do indivíduo, nas suas relações com os outros indivíduos.
A ordem jurídica tem, assim, como premissa o estabelecimento dessas restrições, a determinação desses limites aos indivíduos, os quais todos indistintamente devem se submeter, para que se torne possível a coexistência social.
Não há um consenso sobre o conceito de direito, mas podemos escolher uma delas segundo a qual o direito “é a norma das ações humanas na vida social, estabelecida por uma organização soberana e imposta coativamente à observância de todos”. 
A palavra “direito” é usada, na acepção comum, para designar o conjunto de regras com que se disciplina a vida em sociedade, regras essas que se caracterizam pelo caráter genérico, concernente à indistinta aplicação a todos os indivíduos, e jurídico, que as diferencia das demais regras de comportamento social e lhes confere eficácia garantida pelo Estado.
O direito é parte integrante da vida diária. 
As referidas normas de conduta encontram-se nas leis, nos costumes, na jurisprudência, nos princípios gerais de direito, constituindo o direito objetivo e positivo, posto na sociedade por uma vontade superior.
Origina-se a palavra “direito” do latim diretcum, significando aquilo que é reto, que está de acordo com a lei. Os jurisconsultos romanos (juristas da antiga Roma) já relacionavam o direito com o que é justo. Da necessidade da justiça nas relações humanas é que nasce o direito.
De outra parte, a criação do direito não tem outro objetivo senão a realização da justiça.
No ensinamento de Aristóteles, a justiça é a perpétua vontade de dar a cada um o que é seu, segundo uma igualdade.
O direito nasceu junto com o homem que, por natureza, é um ser social. As normas de direito, como visto, asseguram as condições de equilíbrio da coexistência dos seres humanos, da vida em sociedade.
DIREITO POSITIVO
Direito Positivo é o conjunto de regras jurídicas em vigor num determinado país e numa determinada época. 
Ordenamento Jurídico = Complexo de normas sociais que organizam a vida social de um povo.
DIREITO OBJETIVO E DIREITO SUBJETIVO
Costuma-se distinguir o direito objetivo do subjetivo.
O direito objetivo (norma agendi) é o complexo de normas jurídicas que regem o comportamento humano, de modo obrigatório, prescrevendo uma sanção no caso de sua violação. Em outras palavras, é a conduta social-padrão regulamentada, o complexo de regras impostas a todos por terem sido valoradas juridicamente como relevantes. 
O direito subjetivo é a faculdade de agir (facultas agendi), é inerente à pessoa, podendo exercitá-lo a qualquer tempo, dependendo só da sua vontade.
O direito subjetivo, para Goffredo Telles Jr., é a permissão dada por meio de norma jurídica, para fazer ou não fazer alguma coisa, para ter ou não ter algo, ou, ainda, a autorização para exigir, por meio dos órgãos competentes do poder público ou por meio de processos legais, em caso de prejuízo causado por violação de norma, o cumprimento da norma infringida ou a reparação do mal sofrido. Por exemplo, são direitos subjetivos as permissões de casar e constituir família; de adotar pessoa como filho; de ter domicílio inviolável; de vender os seus pertences; de usar, gozar e dispor de propriedade; de alugar uma casa sua; de exigir pagamento do que é devido; de mover ação para reparar as conseqüências de ato considerado ilícito.
Infere-se, daí, que são duas as espécies de direito subjetivo:
 
a) o comum da existência, que é a permissão de fazer ou não fazer, de ter ou não ter alguma coisa, sem violação de preceito normativo, e 
b) o de defender direitos, de modo que o lesado pela violação da norma está autorizado por ela a resistir contra a ilegalidade, a fazer cessar o ato ilícito, a reclamar a reparação pelo dano e a processar criminosos, impondo-lhes pena. 
Essas autorizações são permissões concedidas pela coletividade, por meio de normas de garantia, que são as normas jurídicas. 
O direito subjetivo é subjetivo porque as permissões, com base na norma jurídica e em face dos demais membros da sociedade, são próprias das pessoas que as possuem, podendo ser ou não usadas por elas.
DIREITO PÚBLICO E DIREITO PRIVADO
Não há um consenso sobre os traços diferenciadores entre o direito público e o direito privado. Tovadia, costuma-se dizer, sempre, que direito público é o destinado a disciplinar os interesses gerais da coletividade, enquanto o direito privado contém preceitos reguladores das relações dos indivíduos entre si. Mais correto, é afirmar que público é o direito que regula as relações do Estado (país), com outro Estado (país), ou as do Estado (país) com os cidadãos, e privado é o que disciplina as relações entre os indivíduos como tais. O Direito privado é o composto, inteira ou predominantemente, por normas de ordem privada. Prevalece imediatamente o interesse de ordem particular.
Integram hoje, o direito privado: o direito civil, o direito comercial, o direito agrário, o direito marítimo, bem como o direito do trabalho, o direito do consumidor e o direito aeronáutico. Os demais ramos pertencem ao direito público, havendo, entretanto, divergência no tocante ao direito do trabalho, que alguns colocam no elenco do direito privado e outros o consideram integrante também do direito público. 
Normas de ordem pública são normas imperativas, de obrigatoriedade inafastável. Normas de ordem privada são normas de caráter supletivo, que vigoram apenas enquanto a vontade dos interessados não dispuser de modo diferente do previsto pelo legislador.
A punição de homicídio, por exemplo, é inafastável, mesmo havendo a concordância da vítima em não punir o ofensor, por se tratar de norma de ordem pública, prevista no Código Penal. Já a divisão das despesas com a construção de um muro divisório pode ser dispensada, por acordo ou por omissão dos interessados, por se tratar de norma de ordem privada, prevista no art. 1.297, parágrafo primeiro, do Código Civil.
No direito Civil predominam as normas de ordem privada. Não obstante, mesmo no direito civil existem também regras de ordem pública, especialmente no capítulo referente ao direito de família. 
DIREITO CIVIL – CONCEITO E IMPORTÂNCIA
O Direito Civil é o ramo do direito privado que disciplina as relações familiares, patrimoniais e obrigacionais dos particulares entre si. Disciplina a vida das pessoas desde a concepção até a morte, e ainda depois dela, reconhecendo a eficácia post morten do testamento (CC, art. 1.857) e exigindo respeito à memória dos mortos (CC, art. 12, parágrafo único).
Sua lei fundamental é o Código Civil, mas há situações que não estão inseridas nele (leis do inquilinato, do condomínio, etc.).
1) Parte geral – Normas sobre pessoas físicas e jurídicas (arts. 1º a 78), bens (arts. 79 a 103) e fatos jurídicos (arts. 104 a 232);
2) Parte especial – Normas sobre direito das obrigações (arts. 233 a 965), direito de empresa (arts. 966 a 1.195), direito das coisas (arts. 1.196 a 1.510), direito de família (arts. 1.511 a 1.783) e direito das sucessões (arts. 1.784 a 2.027);
3) Disposições finais e transitórias (arts. 2.028 a 2.046).
 
