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Questão 1: A União, no exercício de competência a si atribuída pelo art. 231 da CF, reconheceu que determinada área, equivalente a 60% do estado A, é tradicionalmente ocupada pelos índios. Por esse motivo, demarcou a área, determinando a retirada de quaisquer outras populações. Dada a extensão da área, João, deputado estadual, ajuizou ação popular na Vara Federal da capital do Estado contra o Presidente da República, que assinou o decreto; contra a União, na qualidade de pessoa jurídica interessada; bem como contra a Funai, na qualidade de representante das populações indígenas beneficiadas, para tutela do patrimônio público estadual. O autor alega que a demarcação em questão praticamente esvaziou o território estadual. Em face dessa situação hipotética, responda: a.) A ação popular é meio processual idôneo para o presente caso? Sim, consoante ao art. 1º da lei 4717/65, a ação popular servirá para pleitear a anulação ou a declaração de nulidade dos atos lesivos ao patrimônio da União, do DF, dos Estados e Municípios, entre outras entidades. No caso em concreto a área demarcada é patrimônio público Estadual, enquadrando-se como meio processual adequado para o presente caso. b) Os polos ativo e passivo da ação estão ocupados por partes legítimas? No polo ativo, o caso em concreto apresenta o Deputado Estadual João como demandante, em que pese ele seja Deputado Estadual, consoante ao art. art. 1º da lei 4717/65, qualquer cidadão poderá ser parte legítima para propor ação popular, entretanto, o §3º aduz que a prova de cidadania é o título eleitoral, portanto, para pleitear a ação popular, o cidadão deverá estar quite com as obrigações eleitorais. Já no polo passivo, o caso em concreto apresenta como demandado o Presidente da República que assinou o decreto, bem como a Autarquia Federal FUNAI. Em uma breve análise do art. 6º da lei 4717/65, a ação é perfeitamente cabível contra o Presidente da República que assinou o decreto, bem como a Autarquia Federal FUNAI que irá cumprir as ordens emanadas pelo decreto presidencial. c) Está correto o ajuizamento da ação popular em primeiro grau de jurisdição? De acordo como § 2º do art. 5º da lei nº 4.717/65, lei que regulamenta a Ação Popular, “Quando o pleito interessar simultaneamente à União e a qualquer outra pessoas ou entidade, será competente o juiz das causas da União, se houver; quando interessar simultaneamente ao Estado e ao Município, será competente o juiz das causas do Estado, se houver.” Portanto é perfeitamente cabível o ajuizamento da ação em primeiro grau de jurisdição, respeitando a competência, que no caso em concreto é da União. Questão 2: Luís, um cidadão sempre ativo na fiscalização das contas dos diferentes entes da federação, ficou indignado com o contrato de 3 milhões de reais para construção de estatuas em uma praça de um Município do Estado vizinho ao de sua residência, ajuizando então uma ação popular para proteção do patrimônio público. O juiz, porém, indeferiu a petição inicial, porque Luís não teria legitimidade, já que era outro seu domicílio eleitoral. Agiu corretamente o juiz? No caso em concreto, o Juiz agiu incorretamente, pois a Constituição da República, no art. 5º inc. LXXIII, inserindo no âmbito de uma democracia de cunho representativo eminentemente indireto, prevê que “qualquer cidadão é parte legitima para propor ação popular que vise anular http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%204.717-1965?OpenDocument http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%204.717-1965?OpenDocument ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente, e ao patrimônio histórico e cultural”. Note -se que a legitimidade ativa é deferida ao “cidadão” e não ao “eleitor”, portanto, não importa se o domicílio eleitoral do polo ativo seja diverso do domicilio onde a ação seja impetrada. Questão 3: Um dos marcos teóricos no debate da defesa de direitos coletivos é a obra “Acesso à Justiça” de Mauro Cappelletti e Bryant Garth (capítulo III da referida obra). Apresente uma resenha do capítulo sobre as ondas renovatórias propostas pelos autores, fazendo um paralelo com a legislação brasileira/súmulas/jurisprudências. Espera-se que a resenha contenha enfoque no debate sobre os direitos coletivos. Obs.: esse capítulo foi disponibilizado no