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TRABALHO AVALIATIVO DE PROCESSO CIVIL

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TRABALHO AVALIATIVO DA DISCIPLINA: PROCESSO CIVIL VI Entrega até 
29/10/2020 
 Nome: THAINARA MARINO BORTOLUCCI PEREIRA 
Questão 1: 
A União, no exercício de competência a si atribuída pelo art. 231 da CF, reconheceu que 
determinada área, equivalente a 60% do estado A, é tradicionalmente ocupada pelos 
índios. Por esse motivo, demarcou a área, determinando a retirada de quaisquer outras 
populações. Dada a extensão da área, João, deputado estadual, ajuizou ação popular na 
Vara Federal da capital do Estado contra o Presidente da República, que assinou o 
decreto; contra a União, na qualidade de pessoa jurídica interessada; bem como contra a 
Funai, na qualidade de representante das populações indígenas beneficiadas, para tutela 
do patrimônio público estadual. O autor alega que a demarcação em questão praticamente 
esvaziou o território estadual. Em face dessa situação hipotética, responda: 
a) A ação popular é meio processual idôneo para o presente caso? 
Resposta: 
Sim, a ação popular é meio processual idôneo para o caso em comento, pois busca 
a preservação de um patrimônio público, e esta proteção é a finalidade da ação 
popular, a saber: a finalidade da ação popular é obter a invalidação de ato lesivo 
ao interesse público. 
b) Os polos ativo e passivo da ação estão ocupados por partes legítimas? 
Resposta: 
Sim, Ambos ocupados por parte legitima. 
Quanto a legitimidade do polo ativo, a justificativa fica a cargo do art 1 da lei de 
ação popular “Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a 
declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio da União, do Distrito 
Federal, dos Estados, dos Municípios, de entidades autárquicas, de sociedades de 
economia mista (Constituição, art. 141, § 38), de sociedades mútuas de seguro nas 
quais a União represente os segurados ausentes, de empresas públicas, de serviços 
sociais autônomos, de instituições ou fundações para cuja criação ou custeio o 
tesouro público haja concorrido ou concorra com mais de 50% do patrimônio ou 
da receita anual de empresas incorporadas ao patrimônio da União, do Distrito 
Federal, dos Estados e dos Municípios, e de quaisquer pessoas jurídicas ou 
entidades subvencionadas pelos cofres públicos.” 
 
Quanto a legitimidade do polo passivo, a justificativa fica a cargo o art 6 da lei de 
ação popular “A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e as 
entidades referidas no art. 1º, contra as autoridades, funcionários ou 
administradores que houverem autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato 
impugnado, ou que, por omissas, tiverem dado oportunidade à lesão, e contra os 
beneficiários diretos do mesmo.” 
 
c) Está correto o ajuizamento da ação popular em primeiro grau de jurisdição? 
Resposta: 
O ajuizamento da ação popular em primeiro grau de jurisdição está correto, mas 
a definição da competência, neste caso, exige aprofundamento. O ajuizamento em 
primeiro grau de jurisdição, em princípio, está correto. O fato de o Presidente da 
República ocupar o polo ativo da ação não desloca, por si só, a competência para 
o STF. Não há foro por prerrogativa de função na ação popular. A causa, 
entretanto, veicula um potencial conflito de interesse entre um Estado-membro e 
a União. Caso o Estado-membro compareça aos autos e decida ocupar o polo ativo 
da ação ao lado do autor popular, haverá efetiva contraposição entre a União e o 
Estado-membro. Nessa hipótese, configura-se conflito federativo, que faz incidir 
a regra do art. 102, I, “f”, da Constituição, o que atrai a competência originária do 
STF. Nesse caso, deverá ser remetida ao STF. 
 
 
 
Questão 2: 
Luís, um cidadão sempre ativo na fiscalização das contas dos diferentes entes da 
federação, ficou indignado com o contrato de 3 milhões de reais para construção de 
estatuas em uma praça de um Município do Estado vizinho ao de sua residência, ajuizando 
então uma ação popular para proteção do patrimônio público. O juiz, porém, indeferiu a 
petição inicial, porque Luís não teria legitimidade, já que era outro seu domicílio eleitoral. 
Agiu corretamente o juiz? 
Resposta: 
A ação popular é via de participação na tutela de direitos fundamentais e na gestão da 
coisa pública. A própria Constituição, em seu art. 5°, LXXIII, dispõe que pode ser 
proposta por qualquer cidadão, provada tal condição com a simples apresentação do 
título eleitoral ou de documento equivalente, conforme o art. 1°, §3°, da Lei 4.717/1965. 
Portanto, não há nenhuma restrição quanto ao domicílio eleitoral, tendo o juiz violado o 
direito de Luís de participar diretamente da proteção do patrimônio público por meio da 
ação popular, ou seja o juiz não agiu de forma correta, pois a lei citada acima estabelece 
que qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a declaração de 
nulidade de atos lesivos ao patrimônio não limita e nem regionaliza a parte, qualquer 
cidadão pode figurar no polo ativo. 
 