SERPA LOPES o conceitua como um dos ramos do direito privado, “destinado a regulamentaras relações de família e as relações patrimoniais que se formam entre os indivíduos encarados como tal, isto é, tanto quanto membros da sociedade.
No vasto campo do direito privado destaca-se o direito civil como direito comum a todos os homens, no sentido de disciplinar o modo de ser e de agir das pessoas. Costuma-se dizer que o Código Civil é a Constituição do homem comum, por reger as relações mais simples da vida cotidiana, os direitos e deveres das pessoas, na sua qualidade de marido ou mulher, pai ou filho, credor ou devedor, alienante ou adquirente, proprietário ou possuidor, condômino ou vizinho, testador ou herdeiro, etc. Toda a vida social, como se nota, está impregnada do direito civil, que regula as ocorrências do dia-a-dia.
No direito civil estudam-se as relações puramente pessoais, bem como as patrimoniais. No campo das rações puramente pessoais encontram-se importantes institutos, como o poder familiar, por exemplo; no das relações patrimoniais, todas as que apresentam um interesse econômico e visam à utilização de determinados bens.
Ele disciplina a capacidade, a personalidade, o domicílio, os bens, as obrigações, os contratos, a compra e venda, o casamento, a dissolução do vínculo matrimonial, a cessão de direitos, a assunção de dívidas, o pagamento, o mandato, títulos de crédito, a hipoteca, a propriedade (aquisição e perda), direito de família, direito patrimonial, herança, testamento, etc.).
Devido a complexidade e ao enorme desenvolvimento das relações da vida civil que o legislador é chamado a disciplinar, não é mais possível enfeixar o direito civil no respectivo código. Muitos direitos e obrigações concernentes às pessoas, aos bens e suas relações encontram-se regulados em leis extravagantes, que não deixam de pertencer ao direito civil, bem como na própria Constituição Federal. É ele, portanto, bem mais do que um dos ramos do direito privado, pois encerra os princípios de aplicação generalizada, que se projetam em todo o arcabouço jurídico, e não restrita à matéria cível. Nele se situam normas gerais, como as de hermenêutica, as relativas à prova e aos defeitos dos negócios jurídicos, as concernentes à prescrição e a decadência etc., institutos comuns a todos os ramos de direito. 
O direito civil trata-se de um direito comum a todas as pessoas, independentemente de suas condições sociais, culturais ou profissionais, e rege as relações mais simples da vida cotidiana.
UTILIDADE DA CODIFICAÇÃO
A utilidade da codificação consiste em reunir em texto único e conexo todo o direito em vigor. Trata-se da criação de um código. É a forma de uniformizar um direito. Cada época histórica tem seu próprio momento para determinadas realizações. As codificações, portanto, só surgem quando o Direito de um povo se encontra devidamente amadurecido. Poucas são as gerações de operadores de Direito que conviveram com o nascimento ou a substituição de códigos, como aconteceu recentemente com o código civil de 2002, entre nós. 
Obs.: Código é o complexo de normas integrantes do Direito Positivo e que dizem respeito a determinada matéria.
HISTÓRIA DA CODIFICAÇÃO BRASILEIRA
O CÓDIGO CIVIL DE 1916
No período colonial (1500 a 1822) vigoravam no Brasil as Ordenações Filipinas – Ordenações e Leis do Reino de Portugal (reunião de textos legislativos portugueses). Mesmo com a independência ocorrida em 1822, a legislação Portuguesa continuou sendo aplicada entre nós, subsidiariamente, mas com a ressalva de que vigoraria até que se elaborasse o Código Civil. 
Muitas foram as tentativas de elaboração de um código civil, sendo que em 1865 essa tarefa foi confiada a Teixeira de Freitas, que já havia apresentado, em 1858, um trabalho de consolidação das leis civis. O projeto então elaborado, denominado “Esboço do Código Civil”, continha cinco mil artigos e acabou não sendo acolhido, após sofrer críticas da comissão revisora.
Várias outras tentativas foram feitas, mas somente após a Proclamação da República (15/11/1889), com a indicação de Clovis Beviláqua, foi o projeto de Código Civil por ele elaborado, depois de revisto, encaminhado ao Presidente da República, que o remeteu ao Congresso Nacional, em 1900. 
Pouco antes, Coelho Rodrigues havia sido escolhido para o encargo e apresentara um projeto de incontestável merecimento, em condições de se converter em lei, mas que não obteve as boas graças do Legislativo, onde não teve andamento. 
Clovis Beviláqua foi então convidado para esse mister, com a recomendação de aproveitar, tanto quanto possível, o projeto Coelho Rodrigues. Desse modo, foi possível desincumbir-se da difícil tarefa em pouco mais de seis meses.
Na Câmara dos Deputados o projeto Beviláqua sofreu algumas alterações determinadas por uma comissão especialmente para examiná-lo, merecendo, no Senado, longo parecer de Rui Barbosa. Aprovado em janeiro de 1916, entrou em vigor em 1º de Janeiro de 1917. 
 
O CÓDIGO CIVIL DE 2002
Após algumas tentativas frustradas de promover a revisão do Código Civil, o governo nomeou, em 1967, nova comissão de juristas, sob a supervisão de Miguel Reale.
Esta comissão apresentou, em 1972, um anteprojeto, com a disposição de preservar, no que fosse possível, e no aspecto geral, a estrutura e as disposições do código de 1916, mas reformulando-o no âmbito especial, com base nos valores éticos e sociais revelados pela experiência legislativa e jurisprudencial. 
Enviado ao Congresso Nacional, transformou-se no Projeto de Lei nº 634/75. Finalmente, no limiar deste novo século foi aprovado, tornando-se o novo Código Civil Brasileiro (Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002).
A demorada tramitação fez com que fosse atropelado por leis especiais modernas e pela própria Constituição, como já foi dito, especialmente do direito de família, já estando a merecer, por isso, uma reestruturação. Por essa razão, o novo Código Civil vem sofrendo alterações. 
CONSIDERAÇÕES SOBRE A LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO (Decreto-Lei 4.657, de 04 de setembro de 1942 – Ementa com redação dada pela Lei 12.376, de 30.12.2010)
A Lei de Introdução às normas de direito brasileiro, anteriormente denominada lei de introdução ao código civil, é uma lei de introdução ao direito como um todo, com normas gerais sobre aplicação do direito e sobre o direito internacional e privado.
É um conjunto de normas sobre normas, visto que disciplina as próprias normas jurídicas, determinando o seu modo de aplicação e entendimento, no tempo e no espaço. Dirige-se a todos os ramos de direito, salvo naquilo que for regulado de forma diferente na legislação específica.
A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro é pois, um conjunto de normas sobre normas, constituindo um direito sobre direito, um superdireito, um direito coordenador de direito, regendo não as relações de vida, mas sim as normas, já que indica como interpretá-las e aplicá-las.
A primeira lei de Introdução ao Código Civil foi aprovada em 1916, juntamente com o Código Civil de 1916. Daí o nome que ela tomou.
Posteriormente, ela foi substituída pelo Decreto-Lei nº. 4.657/42, que está ainda em vigor, recebendo nova denominação de Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro (Lei 12.376, de 30/12/2010). 
Por ocasião da aprovação do novo Código Civil, nem sequer se cogitou da substituição da Lei de Introdução, justamente por estar pacificado o entendimento de que esta lei não tem ligação estrita com o direito civil, mas com todos os ramos do direito.
A palavra lei, provém do latim Lex, palavra originada do verbo legere, ler, porque o texto escrito da lei era lido ao povo pelo magistrado romano, durante os comícios para sua aprovação.
Trata-se de norma jurídica escrita, emanada de órgão competente do Estado, com caráter de generalidade e obrigatoriedade. De fato, é uma norma, uma ordem, uma regra geral de conduta, um preceito (ou um conjunto destes). É jurídica, isto é, relacionada com o justo, com a justiça. É escrita, no sentido de que é decretada, sancionada,promulgada por escrito e só a partir de sua publicação no órgão oficial se torna obrigatória.
Características: 
a) Generalidade: dirige-se a todos os cidadãos, indistintamente. O seu comando é abstrato, não podendo ser endereçada a determinada pessoa;
 
b) Imperatividade: impõe um dever. A lei é uma ordem, um comando. Quando exige uma ação, impõe; quando quer uma abstenção, proíbe;
 
c) Autorizamento: Autoriza que o lesado pela violação exija o cumprimento dela ou a reparação pelo mal causado;
 
d) Permanência: A lei não exaure numa só aplicação, pois deve perdurar até ser revogada por outra lei, a não ser que se trate de leis temporárias, destinadas a viger apenas durante certo período, como as que constam das disposições transitórias e orçamentárias. 
A lei é levada ao conhecimento de todos por meio de sua publicação no Diário Oficial. Publicada a lei, ninguém se escusa de cumpri-la, alegando que não a conhece. Sua força é obrigatória, todavia, está condicionada à sua vigência, ou seja, ao dia em que começa a vigorar.
As próprias leis costumam indicar a data em que entrarão em vigor. Mas se uma lei nada dispuser a respeito, entrará ela em vigor, no território nacional, 45 dias após a sua publicação.
O espaço de tempo compreendido entre a publicação da lei e a sua entrada em vigor, denomina-se vacatio legis (a “vancância da lei”). Serve para que todos se adaptem à nova lei, sendo que esse período varia de acordo com a vontade do legislador, tendo em consideração a complexidade de lei expedida. 
O período de vacatio legis previsto no art. 1º. (45 dias) pode ser aumentado ou diminuído pela lei, conforme a sua importância, a sua extensão, a necessidade de ampla divulgação etc. Para exemplificar, o novo Código Civil (Lei nº.10.406/02), teve sua vacatio legis fixada em um ano (art. 2.044).
Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo de vacatio legis começará a correr da nova publicação.
 
As correções a texto de lei já em vigor são consideradas nova lei.
Como regra, a lei vigorará até que outra a modifique ou revogue. Excepcionalmente, pode-se ter lei de vigência temporária, ou seja, pode ser que a própria lei estipule o termo de sua vigência. Neste caso, expirado o prazo, não será necessária nova lei para revogá-la, cessando sua vigência ipso jure (ipso jure = pelo próprio direito).
Revogação é a supressão da força obrigatória da lei, retirando-lhe a eficácia. O ato de revogar consiste em tornar sem efeito uma norma, retirando-lhe a obrigatoriedade.
A revogação da lei pode ser expressa ou tácita. Será expressa se a lei posterior declarar claramente a revogação; será tácita, quando a nova lei for incompatível com a anterior, ou quando a nova lei regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. Exemplo deste último caso temos na revogação das Leis nºs. 8.971/94 e 9.278/96 pelo novo Código Civil. A matéria da união estável foi inteiramente regulada pelo novo Código. Embora as citadas leis não tenham sido por este revogadas expressamente, foram-no tacitamente, por ter a matéria de que tratavam aquela lei sido inteiramente regulada pelo novo Código.
Como regra, dissemos, a lei posterior revoga a anterior. Entretanto, há que se atentar para o critério da especialidade, segundo o qual a lei geral posterior não revoga tacitamente a lei anterior especial. Exemplo disso temos no Decreto-Lei nº. 3.200/41 (chamado de Lei de Proteção à Família), que regula exceção ao impedimento para casamento entre colaterais em 3º. grau (tio e sobrinho), sendo considerado lei especial em relação ao novo Código, que, como regra geral, proíbe o casamento nesse nível de parentesco.
	
				DECRETO-LEI Nº 3.200, DE 19 DE ABRIL DE 1941.
 			