AVA na primeira semana da disciplina. As “ondas renovatórias de acesso à justiça” presentes na obra de Cappelletti & Garth: Na pesquisa desenvolvida pelos Professores Mauro Cappelletti e Bryan Garth foram identificados obstáculos que prejudicavam o acesso à justiça, a exemplo das custas processuais e seu alto valor como fato de exclusão das pequenas causas; o tempo desde o ajuizamento da causa até a solução final pelo Judiciário; a dificuldade das partes hipossuficientes em identificar os seus direitos objetivos e exercerem as correspondentes pretensões; e por fim, a tutela dos interesses difusos e a dificuldade de se organizar os legitimados. A 1ª onda - reflexão e implementação de mecanismos de assistência jurídica aos hipossuficientes. Frisar que a assistência jurídica se desdobra em: assistência extrajudicial e assistência judicial ou judiciária. Vale lembrar que a assistência jurídica não se confunde com a assistência judiciária e nem com gratuidade de justiça. São conceitos distintos. Assistência jurídica é a atuação judicial e extrajudicial. A assistência judiciária é apenas a atuação judicial, assistência em processos em curso. Já a gratuidade da justiça é apenas a isenção do pagamento de custas. Identificação de 3 (três) grandes sistemas de assistência jurídica: 1º) Judicare = advogados particulares pagos pelo Estado, selecionados através de uma listagem oficial, no caso do Brasil, podemos identificar o papel da OAB nesse contexto em que direciona os advogados das subseções e distribuem processos de defesa à pessoas que não tem como arcar com honorários advocatícios, em contrapartida, o Estado através de valores tabelados, remunera os Advogados (defensores) dativos pela atuação nesses processos. 2º) Grupos de advogados remunerados pelos cofres públicos, cujo papel destes profissionais seria o de identificar as causas dos hipossuficientes, encarados sob o aspecto coletivo, no Brasil podemos mencionar o papel da Defensoria Pública que se encaixa perfeitamente no mencionado grupo. 3º) Misto das duas estruturas antecedentes, havendo servidores públicos e advogados particulares que prestariam assistência jurídica - o hipossuficiente teria a opção de escolher o advogado particular para o desempenho de uma pretensão puramente individual ou um servidor público vocacionado à questões do grupo hipossuficiente. 2ª onda) Proteção de interesses supra individuais. Além da assistência jurídica ao hipossuficiente, havia um outro problema, cuja identificação restou na tutela de direitos coletivos (latu sensu), que não possuía o devido fomento por parte de alguns ordenamentos jurídicos, uma vez que o sistema processual se pautava em uma vertente individualista. Surge, nessa segunda onda de acesso à justiça instrumentos processuais diferenciados, instrumentos coletivos, isto é, que visa a tutela coletiva de direitos. Há a criação de órgãos e estruturas capazes de tutelar interesses coletivos. No Brasil, adequando a este contexto, há a lei de Ação Popular (lei nº 4717/65), bem como a lei de ação civil pública (lei 7347/85) entre outros dispositivos e legais e entendimento jurisprudenciais. 3ª onda) Simplificação do Processo Nesta onda, busca-se um processo mais simples, célere. Revisão dos ritos processuais e na utilização de métodos alternativos de solução de conflitos, de forma a desburocratizar e abreviar o tempo de resposta estatal. Neste contexto, há no Brasil um marco importantíssimo na legislação, a lei dos Juizados de instituição dosJuizados Especiais Civis e Criminais (lei 9099/95) que traz ritos processuais mais céleres em casos menos complexos, dessa forma, as varas das comarcas tem tempo para se dedicarem a casos mais complexos e os casos de menor complexidade, resolvem-se em menor tempo. Há também no Brasil um avanço nos meios alternativos de resolução de conflito (conciliação, mediação, arbitragem, etc.) incentivado pelo CNJ, bem como os Tribunais dos Estados e da União. Nesse diapasão, há regulamentação na lei nº 13140/2015 que dispõe sobre a mediação como meio de solução de controvérsias entre particulares e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da administração pública, bem como a Lei e arbitragem. Fonte: Questões discursivas comentadas (Qconcursos). Defensoria Pública Estadual. Direito Institucional. Franklyn Roger Alves Silva. 2015. Editora JusPodivm.