 
Questão 3: 
Um dos marcos teóricos no debate da defesa de direitos coletivos é a obra “Acesso à 
Justiça” de Mauro Cappelletti e Bryant Garth (capítulo III da referida obra). Apresente 
uma resenha do capítulo sobre as ondas renovatórias propostas pelos autores, fazendo um 
paralelo com a legislação brasileira/súmulas/jurisprudências. Espera-se que a resenha 
contenha enfoque no debate sobre os direitos coletivos. 
 Obs.: esse capítulo foi disponibilizado no AVA na primeira semana da disciplina. 
Resposta: 
 Mauro Cappelletti e Bryant Garth estabeleceram uma subdivisão cronológica dos 
movimentos de acesso à justiça, ou seja, de tentativas de soluções para se garantir a 
efetividade do acesso à justiça, e cada movimento foi chamado pelos autores de “onda”. 
A primeira “onda” teria sido a assistência judiciária; a segunda referia-se à representação 
jurídica para os interesses difusos, especialmente nas áreas de proteção ambiental e do 
consumidor e, finalmente, a terceira “onda” que seria o “enfoque de acesso à justiça”, a 
qual compreendia os posicionamentos anteriores e tinha como objetivo enfrentar 
contundente e articuladamente, as barreiras ao acesso efetivo à justiça. 
 Fazendo então um paralelo com a legislação brasileira vimos que o inciso XXXV do art. 
5º da Constituição Federal da República Federativa do Brasil de 1988, sem dúvida, 
assegura a inafastabilidade da jurisdição ou do acesso à Justiça, definindo que a lei não 
excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. O Código de 
Processo Civil de 2015, por sua vez, na Parte Geral, Livro I Das Normas Processuais 
Civil, Título único Das Normas Fundamentais e da aplicação das Normas Processuais, 
Capítulo Das Normas Fundamentais do Processo Civil, no art. 3° caput, também 
reproduziu norma idêntica. Vimos que as Ondas renovatória na obra também prevê o 
incentivo á adoção de políticas públicas e judiciárias voltadas para a tutela dos direitos 
difusos e coletivo, assim como o estímulo á solução alternativa de conflitos e á 
reestruturação ou criação de novos tribunais (a exemplo dos juizados de pequenas causas). 
A primeira onda se constituiu em algumas reformas em prol da assistência aos mais 
carentes. Inicialmente essa assistência foi muito precária e ineficiente. “A maior 
realização das reformas na assistência judiciária foi a criação do sistema judicare, adotado 
por alguns países ocidentais, que consistia na utilização de advogados particulares 
custeados pelo poder público, com o objetivo de proporcionar uma representação 
igualitária aos pobres”. Mas esse sistema também se apresentou falho, pois os advogados 
que auxiliavam essas populações só defendiam os interesses individuais e a população 
continuava ignorante em relação aos seus direitos. 
A segunda onda veio tentar superar a barreira do acesso à justiça, em relação à 
representação dos direitos difusos e coletivos, eis que o processo civil clássico não se 
encontrava preparado paraa tutela de interesses que não fossem individuais e 
patrimoniais, como os interesses difusos e coletivos. Assim, diante do surgimento de 
direitos que já não se enquadravam mais em público ou privado e que demandavam 
igualmente a proteção estatal, como o direito ambiental e dos consumidores, a segunda 
onda consistiu na reforma das noções tradicionais do processo civil e o papel dos 
tribunais, para garantir a tutela jurisdicional de tais direitos. 
A terceira onda de acesso à justiça, portanto, refere-se à reforma interna do processo, que 
conforme os autores, percorre “do acesso à representação em juízo a uma concepção mais 
ampla de acesso à justiça”. (CAPPELLETTI;GARTH, 1988, p.67) Essa terceira onda tem 
como um de seus enfoques principais a concessão de representação de todos os tipos de 
direitos, sejam eles individuais, coletivos, difusos, privados, públicos ou de tutelas de 
urgência, preenchendo os chamados “vazios de tutela”. Um enfoque que, conforme os 
autores, é "de crucial e decisiva importância mostra-se igualmente a superação da barreira 
da visão conservadora do processo civil, arraigada em suas origens da tutela individual" 
(CAPPELLETTI; GARTH, 2002, p.67). Este enfoque preconiza o envolvimento do 
Estado no acesso à justiça, não só pela via judicial, mas com a implementação de políticas 
públicas de incentivo a conciliação, arbitragem e mediação e da inclusão de mecanismos 
administrativos de proteção das relações de consumo. Evidencia também a necessidade 
de aperfeiçoamento dos mecanismos processuais, com a simplificação dos 
procedimentos. Como consequência dessa terceira onda, vários instrumentos de pleno 
acesso à justiça e de participação popular foram criados, buscando a ampliação dos 
mecanismos do acesso à justiça e modificações no ordenamento processual.

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