			Dispõe sobre a organização e proteção da família 
O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o art. 180 da Constituição, decreta:
CAPÍTULO I
Do Casamento de Colaterais do Terceiro Grau
Art. 1º O casamento de colaterais, legítimos ou ilegítimos do terceiro grau, é permitido nos termos do presente decreto-lei.
Art. 2º Os colaterais do terceiro grau, que pretendam casar-se, ou seus representantes legais, se forem menores, requererão ao juiz competente para a habilitação que nomeie dois médicos de reconhecida capacidade, isentos de suspensão, para examiná-los e atestar-lhes a sanidade, afirmando não haver inconveniente, sob o ponto de vista da sanidade, afirmando não haver inconveniente, sob o ponto de vista da saúde de qualquer deles e da prole, na realização do matrimônio.
§ 1º Se os dois médicos divergirem quanto a conveniência do matrimônio, poderão os nubentes, conjuntamente, requerer ao juiz que nomeie terceiro, como desempatador.
§ 2º Sempre que, a critério do juiz, não for possível a nomeação de dois médicos idôneos, poderá ele incumbir do exame um só médico, cujo parecer será conclusivo.
§ 3º O exame médico será feito extrajudicialmente, sem qualquer formalidade, mediante simples apresentação do requerimento despachado pelo juiz.
Em princípio, não há repristinação de leis. Ou seja, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a sua vigência. Se, v.g., a lei A foi revogada pela lei B, sendo esta posteriormente revogada pela lei C, a lei A não volta a vigorar. É possível, contudo, a repristinação expressa, ou seja, a lei C, ao revogar a lei B, pode declarar expressamente que a lei A volta a viger.
Como regra, a lei em vigor tem efeito imediato e geral. Mas deve ela respeitar o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. Trata-se de comando constitucional que a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada (art. 5º., inciso XXXVI, da Constituição Federal). 
Ato jurídico perfeito é o ato já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou, produzindo seus efeitos jurídicos, uma vez que o direito gerado já foi exercido. Assim, v.g. (verbi gratia = por exemplo) , um contrato celebrado e cumprido na vigência da lei anterior não pode ser afetado por nova lei. 
Direito adquirido é o que já se incorporou definitivamente ao patrimônio e a personalidade de seu titular, não podendo lei nem fato posterior alterar tal situação jurídica. Assim, se, v.g., a pessoa já completou o tempo necessário para se aposentar de acordo com a lei então em vigor, a alteração desta lei, aumentando o tempo necessário, não pode atingi-la. 
Coisa julgada é a qualidade da sentença que a torna imutável, por já não caber recurso.
APLICAÇÃO E DESCONHECIMENTO DA LEI
Ao aplicar a lei, o Juiz deve atender aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum (art. 5º. da Lei de Introdução).
O direito, na qualidade de fenômeno cultural, exprime os valores de determinada sociedade, em determinada época. Diante de vários valores possíveis, o direito elege, por meio de órgãos competentes para tal escolha, aqueles valores que quer ver protegidos, respeitados pelos membros do grupo social, inclusive pelos juízes no processo de aplicação da norma jurídica.
Os valores jurídicos fundamentais são aqueles dos quais depende todo o sistema (segurança jurídica, fins sociais, justiça e bem comum). Valem-se de outros valores consequentes para a sua perfeita realização (liberdade, igualdade, paz social) e se desenvolvem por meio de garantias instrumentais postas pela sociedade para a perfeita realização dos valores que a fundamentam. 
Estabelece o art. 3º. da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro o princípio de que ninguém pode alegar o desconhecimento da lei. Uma vez publicada e transcorrido o período de vacatio legis, a lei entra em vigor e vincula a todos. Sua força coercitiva, por isso que ela é um preceito geral, prende a todos; ninguém pode fugir de cumpri-la, ainda que ignorando sua existência. O legislador presume, de maneira irrefragável, que todas as pessoas conhecem a lei.
Na prática, contudo, tal princípio está completamente divorciado da realidade. Tendo em vista a proliferaçãolegislativa, com edição diária de diversos textos legais (sem contar medidas provisórias, decretos etc.), fica cada vez mais difícil que o cidadão comum (e muitas vezes até mesmo o profissional do direito) conheça todas as leis.
Mas o preceito é uma imposição de ordem jurídica, sem a qual a vida em sociedade seria impossível. Se inexistisse o dispositivo, qualquer pessoa poderia furtar-se de cumprir a lei sob o pretexto de a desconhecer. E isso afetaria a própria estrutura da sociedade, cuja sobrevivência está condicionada ao império da ordem jurídica. Daí o surgimento da ficção jurídica de que todos devem conhecer a lei.
Por isso, como a lei pretende a todos vincular e de todos exigir obediência, ela presume que cada um a conheça, não admitindo a alegação de sua ignorância. 
DA APLICAÇÃO DO DIREITO E DAS LACUNAS DA LEI
Para resolver os casos que lhe são apresentados, o juiz procura, dentro da sistemática do direito, a lei que se deve aplicar à hipótese sub judice (está com o juiz para ser decidida). Essa é uma função do Estado, de que ele se desincumbe por meio do Poder Judiciário.
Tal operação consiste, em transferir para um caso particular e concreto a decisão que se encontra na regra abstrata. Esta é a premissa maior de um silogismo, e, partindo dela, o juiz aplicará a lei ao caso concreto. Por exemplo: o Código Civil determina que na sucessão legítima os descendentes herdam em primeiro lugar; ora, João é filho de Paulo, de sorte que, morto Paulo, João é seu herdeiro.
*silogismo: raciocínio composto de três preposições que se dispõem de tal sorte que a terceira delas, a conclusão, deriva logicamente das duas primeiras ditas premissas maior e menor. Ex: Todos os homens desta cidade são valentes (premissa maior); A é um homem desta cidade (premissa menor); Logo A é um homem valente.
 
Por vezes, entretanto, o juiz não encontra na legislação escrita uma norma a aplicar ao caso concreto. Poderá ele recusar-se a decidir sob tal pretexto? Evidentemente não, sob pena de conturbar-se a ordem social. Compete ao Estado, através do Poder Judiciário, solucionar os conflitos entre os particulares, e a esse mister não poderá fugir.
Quando a lei é omissa sobre algum problema, ou solução de alguma relação jurídica, diz-se que há uma lacuna da lei. Esta é inevitável em qualquer ordenamento jurídico, porque o legislador, por mais sagaz que seja, não pode prever todos os casos capazes de aparecer nas relações entre os indivíduos. E, mesmo que antevisse todas as relações jurídicas presentes, não teria o dom de prever casos que o progresso trará. 
Não havendo regra jurídica aplicável ao caso concreto, não se pode furtar o juiz de decidir o conflito de interesses que se propõe entre os particulares. Como proceder? 
O art. 4º da Lei de Introdução ao Código às Normas do Direito Brasileiro determina:
 
“Art. 4º - Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso concreto de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito”.
No silêncio da lei, portanto, deve o julgador, na ordem mencionada, lançar mão desses recursos, para não deixar insolvida a demanda.
Julgar por analogia significa aplicar às hipóteses semelhantes as soluções oferecidas pelo legislador para os casos análogos. A analogia baseia-se na idéia de que, se a lei disciplina de determinada maneira uma relação jurídica, deve, por igual razão, disciplinar do mesmo modo uma outra relação semelhante. Por exemplo: o decreto nº 2.682, de 7 de dezembro de 1912, é sempre mencionado como interessante exemplo de aplicação da analogia. Destinado a regulamentar a responsabilidade das companhias de estradas de ferro por danos causados a passageiros e bagagens, passou a ser aplicado, por analogia, a todas as espécies de transportes terrestres (bonde, metrô, ônibus e até em acidentes ocorridos em elevadores), à falta de legislação específica. Hoje a atividade de transporte em geral é regida pelo Código de Defesa do Consumidor.
Não encontrando a solução para o litígio apresentado, nem a descobrindo por analogia, deve o juiz recorrer aos costumes. 
O costume é, também, fonte supletiva do nosso sistema jurídico, porém está colocado em plano secundário, em relação a lei. O juiz só pode recorrer a ele depois de esgotadas as possibilidades de suprir a lacuna pelo emprego da analogia. Daí dizer-se que o costume se caracteriza como fonte subsidiária ou fonte supletiva.
Costume, a rigor, é o comportamento que se repete no tempo. Há o costume quando as pessoas adquirem um hábito comportamental duradouro, praticando espontaneamente a conduta. Torna-se uma fonte do direito quando podemos extrair, do comportamento, uma norma que seja considerada válida pelo ordenamento jurídico.
Um exemplo: embora as pessoas, no geral, antes de saírem de suas residências, escolham o tipo de roupa a usar, ninguém cogita de sair às ruas sem roupa. Ora, andar vestido em espaços públicos é um comportamento costumeiro. Podemos, desse comportamento, extrair a norma: é obrigatório estar vestido em público (ou: é proibido ficar nu em público). Tal norma costumeira pode ser considerada jurídica, pois corresponde aos dizeres das normas legislativas.
É importante reforçar, novamente, que o costume é um comportamento; dele podemos extrair normas, jurídicas ou não. Se a norma que extraímos do costume é aceita pelo ordenamento, será jurídica; do contrário, será antijurídica. O costume, assim, não é uma fonte positiva do direito. Não há uma autoridade pessoal que o cria por meio de decisão: ninguém decide criar uma norma costumeira; ela simplesmente deriva dos comportamentos repetidos. Esses comportamentos ocorrem de modo espontâneo na sociedade.
Outros Exemplos: Emissão de cheque pré-datado e fazer fila em um local onde há um número grande de pessoas para um único atendente. Considera-se a fila uma forma de organização, mesmo não estando prevista em lei.
Se o juiz não encontrar na lei a solução para o caso que lhe é submetido; se não encontrar remédio na analogia, nem nos costumes, deve recorrer aos princípios gerais de direito.
Princípios gerais de direito são critérios existentes em cada ramo de direito e percebidos por indução. Assim, no direito do trabalho, um princípio geral é a proteção do trabalhador. Na dúvida, portanto, deve o juiz trabalhista decidir a favor do obreiro. No direito penal, um exemplo é a regra de que não há crime nem pena sem lei anterior que o defina e a estabeleça. No direito processual, temos os princípios do contraditório, do duplo grau de jurisdição, da sucumbência, etc. 
A equidade não se constitui meio supletivo de lacuna da lei, sendo mero recurso auxiliar da aplicação desta. Prescreve o art. 140 do Código de Processo Civil que o “juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei”. Isto ocorre geralmente nos casos de conceitos vagos ou quando a lei formula várias alternativas e deixa a escolha a critério do juiz. Como exemplo pode ser citado o art. 1.586 do Código Civil, que autoriza o juiz a regular de maneira diferente dos critérios legais a situação dos filhos em relação aos pais, se houver motivos graves e a bem do menor. A equidade está ínsita no art. 5º da Lei de Introdução às normas do Direito Brsileiro, quando este recomenda ao juiz que atenda, ao aplicar a lei, aos fins sociais a que ela de destina, adequando-a às exigências oriundas das mutações sociais, e às exigências do bem comum. 
Também na situação prevista no parágrafo único do art. 944 do Código Civil, poderá o juiz decidir por equidade.
APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS 
As leis são genéricas e impessoais e contêm um comando abstrato, não se referindo especificamente a casos concretos. A composição dos conflitos, baseada na lei, é na realidade um *silogismo, em virtude do qual se aplica a norma geral e prévia a um caso concreto. A premissa maior é a norma jurídica, regulando uma situação abstrata, e a premissa menor é o caso concreto. A conclusão é a sentença judicial que aplica a norma abstrata ao caso concreto. 
*silogismo:raciocínio composto de três preposições que se dispõem de tal sorte que a terceira delas, a conclusão, deriva logicamente das duas primeiras ditas premissas maior e menor.
 
Quando o fato é típico e se enquadra perfeitamente no conceito abstrato da norma, dá-se o fenômeno da subsunção. Para verificar se a norma é aplicável ao caso em julgamento (subsunção), o juiz procura descobrir o sentido da norma, interpretando-a.
Interpretar é descobrir o sentido e o alcance da norma jurídica. Toda lei está sujeita a interpretação, não apenas as obscuras e ambíguas.
A hermenêutica é a ciência da interpretação das Leis. 
Interpretação autentica ou legislativa é a feita pelo próprio legislador, por outro ato. Este, reconhecendo a ambigüidade da norma, vota uma nova lei, destinada a esclarecer a sua intenção. Vale observar que se trata de fato não muito comum. Nesse caso, a lei interpretativa é considerada como a própria lei interpretada.
Interpretação jurisprudencial ou judicial é a fixada pelos tribunais. Embora não tenha força vinculante, influencia grandemente os julgamentos nas instâncias inferiores. As súmulas vinculantes eram preconizadas como uma forma de reduzir a avalanche de processos que sobrecarrega os tribunais do País e acarreta a demora dos julgamentos. Atendendo a esses reclamos, a Lei nº 11.417, de 19 de dezembro de 2006, que regulamentou o art. 103-A da Constituição Federal e alterou a lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999, disciplinou a edição, revisão e o cancelamento de enunciado de súmula vinculante pelo Supremo Tribunal Federal. 
Interpretação doutrinária é a feita pelos estudiosos e comentaristas do direito: os jurisconsultos. É um método importante porque, publicada uma lei ou entrado em vigor um Código, os doutrinadores estudam e analisam o seu texto, à luz dos conceitos inspiradores da norma, para que os operadores do direito, especialmente os advogados, juízes e promotores, possam entender o seu sentido e alcance e melhor aplicá-la em suas atividades.
CONFLITO DAS LEIS NO TEMPO
As leis são elaboradas para, em regra, valer para o futuro. Quando a lei é modificada por outra e já se haviam formado relações jurídicas na vigência da lei anterior, pode instaurar o conflito das leis no tempo. A dúvida dirá respeito à aplicação ou não da lei nova às situações anteriormente constituídas.
Para solucionar tal questão, são utilizados dois critérios: o das disposições transitórias e o da irretroatividade das normas.
Disposições transitórias são elaboradas pelo legislador, no próprio texto normativo, destinadas a evitar e a solucionar conflitos que poderão emergir do confronto da nova lei com a antiga, tendo vigência temporária. 
O código civil de 2002, por exemplo, no livro complementar “das disposições finais e transitórias”, contém vários dispositivos com esse objetivo, sendo de se destacar o art. 2.028 que regula a contagem dos prazos quando reduzidos pelo novo diploma. 
Irretroativa é a lei que não se aplica às situações constituídas anteriormente. É um princípio que objetiva assegurar a certeza, a segurança e a estabilidade do ordenamento jurídico-positivo, preservando as situações consolidadas em que o interesse individual prevalece. 
A Constituição Federal de 1988 (art. 5º, XXXVI) e a Lei de Introdução ao Código Civil, adotaram, com efeito, o princípio da irretroatividade das leis, como regra, e o da retroatividade como exceção. Assim, como regra, aplica-se a lei nova aos casos pendentes e aos futuros, só podendo ser retroativa, para atingir fatos consumados, pretéritos, quando: a) não ofender o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada; b) quando o legislador, expressamente, mandar aplicá-la a casos pretéritos, mesmo que a palavra “retroatividade”, não seja usada.
EFICÁCIA DA LEI NO ESPAÇO 
Em razão da soberania estatal, a norma tem aplicação dentro do território delimitado pelas fronteiras do Estado. Este princípio da territorialidade, entretanto, não é absoluto. Muitas vezes, dentro dos limites territoriais de um Estado, surge a necessidade de regular relação entre nacionais e estrangeiros. Essa realidade levou o Estado a permitir que a lei estrangeira, em determinadas hipóteses, tenha eficácia em seu território, sem comprometer a soberania nacional, admitindo assim o sistema da extraterritorialidade. 
Pelo sistema da territorialidade, a norma jurídica aplica-se no território do Estado, estendendo-se às embaixadas, consulados, navios de guerra onde quer se encontrem, navios mercantes em águas territoriais ou em alto-mar, navios estrangeiros (menos os de guerra em águas territoriais), aeronaves no espaço aéreo do Estado e barcos de guerra onde quer que se encontrem.
Pela extraterritorialidade, a norma é aplicada em território de outro Estado, segundo os princípios e convenções internacionais. Estabelece-se um privilégio pelo qual certas pessoas escapam à jurisdição do Estado em cujo território se achem, submetendo apenas à jurisdição do seu país. A norma estrangeira passa a integrar momentaneamente o direito nacional, para solucionar determinado caso submetido à apreciação.
Denomina-se estatuto pessoal a situação jurídica que rege o estrangeiro pelas leis de seu país de origem. Baseia-se ele na lei da nacionalidade ou na lei do domicílio. Dispõe, com efeito, o art. 7º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro: “As leis do país em que for domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família”.
Verifica-se que, pela atual Lei de Introdução, o estatuto pessoal funda-se na lei do domicílio, na lei do país ode a pessoa é domiciliada (STF, Súmula 381), ao contrário da anterior que se baseava na nacionalidade. Em determinados casos, o juiz aplicará o direito alienígena (estrangeiro), em vez do direito interno. Por exemplo, se uma brasileira e um estrangeiro residente em seu país pretenderem casar-se no Brasil, tendo ambos vinte anos de idade, e a lei do país de origem do noivo exigir o consentimento dos pais para o casamento de menores de vinte e dois anos, como acontece na Argentina, precisará ele exibir tal autorização, por aplicar-se no Brasil a lei de seu domicílio. No entanto, dispensável será tal autorização se o noivo estrangeiro aqui tiver domicílio. Aplicar-se-á a lei brasileira, porque o casamento realizar-se-á no Brasil e o estrangeiro encontra-se aqui domiciliado. 
PESSOAS NATURAIS
A PESSOA
Pessoa natural é o ser humano, a criatura que provenha da mulher. Pessoa natural é o nome que o Código Civil utilizou para denominar os seres humanos em sua forma individualizada. Às vezes utiliza o termo “pessoa física” como sinônimo de pessoa natural. 
DA PERSONALIDADE E CAPACIDADE
Todo ser humano tem capacidade para ser titular de direitos e deveres. É o que proclama a regra do art. 1º do Código Civil:
Dispõe o artigo 1º do Código Civil:
		
Art. 1º - Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem Civil.
Capacidade é a aptidão para adquirir direitos e exercer, por si ou por outrem, os atos da vida civil.
MOMENTO DA AQUISIÇÃO DA PERSONALIDADE E A QUESTÃO DO NASCITURO
Dispõe o art. 2º, do Código Civil:
“A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.”
 No texto acima, observa-se uma redundância na expressão “nascimento com vida”: o ato de nascer já pressuporia a existência da vida, pois um feto morto não nasce, é apenas expelido. De qualquer modo, tal redundância releva o intuito do legislador de enfatizar a vida como critério para a aquisição da personalidade jurídica.
Verificamos o nascimento com vida por meio da respiração. Se comprovarmos que a criança respirou, então houve nascimento com vida, Nesse campo, o Direito se vale dos ensinamentos da medicina.
Nosso estatuto contentou-se, portanto, com o nascimento com vida. Não exige que a vida seja viável.
Dá-se o nascimento com a positiva separação da criança das vísceras maternas,pouco importando que isso decorra de operação natural ou artificial. A prova inequívoca de o ser ter respirado pertence à medicina.
Se a criança nascer com vida e logo após vier a falecer, será considerada sujeito de direitos. Por breve espaço de tempo houve personalidade. Tal prova, portanto, é importante, mormente para o direito sucessório, pois a partir desse fato o ser pode receber herança e transmiti-la a seus sucessores.
O nascimento com vida reclama prova técnica (docimásia hidrostática, laudo pericial, etc.), ou, pelo mínimo, prova testemunhal segura que ateste a ocorrência de movimentos, sons, respiração ou outros sinais inequívocos. Tal prova pode ser colhida junto a médicos, enfermeiros e demais profissionais com aptidão na área da saúde.
 DOCIMÁSIA HIDROSTÁTICA DE GALENO
A palavra docimásia tem origem no grego dokimasia e no francês docimasie (experiência, prova).
Trata-se de medida pericial, de caráter médico-legal, aplicada com a finalidade de verificar se uma criança nasceu viva ou morta e, portanto, se chegou a respirar.
 
Após a respiração o feto tem os pulmões cheios de ar e quando colocados numa vasilhame com água, flutuam; não acontecendo o mesmo com os pulmões que não respiram. Se afundarem, é porque não houve respiração; se não afundarem é porque houve respiração e, conseqüentemente, vida. Daí, a denominação docimásia pulmonar hidrostática de Galeno.
 
No âmbito jurídico a docimásia é relevante porque contribui para a determinação do momento da morte, pois se a pessoa vem à luz viva ou morta, as conseqüências jurídicas serão diferentes em cada caso. Exemplos: Quando um homem, ao morrer, deixa a namorada grávida e a criança vêm à luz morta, o patrimônio do de cujus transmitir-se-á aos herdeiros deste, que poderão ser seus genitores.
Se, por outro lado, a criança nascer viva e morrer imediatamente após o nascimento, o patrimônio do pai passará aos seus herdeiros, no caso, a mãe da criança.
		
		Vide art. 1.829 do CC.
DOCIMÁSIA HIDROSTÁTICA DE GALENO
 	
Baseia-se na densidade pulmonar.
 
O pulmão que ainda não respirou possui densidade maior que água, de forma contrária ao que respirou, que possui densidade menor.
 
Prova em 4 fases:
 
 
Fase 1
Coloca-se em água, o bloco do sistema respiratório (pulmões, traquéia e laringe).
 
Se flutua – resposta positiva (respirou), possui ar nos pulmões
Se afunda – continua-se com o exame, fase seguinte.
 
 
Fase 2
Separam-se os pulmões do restante do trato respiratório no fundo do recipiente.
 
Se flutua – resposta positiva (respirou), possui ar nos pulmões.
Se mantêm no fundo – continua-se com o exame, fase seguinte.
 
  
Fase 3
Fragmenta-se o pulmão dentro do recipiente
 
Se flutua – resposta positiva (respirou), possui ar nos pulmões.
Se mantêm no fundo – continua-se com o exame, fase seguinte.
   
 
Fase 4
Esmaga-se entre os dedos fragmentos que estão no fundo.
 
Se soltam bolhas – resposta positiva.
Se não soltam bolhas – negativo.
 
 
RESULTADOS DA PROVA DE GALENO
 
Fases 1,2 e 3 positivas = houve respiração = nasceu com vida
 
Fase 4 – positiva = duvidosa.
 
Fase 4 – negativa = não houve respiração.
 
Validade somente nas primeiras 24 horas após a morte. Invalidade após, devido a putrefação cadavérica.
 	
 
VIABILIDADE E FORMA HUMANA
A viabilidade do recém-nascido ou a forma física humana são desnecessárias para a determinação do início da personalidade, bastando que haja sobrevivência, por um momento que seja. 
NASCITURO
O nascituro é o ser já concebido, que está para nascer. O Código Civil protege as expectativas de direito do nascituro, que se confirmam se houver nascimento com vida, ou se desmentem, como se nunca tivesse existido, no caso contrário. Assim, o nascituro é herdeiro, pode receber doações e legado, pode ser adotado, reconhecido e legitimado. Pode agir através de seu curador (art. 1.779 CC). Pode figurar como sujeito ativo e passivo de obrigações. A eficácia de tudo, porém, fica na dependência do nascimento com vida.
INCAPACIDADES
 
CAPACIDADE DE DIREITO E DE FATO
Todo o ser humano, desde o seu nascimento até sua morte, tem capacidade para ser titular de direitos e obrigações na ordem civil. Mas isso não significa que todos possam exercer, pessoalmente, tais direitos.
A lei, tendo em vista a idade, a saúde ou o desenvolvimento intelectual de determinadas pessoas, com o intuito de protegê-las, não lhes permite o exercício pessoal dos direitos. 
Assim, embora lhes conferindo a prerrogativa de serem titulares de direitos, nega-lhes a possibilidade de pessoalmente os exercerem. Classifica tais pessoas como incapazes.
Portanto, incapacidade é o reconhecimento da inexistência numa pessoa, daqueles requisitos que a lei acha indispensáveis para que ela exerça os seus direitos.
De modo que mister se faz distinguir a capacidade de direito, ou seja, a de ser titular de direitos, da capacidade de exercício, isto é, a de pessoalmente atuar na órbita do direito.
Capacidade de direito é um atributo inerente à condição humana, consistindo na prerrogativa de adquirir direitos e assumir obrigações.
Capacidade de Exercício ou de fato é a aptidão para o exercício dos direitos pelo sujeito mesmo, sem a necessidade de representação, estando relacionada à idade, saúde e às condições mentais. 
 
INCAPACIDADE ABSOLUTA
Reza o artigo 3º do Código Civil:
Art. 3º - São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis anos).
		
A incapacidade é definida como a imposição legal de restrições ao exercício pessoal da vida civil. Refere-se à capacidade de fato ou de atuação, pois a capacidade de direito deriva só pela razão da aquisição da personalidade pelo nascimento com vida. Não pode ser restringida e tem como mecanismo o instituto da representação.
Os menores de dezesseis anos não têm suficiente maturidade psíquica para entender e praticar por si mesmos os atos da vida civil, motivo pelo qual seus representantes legais é que manifestam a vontade jurídica necessária à perfectibilização de tais atos, conferindo-lhes validade e eficácia.
INCAPACIDADE RELATIVA
A incapacidade relativa impede o sujeito de praticar de maneira independente os atos da vida civil, diante do que se faz necessário a assistência por quem a lei indicar, exceto no que diz respeito aqueles atos cuja intervenção de terceiros é expressamente dispensada pela lei. 
Art. 4º - São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer:
I – Os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II – Os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
III – Aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir a sua vontade;
IV – Os pródigos 
O primeiro critério para definir a incapacidade relativa é a idade. A incapacidade relativa diz respeito os menores entre dezesseis e dezoito anos de idade.
Os ébrios naturais são os que, dependentes de álcool tem nisso um fato de diminuição da condição mental, situação esta que coloca em risco iminente ou perturba concretamente a perfeição da manifestação volitiva.
Também são relativamente incapazes os viciados em substâncias tóxicas (cocaína, maconha, heroína, crack, etc.), contanto que tal circunstância leve-os a uma diminuição da capacidade de entendimento. 
Tanto no caso da ebriedade como no da dependência de tóxicos, a incapacidade relativa só será reconhecida se demonstrada sua interferência sobre a higidez mental da pessoa.
Não basta pura e simplesmente a presença do vício para que se dê a tais pessoas tratamento jurídico destinado aos relativamente incapazes, mesmo porque isso representaria um atentado contra o princípio segundo o qual a regra é a capacidade (que dispensa prova), enquanto a exceção – a incapacidade – depende de prova.
Também são considerados incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer, aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir a sua vontade. Podemos enquadrar como tais as pessoas naturais que que padecem de moléstias mentais clinicamenteatestadas, impeditivas ou obstativas, da autodeterminação, e que são assim declarados pelo juízo em processo de interdição ou afim. Entre os fatores mais comuns que podem levar à incapacidade absoluta estão as psicoses, a esquizofrenia e outras perturbações de caráter genético e a toxicomania degenerativa dos setores cerebrais que controlam o entendimento.
Também podemos citar todos aqueles atingidos temporariamente por fatores exógenos ou endógenos hábeis a viabilizar a expressão da vontade, como no caso de perda eventual da memória, ou ainda quando de contusões cerebrais, que acarretem deficiência integral, mas passageira do conhecimento e assim por diante.
As pessoas transitoriamente incapacitadas de exprimir sua vontade serão submetidas às regras pertinentes à representação, que poderá ser direcionada apenas à prática de atos certos e determinados – nomeação judicial ou representante ad hoc ou à generalidade deles, através de interdição, que poderá ser levantada depois do restabelecimento da normalidade psíquica.
Pródigos são os que desornadamente dissipam os bens, reduzindo-se à miséria. Como não tem controle adequado sobre o próprio acervo patrimonial, devem ser acompanhados na prática de atos da vida civil que tiverem conteúdo econômico, como os de emprestar, hipotecar, alienar, etc. Em favor do pródigo será nomeado um curador, cuja atuação será delimitada pela sentença que vier a ser proferida em ação judicial.
CAPACIDADE DE FATO OU DE EXERCICIO – art. 5º do CC
Considera-se adquirida a maioridade no primeiro instante do dia em que a pessoa completa dezoito anos.
A maioridade confere ao sujeito capacidade de fato ou de exercício, permitindo que pratique todos os atos de maneira pessoal e independente, nos limites legais.
No entanto, a capacidade civil pode ser adquirida antes, pela emancipação.
Tendo o menor dezesseis anos completos, pode ser emancipado, por concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante escritura pública, independentemente de homologação judicial. Faltando o pai e a mãe, pode-se dar a emancipação por sentença do juiz, ouvido o tutor.
Considera-se também emancipado o menor pelo casamento, pelo exercício de emprego público efetivo, pela colação de grau em curso superior, pelo estabelecimento civil ou comercial ou pelo emprego celetista, desde que, nos últimos dois casos, sejam geradores de economia própria.
A emancipação é irrevogável e definitiva. Não retorna à incapacidade civil quem se emancipou pelo exercício do comércio e depois faliu, nem o que se casou e depois ficou viúvo ou se divorciou, nem no caso de casamento anulado, se estava de boa fé.
 
FIM DA PERSONALIDADE – art. 6º CC
A existência da pessoa natural termina com sua morte pondo fim a personalidade. Mas pode terminar, também, para efeitos civis, com a morte presumida.
Há duas hipóteses de morte presumida – art. 7º CC.
1ª hipótese – morte presumida decorrente de declaração de ausência na etapa da sucessão definitiva. Autorizada esta, presume-se a morte (art. 6º CC).
AUSÊNCIA – ART. 22 A 39 - CC
Considera-se ausente a pessoa que desapareceu de seu domicílio, sem deixar representante ou procurador, não havendo dela notícia. A solução da matéria se dá em três etapas:
1ª etapa – declaração de ausência
A requerimento do interessado, ou do Ministério Público, o juiz declara a ausência, nomeia um curador e determina a arrecadação dos bens deixados (art. 22 CC; art. 1.159 CPC). Publicam-se editais durante um ano, reproduzidos de dois em dois meses (art. 1.161 CPC). Sendo os pais declarados ausentes, os filhos menores serão postos sob tutela (art. 1.728, I, CC).
2ª etapa – sucessão provisória
Um ano após o primeiro edital (ou 3 anos, se o ausente tiver deixado procurador, art. 26 CC) poderá ser aberta a sucessão provisória, entrando os herdeiros na posse dos bens, se prestarem garantia de devolução integral, em caso de retorno do ausente (art. 30 CC).
3ª etapa – sucessão definitiva
Dez anos após a abertura da sucessão provisória (ou em 5 anos das últimas notícias se o ausente contar 80 anos de idade), podem os interessados requerer a sucessão definitiva, com o cancelamento das cauções prestadas (garantias). Regressando o ausente nos 10 anos seguintes, receberá os bens no estado em que se acharem (art. 39 CC). Depois desse prazo, não havendo sucessor, passam os bens ao domínio estatal (herança jacente) (art. 39, parágrafo único, CC). Abertura a sucessão definitiva, presume-se a morte e se dissolve o vínculo conjugal (art. 6º e 1.571, parágrafo primeiro do CC). 
2ª hipótese – morte presumida por indícios veementes (independente da declaração de ausência). Cabe quando for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida, ou se alguém, desaparecido em campanha (operações militares) ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra (art. 7º CC). A sentença deve fixar a data provável do falecimento.
COMORIÊNCIA – art. 8º CC
Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu os outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos. A conseqüência do preceito é que não se estabelece sucessão entre comorientes.
A comoriência é a presunção legal de morte simultânea entre indivíduos cujo preciso horário de falecimento não foi possível aferir. O principal efeito jurídico é a inexistência de transmissão de direitos de qualquer natureza entre os comorientes, do que derivam importantes conseqüências no plano das sucessões. Trata-se os comorientes, um em relação ao outro, como se jamais houvessem existido.
Washington de Barros Monteiro dá ilustrativo exemplo: Um casal sem ascendentes e descendentes falece no mesmo evento. Se se demonstra que o marido pré-morreu à esposa, esta recolhe a herança daquele, para a transmitir, em seguida aos próprios herdeiros (art. 1.829 CC - colaterais: irmãos, sobrinhos). Se é a mulher quem precede ao marido, sucede este a primeira, transmitindo aos seus herdeiros a herança recebida. Sendo impossível determinar a precedência, presume o Código a simultaneidade das mortes. A herança será então repartida em duas porções, atribuídas respectivamente aos herdeiros de cada um dos cônjuges.
A expressão “na mesma ocasião” não significa que os óbitos tenham de acontecer no mesmo evento ou idêntico lugar, bastando que ocorram em condições temporais e circunstâncias que inviabilizem a cronologia das mortes. Destarte, se determinada pessoa morre no amazonas e outra no Rio Grande do Sul, no mesmo dia, em horários muito aproximados, havendo relevância jurídica na determinação da ordem dos passamentos e sendo impraticável a dissociação dos óbitos, aplicar-se-á para fins legais o instituto da comoriência.
 
REGISTRO PÚBLICO
ATOS REGISTRÁVEIS 
Art. 9º - São registrados em registro público:
I – Os nascimentos, casamentos e óbitos;
II – a emancipação por outorga dos pais ou por sentença do juiz;
III – a interdição por incapacidade absoluta ou relativa;
IV – A sentença declaratória de ausência e de morte presumida
Nos termos do art. 9º do CC, são registrados em registro público, os nascimentos, casamentos e óbitos; a emancipação, por outorga dos pais ou por sentença do juiz; a interdição por incapacidade absoluta ou relativa; a sentença declaratória de ausência e de morte presumida.
As inscrições exigidas pela lei têm por objetivo oferecer segurança às relações jurídicas interpessoais, de tal forma que estejam ao alcance de todos, dada a sua publicidade intrínseca, informações precisas sobre o estado das pessoas.
O legislador determinou o registro de fatos e atos com repercussão jurídica original, ou seja, que dão início a uma situação jurídica nova e independente de outras que as tenham antecedido.
Também, ordenou o legislador a averbação em registros públicos de acontecimentos derivados de situações jurídicas preexistentes e capazes de modificá-las, como no caso do divórcio que atinge a relação derivada do ato de contrair núpcias.Art. 10 - Far-se-á averbação em registro publico:
I – das sentenças que decretarem a nulidade ou anulação do casamento, o divórcio, a separação judicial e o restabelecimento da sociedade conjugal.
II – dos atos judiciais ou extrajudiciais que declararem ou reconhecerem a filiação;
III – revogado
Averbar significa anotar, escrever à margem, apontar em observação. Na realidade, a averbação em registro público torna conhecida de todos as ocorrências destinadas à alteração de situação jurídica anteriormente consolidada.
Assim, se o casamento produz os efeitos que lhe são inerentes (constituição de vínculo matrimonial, vigência do regime de bens, etc.), o divórcio rompe tais aspectos a partir da averbação, o mesmo se dando quanto à anulação e à nulidade do matrimônio.
DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE 
Art. 11 – Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.
Dispõe o art. 11 do Código Civil que, excetuando-se os casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.
Isso quer dizer que os direitos relativos à personalidade (que são aqueles inerentes ao ser humano, como o direito a vida, ao nome, à filiação, ao *estado da pessoa, etc), à capacidade (conjunto de poderes inerentes à personalidade), e os demais direitos de caráter personalíssimo não poderão ser transmitidos à outrem, e tampouco serão objeto de renúncia. 
*Estado da pessoa é o traço distintivo dos indivíduos, é o modo particular de existir. Uma situação jurídica resultante de certas qualidades inerentes à pessoa. O estado da pessoa pode ser analisado sob o aspecto individual ou físico (idade, sexo, saúde mental e física), civil (solteira, casada, divorciada, viúva), familiar, social ou político (nacional ou estrangeiro).
Isto significa que, salvo nos casos disciplinados em lei, tais direitos nascem e são adquiridos exclusivamente em proveito de pessoa certa e determinada, ficando vedada qualquer forma posterior de alteração subjetiva ou de renúncia.
Destarte, o nome da pessoa natural é insuscetível de mercancia, nem pode ser alvo de abdicação por parte de seu titular. O fundamento da tutela reside na necessidade de atrelar a maior segurança jurídica possível às relações interpessoais, de modo que determinados atributos não sejam disponíveis pelo indivíduo, mesmo porque única e exclusivamente este poderá auferir os proveitos deles derivados e arcar com os encargos que neles tiverem origem.
A proibição constante do art. 11 refere-se a quaisquer atos de disposição, sejam eles a título gratuito ou oneroso, inter vivos ou causa mortis.
Os direitos personalíssimos não possuem caráter patrimonial direto, e ainda quando capazes de gerar recursos econômicos não se transmudam em atributos suscetíveis de valoração econômica. Destarte, se o nome de uma pessoa, sua honra ou a moralidade são afetados injustamente por terceiros, estes terão de responder civilmente pelos danos apurados, sejam eles de natureza material ou de caráter moral.
Art. 12 – Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
Parágrafo único – Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente e linha reta, ou colateral até o quarto grau.
Ao mesmo tempo em que veda ao titular a prática de atos de disposição, de limitação ou de renúncia quanto aos direitos da personalidade, o legislador assegura àquele a tutela destes, de modo que eventuais afrontas serão corrigidas mediante ajuizamento de lide específica. As ameaças poderão ser paralisadas através de antecipação de tutela ou de liminar em ação cautelar. Já para a hipótese de lesões consumadas, admite-se a interposição de ação ordinária visando à reparação dos danos apurados, tanto os de natureza material como os de caráter moral.
Com relação ao parágrafo único, embora os direitos de personalidade não se transmitam causa mortis, a prerrogativa de buscar em juízo a reparação dos danos provocados pela agressão passam às pessoas elencadas no dispositivo (cônjuge sobrevivente, qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau), não desaparecendo só pelo óbito do titular.
Ainda que os direitos personalíssimos propriamente ditos desapareçam juntamente com quem falece, seus efeitos podem prolongar-se no tempo, de forma que é possível a verificação de ofensas inclusive depois do óbito do titular, gerando consequências patrimoniais.
O fundamento legal das relações de parentesco e da filiação basicamente se encontra no Código Civil. Também pode-se verificar mais sobre o assunto na Constituição Federal/88, arts. 226, § 4°, e 227, § 6°; Código Penal, arts. 241 a 243; Leis n. 6015/73, arts. 50 a 66; 8.069/90, art. 20; e 8560/92.
Veja o gráfico a seguir:
PARENTES EM LINHA RETA (art. 1591).
- Pai e filho são parentes em linha reta em primeiro grau.
- Avô e neto são parentes em segundo grau.
- Bisavô e bisneto são parentes em terceiro grau.
PARENTES COLATERAIS OU TRANSVERSAIS (art. 1.592).
- Irmãos são colaterais em segundo grau.
- Tios e sobrinhos são colaterais em terceiro grau.
- Primos em quarto grau.
Obs.: Não há parentesco colateral em primeiro grau.
Art. 13 – Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes. 
Parágrafo único – O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial.
A integridade física faz parte do rol de direitos indisponíveis e intransferíveis. Com isso, qualquer ato que importe na sua diminuição permanente é absolutamente vedado, ainda quando voluntário e com finalidade estética, salvo prescrição médica sujeita às devidas averiguações quanto a oportunidade e conveniência.
 
Em interpretação integrativa entre o caput e o parágrafo único, imperioso concluir pela admissibilidade de atos voluntários de disposição para transplantes entre pessoas vivas. Não obstante atitudes dessa jaez produzam diminuição permanente da integridade física (contornáveis, é verdade, pelo fato de normalmente referir-se a órgãos duplos ou tecidos regeneráveis), os fins a que se destinam e as razões motivadoras constituem fator capaz de ensejar a autorização legal ora analisada.
Logo, sendo imprescindível para a conservação da vida ou de condições mínimas de dignidade para o paciente, as doações de órgãos e tecidos são admitidas, contanto que rigorosamente adstritas aos ditames norteadores. 
Basta esteja presente a necessidade do receptor, a disponibilidade do doador, a pouca probabilidade de comprometimento da saúde deste e a indicação científica para o procedimento, sem o qual o paciente deixa de ter condições de manter-se vivo ou de viver dignamente.
Art. 14 – É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte.
Parágrafo único – O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo.
Afora a doação em vida ou post mortem para fins de transplante de órgãos e tecidos, é admitida também a disposição, igualmente gratuita, do corpo ou de partes do corpo para que se o use em atividades cientificas ou de relevância moral e/ou social, como é o caso de entrega do próprio corpo para faculdades de medicina e utilização em disciplinas ligadas a anatomia, destinação do corpo ou parte dele para experiências de combate a doenças ou estudos sobre a moléstia de que padecia a pessoa, etc.
A disposição deverá ser feita por escrito público, já que o texto permite a revogação do ato, e a única forma de provar a sua existência – e, portanto, de revogá-lo – é a escrita. A escritura pública é importante para a validade e eficácia do ato, eis que a disposiçãorefere-se ao corpo da pessoa, que normalmente envolve direitos indisponíveis que somente previsão expressa deixam de sê-lo. Ademais a adoção de forma pública evita grande parte dos questionamentos a que comumente está sujeito o instrumento particular, limitando em muito o espectro de impugnações teoricamente cabíveis contra a liberalidade.
O indivíduo que revogou a disposição poderá refazê-la através de nova previsão, eis que inexiste óbice à renovação da vontade de destinar o corpo para entidades científicas ou de objetivos socialmente relevantes.
Art. 15 – Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.
Intermináveis polêmicas foram geradas em torno da possibilidade ou não de a pessoa renegar tratamento médico quando em risco iminente de vida, seja por convicções religiosas ou pessoais, como por temores ou simples negativa imotivada.
Ao disciplinar o tema, o direito codificado admite o tratamento médico e terapêutico forçado, contanto que sua falta possa representar perigo para o paciente. O que a lei não admite é que o paciente seja obrigado a submeter-se a procedimento do qual resulte risco concreto e imediato para a sua sobrevivência.
Destarte, se determinada cirurgia cardíaca é fundamental para que se tente a reversão de grave patologia, o fator de diferenciação entre a supremacia da vontade do paciente e a prevalência do poder/dever do médico é exatamente a geração ou não de risco de vida como produto da intervenção. É claro que o perigo de vida, em tais casos, reside no estado clínico em si mesmo, como resultado da moléstia. Todavia, o risco da cirurgia não pode ser mais elevado, em termos imediatos, do que a perspectiva de sobrevida do paciente. Se não obstante a patologia, o paciente puder manter-se vivo por certo tempo, e se a intervenção cirúrgica puder levá-lo ao óbito, a realização da operação dependerá necessariamente da aquiescência do interessado. Entretanto, se a cirurgia não contiver sério e imediato perigo de vida, e se a comparação entre o risco e o benefício resultar em vantagem evidente deste sobre aquele, o médico poderá intervir, mesmo sem a concordância do paciente, desde que as circunstâncias do momento estejam a exigir tal atitude.
Nunca é demais salientar que o médico tem por dever de ofício atuar de modo a preservar a vida humana, não obstante todo procedimento que tenha de adotar sempre envolva algum grau de risco. Disso decorre uma verdade inafastável: exceto nos casos ditados pela lei, em que o ânimo do paciente prevalece, o profissional tem a obrigação de agir, sob pena de responder pelo delito omissão de socorro.
A regra, qualquer que seja a situação, é extremamente singela: a) ausente o risco de vida no procedimento, o médico pode e deve intervir, mesmo contra a vontade do paciente; b) presente o risco de vida como fruto da intervenção, ou do contexto em que ela se insere, o médico precisa obter a concordância do paciente para atuar.
NOME – Vide artigos 50 e seguintes da LEI DOS REGISTROS PÚBLICOS (Lei 6.015, de 31/12/1973)
Art. 16 CC – Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendido o prenome e o sobrenome.
O nome integra a personalidade e indica a procedência do seu titular, tendo, por isso, proteção legal. Toda pessoa natural recebe um nome que é objeto de registro junto ao cartório competente. No ato do registro (Art. 54 LRP) é fornecido à pessoa o prenome, ou seja, um nome que precede o de família (Carlos, Paulo, João) e o sobrenome (patronímico, apelido de família, cognome), isto é, um nome que designa a linhagem de onde proveio o indivíduo (Silva, Alves, Pereira).
O termo “nome” designa geralmente o nome por inteiro, mas também é empregado para indicar isoladamente tanto o prenome como o sobrenome. 
O prenome pode ser simples (Pedro) ou composto (Pedro Augusto).
Designam-se agnomes certos elementos distintivos secundários, que se acrescentam ao nome completo (filho, junior, neto, sobrinho).
Admite-se, por exemplo, a modificação do nome nos seguintes casos: 
a) Erro evidente: Arnaldo, ao invés de Ernaldo; Ernesto, ao invés de Arnesto;
 
b) No primeiro ano após a maioridade, e independentemente de justificação, pode o interessado alterar o nome, desde que não haja prejuízo aos apelidos de família (art. 56 da Lei 6.015/73 – Lei que dispõe sobre os Registros Públicos);
c) Nomes exóticos ou ridículos não serão registrados (art. 55 parágrafo único – LRP), mas, se o forem, poderão ser alterados;
d) Uso prolongado e constante de um nome diverso do que figura no registro pode permitir a alteração desde, pois prenome imutável é aquele que foi posto em uso, embora não conste do registro (art. 58 LRP);
e) Admite-se também a alteração do nome para a inclusão de uma alcunha ou apelido usado habitualmente pelo interessado. Luiz Inácio da Silva para Luiz Inácio Lula da Silva. 
f) Homonímia. Constitui-se motivo relevante e excepcional, a homonímia causadora de problema. Em regra, procura-se solucionar a homonímia com a adição de mais um prenome, de José Dias, para José Rubens Dias, ou como é mais usual, com a adição do patronímico materno, mantendo-se o paterno, José Gallo Dias, mesmo porque a lei não proíbe a adição de sobrenome usado por ascendente.
g) Inclusão de sobrenome de ascendente. A lei não proíbe que se complete o nome com a adição de sobrenome usado por ascendente. O descendente tem direito ao sobrenome de seu ascendente, mesmo que este sobrenome não tenha sido usado por uma ou mais gerações.
h) Tradução – O estrangeiro pode traduzir seu nome para o português.
Outras situações previstas na Lei de Registros Públicos.
 
Art. 17 – O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória.
O uso do nome é direito pessoal do titular. Não obstante, pode ser citado por terceiros em todas as situações que importem na divulgação de fato ou ato verdadeiro em que a pessoa esteja envolvida, ainda que possa vir em detrimento de sua imagem ou auto estima. A liberdade de imprensa, de pensamento, de informação e de emissão de opiniões, constitucionalmente asseguradas, permite que os órgãos de comunicação e todas as pessoas em geral tornem públicos acontecimentos reais. A tutela do nome não tem amplitude capaz de assegurar a absoluta intangibilidade em quaisquer circunstâncias, mesmo porque o interesse coletivo sobrepõe-se ao privado.
Art. 18 – Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial.
A crescente mitificação dos ídolos do esporte, da ciência, das artes e de diversos outros setores produz nomes nacionais e internacionalmente reconhecidos, de modo que a sua utilização em propagandas comerciais passou a funcionar como alavanca propulsora de bons negócios. Como o nome integra os direitos da personalidade, a sua vinculação a determinado produto posto em comércio depende de expressa autorização do titular, sob pena de gerar perdas e danos. Assim, se o nome for lançado em campanha comercial sem a aquiescência da pessoa, terá esta direito ao pagamento de tudo aquilo que ganharia se houvesse autorizado o uso, aspecto a ser fixado prelo juízo mediante análise dos elementos objetivos alcançados pelo interessado ou liquidação de sentença.
Art. 19 – O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza de proteção que se dá o nome.
O pseudônimo nada mais é do que um nome suposto, isto é, uma denominação não correspondente àquela que figura no registro civil da pessoa, mas é que adotada por esta extra-oficialmente, para fins lícitos.
A utilização de pseudônimos é bastante comum entre escritores, artistas e esportistas. A tutela legal endereçada ao pseudônimo não difere em nada daquela estendida ao nome, de tal sorte que envolve a necessidade de expressa autorização do titular para utilização em propagandas, sob pena de surgimento do dever de indenizar os prejuízos causados pelo mau uso do pseudônimo alheio em publicações e representações quesubmetam a pessoa ao desprezo público.
Art. 20 – Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.
Parágrafo único – Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.
O art. 20, do CC, também se preocupou com a imagem da pessoa, elemento integrante da personalidade. A utilização da imagem alheia, como do nome, depende de expressa autorização do titular, posto serem conhecidas as negativas implicações econômicas e morais que o mau uso da mesma pode ocasionar.
Sempre que o ato de tornar públicos escritos, palavras ou imagens puder atingir indevidamente a honorabilidade, a estima social ou a reputação alheia, ao interessado é permitido requerer ao Poder Judiciário que o impeça.
Contudo, a vedação contida no art. 20, não poderá servir de escudo para pessoas que, tendo transgredido a lei ou estando sob investigação oficial que apure dados no sentido do envolvimento em atos irregulares, pretendam se esquivar da divulgação dos fatos a título de notícia, eis que a tutela aos direitos da personalidade não deve conflitar com os cânones maiores da liberdade de imprensa, do direito à informação, da liberdade de expressão e assim por diante. 
Cabe salientar que a publicidade de atos praticados por alguém e que contrariem a lei, a moralidade e os bons costumes, bem como a punição dos mesmos, constitui mecanismo de autodefesa da sociedade e vem e seu proveito. 
A proteção contida no art. 20 não tem como finalidade favorecer e incentivar a impunidade, mas sim resguardar as pessoas íntegras de ilícitos assaques aos direitos da personalidade, ainda mais quando são fartos os exemplos de abusos cometidos pelos meios de comunicação na publicação de acontecimentos que ao depois vem a ser tidos como inocorrentes ou diversos do que foi inicialmente veiculado.
Art. 21 – A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a norma.
Este artigo segue os passos traçados pela Constituição Federal, que, em seu art. 5º, X, preceitua: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”. Distinguem-se vida privada e intimidade na medida em que esta direciona-se à tutela de aspectos internos e íntimos da pessoa (segredos e particularidades) ao passo que aquela volta-se ao âmbito externo do existir.
 
DA AUSÊNCIA
Por vezes ocorre que uma pessoa desaparece de seu domicílio sem que dela haja notícia, sem que haja deixado representante ou procurador e sem que ninguém lhe saiba o destino ou o paradeiro.
Se essa pessoa – chamada ausente – tiver bens, surge o problema relativo ao destino de tais bens, quer tendo em vista o interesse do ausente e de seus herdeiros, quer tendo em vista o interesse da sociedade para quem o perecimento de tais bens, que são parte da riqueza social, não deixa de se manifestar inconveniente.
Duas atitudes são possíveis em face da ausência. A primeira, ditada pela possibilidade de o ausente estar vivo, se revela pela necessidade de lhe preservar os bens, tendo em vista a defesa de seus interesses; a segunda, encarando a possibilidade de o ausente ter falecido, visa atender o interesse de seus herdeiros, que, por sua morte, teriam se tornado senhores de seu patrimônio.
Mas, quer ele esteja vivo, quer esteja morto, é importante considerar o interesse social de preservar seus bens, impedindo que se deteriorem, ou pereçam.
Tendo em conta essas razões, o ordenamento jurídico toma posição diante do problema da ausência, procurando, de início, preservar os bens deixados pelo ausente, para a hipótese de seu eventual retorno; ao depois, transcorrido um período de tempo, sem que o ausente regresse, o legislador, cansado de esperar sua volta, passa a cuidar do interesse de seus herdeiros.
Aliás, examinando a lei, vê-se que o critério do legislador varia de maneira marcada à medida que a ausência de prolonga, caracterizando três posições diversas.
De início, o legislador supõe transitório o desaparecimento da pessoa em causa e as medidas que toma visam preservar o patrimônio do ausente, para o caso de sua volta, sempre iminente; é a fase da curadoria do ausente.
Todavia, à medida que o tempo passa, menos provável se torna o regresso da pessoa desparecida e mais veementemente se manifesta a possibilidade de o ausente ter morrido. Sua volta, embora plausível, torna-se improvável. Então o legislador, contemplando tal circunstância, propende menos a proteger o interesse do9 ausente do que o de seus sucessores; é a fase da sucessão provisória. 
Finalmente, se transcorre um considerável período de tempo sem que o ausente volte, seu retorno se torna cada vez mais problemático, acentuando-se a probabilidade remota de seu regresso, atende a lei principalmente ao interesse de seus herdeiros e a estes defere a sucessão definitiva.
DA CURADORIA DOS AUSENTES
Desaparecendo uma pessoa de seu domicílio, sem que haja notícia, se não houver deixado representante, ou procurador, a quem toque administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento de qualquer interessado, ou do Ministério Público, os arrecadará, normando curador para administrá-los.
O propósito é o de preservar tais bens, não permitindo que eles pereçam; ao mesmo tempo que se procura mantê-los em regime ordinário de produção.
O curador escolhido será o cônjuge do ausente, sempre que dele não esteja judicialmente separado, ou seu companheiro ou companheira, se a ausência ocorrer durante a vigência da união estável. Em falta dessas pessoas, o juiz confiará o encargo ao pai, mãe ou aos ascendentes da pessoa desaparecida, obedecendo a essa ordem; entre os descendentes os mais vizinhos preferem os mais remotos. Na falta dessas pessoas, compete ao juiz escolher o curador.
Feita a arrecadação, empossando o curador, o juiz ordenará a publicação de editais durante um ano, reproduzidos de dois em dois meses, editais que convocam o ausente para retormar a posse de seu patrimônio.
Não acudindo o ausente ao fim do prazo de um ano, a partir da arrecadação dos bens do ausente (ou de três anos, se houver deixado procurador), a probabilidade de que tenha efetivamente falecido aumenta, de sorte que a posição do legislador, que até gora só tinha em vista o interesse do desaparecido, de certo modo se altera, pois passa a considerar também o interesse dos sucessores do ausente, permitindo que requeiram a abertura da sucessão provisória.
 
DA SUCESSÃO PROVISÓRIA
Transcorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, a probabilidade de retorno deste se reduz. Afinal, o desaparecimento não é recente e, a despeito de reiteradamente convidado a se apresentar, o ausente declinou de fazê-lo. Assim, convém que se comece a ter em vista não apenas o interesse do desaparecido, que provavelmente está morto, mas também o de terceiros, a saber, de seu cônjuge, de seu companheiro, de seus herdeiros e de pessoas com quem ele eventualmente viesse mantendo relações negociais.
Partindo de considerações dessa ordem, permite o legislador que os interessados requeiram a abertura provisória da sucessão, como se o ausente fosse falecido.
São pessoas legitimadas para formular tal pedido:
a) O cônjuge não separado judicialmente ou de fato por mais de dois anos, pois é de seu interesse proceder ao inventário e à partilha para caracterizar seu quinhão no patrimônio do casal, ou para entrar na posse do espólio, em caso de ser herdeiro.
b) O companheiro ou companheira, durante a vigência da união estável, em virtude de

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